segunda-feira, 26 de abril de 2021

MORTE DE UM FUNCIONÁRIO



Por Antón Pávlovitch Tchékhov
Traduzido do russo por Francisco José dos Santos Braga

"Morte de um Funcionário" é um conto de Antón Tchékhov publicado originalmente na revista Oskolki ¹, São Petersburgo, edição número 27 de 02/07/1883, com o subtítulo "Um Incidente" (Случай) pelo pseudônimo A. Tchekhonte (А. Чехонте). Foi incluído (sem o subtítulo) na coleção Contos Heterogêneos de Tchékhov de 1886 publicada em São Petersburgo e apresentado sem alterações em suas 2ª-14ª edições (1891–1899). Também in Obras Completas por A.P. Tchékhov em 12 volumes. Literatura de Ficção. Moscou, 1960, vol. 2, p. 550. 

 

Numa noite encantadora, o não menos encantador funcionário, Ivan Dmítritch Tcherviakóv, estava sentado na segunda fila de poltronas e assistia de binóculo a "Os Sinos de Corneville" ². Ele assistia e se sentia no auge do enlevo. Mas de repente... Nos contos se tropeça com frequência neste "mas de repente". Os autores têm razão: a vida é tão cheia de surpresas! mas de repente seu rosto se contraiu, os olhos se reviraram, a respiração se interrompeu... afastou o binóculo dos olhos, inclinou a cabeça e... atchim!, espirrou!!! Espirrou, como podes ver. Ninguém e em nenhum lugar está proibido de espirrar. Espirram tanto os mujiques quanto os comissários de polícia e, às vezes, os conselheiros secretos. Todos espirram. Tcherviakóv não ficou confuso, assoou-se com um lencinho e, como uma pessoa educada, olhou em volta de si: teria incomodado alguém com seu espirro? Mas aqui já se viu obrigado a ficar envergonhado. Viu um velhinho sentado à sua frente, na primeira fila de poltronas, a enxugar cuidadosamente a careca e o pescoço com a luva e a resmungar algo. No velhinho Tcherviakóv reconheceu o general civil Brizjálov, funcionário do Departamento das Vias de Comunicação. 
 
"Espirrou, como podes ver." (ilustração de 1955 por Anatoly Bazilevich)

“Eu o respinguei! pensou Tcherviakóv. Não é meu superior, é um estranho, mas sempre é desagradável.”
Tcherviakóv pigarreou, inclinou o corpo para a frente e cochichou no ouvido do general: 
Desculpe, Vossência, eu o respinguei... foi sem querer... 
Não foi nada, nada... 
Pelo amor de Deus, desculpe. Pois eu... não fiz por mal! 
Ora, volte para a sua poltrona, por favor! Deixe-me ouvir! 
Tcherviakóv ficou envergonhado, esboçou um sorriso tolo e pôs-se a olhar para o palco. Assistia, mas não se deleitava mais. A aflição começou a persegui-lo. No intervalo dirigiu-se a Brizjálov, caminhou ao lado dele e, vencendo a timidez, balbuciou: 
Eu o respinguei, Vossência... Perdoe... Pois eu... não foi por mal... 
Ora, basta... Já tinha esquecido, e o Sr. volta ao mesmo assunto! disse o general e moveu o lábio inferior com impaciência. 
“Esqueceu, mas nos seus olhos há maldade, pensou Tcherniakóv, olhando desconfiado para o general e não quer conversa. Seria preciso explicar-lhe que foi mesmo sem querer... que é uma lei da natureza, senão vai pensar que eu quis cuspir. Se não vai pensar agora, assim pensará depois!...”
Ao chegar à casa, Tcherviakóv contou à mulher sobre a sua falta de educação. Pareceu-lhe que ela não deu muita importância ao incidente. Apenas se assustou, mas depois, quando soube que Brizjálov era um "estranho", acalmou-se. 
Mas, de qualquer maneira, vá pedir-lhe desculpa disse ela. Ele vai pensar que você não sabe se comportar em público! 
Aí está! Desculpei-me, mas ele reagiu de modo estranho... Não disse nenhuma palavra que preste. Sim, e não havia mesmo tempo para conversar. 
No dia seguinte, Tcherviakóv envergou o uniforme novo, aparou o cabelo e foi dar explicações a Brizjálov... Ao entrar na sala de espera do general, viu lá muitos requerentes, entre eles o próprio general, o qual já começara a receber os requerimentos. Depois de interrogar alguns dos requerentes, o general ergueu os olhos também para Tcherviakóv. 
Ontem, no "Arcádia", se Vossência se recorda, começou a expor o funcionário eu espirrei e... sem querer respinguei... Descul... 
Que besteira... Vai saber! E o Sr., o que deseja? dirigiu-se ao próximo requerente. 
“Não quer conversa! pensou Tcherviakóv, ficando pálido. Quer dizer, está zangado... Não, isto não pode ficar assim... Eu vou lhe explicar...”
Concluída a última audiência, o general se encaminhou para as dependências internas. Tcherviakóv deu uns passos atrás dele e balbuciou: 
Vossência! Se me atrevo a incomodá-lo, é justamente pela sensação, posso lhe dizer, de arrependimento!... Foi sem querer, queira compreender! 
O general fez cara de choro e acenou com a mão, como se desse adeus. 
Mas o Sr. está é pilheriando, meu senhor! disse o general, desaparecendo por detrás da porta.  
“Que pilhérias pode haver aqui? pensou Tcherviakóv Aqui não há pilhéria nenhuma! É general, porém não pode compreender. Assim sendo, não vou me desculpar mais diante deste fanfarrão. Vá para o diabo! Vou lhe escrever uma carta, mas não tornarei a vir! Juro, não tornarei!”
Assim pensava Tcherviakóv a caminho de casa. Ele não escreveu cartas ao general. Pensou, pensou e de jeito nenhum atinou como inventar a tal carta. No dia seguinte, viu-se obrigado a ir em pessoa para se explicar. 
Ontem vim incomodá-lo, Vossência resmungou, enquanto o general erguia para ele os olhos indagadores, não foi para pilheriar, como o Sr. se dignou dizer. Pedi desculpas por ter, ao espirrar, cuspi... mas não pensava em pilheriar. Poderia eu pilheriar? Será que tenho o direito de pilheriar? Se pilheriarmos uns aos outros, então não haverá nenhum respeito pelas pessoas de consideração... não haverá... 
Fora! urrou, de repente, o general, roxo de raiva e a tremer. 
Que significa isso? perguntou em voz baixa Tcherviakóv, congelando-se de horror. 
Fora! repetiu o general, batendo com os pés. 
 
Fora! urrou, de repente, o general, roxo de raiva e a tremer.
 
Na barriga de Tcherviakóv algo se desprendeu. Sem ver nem ouvir nada, ele recuou até à porta, saiu para a rua e foi-se arrastando... Ao chegar mecanicamente à casa, sem tirar o uniforme, deitou-se no sofá e... morreu. 
 
"Ao chegar mecanicamente à casa, sem tirar o uniforme, deitou-se no sofá e... morreu."

 
Link: https://ilibrary.ru/text/987/p.1/index.html
 
 
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BREVE ANÁLISE LITERÁRIA DE "MORTE DE UM FUNCIONÁRIO"

Heróis 

Ivan Dmítritch Tcherviakóv; 
esposa de Tcherviakóv; 
General Brizjálov. 
O tema principal é o do "homenzinho". 
Problemas 
supressão da personalidade humana; 
renúncia à dignidade humana. 
 
Análise 
Neste conto, Tchékhov aborda o tópico do "homenzinho" ou "pequena pessoa". Aqui protesta contra a supressão da personalidade humana. 
O homenzinho desta história é cômico e patético. O riso evoca a insistência absurda de Tcherviakóv, e a piedade acarreta sua zelosa humilhação de si mesmo. Reiteradamente desculpando-se com o general, o funcionário renunciou à sua dignidade humana. O conto retrata um funcionário insignificante que, sem nenhuma razão em particular, está em permanente perturbação. 
No início do conto, o autor compara dois lados: o de um pequeno funcionário e o de um general. A todo custo tentando desculpar-se, o funcionário finalmente leva o general à agressão. Portanto, na história o general não aparece como um vilão completo. Devido ao fato de que o general gritou com o visitante, Tcherviakóv morre um esquema de enredo aparentemente simples e um incidente absolutamente comum. 
Mas Tcherviakóv não morreu de medo, mas do fato inadmissível de que os princípios sagrados para ele (reverência à honra e o hábito da introjeção da hierarquia) tenham sido violados por uma pessoa de alto escalão. 
 
A PRESENÇA DO HOMENZINHO NA OBRA DE A.P. TCHÉKHOV 
 
O "homenzinho" possui uma longa existência na produção literária russa. Esse conceito é utilizado como tema recorrente nas obras de Pushkin (1799-1837), Gógol (1809-1852), Dostoiévski (1821-1881) e Tchékhov (1860-1904) no século XIX. Cristalizou-se no imaginário dos seus leitores a imagem dessa pessoa sem importância, simplória e ingênua, que permite paradoxalmente evidenciar a verdadeira essência dos “valores imaginários”, normas e convenções que se estabeleceram na sociedade russa czarista. À primeira vista, o tema do "homenzinho" parece exaustivamente estudado e é considerado por muitos como atualmente desatualizado. No entanto, analisando a herança criativa dos grandes satíricos, pode-se perguntar a razão por que o "homenzinho" aparece em um grande número de obras e "surfa" com os escritores na Rússia. Pode-se citar que, no decurso do tempo, ele aparece como um funcionário comum servindo na Rússia czarista; participa de eventos revolucionários ou se esconde deles; torna-se o "mestre da vida" no novo Estado ou compartilha as dificuldades da vida no exílio. Herdando as tradições dos quatro grandes escritores, os satíricos russos contemporâneos abordam o tema do “homenzinho” de modo diverso, mas o volume de obras sobre ele é limitado em gênero: ora um folhetim que visa ridicularizar um determinado fato da realidade; ora uma anedota que cresceu fora do gênero oral e é projetada para refletir o paradoxo e imprevisibilidade da vida; às vezes, sob a forma de uma paródia cujo objetivo era zombar de novas realidades de vida; outras vezes, por fim, como elemento presente em diversos gêneros jornalísticos e de abordagens do cotidiano. 
 
COMÉDIA DE COSTUMES ³
 
Em “A.P. Chekhov. Busca ideológica e criativa”, G.P. Berdnikov chama a atenção para tal característica na representação de personagens, quando um traço característico da época se expressa através da psicologia do herói: 
"Já nos primeiros anos de seu trabalho,Tchékhov conseguiu criar uma galeria incomparável de personagens humanos, cada um dos quais carregava alguns sinais dos aspectos essenciais da vida social, e todos juntos reproduziam um quadro surpreendente em escala e profundidade da vida e dos costumes de seu tempo. Voltando-se para a descrição da vida e dos costumes burocráticos, o jovem escritor retoma um dos temas tradicionais da literatura russa, que remonta a Gogol. Este tema nasceu democrático e humanista. As obras sobre pequenos funcionários estavam cheias de compaixão, eles aprenderam a ver em Akaki Akakievich trabalhadores de departamento não correspondidos pessoas desfavorecidas e oprimidas. No entanto, o humanismo e a democracia desta literatura tinha um caráter sentimental e sonhador. Era perfeitamente compreensível para o autor, portanto, que ele não poderia satisfazer não apenas os círculos democrático-revolucionários, mas também os escritores democráticos que se acostumaram com eles. N.G. Chernyshevsky chamou a atenção para a culpa pessoal de Akaki Akakievich, para o fato de que seu destino é de fato o destino natural de uma pessoa insignificante, em geral, e não tem razão para reivindicar uma sorte diferente. N.G. Chernyshevsky, em primeiro lugar, tinha em mente a falta de autoconsciência de Akaki Akakievich, e as críticas a que sujeitou o “homenzinho” deveriam ter despertado seu desejo de lutar por sua dignidade humana. 
A atitude de Tchékhov para com o "homenzinho" coincide com os pensamentos expressos por Chernyshevsky. Em primeiro lugar, ele renuncia resolutamente a qualquer ilusão, esforçando-se por opor-se a ela com a verdade insolente da vida. “Desistam, tenham misericórdia de seus registradores colegiados oprimidos!” Ele escreveu a seu irmão Alexander em 4 de janeiro de 1886 (Volume 13, 156), retratando o atual estado de coisas. Aqui Tchékhov mostra não apenas a pobreza mental de seus heróis, não apenas sua falta de senso de sua própria dignidade, autoconsciência elementar, mas também sua ligação de sangue com o despotismo gravitando sobre eles. 
Seguindo Shchedrin, Tchékhov clama para não acreditar nesses "humilhados" e "desfavorecidos". Dê uma olhada mais de perto na preparação oculta neles, diz Tchékhov, e você verá neles os tiranos e déspotas de amanhã, assim como seus opressores hoje. Um exemplo clássico disso é Aleksey Ivanovich Kozulin, que já foi uma insignificância extrema, mas agora, quando a fortuna o elevou na hierarquia, ele se tornou um tirano ainda mais cruel do que seus ex-opressores ("Triunfo do Vencedor " - 1883). Não menos indicativo do sonho de uma insignificante escriturária, inexpressiva, forçada a ficar em uma vigília extraordinária no dia da Páscoa para obter dois rublos extras ("Arraia-miúda" - 1885). Este representante da arraia-miúda burocrática, de acordo com sua posição social, irmão de Akaki Akakievich Bashmachkin, muito menos, porém, se assemelha ao herói de Gogol. Em vez disso, é uma espécie de "homem subterrâneo" de Tchékhov, o tipo original de "homenzinho", não apenas humilhado e destituído, mas também extremamente alquebrado e amargurado por longo tempo. Ele está pronto para qualquer coisa: para o roubo, para a denúncia e, em geral, para qualquer maldade. Ele também entende bem que, com sua falta de talento, não será capaz de corrigir sua situação dessa maneira. É em tal mundo que a morte de um pequeno funcionário pode ocorrer com o simples pensamento de que, tendo espirrado involuntariamente na careca de um general, ele deu uma razão para suspeitar de si mesmo de pernicioso livre-pensamento ("Morte de um Funcionário" - 1883). E ele, Tcherviakóv, está profundamente convencido de que o livre-pensamento é realmente pernicioso, pode levar ... é assustador para um funcionário até mesmo pensar nisso, levar ao fato de que "não haverá respeito pelas figuras eminentes"...  E novamente, portanto, a essência cômica da história não é que seu herói temesse uma pessoa formidável e poderosa, mas que ele se congelou de horror, ao decidir que inadvertidamente violou o mandamento básico do mundo que o criou.
 
HONRA E SERVILISMO NO CONTO "MORTE DE UM FUNCIONÁRIO"
 
O "funcionário" Ivan Dmítritch Tcherviakóv foi ao teatro, onde se sentiu no auge da felicidade, até espirrar e "borrifar" a careca do general. Tcherviakóv desculpou-se respeitosamente, mas temendo parecer ignorante, ele curvou-se novamente. Tcherviakóv está vivenciando esse evento como um "abalo nas bases". Ele não pode aceitar o fato de que o general não dá a devida atenção ao incidente e de alguma forma frivolamente o perdoa, “invadindo o sagrado” da hierarquia burocrática. A suspeita penetra na alma lacaia de Tcherviakóv: “Devo explicar-lhe que não queria de jeito nenhum ... que isso é uma lei da natureza, senão ele pensará que queria cuspir. Se ele não vai pensar agora, vai pensar mais tarde!”. A suspeita cresce, ele vai pedir perdão ao general no dia seguinte, e no terceiro ... "Fora!" - urrou o general, de repente, roxo de raiva e tremendo. "Que significa isso?" perguntou em um sussurro Tcherviakóv, horrorizado. "Suma!" repetiu o general, batendo os pés. Algo se rompeu no ventre de Tcherviakóv. Nada vendo nem ouvindo, recuou até a porta, saiu para a rua e se foi ... Voltando maquinalmente, sem tirar o uniforme, deitou-se no sofá ... e morreu. 
“Sacrifício não evoca simpatia aqui. Não é uma pessoa que morre, mas uma certa criatura imponente e sem alma. Preste atenção aos principais detalhes da história. "Algo se rompeu" não na alma, mas no ventre de Tcherviakóv. Com toda a certeza psicológica, devido à transmissão de um susto mortal. Esse detalhe também adquire um significado simbólico, pois a alma não apareceu de fato no herói. Não é uma pessoa que vive, mas um parafuso do governo em uma máquina burocrática. É por isso que ele morre "sem tirar o uniforme". Na narrativa de Tchékhov, o ambiente deixou de ser uma força externa, um estranho para uma pessoa, e os personagens dependem dele na medida em que eles próprios o criam e reproduzem. É por isso que Tchékhov, ao contrário da maioria dos outros escritores que desenvolveram justamente o conflito com o meio ambiente, tem tantos contos sobre uma meta acessível, sobre um sonho que se tornou realidade, sobre pessoas que alcançaram a "felicidade". 
Um grande número de contos, novelas e peças de Tchékhov estão ligadas por um único pensamento: esta é a epopeia da escravidão, a história da sociologia e psicologia da escravidão. 
Talvez Tchékhov tenha sido o primeiro dos escritores russos a entender que dinheiro, posição, autoridade, poder tudo são apenas atributos externos da escravidão; seu verdadeiro instrumento, o mais sutil, onipresente e irresistível, é o medo. 
Pessoas de diferentes idades vivem em essência, em diferentes fluxos de tempo. O conceito de "hoje" de Tchékhov não é inequívoco: para uma pessoa pequena, "hoje" é o futuro; ele ainda não tem experiência. Não há feridas mentais persistentes que surjam inevitavelmente com a idade, até que uma pessoa seja ferida nos ângulos agudos da vida”, ou seja, até que ocorra um "incidente" na vida do "homenzinho". 

 

NOTAS  EXPLICATIVAS

 

¹  Tchékhov dava a preferência à revista Oskolki de São Petersburgo em relação a todas as outras, porque ali tinha uma coluna especial criada para ele, intitulada "Fragmentos da Vida em Moscou".
 
² "Os Sinos de Corneville" é uma opéra-cômica em três atos e quatro quadros, composta por Robert Planquette sobre um libreto de Louis Clairville e Charles Gabet. A ópera foi apresentada pela primeira vez no Fantaisies-Parisiennes a 19 de abril de 1877, e teve mais de 500 récitas, arrecadando mais de 1,6 milhões de francos de bilheteira, o equivalente a cerca de 6.700.000 euros em termos de 2015. Seguiram-se produções fora da França logo após a estreia. Bruxelas viu a opereta em outubro de 1877, um ano depois foi encenada em New York, Londres, Berlim e Viena. 
A história, ambientada na virada do século XVIII, retrata o retorno de um aristocrata exilado ao seu castelo ancestral, as maquinações do mordomo avarento para garantir a fortuna da família para si mesmo e os pares amorosos em mudança dos quatro jovens protagonistas. Aspectos da trama foram criticados pelos críticos contemporâneos como derivados de óperas anteriores. 
A referida opereta foi o primeiro trabalho de palco completo de Planquette e, embora mais tarde ele tenha escrito mais doze, ele nunca igualou o sucesso internacional dessa primeira aventura. Quebrou recordes de bilheteria em Paris e Londres, onde marcou um "acontecimento" para o teatro musical em todo o mundo, e foi continuamente revivido na Europa e nos Estados Unidos durante o resto do século XIX. Desde então, manteve-se no repertório de produções ocasionais na França.
 
³  DAMINOVA A.: Tema do "homenzinho" na obra de A.P. Tchékhov

Link: https://refdb.ru/look/2405212.html

Бердников Г.П. А.П. Чехов. Идейные и творческие искания. М.: Художественная литература, 1984, 29 с.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

HÁ 6O ANOS ATRÁS YURI GAGÁRIN EXECUTAVA UMA ÓRBITA COMPLETA AO REDOR DA TERRA NA MISSÃO VOSTOK-1



Por Francisco José dos Santos Braga

 

I. UM POUCO DE HISTÓRIA 

O primeiro foguete a atingir o espaço, em dois voos de teste consecutivos em junho de 1944 a altitudes de 176 e 189 km, foi o V-2 ainda na Alemanha Nazista. 
Em 4 de outubro de 1957, a União Soviética lançou o Sputnik 1, que se tornou o primeiro satélite artificial a orbitar a Terra. 
Em 3 de novembro, o Sputnik 2 mandou ao espaço a cadela vira-lata Laika, um dos primeiros animais no espaço. 
O primeiro voo espacial tripulado por um humano ocorreu na missão Vostok-1 em 12 de abril de 1961, na qual o cosmonauta soviético Yuri Gagárin executou uma órbita ao redor da Terra, permanecendo no espaço durante uma hora e 46 minutos. Promovido de tenente a major enquanto ainda estava em órbita, foi com esta patente que a Agência Tass soviética anunciou este espetacular feito ao mundo, que assim tomava conhecimento de que entrava numa nova etapa a Era Espacial, a partir daquele momento.
Os principais personagens do programa espacial soviético naquela época eram: Sergei Korolev e Kerim Kerimov.
 
 
Yuri Gagárin (1934-1968)

 
 
 
 
 
 
 
Gherman Titov, Nikita Khrushchev e Gagárin na Praça Vermelha em 20 de novembro de 1961.
 
 
 
Dentre as principais homenagens ao primeiro cosmonauta a orbitar a Terra, podem-se citar as seguintes:
1) na URSS, foi condecorado com as mais altas honrarias: título de Herói da União Soviética e a medalha da Ordem de Lênin 
2) no Brasil, o presidente Jânio Quadros condecorou o major Yuri Gagárin em 1961 com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul 
3) em sua homenagem, seu nome foi dado a muitos lugares, instituições ou prêmios, dentre outros, podem-se citar os seguintes: 
Uma das maiores crateras lunares (265 km de diâmetro), localizada no lado oposto foi designada Cratera Gagárin 
A medalha de ouro da Federação Aeronáutica Internacional (concedida desde 1968) leva seu nome (Medalha de Ouro Yuri Gagárin
Principalmente na Rússia, comemora-se com um feriado internacional toda noite de 12 de abril, denominada Ночь Юрия ou Юрьева ночь (Yuri's Night) em memória do primeiro voo tripulado ao Espaço.

Monumento ao primeiro cosmonauta da Terra Yuri Alekseevich Gagarin pelo escultor Pavel Bondarenko instalado em Moscou em 4 de julho de 1980 na praça de mesmo nome na Avenida Leninsky. O monumento é feito de titânio, metal usado na construção de naves espaciais. Possui status de patrimônio cultural identificado.



Na verdade, os primórdios da viagem espacial podem ser rastreados até KONSTANTIN TSIOLKOVSKY (1857-1935), cientista soviético de foguetes pioneiro na teoria astronáutica; todavia, Tsiolkovsky escrevia em russo, e a princípio, suas ideias não causaram grande impacto fora da Rússia. 
Hoje é considerado um dos pais fundadores da astronáutica moderna. Entre suas realizações científicas, destaca-se seu trabalho mais importante, publicado em maio de 1903, que foi Exploração do Espaço Sideral usando Dispositivos de Reação, onde provou pela primeira vez que um foguete poderia realizar o voo espacial. A aparência externa do seu projeto de nave espacial, publicada em 1903, foi a base dos projetos atuais. O projeto tinha um casco dividido em três seções principais: o piloto e co-piloto ficando na primeira seção, com a segunda e terceira carregando o combustível da espaço-nave. 
Nesse projeto e em suas continuações (1911 e 1914), ele desenvolveu algumas ideias de mísseis e considerou o uso de motores de combustível líquido. 
Tsiolkovski esteve desenvolvendo a ideia de um hovercraft desde 1921, publicando um artigo fundamental em 1927, chamado de "Resistência do Ar e Trem Expresso". 
Só no fim da vida ele foi reconhecido por seu trabalho pioneiro. Entretanto, da metade da década de 1920 em diante, sua importância em demais trabalhos foi reconhecida, sendo honrado, passando o Estado soviético a financiar sua pesquisa. 
Em sua homenagem foi batizada de cratera Tsiolkovsky (a mais proeminente no lado distante da Lua), enquanto o asteróide 1590 Tsiolkovskaia foi batizado em humenagem à sua esposa. (A União Soviética tinha o direito de batismo por operar a Luna 3, a primeira nave a transmitir imagens do lado distante da Lua de forma bem sucedida.)
Há um Doodle do Google em homenagem a Tsiolkovsky. 
Há uma moeda de 1 Rublo de 1987 que comemorou o 130º aniversário do seu nascimento.  
 
 
II. MINHA TRADUÇÃO DE 2 PEQUENOS CONTOS DO RUSSO 
 
 
Para comemorar o feito de Gagárin de 12 de abril de 1961, escolhi para minha tradução dois textos russos, cujos títulos são: SORRISO e CONTO DE UM COSMONAUTA. O primeiro, cujo título deu nome ao livro que já temos utilizado em outras traduções, é da autoria de Varvára Karbóvskaia (p. 74-5). O segundo foi extraído do livro Interessante de Ouvir: Manual para áudio, um livro a ser utilizado na sala de aula como material didático (áudio), editado pela MGU-Universidade Estatal de Moscou, p. 100-1. Ambos tratam de Gagárin, explorando de forma anedótica características do famoso cosmonauta Yuri Gagárin, cujo comportamento motivou e influenciou todos os cidadãos soviéticos.
 
SORRISO 
(com base no conto de Varvára Karbóvskaia (1908-1969)) 
 
УЛЫБКА/SONRISA, Editorial Progreso, Moscú, 1971(?), p. 74-5.

 
Isso ocorreu de forma inesperada. A criançada brincava no pátio. Alguém da criançada olhou para Vóvka ¹, depois olhou mais uma vez e disse: 
Criançada, olhem! Nosso Vóvka é parecido com Yuri Gagárin... Palavra de honra!
Todos olharam atentamente.  
Parece mesmo! gritaram todos. Então Vóvka rapidamente correu para casa. 
Ele entrou correndo no apartamento, correu para o espelho e olhou atentamente para seu rosto. Nos olhos havia esperança e medo: E se de repente não me pareço? 
A mãe perguntou:  
O que há contigo? Quebraste o nariz de novo?  
Ele sorriu e continuava a se olhar no espelho. Nunca tinha sorrido antes na frente do espelho e não sabia que tipo de sorriso ele tinha.  
O que há contigo? repetiu a mãe. Você quebrou o nariz de novo? 
Ele sorriu e continuou a se olhar no espelho. Ela não tinha o costume de ver um sorriso no rosto do filho. Em casa ele nunca sorrira.  
Vóvka, espera, sabes de uma coisa... sabes com quem tu te pareces agora?  
Os meninos disseram que eu me pareço com Gagárin. 
À noite, o pai também olhou atentamente para Vóvka. 
De fato, se parece. 
Como ele não viu antes?  
Não viste, porque antes não conhecias Gagárin, disse a irmã de Vóvka. Talvez também porque Vóvka nunca sorriu assim. Ele sempre se comportava mal em casa. 
Vóvka quis responder à irmã, mas ficou calado, pois agora tinha sempre que se recordar de que se parecia com Gagárin. 
E na escola todo mundo já sabia que Vóvka da sétima série se parecia com Gagárin. E especialmente os meninos das outras turmas vieram olhar para ele. Muitos meninos até invejaram Vóvka. Quando caminhavam juntos pela rua, então pediam: Sorria, para que todos vejam! 
Na reunião de pais, o diretor da escola disse:  
Vocês se lembram, que nós frequentemente falamos sobre Vóvka. Ele se comportava mal na sala de aula. Mas como só alguém viu que ele se parecia com o herói-cosmonauta, o menino passou a imitar o herói; ele já obteve um "A" e um "B", disse, e no verão irá para o acampamento onde se dedicará ao esporte. 
E o diretor sorri! 
“Sim, mas nem todo o mundo é como Yuri Gagárin”, disse um dos pais. 
“Mas na vida dos jovens sempre há um motivo para sorriso”, respondeu o diretor. 
 
 
¹  Diminutivos de Vladímir: Vóvka, Volódya, Vôva, Vovochka, etc.  

 
CONTO DE UM COSMONAUTA 
 

ДАНИЛИНА О.В. , ШИПИЦО Л.В.: ИНТЕРЕСНО ПОСЛУШАТЬ: Пособие по аудированию, Moscou 1995, editado por Centro de Ensino Internacional-MGU, p. 74-5.



Os jovens de hoje em dia cresceram na era espacial. Frequentemente eles vêem transmissões direto do Espaço na televisão. Sabem que um astronauta voa ao espaço para trabalhar, como um engenheiro que viaja a uma fábrica em outra cidade, ou um geólogo que trabalha longe de casa por longa duração. E, apesar de tudo, mesmo para a juventude de hoje, um astronauta é um homem de profissão extraordinária, um herói. E não é de surpreender que muitas vezes lhes perguntem: "Como você se tornou um astronauta?" Dizem que o jornalista fez tal pergunta a um dos cosmonautas. 
O cosmonauta pensou um pouco e disse: 
“É difícil responder a esta pergunta imediatamente. Esta é uma longa história. Vocês sabem, já na infância eu sonhava com o espaço. Meus livros preferidos eram livros sobre voos à Lua, a outros planetas. Quando eu tinha 6 anos, eu já desenhava foguetes, satélites, cosmonautas, alguns lugares fantásticos. Quando eu dormia, eu frequentemente me via deitado numa nave espacial e olhando do espaço na direção da Terra. 
O fato é que na infância eu fui pouco confiante em mim mesmo. Eu fui o menor e mais fraco menino na sala de aula. (Pode ser difícil acreditar nisso agora, mas é verdade). Eu tive poucos amigos, porque eu frequentemente estava doente. Os professores sempre diziam, que eu era inteligente e podia aprender bem, mas eu não aprendia muito bem. Parecia-me que todos riam, quando eu respondia a lição. Um dia, quando eu ia ao quadro negro, desamarrei o cadarço na botina. Só pensei que ia cair e que todos novamente ririam. Mas afinal eu tinha feito a lição perfeitamente! Lembrava-me dessa história por muito tempo e acreditava que nunca poderia ser alguém. Sobre a profissão de piloto ou de cosmonauta eu temia até mesmo sonhar. 
E, apesar de tudo, tornei-me cosmonauta! E sabem quem me ajudou? Gagárin! Nós não nos conhecíamos. Quando Yuri Gagárin realizou seu voo, eu tinha 15 anos. Lembro-me bem deste dia. Foi um feriado surpreendente! Provavelmente vocês saibam que, depois deste dia, todos queriam ver Gagárin, pessoas de todos os países e de todos os povos: reis e presidentes, cientistas e trabalhadores, artistas e empregados as pessoas mais famosas e mais comuns. E Gagárin com alegria encontrou-se com todos. 
Junto com outros alunos, estive em tal reunião. Olhava para Gagárin e fiquei muito preocupado. Vocês compreendem que para nós ele era um herói, uma pessoa extraordinária. Eu me lembro de todas as perguntas, que lhe fazíamos neste dia. “Como o Sr. se preparava para o voo?”, “Como o Sr. se se sentia no espaço?”, “Como é nossa Terra (vista) do espaço?”. Eu também queria fazer uma pergunta a Gagárin, mas não podia. Eu me sentia pequeno e não muito inteligente. E de repente um menino, que sentava junto a mim, indagou: “Diga, por favor: em que pensava o Sr. quando voltava para a Terra e a comissão Estatal se encontrava com o Sr. no aeroporto?” Parecia-me, o que sei, que agora Gagárin responderia. O herói, em tal minuto, devia pensar no Espaço, na Terra, na Civilização. 
Mas Gagárin sorriu e disse: “Você sabe, eu me preocupava muito. O fato é que então se desamarrou o cadarço na botina, e eu só pensava numa coisa: se eu cair, todos vão dizer: “Gagárin esteve no espaço, mas caiu na Terra”. 
Esta resposta desempenhou grande papel em minha vida. Eu pensei: “O que é isso? Significa ser Gagárin como eu? Significa, eu também posso, como Gagárin?” 
Depois deste incidente eu me tornei outra pessoa. Já me achei pequeno e fraco. Eu decidi ingressar na escola de voo, e depois virar cosmonauta. Eu comecei a lutar por meu sonho, e ele se tornou realidade. Gagárin com sua resposta humana me deu fé em mim mesmo. Ou seja, ele realmente era uma pessoa extraordinária.”
 
Para os interessados, seguem os textos em russo:
 
 
УЛЫБКА 
(по рассказу Варвары Карбовской) 

 

Это произошло неожиданно. Ребята играли во дворе. Кто-то из ребят посмотрел на Вовку, потом посмотрел еще раз и сказал: 
Ребята, посмотрите, наш Вовка похож на Юрия Гагарина... Честное слово! 
Все внимательно посмотрели. 
Похож, похож! закричали все. Тогда Вовка быстро побежал домой. Он вбежал в квартиру, подбежал к зеркалу и внимательно посмотрел на своё лицо. 
Он раньше никогда не улыбался перед зеркалом и не знал, какая у него улыбка. 
Да ты что? обеспокоенно спросила мама. Ты опять разбил нос? 
Она не привыкла видеть улыбку на Вовкином лице. Дома он всегда был насупленный, брови сдвинуты, губы надуты. И вдруг улыбка. 
Вовка, подожди, ты знаешь, на кого ты сейчас похож? 
Ребята сказали, что я похож на Гагарина. 
Вечером отец тоже внимательно посмотрел на Вовку. Действительно, похож. Как же он раньше не видел? Может быть, потому, что Вовка никогда так не улыбался. Он всегда вёл себя дома плохо. 
Когда отец начал говорить о плохих оценках в школе, Вовка хотел нагрубить, но вовремя спохватился. Теперь ему всегда нужно помнить о том, что он похож на Гагарина. 
А в школе уже все знали, что Вовка из седьмого класса похож на первого в мире космонавта. И ребята из других классов специально приходили посмотреть на него и тоже улыбались и говорили: 
До чего же похож! Многие ребята даже завидовали Вовке. Когда шли вместе с ним по улице, то просили: 
Улыбайся, чтобы все видели! 
На собрании родителей директор школы сказал: 
Вы помните, мы часто говорили о Вове. Он плохо вёл себя в классе, получал плохие отметки. 
Но как только кто-то увидел, что он похож на героя-космонавта, мальчик стал подражать герою: он уже получил пятёрку и четвёрку, начал хорошо себя вести, сказал, что летом начнёт заниматься спортом. И улыбается! 
Да, но не все похожи на Юрия Гагарина,- сказал кто-то из родителей. 
Но в жизни молодых людей всегда есть причина для улыбки, ответил директор. 
 
 
РАССКАЗ КОСМОНАВТА 
 
(ДАНИЛИНА О.В. , ШИПИЦО Л.В.: ИНТЕРЕСНО ПОСЛУШАТЬ: Пособие по аудированию, Москва 1995, Центр Международного Образования-MGU, 136 с.) 

 

Современне молодые люди выросли в космическом веке. Они часто видят по телевизору передачи из космоса. Они знают, что космонавт летит в космос работать, как инженер, который едет на завод в другой город, или геолог, который долгое время работает далеко от дома. И всё-таки даже для современной молодёжи космонавт это человек необыкновенной профессии, герой. И ие удивительно, что их часто спрашивают: "Как вы стали космонавтом?" Рассказывают, что такой вопрос журнялист задал одному из космонавтов. 
Космонавт немного подумал и сказал: 
«Трудно ответить на этот вопрос сразу. Это долгая история. Вы знаете, уже в детстве я мечтал о космосе. Моими любимыми книгами были книги о полетах на Луну, на другие планеты. Когда мне было 6 лет, я уже рисовал ракеты, спутники, космонавтов, какие-то фантастические места. Когда я спал, я часто видел, что лежу (?) в космическом корабле и смотрю из космоса на Землю. Но, если честно говорить, никогда не верил, что я сам действительно стану космонавтом. 
Дело в том, что в детстве я была очень не уверен в себе. Я был самым маленьким и самым слабым мальчиком в классе. (Может быть сейчас в это трудно поверить, что сейчас, но это правда). У меня было мало друзей, потому что я часто болел. Учителя всегда говорили, что я умный и могу хорошо учиться, но учился я не очень хорошо. Мне показалось, что все смеются, когда я отвечаю урок. Однажды, когда я шел к доске, у меня развязал шнурок на ботинке. Я думал только о том, что сейчас упаду и все опять будут смеяться. Я все забыл и получил двойку. А ведь я отлично подготовила урок! Я долго помнил эту историю и думал, что я никогда никем не смогу стать. О профессии летчика или космонавта я боялся мечтать.
И всё-таки я стал космонавтом! И вы знаете, кто мне помог? Гагарин! Мы не были знакомы. Когда Юрий Гагарин совершил свой полет, мне было 15 лет. Я хорошо помню этот день. Это был удивительный праздник. Вы, наверное, знаете, что после этого дня Гагарина хотели видеть все, люди всех стран и народов: короли и президенты, мудрецы и рабочие, художники и служащие, - самые известные и самые обычные. И Гагарин с радостью встречался со всеми. 
Вместе с другими школьниками я был на такой встрече. Я смотрел на Гагарина и я очень волновался. Вы понимаете , что для нас он был герой, человек необыкновенный. Я помню все вопросы, которые мы ему задали в этот день. "Как вы готовились к полету?", "Как вы себя чувствовали в космосе?", "Как наша Земля из космоса?". Я тоже хотел задать Гагарину вопрос, но не мог. Я чувствовал себя маленьким и не очень умным. И вдруг мальчик, который сидел рядом со мной, спросил: “Скажите, пожалуйста, о чем вы думали, когда вернулись на Землю и Государственная комиссия встречала вас на аэродроме?” Мне казалось, что я знаю, что теперь ответит Гагарин. Герой в такую минуту должен подумать о Космосе, о Земле, о Цивилизации. 
Но Гагарин улыбнулся и сказал: “Ты знаешь, я очень волновался. Дело в том что у меня тогда развязался развязал шнурок на ботинке, и я думал только об одном: «Гагарин в космосе побывал, но упал на Земле”. 
Этот ответ сыграл большую роль в моей жизни. Я подумал: “Что жэ это? Значит Гагарин, как я? Значит, я тоже могу, как Гагарин?” 
После етого случая я стал другим человеком. Я уже считал, что я маленький и слабый. Я решил поступить в в летное училище, а потом стать космонавтом. Я начал бороться за свою мечту, и она сбылась. Гагарин своим человеческим ответом дал мне веру в себя. Значит, он правда был необыкновенным человеком.»

terça-feira, 6 de abril de 2021

ENCONTRO

(Do jornal "Komsomolskaya ¹ Pravda"


Por Francisco José dos Santos Braga
 

Em março de 1963, os cosmonautas soviéticos Andriyán Nikoláiev e Pável Popóvitch chegaram ao Brasil. Eles foram lá para participar de uma exposição sobre o Espaço. 
Eles estavam hospedados em um hotel. Certa manhã, uma jovem família brasileira veio ao hotel ao encontro de Andriyán Nikoláiev.  
Quem quer vê-lo? perguntou o funcionário do hotel.  
“Andriyán Nikoláiev,” o homem respondeu calmamente. 
O funcionário ficou muito surpreso. Mas tudo bem. Em agosto de 1962, nasceu um filho na família do mineiro Antônio dos Santos. Antônio e sua esposa estavam encantados com a façanha dos cosmonautas soviéticos e deram ao filho o nome de um deles. 
Então, o pequeno brasileiro Andriyán Nikoláiev dos Santos se encontrou com o cosmonauta soviético Andriyán Nikoláiev. 
 
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УЛЫБКА/SONRISA, Editorial Progreso, Moscú, 1971(?), 111 p.
                                                                         
 
 
O  texto aqui traduzido do russo por mim foi extraído de uma coletânea de piadas, anedotas e historietas, intitulada УЛЫБКА (SONRISA em espanhol), livro I, 2ª parte, p. 75-6. Abaixo transcrevo a versão russa que utilizei neste post:
 
ВСТРЕЧА
(Из газеты «Комсомольская правда»)
 
В марте 1963 года советские космонавты Андриян Николаев и Павел Попович приехали в Бразилию. Они поехали туда, чтобы частвовать в выставке о космосе. 
Жили они в гостинице. Однажды утром в гостиницу к Андрияну Николаеву пришла молодая бразильская семья. 
А кто хочет видеть его? спросил служащий гостиницы. 
«Андриян Николаев», спокойно ответил мужчина. 
Служащий очень удивился. Но всё было правильно. В августе 1962 года в семье шахтёра Антонио дос Сантоса родился сын. Антонио и его жена восхищались подвигом советских космонавтов и назвали своего сына именем одного из них. 
Так маленький бразилец Андриян Николаев дос Сантос встретился с советским космонавтом Андрияном Николаевым. 
 
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II. COMENTÁRIOS SOBRE A I EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL AERONÁUTICA E ESPAÇO DE 1963 
 
 
Foi inaugurada na noite do dia 15 de março de 1963, sexta-feira, no Parque Ibirapuera em São Paulo, a I Exposição Internacional de Aeronáutica e Espaço, sob o patrocínio da Fundação Santos Dumont, com a presença de inúmeras autoridades civis, militares e eclesiásticas brasileiras. Durante a exposição se realizaram diversos congressos, simpósios, reuniões internacionais que se prolongaram até 7 de abril. 

Selo Exposição Internacional Aeronáutica e Espaço-1963


O jornal CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 1º Caderno, p. 19, domingo, 17 de março de 1963 deu muito destaque às personalidades da aviação norte-americana (especialmente o Major Robert White, já cognominado o homem mais rápido do mundo, piloto do avião-foguete norte-americano "X-15", no qual no ano anterior atingiu uma altitude de 96 km e voou a 6.587 km/h, batendo os recordes de velocidade e altitude) e que foi na véspera uma das atrações na abertura da I Exposição Internacional de Aeronáutica e Espaço em São Paulo. Além do X-15, foi exposta ao público a cápsula "Sigma 7", na qual o astronauta Walter Schirra efetuou seis voltas em órbita da Terra. Sobre o piloto White, o jornal informou que era detentor de dois troféus: o Collier e o cobiçado Asas de Astronauta e que viajaria ao Rio no dia seguinte e no dia 19 para Brasília, "onde possivelmente avistar-se-á com o presidente João Goulart, rumando a seguir para o Chile". Por ocasião da abertura da Exposição, o jornal publicou na íntegra a mensagem do presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, e ainda fez uma narrativa fantasiosa do que aconteceu no estande da NASA: muitas explicações com filmes para os visitantes, considerando muito bem organizado o trabalho da NASA, que lhes apresentou modelos de foguetes e estudos sôbre o planejamento da viagem à Lua. O periódico só publicou duas fotografias: uma do Major White, com a observação de que "está atualmente servindo à NASA para uma série de experiências relativas aos vôos espaciais tripulados", e outra do "X-15"). (...) 

Sobre os Soviéticos há apenas uma pequena vinheta com a seguinte informação: "Sòmente chegarão a São Paulo para a Exposição de Aeronáutica e Espaço os cosmonautas Andriyán Nikoláiev e Paul Popóvitch no próximo dia 20; serão acompanhados de mais 13 técnicos soviéticos e permanecerão em nosso país durante 15 dias; viajarão num avião "TU-104" (jato)." 

Sobre a Exposição em si, observou o Correspondente de São Paulo (16/3) que foi infeliz "a idéia da máscara mortuária de Santos Dumont no stand da Fundação e concluiu: (...) afinal 'quem deu asas ao homem' devia ser apresentado em sua pujança. De resto é muito instrutiva a Exposição. Há muita maquinaria (tornos planificadores, retificadores, etc. (que nada tinha a ver com a Exposição a nosso ver), entretanto nada diminui. Tem-se muito que ver e aprender. Não pode ser comparada à Exposição de Aeronáutica de Farnborough nem ao Salon de Paris, porém convenhamos é a primeira. Foi objetiva e seus congressos e reuniões são altamente proveitosos. Temos certeza de que todos vão gostar. Os helicópteros, que estão ao lado, 'Alouette' fazem passeios e exibições diàriamente. Finalmente: estão de parabéns os organizadores..."  

Link: http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=089842_07&pagfis=37911&url=http://memoria.bn.br/docreader# 

Para termos uma ideia de quão amados na sua terra natal eram os cosmonautas soviéticos enviados ao Brasil em março de 1963, vejamos o que tem a nos dizer o jornal NOVOS RUMOS, Ano IV, Rio de Janeiro, edição nº 183, semana de 17-23 de agôsto de 1962, 7 meses antes da Exposição. 
Inicialmente vejamos o prestígio dos dois cosmonautas russos entre nós. 
Na p. 1 da referida edição nº 183 do jornal NOVOS RUMOS:
 
"MUNDO APLAUDE FAÇANHA DOS COSMONAUTAS DA URSS: Águia Dourada e Falcão Colocaram a Lua ao Alcance de Homem
 
"Foi demonstrada a viabilidade de uma viagem à Lua" declarou o cientista inglês Sir Bernard Lowell, a propósito do gigantesco sucesso do vôo espacial dos cosmonautas soviéticos Nikoláiev e Popóvitch, o "Falcão" e a "Águia dourada", que regressaram à Terra depois de terem percorrido milhões de quilômetros, várias vêzes a distância da Terra à Lua (350 a 400 mil quilômetros). Os dois cosmonautas desceram no lugar previsto, à hora prevista, em território da União Soviética. Encontram-se em perfeita saúde, a ponto de um cientista soviético dizer que o vôo atual veio refutar a suposição dos cientistas americanos de que os vôos prolongados em órbita, nas condições de imponderabilidade, poderiam afetar a saúde dos tripulantes das astronaves. 
Sua descida ocorreu na manhã de 4ª feira, 15, depois de terem completado Nikoláiev, 61 rotações em tôrno da Terra, e Popóvitch, 45. Assim, ambos superaram de muito o recorde anterior, que pertencia ao soviético Gherman Titov, com 17 voltas. Nikoláiev ultrapassou mais de 20 vêzes o número de voltas em órbita dadas pelos americanos Glenn e Carpenter. Nikoláiev estêve em vôo orbital durante 4 dias: o americano Carpenter durante 4 horas. A vantagem dos soviéticos não está apenas nestes dados, mas em numerosos outros, como o pleno domínio das condições de imponderabilidade, do manejo da nave, da comunicação entre duas naves, do trabalho a bordo, da descida em terra, etc." 
 
Maiores detalhes podem ser apreciados na p. 8 da referida edição do jornal, os quais vale a pena recuperar: 
 
"ÁGUIA DOURADA E FALCÃO DOMINAM O ESPAÇO DESBRAVANDO CAMINHO PARA A LUA"
 
"Seria ingênuo pretender que a competição que se desenrola entre a União Soviética e os Estados Unidos pelo domínio do espaço cósmico oferece interêsse apenas científico e técnico e não teria implicações políticas. Na presente situação das relações internacionais, quando a competição entre capitalismo e socialismo atinge o seu apogeu em todos os terrenos, a corrida ao Cosmos tem um significado essencialmente político. Põe à prova a superioridade de um sistema sôbre outro, de um modo de vida sôbre outro, de uma estrutura econômica, social e política sôbre outra. 
Observa-se então, e o comprova melhor o vôo conjugado das duas naves cósmicas Vostok III e Vostok IV, que a União Soviética mantém a vantagem enorme alcançada sôbre os Estados Unidos desde 4 de outubro de 1957, quando lançou o primeiro satélite articula da Terra. Isto quando os americanos já alardeavam seus próximos lançamentos, divulgavam esquemas pelo mundo, fantasiavam façanhas de super-homens, tipo "Fantasma voador", "Tocha humana", "Flecha dourada"... E hoje, enquanto os cosmonautas soviéticos passam quatro dias no espaço exterior, perfazendo um dêles 61 voltas em tôrno da Terra, com absoluto domínio das condições de imponderabilidade, comunicando-se regularmente com as estações terrestres de contrôle de vôo, fazendo normalmente suas refeições a bordo, dormindo, exercitando-se e estudando, um cosmonauta americano ainda planeja efetuar, no próximo vôo, três a sete voltas ao redor do globo, em meio a constantes adiamentos, num ambiente de inquietação e nervosismo que não se dissimulam. (...)"
 
Sobre o lendário cosmonauta soviético Andriyán Nikoláiev, o blog Lorena Filatelia assim se expressou em homenagem que prestou ao 16º ano da morte do cosmonauta soviético:
"(...)  ANDRIYÁN NIKOLÁIEV (1929-2004), importante cosmonauta da União Soviética que subiu ao espaço em 11 de agosto de 1962 a bordo na nave Vostok III, o terceiro soviético no espaço, e em 1º de junho de 1970 na missão Soyuz 9, tornando-se recordista de permanência em órbita com duas missões, até então. Ficou conhecido como Homem de Ferro nos meios aeronáuticos russos, por ter conseguido ficar quatro dias isolado e em silêncio, sem conhecimento do tempo em que ali ficava, dentro de uma câmara de isolamento, usada naqueles dias para testar a capacidade dos astronautas para aguentarem a solidão do espaço durante suas missões. Ele casou-se em novembro de 1963 com Valentina Tereshkova (1937) a primeira mulher a ir ao espaço e tiveram uma filha, Elena Andrionova. 
Recebeu as principais condecorações da extinta União Soviética, entre elas a Ordem de Lênin e o título oficial de Herói da União Soviética, por duas vezes. Também é um dos poucos agraciados com a Medalha de Ouro Yuri Gagarin, concedida pela Federação Aeronáutica Internacional. (...) Uma cratera lunar foi batizada como Nikoláiev em homenagem a ele."

Principais selos comemorativos em sua homenagem: 
 


























 
 
 
♧                    ♧                    ♧ 
 
Registro histórico importante constitui uma reportagem de TV sobre o "encontro" dos astronautas soviéticos Andriyán Grigorievitch Nikoláiev e Pável Romanovitch Popóvitch no aeroporto de Vnukovo em 1962 após o fim do vôo. Discurso do Primeiro Secretário do Comitê Central do PCUS, Presidente do Conselho de Ministros da URSS Nikita Khrushchev em um comício na Praça Vermelha dedicado à bem-sucedida implementação do primeiro vôo mundial em grupo nas naves espaciais Vostok-3 e Vostok-4, respectivamente tripuladas por A. Nikoláiev e P. Popóvitch.  
 
 
 
 
III. NOTA EXPLICATIVA
 
 
¹  Esta palavra é um adjetivo constituído por três sílabas iniciais de 3 outros termos: Коммунистический союз молодёжи, formando um neologismo Kom-so-mol, que significa Liga Comunista dos Jovens. A tradução do nome do jornal, por extenso, ficaria assim: "Verdade da Liga Comunista dos Jovens".
Komsomolskaya Pravda era um diário matutino publicado em Moscou, voz oficial do Conselho Central do Komsomol, ou Liga Comunista dos Jovens, subentendendo pessoas com idade entre 14 e 28 anos. O jornal Komsomolskaya Pravda foi fundado em 1925 e historicamente teve seus principais escritórios em Moscou, com os do jornal Pravda (Verdade), órgão do Partido Comunista, mas com seu próprio staff editorial.