quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

LEMBRANÇAS SAUDOSAS DO AMIGO-IRMÃO NILTON GOMES PAZ


Por Francisco José dos Santos Braga
 
Nilton Gomes Paz (✰ 30/8/1941 Criciúma ✞ 26/12/2022 Tubarão) - Foto tirada em 24/12/2022 / Crédito pela foto: filha Evolyn.

"Artigo memorial dedicado a meu amigo-irmão Nilton Gomes Paz,  esposo amante de Lena, pai amoroso de Evolyn, Everton, Karin e Mila; avô carinhoso de Tally e Maria Augusta; Marco Antônio, Caio César e Lavínia; Gabriel; e Igor e Tiago; bisavô extremado de Loan e Oceane."

 

1974, janeiro: Confiro uma relação de matriculados para o CPM-Curso Preparatório para o Mestrado e constato que meu nome consta da relação. O CPM foi um curso que a EAESP-Fundação Getúlio Vargas ofereceu durante aquele primeiro semestre de 1974, visando propiciar, tanto aos estudantes diplomados em faculdades afins à Administração de Empresas (Economia, Direito e Engenharia) quanto aos professores de Administração de Universidades brasileiras necessitando reciclagem, os conhecimentos indispensáveis ao acompanhamento do seu CPM-Curso de Mestrado em Administração. Eu não era nem egresso de uma faculdade afim à Administração, nem professor universitário de Administração, mas constatei que, para minha surpresa, meu nome constava da referida relação de matriculados. Explico-me melhor: eu era diplomado em Letras, completamente "fora do ninho", mas caí nas graças da Casa e passei a fazer parte dos administradores. Foi assim que, no primeiro semestre de 1974, pus-me a dedicar-me, em tempo integral, às disciplinas oferecidas pelo CPM, aplicando em meu próprio conhecimento as economias feitas durante os anos de 1972 e 1973 como funcionário da Ciba-Geigy e Medidores Schlumberger. Resumidamente, as disciplinas que ocuparam todo o tempo dos inscritos no CPM no 1º semestre de 1974 foram: Revisão Matemática (ministrada por Prof. José Rappaport), Estatística Aplicada (Profª Lígia Siniscalco de Oliveira Costa), Análise Mercadológica (Prof. Sérgio Roberto Dias), Administração Contábil-Financeira (Prof. Frediano Quilici), Administração da Produção (Prof. Claude Machline) e Microeconomia (Prof. Eduardo Suplicy). Se a memória não me trai, éramos uns 60 estudantes matriculados no CPM, na ocasião em que eu contava com 25 anos de idade. Procurei relacionar-me bem com todos, mas, depois de algum tempo, percebi que estava mais envolvido com colegas do Sul brasileiro, nomeadamente: Adelar Francisco Baggio (Ijuí-RS), Oscar Malvessi, Renato Marchetti, Pauletti, Ariolli, Mauro Boscardin, James Pavan e Afonso José de Matos (Caxias do Sul-RS); Nilton Gomes Paz e Jaime von Loch (Criciúma-SC); Jair Poeiras Assunção (Londrina-PR) e Paulo Roberto Maia Cortes, o "Buda" (Curitiba). Exceção seja feita a Oldemar Santos Filho, que é mineiro de Montes Claros e meu dileto amigo há 47 anos. Mas, se puder contar tudo, afeiçoei-me mais ao Nilton Gomes Paz, ao Oscar Malvessi e ao "Buda", que se tornariam meus amigos mais próximos. 

Quanto ao primeiro, Nilton, ele costumava chegar um pouco antes do início da aula e escrever com o giz num dos cantos do quadro: "Visite Forquilhinha, terra do Jaime von Loch", que, pelo que sei, deve ser um município vizinho de Criciúma. "Estando em Criciúma, não deixe de conhecer o primeiro metrô do Brasil". Explicou-nos Nilton que se tratava de um sistema subterrâneo de extração do carvão, através de canais, por onde se drenava o carvão das minas, operação que era originalmente feita por uns carros de rolimã, espécie de "trolleys" ou "vagonetas" mais tarde motorizadas, que o transportavam do subsolo para cima. 

A respeito de Nilton Gomes Paz, devo começar por informar que ele era muito acolhedor, tendo me recebido como alguém da família em suas duas residências em São Paulo: inicialmente, no pequeno apartamento de um prédio próximo à FGV; logo depois, num apartamento bem mais amplo na Alameda Franca. Como sua esposa Lena era excelente cozinheira, muitas vezes fui convidado para partilhar da sua arte culinária. Nessas ocasiões, brindávamos à saúde da família dele com uma pinga com zimbros que ele trazia de Criciúma, sua terra natal. A pequena família era então constituída do casal Nilton e Lena, e dos filhos Evolyn, Everton ("Lilo") e Karin. Algum tempo depois, o casal foi agraciado com o nascimento de Mila, linda garotinha que nasceu em um hospital paulistano e precisou de muitos cuidados médicos por certo período. Esse foi um momento muito difícil para a família que ansiava pelo convívio com a garotinha. Finalmente, puderam levá-la de vez para casa, saudável e esbanjando alegria por todo o apartamento. 

Nilton e sua Lena, grande amor de sua vida - Crédito: filha Evolyn
 

Registro do casamento de Nilton e Lena - Crédito: filha Evolyn
 

Sobre o Nilton é até difícil enumerar suas inúmeras qualidades e competências, todas desenvolvidas entre os anos de 1974 e 1979, enquanto viveu em São Paulo. Inicialmente é preciso dizer que, dadas as suas facilidades de comunicação e de fazer amigos e conquistar pessoas, era alguém mais predisposto à área de marketing e publicidade; no entanto, ele escolheu a área contábil-financeira, como eu também, provavelmente por constituir um desafio maior para nós, exigindo mais adrenalina de ambos. Devo confessar que Nilton se destacava de qualquer um de nós pela sua capacidade de comunicar-se, fazendo-se agradável através de sua conversa afável e repleta de expressões regionais e ditos chistosos que traziam sorriso à face de todos os seus ouvintes. Tinha o dom de ser contraparte em qualquer roda, conseguindo que seus interlocutores se adaptassem ou correspondessem perfeitamente em relação a seu propósito. E isso ele obtinha com enorme naturalidade, sem "forçar a barra" — como se diz para agradar. 

Outra característica do Nilton é que ele imediatamente conseguia fazer amizade com seus professores, especialmente com os da área do Departamento COFINCO ou CFC (Contabilidade, Finanças e Controle) e pessoas influentes na estrutura administrativa da FGV. Foi assim que levou diversos professores a Criciúma (João Carlos Hopp, Frediano Quilici e Evaristo) para o hotel da família de sua esposa Lena, cujo nome não me lembro mais, sem qualquer custo para esses hóspedes. Eu próprio, quando professor horista da FGV, cheguei a hospedar-me ali a seu convite. Também esteve no hotel de Criciúma, a convite de Nilton Gomes Paz, Reinaldo Magri, Diretor Administrativo e de Benefícios da FGV naquele meado da década de 70, tido como intermediário importante entre a FGV do Rio de Janeiro e a EAESP-FGV, que era considerado pessoa de confiança de Luís Simões Lopes, fundador, presidente da recém-criada Fundação Getúlio Vargas em 1944, cargo que ocupou durante 48 anos, e presidente de honra da FGV (1992-1994).

1976, junho: Em 1976, durante o nosso curso de Mestrado, o chefe do Departamento COFINCO (ou CFC), prof. Dr. Antônio Luiz de Campos Gurgel, tomou a importante iniciativa de dar continuidade a uma decisão do prof. Ivan Pinto Dias 9 anos antes, que tinha decidido recrutar em agosto de 1967 um grupo de novos colaboradores para fazer parte da estrutura acadêmica da FGV no Departamento CFC. Conforme dizia, Prof. Gurgel decidiu contratar quatro novos professores horistas para ministrarem a disciplina de Contabilidade Básica para o curso de graduação em Administração de Empresas e Administração Pública, na condição de professores horistas, tendo sua escolha recaído sobre quatro mestrandos, entre vários candidatos: Nilton Gomes Paz (então funcionário do Metrô de São Paulo), Oscar Malvessi, Moisés Skitnevsky (então funcionário da Sharpe) e eu. Para nos assessorar como orientador pedagógico em nossa tarefa de ministrar a referida disciplina para alunos iniciantes, foi designado o Professor Titular do CFC, Prof. Dr. Jacob Ancelevicz (falecido em 03/12/2015 em São Paulo). Além de nosso orientador pedagógico, prof. Jacob possuía, em seu apartamento na Av. Angélica, um portfólio recheado de Letras de Câmbio de diversas empresas, possibilitando que seus amigos mais chegados — da FGV, principalmente Prof. Nilton e eu — tirássemos igualmente proveito de vantagens oferecidas por seus investimentos, o que fazíamos com certa frequência. Ele costumava repassar alguns desses títulos de crédito com certo prazo já transcorrido, quando tínhamos algum excedente de caixa, passando para nós sua parcela de lucro garantido até o vencimento. 

Durante a nossa estada no Departamento CFC, havia sempre a realização de Seminários internos de fim de ano para previsão de atividades da EAESP-FGV, normalmente num grande hotel sediado em Águas de Lindóia (normalmente no Hotel Majestic) ou em Águas de São Pedro. Nesses Seminários era obrigatória a participação de professores titulares e de carreira, mas excepcionalmente prof. Nilton e eu éramos convidados a comparecer pelo Diretor Administrativo e de Benefícios, Sr. Reinaldo Magri, por quem nutríamos amizade e admiração. 

1978, janeiro: Outra característica de Nilton era a sua enorme capacidade de liderança entre seus amigos mais chegados ou "comandados", companheiros de turma, entre os quais me incluía. Ele conseguia agradar a todos, distribuindo entre nós as demandas de ministrar cursos em diversas faculdades de São Paulo. Ele nos reunia em sua casa e fazia essa distribuição. Foi assim que consegui ser professor de Contabilidade com enfoque fiscal nas Faculdades Integradas Tibiriçá, instituição sediada nas instalações do Mosteiro de São Bento aos cuidados do diretor Hilário Torloni e nas Faculdades São Marcos, no bairro do Ipiranga aos cuidados do Prof. Luiz Paulo Vendramini, responsável pelo curso de Ciências Contábeis. 
 
Mas não foi apenas na FGV que ele angariou bons amigos. Enquanto funcionário  administrativo do Metrô de São Paulo (ou Companhia do Metropolitano de São Paulo), Nilton também fez amizade com um simpático rapaz chamado Wagner, que frequentou sua casa juntamente comigo. 
 
Sobre Hilário Torloni, tive muito boa impressão de conhecê-lo em companhia do prof. Nilton, que me levou até ele para sua aprovação de meu nome no corpo docente das Faculdades Integradas Tibiriçá. Ele era um homem muito respeitável, que tinha uma sala nos fundos de um corredor no 4º andar do Mosteiro, se bem me recordo. Atrás de uma grande mesa, ele nos atendeu com enorme fidalguia: era homem de prodigiosa perícia na história política brasileira e a imagem que retive dele em minha memória é a de um cavalheiro em trajes britânicos (terno com colete e gravata), pitando fumos aromáticos raros (Dunhill, Captain Black ou Borkum Riff no sabor de Bourbon Whiskey) em cachimbos seletos (Dunhill ou Savinelli). Hilário Torloni foi deputado estadual em diversas legislaturas e vice-governador de São Paulo entre 1967 e 1971, na gestão de Abreu Sodré. Já tinha publicado "Estudo de Problemas Brasileiros" (1974) pela Editora Pioneira, que projetou o seu nome nacionalmente, e ainda iria traduzir em 1984 "Anatomia do Poder" do original inglês de John Kenneth Galbraith pela mesma editora. 
 
Vou relembrar aqui um fato acontecido comigo numa das turmas das Faculdades Integradas Tibiriçá. Na minha primeira aula, na qual pretendia falar sobre o conteúdo da disciplina e seus objetivos, começou a ocorrer uma contestação à minha apresentação, liderada por um contador nissei bastante experiente que tentava saber qual era minha resposta a um tópico a ser visto futuramente. Fiquei enrolado com a pergunta e respondi qualquer coisa que não fez muito sentido para ele e para a turma. Começou um burburinho que eu não soube sufocar com minha autoridade. Fui salvo pelo gongo, ou melhor, pela campainha, que felizmente anunciava o término da aula. Procurei imediatamente o Prof. Nilton, responsável por certa disciplina que trataria da Lei 6404, de 1976, a conhecida Lei das Sociedades Anônimas. Ele me ouviu atentamente e observou: 
— Engraçado. Eu também fui encurralado por alguém que queria saber sobre um detalhe da Lei... 
— E como você reagiu?, perguntei.
— Eu respondi ao curioso que, quando eu lesse o tópico da Lei, analisaríamos detidamente o assunto. Até lá,  ele que aguardasse, que eu cumpriria a sequência do programa do curso. 
Fiquei vivamente impressionado com o seu sangue-frio e domínio sobre a turma, o oposto do que ocorrera comigo, ao perder meu controle publicamente. Eu estava envergonhado com a minha reação precipitada e muito temeroso quanto à reação da turma na próxima aula. 
Prof. Nilson não se fez de rogado: percebeu minha aflição e levou-me diretamente ao Dr. Hilário Torloni, acusando a turma de estar tramando contra a minha autoridade, já na primeira aula. Eu permaneci em silêncio, enquanto Nilton me defendia. Em seguida, Dr. Hilário Torloni pediu a minha versão dos fatos. 
O resultado foi que o diretor da Escola, atendendo o pedido de Nilton, compareceu à frente da turma na próxima aula e falou do seu apoio incondicional a mim, em sua opinião "o melhor mestre naquela disciplina", e que não toleraria daquela turma qualquer insubordinação à minha autoridade. Disse ainda que não permitiria que eu fosse interrompido por piadinhas de mau gosto, vindas de um grupo de arruaceiros e irresponsáveis. Finalmente, recomendou-me anotar o nome dos provocadores e levar imediatamente a seu conhecimento, caso o desaforo se repetisse. 
Graças ao Prof. Nilton e ao Dr. Hilário Torloni, consegui escapar do que poderia sido a maior vergonha de minha vida. Encerrando esta seção, queria dizer que sou eternamente grato a esses dois homens que me salvaram diante da turma rebelde com suas interrupções ameaçadoras. 
Sobre o Dr. Hilário Torloni, cabe ainda lembrar que ele foi o idealizador e criador da Revista "Tibiriçá" com publicações de artigos e palestras de professores da instituição ou de especialistas convidados. As edições desta revista, enquanto durou, eram aguardadas pela comunidade acadêmica por seus temas sempre bem abordados e estruturados como convém, dentro da boa técnica gráfica e editorial. 
 
Nesta mesma época, proliferavam em São Paulo alguns treinamentos corporativos para formação de executivos, a exemplo do IDORT, criado em São Paulo em 1932 por Roberto Simonsen. O prof. Nilton conseguiu sua admissão no ITDE-Instituto de Treinamento e Desenvolvimento de Executivos, com sede num prédio da Rua Peixoto Gomide, ao lado do Parque Trianon. Levou-me consigo até à direção do ITDE representada por Sr. Heitor, convencendo-o a dar-me também a oportunidade de contribuir para a formação de executivos brasileiros com palestras por todas as grandes cidades brasileiras. Nesta qualidade, conheci inúmeras grandes cidades e capitais brasileiras [Santos, Londrina (na sede do IBC), Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre]. Cada professor admitido pelo ITDE precisava utilizar na sua preleção material didático inédito de sua autoria. O meu material didático contendo explicações sobre um Fluxo de Caixa e uma Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos (D.O.A.R.) agradou comprovadamente a quantos assistiam às minhas palestras, com base nas avaliações feitas pela direção do ITDE. Deu-me grande alegria o fato de Nilton ter, com minha concordância, utilizado o meu material didático também em suas palestras com bom aproveitamento. 
 
Foi aquela época muito promissora para Nilton em que era muito requisitado por várias instituições e empresas, tendo chegado à marca de 11 firmas contratantes dos seus serviços. Além de professor da FGV, das Faculdades Tibiriçá, das Faculdades São Marcos e do ITDE, recordo-me ainda de ter sido funcionário administrativo do Metrô de São Paulo, assessor de uma transportadora catarinense e consultor da Caixa Econômica Federal em Brasília. Quanto a este último emprego, lembro que o coordenador da consultoria para a CEF era o também catarinense Prof. Alcântara da FGV, com quem Nilton tinha excelentes relações. Devido a este emprego, Nilton precisou se deslocar até Brasília muitas vezes. 
 
Sinceramente, não sei até hoje como Nilton ainda arrumava tempo para ler tantos livros sobre temas da história político-social brasileira. Certamente que essa sua curiosidade foi aguçada por certa disciplina que era oferecida no Mestrado da FGV, ministrada pelo sociólogo, escritor, ensaísta e professor do Departamento de Ciências Sociais, Maurício Tragtenberg ( Getúlio Vargas-RGS, 1929 São Paulo, 1998), que, tendo sido um estudante criterioso de Max Weber, se intessava pelos temas de burocracia, anarquismo e comunismo, tendo escrito, entre outros livros, "Administração, Poder e Ideologia". Nilton lia incansavelmente sobre problemas sociais brasileiros. Lembro-me ainda de outros autores preferidos: Raymundo Faoro, Hélio Silva, Hélio Jaguaribe, Nelson Werneck Sodré, Celso Furtado, Victor Nunes Leal, Caio Prado Júnior, Roberto C. Simonsen, Moniz Bandeira e os brasilianistas Thomas Skidmore e John W. F. Dulles. Alerto o leitor de que devo estar pecando por omissão por não estar conseguindo lembrar todas as obras constantes de sua biblioteca e lidas por ele no período. 
 
Sobre o gosto musical de Nilton, tenho ainda alguns comentários a fazer. Apreciava a voz de Maysa (em 22/01/2023 completam-se 51 anos de seu falecimento, em um acidente de carro), o piano de Johnny Alf e o gênero do tango. Recordo-me de que, certa vez, fomos a uma pizzaria no Brás, Rua do Gasômetro nº 2424, para degustarmos belas massas ao som de um conjunto de tango com solos de violino. Noite inesquecível!

Se bem me lembro, Nilton se despediu definitivamente de São Paulo no início de 1979 para assumir importante cargo na filial da CECRISA REVESTIMENTOS CERÂMICOS S.A., em Criciúma. Convidou-me para acompanhá-lo nesta nova fase de sua vida, mas eu declinei do gentil convite porque tinha sido aprovado em três concursos públicos: para Agente Fiscal de Rendas do Estado de São Paulo, para Fiscal de Tributos Federais da Receita Federal e, finalmente, para o Instituto Rio Branco. Foi, portanto, com a maior tristeza que vi meu amigo-irmão, de convivência diária por 5 anos, privar-me do seu convívio, mas estava confiante de que Deus lhe reservaria a melhor parte da vida entre os seus concidadãos e familiares. Em São Paulo, apesar de bem sucedido,  Nilton sentia-se uma ovelha desgarrada do seu rebanho. Na sua partida, lembrei-me do seu registro diário, saudoso de sua terra natal, no quadro negro da nossa sala de aula: "Visite Forquilhinha, terra do Jaime von Loch" e "Estando em Criciúma, não deixe de conhecer o primeiro metrô do Brasil". Resignado, compreendi a sua determinação do retorno às origens.
 
1983, março: Esse envolvimento profissional dele com muitas instituições e firmas acabou por prejudicar Nilton em seu trabalho de pesquisa no curso de Mestrado, impedindo-o de escrever e entregar sua monografia dentro do prazo estipulado pela FGV, que, para o nosso grupo, tinha sido prorrogado para março de 1983. Lembro-me de ter contactado meu amigo e sugerido que não perdesse este prazo estendido que a FGV graciosamente dava ao nosso grupo, mas naquela altura ele já estava ausente do meio acadêmico há cinco anos, envolvera-se com outros negócios em Santa Catarina e não manifestou interesse de obter o título de conclusão do Mestrado com a entrega de sua monografia final, requisito indispensável para a obtenção do grau de Mestre em Administração de Empresas. 
Além de Prof. Jacob Ancelevicz ter-se proposto a orientá-lo na sua monografia, ainda este e eu nos oferecemos para ajudá-lo a redigir a monografia — algo relativamente simples para nós —, mas ele terminantemente alegou estar sobrecarregado com muitos afazeres no mês de março de 1983 e não dispor de tempo para viajar até São Paulo para concluir sua monografia de mestrado. Respeitamos (apesar de lamentarmos) a sua decisão definitiva. 
De minha parte, eu tinha viajado de Brasília — onde exercia o cargo de Chefe dos Treinamentos da Receita Federal na Assessoria de Modernização, deixando como minha substituta a auditora fiscal Dione Alves — dirigindo-me a São Paulo e ali permanecendo durante todo o mês de março, para aproveitar a última oportunidade de entregar a minha monografia dentro do prazo estipulado pela FGV. 
 
Lena e Nilton, num seminário - Crédito: filha Evolyn

 
 
2003, julhoEm julho de 2003, viajei de Brasília em companhia de minha esposa Rute Pardini a Tubarão para apresentá-la à família de Nilton e para reencontrar meu amigo-irmão. Chegamos a Tubarão de surpresa e foram dias de confraternização e de belas recordações, quando tivemos a oportunidade de visitar a nova firma que Nilton tinha fundado em Tubarão: a Dehonplast, produzindo há 24 anos rótulos manga e embalagens plásticas flexíveis em polietileno e também oxibiodegradável. Essas boas emoções não se repetiram, porque no ano de 2012, partindo de nossa morada em São João del-Rei, fizemos nova viagem a Tubarão, mas, em razão de querermos fazer surpresa e por ser época de festas natalinas, a família de Nilton estava ausente, para nossa tristeza. Tinha ido passar férias em Florianópolis. Um nosso possível reencontro, muitas vezes adiado por diferentes motivos, mas principalmente pela distância, foi impossibilitado nesta nossa dimensão terrena. Nilton estava seguro de que "qualquer hora dessa, Papai do Céu virá buscar-me" na hora certa, conforme sua própria expressão, numa de suas últimas mensagens para mim por e-mail.
 
  

II. AGRADECIMENTO
 
O gerente do Blog do Braga agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas nesta homenagem fúnebre.
 

sábado, 24 de dezembro de 2022

Rute Pardini - MADRE, EN LA PUERTA HAY UN NIÑO


Por Francisco José dos Santos Braga
 


 
I. INTRODUÇÃO: AS CONDIÇÕES ECONÔMICAS E SOCIAIS DA ESPANHA NA DÉCADA DE 50 NO SÉCULO PASSADO
 
TÍTULO: O PRESENTE INACABADO
(texto baixado por izarro, publicado por SCRIBD e traduzido por Francisco José dos Santos Braga)
 
Nos lugarejos de nossa Espanha nos anos 50, no século passado e atesto isso no que diz respeito a Castela e Cantábria os "pobres" iam às casas pedir comida e pousada. Era o pós-guerra e nós, crianças, corríamos soltas pelas ruas. 
Naquela época, ainda não havia começado o declínio demográfico das populações rurais, nem o êxodo para a cidade grande. Havia famílias excepcionalmente grandes, e o amor era amassado com "pão e cebola"... 
Era também o tempo do “homem do saco”, dos “sacamantecas” ¹ ou “sacaúntos” ²; que era tudo igual, porque se tratava de não confiarmos em qualquer um, como se aconselhava a Chapeuzinho Vermelho no conto. 
Dois em cada três, vinham ondas de gitanos e ciganos, que acampavam nos arredores da cidade. Na minha, estes últimos monopolizavam a Gruta do Forno, enquanto os primeiros acampavam junto à área de vimes e avelãs do riacho Molino. Assim, enquanto reparavam uma caçarola ou panela, ou então consertavam um caldeirão, as mulheres trançavam e teciam cestos, maletas e cestas para carregar uvas. Mas com os ciganos nada era certo. Nós, crianças, não corríamos perigo, mas as galinhas sim, tão soltas quanto nós, bicando o chão das ruas. 
Junto a eles, e também por rajadas de vento, vinham os pobres soltos; alguns “santos” e outros “profanos”. Aqueles, os eremitas, vinham pedir com seu Papai Noel nas costas e, enquanto cantavam uma oração, abriam sua capelinha para que nela se enfiasse uma moeda, e o saco para guardar a côdea do pão. Os outros, os “profanos”, eram os pobres da guerra, os que tinham sido privados de quase tudo, e que tinham que ir procurá-lo de povoado em povoado. E alguns deles eram bem conhecidos de seus vizinhos. Mas, apesar de toda a mendicância que circulava pelas vilas e ruas, as cancelas de acesso ao "portal" de cada casa a maioria delas de folha dupla tinham a parte superior aberta todo o dia, e havia sempre pão para todos e paiol; este até para os mais “repulsivos... 
Ninguém pernoitava na rua nem caminhava sem um pedaço de pão. Quando a figura do "pobre" revelava seu rosto bronzeado, após dizer "Paz de Deus, senhora", a patroa deixava a obrigação doméstica e contribuía com o que encontrou. Não havia muito, porque, no pós-guerra, estávamos todos com pouco dinheiro, mas a atitude de partilhar as misérias florescia como malvas... 
Neste contexto, é difícil imaginar um menino pobre e solitário, tolhido de frio, que mal se faz ouvir atrás do vão da porta, deixando adivinhar o seu corpinho magro de mendigo... 
 
 

 

II. NOTAS EXPLICATIVAS 

 

¹  Diz-se de criminosos que, além de matarem suas vítimas, ainda lhes tiram as vísceras.

² Personagem assustador, grande e mal vestido, tal como o homem do saco. Às vezes, também é chamado de bicho-papão, em alusão a seu apetite de comer crianças.

 

III.  Trecho de EL FUNDADOR DEL OPUS DEI: SEÑOR, QUE VEA!, por Andrés Vázquez de Prada, sobre a vida de São Josemaría Escrivá de Balaguer (em tradução de Francisco José dos Santos Braga)

Extrato tirado do Tomo I, Capítulo I, Parte 2 intitulada “Aquellos blancos días de mi niñez”:


 

“(...) Suas memórias estavam especialmente ligadas às festas de Natal em casa, nas quais junto com Carmen (sua irmã) ajudava o pai a montar o presépio, cantando em família canções populares de Natal. Lembrou-se, sobretudo, de uma que dizia: "Mãe, tem um Menino à porta". A letra da canção tinha um refrão em que o Menino Jesus repetia: — "Desci à terra para sofrer." Esta canção o acompanhou do berço ao túmulo. “Quando eu tinha uns três anos — contava em família —, minha mãe cantava esta canção para mim, me pegava nos braços e eu adormecia muito feliz.” Nos últimos anos dele, ao ouvi-lo cantar esta canção na época do Natal, ele ficava comovido, imergindo todos os seus sentidos na oração.” 
 

 

III. LETRA E MÚSICA DO VILLANCICO "MADRE, EN LA PUERTA HAY UN NIÑO"

MADRE, EN LA PUERTA HAY UN NIÑO 

Letra: Anônimo 
Música: Autor ignorado 
 
Madre, en la puerta hay un niño 
Mas bello que flor de lirio. 
Cubierto de blanco liño. 
Madre, el niño tiene frio. 
 
Que venga a la lumbre 
Y se calentara, ay que en esta tierra 
Ya no hay caridad, ya no hay caridad. 
Ay, ya no hay caridad. 
 
 
MÃE, À PORTA HÁ UM MENINO

Mãe, à porta há um menino
Mais belo que flor de lírio.
Coberto de branco linho
Mãe, o menino tem frio.

Que venha à chama
E se aquecerá, ai que nesta terra
Já não há caridade, já não há caridade.
Ai, já não há caridade.
(Tradução de Francisco José dos Santos Braga)
 
Análise musical da peça "Madre, en la puerta hay un niño" 
 
Antes de analisá-la, é importante enfatizar que não existe apenas uma versão com esse título. Muitas são as versões e são propostas diferentes localidades para a sua origem. Será apresentada apenas a primeira estrofe do poema sob análise. A versão da canção que está sendo entoada pela cantora Rute Pardini tem os seguintes dados técnicos como elementos distintivos: 
Autor da letra: anônimo. 
Autor da música: ignorado. 
Obs.: Frequentemente os villancicos são canções populares que se transmitiam de geração em geração sem conservar-se a autoria. As canções populares antigas nasciam frequentemente num lugar e depois espalhavam-se por outros, perdendo alguns elementos no processo e adquirindo outros em troca. 
Gênero: villancico natalino 
Origem: Andaluzia, Espanha 
Tonalidade: sol menor 
Compasso: 3/4 
Compasso inicial: anacrúsico 
Terminação: feminina
Extensão: 10ª menor 
Prosódia: nem sempre coincide a acentuação prosódica do texto com a musical. 
 
Além das observações anteriores, entendo que seria útil acrescentar ainda outras três: 
1) Pela suavidade de sua melodia, "Madre, en la puerta hay un niño" foi muitas vezes considerada não somente uma canção de Natal, como também uma canção de ninar. 
 
2) É preciso enfatizar que a “mãe” do título da canção não é a Virgem Maria, mas uma dona de casa comum no cuidado de sua família. Além disso, quanto à letra, a presença do Menino Jesus sozinho à porta de uma casa converteu o texto, na interpretação de alguns, em um tipo de “Romance do Menino Perdido”. ³
 
³ Cf. versão de Medina del Campo, Valladolid, para "Romance del Niño Perdido" :
 
3) Para São Josemaría Escrivá, esse Menino quase nu é, sem dúvida, o que nasce em Belém e a porta em que bate é a porta do coração de cada homem e de cada mulher. 
 

 
Lê-se em sua homilia de Natal: “Deus humilha-se para que possamos aproximar-nos d’Ele, para que possamos corresponder ao seu amor com o nosso amor, para que a nossa liberdade se renda, não só ante o espetáculo do seu poder, como também ante a maravilha da sua humildade”, porque “Jesus continua ainda hoje a buscar pousada no nosso coração. Temos que lhe pedir perdão pela nossa cegueira pessoal, pela nossa ingratidão. Temos que lhe pedir a graça de nunca mais lhe fecharmos a porta de nossas almas”.
 
Cf. SÃO JOSEMARÍA: É Cristo que passa - Homilias, pp. 18-19. 
 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

RECUPERE SEU LATIM > > PARTE 15: EXCERTOS DA HISTÓRIA ROMANA POR EUTRÓPIO

Introdução, tradução do latim e comentários por Francisco José dos Santos Braga 

Flávio Eutrópio (✰ ? - ✞ Constantinopla, 399 d.C.)

I. INTRODUÇÃO

 
Flávio EUTRÓPIO é um historiador do século IV d.C., do qual nos resta somente um resumo esquemático da história do povo Romano: Breviarium ab Urbe condita (ou também Breviarium historiae Romanae), a pedido do imperador Valente, que reinou de 364 a 378 d.C., responsável pela parte oriental do Império Romano. 
O Breviário é um compêndio da história de Roma desde a fundação da cidade até a ascensão de Valente ao trono e está estruturado em dez livros. Seu estilo, muito claro, é dos mais simples de toda a literatura latina. O Breviário foi realizado com cuidado, baseando-se nas melhores fontes então disponíveis e dá mostras, globalmente, de imparcialidade e de clareza no estilo de escrita. 
Muito embora por vezes o latim empregado se afaste dos modelos ditos "puros", a obra foi durante muito tempo leitura indispensável para o ensino básico. 
O Breviário foi aumentado e continuado até a época de Justiniano I (527–565 d.C.) por Paulo, o Diácono. O trabalho deste último foi, por sua vez, retomado por Landolfo Sagax (c. 1000), e completado até aos dias do imperador Leão V, o Armênio (813–820 d.C.), na Historia Miscella
 
Eutrópio foi alto funcionário e cônsul eunuco do Império Bizantino do final do século IV. Castrado na infância e vendido como escravo, foi propriedade de vários indivíduos, sobretudo militares, até adquirir sua liberdade no fim da década de 370. Desde então serviu na corte imperial sob Teodósio I (378–395 d.C.) e conseguiu ascender nas fileiras imperiais através do patrocínio de Abundâncio. Em 393, foi enviado numa importante missão ao Egito e então com a morte do imperador, tornar-se-ia epítropo (regente) de seu filho e sucessor, o jovem Arcádio (395–408 d.C.). Em 398, liderou um exército contra invasores hunos que estavam pilhando as províncias orientais. Por conseguir uma vitória significativa contra eles, foi nomeado cônsul de 399, mas permaneceria pouco tempo no poder, pois logo seria executado sob influência do oficial ostrogótico Gainas.
 
 
II. EXCERTOS DO BREVIÁRIO DE EUTRÓPIO
 
 
1) Livro VI, cap. 21 - Guerra civil entre César e Pompeu 
 
Nunca até então tinham se reunido tantas tropas romanas num único lugar nem com melhores comandantes, que teriam facilmente subjugado todo o mundo, se fossem levadas contra os bárbaros. Contudo, combateu-se com grande esforço, e Pompeu foi vencido e seu acampamento saqueado. Ele, posto em fuga, buscou refúgio em Alexandria ¹, esperando receber ajuda do rei do Egito, a quem, devido à sua pouca idade, ele tinha sido dado como tutor pelo Senado. Este (rei do Egito), seguindo mais a fortuna do que a amizade, matou Pompeu e enviou a sua cabeça e o anel a César. Tendo aquilo sido visto, conta-se que César até derramou lágrimas, olhando para a cabeça de um tão grande homem e, em outro tempo, seu genro. 
 
¹  Os historiadores da história romana costumam omitir o fato do primeiro incêndio parcial da Biblioteca de Alexandria em que esteve envolvido Júlio César durante a guerra civil protagonizada por ele e Pompeu. Recentemente tem sido reconhecido que César teria incendiado a Biblioteca ou parte da sua coleção por acidente, o que a teria danificado parcialmente, fato não comentado no texto de Eutrópio e de outros historiadores romanos que teria ocorrido por ocasião de perseguição de César à frota de Pompeu, durante o cerco de Alexandria (48 a.C.). Ainda não está claro quanto realmente foi destruído e parece ter sobrevivido ou sido reconstruído pouco depois. 
 
Texto latino: Numquam adhuc Romanae copiae in unum neque maiores neque melioribus ducibus convenerant, totum terrarum orbem facile subacturae, si contra barbaros ducerentur. Pugnatum tamen est ingenti contentione victusque ad postremum Pompeius et castra eius direpta sunt. Ipse fugatus Alexandriam petiit, ut a rege Aegypti, cui tutor a senatu datus fuerat propter iuvenilem eius aetatem, acciperet auxilia. Qui fortunam magis quam amicitiam secutus occidit Pompeium, caput eius et anulum Caesari misit. Quo conspecto Caesar etiam lacrimas fudisse dicitur, tanti viri intuens caput et generi quondam sui. 
 
2) Livro VI, cap. 22 - Guerra civil entre César e Pompeu (cont.) 
 
Pouco depois César foi a Alexandria. A este também Ptolemeu quis preparar ciladas: contra a vida de César também Ptolemeu quis armar ciladas, para tal se fez a guerra ao rei ¹. Vencido no Nilo, pereceu e seu corpo foi encontrado com uma couraça de ouro. César, tendo-se apoderado de Alexandria, deu o reino a Cleópatra, irmã de Ptolemeu. César, voltando daí, venceu em batalha Pharnaces ², filho de Mitridates o Grande, que tinha ido em socorro de Pompeu perto da Tessália, que se rebelara no Ponto e que ocupava muitas províncias do povo Romano. Depois o obrigou a suicidar-se. 
 
¹  Ptolemeu XII estava em guerra com Cleópatra expulsa pelos Alexandrinos. César defendeu-a com o auxílio dos aliados de Mitridates e obrigou a Alexandria a aceitá-la como rainha. O próprio César comunicou a notícia a Roma da rapidez da vitória com três palavras: "Vim, vi, venci." 
 
²  Pharnaces era filho de Mitridates VI Eupátor, o rei de Ponto que guerreou três vezes contra Roma, trazendo muito perigo ao predomínio romano. Para ganhar o favor dos Romanos, Pharnaces enviou pelo mar a Sinop o corpo mutilado e virtualmente irreconhecível do seu pai como uma oferta de paz a Pompeu. Com isso, Pharnaces conseguiu ganhar o favor de Pompeu e como prêmio recebeu um reino na costa norte do Mar Negro. Mas esse prêmio era exíguo para Pharnaces: enquanto Pompeu e César lutavam, envolvendo Roma numa guerra civil, Pharnaces atravessou o Mar Negro e tomou Sinop de Calvino. Em 47 a.C., depois de derrotar Pompeu na batalha de Farsália, César o perseguiu até o Egito, e avançando sobre a Síria, marchou contra Pharnaces e rapidamente o derrubou na batalha em Zela. O próprio César anunciou a vitória dos Romanos, através de famoso despacho: "Vim, vi e venci". 
Pharnaces fugiu para Sinop através de Amissós, importante porto na costa norte do Mar Negro. Tendo feito um acordo ignóbil com Calvino em Sinop, que lhe permitiu partir em segurança, Pharnaces fugiu para seu ex-reino. Ali encontrou a morte, golpeado mortalmente por seu cunhado, Asander.  
 
Texto latino: Mox Caesar Alexandriam venit. Ipsi quoque Ptolomaeus parare voluit insidias, qua causa bellum regi inlatum est. Victus in Nilo periit inventumque est corpus eius cum lorica aurea. Caesar Alexandria potitus regnum Cleopatrae dedit, Ptolomaei sorori, cum qua consuetudinem stupri habuerat. Rediens inde Caesar Pharnacen, Mithridatis Magni filium, qui Pompeio in auxilium apud Thessaliam fuerat, rebellantem in Ponto et multas populi Romani provincias occupantem vicit acie, postea ad mortem coegit. 
 
3) Livro VI, cap. 25 - A morte de César 
 
Terminadas as guerras civis em todo o mundo, César voltou dali a Roma e começou a se comportar com crescente insolência, contrário à prática da liberdade romana. Como ele dispunha, portanto, a seu bel prazer, daquelas honras, que antes eram conferidas pelo povo e (como) nem mesmo se levantasse na presença do Senado, e fizesse outras coisas régias, ou quase tirânicas, foi tramada contra ele uma conspiração por sessenta ou mais senadores e cavaleiros romanos. Os principais entre os conspiradores foram dois Brutos (da família daquele Bruto que havia sido o primeiro cônsul de Roma e que havia expulsado os reis), Caio Cássio e Servílio Casca. Portanto, César, como tinha entre outros vindo à côrte, em um certo dia marcado para uma reunião, foi perfurado com vinte e três punhaladas. 
 
Texto latino: Inde Caesar bellis civilibus toto orbe conpositis Romam rediit. Agere insolentius coepit et contra consuetudinem Romanae libertatis. Cum ergo et honores ex sua voluntate praestaret, qui a populo antea deferebantur, nec senatui ad se venienti adsurgeret aliaque regia et paene tyrannica faceret, coniuratum est in eum a sexaginta vel amplius senatoribus equitibusque Romanis. Praecipui fuerunt inter coniuratos duo Bruti ex eo genere Bruti, qui primus Romae consul fuerat et reges expulerat, et C. Cassius et Servilius Casca. Ergo Caesar, cum senatus die inter ceteros venisset ad curiam, tribus et viginti vulneribus confossus est.
 
4) Livro VII, cap. 1 - (Marco) Antônio renova a guerra civil 
 
No ano 709 desde a fundação da Cidade, tendo César sido assassinado, renovaram-se as guerras civis ¹, pois o Senado favorecia os assassinos de César; e (Marco) Antônio, o cônsul da facção de César, tentava esmagá-los com uma guerra civil. A república, portanto, conturbada, (Marco) Antônio, que cometia muitos crimes, foi declarado inimigo pelo Senado. Foram enviados em sua perseguição os dois cônsules, Pansa e Hírtio, junto com Otaviano, um jovem de dezoito anos de idade, sobrinho-neto de César ², a quem no seu testamento este tinha nomeado seu herdeiro e lhe mandara usar seu nome; este é o mesmo que depois foi chamado de Augusto ³ e obteve a dignidade imperial. Esses três comandantes, portanto, marchando contra (Marco) Antônio, o derrotaram. Aconteceu, porém, que os dois cônsules vitoriosos perderiam a vida. Pelo que os três exércitos ficaram subordinados apenas a César Augusto. 
 
¹  Os assassinos de César foram obrigados a abandonar Roma, onde permaneceu, como único senhor, (Marco) Antônio. Neste ínterim, M. Otaviano, sobrinho-neto e filho adotivo de César, saiu de Apolônia, na Ilíria e foi a Roma para tomar posse da herança com o favor de Cícero e do Senado. Em seguida, fez com que (Marco) Antônio fosse declarado inimigo da Pátria. 
 
²  Acia, mãe de Otaviano, era a filha de Júlia, irmã de Júlio César. Assim, Júlio César era tio-avô de Otaviano. 
 
³  Em janeiro de 27 a.C., o Senado deu a Otaviano o título de Augusto, que designa o caráter sacrossanto e majestático da pessoa: com isso inicia-se o Império Romano. 
 
Texto latino: Anno urbis septingentesimo fere ac nono interfecto Caesare civilia bella reparata sunt. Percussoribus enim Caesaris senatus favebat. Antonius consul partium Caesaris civilibus bellis opprimere eos conabatur. Ergo turbata re publica multa Antonius scelera committens a senatu hostis iudicatus est. Missi ad eum persequendum duo consules, Pansa et Hirtius, et Octavianus, adulescens annos X et VIII natus, Caesaris nepos, quem ille testamento heredem reliquerat et nomen suum ferre iusserat. Hic est, qui postea Augustus est dictus et rerum potitus. Qui profecti contra Antonium tres duces vicerunt eum. Evenit tamen ut victores consules ambo morerentur. Quare tres exercitus uni Caesari Augusto paruerunt. 
 
5) Livro VII, cap. 6 - (Marco) Antônio e Cleópatra 
 
Neste ínterim, Pompeu rompeu a paz e, tendo sido vencido num combate naval, foi morto, quando fugia para a Ásia. (Marco) Antônio, que tinha a Ásia e o Oriente, depois de ter repudiado a irmã de César Augusto Otaviano, casou-se com Cleópatra, rainha do Egito. Ele (Marco Antônio) pelejou também contra os Persas. Venceu-os nos primeiros combates; contudo, ao regressar, sofreu a fome e a peste, e perseguindo-o os Partos, ele retirou-se como vencido. 
 
Texto latino: Interim Pompeius pacem rupit et navali proelio victus fugiens ad Asiam interfectus est. Antonius, qui Asiam et Orientem tenebat, repudiata sorore Caesaris Augusti Octaviani Cleopatram, reginam Aegypti, duxit uxorem. Contra Persas etiam ipse pugnavit. Primis eos proeliis vicit, regrediens tamen fame et pestilentia laboravit et, cum instarent Parthi fugienti, ipse pro victo recessit. 
 
6) Livro VII, cap. 7 - Batalha de Ácio
 
Ele (Marco Antônio) também suscitou uma grande guerra civil por instigação de sua mulher Cleópatra, enquanto por um capricho de mulher desejava reinar também em Roma. Foi vencido por Augusto na célebre e ilustre batalha naval perto de Ácio, que se localiza no Epiro, de cuja batalha fugiu para o Egito e, na sua posição desesperada, visto que passavam todos para o lado de Augusto, ele se matou. Cleópatra deixou-se morder por um áspide e morreu envenenada. O Egito foi incorporado ao império romano por Otaviano Augusto e foi posto à testa dele Cornélio Gallo. O Egito teve este romano como primeiro juiz supremo. 
 
Texto latino: Hic quoque ingens bellum civile commovit cogente uxore Cleopatra, regina Aegypti, dum cupiditate muliebri optat etiam in urbe regnare. Victus est ab Augusto navali pugna clara et inlustri apud Actium, qui locus in Epiro est, ex qua fugit in Aegyptum et desperatis rebus, cum omnes ad Augustum transirent, ipse se interemit. Cleopatra sibi aspidem admisit et veneno eius extincta est. Aegyptus per Octavianum Augustum imperio Romano adiecta est praepositusque ei C. Cornelius Gallus. Hunc primum Aegyptus Romanum iudicem habuit. 
 
7) Livro VII, cap. 8 - Otaviano toma o título de Augusto 
 
Acabadas assim as guerras em todo o mundo, Otaviano Augusto ¹ regressou para Roma, doze anos depois que fora cônsul. Desde esse ano ele sozinho governou a República durante 44 anos; pois antes a governara 12 anos com Antônio e Lépido. Assim, desde o início do reinado até o fim, passaram-se 56 anos. E morreu de morte natural aos 76 anos de idade em Atela, cidade da Campânia. Foi enterrado em Roma no Campo de Marte, varão que foi merecidamente julgado semelhante a um deus pela maior parte dos homens, pois que ninguém foi mais feliz do que ele nas guerras, ou mais moderado na paz. Nos 44 anos em que governou sozinho, comportou-se com muita afabilidade; muito liberal para com todos, fidelíssimo para com seus amigos, aos quais elevou a tão grandes honras, que quase os igualou à sua suprema grandeza. 
 
¹  Primeiro imperador romano, que governou desde o ano 29 a.C. até 14 d.C. 
 
Texto latino: Ita bellis toto orbe confectis Octavianus Augustus Romam rediit, duodecimo anno, quam consul fuerat. Ex eo rem publicam per quadraginta et quattuor annos solus obtinuit. Ante enim duodecim annis cum Antonio et Lepido tenuerat. Ita ab initio principatus eius usque ad finem quinquaginta et sex anni fuerunt. Obiit autem septuagesimo sexto anno morte communi in oppido Campaniae Atella. Romae in campo Martio sepultus est, vir, qui non inmerito ex maxima parte deo similis est putatus. Neque enim facile ullus eo aut in bellis felicior fuit aut in pace moderatior. Quadraginta et quattuor annis, quibus solus gessit imperium, civilissime vixit, in cunctos liberalissimus, in amicos fidissimus, quos tantis evexit honoribus, ut paene aequaret fastigio suo. 
 
8) Livro VII, cap. 9 - Guerras de Otaviano Augusto 
 
Em nenhum tempo antes dele a República floresceu mais: pois, exceto as guerras civis, nas quais foi invencível, anexou ¹ ao império Romano o Egito, a Cantábria, a Dalmácia, muitas vezes vencida antes, mas então sujeitada de todo; a Panônia, a Aquitânia, o Ilírico, a Récia, a Vindelícia e os Salassos nos Alpes; todas as cidades marítimas do Ponto, entre estas as nobilíssimas do Bósforo e Panticapeon. Venceu em muitas batalhas os Dácios. Destroçou as numerosas tropas dos Germanos, lançou-os também ao outro lado do rio Elba, que está em Barbáricum muito além do Reno. Porém fez esta guerra por meio do seu enteado Druso, assim como fez a guerra contra a Panônia por meio de Tibério, outro seu enteado, na qual transportou da Germânia 40 mil prisioneiros e os estabeleceu na Gália, na margem do Reno. Recuperou dos Partos a Armênia. Os Persas deram-lhe reféns o que a ninguém tinha acontecido antes: restituíram também as bandeiras romanas, que tinham tirado de Crasso depois de tê-lo vencido. 
 
¹ Eis a localização de alguns nomes geográficos citados: Cantábria ou Espanha Tarraconense, região do norte da Espanha; Dalmácia: parte da Iugoslávia à margem do Mar Adriático; Panônia: Hungria; Aquitânia: região do sul da França nas proximidades do Atlântico; Ilírico: Iugoslávia; Récia: grande parte da atual Suíça; Ponto: região da atual Turquia, à margem do Mar Negro; Ponticapeon: região correspondente à atual península da Crimeia, no Mar Negro; Dácia: atuais Sérvia, Montenegro e Bulgária ocidental; Germânia: Alemanha; Albis: o rio Elba, na Alemanha; Barbáricum: a Alemanha que não dependia de Roma; Partos: povo que habitava a parte oriental da atual Pérsia.
 
Texto latino: Nullo tempore ante eum magis Romana res floruit. Nam exceptis civilibus bellis, in quibus invictus fuit, Romano adiecit imperio Aegyptum, Cantabriam, Dalmatiam saepe ante victam, sed penitus tunc subactam, Pannoniam, Aquitaniam, Illyricum, Raetiam, Vindelicos et Salassos in Alpibus, omnes Ponti maritimas civitates, in his nobilissimas Bosphorum et Panticapaeum. Vicit autem multis proeliis Dacos. Germanorum ingentes copias cecidit, ipsos quoque trans Albim fluvium summovit, qui in Barbarico longe ultra Rhenum est. Hoc tamen bellum per Drusum, privignum suum, administravit, sicut per Tiberium, privignum alterum, Pannonicum, quo bello XL captivorum milia ex Germania transtulit et supra ripam Rheni in Gallia conlocavit. Armeniam a Parthis recepit. Obsides, quod nulli antea, Persae ei dederunt. Reddiderunt etiam signa Romana, quae Crasso victo ademerant. 
 
9) Livro VII, cap. 10 - Honras tributadas a Augusto 
 
Os Citas ¹ e os Indos ², cujo nome era antes desconhecido dos Romanos, enviaram-lhe (a Augusto) presentes e embaixadores. Sob seu governo foi feita província também a Galácia, antes tendo sido reino. M. Lólio por primeiro a governou na qualidade de Propretor. Contudo, (Augusto) foi objeto de um amor tão grande, mesmo entre os bárbaros, que reis amigos do povo Romano fundaram em sua honra cidades, que chamaram Cesareias (como foi feito na Mauritânia pelo rei Juba, e na Palestina, que é hoje uma cidade muito famosa). E muitos reis vieram dos seus reinos para obsequiá-lo, e em veste Romana, a saber: trajando togas, correram ao lado do seu coche ou seu cavalo. Ao morrer, foi chamado Divino ³; deixou a República em situação muito favorável a seu sucessor Tibério, que tinha sido seu enteado, pouco depois genro, finalmente filho adotivo. 
 
¹  Povo formado de várias tribos nômades equestres, que ocupavam por toda a Antiguidade Clássica a estepe pôntico-cáspia correspondente à região do Mar Negro até a China, incluindo aí o sul da Rússia, a Ucrânia, a Sarmácia (Polônia). Por vezes o termo também serviu para se referir aos eslavos. Foram os gregos que cunharam o seu nome (Skythoi; ou Scythae em latim). Os citas eram hábeis arqueiros com grande experiência em tiro com arco montado. 
 
²  Habitantes da região localizada entre os rios Indo e Ganges. 
 
³  Enodoa a figura de César Augusto um triste fato para a literatura latina: por ato desse imperador, no ano 8 d.C., o poeta Ovídio foi banido de Roma e obrigado a refugiar-se em remota fronteira nordeste do Império Romano. 
Ovídio faleceu no ano 17 d.C. em Tômis (atual Constança na Romênia). Hoje, o país considera Ovídio o primeiro poeta romeno. 
É desconhecida a causa do banimento, mas muito provavelmente o seu envolvimento num escândalo com Júlia, a neta do imperador Augusto, e o fato provável deste ter achado imoral seus conselhos em Ars Amatoria devem ter contribuído para a cruel decisão. 
 
Texto latino: Scythae et Indi, quibus antea Romanorum nomen incognitum fuerat, munera et legatos ad eum miserunt. Galatia quoque sub hoc provincia facta est, cum antea regnum fuisset, primusque eam M. Lollius pro praetore administravit. Tanto autem amore etiam apud barbaros fuit, ut reges populi Romani amici in honorem eius conderent civitates, quas Caesareas nominarent, sicut in Mauritania a rege Iuba, et in Palaestina, quae nunc urbs est clarissima. Multi autem reges ex regnis suis venerunt, ut ei obsequerentur, et habitu Romano, togati scilicet, ad vehiculum vel equum ipsius cucurrerunt. Moriens Divus appellatus. Rem publicam beatissimam Tiberio successori reliquit, qui privignus ei, mox gener, postremo adoptione filius fuerat.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O PODER DA FÉ

Por Ákis Tseléntis *

Traduzido do grego e comentado por Francisco José dos Santos Braga 

Observatório Nacional de Astronomia, em Atenas

 

Ontem voltando, como habitualmente, a pé do Instituto Geodinâmico, Observatório Nacional de Astronomia para minha casa em Thissío, passei como de costume em frente à igreja de Santa Marina. Minha atenção foi atraída por uma idosa subindo de joelhos os degraus do templo. 

Igreja de Santa Marina                                                                                                                  




 
Thissío, bairro de Atenas

Temendo que algo tivesse acontecido com ela, aproximei-me dela e perguntei: 
"Vovó, você quer ajuda?" 
"Não meu filho", ela me diz, "todos os anos neste dia eu cumpro minha oblação porque há 7 anos Santa Marina curou meu filho." 
Não pedi detalhes, afastei-me discretamente. 
 
O poder da fé é enorme, eu diria milagroso. E é essa fé que muitas vezes nos dá forças para superar obstáculos intransponíveis no decorrer de nossas vidas. Eu pessoalmente experimentei isso várias vezes.
 
Muitos se perguntarão agora: Mas como é possível que Tseléntis, um cientista positivo que está na tecnologia e na vanguarda dos desenvolvimentos científicos, seja um crente? E garanto que não sou o único. 
 
Ciência e religião são consideradas por muitos como dois assuntos conflitantes. Muitos acreditam que existe uma rivalidade sem fim entre cientistas e pessoas da igreja. 
 
Na realidade, porém, não existe um desacordo tão intenso. Pelo contrário, de fato, muitíssimos cientistas se dedicaram às suas ciências porque queriam... explorar mais o que acreditavam. Para encontrarem o máximo de lógica possível na existência inexplicável de Deus, aproximando-se um pouco mais d'Ele. 
 
O confronto entre ciência e religião foi resultado da natureza inquieta dos cientistas e das visões extremamente conservadoras da igreja. Alguns queriam explicar, principalmente para si mesmos, o motivo de acreditarem em algo superior, enquanto os outros consideravam... um crime “investigar” e questionar o que a igreja considera sagrado. 
 
Agora a igreja foi forçada a admitir a validade e a utilidade da ciência. Depois de milhares de descobertas de pessoas que de forma nenhuma podem ser consideradas ateias, a ala da igreja percebeu que não podia mais atrapalhar. 
 
Escrevendo estas linhas, lembrei que todo ano com a proximidade da grande celebração do Cristianismo, o Natal, surge a oportunidade de fazer o já costumeiro ataque contra a Ortodoxia todo o “enfant gaté” do inibido Ateísmo que comparecerá ao Dia da “União dos Ateus". 
 
A União dos Ateus é uma Associação que estabeleceu como costume o ridículo do "jantar público" que sempre ocorre durante a Semana Santa (zomba da Última Ceia de Cristo) e pessoas afins são convidadas para uma "festa de carnívoros", a fim de irritar os cristãos e exportar "cultura". 
 
Em posição de destaque, entre as personalidades ateias do encontro está também um escritor, conhecido blasfemador da Ortodoxia que, segundo seu depoimento, foi o amante fatal da metade de Atenas, que tem assumido o papel de "despertador" do helenismo. 
 
Como um dos moderadores do encontro, faz aparição um conhecido apresentador que elogiou o popular desenho animado "Peppa Pig" porque mostrava um episódio flagrando uma amiga de Peppa, Penny, morando com duas... mães. 
 
Na lista de oradores há até... um teólogo. Será que um teólogo mantém contato com pessoas que percebem a Igreja como "treva", a doutrina de pessoas "atrasadas", "tirania", "flagelo" da humanidade, "medieval" e "espiral de impostores"...? 
 
Requer-se muita vigilância nestes dias em que se corre risco de ver o multiculturalismo e a chamada "modernização" das funções estatais (para caça de votos...) alterarem a nossa identidade nacional.
 
Infelizmente alguns cultivam esse clima. Dois anos atrás, o jornal "democrático" dos editores comentou sobre o ensino da Ortodoxia em nossas escolas com manchetes ousadas como "A treva se tornou uma disciplina escolar". Este ano foi abolida a obrigatoriedade de frequentar as aulas de religião, mesmo entre as crianças gregas! 
 
Encerro com isto: 
E do outro lado, Aías gritou para seus  
[companheiros: 
«Que vergonha, Argivos¹! agora aqui é o nosso 
[futuro ou perecer... ²»
 
 
                   * Diretor do Instituto Geodinâmico do Observatório Nacional de Atenas, Diretor do Centro Nacional de Tsunami e Professor de Sismologia na Universidade de Atenas.
 
 
 
 
II. NOTAS EXPLICATIVAS PELO TRADUTOR/GERENTE DO BLOG DO BRAGA
 
 
¹  Argivos: outra terminologia para Gregos. Originalmente, os argivos eram habitantes de Argos, antiga poderosa cidade-estado da Grécia antiga, localizada no Peloponeso.
Os argivos eram um povo de origem dórica. Eles capturaram a poderosa cidade micênica de Argos por volta de 1.100 a.C. e então se espalharam para as áreas circundantes, deslocando os habitantes anteriores da área, Aqueus, Jônios e Dryopes. Argos junto com Esparta, Corinto, Mégara e Messina estavam entre os poderosos centros dóricos do sul da Grécia. 
 
²  Versos de Homero na Ilíada livro XV linhas 501-2.
No texto original:  
Αἴας δ᾽ αὖθ᾽ ἑτέρωθεν ἐκέκλετο οἷς ἑτάροισιν·
«αἰδώς, Ἀργεῖοι· νῦν ἄρκιον ἢ ἀπολέσθαι...
»
 
Com esta frase, Aías repreendeu os Argivos quando eles se encolheram de medo e toleraram os troianos ameaçarem queimar seus navios. O autor utilizou o trecho da Ilíada que contém a exortação de Heitor aos troianos e a exortação de Aías aos gregos. Esta passagem foi invocada pelo orador Licurgo em seu discurso "Contra Leocrates", para que os juízes comparassem as palavras de Heitor e Aías com a fuga-batalha-deserção de Leocrates. 
 
 
III. AGRADECIMENTO
 
Agradeço à minha amada Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste artigo.
 
 
IV. REFERÊNCIA  BIBLIOGRÁFICA


ΟΜΗΡΟΣ: Ἰλιάς - Η Πύλη για την ελληνική γλώσσα  

Link: https://www.greek-language.gr/digitalResources/ancient_greek/library/browse.html?text_id=158&page=136