quarta-feira, 29 de julho de 2020

SACERDOTE REPROVOU FIEL PORQUE USAVA MÁSCARA DENTRO DA IGREJA



Por Francisco José dos Santos Braga
Responsável pela tradução de trechos do trabalho diretamente do original grego
Templo da Santa Paraskeví em Milochóri, Eordéa

Viralizou nas redes sociais gregas um incidente sem precedentes, em que figuram como protagonistas o monge Inácio e uma senhora de 74 anos que não teve seu nome revelado. Devo informar ao leitor que na data de hoje (29/07/2020) e de acordo com os dados oficiais divulgados pelo governo grego, “nas últimas 24 horas não foram registradas novas mortes. Consequentemente, o número de mortes por complicações por coronavírus na Grécia desde o início da pandemia permaneceu em 192.” E esse fantástico resultado tem sido obtido apesar do turismo liberado e da frequência livre e despreocupada nas praias gregas!

Em 19/07/2020, a igreja da Santa Paraskeví em Milochóri, Eordéa, estava comemorando a festa da santa padroeira. O sacerdote oficiante, monge Inácio, que celebrava a liturgia divina (ou missa), percebeu que certa senhora idosa usava uma máscara entre os fiéis que haviam chegado à igreja. Imediatamente interrompeu a liturgia dizendo: “Não quero carnaval dentro da minha igreja! Carnaval não é quem usa máscara?
E acrescentou: “É sagrado o espaço dentro da igreja, máscaras não são necessárias. Aqui mora Deus. Deus cura. A máscara é uma afronta ao espaço sagrado da igreja.
A pronta reação do monge Inácio foi dirigida a uma mulher de 74 anos a única dentro da igreja que usava uma máscara de proteção contra o coronavírus durante o ofício divino, na manhã do domingo, dia 19 de julho p.p.
Segundo as informações da kozanimedia.gr, que cobriu o incidente, a senhora recusou-se a sair, apesar de certa insistência do sacerdote, enquanto a atitude dos outros fiéis causou espécie, pois não houve reação dos fiéis às palavras pronunciadas pelo monge em questão.
A reação da filha da senhora foi imediata, com o seguinte post na sua conta pessoal no Facebook:
"Então, para esse “padre" que, com abundante grosseria e arrogância, chamou minha mãe de 74 anos de carnaval porque escolheu uma pessoa atenciosa e responsável por usar uma máscara no serviço litúrgico de hoje, alguém diga a ele que eu também lhe pago trabalhando duro e cumprindo regularmente minhas obrigações fiscais e ele está ali para compartilhar o amor de Deus com as nossas almas e vidas. E também diga a ele que a casa de Deus da qual ele expulsou minha mãe hoje é um lugar onde almas, mentes e personalidades como a dele não devem se aproximar... apenas vergonha e tristeza... Idade Média."
Em 27/07/2020, na kozanimedia.gr, a sra. Dímitra defendeu o monge postando o seguinte comentário: “(...) No templo de Deus, e com a sagrada comunhão é concedida a nós indignos a cura das almas e corpos. Seria mais correto esclarecer isso no nosso próprio íntimo e com a ajuda de nosso lado espiritual, e parar de "frequentar" lugares sagrados com má intenção, para provocar tentações nos irmãos, tanto pelo costume quanto pelo dia (da padroeira). O resto são simplesmente pretextos para os pecados. P.S. Pela mesma lógica, você não vai a Cristo de maiô ou bermuda, assim como não usaria um maiô para procurar emprego ou encontrar-se com uma autoridade. Mais uma vez, é óbvia a grande queda espiritual de todos nós, sem exceção. Arrependamo-nos, irmãos, e peçamos Sua misericórdia.
E o monge continua com seu raciocínio:
Este fato, que algumas pessoas descrevem com precisão, tem um começo. Este coincide com a ditadura global que alguns ao redor do mundo estão tentando impor através da OMS. Essa ditadura global terminará com a ditadura de uma só pessoa, o Anticristo. Como os governos não podem passar algumas coisas com a democracia, então, passam-nas com a ditadura.
O monge não hesita em sustentar que “alguns dos que atestaram morte por coronavírus na Grécia receberam dinheiro para tal.
O monge Inácio, que se diz estar agindo autonomamente da arquidiocese e das instruções que ela prescreveu para o coronavírus, se referiu severamente ao arcebispo, dizendo mais ou menos que este acredita no coronavírus porque não acredita em Deus.
O assunto esquentou com as declarações do arcebispo metropolitano daquela região, Theóclito:
Critico o que o sacerdote fez ali. Ele não fez bem”, declarou.
Apesar das reações provocadas, o monge Inácio permanece fiel a seus pontos de vista.
O Blog Katochiká.gr publicou uma mensagem intitulada "Meus cumprimentos ao Pai Basílio", com um vídeo que incluiu a íntegra das palavras do muito ilustre monge Basílio Voloudákis sobre o coronavírus; parece que a atitude do monge Inácio e suas colocações sobre o tema estão alinhadas com o pensamento crítico de Basílio. Eis a minha tradução do texto da referida mensagem: “ELE (Basílio Voloudákis) é um hierarca, com consciência PLENA, com um sistema de valores e consciência que não faz idiotas, um HOMEM com vigor e humanidade, um exemplo a imitar para o clero que diz bulhufas, mas também para cidadãos comuns que consentem em silenciar e obedecer aos comandos de um regime globalizado que pratica políticas de violação dos direitos fundamentais e forma uma tirania sem precedentes. MEUS CUMPRIMENTOS.

E a polêmica sobre a reação do monge continua despertando opiniões apaixonadas entre os usuários da Internet...

Links consultados: https://katohika.gr/katohika/ta-sevi-mou-ston-patera-vasileio/

https://www.ekklisiaonline.gr/nea/o-p-vasilios-voloudakis-gia-ton-koronio/

https://kozanimedia.gr/archives/505471#.Xx_5rh17mu4

https://ilarissa.gr/news/greece/ta-prota-logia-tou-ierea-gia-to-peristatiko-me-tin-pisti-ke-ti-maska-pagkosmia-diktatoria-tou-antichristou-o-koronoios

terça-feira, 28 de julho de 2020

NOVA DIRETORIA TOMA POSSE NO DIA EM QUE A ACADEMIA DIVINOPOLITANA DE LETRAS CELEBRA SEU 56º ANIVERSÁRIO DE PROFÍCUA EXISTÊNCIA


Por Francisco José dos Santos Braga



Com sessão solene no plenário da Câmara Municipal no dia 9 deste mês de junho, a Academia Divinopolitana de Letras comemorou os 56 anos de sua fundação, recebendo autoridades municipais, parceiros e a comunidade em geral. Na oportunidade, a abertura esteve a cargo do cerimonialista Sílvio França, o qual anunciou aos Acadêmicos e convidados presentes que a Academia Divinopolitana de Letras estava celebrando, naquela data, juntamente com a solenidade de posse de nova Diretoria para o próximo mandato, o 56º aniversário de fundação do Sodalício, motivo de duplo congraçamento. 

Inicialmente, o cerimonialista leu inúmeras mensagens de apoiadores e apreciadores  cumprimentando a ADL por sua ação cultural desenvolvida em prol de Divinópolis, a saber: do Deputado Domingos Sávio, presidente do PSDB de Minas Gerais; do Vereador Adair Otaviano, presidente da Câmara Municipal de Divinópolis; da atriz e Acadêmica honorária Cidah Viana; da Acadêmica honorária Maria da Conceição Aparecida Maciel.

A seguir, convidou todos os presentes a se colocarem de pé para a execução do Hino Nacional Brasileiro e do Hino de Divinópolis, com a participação cívica de todos.

Em seguida, convidou o cantor Walter Caetano a abrilhantar com alguns números musicais aquela solenidade de grande importância para a cultura e as artes de Divinópolis. O barítono divinopolitano solou Va Pensiero de Giuseppi Verdi, Nella Fantasia, canção que consta de um álbum de Il Divo, e uma canção sobre Deus com letra e música de um compositor, seu amigo de Divinópolis. O cantor foi muito aplaudido ao final de sua apresentação.

Após esses números musicais, Sílvio França convidou o Presidente João Carlos Ramos a tomar seu lugar na Presidência da Mesa. Tomando da palavra, o presidente convocou o secretário a fazer a chamada dos Acadêmicos da ADL pelo nome, a que deviam responder com a Cadeira que ocupam, o seu Patrono e o Acadêmico antecessor, se for o caso.

Concluída essa etapa, o presidente João Carlos Ramos passou a palavra ao orador oficial da noite, o Prof. José Dias Lara, cuja fala relembrou os primeiros tempos da Academia, bem como o entusiasmo dos seus fundadores, e enalteceu os resultados alcançados pela atual Diretoria, apesar das dificuldades financeiras enfrentadas.

Concluída a oração oficial, o cerimonialista convidou o secretário Joaquim Medeiros de Oliveira a ler a ata de posse do novo presidente eleito, o Prof. Dr. Fernando de Oliveira Teixeira, para o mandato anual da ADL.

Por conseguinte, foi dada posse à Diretoria para o mandato 2017-2018, com a seguinte composição:
Fernando de Oliveira Teixeira, presidente; 
José Raimundo Batista Bechelaine, vice-presidente; 
Flávio Ramos de Assis Pereira, secretário geral; 
Ernane Reis Gonçalves, primeiro secretário; 
Maria Aparecida Camargos Freitas, segunda secretária; 
Márcio Zacarias Lara, primeiro tesoureiro; 
Waldemar Rosa Ferreira, segundo tesoureiro; 
Elizeu Ferreira, Joaquim Medeiros de Oliveira e Ruy Franca, titulares do Conselho Fiscal; 
Manoel Ferreira do Amaral, Marco Antonio Pinto e Francisco José dos Santos Braga, suplentes do Conselho Fiscal.

Tendo dado posse ao novo presidente, o agora ex-presidente João Carlos Ramos foi convidado a pronunciar seu discurso de despedida da função da Presidência que ocupou por dois mandatos, que foi proferido com enorme emoção, verbis:

Exmo. Sr. Presidente eleito da Academia Divinopolitana de Letras, Fernando de Oliveira Teixeira.
Vice-Presidente eleito José Raimundo Batista Bechelaine.
Confrades e confreiras.
Autoridades presentes.
Senhoras e senhores! 
       Boa noite!


Ex-presidente João Carlos Ramos discursando / 
Crédito: Augusto Ambrósio Fidelis

Sinto-me feliz e honrado por pertencer à Academia Divinopolitana de Letras, onde ocupo a cadeira de número 15, cujo patrono é Humberto de Campos, e a antecessora, Nylce Mourão Gontijo. Empossado em 2017 como acadêmico efetivo, após 8 anos, em 2015, fui elevado à categoria de Presidente, após ocupar vários cargos em várias diretorias. Por dois mandatos consecutivos, cumpri a nobre missão de presidir a famosíssima ADL. Foi um grande desafio tal responsabilidade, sabendo da grandiosa importância que ela representa para Divinópolis e para o mundo.
A ADL foi fundada em 1961 pelos quatro pioneiros: Jadir Vilela de Souza, Sebastião Bemfica Milagre, José Maria Álvares da Silva Campos e Carlos Altivo, completando hoje 56 anos de fundação, sendo sempre honrada pelos seus sucessores na escalada do sonho real. 
Ao ser empossado nas duas ocasiões, meu discurso foi altamente inflamado, no sentido de engrandecer ainda mais a instituição de mérito, prometendo garra e determinação, rumo ao êxito total. O resultado foi parcial, reconheço com humildade, mas satisfatório à luz do bom-senso. Abateu-se sobre o País a maior crise econômica de todos os tempos e afetou o empresariado e a população em geral, gerando impossibilidades, quanto a patrocínios, com raras exceções como a parceira inesquecível, a GERDAU. Por outro lado, nós nos intimidamos no processo de procura insistente, numa atitude de prudência, diante da amarga realidade. Sem nenhuma remuneração presidencial, mas eventualmente, onerando o próprio bolso, realizamos nas duas gestões: 31 reuniões oficiais, sendo: O CHÁ DAS 5, em cinco ocasiões, com sucesso absoluto, em estilo de primeira grandeza. Realizamos a cerimônia de entrega do TRÓFEU ORFEU, sob a presidência organizacional do competentíssimo Vice-Presidente, jornalista Augusto Ambrósio Fidelis. Na oportunidade, homenageamos artistas, intelectuais e os segmentos jornalísticos e empresariais que apoiaram altruisticamente a ADL. Sem sombra de dúvidas, a visibilidade da ADL aumentou significativamente com a entrega do referido Troféu, abrindo as portas da percepção do poder público e do empresariado no tocante à valorização dos cidadãos e cidadãs da terra do divino. 
Todos os imortais são mortais, antes de tudo, e por isso é com imensa saudade que nos recordamos  daqueles que foram arrebatados pelo além. Faleceram em nossos dois mandatos: 
1 -  Osvaldo Domar: renomado professor e historiador de Carmo do Cajuru;
2 -  Guilherme Sanches, músico famoso e ferroviário aposentado;
3- Zoroastro Ferreira de Andrade: empresário de sucesso, memorialista e poeta de alto nível; 
4 - João Augusto Dias: militar de alta patente e memorialista de peso.
5 - Antônio Lourenço Xavier: poeta dos mais sensíveis que deixou familiares e amigos em prantos.
Vale ressaltar que também tivemos a partida da esposa do acadêmico Mercemiro de Oliveira Silva, o fiel escudeiro da ADL e da irmã do historiador Ruy Franca, Eliza Franca. Somente a cadeira de Antônio Lourenço Xavier permanece vaga, deixando nesta data 39 cadeiras ocupadas. Em memória dos saudosos acadêmicos, organizamos em alto estilo a "NOITE DA SAUDADE" na Biblioteca "Ataliba Lago", entre lágrimas e felizes recordações. 
Tivemos ainda a oportunidade de nos reunir com autoridades de todas as esferas do poder, na expectativa de apoio à construção da sede própria da ADL. Lançamos sementes em terra fértil e aguardamos que  o presidente eleito colha os frutos, com apoio de sua equipe altamente selecionada. Vale ressaltar minhas homenagens e agradecimentos a todos os que me fizeram feliz na trajetória presidencial. Agradeço a todos os acadêmicos efetivos que me apoiaram, elegendo-me e me auxiliando a carregar o peso da responsabilidade. Dentre todos, destaco as luzes intensas na hora mais escura:
• do Secretário Geral, hoje sendo empossado Presidente Fernando de Oliveira Teixeira; 
• do Vice-Presidente que se despede do cargo, o jornalista de mérito Augusto Ambrósio Fidelis; 
• do Acadêmico Francisco Braga, grande maestro  e intelectual, honrosamente empossado em nossa Arcádia durante meu segundo mandato; 
• da ex-Vice-Presidente Maria Conceição da Cruz, mulher culta e de grande peso moral e intelectual; 
• da ex-estagiária Marcelle Costa, testemunha ocular de lágrimas e júbilos;
• da Acadêmica Honorária Maria da Conceição Aparecida Maciel pelo imensurável apoio, em cuja pessoa  agradeço sobremaneira à GERDAU;
da Cidah Viana, também Acadêmica Honorária, a maior divulgadora da ADL, através do teatro, de que é mestra incomparável. 
Agradeço também aos cantores, músicos, decoradores, profissionais liberais, artesãos e aos jornalistas Sílvio França, Samuel do Vale e Flávio Ramos atuantes como mestres-de-cerimônia. Agradeço de forma especial à Câmara Municipal, na pessoa do presidente Adair Otaviano e do seu antecessor Rodrigo Kaboja, bem como ao atual representante do Poder Executivo e ao antecessor, pelo apoio possível. Outros apoiadores, sintam-se agradecidos.
Ao encerrar o meu discurso, relembro o que disse Benjamim Constant, após a assinatura da Lei Áurea: "Eu trouxe os meninos cegos de minha escola para verem este dia."
Também relembro o oficial inglês que pegou uma flor perto do trono de Isabel, a Redentora, e disse: "Levarei essa flor para o meu país para mostrar que no Brasil a abolição aconteceu entre flores, enquanto lá custou tanto sangue."

Foto geral dos Acadêmicos presentes à transmissão de posse da Diretoria - 
Crédito: Rute Pardini Braga


A transição é bela e pacífica. O poder é passageiro. Preciso descer nesta estação. O último apito soou em um show de democracia no dia da eleição.
Obrigado, ó  Deus! Obrigado a todos! Um abraço!...

Por fim, ouviu-se o discurso emocionado do novo Presidente da ADL, Dr. Fernando de Oliveira Teixeira, que agradeceu a todos os confrades a sua recondução ao distinto cargo, o que muito o orgulhava.

sábado, 18 de julho de 2020

ARQUEOLOGIA APELA PARA AÇÕES DE PROTEÇÃO AOS MONUMENTOS


Por Francisco José dos Santos Braga


O Anuário da Escola Arqueológica Italiana de Atenas e das Missões Italianas no Oriente é uma publicação periódica de grande interesse de arqueólogos de todo o mundo. Em 2014, a edição da Revista (constituindo o volume XCII, série III, 14) foi comemorativa, em homenagem aos cem anos que o Anuário vinha circulando. Em vista do acontecimento um século de publicação ininterrupta do Anuário a redação da Revista comemorou com o anúncio abaixo, conforme nossa tradução para o português: 
Por ocasião da publicação do volume do Anuário que data de 2014, portanto, cem anos após a primeira edição de 1914, pedimos a um grupo de colegas competentes que expressasse um breve julgamento sobre a nossa Revista. Publicamos os comentários e augúrios de uma atividade sempre profícua e agradecemos sinceramente a todos os que quiseram nos honrar com suas mensagens.¹
Entre as ricas mensagens vindas de especialistas de diversos países encontramos duas que nos chamaram a atenção: a de uma brasileira, Maria Beatriz Borba Florenzano, professora titular de Arqueologia Clássica e do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, à página IV, e a de um francês, Alain Schnapp, professor emérito de Arqueologia Grega da Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne, à página VIII.

A contribuição da professora brasileira versa sobre a importância de um trabalho daquela envergadura após um século de conquistas, que avalia da seguinte forma:
“O Annuario della Scuola Archeologica di Atene e delle Missioni Italiane in Oriente completa com este volume 100 anos! Posicionado entre os melhores periódicos de Arqueologia Mediterrânica, oferece um espaço fundamental tanto para a divulgação de alto nível das mais recentes descobertas arqueológicas quanto também para o debate científico que muito contribui para o avanço do nosso conhecimento sobre o Mediterrâneo antigo.
Neste sentido, não é demais lembrar as importantes contribuições que o Annuario vem dando ao divulgar os importantes resultados de seus trabalhos sobre Atenas, sobre a arqueologia de Esparta e sobre as escavações mais recentes em Lemnos. Sem contar, é evidente, com a continuidade dos importantes estudos sobre a Arqueologia de Creta, com destaque para Gortina.
O Annuario é, hoje, um reflexo da vitalidade da Scuola Archeologica Italiana di Atene nas suas duas principais vertentes: a de ampliação constante da pesquisa arqueológica e da capacitação de quadros competentes em Arqueologia.
No Brasil, estudantes e pesquisadores nessa área, acompanham com grande interesse as publicações do Annuario que nos mantêm atualizados e que nos incitam à reflexão.
Por isto, ao mesmo tempo que parabenizamos a Scuola Archeologica Italiana di Atene pelo centenário da Revista, fazemos os votos que ela continue sendo publicada regularmente, quem sabe, por mais cem anos!”

A contribuição do professor francês, em nossa tradução para português, é um verdadeiro panfleto e tem título: CONTRA OS FILISTEUS! Por filisteus, entenda-se "indivíduos rudes de gosto vulgar, fechado às artes e às letras, bem como às novidades". Sem mais preâmbulos, vamos ao texto do especialista francês:

CONTRA OS FILISTEUS!

“O velho combate dos Românticos contra todas as formas de agressão à cultura parece jamais ter fim. Na hora em que monumentos arqueológicos são destruídos porque encarnam a diversidade cultural, em que arqueólogos são assassinados porque tentam velar sobre sítios que exploraram ao longo de toda a sua vida, é desencorajante assistir ao triste espetáculo da imperícia dos Estados e das instituições culturais face a esses comportamentos. Desde as devastações antigas de Ur e da Suméria até a dos Budas de Bamyan, passando pelas canhonadas de Morisini sobre a Acrópole ², a gente imaginava tudo isso ter chegado ao fim, mas a guerra que se tornou endêmica no Oriente Próximo, e que se espalha, é carregada de novas ameaças.



Catánia, Antiquário do Teatro. Estátua de Leda com o cisne, encontrada no Teatro (© foto G. Fragalà) 
Já no século XIII no Cairo, um antiquário conhecido como al Idrîsî denunciava a injúria feita às pedras como uma violência contra o espírito: 
Quando eu me lembro dos acontecimentos do tempo e dos episódios do passado, retorna à minha memória que, em companhia de meu imortal pai, chegamos ao templo de Luxor sobre o Nilo, quando voltávamos das aldeias de Sama e Tana. Naquela época a mão da destruição não tinha ainda atingido os relevos desse templo que o passar do tempo tinha deixado intactos, e, sobre as placas de pedra de suas paredes, as inscrições não tinham sido apagadas. Esse templo figura entre os mais espaçosos e possui as paredes mais altas e sublimes. Mas me assustou a queixa dolorosa das pedras atacadas pela machadinha dos quebradores de pedras. As imagens ameaçadoras do templo nos sugerem assim a gente gostaria de pensar dor e lamentação sobre a terrível sorte que lhes adveio (da mão dos destruidores). Meu pai me disse: "meu filho, veja o que os Faraós construíram, e como esses tolos o destruíram! Causa-me pena e me preocupa a única destruição de todo o saber que visitantes atentos retiram dessas inscrições, e todos aqueles que são capazes e aptos a recebê-lo. Se tivesse o poder, impediria esses imbecis de terminar sua obra de destruição! Pois, que sabedoria desaparece da terra com eles! As éguas dos companheiros do Profeta, que Deus lhes conceda sua graça, depois que haviam conquistado o Egito e avançaram na direção da Etiópia, não pisaram este solo e não perambularam neste país? E esses homens de mérito viram com seus olhos todos esses monumentos e não estenderam a mão para destruí-los. Eles deixaram-nos de pé como uma advertência a todos os que querem se instruir e mantêm seus olhos abertos, e como uma lembrança para todos os que sabem e se informaram. ³
Sob a agressão do choque por que passou face às construções selvagemente destruídas, al Idrîsî simplesmente inventou uma ética da responsabilidade que prefigura o que Riegl chamou o culto moderno dos monumentos. Folheando os números do Annuario della Scuola Archeologica di Atene, nós participamos, sem o sabermos, desta cadeia ininterrupta de respeito e de estudo das obras do passado. Neste momento em que as boas almas contestam o abandono das línguas antigas ou inventam procedimentos de proteção e de gestão do patrimônio arqueológico, tão complexos que é impossível impô-los, o Annuario estabelece um ponto entre passado e futuro, e oferece-nos uma ferramenta incomparável para acessar diretamente a cultura da Grécia antiga nas suas dimensões tanto arqueológicas quanto antropológicas. O ilustre Manuele Crisolora tinha dado a seguinte definição do saber arqueológico:
naquelas obras (as estátuas de Roma) pode-se observar tudo como se se vivesse naqueles tempos e entre os diversos povos, de sorte que elas constituem uma espécie de história que descreve tudo com uma completa precisão. Trata-se, com efeito, não de uma obra histórica, mas, por assim dizer, quase de uma visão direta (autopsia) e de uma presença efetiva (parousia) de tudo o que, naqueles tempos, se desdobrava em todo lugar.
Desejamos vida longa a este ágalma único que é o Annuario.
Alain Schnapp
Professor Emérito de Arqueologia Grega
Universidade de Paris I Panthéon-Sorbonne



NOTAS EXPLICATIVAS



¹ In occasione della pubblicazione del volume dell’Annuario che reca la data del 2014, dunque cento anni dopo il primo numero del 1914, abbiamo chiesto a un gruppo di autorevoli colleghi di esprimere un breve giudizio sulla nostra Rivista. Pubblichiamo i commenti e gli auguri per una sempre proficua attività e ringraziamo di cuore tutti coloro che hanno voluto onorarci con i loro messaggi.

²  Em 1687, as Cariátides foram atingidas por tiros e destroços quando o Pártenon sofreu seu maior dano. Os venezianos, liderados por Francesco Morosini, atacaram Atenas e os otomanos usaram a edificação como paiol de pólvora. No dia 26 de setembro, um canhão veneziano, disparado da colina de Filopapo, acertou no paiol e o Pártenon foi parcialmente destruído.
Uma das seis Cariátides foi removida por Lorde Elgin, no século 19 e hoje está no British Museum. As outras cinco foram removidas do Erecteion em 1979, para protegê-las contra a poluição do ar e da chuva ácida, e foram substituídas por cópias.
Demorou cerca de sete meses para limpar cada uma das estátuas, esculpidas em tamanho natural em torno de 420 a.C. e que se encontram no Museu da Acrópole. O trabalho começou em 2011 e foi concluído em 2014. “O processo removeu toda a poluição, a fumaça e tudo o que se estabeleceu nas estátuas por mais de um século, deixando intacta a pátina, essa cor laranja que as estátuas ganharam com a passagem dos séculos”, disse Pantermalis, diretor do Museu.
Embora os exemplos mais antigos de pilares na forma humana da Grécia datem de um século mais tarde, as Cariátides são os mais famosos de sua espécie e foram amplamente imitadas desde os tempos romanos à revitalização clássica da Europa.
Link: https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/cariatides-no-museu-acropole/

³  HAARMANN, Ulrich: ‘Luxor und Heliopolis. Ein Aufruf zum Denkmalschutz aus dem 13ten Jahrhundert n. Chr.’, MDAI, Abteilung Kairo 40, 1984, 156.

  MALTESE, Enrico & CORTASSA, Guido: Roma parte del cielo, confronto tra l’antica e la Nuova Roma di Manuele Crisolora, Torino, 2000; Maltese 2000, 65-66 ss 10 et 11, Patrologia Greca, 156, col 28.