segunda-feira, 26 de junho de 2023

VELHO VENTO

Por Francisco José dos Santos Braga 
  
VELHO VENTO (2015), por Eduardo Pinto Canabrava

 
Neste artigo com o título sugestivo de VELHO VENTO, dei tratos à bola para decidir como homenagear três autores, de uma só vez, utilizando o tema proposto e dado o fato de terem os três publicado livros tratando do referido tema, de forma única e original, cada um a seu modo. São eles: o poeta simbolista Cruz e Sousa (1861-1898), o poeta Eduardo Pinto Canabrava e o escritor Lúcio Flávio Baioneta. 
 
I.  VELHO VENTO ¹ (2015), pelo poeta Eduardo Pinto Canabrava 
 
Inicialmente, cabe observar que o nome do poema a seguir é também título do livro. Vamos à sua leitura: 
 
Velho vento, muito velho o vento. 
Enrustido no morro da Garça desce invernoso, 
despirocado e esparrama-se no cerrado. 
Bole veredas a dormir sob buritizeiros e a lua. 
Saracoteia ipês e desnuda-os no frio da noite,
libidinagem imprópria a um velho vento. 
Fustiga e eriça os pelos dos animais noturnos. 
Mofento, caquético, é o guardião 
das saudades e segredos do povo do sertão. 
Penetra nas vilas e cidades, bate janelas  
[entreabertas, 
escorrega nas frestas das portas e dos telhados, 
intimidade de velho conhecido. 
Atiça o lume das brasas adormecidas nos fogões a 
 [lenha e 
geme nas esquinas as dores da senectude. 
Desperta os pássaros bem antes de raiar o dia 
e incita casais ao aconchego nas madrugadas frias. 
Velho vento. 
Vento bandalho. 
 
Curiosamente o poeta não se furta a meditar sobre a velhice e acrescenta, a modo de crônica, sua reflexão em noite do Natal de 2015: 

Não se chega aos 80 anos de idade impunemente, mormente em época defaróis à noite apagados /por ventos desesperados ² , no dizer do referido poeta simbolista, minha fonte de inspiração. 
 
O tempo passa, e como passa... Até dizem que o tempo é remédio para tudo. Para longevos, o tempo retorna com a força dos Velhos Ventos, aconchega-se na sala de estar, pede água e fica. Ao idoso tudo é permitido, até mesmo inventar, ornar e musicar suas andanças. Caminhar nem sempre é um movimento para frente, pode ser um retorno ao mundo da memória ou o reencontro com a identidade perdida ao longo da luta pela sobrevivência. 
 
Viver é perigoso”, ensinou-nos o sertanejo ilustre, João Guimarães Rosa, mas deixar de viver por conta disso é abdicar do sagrado direito de ser feliz. O psicólogo austríaco Paul Watzlawick (1921-2007) concluiu que “qualquer pessoa pode ser feliz, mas se tornar infeliz é algo que requer aprendizado”. Muitos só descobrem isso no final, quando não há mais tempo para encontrar o caminho de volta. 
 
Aprendem a ser infelizes, gostam e consideram a infelicidade uma fatalidade. 
 
A velhice é o retorno ao deslumbramento do lúdico da infância. Dizem que a sabedoria é produto do conhecimento e das experiências vividas. Lao-Tsé nos ensinou que conhecer os outros é inteligência, mas conhecer a si mesmo é a verdadeira sabedoria.
 
Nesse particular, sábio é aquele que perdoa a si e elege o direito ao contraditório como princípio de liberdade. Aceitar a maravilha da natureza e seus contrastes e não se desesperar diante das incertezas. 
 
Este é o milagre: nascer, viver e morrer. Não há segredo. Tudo é possível. Façamos da vida uma canção e da morte uma apoteose, síntese na dialética do existir. 
 
Estes escritos são produtos da ociosidade. Peço desculpas pela ousadia. Em nenhum momento fui possuído por pretensão literária... seria um despropósito. Trata-se de catarse ou uma forma de encher lingüiça com narrações sobre acontecidos na minha infância e adolescência. Muitas são verdadeiras, outras “inventórias”, mas que podem ser reais. Se não, deveriam. As lembranças se perdem ou se fantasiam no rolar dos anos. Dizem que o tempo é o senhor da razão. Tenho minhas dúvidas. O tempo não julga, não condena nem absolve. Não tem o poder dos juízes nem a força dos deuses. Já o vento tem o poder saneador. É como crustáceo, limpador e lixeiro do mar. Gibran Khalil Gibran mostra-nos o grande papel do vento, no seu belo livro O Profeta :
Somos as sementes de uma planta tenaz, e é quando amadurecemos e atingimos a plenitude de coração que o vento se apodera de nós e nos espalha.
 
II.  Correspondência de Lúcio Flávio Baioneta ³ a Eduardo Pinto Canabrava, em elogio pelo lançamento de "Velho Vento" (2015):
 
O VELHO VENTO
 
Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2016.
 
Meu prezado Eduardo Pinto Canabrava,
 
Um dia, madrugada ainda, sol com medo de sair por causa do brilho da lua que iluminava os ermos da Serra do Cabral, eu caminhava por uma trilha de areia muito fina e muito branca, boca de vereda, buscando um lugar bem lá no alto, onde um outro Eduardo Canabrava , seu conterrâneo e parente, há muitos anos, tinha passado, dias e dias, acampado num rancho feito de pindoba e folhas de buriti. Dizia-me que ficava pintando os grandes vazios, as veredas com seus buritizais a perder de vista, e se deslumbrando com os peixes transparentes que ele descobrira nas lagoas perdidas naqueles socavões. Às vezes, quantas vezes, ele relembrava aquelas aventuras e, rindo, me contava partes delas. Tempo longe. 
 
Eu andava e, de repente, um pé de vento passou por mim, falando alguma coisa ao meu ouvido. Tentei, mas não consegui entender. Daí a pouco, o vento voltou, falou de novo, balançou o capim fino a minha volta, espantou as folhas secas de meu caminho e, não querendo aparecer, levantou poeira e sumiu, enrolando em si próprio. Lá na frente, levantou novamente poeira branca na mesma trilha em que eu andava, parecia querer marcar um rumo. Talvez. Continuei sem entender e, impaciente, perguntei a Raimundo Vaqueiro, preto velho que era meu guia naquelas andanças, o que o vento estava querendo me dizer. 
 
Ele parou, descansou o alforje feito com couro de campeiro que trazia no ombro e, com aqueles olhos cansados de tanto viver, disse-me pausadamente: 
Este vento, moço, começa numas árvores grandes, muito grandes, que estão longe daqui. Elas balançam para um lado e para outro e, nesse jogo de vai e vem, elas abanam o vento. Se balança muito, açoita. É de lá que ele começa a navegar. Ganha umas planuras e vem rompendo, vem rompendo até chegar nas gerais. Daí ele começa a bestar, de vereda em vereda, de buriti em buriti, passando os beiços nas folhas verdes, que negaceiam. O balanço das folhas do buriti é o beijo do vento. Quando a folha vira duma vez é porque ela não quer o beijo, negaceia. Quando aquele vento aparta das veredas, ele encontra as águas do Velho Chico, aquele mesmo rio que alguns índios velhos chamam de Opará. Aí ele embala outra vez e vem rio acima até encontrar a embocadura do rio das Velhas, Ali ele abandona o Velho Chico e se enrabicha com o das Velhas. Nessa correria doida, ele topa com o paredão da Serra do Cabral. Empina, sobe o paredão e, cansado, esmorece e vira a brisa que está falando com o moço. O vento fica encantado, começa a falar e começa a mudar de nome:
Vento carinhoso da manhã. Vento cheiroso da madrugada indecisa, enluarada. Vento despertador que assobia no telhado. Vento amigo, vento dengoso, vento coiteiro, vento que ri e cochicha pra vosmecê. Sabe o que ele está dizendo, moço? "Bom dia, a vida é linda, curta e perigosa. Viva sem medo de ser feliz." 
O vaqueiro, quando terminou de falar do vento, colocou o alforje no ombro, tirou um palheiro atrás da orelha, passou o dedo na cinza, bateu a binga, assoprou a brasa do pavio e o acendeu. Uma fumaça azul tomou conta da manhã mais azul ainda. Nunca mais o vi. 
 
Meu caro Eduardo, foi lindo ler seu livro Velho Vento
 
Voltei, nas asas daquele velho vento, à nossa cidade do Curvelo. 
 
Apeei na porta da loja do meu pai, do outro lado da casa onde vocês moravam, na praça da Matriz, bem em frente ao coreto. Nos meus olhos, as lembranças, a saudade e as lágrimas que teimavam em distorcer as imagens da praça. Fui criança outra vez. 
 
Parabéns! 
 
Quando, um dia, eu viajar na ponta de uma nuvem, naquela viagem sem volta, vou levar comigo o seu livro para o Eduardo Canabrava Barreiros. Ele vai adorar. 
 
Abraços do Lúcio Flávio Baioneta.
 
(in BAIONETA, Lúcio Flávio: DE BANQUEIRO A CARVOEIRO, BH: Benvinda Ed., 2016, pp. 124-7)
 
Livro de Lúcio Flávio Baioneta

 
III. NOTAS EXPLICATIVAS

¹  VELHO VENTO: título de poema agrupado posteriormente e publicado em O Livro Derradeiro - Dispersas de Cruz e Sousa
Links: https://pt.wikisource.org/wiki/Dispersas 👈  e
https://literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=131324#Velhovento  👈
 
 
²  Dois versos do poema LITANIA DOS POBRES do livro Faróis de Cruz e Sousa 
 

 
³  Lúcio Flávio Baioneta é assíduo colaborador do Blog de São João del-Rei. Sua fantástica biografia pode ser lida in https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2015/05/colaborador-lucio-flavio-baioneta.html  👈
 
Eduardo Canabrava Barreiros (✰ Curvelo, 11 de julho de 1908 - ✞ Rio de Janeiro, 1981) foi um historiador, ilustrador, cartógrafo, escritor brasileiro e frequentador do Sabadoyle, ponto de reunião de grandes escritores brasileiros na casa do advogado e bibliófilo Plínio Doyle (Rio de Janeiro, 1906 -✞ Rio de Janeiro, 2000). 
Em 31 de maio de 1967 tornou-se sócio do IHGB-Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Era sócio efetivo do Instituto Militar de Engenharia do Brasil. 
Escreveu O Segrêdo de Sinhá Ernestina, sua autobiografia intitulada Semicírculo, além dos seguintes livros, que ganharam mais notoriedade: “Itinerário da Independência” (agraciado com o Prêmio Joaquim Nabuco da ABL, em 1974), “D. Pedro, Jornada a Minas Gerais em 1822” (1973) e As Vilas del-Rei e a Cidadania de Tiradentes (1976).
É o patrono da cadeira nº 34, cujo ocupante atual é Paulo Chaves Filho, do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei.
 

IV. BIBLIOGRAFIA

 
CANABRAVA, Eduardo Pinto: VELHO VENTO, editora do autor, 2015.

BAIONETA, Lúcio Flávio: DE BANQUEIRO A CARVOEIRO, BH: Benvinda Ed., 2016, 235 p.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

TONELADAS DE CARNE “FAKE" PARA A UNIÃO EUROPEIA: A maior fábrica de carne de laboratório do mundo está sendo construída na Espanha


Por Francisco José dos Santos Braga (tradutor do alemão, grego e inglês e formatador do texto)
 
Crédito: Katoxiká Néa

 

Uma empresa brasileira quer construir na Espanha a maior fábrica do mundo para a produção de carne de laboratório em 2024. Ali serão produzidas anualmente até 4.000 toneladas métricas dessa carne artificial para o mercado da União Europeia. Tudo no espírito da casta política dependente do Fórum Econômico Mundial ¹

A maior produtora de carne bovina do mundo, a JBS S.A., está construindo a maior planta do mundo para carne cultivada em laboratório na Espanha. 

"A unidade produzirá cerca de 1.000 toneladas métricas de carne cultivada anualmente, com potencial para expandir a produção para 4.000 toneladas", disse a JBS em comunicado por e-mail. A fábrica, a ser construída a leste de Bilbao, em San Sebastián, será propriedade da empresa de carnes BioTech Foods, controlada pela gigante brasileira de carnes com uma participação de 51%. A JBS adquiriu essa participação na BioTech da Espanha em 2021 em um negócio de US$ 100 milhões, com US$ 41 milhões destinados à construção da referida fábrica, que ficará localizada em San Sebastián. 

A BioTech produz sua carne cultivada a partir de uma amostra de células colhidas de animais e cultivadas em tecido, semelhante ao produzido no corpo do animal. 

Carne de laboratório / Crédito: Report 24

 

 

 

 

 

 

 
"A nova planta de BioTech coloca a JBS em uma posição única para liderar o segmento e aproveitar esta onda de inovação", disse Eduardo Noronha, chefe de negócios de valor agregado da JBS norte-americana. Informa ainda que a BioTech planeja aumentar gradualmente sua capacidade de produção para atender a crescente demanda do consumidor e vê Austrália, Brasil, União Europeia, Japão, Cingapura e Estados Unidos como mercados-chave.  

"Com os desafios impostos às cadeias de suprimentos globais, a proteína cultivada oferece o potencial para estabilizar a segurança alimentar e a produção global de proteínas", disse o cofundador e CEO da BioTech Foods, Iñigo Charola, em nota.

Além do empreendimento na Espanha, a JBS vai construir um centro de última geração para pesquisa e desenvolvimento de biotecnologia e proteína cultivada em Florianópolis, com investimento estimado de US$ 60 milhões. O objetivo é desenvolver tecnologia de ponta 100% brasileira para produzir proteínas alternativas.

A processadora brasileira de carne de frango e suína BRF S.A. também entrou no setor de carne cultivada com um investimento de US$ 2,5 milhões na startup israelense Aleph Farms em 2021.  

 
Ninguém sabe realmente como o consumo de "carne" cultivada em laboratório afetará a saúde humana. Devido ao uso das chamadas "células imortais" para produzir carne de laboratório, também existem grandes preocupações com a carcinogenicidade de tais produtos. Além disso, a pesquisa mostrou que a produção dessa "carne" artificial gera muito mais dióxido de carbono do que a carne natural. Mas é exatamente esta que os malucos climáticos gostariam de proibir, porque dizem que ela é muito prejudicial ao clima

Mesmo que a grande fábrica para a produção dessa carne de laboratório a ser construída na cidade espanhola de San Sebastián pela brasileira JBS S.A. em parceria com a BioTech Foods produza inicialmente mais de 1.000 toneladas métricas por ano e posteriormente forneça até 4.000 toneladas por ano ao mercado, segundo o que a agência noticiosa Reuters menciona num relatório recente, não serão suficientes para atender a demanda (só a Alemanha produz 1.000.000 de toneladas de carne bovina por ano, o equivalente a cerca de 12 kg per capita). No entanto, os planos dos globalistas do Fórum Econômico Mundial não deixam espaço para a carne natural. Nesse sentido, isso deve ser apenas o prelúdio para a criação de mais fábricas de carne artificial. 

Até agora, tem sido evidentemente limitada a aceitação social dessa carne, que também pode ser descrita como proteínas de células cancerígenas de animais. No entanto, os globalistas farão tudo ao seu alcance para tornar a carne natural e convencional tão cara para as massas que elas não poderão mais pagar pela sua aquisição. Porque, segundo eles, as pessoas deveriam (por causa do clima, é claro) se tornar educadamente vegetarianas ou veganas, ou se alimentar de insetos e carne de laboratório. 

Mas é este o mundo que as pessoas realmente querem...?

 

II. NOTA EXPLICATIVA
 
¹ The Great Reset, em inglês, é o nome dado à 50ª reunião anual do Fórum Econômico Mundial, realizada em junho de 2020. Reuniu altos líderes empresariais e políticos, convocados pelo então Príncipe de Gales, Charles, e pelo diretor do Fórum, Klaus Martin Schwab, para tratar do tema da reconstrução da sociedade e da economia de forma mais sustentável, após a pandemia de COVID-19. O principal conselheiro do Fórum e braço direito de Schwab é o historiador trans-humanista Yuval Noah Harari, que se declara "vegan-ish" (vegano flexível), defende que nós, seres humanos, não possuímos alma, somos animais hackeáveis e nosso livre arbítrio como o conhecemos já está ultrapassado. Suas ideias encontraram simpatia junto a Bill Gates, Mark Zuckerberg e líderes políticos como Barack Obama, Angela Merkel e Emmanuel Macron.

 
III. BIBLIOGRAFIA
 
 
 
BLOOMBERG: The World’s Top Beef Supplier Is Building a Lab-Grown Meat Plant, por Tatiana Freitas, edição de 07/06/2023.
 
BRASILAGRO: Carne vegetal: JBS inicia construção na Espanha de maior fábrica do mundo, edição de 07/06/2023.
 
ÉPOCA NEGÓCIOS: JBS inicia construção na Espanha de maior fábrica do mundo de carne cultivada: Empresa afirmou que a unidade será a maior do mundo de carne produzida em laboratório, por Agência Reuters, coluna Ciência e Saúde, edição de 06/06/2023.
 
HELLINIKÍ AFYPNISI: Europa: A maior fábrica de carne de laboratório do mundo está sendo construída na Espanha. Toneladas de carne fake - de laboratório - nos pratos dos europeus em pouco tempo..., edição de 21/06/2023.
 
KATOXIKÁ NÉA: EUROPA: A maior fábrica de carne de laboratório do mundo está sendo construída na Espanha, edição de 21/06/2023.
 
REPORT 24: TONELADAS DE CARNE “FAKE" PARA A UNIÃO EUROPEIA: Na Espanha é construída a maior fábrica de carne de laboratório do mundo, na coluna Great Reset pelo redator Heinz Steiner em 19/06/2023.

REUTERS: Brazil's JBS starts building lab-grown beef factory in Spain, por Roberto Samora, edição de 06/06/2023.

segunda-feira, 12 de junho de 2023

“CERN grego” que se acha no Mar Jônico a 5.200 m de profundidade


Por Francisco José dos Santos Braga (tradutor do grego, formatador do texto e autor da Introdução e das notas)


 

I. INTRODUÇÃO
 
CERN (antigo acrônimo para Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire) é o maior laboratório de física de partículas do mundo. Embora seu nome atual seja Organização para a Pesquisa Nuclear, continua a ser mencionado com a denominação adotada originalmente. A Grécia integra a equipe dos 12 países-membros fundadores do CERN em 1954.
 
II. TEXTO
 
Em pleno desenvolvimento há três décadas está o experimento "Nestor" ¹ para a detecção de neutrinos ², a trinta milhas náuticas de Pylos (ou Pílio em português) ³, no mar, a uma profundidade superior a cinco quilômetros. 
 

 
O vídeo apresentado pelo Up Stories é tão impactante quanto sua história. Leva o nome das iniciais "Neutrino Extended Submarine Telescope with Oceanographic Research" (NESTOR), mas, além disso, o nome do rei homônimo da área de Pylos nos tempos antigos também desempenhou um papel na "certidão de batismo". 
 
O "Nestor" é considerado um dos experimentos mais importantes da história da Física, pois visa detectar partículas invisíveis de matéria que estão relacionadas com a criação do universo. O programa é financiado pela Secretaria Geral de Pesquisa e Tecnologia do Ministério da Educação grego e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nas profundezas dos mares gregos, no "poço de Oinoussa", como é chamada a área específica no sudoeste do Peloponeso, os cientistas estão tentando mapear as partículas mais primordiais e estranhas da matéria, os neutrinos desconhecidos. Os neutrinos são partículas-fantasmas eletricamente neutras de massa quase zero que viajam retas e ininterruptas pelas vastas extensões do universo a velocidades próximas à velocidade da luz, sem serem desviadas, reagidas ou decaídas pela matéria interestelar. 
 
Estima-se que elas viajem desde o início da criação do mundo, o famoso Big Bang , há 15 bilhões de anos. Esses viajantes espaciais invisíveis escondem dentro de si informações sobre a criação do universo. 
 
O "Instituto Nestor" em Pylos aproveitou uma característica geográfica da área (parece um enorme poço subaquático) para "capturar" e "fotografar" os neutrinos. Mas para que isso aconteça, está prevista, entre outras coisas, a instalação de um enorme telescópio de 12 andares com diâmetro de 32 metros e altura total de 330 metros, ou seja, maior que a Torre Eiffel. 
 


 
 
"Com neutrinos podemos ver mais longe no universo" 
 
Com tudo isso, surge uma nova forma de astronomia, além do céu e além do conhecimento científico existente; por mais incrível que pareça, a astronomia e a construção de um telescópio nas profundezas do mar andam de mãos dadas. Todo o experimento é realizado no referido poço submarino, a apenas 7,5 milhas náuticas da ilha de Sapienza e 11 milhas de Methoni, a uma profundidade de 5.200 metros. 
 
O volume de água acima do fundo do poço filtra a radiação cósmica e facilita a observação, da mesma forma que a escuridão facilita a observação das estrelas, pois as águas do "poço de Oinoussa" são extremamente claras. O objetivo é criar um novo mapa do céu por meio do estudo desses neutrinos de alta energia, uma forma de radiação que não havia sido estudada até agora e cujas propriedades podem mudar drasticamente a compreensão da criação do universo. O Diretor do "Instituto Nestor" e chefe de todo o programa é o Professor de Física Experimental da Universidade de Atenas, Leonídas Resvánis, que destaca: 
Com os neutrinos, podemos ver mais fundo e mais longe no universo, precisamente porque eles não são absorvidos por nada, então, se os decodificarmos, podemos ver muito longe no tempo, talvez até o Big Bang. Estamos tentando abrir uma janela para uma vizinhança do universo que ninguém olhou até agora. O mais excitante é que não sabemos o que vamos encontrar. Se soubéssemos, não seria emocionante! 
Fonte: CNN Newsroom, edição de 18 de março de 2023  
 
 
III. NOTAS EXPLICATIVAS
 
 
¹  Nestor, na mitologia filho do rei de Pylos Neleu e Clóris, a deusa grega das flores , foi rei de Pylos e um dos Argonautas que navegou com Jasão em sua busca do Velo de Ouro. Na Ilíada de Homero, enquanto lutava ao lado dos Aqueus, distinguia-se como conselheiro aos jovens guerreiros, tendo convencido Aquiles e Agamémnon a lutarem na Guerra de Tróia. Por isso, Nestor foi mencionado na Ilíada como um homem idoso de "palavras doces", um "orador de voz clara" que "flui mais doce que o mel". 
Homero ainda apresenta Nestor como um bom anfitrião, ao acolher em seu palácio de Pylos o filho de Odisseu (ou Ulisses em latim), Telêmaco, que buscava informações sobre o destino de seu pai. Neste caso, demonstrou qualidade de diplomata inteligente, ao convidar um estranho a entrar em sua casa antes de lhe fazer qualquer pergunta. Tal qualidade distingue os atuais gregos que fazem questão de darem boa acolhida a estrangeiros.
 
²  Os neutrinos são partículas elementares detectadas pela primeira vez na década de 1950, muito depois de sua previsão teórica pelo teórico Wolfgang Pauli. Neutrinos (ou anti-neutrinos) são criados durante certas reações nucleares, onde prótons são transformados em nêutrons e vice-versa. Os neutrinos não interagem com a matéria por meio das forças eletromagnética, nuclear forte ou gravitacional, pois são léptons eletricamente neutros e sua massa de repouso é muito pequena. Eles interagem com os núcleons (nêutrons e prótons) apenas por meio de interações nucleares fracas. Como eles não interagem com a matéria por meio das forças eletromagnética ou gravitacional, é extremamente difícil detectá-los. Como sua massa é muito pequena (menos de 14 eV), eles viajam com velocidades muito próximas da velocidade da luz no vácuo.
 
³  Na mitologia grega, o Monte Pylos (que tomou seu nome do rei mítico Peleu, pai de Aquiles) era a região de Quirão ou Quíron (Χείρων em grego, Chiron em inglês), o Centauro, metade homem metade cavalo, tutor de muitos heróis gregos antigos, tais como Asclépio, Peleu, Jasão, Aquiles, Teseu e Hércules, dentre muitos outros. 
 
Quíron, "o mais justo dos Centauros", preceptor dos grandes heróis míticos

 
No século XIX, Pylos (também conhecido historicamente como Neokastro) tornou-se mais conhecido pelo papel que desempenhou na lendária Batalha Naval de Navarino, onde a vitória dos aliados em 1827 marcou o início da libertação total da Grécia do domínio turco. A Unidade Municipal de Pylos é composta pelo centro administrativo do município de Pylos e dez comunidades locais.
 
Vista de satélite da península anzolada formada pelo Monte Pylos
 
A montanha é densamente arborizada, principalmente de árvore do gênero Fagus (beech em inglês), carvalho (oak), bordo (maple) e castanheiro (chestnut tree), com bosques de plátanos (plane trees) margeando sítios com água. As elevações mais altas da montanha recebem bastante precipitação de neve de modo a acolher infraestruturas para prática do esqui operando do Natal até a Páscoa. O seu mais alto pico está a 1.610 metros.


  Confira a cronologia da descoberta de partículas:
Link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_da_descoberta_de_part%C3%ADculas  👈

 

IV. BIBLIOGRAFIA ADICIONAL 
 
 
EUROPEAN PARLIAMENT NEWS: Nestor: unravelling the universe's mysteries from the bottom of the sea, postado em 28/03/2014 
 
KATOXIKÁ NÉA: Experimento "Nestor": O CERN grego se acha no Mar Jônico a 5.200 metros de profundidade 
 
WIKIPEDIA: Nestor (mythology) 

quinta-feira, 8 de junho de 2023

CIDADES DE 15 MINUTOS: utopia ou projeto viável?


Por Francisco José dos Santos Braga (tradutor do grego e inglês e formatador do texto)


No futuro, a maioria das cidades serão parecidas com este protótipo / Crédito: Deutsche Welle

 

De acordo com a Wikipedia, "uma cidade de 15 minutos é um conceito urbano residencial, no qual a maioria das atividades diárias pode ser feita a pé ou de bicicleta a partir das casas dos moradores. A expressão "cidade de 15 minutos" ficou em voga na COP 21, o encontro das Nações Unidas que deu origem aos acordos climáticos de Paris, em 2015. O conceito foi popularizado por Anne Hidalgo, prefeita de Paris, e inspirado pelo urbanista franco-colombiano especializado em sistemas complexos, Carlos Moreno, professor na Sorbonne em 2016, embora a ideia não seja tão nova assim. Cidades de 15 minutos são construídas a partir de uma série de bairros de 5 minutos, também conhecidos como comunidades completas ou bairros caminháveis. O conceito foi descrito como um "retorno a um modo de vida local". 
 
O conceito de Paris de 15 minutos de Carlos Moreno / Crédito: Câmara de Paris                                                                 




 

 
Conforme a Deutsche Welle, trata-se de "um novo modelo de planejamento urbano que começou a ser implementado em vários países do mundo com o objetivo de cidades mais sustentáveis e moradores satisfeitos".
 
Um artigo publicado no site do Fórum Econômico Mundial (WEF em inglês, FEM em português) em março de 2022 chamou a ideia de cidades de 15 minutos de "muito mais do que uma moda passageira" e uma consequência dos tempos atuais, especificamente da pandemia.
 
Por outro lado, há alguns pesos pesados que não têm a mesma visão otimista. Vejamos alguns dos principais críticos da ideia de cidade de 15 minutos: 
 
a) Christine Anderson: Das Cidades de 15 Minutos a Confinamentos ¹
 
RESUMO
 
Christine Anderson acredita que os passaportes de vacinação COVID e o QR Codes que se espalharam durante a pandemia foram apenas procedimentos de teste para implementar "cidades de 15 minutos" com o objetivo de aumentar o controle do governo sobre as pessoas.
A próxima etapa, de acordo com a Anderson, envolverá o confinamento das pessoas em suas localidades, permitindo que elas saiam apenas duas ou três vezes por ano. Entretanto, os ricos poderão contornar essas regras, pois poderão comprar permissões de saída das seções mais pobres

Uma cidade de 15 minutos é um bairro onde um morador pode chegar a tudo o que precisa, como mercearia, médico e assim por diante em uma caminhada de 15 minutos. Segundo Anderson, essas cidades são o início de um controle governamental mais rígido sobre as pessoas. A administração pode exercer controle decidindo "você não tem mais permissão para deixar sua área imediata de 15 minutos. Eles não precisam cercar, nem nada. Isso será feito por meio de identificação digital", disse ela em entrevista ao programa "American Thought Leaders" de Jan Jekielek, publicado em 25 de abril.

"Agora se você gosta de outra loja e ela não está no seu bairro... Adivinhe: Você não vai mais àquela loja. Como eu disse, estamos falando de controle total."

 
Christine Anderson é membro do Parlamento Europeu e integrante do partido "Alternativa para a Alemanha". Anderson está entre os críticos mais contundentes do Parlamento Europeu às políticas COVID-19 adotadas na Europa, Canadá e além. 
"As democracias ocidentais estão se movendo gradualmente em direção à tirania digital", ela argumenta. "O próximo passo? Bloqueios climáticos." "Quando acabamos em um regime totalitário e ele está totalmente destruído, dados os meios tecnológicos que eles têm à sua disposição hoje, não estamos falando de 30-40 anos de RDA [República Democrática Alemã]; não estamos falando dos 70 anos da União Soviética; estamos falando de muito, muito tempo isso é o que você deve temer", diz Anderson. 
Nas décadas de 1920 e 1930, "a Alemanha era uma sociedade altamente desenvolvida, quer dizer, muita gente inteligente, gente bem-educada, mas era possível essa sociedade transformar o mal em uma extensão inimaginável... Sempre nos perguntam : 'Como isso foi possível?' Bem, dê uma olhada nos últimos três anos e você terá sua resposta", argumenta Anderson. "Só precisamos deixar claro uma coisa: cada um de nós é capaz de infligir as mais horríveis atrocidades ao próximo, dadas as circunstâncias certas. Mas se você não está ciente do fato de que sim, você é capaz de fazer a mesma coisa, então você não tem nenhum mecanismo para lutar contra isso”, diz Anderson. 
 
Em uma entrevista a Jan Jekielek e Naveen Athrappully do jornal The Epoch Times, ela assim se manifestou: 
 
"Na Europa, está sendo promovida uma legislação para criar cidades de 15 minutos." 
Segundo Anderson, o Certificado Verde Digital e o passaporte de vacinação COVID introduzido durante a pandemia foram apenas um teste para acostumar as pessoas a gerar um QR Code e requisitos associados. 
"Agora, eles estão nos atingindo com essas cidades de 15 minutos. Não se engane, não se trata de sua conveniência. Não é que eles queiram que você possa ter por perto todos esses lugares aos quais você precisa ir. Também não se trata de salvar o planeta", disse Anderson. 
"Com as cidades de 15 minutos, eles precisam tê-las antes que possam prender você, e é disso que estávamos falando aqui." 
"Na Grã-Bretanha, alguns condados já aprovaram tal legislação. Eles poderão impor um bloqueio climático. Esse é o próximo passo. É disso que estamos falando. Para fazer isso, eles terão que ter essas cidades de 15 minutos. O próximo passo, diz Anderson, será confinar as pessoas dentro de suas localidades, permitindo que saiam do local apenas duas ou três vezes por ano. No entanto, os ricos poderão contornar essas regras, pois poderão comprar permissões de saída dos setores mais pobres", afirmou ela. “As pessoas mais pobres vão ficar nesses bairros de 15 minutos, enquanto os que estão em melhor situação vão para onde quiserem. É disso que estamos falando.” 
“Com o COVID-19 e suas variantes mantendo todos em casa (ou mais perto de casa do que o normal), a cidade de 15 minutos passou de um ‘bom ter’ para se tornar um grito de guerra”, afirmou. 
“À medida que as mudanças climáticas e os conflitos globais causarem choques e tensões em intervalos mais rápidos e com gravidade crescente, a cidade de 15 minutos se tornará ainda mais crítica”. 
 
TIRANIA DIGITAL 
 
Anderson observou que os sistemas de "crédito social" no estilo comunista chinês já estão sendo testados na Europa. “Já existem projetos-piloto em andamento em Bolonha [Itália]. Lá, é chamada de 'carteira de Bolonha' (Bologna Wallet). Em Viena, é chamada de 'código de Viena' (Vienna Token).” "É voluntário por enquanto, e apenas atrai as pessoas. Se você aderir, conseguirá alguns ingressos com desconto, para ir ao teatro. Voluntário. Mais uma vez, [é o] primeiro passo”, disse ela. "Mas, em breve, chegará um momento em que você não terá mais escolha. Tem que ter aquele Certificado Verde Digital com aquele QR code. Então, eles vão lhe dizer onde você pode ir, o que você pode fazer e o que você não pode fazer.” 
Anderson criticou o projeto "The Line", atualmente em construção na Arábia Saudita. Com 200 quilômetros de extensão, 200 metros de largura e 500 metros de altura, o "The Line" foi projetado para abrigar até 9 milhões de pessoas. "Se eles quisessem obter o controle total sobre as pessoas, seria exatamente ali que eles as abrigariam e, em seguida, as receberiam com uma receita de três refeições por dia. Adivinhe o que acontecerá se você não fizer o que lhe dizem eles provavelmente cancelarão essas refeições. É fácil assim", disse ela. 
"É disso que estamos falando. Quando você realmente junta tudo isso, não há outra maneira de eu realmente dizer isso, será um completo empobrecimento e escravização de todas as pessoas. Estou afirmando isso com tanta clareza porque é assim que parece e assim que me sinto". 
A ideia de cidades de 15 minutos está gerando um debate acalorado nas redes sociais. Quando a documentarista Carla Francome postou um tópico em fevereiro sobre os benefícios dessas cidades, logo atraiu críticas. Uma pessoa sugeriu que, embora as cidades de 15 minutos, pareçam ótimas na teoria, elas se tornariam um problema quando o governo tentasse aplicá-las. Outra observou que, se cidades de 15 minutos se tornassem realidade, Francome teria que obter uma permissão especial para visitar seu pai se ele morasse a 30 minutos de distância.  
“Um dia, você ficará preso em sua cidade de 15 minutos, esperando que um drone entregue seus insetos agridoces e tentando se lembrar de como era bom estar de férias”, escreveu a autora Lisa Keeble em um tweet de 22 de abril.  "Então você vai se perguntar: quando foi que tudo deu errado?" Segue a resposta: "Quando você aplaudiu confinamentos e máscaras."
 
Fonte: The Epoch Times: 15-Minute Cities Are ‘Complete Impoverishment and Enslavement of All the People’: EU Lawmaker: EU parlamentarian Christine Anderson on new residencial model being pushed in Europe (Trad. Cidades de 15 Minutos significam um 'completo empobrecimento e escravização de todas as pessoas: Legisladora da União Europeia: parlamentar da União Europeia Cristine Anderson fala sobre  um novo modelo residencial que está sendo promovido na Europa)

 
 
 
b) Comentário de John Mac Ghlionn, no The Epoch Times, intitulado Big Lies, Big Data ², and the Rise of Bigger Brother (Trad. Grandes Mentiras, Grandes Dados, e o Surgimento do Mais que Grande Irmão), edição de 3/3/2023, sobre artigo de Oliver Wainwright, do The Guardian, intitulado In Praise of the '15-minute city' - the mundane planning theory terrifying conspiracists (Trad. Em louvor da 'cidade de 15 minutos' - a teoria do planejamento mundano aterrorizando os adeptos da teoria da conspiração), edição de 26/2/2023.

Oliver Wainwright, do The Guardian, discutiu recentemente uma nova “conspiração socialista internacional” em andamento. “Forças marginais da extrema esquerda”, observou ele, “estão conspirando para tirar nossa liberdade de ficar preso em engarrafamentos, de rastejar ao longo de anéis viários obstruídos e vasculhar as ruas em busca de uma vaga para estacionar”. O nome desse “arrepiante movimento global?” perguntou; sarcástico e um tanto desdenhoso, ele próprio respondeu: A 'cidade de 15 minutos'. Wainwright acredita que essas cidades são simplesmente parte de uma “teoria de planejamento mundano”. Ele está errado.
Alguns dias após a publicação do artigo de Wainwright, três acadêmicos chamaram as “cidades de 15 minutos” (CQMs, como serão chamadas a partir de agora) de “a teoria da conspiração mais quente de 2023”. De uma forma verdadeiramente elitista, eles zombaram daqueles que ousaram questionar o motivo por trás dos CQMs.
 
 
A liberdade do deslocamento na hora do rush, a inviolabilidade do shopping center fora da cidade e a confiabilidade das mercearias de bairros estão sob ameaça como nunca antes.
Não é preciso ser um adepto de QAnon ³ de carteirinha para ter medo dessas criações semelhantes a cavalos de Tróia. Antes de prosseguir, é importante colocar nossas definições em ordem. Como observou o cientista político Kelly M. Greenhill, nem todas as teorias da conspiração são malucas e nem todas as teorias da conspiração estão erradas. Veja a teoria da conspiração de Watergate, por exemplo, ou o fato de que Edith Wilson tomou a maioria das decisões executivas depois que seu marido, o presidente Woodrow Wilson, sofreu um derrame.
Muitas vezes, as teorias da conspiração acabam sendo precisas. 
Também conhecidas como cidades inteligentes, as CQMs são localidades onde tudo imaginável, do seu local de trabalho à sua pizzaria favorita, é acessível a pé ou de bicicleta (mas não de carro, pois carros serão proibidos!) em 15 minutos ou menos. O que há de tão ruim nisso? À primeira vista, muito pouco. Afinal, somos criaturas de conforto. Vivemos em um mundo onde o mantra  [TL;DR] agora reina absoluto. Desejamos conveniência; ansiamos por conveniência. No entanto, a conveniência nem sempre é uma coisa boa; às vezes é absolutamente perigosa. Isso é especialmente verdadeiro quando as pessoas, conscientemente ou não, trocam sua liberdade pela facilidade de acesso a determinados serviços. Embora as CQMs possam tornar mais fácil para os cidadãos irem de A a B, essas criações também facilitarão para aqueles que detêm o poder possam nos espionar, coletar nossos dados e permitir que o Big Brother se torne o “Bigger” Brother. Enquanto escrevo isso, as CQMs estão sendo ativamente defendidas pelo Fórum Econômico Mundial, o grupo por trás d' “A Grande Reinicialização” e da ideia de nada possuir, não ter absolutamente nenhuma privacidade e ser muito feliz. Este fato por si só deveria preocupar todos os leitores.
Quer discutir o Fórum Econômico Mundial? 
Para muitos, tenho certeza de que as CQMs soam incrivelmente legais. Mas não se enganem com o nome. CQMs são na verdade “cidades inteligentes”. Como observei em outro lugar, a palavra “inteligente” é apenas um sinônimo de vigilância. Essas monstruosidades ultramodernas e saturadas de tecnologia usam centenas de milhares de sensores para coletar grandes quantidades de dados pessoais. As políticas do Fórum Econômico Mundial estão sendo implantadas atualmente em cidades como Barcelona, Espanha; Bogotá, Colômbia; Melbourne, Austrália; Paris, França; e o deserto distópico conhecido como Portland, Oregon. O que essas cidades têm em comum? Tecnologia de vigilância.
Entre agora e 2040, prevê-se que cidades em todos os Estados Unidos (e além) gastem trilhões de dólares na instalação de câmeras adicionais e sensores biométricos. Claro, a vigilância é ruim agora. Mas, como Randy Bachman admiravelmente vociferou, você ainda não viu nada.
Até 2050, mais de dois terços da população mundial viverá em centros urbanos vigiados de perto, como ratos glorificados em gaiolas apertadas. Ao contrário da crença popular, não vivemos mais em uma sociedade panóptica. Quando Jeremy Bentham, filósofo e teórico social inglês, apresentou a ideia desse sistema prisional, não havia Internet. Na verdade, nem havia carros. Agora vivemos em um mundo pós-panóptico um panóptico digital, se você preferir com enormes plataformas de mídia social coletando dados pessoais do usuário, antes de vendê-los ao maior lance.
As empresas que administram essas plataformas costumam trabalhar em estreita colaboração com funcionários do governo, identificando supostos pecadores e punindo-os da maneira mais rápida possível. Como observou a escritora Kylie Lynch, essas empresas sabem absolutamente tudo sobre você; elas têm acesso instantâneo ao histórico do seu navegador, sua atividade online e agora, de forma bastante preocupante, até mesmo sua biometria. Não surpreendentemente, essas grandes empresas de tecnologia terão um grande impacto nas CQMs do futuro, fornecendo a infraestrutura digital subjacente necessária para nos monitorar e garantir o total cumprimento das leis.
CQMs são lobos em pele de cordeiro. Não acreditem nas incontáveis histórias que dizem o contrário. Tornou-se comum a grande mídia elitista zombar daqueles que se atrevem a questionar as narrativas “nós queremos ajudar vocês”. Já nos ferramos muitas vezes antes.  
 
 
NOTAS EXPLICATIVAS DE TRADUTOR  
 
¹ Para controlarem os surtos de COVID-19, os governos introduziram lockdowns, isto é, confinamentos ou bloqueios para impedir que uma emergência de saúde pública saísse do controle. Em um futuro próximo, o mundo pode precisar recorrer a bloqueios novamente desta vez para enfrentar uma emergência climática. 
Alterações nas geleiras do Ártico, incêndios florestais no Oeste dos EUA e em outros lugares, e vazamentos de metano no Mar do Norte, tudo são sinais de alerta de que estamos nos aproximando de um ponto crítico nas mudanças climáticas; para proteger o futuro da civilização, serão exigidas intervenções dramáticas. 
Sob um “bloqueio climático”, os governos limitariam o uso de veículos particulares, proibiriam o consumo de carne vermelha e imporiam medidas extremas de economia de energia, enquanto empresas exploradoras de combustíveis fósseis teriam que interromper a perfuração. Para evitar esse cenário, devemos reformular nossas estruturas econômicas e fazer o capitalismo de maneira diferente.
² Big Data é o termo em Tecnologia da Informação (TI) que trata de grandes conjuntos de dados que precisam ser processados, armazenados e analisados. O conceito de Big Data se iniciou com 3 V's: Velocidade, Volume e Variedade. O volume de dados gerado atualmente é gigantesco. Todos os dias bilhões de novas informações são geradas globalmente. Imagine todos os Apps, Sistemas, TVs, celulares, aparelhos com IoT (Internet das Coisas) que estão agora capturando, processando, armazenando e analisando novos dados...
³ QAnon é um movimento político descentralizado de extrema direita enraizado em uma teoria da conspiração que defende que o mundo é controlado pelo “Deep State”, uma seita de pedófilos adoradores de Satanás, e que o ex-presidente Donald Trump é a única pessoa que pode derrotá-lo. 
TL;DR são letras iniciais de "too long; did'nt read", significando em português longo demais; não li, denotando nosso comodismo. A um longo texto preferimos seu resumo.
Grande Irmão, personagem dominador da sociedade, cujo rosto ninguém viu, sendo então uma figura abstrata, representante de qualquer líder político com atitudes ditatoriais; expressão retirada de um personagem do romance 1984, de George Orwell, reavivada recentemente com a criação do espetáculo, criado na Holanda e logo difundido, denominado reality show, o qual, embora sem referência direta àquele personagem, foi logo a ele associado, tendo sido esse o título que o show recebeu no Brasil. 
No texto, Grande Irmão é usado no grau comparativo (Mais do que Grande Irmão).
The Great Reset, em inglês, é o nome dado à 50ª reunião anual do Fórum Econômico Mundial, realizada em junho de 2020. Reuniu altos líderes empresariais e políticos, convocados pelo então Príncipe de Gales, Charles, e pelo diretor do Fórum, Klaus Martin Schwab, para tratar do tema da reconstrução da sociedade e da economia de forma mais sustentável, após a pandemia de COVID-19. O principal conselheiro do Fórum e braço direito de Schwab é o historiador trans-humanista Yuval Noah Harari, que se declara "vegan-ish" (vegano flexível), defende que os seres humanos não possuem alma, são animais hackeáveis e seu livre arbítrio como o conhecemos já está ultrapassado.
 


VI. BIBLIOGRAFIA
 

DEUTSCHE WELLE. Cidade dos 15 minutos: utopia ou projeto viável?, edição de 20/3/2023.
 
ELLINIKIAFIPNISIS.BLOGSPOT.COM. Membro do Parlamento Europeu adverte: As Cidades de 15 minutos significam completo empobrecimento e escravidão das pessoas.

VERMA, Saumya: What is a 15-Minute City? Exploring the Benefits, Limitations & Examples
Link: https://www.novatr.com/blog/fifteen-minute-city
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THE EPOCH TIMES. Big Lies, Big Data, and the Rise of Bigger Brother por John Mac Ghlionn, edição de 3/3/2023.
 
_______________. 15-Minute Cities Are ‘Complete Impoverishment and Enslavement of All the People’: EU Lawmaker: EU parlamentarian Christine Anderson on new residencial model being pushed in Europe, edição de 6/6/2023.
 
THE GUARDIAN. In Praise of the '15-minute city' - the mundane planning theory terrifying conspiracists por Oliver Wainwright, edição de 26/2/2023.
 
WIKIPEDIA. Cidade de 15 minutos
 
WORLD ECONOMIC FORUM. The surprising stickiness of the "15-minute city".
Link: https://www.weforum.org/agenda/2022/03/15-minute-city-stickiness/ 
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