segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O PODER DA FÉ

Por Ákis Tseléntis *

Traduzido do grego e comentado por Francisco José dos Santos Braga 

Observatório Nacional de Astronomia, em Atenas

 

Ontem voltando, como habitualmente, a pé do Instituto Geodinâmico, Observatório Nacional de Astronomia para minha casa em Thissío, passei como de costume em frente à igreja de Santa Marina. Minha atenção foi atraída por uma idosa subindo de joelhos os degraus do templo. 

Igreja de Santa Marina                                                                                                                  




 
Thissío, bairro de Atenas

Temendo que algo tivesse acontecido com ela, aproximei-me dela e perguntei: 
"Vovó, você quer ajuda?" 
"Não meu filho", ela me diz, "todos os anos neste dia eu cumpro minha oblação porque há 7 anos Santa Marina curou meu filho." 
Não pedi detalhes, afastei-me discretamente. 
 
O poder da fé é enorme, eu diria milagroso. E é essa fé que muitas vezes nos dá forças para superar obstáculos intransponíveis no decorrer de nossas vidas. Eu pessoalmente experimentei isso várias vezes.
 
Muitos se perguntarão agora: Mas como é possível que Tseléntis, um cientista positivo que está na tecnologia e na vanguarda dos desenvolvimentos científicos, seja um crente? E garanto que não sou o único. 
 
Ciência e religião são consideradas por muitos como dois assuntos conflitantes. Muitos acreditam que existe uma rivalidade sem fim entre cientistas e pessoas da igreja. 
 
Na realidade, porém, não existe um desacordo tão intenso. Pelo contrário, de fato, muitíssimos cientistas se dedicaram às suas ciências porque queriam... explorar mais o que acreditavam. Para encontrarem o máximo de lógica possível na existência inexplicável de Deus, aproximando-se um pouco mais d'Ele. 
 
O confronto entre ciência e religião foi resultado da natureza inquieta dos cientistas e das visões extremamente conservadoras da igreja. Alguns queriam explicar, principalmente para si mesmos, o motivo de acreditarem em algo superior, enquanto os outros consideravam... um crime “investigar” e questionar o que a igreja considera sagrado. 
 
Agora a igreja foi forçada a admitir a validade e a utilidade da ciência. Depois de milhares de descobertas de pessoas que de forma nenhuma podem ser consideradas ateias, a ala da igreja percebeu que não podia mais atrapalhar. 
 
Escrevendo estas linhas, lembrei que todo ano com a proximidade da grande celebração do Cristianismo, o Natal, surge a oportunidade de fazer o já costumeiro ataque contra a Ortodoxia todo o “enfant gaté” do inibido Ateísmo que comparecerá ao Dia da “União dos Ateus". 
 
A União dos Ateus é uma Associação que estabeleceu como costume o ridículo do "jantar público" que sempre ocorre durante a Semana Santa (zomba da Última Ceia de Cristo) e pessoas afins são convidadas para uma "festa de carnívoros", a fim de irritar os cristãos e exportar "cultura". 
 
Em posição de destaque, entre as personalidades ateias do encontro está também um escritor, conhecido blasfemador da Ortodoxia que, segundo seu depoimento, foi o amante fatal da metade de Atenas, que tem assumido o papel de "despertador" do helenismo. 
 
Como um dos moderadores do encontro, faz aparição um conhecido apresentador que elogiou o popular desenho animado "Peppa Pig" porque mostrava um episódio flagrando uma amiga de Peppa, Penny, morando com duas... mães. 
 
Na lista de oradores há até... um teólogo. Será que um teólogo mantém contato com pessoas que percebem a Igreja como "treva", a doutrina de pessoas "atrasadas", "tirania", "flagelo" da humanidade, "medieval" e "espiral de impostores"...? 
 
Requer-se muita vigilância nestes dias em que se corre risco de ver o multiculturalismo e a chamada "modernização" das funções estatais (para caça de votos...) alterarem a nossa identidade nacional.
 
Infelizmente alguns cultivam esse clima. Dois anos atrás, o jornal "democrático" dos editores comentou sobre o ensino da Ortodoxia em nossas escolas com manchetes ousadas como "A treva se tornou uma disciplina escolar". Este ano foi abolida a obrigatoriedade de frequentar as aulas de religião, mesmo entre as crianças gregas! 
 
Encerro com isto: 
E do outro lado, Aías gritou para seus  
[companheiros: 
«Que vergonha, Argivos¹! agora aqui é o nosso 
[futuro ou perecer... ²»
 
 
                   * Diretor do Instituto Geodinâmico do Observatório Nacional de Atenas, Diretor do Centro Nacional de Tsunami e Professor de Sismologia na Universidade de Atenas.
 
 
 
 
II. NOTAS EXPLICATIVAS PELO TRADUTOR/GERENTE DO BLOG DO BRAGA
 
 
¹  Argivos: outra terminologia para Gregos. Originalmente, os argivos eram habitantes de Argos, antiga poderosa cidade-estado da Grécia antiga, localizada no Peloponeso.
Os argivos eram um povo de origem dórica. Eles capturaram a poderosa cidade micênica de Argos por volta de 1.100 a.C. e então se espalharam para as áreas circundantes, deslocando os habitantes anteriores da área, Aqueus, Jônios e Dryopes. Argos junto com Esparta, Corinto, Mégara e Messina estavam entre os poderosos centros dóricos do sul da Grécia. 
 
²  Versos de Homero na Ilíada livro XV linhas 501-2.
No texto original:  
Αἴας δ᾽ αὖθ᾽ ἑτέρωθεν ἐκέκλετο οἷς ἑτάροισιν·
«αἰδώς, Ἀργεῖοι· νῦν ἄρκιον ἢ ἀπολέσθαι...
»
 
Com esta frase, Aías repreendeu os Argivos quando eles se encolheram de medo e toleraram os troianos ameaçarem queimar seus navios. O autor utilizou o trecho da Ilíada que contém a exortação de Heitor aos troianos e a exortação de Aías aos gregos. Esta passagem foi invocada pelo orador Licurgo em seu discurso "Contra Leocrates", para que os juízes comparassem as palavras de Heitor e Aías com a fuga-batalha-deserção de Leocrates. 
 
 
III. AGRADECIMENTO
 
Agradeço à minha amada Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste artigo.
 
 
IV. REFERÊNCIA  BIBLIOGRÁFICA


ΟΜΗΡΟΣ: Ἰλιάς - Η Πύλη για την ελληνική γλώσσα  

Link: https://www.greek-language.gr/digitalResources/ancient_greek/library/browse.html?text_id=158&page=136

9 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
Tenho o prazer de enviar-lhe minha tradução comentada do grego para O PODER DA FÉ, texto curioso de um cristão ortodoxo, Prof. ÁKIS TSELÉNTIS, embora seja um cientista positivo na tecnologia e esteja na vanguarda dos desenvolvimentos científicos.

Link: https://bragamusician.blogspot.com/2022/12/o-poder-da-fe.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador, ex-presidente do TRE/MG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Fé e ciência se complementam.
Onde acaba a ciência, começa a fé.

Rogério

José Carlos Gentili (escritor, jornalista, membro da Academia de Letras de Brasília, da Academia Brasileira de Filologia e da Academia das Ciências de Lisboa) disse...

Muito interessante. 
Parabéns, Braga.
Gentili

João Alvécio Sossai (ex-salesiano da Faculdade Dom Bosco) disse...

Obrigado, Francisco. Somente através de uma pessoa de sua magnitude é possível apreciar textos como o que você me enviou. Deveras bastante interessante.

Abraço.

Gilberto Mendonça Teles (autor de O terra a terra da linguagem e Hora Aberta-Poemas Reunidos e é membro da Academia Goiana de Letras) disse...

Obrigado. Gostei do link.
Abraço do Gilberto Mendonça Teles

José Lourenço Parreira (capitão do Exército da arma de Artilharia, professor de música, violinista, maestro, historiador e escritor, além de redator do "Evangelho Quotidiano") disse...

BRAGA, CARO AMIGO, MUITÍSSIMO GRATO!

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga

Além da oposição em si, a coexistência entre as duas velhas perspectivas tem o potencial de gerar conflitos quando a aceitação mútua é rompida pelas circunstâncias. Já se afirmou que a Ciência sem a Fé é manca e a Fé sem a Ciência é cega. Talvez seja por aqui o caminho para a Consciência.
Excelente texto e parabéns pela oportunidade da tradução.
Cupertino

Bernardo Diniz (professor da rede de ensino fundamental do GDF) disse...

Muito bom, Braga.