domingo, 30 de agosto de 2015

Filósofo grego Stelios Ramfos: "A QUESTÃO CULTURAL ESTÁ NA RAIZ DA CRISE GREGA"


O filósofo grego Stelios Ramfos é entrevistado pelo jornal La Croix. Texto coligido por Marie Verdier.

Tradução por Francisco José dos Santos Braga





I.  INTRODUÇÃO


Para Stelios Ramfos, os Gregos são pré-modernos que privilegiam a família em detrimento do bem comum. Fortemente marcados pela ortodoxia, não se relacionam com o tempo da mesma forma que os outros Europeus. Prevê, para daí a três dias, eleições legislativas em que prevalecerá a irreflexão, resultado da fúria diante dos problemas sociais enfrentados.

Lembre-se de que a situação descrita aqui é de uma Grécia por ocasião das eleições legislativas de 17 de junho de 2012.



II.  TEXTO COLIGIDO POR MARIE VERDIER

 


A Grécia antes das eleições legislativas de 2012

La Croix: Qual é o estado de espírito dos Gregos?
Stelios Ramfos: Eles estão enfurecidos. Sua psicologia não lhes permite pensar serenamente nos problemas. Deixam-se levar ao niilismo e são capazes de votar sem refletir.

La Croix: Como isso se explica?
Stelios Ramfos: A Grécia nunca teve Renascença. Não conheceu tampouco o Esclarecimento ¹. Somos Europeus em suspensão desde vários séculos. A dominação otomana prolongou a Idade Média. É preciso lembrar-se de que os Bizantinos escolheram os Otomanos por ódio dos Latinos. Somos arcaicos, pré-modernos, no sentido antropológico do termo, que não conhecem o equilíbrio da razão e dos sentimentos. Pendemos para o lado do sentimento. A democracia tem necessidade de razão, de síntese, de compromisso. Ora, os Gregos são incapazes de ver o interesse comum. A democracia grega é frágil. Aliás, nós a temos vivido por alternância.

La Croix: Como você analisa a situação atual?
Stelios Ramfos: A questão cultural está na raiz da crise. Na Grécia, "mexem-se os pauzinhos" em favor da família, da família contra o Estado. Nenhum contrato social foi estabelecido. Portanto, não há possibilidade de estruturar uma vida política em torno de um Estado respeitável. Só contam os contatos pessoais. O clientelismo é a relação natural. Uma consequência direta dele são nossos problemas orçamentários. O dinheiro fácil serviu para melhorar a sorte dos parentes sem se lixar para o bem comum. Somos obsediados pela saúde da alma, não pelo mundo aqui em baixo. O euro não mudou nada.


La Croix: Como resolver essa questão?
Stelios Ramfos: A Europa é uma realidade polimorfa. Há uma civilização europeia, mas também culturas diferentes. É preciso criar uma Europa que contenha essas diferenças e não conduzir uma política de exclusão. Negar as tradições é algo suicida. A lição do "Esclarecimento" é a lição kantiana: o abandono da verdade absoluta em benefício do compromisso erigido como verdade. As críticas formuladas contra a Grécia são provavelmente justas, mas os Gregos não se reconhecem nessas verdades estatísticas. A política econômica ditada pelos Alemães não é a via real (do rei). Claro, a gente não pode se dispensar de toda disciplina. Mas como impor racionalidade sem compreender a irracionalidade? Isso não é uma questão de economistas. É uma questão muito profunda. É preciso dizer à troika que se cerque de antropólogos, de filósofos e comece a reformar a educação na Grécia. Somos tidos por loucos, mas é uma loucura cultural, não uma moléstia!


La CroixQue papel desempenha a ortodoxia? 
Stelios Ramfos: A ortodoxia, o cristianismo do Oriente, forjou profundamente as mentalidades, como em Chipre, nos Bálcãs e na Rússia. Não compreender a Grécia significa não compreender o continente europeu de Chipre a Vladivostok. Para compreender a Grécia, é preciso ler Dostoïevski! Independente de ser crente ou não, o dogmatismo religioso está presente. Nós nunca reconhecemos nossas faltas  a crítica e a autocrítica não existem  e temos a memória muito curta por causa do peso dos sentimentos. Amamos a memória da repetição, da rememoração. Há uma convergência com o dogmatismo comunista. Não é por acaso que temos ainda um partido comunista estalinista.

Por terem os Gregos uma fraca consciência de si mesmos, precisam de um pai, enquanto o Europeu é precisamente o sujeito confiante em si mesmo. A modernidade é fluida: ela nos escapa. É preciso explicar isso à Sra. Merkel! Se a Europa não compreender a Grécia, fracassará na integração dos Bálcãs. 

Nós, Gregos, não temos a mesma relação com o tempo. Somos arcaicos porque o presente e o passado contam mais que o futuro. Amamos o tempo que retorna, não o que progride. Em substituição ao futuro, conduzimos um combate entre o bem e o mal. Enfrentamos o mal  os Estados Unidos da América, a Alemanha  para não enfrentarmos o futuro. O futuro se esquiva, não existe. É porque as reformas da Europa são incompreensíveis. Só fazem sentido se a gente se projeta no futuro. 

La Croix: Você fala duma "tentação Syriza", expressão tomada do nome de partido de extrema esquerda decidido a renegociar os planos de austeridade com a Europa, e que poderia ganhar as eleições... 
Stelios Ramfos: É o que eu chamo "o risco Maghreb", a tentação de se instalar num pré-modernismo para a eternidade, num presente imóvel, o presente dos ascetas, dos sufis, da oração, e não o da ação. Ora, a oração hoje deve ser criativa e não passiva. Deve conjugar-se com a ação. Isso supõe a emergência de um indivíduo maduro. Há fortes semelhanças de comportamentos entre a Grécia e o Maghreb ². Isso explica as muito boas relações que nós mantemos com os Árabes. E esta é a razão por que somos igualmente muito úteis para a Europa. 


Fonte: LA CROIX: "La question cultural est à la racine de la crise grecque", edição de 14 de junho de 2012




III.  NOTAS EXPLICATIVAS DO TRADUTOR



¹  Na entrevista, Ramfos se refere a "Lumières" (Luzes), que é uma tradução francesa de "Aufklärung" (substantivo feminino), em alemão, que traduzi como "Esclarecimento", em português. 
"Resposta à pergunta: O que é Esclarecimento?" é uma obra do filósofo alemão Emmanuel Kant, datada de 1784. Ele escreveu esse texto explicando quão benéfico é para o Homem pensar por si mesmo, sem preconceitos. Assim inicia seu ensaio: "O Esclarecimento permite ao homem sair da menoridade pela qual ele próprio é o responsável. A menoridade é a incapacidade de empregar seu entendimento sem a direção de outro indivíduo." Kant argumenta, a seguir, que a menoridade lhe é imputável não pela falta de entendimento, mas pela falta de coragem de recorrer à sua própria razão, intelecto e entendimento sem a tutela de outrem. Exclama a máxima do Esclarecimento: "Sapere aude! Tenha a coragem de se servir de seu próprio entendimento!" para se tornar um Aufklärer (esclarecido). 
Assim o Esclarecimento retoma a máxima "Sapere aude!" (Ouse saber!), tomada de empréstimo ao poeta latino Horácio. Essa máxima é a expressão duma vontade da razão que caracteriza toda filosofia como tal. 
Kant ataca o dogmatismo metafísico, definindo-o como a ilusão duma razão que presume suas próprias forças, ilusão racionalista que é filosófica, enquanto que a extravagância (Schwärmerei) e o misticismo são uma renúncia à razão que coloca em questão a liberdade: com efeito, se não escutássemos nossa razão, em que acreditaríamos? E, sob pretexto de instituição ou de gênio, não nos arriscaríamos a nos sujeitar à lei de outrem, quando obedecer à razão é obedecer à lei que a gente se prescreveu? 
Cf. in https://fr.wikipedia.org/wiki/Qu'est-ce_que_les_Lumi%C3%A8res_%3F

²  A tradicional definição do Maghreb era tida como a região incluindo as Montanhas do Atlas e as planícies costeiras de Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia, tendo sido mais tarde desbancada, especialmente seguindo a formação da União do Maghreb Árabe de 1989, pela inclusão da Mauritânia e do território disputado do Saara Ocidental (na maioria controlado por Marrocos).

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Filósofo grego Stelios Ramfos: "A CRISE GREGA NÃO É ECONÔMICA, MAS CULTURAL"



O filósofo grego Stelios Ramfos é entrevistado pelo jornal Le Temps, de Genebra. Texto coligido por Richard Werly.

Tradução por Francisco José dos Santos Braga



I.  INTRODUÇÃO



Stelios Ramfos julga com severidade seu país, enquanto as reformas europeias patinam. Às vésperas das novas eleições legislativas de 17 de junho (de 2012), ele decodifica as mentalidades helênicas resistentes ao choque sócio-econômico. Aqui se apresenta a ocasião de denunciar a cegueira da Europa, revelada, segundo ele, pela crise. 

Lembre-se de que a situação descrita aqui é de uma Grécia por ocasião das eleições legislativas de 17 de junho de 2012.


II.  TEXTO COLIGIDO POR RICHARD WERLY


Um Sócrates moderno? No seu café preferido de Atenas, não longe dum parlamento grego paralisado diante das eleições de 17 de junho, o filósofo Stelios Ramfos, com idade de 73 anos, se diverte com a audaciosa comparação com o pensador da Antiguidade, que um novo processo fictício vem justamente inocentar ¹. E por tudo isso. Os debates que ele suscita na Grécia, e a singularidade de suas críticas sobre a Europa, na tempestade político-financeira atual, sacodem as verdades helênicas estabelecidas e questiona inúmeros "valores tradicionais". Tudo como há dois milênios...

Le Temps: Uma nova Grécia está para emergir?
Stelios Ramfos: De qual Grécia se fala? A Grécia das relações comunitárias, ou a Grécia real? Minha resposta é que a crise, por mais dolorosa que seja, não mudou ainda as mentalidades. Os que acreditam nisso enganam-se. Uma das razões da implantação das reformas é que a população não está convencida de sua legitimidade. Vocês me dirão que as estatísticas são incontestáveis, que nossa falência está consumada... Talvez. Mas os Gregos continuam sentimentais. Para eles, a percepção perdura mais importante que os fatos e os números.

Le Temps: Falar de mentalidade grega não é simplista? 
Stelios Ramfos: Percorram esse país, falem com as pessoas, ouçam-nas... Os Gregos não são racionais de forma nenhuma. Eles não raciocinam como os Europeus do Oeste. Nós não conhecemos a Renascença. Nossa história não forjou as consciências individuais. Nossa estrutura mental ficou de uma certa maneira atrofiada, focalizada nos problemas do momento. A Grécia se reencontrou, após sua independência, impelida à fileira dos Estados "modernos", sem ter forjado real contrato social. Diz-se muitas vezes, mas é verdadeiro: o núcleo central de nossa sociedade continua a família em sentido amplo. Tudo passa pelo prisma das relações pessoais. Não tem sentido construir algo com o outro, com o cidadão distante. O clientelismo do Estado grego e dos partidos tem um fundamento muito cultural. Os Europeus fizeram a aposta de que o euro nos transformaria. Ora, é o contrário que se produziu. O crédito barato permitia satisfazer as necessidades da família, dos clãs... As mentalidades se serviram das finanças.

Le Temps: As mentalidades podem evoluir, apesar disso!
Stelios Ramfos: É preciso compreender com qual país se mantém negócio. Nossa modernização permanece algemada pelo nosso fundo cultural medieval que rechaça a novidade e a organização, mesmo quando supõem um futuro melhor. A referência ao tempo é essencial. Os Gregos não vivem na mesma temporalidade que os Alemães que, contrariamente a nós, separam bem distintamente o passado, o presente e o futuro. Aqui, só conta o presente! Ora, sem perspectiva, tudo se torna preto e branco... Tudo se polariza. As reformas europeias só são aceitáveis se a gente se projeta no futuro. Os Gregos pensam, sem o saberem ou sem o confessarem, à maneira do século XVIII. Pensam sempre em termos de luta das classes. Em termos de bem e de mal. Uma união nacional a serviço de um projeto de futuro é consequentemente muito difícil. Particularmente porque a confiança não existe. O Grego não tem confiança nem em seu vizinho, nem em seu Estado. Crê em sua família, seu partido, aquele com o qual tem, de nascença ou por sua vida social, um vínculo de parentesco. É a base da catástrofe.

Le Temps: Fazer o inventário desses comportamentos é fácil. O desafio é de compreendê-los, de levá-los em conta no processo de reforma. Como?
Stelios Ramfos: A União Europeia confunde geografia e cultura. A expansão não significa que nos tornamos mais parecidos. A problemática grega, intimamente ligada à religião ortodoxa, é a de uma boa parte do Leste europeu, e sobretudo a da imensa Rússia. Os traços de caráter que evoco são encontrados de Chipre a Vladivostok! Nossa cristandade é a da Idade Média. Fazemos parte da civilização europeia, sem partilhar os valores culturais da Europa moderna. Sei que isso vai chocar, mas os valores europeus ainda não tiveram penetração. Trinta anos de pertença à União Europeia é muito pouco. Não houve neste País nenhuma reforma da educação, somente mudanças superficiais.  Tornaram o Estado grego compatível com a União Europeia. Não foi transformado.


Os Europeus deduziram que o berço deste País era a Atenas de Sócrates,
enquanto nós somos igualmente, até mais, os filhos dos pais da Igreja ortodoxa.
Le Temps: A transformação de uma sociedade não é o papel de suas elites?
Stelios Ramfos: O que fizeram as elites gregas de trinta anos a esta parte? Ocuparam-se de sua integração na Europa. Penetraram nas redes de poder, as universidades... Mas elas não procuraram modernizar a sociedade grega. Pior: nossas elites gregas têm orgulho de seu desinteresse pelo Estado. Os armadores, para tomar essa categoria modelo de empreendedores globalizados, são uma caricatura. Fazem seus negócios, mantêm-se o mais possível distantes do Estado grego, que não os tributa, e eles redistribuem, via suas fundações privadas. Como vocês querem que os Gregos não raciocinem em termos marxistas?

Le Temps: Isso não é culpa da Europa...
Stelios Ramfos: É sim, porque os Europeus construíram seus planos de reformas sobre certezas estatísticas. Raciocinaram em termos de verdade absoluta desta forma: a austeridade orçamentária é a condição da viabilidade do Estado. Então se corta nas despesas públicas e são diminuídos os salários de forma horizontal, sem equidade. Mas o que fazer se a população não se reconhece nessas verdades absolutas? É o que se passa na Grécia. Os Alemães teriam feito melhor relendo Kant e inspirando-se nas suas "ideias reguladoras" ². Releia Kant, Sra. Merkel! É preciso achar uma síntese entre o grande plano europeu, as exigências econômicas e as tradições. Tentemos compreender porque o Sul europeu é afetado por essa crise. O peso do catolicismo muito tradicional — aquele que eu chamo de paleocatolicismo — desta periferia meridional desempenha, como a ortodoxia na Grécia, um papel considerável. A "grecidade" não é folclore. Isso não tem nada de fútil. Vocês falam aos Gregos sobre a saúde de seu Estado, enquanto que eles estão preocupados com a saúde da alma. Como fazer vocês entenderem?

Le Temps: Não se deve, às vezes, ignorar as tradições?
Stelios Ramfos: Elas constituem a base da Europa. Ignorá-las é impossível, algo suicida. Não se pode dissociar a rejeição das reformas na Grécia de nossa propensão ao niilismo. É o famoso mote: "nós não temos mais nada a perder", que vocês ouvem por toda a parte. A teologia ortodoxa raciocina em termos de sentimentalismo. Nosso sentimentalismo é apocalíptico. Favorece as grandes catástrofes, o impasse. A troika [missão de especialistas europeus encarregados de supervisionar as reformas] teria feito melhor se se cercasse de antropólogos ou de filósofos, em vez de se fechar nos ministérios. A Europa não é homogênea. Questões tão essenciais quanto o intrínseco valor do trabalho não são partilhadas nos mesmos termos. Os Gregos — isso é também o peso da ortodoxia — privilegiam a tradição ascética. Têm uma relação diferente com a eternidade. Nós não conhecemos Tomás de Aquino ³ . O trabalho é, de certa forma, um pecado. A razão... nós a ignoramos.

Le Temps: E a democracia? A União Europeia negocia com governos eleitos. Cabe a estes mudarem seu próprio país...
Stelios Ramfos: Não se pode parar nas eleições e crer que elas vão resolver tudo. A riqueza de Kant e de suas ideias reguladoras é justamente a busca da síntese. Na Grécia, nossas necessidades financeiras excedem seguramente a capacidade de nossos políticos de assumir suas responsabilidades. É preciso consequentemente forjar soluções adaptadas. Eis o problema estrutural! Esta crise só é um negócio de economistas. Por que os funcionários de Bruxelas nunca pedem conselho aos filósofos, aos antropólogos? Nós lhes teríamos explicado a razão por que o processo das reformas fracassará, enquanto os Gregos pensarão que eles podem reservar exatamente uma parte disso para si: a que lhes convém...

Le Temps: Os Europeus são ingênuos?
Stelios Ramfos: São. Sou sempre impactado pelas referências à Grécia antiga. Ora quem são os grandes especialistas em Antiguidade e em arqueologia? Europeus, não Gregos. Entre aqueles, muitos grandes pesquisadores alemães. Ora, o que eles deduziram daí? Que o berço deste País era a Atenas de Sócrates, enquanto nós somos igualmente, até mais, os filhos dos pais da Igreja ortodoxa. Eu vou ser provocador, mas a herança de Aristóteles ou de Platão é um assunto alemão, não grego. Os Europeus modelaram nossa herança à sua imagem.

Le Temps: O que fazer, nessas condições? Abandonar a Grécia?
Stelios Ramfos: Não, ao contrário. A União Europeia deve continuar clemente e repetir aos Gregos uma única mensagem antes e depois do 17 de junho: tudo depende de vocês. Não é preciso fechar a porta, pois a União Europeia tem necessidade de seu flanco sul para ser a Europa. A sociedade europeia não pode existir senão se ela assume e administra suas contradições. Eu o digo de novo, alto e bom som: esta crise não é econômica. Ela é cultural. É preciso falar de educação. É preciso colocar as questões essenciais e responder a elas. É preciso ir além do niilismo com o qual flerta uma parte cada vez maior da população grega. Esta crise deve servir de psicoterapia. Na Grécia, a troika deve mudar interlocutores, encontrar os que escrevem, que fazem vibrar a alma grega. É necessário que saiba provocar nosso philótimo , nosso renovado fervor de honra. É preciso estimular nosso amor pela União Europeia. Paremos de desenrolar um tapete vermelho aos políticos medíocres. Eles só representam uma parte da solução. Pensam em termos de partidos. É preciso recriar formas, reinventar uma dinâmica. O que mata a Europa é a indiferença dos funcionários. A Grécia das tradições populares talvez nutra os clichês, mas é a Grécia real.



III.  NOTAS  EXPLICATIVAS



¹  Um processo fictício inocentou em maio de 2012 o filósofo que os juízes atenienses, em 399 a.C., tinham obrigado a se envenenar com cicuta.

²  Kant (1724-1804) defende como "ideia reguladora" um "conceito deduzido de noções e vai além da possibilidade da experiência". E um uso regulador da razão.

³  Tomás de Aquino (1224-1274), dominicano, sustenta que a fé cristã não é nem incompatível, nem contraditória com o exercício da razão.

De Stelios Ramfos, é preciso ler: "Like a Pelican in the Wilderness" (Holy Cross Orthodox Press, em inglês)

Fonte: LE TEMPS: "La crise grecque n’est pas économique, elle est culturelle", edição de 14 de junho de 2012


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IV.  NOTA EXPLICATIVA DO TRADUTOR



 No verbete philótimo (φιλότιμο, em grego), a Wikipedia explica que é um substantivo grego que traduz o "amor à honra". Contudo, philótimo é quase impossível de ser traduzido suficientemente, visto que descreve uma complexa gama de virtudes. Philótimo é considerado a mais elevada de todas as virtudes gregas que determina e regula como alguém deve comportar-se na sua família e nos grupos sociais. Refere-se especialmente a respeito e a fazer a coisa certa. (...) Philótimo para um Grego é essencialmente um estilo de vida.
Considera-se que as crianças possuem philótimo quando mostram amor incondicional e respeito para com seus pais, avós e amigos. Ou quando mostram  gratidão por um pequeno presente ou por um pequeno gesto de gentileza que alguém possa ter-lhes dispensado. (...)
Philótimo é o sentimento de não ser capaz de fazer o suficiente por sua família, pela sociedade e por sua comunidade; manifesta-se através de atos de generosidade e sacrifício sem esperar nada em troca. Philótimo é ter mais satisfação de dar do que de receber.
Cf. in https://en.wikipedia.org/wiki/Philotimo


The Washington Oxi Day Foundation, em sua autodeclarada missão de educar os responsáveis por decisões políticas nos Estados Unidos e o público em geral sobre o papel desempenhado pela Grécia  para o desfecho da II Guerra Mundial, chama o conceito de philótimo como “o segredo grego”. Cf. in https://www.youtube.com/watch?v=aXPJNDVfBgU


quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O LEGADO DO PIANISTA BRASILEIRO ROBERTO SZIDON (1941-2011)


Por Francisco José dos Santos Braga





I.  INTRODUÇÃO


Conheci o legendário Roberto Szidon em junho de 1982, quando ele ministrou uma master-class no auditório do Departamento de Música da UnB, a convite de seu amigo Cláudio Santoro, em cuja residência aquele se hospedou em sua passagem pelo Brasil. Embora eu não fosse aluno da UnB na ocasião, inscrevi-me e fui aceito naquela atividade musical apoiada pelo Departamento de Música no seu anfiteatro.

Cada estudante apresentou a peça que tinha preparado, na expectativa de que Szidon lhe mostrasse a melhor forma de executá-la. Szidon não se fazia de rogado. Ouvia toda a peça com atenção e, em seguida, demonstrava, ele próprio ao piano, como tocar certas passagens mais complicadas da peça em questão, de acordo com a sua estética musical, ao mesmo tempo que aconselhava a evitar determinados erros técnicos cometidos comumente, mostrando pleno conhecimento da vida e obra do compositor, às vezes contando determinada anedota sobre ele. Ao final, pedia ao estudante para repetir a apresentação da peça, agregando agora as informações que tinha passado. Entre nós estudantes, foi geral a aprovação do método utilizado por Szidon naquela inesquecível master-class.

Ainda me lembro bem de dois fatos estranhos ocorridos durante aquela master-class. O primeiro é que certo tipo se inscrevera também para frequentar aquelas aulas, mas mantinha-se alheio ao que se passava ao seu redor, segurando um jornal aberto diante dos olhos,  todo o tempo, fingindo ar desafiador e desinteressado, sentado ao fundo na fileira superior do anfiteatro. Sem entender aquela atitude grosseira daquela pessoa, perguntei a Szidon o que ela fazia ali e se ele não se incomodava. Sem pestanejar, respondeu-me: "Seus outros colegas me disseram que é um professor do Departamento de Música. Se quiser me tesar com essa atitude, não vai consegui-lo. Ele é muito pequeno para me incomodar. É um direito dele ficar lendo durante o nosso trabalho."

Outra observação que fiz foi que Szidon não era afeito a certos clichês comumente vinculados a pianistas virtuoses e estava pronto a desmitificá-los, um por um. Inicialmente, não era afetado como costumam ser muitos pianistas, que, no dia de suas apresentações, não fazem nenhum esforço com as mãos, temendo os possíveis efeitos sobre a execução. Ele, ao contrário, iniciava suas aulas empurrando um gigantesco piano de cauda, buscando a melhor posição no palco e dizia que isso absolutamente não o afetava, executando, a seguir, com a maior naturalidade, obras de alta virtuosidade, como os Estudos Transcendentais de Lizst ou o Carnaval op. 9 de Schumann.

Ali, à nossa frente, se apresentava o mais audacioso senão o mais convincente pianista daquela geração que não reduzia o ensino do piano a uma enfiada de enfadonhos estudos técnicos diários e se orgulhava tenazmente de provar o contrário com sua técnica prodigiosa, sem recorrer àqueles artifícios tão comuns aos demais pianistas. Maravilhado com a novidade que acabara de ouvir, telefonei a minha amiga gaúcha Estelita, que residira na mesma rua de Szidon (Rua da Praia) em Porto Alegre, para contar-lhe. Ela também ouviu meu relato entre descrente e surpresa com o que acabava de ouvir, pois, durante toda a sua infância, ela passava de manhã à frente da casa de Szidon e ele tenazmente enfrentava os exercícios técnicos e, mais tarde, quando de seu retorno pelo mesmo caminho, Szidon continuava com os mesmos exercícios da manhã. E, ainda mais, isso acontecia todos os dias. Ponderou que Szidon era "ÚNICO" e que provavelmente ele já tivesse superado a fase de estudos maçantes e alcançado um estágio onde esses estudos fossem desnecessários para quem já dominava perfeitamente todas as dificuldades técnicas que assombravam os pianistas comuns.

Lembrei-me do provérbio latino: "Per angusta ad augusta". Essas quatro palavras tinham inspirado, ao longo da história, especialmente estudantes, atletas e soldados. Uma tradução plausível seria "através das dificuldades chega-se a grandes coisas". Outras traduções alternativas são: "pelas provas se chega às honras", ou ainda, "pelo treino atinge-se o triunfo". Há ainda outro "motto" que quer dizer mais ou menos a mesma coisa: "Ad astra per asperam", ou seja, "às estrelas se chega via adversidade".

Lembrei-me também simultaneamente de minhas aulas de Latim no Curso Clássico: "Nulla dies sine linea", ou "Nenhum dia sem uma linha (ou traço)". Segundo Plínio, o Velho, tal lema deve ser atribuído ao pintor grego Apelles, que o considerava o maior pintor da Antiguidade. De acordo com o grande naturalista, Apelles não passava um dia sem exercitar-se na pintura. Muito do que dele sabemos chegou até nós através de Plínio, in Naturalis Historia, XXXV-XXXVI. Apelles de Kos (belíssima ilha do sul da Grécia, próxima à Turquia) foi contemporâneo de Alexandre, o Grande. Aos poucos, o lema de Apelles passou a ser mote para artistas em geral. ¹


II.  VIDA E CARREIRA


Uma matéria curiosa intitulada "Szidon interpreta desde os 4 anos" ² pode ser encontrada no jornal O Estado de S. Paulo, datado de 1º de junho de 1968, anunciando então um recital para a Sociedade de Cultura Artística no dia 4, às 21 horas, no Teatro Municipal, constando do programa de Szidon as seguintes peças: Chopin: Balada op. 47, Barcarola op. 60, Scherzo op. 54 e Balada op. 23; Manuel de Falla: Fantasia; Villa-Lobos: New York Skyline; e Scriabin: Sonata op. 4 nº 30.

Em entrevista três dias antes do concerto, Szidon emitiu algumas opiniões: "Acho que toco bem porque sempre soube evitar os bons professores", diz sorrindo o pianista, evitando a pergunta indiscreta sobre seus professores. Com 4 anos e meio, Szidon sentou-se ao piano de seu irmão, em Porto Alegre, e tocou uma valsa de Chopin cujo opus não se lembrava, com todas as notas certas e no andamento justo. Alegou não saber como tocou. "Só lembro perfeitamente que me sentei ao piano e toquei. Não conhecia notas musicais, sinais, nada. Mas toquei lendo a partitura." Tocou de uma maneira que a música só podia ser para ele uma coisa intuitiva. Szidon confidenciou que é claro que aprendeu teoria, mas a leitura de partituras foi sempre uma coisa inata, meio misteriosa. Ele olhava para uma partitura e tocava tudo certo, sem saber realmente como fazia.  "Talvez  disse ele  eu ficasse ali perto do piano enquanto meu irmão estudava e fosse aprendendo tudo, quase que inconscientemente. A verdade é que quando comecei a tocar todo mundo ficou espantado e meu irmão deixou de estudar piano." Embora Szidon tocasse muito quando criança, considerava que só começou mesmo sua carreira três anos antes, conseguindo um êxito fulminante em todos os lugares onde se tem apresentado. 

Apesar da resposta inicial de Szidon sobre sua formação pianística, com 11 anos foi aos Estados Unidos tocar para Claudio Arrau, mas ficou lá só três meses; voltando seis anos mais tarde, tomou lições com um assistente daquele e com o próprio Arrau. Atribuía o abandono das lições e a retomada de seus estudos individuais, quando eles quiseram mudar a sua técnica. Disse ainda ter tomado algumas aulas com Rubinstein em sua residência de verão, na Espanha.

Segundo Szidon, antes de ser pianista, chegou a pensar em ser médico. Cursou durante cinco anos a faculdade, mas nunca deixou a música, tocando para si mesmo ou dando alguns concertos em Porto Alegre. Depois de sua apresentação no Municipal, Szidon disse que iria gravar para a Deutsche Grammophon, de Hamburgo, em Munique, partindo para sua quarta excursão pela Europa, tocando na Alemanha, na Áustria, em Portugal e na Itália, no Festival de Spoleto. Em seguida cumpriria uma tournée de concertos marcados nos Estados Unidos e Canadá.

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Roberto Szidon nasceu em Porto Alegre, Brasil, em 21 de setembro de 1941. Deu seu primeiro concerto aos nove anos de idade em sua cidade natal. Ele então estudou composição com Karl Faust, e continuou seus estudos pianísticos nos Estados Unidos com Ilona Kabos e Claudio Arrau.

Nos anos 60, após completar 20 anos de idade, gravou seu primeiro disco com obras de Villa-Lobos e sua interpretação de peças como o Rudepoema foi considerada antológica, pelo que, em 1965, recebeu um prêmio no IV Centenário do Rio de Janeiro. Em 1967 foi para a Alemanha, onde participou de dezenas de gravações para o selo Deutsche Grammophon, a mais importante gravadora de música erudita do mundo.

Na música erudita são poucos os artistas brasileiros que alcançaram prestígio internacional. Szidon foi um deles. Tocou com mais de cinquenta orquestras renomadas, incluindo a Orchestre de la Suisse Romande, na Suíça; a Filarmônica de Londres, na Inglaterra; a Orquestra de Cleveland, nos Estados Unidos; e a Sinfônica de Viena, na Áustria. Em 1977 completou uma aclamada tournée pela África do Sul. Também foi solista na première do Concerto para Piano nº 4 de Camargo Guarnieri, em Porto Alegre, em 6 de setembro de 1972.

Em 1979, o cineasta gaúcho Antônio Jesus Pfeil dirigiu um curta-metragem sobre o pianista Roberto Szidon.

Como artista que gravava discos em profusão, Szidon ficou bem conhecido por sua gravação da integral de 10 Sonatas para Piano e a Fantasia em si menor, por Alexander Scriabin, bem como da integral das 19 Rapsódias Húngaras e da Rapsódia Espanhola, por Franz Liszt.


Gravou um premiado LP em 1965 do Rudepoema de Villa-Lobos. Outras obras de Villa-Lobos na sua discografia foram A Fiandeira, Saudades das Selvas Brasileiras, New York Skyline (a versão de 1957), Carnaval das Crianças, A lenda do Caboclo, Suíte Floral op. 97 (revisão de 1949), e as 16 Cirandas e as 12 Cirandinhas.



Também gravou as obras de vários compositores brasileiros, sendo muito aclamada sua coletânea Cem Anos de Piano Brasileiro, onde interpreta obras de Chiquinha Gonzaga, Glauco Velásquez, Ernesto Nazareth, Francisco Mignone, Luiz Eça e outros.

Além disso, gravou 4 Scherzos e 4 Impromptus, por Frederico Chopin (Deutsch Grammophon LP 536 378), a 2ª Sonata de Sergei Rachmaninoff, a 6ª Sonata de Sergei Prokofiev e o Concerto Para Piano de Gershwin em fá maior. Acompanhou o barítono Thomas Quasthoff em Dichterliebe, Liederkreis op. 39 e outros Lieder, por Robert Schumann.

Roberto Szidon faleceu em 21 de dezembro de 2011, em Düsseldorf, Alemanha, vítima de um ataque cardíaco, com a idade de 70 anos.

De agosto de 1970 até sua morte ele partilhou sua vida e obra com seu companheiro, o pianista e compositor Richard Metzler.  ³

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Possuo um álbum-brinde da CAEMI-Companhia Auxiliar de Empresas de Mineração, gravado pela Kuarup Discos na produção musical de Mario de Aratanha, cuja referência não se encontra na Internet, mas que aprecio muito e que constituiu um brinde de Natal em 1981, chamado "Brasil, Piano & Cordas", gravado na sala Cecília Meirelles no Rio de Janeiro, tendo por membros do trio os seguintes músicos: Roberto Szidon (piano), Michel Bessler (violino) e Marcio Mallard (violoncelo). Também no interior desse álbum, há informações preciosas a respeito da vida e carreira do pianista gaúcho que me permito reproduzir aqui porque não as encontrei em outra parte.

"Nascido em Porto Alegre, de pais húngaros, Roberto Szidon é hoje um dos principais pianistas brasileiros e um dos grandes de sua geração. Aluno de Natho Henn e Ilse Warncke, aperfeiçoou-se com Cláudio Arrau e Ilona Kabos em Nova Iorque, e com Arthur Rubinstein na Espanha. Já foi solista de mais de 50 orquestras, e tocou nos principais festivais e salas de concerto dos cinco continentes."
Essa gigantesca experiência já equivaleria a uma longa existência de qualquer pianista virtuose. Imagine quantas conquistas com a idade de 40 anos apenas! Essas dão uma ideia do rico repertório de que já dispunha Szidon em 1981 e é um mérito indiscutível desse grande artista.
"Gravando desde 1964, já lançou cerca de 40 LPs em mais de 20 países, para selos como Angel, Relais, Deutsche Grammophon, WEA, Kuarup, Guilde du Disque, Harmonia Mundi, Nonesuch, BASF e outros. Além do "Deutsche Schallplattenpreis" de 1977, Szidon teve uma de suas principais interpretações — a série completa das Sonatas de Bartok para violino e piano, com Jenny Abel — incluída pela revista alemã Fono Forum entre "as 33 melhores gravações do Século". 
Entre seus principais registros fonográficos estão as sonatas de Charles Ives, Prokofieff, Rachmaninoff e Scriabin (deste último a única gravação integral existente), os concertos de Gershwin e MacDowell (com a Filarmônica de Londres), as séries completas das rapsódias de Liszt e dos scherzi e impromptus de Chopin, e peças de Ravel, Brahms, Tchaikowsky e Smetana. De brasileiros, gravou oito LPs de Villa-Lobos e dois de Nazareth, outros dedicados a Marlos Nobre (obra completa para piano solo), Almeida Prado ("Cartas Celestes"), Alberto Nepomuceno e Radamés Gnattali, além de uma antologia de 100 anos de piano no Brasil."
Também aí se encontra a noção exata do que Szidon acreditava fosse a autêntica música brasileira, haja vista que a preocupação de Roberto Szidon em pesquisar nossa música de forma global resultou na seleção das obras deste disco, afirmando que
"a atitude em relação ao nacionalismo está mudando, e o que era um momento considerado como a essência da alma brasileira, hoje já não é suficiente para representar, por si só, nossa realidade em toda sua complexidade." 
E continua: 
"Hoje se tem o distanciamento necessário para se concluir que a música assim dita tipicamente brasileira já não pode ser vista como tendo brotado apenas do nosso solo. Ela é resultado de um 'melting pot' das mais variadas influências, e se um brasileiro compõe um 'capriccio' ou um 'impromptu' não perde por isto sua cidadania musical." 
Assim, "Serrana", por Henrique Oswald, datada de 1927, é a única obra para trio, ao lado de solos (10) e duos (4), que compõem o disco. Explica Szidon:
"Não se procurou aqui seguir uma ordem cronológica, nem nenhuma corrente de desenvolvimento musical, nem se tentou estabelecer representatividades. Escolhemos músicas dignas de serem descobertas ou redescobertas. O critério foi simplesmente o do bom gosto." 
Os duos, como vimos, são 4: Canto da Saudade para violino e piano, por Francisco Braga, Sogno para violoncelo e piano, por Glauco Velasquez, Scherzo para violoncelo e piano, por João Octaviano, e Tarantella para violino e piano, por Barrozo Netto. Para piano solo são as seguintes peças: Impromptu op. 3, por Araújo Vianna, A Casinha Pequenina, por João Octaviano, Capricho, por Fructuoso Vianna, Valsa em Sol Maior e Valse Élégante, por Francisco Mignone, Murucututu, por José Siqueira, Une Fleur, por Alberto Nepomuceno, Vésper, por Ernesto Nazareth, e Corrupio, por Francisco Braga. Finalmente, para violino solo, foi escolhida Batuque, por Flausino Valle.





























Acho que, nesta altura, cabe ainda a seguinte observação: na discografia de Szidon, dedicada à música brasileira, há álbuns dedicados a autores que vão de Radamés Gnattali (valsa "Vaidosa" ) a Marlos Nobre e Almeida Prado ("Cartas Celestes"), demonstrando a versatilidade desse artista que transitava com enorme naturalidade pela música dita contemporânea.


III.  MATÉRIA DE JORNAL E NA INTERNET SOBRE ROBERTO SZIDON


NOTÁVEL ESTRÉIA DE JOVEM PIANISTA

CALDEIRA FILHO

O terceiro concerto da série social da Orquestra Filarmônica de S. Paulo, dado a 18 do corrente no Teatro Municipal, foi dirigido pelo maestro Theodoro Fuchs e teve como solista o jovem pianista gaúcho Roberto Szidon.
Na interpretação do dificílimo Concerto nº 3 op. 30 em ré menor de Rachmaninoff impôs-se desde logo por exuberante virtuosidade, capaz de vencer os mais árduos problemas técnicos e de manipular a sonoridade tornando-a uma substância realmente artística e apta a refletir todos os matizes de cor e de expressão. Sua musicalidade é clarividente e, principalmente, muito inteligente. Valoriza em profundidade o lirismo de certos trechos do texto; de outros, atenua a grandiloquência, atribuindo-lhe — se não descobrindo nela — um conteúdo expressivo ao qual muitos intérpretes se mostram alheios. Digna de nota a variedade de gradações de intensidade com que enriquece a execução. E pela maturidade a que chegou tão cedo — anda pelo casa dos vinte — rivaliza com os melhores pianistas contemporâneos. Esquecendo a crítica e abandonando-se à emoção, é o ouvinte levado a considerá-lo algo realmente incomum, pois a execução é notável e surpreende enormemente pela transcendência da virtuosidade e profundeza do espírito interpretativo. A estreia de Roberto Szidon em S. Paulo constituiu uma das mais notáveis revelações que se têm presenciado.
O regente Theodoro Fuchs levou a OFSP a atuar de modo muito artístico no acompanhamento do Concerto e nos demais trechos do programa: a Abertura "Sonho de uma noite de verão" de Mendelssohn, bem valorizada no jogo das cores sonoras; a "Fantasia sobre um tema de Thomas Tallis" (séc. XVI), de Ralph Vaughan Williams (1872-1958), onde o autor conseguiu notável aproveitamento da orquestra de cordas para chegar a uma realização inegavelmente bela em si e como evocação; e o poema coreográfico "La Valse" de Ravel, cujo encantamento rítmico foi objeto de excelente versão. Esse concerto alcançou grande êxito pela excelência de todos os fatores concorrentes. (Grifo meu)


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No artigo de Aramis Millarch, intitulado "No campo de batalha", publicado em 24 de abril de 1987 no jornal Estado do Paraná, caderno Almanaque, seção Tablóide, p. 21, fomos informados que "o Goethe Institut não esqueceu do centenário de nascimento de Heitor Villa-Lobos: dia 29, no auditório da Reitoria, patrocina concerto do pianista Roberto Szidon e da violinista Jenny Abel (alemã de Husum). No programa, o "Rudepoema para Piano", obra que Villa-Lobos compôs entre 1921/26 (também conhecida como "Os Martírios dos Insetos") e a Terceira Sonata para violino e piano, de 1920.


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O eminente pianista grego, Dino Mastroyiannis, um de seus mais devotados alunos e amigos, que ocupa uma posição de prestígio entre os pianistas contemporâneos de concerto clássico, destaca a master-class que teve com o grande pianista brasileiro entre todas as que frequentou para piano e música de câmara. Em sua página biográfica na Internet, registrou que "tem estudado e frequentado inúmeras master-classes para piano e música de câmara na Áustria (International Summer Academy of the 'Mozarteum' University Salzburg), na Alemanha (Hanover Music Academy), na Suíça (Sion Music Academy) e na Grécia com o internacionalmente famoso casal búlgaro Konstantin & Julia Ganevi e com Vassily Lobanov (discípulos de Heinrich Neuhaus), e especialmente com um dos maiores pianistas do século XX, o brasileiro Roberto Szidon (discípulo de Claudio Arrau e Arthur Rubinstein)." 


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O mesmo pianista grego Dino Mastroyiannis respondeu a Bennett Melzak, no Facebook, após este último ter  feito interessantes ponderações. Segundo Melzak, Szidon tinha sido um artista popular que tinha gravado por muitos anos com a DG-Deutsche Grammophon, cujas gravações não estavam disponíveis ou apenas disponíveis como downloads. Indagava então se haveria alguma possibilidade de a DG produzir uma edição completa em CD, como foi o caso de Argerich ou Richter. Era este o seu sonho.
Ao que Mastroyiannis lhe respondeu que podia garantir-lhe que Szidon era realmente ÚNICO, quer como pianista, quer como professor, ou ainda como pessoa com profundos e raros sentimentos de humanidade. As lições que tomou com Szidon e a profunda amizade que os ligava ficariam, durante toda a sua vida, como uma estrela sobre sua cabeça... Agradeceu a Melzak, finalmente, a grande ideia de contactar a DG por carta para verificar a possibilidade de uma edição completa em CD, a partir de gravações de Szidon para aquela gravadora. Tinha a expectativa de que algum dia veriam ambos nos catálogos da DG uma "Roberto Szidon - Complete DG Edition". 


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Mastroyiannis também gravou a histórica performance do Rudepoema de Villa-Lobos na sua cidade natal, Volos, Grécia, em 16/03/1993, quando Roberto Szidon se apresentou em inesquecível recital, que foi organizado pela histórica Associação "Amigos de Artes de Volos" e sua presidente, Sra. Ersi Saratsi.

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O mesmo Dino Mastroyiannis realizou a façanha de gravar para a posteridade um momento extremamente raro em Kozani, Grécia, em agosto de 1992, representado pelo vídeo característico contendo extratos de um recital com o legendário pianista brasileiro Roberto Szidon acompanhando o famoso violinista norueguês Helge Slaatto. ¹⁰

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Há ainda um programa da rádio alemã Südwestrundfunk 2 dedicado a Roberto Szidon, por ocasião do seu 73º aniversário póstumo (gravado em 21 de setembro de 2014, às 15h 05min). Neste programa, Gaby Beinhorn entrevista a violinista Jenny Abel, que executou inúmeros concertos e gravações com Szidon. O programa é dedicado às memórias da violinista enquanto parceira de Szidon, mostrando a vitalidade dessa parceria através de gravação. Podemos aí também degustar o saudoso testemunho do próprio Szidon de que ele possuía ascendência húngara (seus pais eram húngaros), oferecendo sua magistral interpretação da Rapsódia Húngara nº 2 em seguida a essa revelação. ¹¹ 

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Quanto à correspondência que eu próprio mantive com Szidon, vou apresentar dois cartões postais que Szidon me enviou, onde se pode verificar seu enorme interesse pelo progresso dos meus estudos pianísticos.

No verso do cartão figurando uma Serenata (Ständchen), quadro célebre de Carl Spitzweg (1808-1885), evidenciando o gosto refinado de Szidon e a sua escolha cuidadosa de temas condizentes com o seu estado de espírito, ele me escreveu:

11 de julho de 1982
D-8019 Abersdorf Post Steinhöring
Amigo Francisco, finalmente cheguei ontem aqui depois de uma ausência de 78 dias na Suíça, Senegal, Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Fiquei feliz de ter carta sua e de saber que você entrou de rijo em repertório novo. Uma boa gravação da 6ª Barcarola (op. 70, de Gabriel Fauré) é a de Jean-Philippe Collard para EMI. 
Abração do seu
Roberto



















No verso do cartão figurando o Museu Horta, que foi a residência do arquiteto Victor Horta (1861-1947), em Bruxelas, Szidon me escreveu:
21 de janeiro de 1983
Caro amigo Francisco Braga,
Muito obrigado pelo lindo cartão de Brasília. Como vai o piano? O que está você estudando agora? Para este ano de 1983 eu lhe desejo saúde, satisfação, sucesso. Onde escutou você o disco CAEMI & KUARUP DISCOS que gravei?
Abração do Roberto 








IV.  A MÍDIA BRASILEIRA NOTICIA A MORTE DE ROBERTO SZIDON




Folha de São Paulo – Roberto Szidon deixa gravações referenciais de Villa-Lobos e Liszt  ¹² 
Morto de ataque cardíaco anteontem em Düsseldorf, pianista gaúcho deu o primeiro concerto aos nove anos

IRINEU FRANCO PERPÉTUO

Poucos pianistas brasileiros tiveram uma carreira fonográfica tão bem-sucedida quanto o gaúcho Roberto Szidon, morto anteontem em decorrência de um ataque cardíaco, aos 70 anos, na cidade alemã de Düsseldorf.

No tempo em que a indústria fonográfica era realmente relevante, nenhuma etiqueta tinha tanto prestígio no mundo erudito quanto o selo amarelo da Deutsche Grammophon.

Szidon gravou prolífica, embora não exclusivamente, para a firma alemã, e alguns de seus registros ainda hoje são referência.

Caso não apenas de autores brasileiros, como Villa-Lobos e Radamés Gnattali, mas também da integral das sonatas do russo Aleksandr Scriábin (1872-1915).

Ou do item que marca seu legado de forma decisiva: as 19 "Rapsódias Húngaras", de Franz Liszt (1811-1886), que nunca saíram de catálogo, relançadas em diversos formatos desde a aparição inicial, nos tempos do LP, em 1973.
Em Liszt, Szidon demonstra um pianismo expansivo, centrado no brilho sonoro e em proezas de elevado virtuosismo técnico. Não por acaso, sua gravação aparece sempre como uma das referências de excelência da obra, ao lado da do mítico György Cziffra (1921-1994).

ACOMPANHADOR

Para conhecer uma outra faceta, vale visitar seu talento de pianista acompanhador, em uma gravação amadurecida do ciclo de canções "Dichterliebe", de Schumann, com o barítono Thomas Quasthoff, para o selo RCA Victor.

Nascido em Porto Alegre, Szidon deu o primeiro concerto aos nove anos de idade, aprimorando-se em Nova York, na década de 1960, com a húngara Ilona Kabos (1893-1973) e o refinadíssimo pianista chileno Claudio Arrau (1903-1991), fixando-se na Alemanha em 1967.

Rompendo com a convenção de tocar tudo de cor estabelecida por Liszt no século 19, Szidon costumava se apresentar com uma partitura à sua frente, lendo até mesmo os itens de bis. 




O Estado de S. Paulo - Morre Roberto Szidon ¹³
Pianista brasileiro radicado na Alemanha, autor de gravações antológicas, estava com 69 anos

JOÃO LUIZ SAMPAIO

23/12/2011 - Morreu na manhã de quarta-feira, em Dusseldorf, na Alemanha, o pianista brasileiro Roberto Szidon. Ele estava com 69 anos e foi vítima de um ataque cardíaco. Nascido em Porto Alegre, viveu boa parte de sua vida fora do País, primeiro nos EUA, onde estudou com Claudio Arrau, e, mais tarde, na Europa.

Szidon andava distante dos palcos nos últimos anos. Nas décadas de 70 e 80, no entanto, foi um dos mais célebres artistas brasileiros em atividade no exterior. Iniciou seus estudos no Rio Grande do Sul e fez seu primeiro recital aos 9 anos. Na hora de optar por uma carreira, resolveu estudar medicina. Mas, no quinto ano do curso, abriu mão da vida médica para voltar à música. Pouco depois, deixaria o País, para onde voltaria mais tarde apenas para apresentações em recitais e concertos com orquestras.

Ainda nos anos 60, pouco depois de completar 20 anos, gravou o primeiro disco com obras de Villa-Lobos — e desde então sua interpretação para peças como Rudepoema seriam tidas como antológicas. Mas seu interesse pelo repertório nacional não se limitava ao autor das Bachianas. Na discografia de Szidon há álbuns dedicados a autores que vão de Radamés Gnattali a Marlos Nobre, passando por Ernesto Nazareth e uma infinidade de outros nomes (Chiquinha Gonzaga, Glauco Velásquez e Francisco Mignone entre eles) reunidos na coletânea Cem Anos de Piano Brasileiro. "Fisicamente, é um jovem que aparenta 22 anos (tem 31), gordinho, tipo baby-face, de fala mansa e cordial, com pinta de estudante, de filhinho de mamãe. Mas quando se senta ao piano, a transformação que se opera  nele e no ouvinte  é quase sobrenatural", definiu o escritor Carlos Heitor Cony em um perfil do pianista publicado em 1975 na revista Manchete.

Para a Deutsche Grammophon, sua discografia também se abriu para o grande repertório. Gravou Scriabin, Schumann, Beethoven. Nos anos 70, a imprensa afirmava que o número de álbuns vendidos só o colocava atrás de Herbert Von Karajan e Dietrich Fischer-Dieskau. Na mesma época, um jornal alemão, após um de seus recitais, sugeriu que ele fosse a reencarnação de Liszt. "Pessoas ligadas ao espiritismo me diziam isso sempre", ele se divertia em uma entrevista à revista Manchete e, em seguida, definia o que, em sua opinião, caracterizava um grande intérprete. "Você é um bom pianista se apresenta características como um fraseado bonito ou uma técnica sólida. Mas será um excelente pianista se fizer o possível para ser honesto com relação ao compositor e sua partitura e, nesse processo, souber inserir um pouco daquilo que você é. Mas fundamental, não importa o que outros possam dizer, é aceitar que só há um critério para dizer se uma obra é bem ou mal interpretada: se o músico soube tomar como ponto de partida absoluto a proposta do compositor."

Boa parte da sua discografia não está mais disponível. Em sites de venda na internet, por exemplo, um LP em que interpreta Nazareth, parte de uma coleção dedicada à "música romântica para piano" no Brasil, chega a ser vendido por R$ 380. Da mesma forma, é difícil mesurar o que seu baú de inéditos pode esconder, em especial no que diz respeito a gravações feitas ao vivo com grupos como a Filarmônica de Londres, a Sinfônica de Viena ou a Orquestra de Cleveland, das quais era convidado regular.

Em uma entrevista de 1981, ele brincava que não gostava de se impor limites. "Um dia, quem sabe, vou até gravar um disco como cantor, por que não?", disse. "O problema será encontrar um pianista bom, porque, sem modéstia, devo dizer que acompanho muito bem cantores." Um de seus últimos registros comerciais foi feito no início dos anos 90, quando gravou o Dichterliebe e o Liederkreiss de Schumann ao lado do barítono Thomas Quasthoff. E ali mostrou que a brincadeira tinha mesmo um fundo de razão.


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José Carlos Neves Lopes escreveu no seu blog "De Ópera e Concertos" em 24/05/2012: "Graças ao acervo do 'Estadão', desde hoje disponibilizado on-line, fiquei sabendo da triste notícia da morte do pianista brasileiro Roberto Szidon. Num artigo publicado em 22/12, João Luiz Sampaio comentou a carreira desse grande pianista. Eu faço parte da geração que assistiu ao desabrochar de sua carreira, nos finais dos anos 1960. Fã da Orquestra Filarmônica de São Paulo, cujas apresentações no TUCA (PUC) aos sábados à tarde eu não perdia, tive a felicidade de ver a sua apresentação do Concerto nº 3, opus 30, em ré menor, de Rachmaninoff, em maio de 1967, sob a regência do maestro Theodoro Fuchs. Foi meu primeiro contato com essa obra, que se tornou uma das minhas favoritas.¹


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JORNAL DO COMÉRCIO - O pianista Roberto Szidon ¹

PAULO LONTRA - Advogado

Nos idos de 1941, duas famílias foram morar em um recém-inaugurado prédio de apartamentos na Rua da Praia. Uma delas, uma família brasileira, católica, composta de cinco pessoas. A outra, húngara de origem judaica, formada por quatro pessoas. Edifício pequeno, apenas cinco andares, a convivência se tornava fácil pela proximidade. E foi assim que os filhos homens da família judia fizeram amizade com os da família católica. Os judeus eram os Szidon; os católicos, os Lontra. Os dois filhos menores das duas famílias nasceram no mesmo ano do prédio, 1941. Roberto em outubro e eu, em dezembro. Quando ainda crianças, brincávamos de tudo aquilo que era comum na época: bola de gude, pião, soldadinho de chumbo, etc... Quando fui para o Colégio Nossa Senhora das Dores, cujo prédio principal ficava na Rua da Praia, defronte ao nosso edifício, o Roberto ficou sabendo, decidiu ir também para o mesmo lugar, embora fosse (e ainda é) um colégio de orientação lassalista, católico. Não houve jeito de tirar a ideia da cabeça dele. Por amizade, insistiu e entrou no colégio.
Roberto foi sempre um aluno exemplar, um dos primeiros da classe, inclusive, para espanto de todos, primeiro lugar em religião, com direito a medalha e menção no Anuário do colégio! Seu irmão, João Pedro, fora destinado pelos pais a tentar a sorte no piano. Todas as manhãs, ainda nos nossos cinco anos, Roberto e eu brincávamos com soldadinhos e carrinhos de "galalite", enquanto o irmão batucava as teclas de um piano para o qual ele não tinha o menor pendor. O interessante é que o irmão ficava fazendo aqueles tediosos exercícios e, de vez em quando, o Roberto dizia "está errado" sem mesmo levantar a cabeça do brinquedo. Corrigia o irmão, sem jamais ter sentado num piano. O professor sentiu que perdia tempo com o aluno ao lado e que o prodígio estava sentado mais adiante. Falou com a mãe dos dois, dona Olga, e conseguiu convencê-la de que o pianista era o Roberto, e não o seu irmão. Roberto Szidon deu o seu primeiro recital no Theatro São Pedro, aos 8 anos e, a partir daí, não parou mais. Em atenção ao desejo familiar ingressou na Faculdade de Medicina da Ufrgs. Mas o piano era a sua paixão. Lá pelo quinto ano de Medicina, abandonou a carreira médica e se mandou para a Alemanha, contratado da Deutsche Grammophon. Eu o vi umas duas vezes, se muito, depois de sua partida para a Europa. Semana passada recebi a notícia de que Roberto Szidon, meu velho companheiro dos tempos de criança, faleceu na Alemanha, aos 70 anos de idade. Nada pode ser mais triste do que a morte de alguém que foi nosso amigo em tempos fáceis da infância. Éramos felizes e sabíamos.


V.  NOTAS EXPLICATIVAS


¹  Também nós músicos reconhecemos a validade do dito de Apelles, especialmente quando se trata do treino persistente e dos exercícios técnicos diários, visando à perfeição técnica no instrumento. Arthur Rubinstein (Łódź, Polônia, em 1887-Genebra, Suíça, em1982), mestre de Szidon, foi um dos maiores pianistas do século XX e influenciou milhares de outros musicistas. Em 1932, depois de turnês e recitais extensivos, ficou desgostoso consigo mesmo e retirou-se da atividade de concertista para se dedicar por vários meses ao treino e estudo intensivos, reconhecendo que negligenciara sua técnica nos seus verdes anos, confiando no seu talento natural. Frequentemente é citado como tendo dito a respeito do treino:If I neglect practicing one day I notice; two days, my friends notice; three days, and the public notices. It is the old principle ‘Practice makes perfect’.(Na Internet corre a seguinte tradução: Quando estou um dia sem estudar, dou logo por isso; dois dias sem trabalhar e os meus amigos apercebem-se do fato; três dias, e é o público que nota. É o velho princípio "Fazer algo cada vez mais é o único caminho de aprender a fazê-lo bem".)

²  O ESTADO DE S. PAULO. L. M.: Szidon interpreta desde os 4 anos, 01/06/1968, Ano 89, nº 28.570, p. 7

³  Em minha tradução, são apreciadas diversas facetas da vida e da carreira do grande pianista. Fonte:
http://www.digplanet.com/wiki/Roberto_Szidon e https://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Szidon

⁴ 
No YouTube: valsa "Vaidosa" de Radamés Gnattali na interpretação de Roberto Szidon: https://youtu.be/KA8xlOVaH0A
 
⁵  O ESTADO DE S. PAULO. Caldeira Filho: Notável Estréia de Jovem Pianista20/5/1967, Ano 88, nº 28.250, p. 7

   http://www.millarch.org/artigo/no-campo-de-batalha-237

  http://dinomastroyiannis.com/alpha.htm

  https://www.facebook.com/robertoszidon.competition

⁹  https://youtu.be/-JeTK3tgcXA

¹⁰  https://youtu.be/70bycP-eTg0

¹¹  http://clubinka.org/video/zlJEH7kdVco/

¹²  FOLHA DE SÃO PAULO. Irineu Franco Perpétuo: Roberto Szidon deixa gravações referenciais de Villa-Lobos e Liszt, 23/12/2011

¹³  O ESTADO DE S. PAULO. João Luiz Sampaio: Morre Roberto Szidon, Ano 132, nº 43165, 23/12/2011, caderno 2, p. 39

¹  http://deoperaeconcertos.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html

¹ JORNAL DO COMÉRCIO. Paulo Lontra: O pianista Roberto Szidon, Porto Alegre, 26/12/2011, disponível in http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=82408