segunda-feira, 30 de maio de 2022

RECUPERE SEU LATIM > > PARTE 8: CARTA DE PLÍNIO, O JOVEM, NARRA AVENTURAS DE UM MENINO COM UM GOLFINHO EM HIPONA


Por Francisco José dos Santos Braga


Cavaleiro-golfinho gravado no reverso da moeda, datada de 340-335 a.C., cunhada na cidade grega de Taras (atual Tarento, na Itália). No anverso, um cavaleiro comum com seus cavalos; no reverso, um menino cavalga de lado um golfinho, enquanto se vira para pegar um peixe com seu tridente. Na parte inferior as ondas completam a cena. Crédito: Jafet Numismática.


I. ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS DE PLÍNIO, O JOVEM

  
Caio Plínio Cecílio Segundo (em latim: Caius Plinius Caecilius Secundus) ✰ Como, 61 ou 62 d.C. — ✞ Bitínia?, 114 d.C.), também conhecido como Plínio, o Jovem, foi orador insigne, jurista, político e governador imperial na Bitínia (111-112 d.C.). 
 
Sobrinho-neto de Plínio, o Velho, que o adoptou, estava com ele no dia da grande erupção do Vesúvio (79 d.C.), mas não o acompanhou na viagem de barco até o vulcão em erupção que se revelaria mortal. Em carta a Tácito, sua narrativa sobre esse dia, no qual Pompeia se afogou em cinzas, é o principal documento escrito que versa a respeito de como sucedeu tal erupção. Os historiadores modernos nunca teriam aprendido alguns detalhes sobre a erupção do Vesúvio, se não fosse pela descrição dada por Plínio, o Jovem, a Tácito.
 
O seu legado principal são as suas litterae curatius scriptae, 247 missivas escritas a amigos, no estilo da época entre os anos de 97 e 109. Nelas encontramos das melhores descrições da vida quotidiana, política, etc. da Roma Imperial. 
 
Suas cartas estão agrupadas em nove livros, acrescidos de um décimo volume, que contém as duas célebres cartas (Plin. Ep. X, 95, 96) que abordam o tema do cristianismo, um dos primeiros documentos não neotestamentários sobre a igreja primitiva. As cartas que compõem o Livro X foram escritas durante o seu consulado na Bitínia: são 122 ao todo, trocadas com o imperador Trajano, onde é visível a sua grande proximidade e confiança mútuas. 
 
Essas cartas, preservadas até os dias de hoje, são consideradas um dos mais valiosos documentos para entender a organização e a vida quotidiana do império romano da época. 
 
 
II. Carta de Plínio, o Jovem, ao poeta romano Canínio Rufo (Livro IX, 33), narrando peripécias que envolvem um golfinho e um menino, natural de Hipona. 
 
Busto de Canínio Rufo, a única imagem existente do poeta latino, que aparece na fachada superior do Liceo Volta em Como

 
Plinius Caninio suo s.
Incidi in materiam veram sed simillimam fictæ, dignamque isto lætissimo altissimo planeque poetico ingenio; incidi autem, dum super cenam varia miracula hinc inde referuntur. Magna auctori fides: tametsi quid poetæ cum fide? Is tamen auctor, cui bene vel historiam scripturus credidisses. 
Est in Africa Hipponensis colonia mari proxima. Adiacet navigabile stagnum; ex hoc in modum fluminis æstuarium emergit, quod vice alterna, prout æstus aut repressit aut impulit, nunc infertur mari, nunc redditur stagno. Omnis hic ætas piscandi navigandi atque etiam natandi studio tenetur, maxime pueri, quos otium lususque sollicitat. His gloria et virtus altissime provehi: victor ille, qui longissime ut litus ita simul natantes reliquit. Hoc certamine puer quidam audentior ceteris in ulteriora tendebat. Delphinus occurrit, et nunc præcedere puerum nunc sequi nunc circumire, postremo subire deponere iterum subire, trepidantemque perferre primum in altum, mox flectit ad litus, redditque terræ et æqualibus. Serpit per coloniam fama; concurrere omnes, ipsum puerum tamquam miraculum aspicere, interrogare audire narrare. Postero die obsident litus, prospectant mare et si quid est mari simile. Natant pueri, inter hos ille, sed cautius. Delphinus rursus ad tempus, rursus ad puerum. Fugit ille cum ceteris. Delphinus, quasi invitet et revocet, exsilit mergitur, variosque orbes implicat expeditque. Hoc altero die, hoc tertio, hoc pluribus, donec homines innutritos mari subiret timendi pudor. Accedunt et alludunt et appellant, tangunt etiam pertrectantque præbentem. Crescit audacia experimento. Maxime puer, qui primus expertus est, adnatat nanti, insilit tergo, fertur referturque, agnosci se amari putat, amat ipse; neuter timet, neuter timetur; huius fiducia, mansuetudo illius augetur. Nec non alii pueri dextra lævaque simul eunt hortantes monentesque. Ibat una — id quoque mirum — delphinus alius, tantum spectator et comes. Nihil enim simile aut faciebat aut patiebatur, sed alterum illum ducebat reducebat, ut puerum ceteri pueri. Incredibile, tam verum tamen quam priora, delphinum gestatorem collusoremque puerorum in terram quoque extrahi solitum, harenisque siccatum, ubi incaluisset in mare revolvi. Constat Octavium Avitum, legatum proconsulis, in litus educto religione prava superfudisse unguentum, cuius illum novitatem odoremque in altum refugisse, nec nisi post multos dies visum languidum et mæstum, mox redditis viribus priorem lasciviam et solita ministeria repetisse. Confluebant omnes ad spectaculum magistratus, quorum adventu et mora modica res publica novis sumptibus atterebatur. Postremo locus ipse quietem suam secretumque perdebat: placuit occulte interfici, ad quod coibatur. Hæc tu qua miseratione, qua copia deflebis ornabis attolles! Quamquam non est opus affingas aliquid aut astruas; sufficit ne ea quæ sunt vera minuantur. Vale. 
 
 
 III. MINHA TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS 
 
 
Plínio a seu amigo Canínio ¹, saúde!
Encontrei um assunto cujo fato é verdadeiro, embora tenha todo o ar de ficção: merece ser tratado por um engenho tão fértil, tão elevado, tão poético quanto o teu. Topei com ele durante um jantar, onde cada um contava em desafio o seu prodígio. 
 
O autor ² é digno de fé; e, afinal, que importa a verdade para um poeta? No entanto, ele é um autor, no qual tu não deixarias de acreditar, se estivesses escrevendo História.
 
Perto da colônia de Hipona ³, na África, à beira-mar, vemos uma lagoa navegável, donde sai um canal que, como um rio, adentra o mar ou retorna à própria lagoa, conforme o fluxo ou o refluxo. 
 
Toda idade vem ali desfrutar do prazer de pescar, velejar, banhar-se, especialmente as crianças, cuja inclinação as leva  à diversão e ao ócio. Elas colocam sua glória e sua coragem em avançar o mais longe possível da costa: quem vai mais longe dela, e que deixa para trás todos as outras, é o vencedor. 
 
Nesse tipo de combate, um menino mais ousado que seus companheiros se afastou tanto que se apresenta um golfinho,  que ora o precede, ora o segue , ora gira em volta dele. Enfim, carrega o menino sobre seu dorso, depois o joga na água; em seguida, retoma-o  e arrasta-o todo trêmulo ao mar aberto; mas logo depois, ele retorna à terra e o devolve à costa e a seus companheiros. 
 
O boato se espalha pela colônia. Multidões acorrem: cada um vê nessa criança um prodígio. Ninguém se cansa de interrogá-la, de ouvi-la contar sua história. No dia seguinte, todo o povo cerca a costa. Todos os olhos estão fixos no mar, ou no que se assemelha a ele. As crianças se põem a nadar, e, entre elas, aquele (menino) de que falo, mas com mais cautela.
 
O golfinho volta no mesmo horário e de novo com o mesmo menino. Ele foge com os outros. 
 
O golfinho, como se quisesse chamá-lo de volta e induzi-lo, salta, mergulha e faz uma centena de giros diferentes. A mesma cena no dia seguinte, ainda no outro dia, e em vários dias seguidos, até que uns homens, criados no mar, corassem de vergonha. 
 
Eles aproximam-se do golfinho, chamam-no pelo nome , brincam com ele, tocam-no e também apalpam aquele que se deixa afagar. Este teste os encoraja: principalmente (encoraja) o menino que fez a primeira experiência de nadar junto ao golfinho flutuante, e salta sobre o seu lombo, é carregado e trazido de volta: na opinião dele, apesar de reconhecer-se como sendo amado, ele o ama por sua vez: nenhum dos dois inspira medo: a confiança de um aumenta com a docilidade do outro. 
 
Os outros meninos até  o acompanham nadando à esquerda e à direita e o animam com seus gritos e apupos. 
 
Junto com nosso golfinho ia outro (e isso é também admirável), seu parceiro e espectador. Este não fazia nem sofria nada semelhante, mas conduzia e recolhia aquele outro, como as outras crianças fazem com o menino. Será difícil de acreditar (e, no entanto, isso não é menos verdadeiro do que os fatos precedentes), o golfinho, que brincava com essa criança e a carregava, tinha o costume de vir à costa; depois de se secar na areia, assim que começava a sentir o calor, jogava-se de volta ao mar. 
 
É certo que Otávio Avito, general do pró-cônsul, tendo sido impelido à praia por uma vã superstição , derramou um unguento sobre o golfinho, cuja novidade e odor o fizeram retirar-se para o mar aberto. Vários dias se passaram sem que ele fosse visto. Por fim voltou, a princípio lânguido e triste: logo depois, com suas forças recuperadas, retomou suas brincadeiras e seus giros costumeiros. 
 
Todos os magistrados dos lugares vizinhos apressavam-se a presenciar o espetáculo. A sua chegada e a sua permanência comprometeram esta cidade, bastante pobre, a novas despesas, que acabaram por esgotá-la. Finalmente, ela perdeu a doçura da tranquilidade e do isolamento. 
 
Portanto, acharam por bem matar secretamente o objeto da admiração geral. 
 
Que compaixão sua morte despertará em teus versos! Com que força, com que graça embelezarás esta história! Embora seja necessário que não inventes nem acrescentes algo; basta que não tires os fatos que são verdadeiros. Adeus! 
 
O menino e o golfinho

 
 
IV. NOTAS EXPLICATIVAS 
 
 
¹  Caninius Rufus, compatriota de Plínio (natural de Como), amava a poesia, com a qual celebrou as campanhas de Trajano contra a Dácia. Vide Livros I, 3 e VIII, 4. 
²  O autor é Plínio, o Velho, tio do missivista, que conta a mesma história (Historia Naturalis, IX, 7).  
³ A colônia de Hipona. Havia na África duas cidades com este nome, Hippo regius, e Hippo Diarrhytus. Trata-se aqui desta última que devia seu sobrenome às águas que a irrigam. Ainda hoje se vêem as ruínas perto do reino de Túnis.  
Outras edições trazem: et nunc praecedere puerum, nunc sequi
  Plínio, o Jovem chama assim a lagoa e o canal que a anexava ao mar. 
  Plínio, o Velho (IX, 7) narra que os golfinhos respondem com grande prazer, ao nomeá-los  Simão: "Rostrum delphinis simum: qua de causa nomen Simonis omnes miro modo agnoscunt maluntque ita appellari." Para admitir o fato, era preciso supor que os peixes tinham um perfeito conhecimento de suas próprias formas e da língua latina. 
O general do pró-cônsul acreditava ver uma entidade oculta sob as formas do golfinho. Teria ele submetido o golfinho a um ritual de exorcismo?
Para os gregos antigos, os golfinhos eram considerados um guia marítimo, ajudando os navegantes perdidos a encontrarem a rota certa. Eram animais ligados a Apolo (deus da ordem e da música), pois em um de seus mitos, Apolo teria se transformado em golfinho para guiar navegadores até seu templo sagrado! 


V. AGRADECIMENTO
 
Agradeço à minha amada Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste artigo produzido por mim.

 
VI. REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS

 

BRAGA, F. J. S.: DESTRUIÇÃO DE POMPÉIA PELO VULCÃO VESÚVIO > > > Parte 1, in Blog do Braga, post de 25/01/2010. 
 
––––––––––––––––––––– EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA: “UMA VIAGEM AO MUNDO ANTIGO – EGITO E POMPEIA", in Blog do Braga, post de 28/04/2019. 

sábado, 21 de maio de 2022

RECUPERE SEU LATIM > > PARTE 7: STABAT MATER


Por Francisco José dos Santos Braga


Em pé 'stava Maria das dores junto à cruz...


STABAT MATER 

Por Jacopone da Todi

 
Stabat mater dolorosa 
Juxta crucem lacrimosa, 
Dum penbat filiūs
 
Cujus animam gementem, 
Contristatam et dolentem 
Pertranvit gladiūs
 
O quam tristis et afflicta 
Fuit illa benedicta, 
Mater ūnigeni
 
Quae moerebat et dolebat, 
Et tremebat cum videbat 
Nati nas incli
 
Quis est homo qui non fleret, 
Matrem Christi si videret 
In tan suppliciō
 
Quis non posset contristari, 
Piam matrem contemplari 
Dolentēm cum Filiō
 
Pro peccatis suae gentis 
Iesum vidit in tormentis, 
Et flallis subditūm
 
Vidit suum dulcem Natum 
Moriendo desolatum, 
Dum esit spiritūm
 
Eja, mater, fons amoris 
Me sentire vim doloris, 
Fac, ut cum lugeām
 
Fac, ut ardeat cor meum 
In amando Christum Deum, 
Ut sicomplaceām
 
Sancta Mater, illud agas: 
Crucifixi fige plagas 
Cordi o vali
 
Tui Nati vulnerati, 
Tam dignati pro me pati, 
Pœnas cum divi
 
Fac me vere tecum flere, 
Crucifixo condolere, 
Donec ēgo vixe
 
Juxta crucem tecum stare, 
Et me tibi sociare 
In planc deside
 
Virgo virginum praeclara, 
Mihi jam non sis amara: 
Fac me cum plange
 
Fac, ut portem Christi mortem, 
Passionis ejus sortem, 
Et plagās recole
 
Fac me plagis vulnerari, 
Cruce hac inebriari, 
Oh arem filiī
 
Inflamatus et accensus, 
Per te, virgo, sim defensus 
In diē iudiciī
 
Fac me cruce custodiri, 
Morte Christi praemuniri, 
Confori gratiā
 
Quando corpus morietur, 
Fac ut animae donetur 
Parasi gloriā
 
Fonte: BRITTAIN, Frederick: The Medieval Latin and Romance Lyric to A.D. 1300, Cambridge: University Press, 1951 (2ª ed.), p. 206-7 
 

II. Um pouco de teoria sobre a forma poética utilizada no Stabat mater 
 
É oportuno analisar rapidamente a estrutura do poema Stabat mater. Ele foi escrito em versos conhecidos por tetrâmetros trocaicos. 
Para entender o significado disso, vou tentar resumir os principais pontos sobre o tema. 
Tetrâmetro é chamado o verso grego ou latino que possui 4 unidades rítmicas, denominadas pés
De acordo com a tradição greco-latina, um dos tipos de pés utilizados na poesia é o troqueu, onde uma sílaba tônica vem seguida por uma sílaba átona. Como exemplos, citamos as seguintes duas palavras existentes no poema: mater / homo. 
O tetrâmetro trocaico é o verso que se apresenta em quatro pares de sílabas poéticas com andamento trocaico, a saber: forte-fraca. Ex.: Juxta crucem lacrimosa 
Lembremo-nos então de que cada verso é composto por quatro troqueus. Um troqueu nada mais é do que um pé formado por duas sílabas, em que a primeira é tônica, e a segunda átona. A representação mais usual é a seguinte: (‒ ⏑)
Lembremo-nos também de que neste poema todos os versos são acentuais, diferentes portanto dos utilizados pelos poetas clássicos das duas literaturas, como Homero e Virgílio, em cujos versos vigorou a quantidade caracterizada por sílabas longas e breves. 
Lembremo-nos de que os acentos ocorrem na 1ª, 3ª, 5ª e 7ª sílabas de cada verso. Se cada verso contém quatro troqueus, então justamente se dirá que ele é tetramétrico
O último troqueu de algum verso, no entanto, pode ser monossilábico, encontrando-se incompleto. A este corte se dá o nome bonito de catalexis, e por isso se diz que o último troqueu é cataléctico. Observemos que, no caso do poema Stabat mater, há 20 estrofes cujo troqueu do último verso, na sua totalidade, é cataléctico. 
Tomemos o exemplo da primeira estrofe, em que o último verso: Dum pendebat filius. Na primeira estrofe, o que se deve enfatizar é que o ritmo dos dois primeiros versos deve ser mantido no verso final, mesmo se os dois primeiros têm 8 sílabas (4 troqueus) e o último verso, também 4 troqueus mas de 7 sílabas, porque o último troqueu aparece incompleto. O mesmo fenômeno se repete nas outras 19 estrofes, em que o último troqueu do 3º verso de cada estrofe é cataléctico. 
Conforme dito, a acentuação continua na 1ª, 3ª, 5ª e 7ª sílabas, independente de se a 8ª sílaba existe ou se foi cortada.


III. MINHA TRADUÇÃO DO LATIM
 
Em pé 'stava a Mãe das dores,
Junto à cruz, lacrimosa,
Da qual pendia o filho.
 
Cuja alma gemente, 
contristada e dolente 
a espada atravessou.
 
Oh quão triste e quão aflita
Estava aquela Mãe bendita,
Que só tinha aquele filho!
 
Ela suspirava e gemia 
e tremia, ao ver as penas 
do ilustre filho seu.
 
Quem de nós não choraria 
pela Mãe de Cristo, se a visse 
em tão grande suplício?
 
Quem não se entristeceria 
ao contemplar a Mãe de Cristo 
padecendo com seu filho?
 
Pelos pecados de seu povo, 
viu Jesus em tormentos 
e submetido aos flagelos.
 
Viu seu doce filho
morrendo abandonado 
quando entregou seu espírito.
 
Oh mãe, fonte de amor, 
faz-me sentir a força da dor, 
para que eu chore contigo.
 
Faz arder meu coração 
no amor de Cristo Deus, 
para me comprazer com ele.
 
Santa Mãe, faz isto: 
grava fortemente em meu coração 
as chagas do crucificado.
 
Do teu filho que se dignou 
por mim padecer as penas, 
divide comigo.
 
Dá-me contigo deveras chorar, 
sofrer com o crucificado 
enquanto viver.
 
Quero estar contigo junto à cruz 
e, de boa vontade, associar-me
ao teu pranto.
 
Virgem das virgens preclara, 
não sejas amarga comigo, 
dá-me contigo chorar.
 
Dá-me portar a morte de Cristo, 
participar de sua paixão 
e venerar suas chagas.
 
Dá-me ser ferido pelas chagas, 
por esta cruz ser embriagado 
de amor pelo teu filho.
 
Em chamas e brasas, 
por ti, ó Virgem, seja defendido 
no dia do juízo.
 
Dá-me ser guardado pela cruz, 
ser fortalecido pela morte de Cristo, 
ser restaurado pela graça.
 
No dia em que meu corpo morrer, 
dá-me seja à minha alma concedida 
a glória do paraíso. 
 
 
IV. BREVE BIOGRAFIA DE JACOPONE DA TODI (1220-1306) 
 
Jacopone da Todi, que exerceu a advocacia em sua cidade natal da Úmbria, converteu-se à religião pela trágica morte de sua esposa e ingressou na Ordem Franciscana. Por uma crítica direta ao Papa Bonifácio VIII, ele foi excomungado e preso por este último por cinco anos, e não saiu da prisão até a morte do pontífice. 
Jacopone é geralmente considerado o autor do Stabat mater. Um dos mais belos e atraentes poemas latinos medievais, está escrito em linguagem muito simples e na mais simples e preferida de todas as formas da Sequência tardia ou estrófica. Ele contém inúmeras rimas internas surpreendentes. 
 
O autor do Stabat mater, como convinha a quem compartilhou o primeiro desprezo franciscano pelo saber, preferiu o italiano ao latim, e foi prolífico escritor de laude spirituali. Seu Donna del paradiso, um dos melhores poemas desta classe, está escrito em quadras heptassílábicas simples, cada quadra sendo monorrimada, exceto que os últimos versos rimam juntos. Nota-se que o poema é todo em diálogo, sendo os nomes dos falantes dados fora das estrofes, e, portanto, adequado à performance como peça teatral. Se foi realmente realizado como tal é incerto, mas provável. Sabemos pelo menos que as primeiras peças italianas eram desse tipo e provavelmente foram produzidas durante a vida de Jacopone.
 
 
 

V. ALGUMAS ANOTAÇÕES FINAIS 

 
Na celebração da Missa, a Epístola é seguida por um texto em prosa geralmente tomado das Sagradas Escrituras chamado Gradual. Nos tempos não-penitenciais (todo o ano, exceto o Tempo Quaresmal e o Tempo Pascal), este Gradual termina com a palavra Aleluia. Quando a música sacra era elaborada, o canto da sílaba final do Aleluia era prolongado sobre uma melodia chamada de Sequentia. Provavelmente quase no final do século VIII, era costume acrescentar palavras a essa melodia para apoio mnemônico dos cantores uma sílaba para cada nota e as próprias palavras vieram a ser conhecidas por Sequências. Esta nova forma de composição em breve ultrapassou sua origem mnemônica, e as Sequências se tornariam cada vez mais populares à medida que o século IX avançava. Os textos eram aperfeiçoados, e no novo tempo eram escritos tanto novos textos quanto novas melodias para os acompanharem. A despeito de lendas de longa data em contrário, a Sequência como gênero literário originou-se muito provavelmente na França, porém foi um monge suíço, Notker de Saint Gall, falecido em 912, o primeiro a se revelar como eminente autor de Sequências. As primitivas Sequências foram escritas numa prosa arrítmica, dividida em frases de extensão desigual. Uma característica surpreendente em muitas delas, particularmente nas de origem francesa, é que toda frase termina em a, desta forma ecoando a sílaba final do Aleluia, do qual a Sequência proveio. (...) 
 
Algo também digno de ser observado é a influência da poesia popular, embora restrita, sobre três de quatro Sequências do século XIII o Veni, sancte spiritus, o Dies irae e o Stabat mater; ora, enquanto elas estão entre os maiores poemas do Latim Medieval, são efetivamente muito mais simples em pensamento e menos elaboradas em construção, do que a típica produção de Sequência dos séculos anteriores. Essas 3 grandiosas Sequências estão em diferentes metros, porém os metros de todas as três são extraídos do antigo versus popularis; e elas possuem a característica comum de que suas estrofes, contrárias às de muitas Sequências vitorinas, são homomórficas. (...) 
 
Como o Dies irae, embora sem sua grandiosidade inspiradora de terror, o Stabat mater é um produto caracteristicamente franciscano simples, patético, vívido e marcadamente subjetivo. Sua beleza forçou uma entrada no Missal Romano 150 anos após todas as Sequências, mas quatro tinham sido impiedosamente varridas dele pelos revisores neo-clássicos do século XVI, e nenhuma outra Sequência partilhou desta vitória. Esta agrada mais do que qualquer outra Sequência às Missas, e é significativo que o Stabat mater é geralmente cantado na Adoração da Cruz um ofício por outro lado inteiramente em vernáculo, e o único que, de todos os ofícios da Igreja Latina, agrada ao máximo às pessoas de coração simples. 
 
A quarta Sequência grandiosa do século XIII o Lauda Sion de São Tomás de Aquino é, com sua severa instrução e sua objetividade, caracteristicamente dominicano como o Dies irae. Tomás de Aquino e Jacopone da Todi foram os dois últimos grande escritores de verso do Latim Medieval, pois os poetas do século XIV foram apenas o pálido resplendor do glorioso ocaso do século XIII. Durante o intervalo que decorreu antes do retorno à quantidade, o verso acentual em Latim, tanto sacro quanto secular, foi ainda escrito, e escrito realmente em grande número, mas, no todo, a inspiração já o tinha abandonado, para entrar nas novas línguas que tinham crescido do Latim popular de uma era anterior. O verso  acentual em Latim, porém, tinha sobrevivido por longo tempo tão longo, de fato, que seu descendente primogênito já estava sofrendo dos efeitos de uma idade avançada. 
 
Fonte: BRITTAIN, Frederick: ibidem, p. 10-20 
 
Pintura de Katia-Laure Mininno-Lefebvre (França)

  
VI. AGRADECIMENTO
 
Agradeço à minha amada Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste artigo produzido por mim.

 
VII. REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS

 

BRAGA, F.J S.: Rossini e seu Stabat Mater, in Blog do Braga, post de 19/06/2009. 
 

terça-feira, 17 de maio de 2022

FDB-FACULDADE DOM BOSCO DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS


Por Francisco José dos Santos Braga



Vista aérea da entrada do Campus Dom Bosco - Crédito: UFSJ


O texto abaixo constitui um elogio literário à instituição de ensino à qual pertenceu o autor, Pe. Luiz Zver, esloveno, possuidor de domínio sobre diversas áreas do conhecimento, dentre as quais posso mencionar as seguintes: sociologia, filosofia (especialmente ética e estética), oratória, história da filosofia, psicologia, pedagogia, teoria da orientação educacional, língua e literatura latinas, epigrafia latina, línguas neo-latinas, linguística e filologia românica, dentre outras. Além disso, em se tratando de suas atividades mais socioculturais, foi diretor do Oratório Festivo São Caetano; regente de coral Anambé;  fundador, primeiro presidente e grande impulsionador do C.A.C.-Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei, que durou dez anos (1959-1969); conceituado vice-diretor da FDB e fundador da APAE de São João del-Rei em 1967.
 
O texto do referido memorial, reproduzido abaixo, escrito por Zver, foi obtido junto ao Centro Salesiano de Documentação e Pesquisa de Barbacena, através dos diretores Pe. Alfredo Carrara de Melo e Pe. Ilário Zandonade. 
"Foi há 20 anos atrás, e precisamente em outubro de 1953, que foi criada a Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras e autorizado o seu funcionamento pelo Decreto nº 34.392 de 27/10/l953. O seu objetivo principal era a formação de professores de Grau Médio e a sua sede era o Instituto Salesiano de Filosofia e Pedagogia, anexo ao Colégio São João. 
A Faculdade começou a funcionar regularmente em fevereiro de 1954, com os cursos de Filosofia, de Pedagogia e de Letras Neo-Latinas, Clássicas e Anglo-Germânicas, mas no primeiro ano seus alunos foram apenas os seminaristas salesianos internos. Em 1955 abriram-se as matrículas também para os alunos externos, funcionando as suas aulas por algum tempo em dependências cedidas pelo Instituto Nossa Senhora Auxiliadora. 
Em 26/10/1957 foi assinado pelo Senhor Presidente da República o Decreto de seu reconhecimento sob o nº 42.518, diplomando-se a primeira turma em solenidade especial no dia 24 de fevereiro de 1958, tendo sido seu paraninfo o Exmo. Sr. Dom João de Resende Costa, arcebispo de Belo Horizonte. 
Em 1961 criou-se o Curso de Orientação Educacional, tendo esta Faculdade sido a primeira em Minas Gerais a formar Orientadores Educacionais. Em 1962, os três cursos de Letras se fundiram num só em virtude da reforma do ensino determinada pelas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Em 1964 foi criado o Curso de Ciências Sociais e, em 1967, o de Ciências. E, em virtude do parecer especial de setembro de 1972, foi autorizado o funcionamento do Curso de Psicologia e, na modalidade de licenciatura, o da formação do psicólogo clínico. Tendo deixado de funcionar o Curso de Ciências Sociais após ter formado a 1ª Turma, estão presentemente em funcionamento regular os seguintes cursos: Psicologia, Filosofia, Ciências, Pedagogia e Letras. 
Graças à Faculdade Dom Bosco, o magistério de grau médio, em franca expansão, pode contar presentemente com professorado numeroso e tecnicamente bem preparado. Numerosos ex-alunos da Faculdade Dom Bosco exercem, inclusive, magistério em Universidades e outros estabelecimentos de Ensino Superior. 
Nesse período de 20 anos de funcionamento, mais de dois mil estudantes de todas as partes do Brasil e mesmo do estrangeiro se matricularam na Faculdade Dom Bosco, tendo sido expedidos, até o presente, quase mil diplomas, além dos cursos regulares de graduação.A Faculdade ministra frequentes vezes cursos de aperfeiçoamento e de extensão universitária, como de Biblioteconomia, de Parapsicologia, de Teatro, de Psicologia e outros. Organizações especiais funcionam ou funcionaram dentro das estruturas da Faculdade, como o antigo Centro de Estudos Pedagógicos (CEP), o Teatro Universitário Sanjoanense (TUNIS), o Cine Club da Faculdade, o Instituto de Pedagogia e Psicologia (I.P.P.) ¹, a Escola de Excepcionais e outros, sem falar no Diretório Acadêmico São Tomás de Aquino (DASTA), que é o órgão representativo dos alunos. Pela seriedade do seu regime de estudos, pelo seu corpo de professores, pela sua Biblioteca, pelo seu laboratório de Psicologia, pela atuação de seus ex-alunos e não menos pela aplicação do Decreto-Lei 1051, de 21/10/1969, que possibilita a revalidação dos Estudos Filosóficos de Seminário e a respectiva complementação , a Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras é, sem dúvida, hoje a Escola Particular Isolada mais conhecida no Brasil, levando o nome de São João del-Rei a todos os recantos do País."

 

II. NOTA EXPLICATIVA

 
 
¹  Para cada uma dessas atividades desenvolvidas pela FDB requer-se uma aprofundada pesquisa, tão grandes foram suas realizações nos diversos campos a que se dedicaram os salesianos em São João del-Rei. 
 
A título de exemplo, segue um trecho de uma pesquisa feita por dois universitários da UFSJ, Rodolfo Luís Leite Batista e Marília Novais da Mata Machado, intitulada O Laboratório de Psicologia da Faculdade Dom Bosco de São João del-Rei: uma investigação documental em História da Psicologia
"(...) Para a realização da pesquisa, os autores adotam duas principais vertentes de investigação: (a) a revisão bibliográfica de estudos e de dados sobre a presença de salesianos na Itália e no Brasil, especialmente, em São João del-Rei e (b) pesquisa documental no Centro de Documentação e Pesquisa em História da Psicologia do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial, a fim de identificar as razões institucionais, políticas e acadêmicas que levaram à compra e instalação do laboratório. Nesta vertente, busca-se identificar os aparelhos que constituíam o Laboratório, suas origens, características e usos. 
(...) Sobre a agilização da compra para a instituição são-joanense de um laboratório de Psicologia Experimental nos moldes europeus, a partir de 1953, iniciou-se a troca de cartas entre o padre Alcides Lanna, do Instituto Salesiano São Francisco do Rio de Janeiro, e professor Giacomo Lorenzini, do Pontifício Ateneu Salesiano de Turim. A compra desse laboratório representa, segundo documentos da época, a introdução de melhorias nos cursos de Filosofia e Pedagogia, com a renovação dos conteúdos programáticos das disciplinas oferecidas, como a Psicologia da Educação, e dos serviços prestados. A chegada e montagem dos equipamentos do laboratório aconteceram em 1955, sendo que a maior parte dos instrumentos foi feita, sob encomenda, pelos Laboratori Apparechi Scientifici Medici, em Turim, Instituto Conte Rebaudengo e oficinas do Laboratório de Psicologia da Universidade de Milão, na Itália. Em linhas gerais, os aparelhos permitiam a realização de medidas sensoriais, de aptidões, interesses e biométricas. A existência do laboratório levou à criação do Instituto de Pedagogia e Psicologia, em 1958, no qual se realizavam atividades nos setores de Psicologia Clínica, de Orientação (vital, educacional e profissional), no Centro de Estudos Pedagógicos, nos Círculos de Pais, nos setores de Psicologia do Trabalho e de Pesquisa e Estatística. Não obtivemos, ainda, bastante informação sobre o encerramento das atividades do Laboratório de Psicologia Experimental da Faculdade Dom Bosco e seu modo de utilização no curso de Psicologia da FDB, criado em 1972."

Muitos elementos sobre os primórdios do I.P.P. localizei na tese "Psicologia no Brasil: a presença dos Salesianos" (2006) de Iolanda Bezerra dos Santos Brandão, que traz importantes informações históricas sobre o IPP, já que se baseia em fontes primárias, especialmente textos produzidos por Pe. Geraldo Servo. A autora resume as ações empreendidas entre 1954 e 1958 no I.P.P. da Faculdade Dom Bosco de São João del-Rei, tendo sido agraciada com alguns documentos pertencentes ao acervo particular de Geraldo Servo provenientes do CSDP-Centro Salesiano de Documentação e Pesquisa de Barbacena-MG. 

Transcrevo aqui pequeno trecho de sua tese, intitulado "Geraldo Servo e a consolidação da profissão da psicologia no Brasil" (subitem 3.4.6, 177-184). Em resumo, Geraldo Servo, natural de Morro do Ferro, aos 11 anos de idade, foi encaminhado pela família ao Seminário Dom Bosco de São João del-Rei, mas graduou-se em pedagogia pela Faculdade de Lorena-SP. Foi ordenado sacerdote em agosto de 1956 e de fevereiro de 1956 a fevereiro de 1958 cursou mestrado em Pedagogia no Ateneu Salesiano de Turim e, durante esse período, trabalhou nos laboratórios de física da Universidade Católica de Milão (Itália) e de Louvain (Bélgica). Durante sua permanência no curso de mestrado passa a estudar também com afinco psicologia. Depois da vasta bagagem de conhecimentos adquiridos na Itália, 

"Pe. Geraldo Servo retorna ao Brasil em fevereiro de 1958 e se instala na Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del-Rei. Ocupa-se tanto de áreas ligadas à administração da Faculdade como também de docência, empenhando-se na criação de um Instituto onde possa por em prática todo o conhecimento trazido. Quando chega, já se encontra instalado o Laboratório de Psicologia, que funcionava desde 1955, tendo como coordenador o Pe. Ralfy Mendes de Oliveira, e onde vinham sendo desenvolvidos trabalhos através de um Serviço de Orientação Educacional e Profissional - o SOEP. 
A partir de 1958, Geraldo Servo assume a direção do Laboratório, sendo o novo titular de Psicologia educacional. 
Geraldo Servo, enquanto salesiano (mais tarde deixa o sacerdócio e continua se dedicando à psicologia) tem uma produção significativa de atuação prática junto à comunidade de São João del-Rei e em diversas cidades por ele visitadas com sua equipe de alunos, na realização de palestras, encontros, seminários e formação de profissionais na área de Orientação Vocacional. Assim, faz parte da história da psicologia brasileira, apesar de passar despercebido por muitos pesquisadores e historiadores em psicologia no Brasil. 
Em 1º de março de 1958, abre o consultório de psicologia que funciona junto à Faculdade Dom Bosco, cuja finalidade era o atendimento ao público em geral. 
Cria, em 14 de agosto de 1959, o Instituto de Psicologia e Pedagogia-IPP, através do qual vai realizar diversos trabalhos, como serviços de Orientação educacional e levando este projeto a várias partes do país, como Goiânia, Leopoldina, Ponte Nova, Juiz de Fora, Lorena. 
Todo o trabalho realizado no IPP, de sua criação em 1959 até 1968, sempre esteve sob a liderança e empenho de Geraldo Servo que, trabalhando em conjunto com um grupo de auxiliares, por meio das "Missões Pedagógicas" realizou diversos cursos intensivos de Orientação educacional, ministrou palestras a professores e pais de alunos, não só na comunidade de São João del-Rei e em cidades vizinhas, mas também em outros Estados. 
Conjuntamente a todo este trabalho, ajuda a criar a Sociedade Mineira de Psicologia; a Associação Brasileira de Psicologia Aplicada (cuja sede era em São Paulo); a Associação Interamericana de Psicologia Aplicada e da Associação Internacional de Psicologia Aplicada. Além de tudo, colaborou no desencadeamento de uma campanha em favor da legalização do exercício profissional do psicólogo, que se torna realidade através da Lei 4119 de 27 de agosto de 1962. 
Valendo-se dos artigos 17 e 21 da Lei 4119, Geraldo Servo obteve o registro de psicólogo junto ao Ministério da Educação e Cultura, sendo seu registro o de número 35. Torna-se sócio da Associação Brasileira de Psicólogos, da Sociedade Interamericana de Psicologia e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC. 
Em novembro de 1968, muda-se para Brasília (local no qual já vinha desenvolvendo trabalhos junto à Nova Capital). Na capital do Brasil deixa o sacerdócio e exerce várias atividades sempre ligadas à área de psicologia (...) 
Participa ativamente da criação e regulamentação dos Conselhos de Psicologia, quando de sua aprovação mediante Lei 5766 de 20.12.71, tendo, como delegado, participado da eleição do primeiro Conselho Federal de Psicologia. Atuou na sua primeira diretoria como secretário, trabalho desenvolvido de 1973 a 1976, representando o Sindicato dos Psicólogos do Distrito Federal – SPDF, no qual era presidente e sócio-fundador (BRANDÃO: Uma Contribuição à história da psicologia: o caso dos salesianos em São João del-Rei-MG – Dissertação de Mestrado – PUC/SP, 2001). 
Com esta participação ativa e como forma de prestigiar todo o trabalho que vinha desenvolvendo em prol da psicologia, recebe do CRP 1ª Região a obtenção do Registro nº 01/0001. 
Geraldo Servo faleceu em janeiro de 2001 em sua residência. (...) 
Seus trabalhos no campo da psicologia foram reconhecidos pelo CRP-01, ano de 1997, quando é uma das figuras homenageadas do ano: “O nome de Geraldo Servo se confunde com a própria história da psicologia no Brasil, sendo um dos principais fundadores do Conselho Federal de Psicologia, depois de uma luta de vários anos”. (Revista da Psicologia/CRP01, 1ª edição–agosto de 1997). Autor de livros e artigos, respondeu também pela tradução do livro Psicanálise e Personalidade de Joseph Nuttin, publicado pela editora Agir 1964.(...)" 

Além dos elementos históricos que constam da narrativa de Pe. Luiz Zver e da tese de Iolanda Brandão, também localizei no CSDP de Barbacena-MG, em papel timbrado da FDB, informações sobre o corpo técnico do IPP-Instituto de Pedagogia e Psicologia, que funcionava nas instalações da FDB no ano de 1969, com o título "Planejamento I.P.P. durante ano 1969" (identificado como Arquivo do Pe. Agenor), que abre com a seguinte equipe de trabalho e atribuições para cada elemento: 

Coordenação 
1) Ir. Ana Eugênia Ferreira: coordenação geral - psicologia clínica - setor de pesquisas - testes projetivos - magistério - dinâmica. 
2) Maria Lygia: responsabilidade técnica - departamento infantil - ludoterapia - colaboração com setor emendativo. 
3) Maria Lucia: direção administrativa - contabilidade - terapia e diagnóstico de adultos - estudo clínico. 
Orientadoras 
1) Odila: missões pedagógicas - estudo de casos - atendimento de psicologia escolar - dinâmica de grupo - adolescentes. 
2) Ieda Lucia: dinâmica de grupo - coordenação da pedagogia e da orientação educacional - metodologia. 
3) Edna: direção da escolinha - psicologia infantil - orientação 
4) Maria Teresa: magistério de O.P. e Técnicas - Supervisão de estágios - Senai - Departamento de orientação profissional. 
5) Marysa: Técnicas projetivas - Psicologia experimental geral - Magistério - Psicometria. 
6) M. C. Barboza: orientação educacional - missões pedagógicas - Psicometria - Estudo de turma. Psicotécnicas 
1) Luiza Carvalho: Senai - Psicometria - Missões pedagógicas. 
2) M. C. Pena: Psicologia infantil - Psicometria. 
Funcionárias 
1) Rosália: Secretaria - Almoxarifado. 
2) Nancy Abreu: Auxiliar da escolinha - Psicometria. 
3) Gessy Neves: Servente escolar. 
 
Em seguida, o mesmo documento possui uma seção de "lembretes", a saber: 
 
Senai 
O convênio é feito entre Senai e IPP - 600,00 por cinco meses, de março a julho - Sempre foi lembrada dificuldade de atender aos meses de fevereiro, julho, dezembro - Convênio é renovado e revisto cada semestre - Maria Teresa-Luiza-Pe. Duque - alunos da orientação. 
Estágios 
Legalmente só valem após curso teórico; devem ser feitos em escola da nível médio, com supervisão, relatório mensal - Qualquer atividade, fora deste contexto, não é válida, embora possa ser "relevada" e permitida pela supervisora. Diploma só pode ser liberado meio ano após o término do curso teórico - Supervisora: Maria Teresa. 
Missões pedagógicas 
Faça-se ao menos uma por mês, quatro por semestre - Convém que dure mais de uma semana, atender cerca de 30-50 casos de O.P., fazer levantamento psicométrico de uns 100 alunos, curso para os pais com 10 aulas, reuniões e palestras para professores, discussões e dinâmica de grupo nas classes, hábitos de estudo, etc. 
Rosália 
Secretária - Continua na folha de pagamento do Colégio - IPP entregue todos os meses ao Pe. Gregório importância para pagamento da mesma, inclusive não esqueça o 13º e o período de férias.  
Escolinha 
Convém atender um pouco mais ao estudo, pesquisa e controle das crianças - Como ajuda financeira para pagar melhor às professoras serão remetidos NCr$ 500,00 cada dia 25: receberão apenas durante 10 meses, sem direito a férias nem a 13º salário. 
 
O documento ainda consta de "movimento financeiro" que deixo de apresentar aqui por ser muito específico e destinado exclusivamente ao controle financeiro do órgão. 
 
Centro Salesiano de Documentação e Pesquisa - Barbacena/MG

 
 
 
III. AGRADECIMENTO
 
Agradeço à minha amada Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste artigo produzido por mim.

 
IV. REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS

 

BATISTA, Rodolfo L. B. & MACHADO, Marília N. M.: O Laboratório de Psicologia da Faculdade Dom Bosco de São João del-Rei: uma investigação documental em História da Psicologia, trabalho de pesquisa apresentado no XIX ENCONTRO REGIONAL DA ABRAPSO MINAS de Betim, evento realizado de 13 a 16 de novembro de 2014

BONFIM, E.M. & ALBERGARIA, M.T.A. Origem e relevância de um laboratório de psicologia no Brasil na década de 1950. Memorandum 7, 151-164
Link: https://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos07/bomfalberg01.htm

BRANDÃO, I.B.S. Psicologia no Brasil: a presença dos Salesianos, tese apresentada à PUC-SP para a obtenção do título de Doutora em Psicologia Social, 2006

–––––––––––––––––––– Uma Contribuição à história da psicologia: o caso dos salesianos em São João del-Rei-MG – Dissertação de Mestrado – PUC/SP, 2001

Planejamento I.P.P. Ano 1969, disponível no Centro Salesiano de Documentação e Pesquisa, identificado como "Arquivo do Pe. Agenor".

Salesianas - Homenagem a Ana Eugênia Ferreira 03 (15/08/2013)

ZVER, Pe. Luiz. FACULDADE DOM BOSCO DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS. (texto inédito de 1973, identificado como "Arquivo do Pe. Agenor")

sexta-feira, 13 de maio de 2022

RECUPERE SEU LATIM > > PARTE 6: LÍNGUA LATINA SEMPRE CULTIVADA PELOS FRANCESES


Por Francisco José dos Santos Braga


I. INTRODUÇÃO

Em sua abordagem sobre as diversas metodologias de ensino de línguas estrangeiras através dos tempos, [CESTARO] analisa a metodologia tradicional ou clássica nos seguintes termos: 
"Na Europa, durante a Idade Média, o latim possuía muito prestígio, sendo considerado a língua da igreja, dos negócios, das relações internacionais, das publicações filosóficas, literárias e científicas (Puren, 1988). (...) 
No plano metodológico, vale salientar que é o modo de ensino do latim que prevalece durante toda a Idade Média e que o ensino das línguas vivas ou modernas vai se basear no modelo de ensino do latim. (...) 
O latim era ensinado na língua dos alunos e as lições eram constituídas de frases isoladas, na língua materna, escolhidas em função do conteúdo gramatical a ser ensinado e memorizado pelos alunos. (...) 
A partir do século XVIII, no entanto, os textos em língua estrangeira tornam-se objeto de estudo; os exercícios de versão/gramática passam a substituir a forma anterior de ensino que partia de frases isoladas tiradas da língua materna. É com base nesse modelo de ensino que o século XVIII assistirá à consagração do chamado “método gramática-tradução” mais comumente chamado “tradicional” ou “clássico”. (...) 
A abordagem tradicional, também chamada de gramática-tradução, historicamente, a primeira e mais antiga metodologia servia para ensinar as línguas clássicas como grego e latim. É a concepção de ensino do latim; língua morta, considerada como disciplina mental, necessária à formação do espírito que vai servir de modelo ao ensino das línguas vivas (GERMAIN, 1993). Os objetivos desta metodologia que vigorou, exclusiva, até o início do século XX, era o de transmitir um conhecimento sobre a língua, permitindo o acesso a textos literários e a um domínio da gramática normativa. Propunha-se a tradução e a versão como base de compreensão da língua em estudo. O dicionário e o livro de gramática eram, portanto, instrumentos úteis de trabalho. 
A aprendizagem da língua estrangeira era vista como uma atividade intelectual em que o aprendiz deveria aprender e memorizar as regras e os exemplos, com o propósito de dominar a morfologia e a sintaxe (ibid.). Os alunos recebiam e elaboravam listas exaustivas de vocabulário. As atividades propostas tratavam de exercícios de aplicação das regras de gramática, ditados, tradução e versão. A relação professor/aluno era vertical, ou seja, ele representava a autoridade no grupo/classe, pois detinha o saber. Pouca iniciativa era atribuída ao aluno; a interação professor/aluno era praticamente inexistente. O controle da aprendizagem era, geralmente, rígido e não era permitido errar. (...) 
Até aproximadamente a década de 40, o principal objetivo da aprendizagem da língua estrangeira era o ensino do vocabulário. A ênfase era dada à palavra escrita, enquanto que as habilidades de audição e de fala eram praticamente ignoradas (NORRIS apud BOHN e VANDRESEN, 1988)." (grifos nossos)
 
[MARTINS, 2016: 277-8], tomando uma perspectiva muito particular do ensino do Latim na França do século XVIII, esclarece: 
"Na educação do século XVIII, a história e a cultura antiga exercem o papel de distinção social para a identidade da elite. Assim, os modelos antigos eram elevados pelos padres católicos à função de representação de valores e de prática de pensamento, por meio do aprendizado das línguas clássicas e da retórica. Com efeito, a educação diferenciava não só as elites dos pobres, mas católicos de protestantes, produzindo um ideal de educação baseado na virtude antiga. Além dos vários elementos históricos, essa educação significava, sobretudo duas (coisas), uma oposição ao protestantismo e uma forma de superioridade do humanismo frente ao cientificismo. Os ecos destes valores educacionais são observados, tanto nos educadores, quanto nos filósofos iluministas, assim, criando, uma cultura baseada no encontro com o clássico. (...) 
No entanto, como afirma [GRELL, 1995, 12], das seis horas diárias de curso, apenas uma era dedicada ao grego, todas as outras eram dedicadas ao latim. Isso parece ser um indício da supremacia do humanismo representado pelo latim sobre a ciência, do qual a língua grega era apenas representante. Sobretudo, o objetivo era claro: fazer falar, escrever, compor e pensar em latim. Também, associava-se a (língua latina) ao fator da tradução, pensar o latim junto ao francês, fenômeno que ocorria pelo menos até 1785, quando a língua francesa substitui o latim como língua de instrução (GRELL, 1995, p. 12). Além de seu caráter tradicional, a língua latina derivada do ensino de Filosofia, de História e de Retórica e da introdução ao grego antigo permitira reconsiderar a própria língua francesa e conceder um novo reconhecimento estilístico. Isso se deu porque os códigos de gramática que regem as sintaxes e os léxicos do latim e do grego são semelhantes, por isso a sua apropriação tornava mais compreensível a própria língua francesa. Segue-se que o estudo das línguas antigas, embora enfrentando um certo declínio no século XVIII, promovera as práticas escritas em francês. (...) 
Assim, o educador do século XVIII estabeleceu uma aproximação entre o cultivo da virtude e do conhecimento doado pelas antigas civilizações. Para Rollin, o antigo tem elementos exemplares para trazer do passado um outro modo de viver o presente. Defendeu esta posição na conclusão do discurso preliminar em “De la manière d'enseigner et d'étudier les belles-lettres”, ou simplesmente, “Traité des études”. Para ele, o aluno encontraria nos textos antigos todas as virtudes morais (ROLLIN, 1810, p. 48), porque 
[...] o propósito dos mestres na longa carreira dos estudos é acostumar seus discípulos ao trabalho sério [...]. Eles treinam a mente e o coração, para inspirá-los com os princípios de honra e probidade, e tomar os bons hábitos (ROLLIN, 1736, p. 349)." (...)

 

II. TEXTOS DE BOSSUET (1627-1704) E CHARLES ROLLIN (1661-1741), ADAPTADOS E VERTIDOS PARA O LATIM POR ANSELME MOUCHARD (1855-1928) E TRADUZIDOS PELO AUTOR
Capa do livro por A. Mouchard utilizado no presente trabalho (1907)

 


 

 

 

 

 

 

 

        

 

Contracapa do mesmo livro


1) Ad Christum infantem 

Felices qui te, infans amabilis. e cunabulis brachia explicantem viderunt manibusque porrectis sanctæ matri blandientem venerandoque illi seni qui sibi te adoptaverat, aut potius cui te ipse dederas filium, et, illo fulciente, ingredi incipientem! Felices qui te linguam solventem atque Dei patris laudes incerta voce dicentem audierunt! Te ut deum, infans carissime, veneror ætate in dies proficientem, sive nutricem vocabus clamore puerili, sive ejus in gremio quiescebas. Te silentem colo; sed jam tempus te loqui incipere. Omnia in te gratia redundabant; si solummodo cibum poscis, te ea necessitate constrictum veneror quam tibi ipse fecisti, nostri causa. Quæ in te est divina gratia, eam ex omnibus quæ agis percipere volo. Quid multa? Te oro ut ingenuitate atque innocentia infantem me efficias.
Obs.: texto XII extraído de "Thèmes Latins" por Anselme Mouchard, 1907, p.  23 e 25.

Trad.: A Jesus Cristo criança 

Criança adorável! Bem-aventurados aqueles que te viram do berço abrir os braços, estender as mãozinhas, acariciar a tua santa Mãe e o santo velhinho que te adotou, ou melhor, a quem te entregaste como filho; dá teus primeiros passos com ele; solta sua língua e gagueja os louvores de Deus teu Pai! Eu te adoro, querida criança, em todo o progresso de tua idade, seja quando por teus gritos infantis chamavas aquela que te alimentava, ou quando descansavas em seus braços. Eu amo o teu silêncio; mas começa, é hora de fazer tua voz ser ouvida. Tudo em ti estava cheio de graça; e se tivesses pedido apenas tua comida, adoro esta necessidade em que tu te colocas por nós. A graça de Deus está dentro de ti, e quero recolhê-la de todas as tuas ações. O que mais posso dizer? Peço-te que faças de mim criança na inocência e na simplicidade. 
Bossuet. Elevações sobre os mistérios

 

2) De Græcia et Asia 

Asiaticas gentes jam inde priscis ab ætatibus oderunt Græci illudque odium eis quasi natura insitum erat. Cum aliis de causis, tum propterea Homeri carmina placebant quod Asia victa et superata a Græcia canebatur. Ab Asia stabat Venus, scilicet voluptas et mollitia; a Græcia Juno, scilicet gravitas atque conjugii fides, Mercurius cum eloquentia, Jupiter cum prudentia civili. Ab Asia Mars, violentus et immitis, scilicet bellum ferociter gestum; a Græcia Pallas, scilicet scientia militaris et ratione ducta virtus. Quo quidem ex tempore semper Græci arbitrati erant se intelligentiam ac veram fortitudinem esse sortitos. Hoc igitur minime ferre poterant ut Asiatici homines sibi jugum imponere vellent; quod si subissent, credidissent se voluptati virtutem subigere, corpori animum, et veram fortitudinem insanis illis viribus quae multitudine tantum constabant. 
Obs.: texto XVIII extraído de "Thèmes Latins" por Anselme Mouchard, 1907, p. 35.
 
Trad.: Sobre a Grécia e a Ásia 
 
Os Gregos odiavam os Asiáticos desde os primeiros tempos e aquele ódio era como inato para eles. Então, por isso, uma das coisas que agradou na poesia de Homero é que ele cantou as vitórias e vantagens da Grécia sobre a Ásia. Do lado da Ásia estava Vênus, isto é, prazer e indolência; do lado da Grécia estava Juno, isto é, gravidade, com amor conjugal, Mercúrio com eloquência, Júpiter com sabedoria política. Do lado da Ásia estava Marte violento e cruel, isto é, a guerra travada com fúria; do lado da Grécia estava Pallas, ou seja, a arte militar e a coragem conduzida pelo espírito. A Grécia, desde aquela época, sempre acreditou que inteligência e verdadeira coragem eram seu atributo natural. Ela não podia permitir que a Ásia pensasse em subjugá-la e, caso tivesse se submetido a esse jugo, teria feito crer que sujeitava a virtude à volúpia, a mente ao corpo e a verdadeira coragem àquelas forças insanas que consistiam apenas de uma multidão. 
Bossuet. Discurso sobre a história universal, III, 5. 

 

3) De vi disciplinæ

Olim Lycurgus duo catulos arreptos admodum diversa disciplina educandos curavit, ita ut alter edax atque fur efficeretur, alter feræ vestigia sequendi venandique peritus. Lacedæmoniis quadam die congregatis : «Nihil», inquit, «æque ac præcepta quibus imbuuntur homines ad virtutem pariendam conferre manifesto argumento confestim confirmaturus sum.» Tum duo catulos adduci jussit atque immitti, posita coram scutella intrita plena atque lepore vivo: hic leporem invasit, scutellam ille. Cum autem Lacedæmonii nondum intellegerent quo rem deducere Lycurgus vellet: «Hi canes», inquit, «communi genere orti sunt; sed quia diversa disciplina sunt educati, alter edax, venator alter evasit.» 
Obs.: texto XXXVII extraído de "Thèmes Latins" por Anselme Mouchard, 1907, p. 79.
 
Trad.: Da eficácia da educação 
 
Um dia Licurgo pegou dois cães jovens e os criou de maneira bem diferente. Ele fez um, guloso e ladrão, o outro, hábil em seguir um rastro e em caçar. Então, um dia, vendo os Lacedemônios reunidos: "Nada contribui tanto para gerar a virtude", disse-lhes, "do que os ensinamentos que recebemos: em breve lhes darei uma prova manifesta disso". Então ele trouxe os dois cães e os soltou, depois de colocar uma tigela de sopa e uma lebre viva na frente deles. Um correu para a lebre, o outro se jogou na tigela. Os Lacedemônios ainda não entendiam aonde Licurgo queria chegar: “Esses dois cães”, disse-lhes, “têm uma origem comum; mas, como receberam uma educação diferente, um tornou-se ganancioso, o outro caçador.”
Charles Rollin. História Antiga
 
 
III. AGRADECIMENTO
 
Agradeço à minha amada Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste artigo produzido por mim.

 
IV. REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS


CESTARO, Selma Alas Martins. O Ensino de Língua Estrangeira: História e Metodologia. Link: http://www.hottopos.com/videtur6/selma.htm  👈

GRELL, Chantal. LE DIX-HUITIÈME SIÈCLE ET L'ANTIQUITÉ EN FRANCE 1680-1789. V. I. Oxford: Voltaire Foundation, 1995. 

MARTINS, Adilton Luís. Educação e Antiguidade no século XVIII francês, Dourados-MS: Fronteiras: Revista de História, vol. 18, núm. 31, jan/jun, 2016, pp. 276-295. Trecho possivelmente proveniente de sua tese de doutorado em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com estágio pós- doutoral em História pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). 
 
MOUCHARD, Anselme Marie Eugène. THÈMES LATINS: Textes et Traductions, para 3ª série (5ª e 6ª classes), Paris: Librairie Vve Ch. Poussielgue, 1907, 159 p.