quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

LEMBRANÇAS SAUDOSAS DO AMIGO-IRMÃO NILTON GOMES PAZ


Por Francisco José dos Santos Braga
 
Nilton Gomes Paz (✰ 30/8/1941 Criciúma ✞ 26/12/2022 Tubarão) - Foto tirada em 24/12/2022 / Crédito pela foto: filha Evolyn.

"Artigo memorial dedicado a meu amigo-irmão Nilton Gomes Paz,  esposo amante de Lena, pai amoroso de Evolyn, Everton, Karin e Mila; avô carinhoso de Tally e Maria Augusta; Marco Antônio, Caio César e Lavínia; Gabriel; e Igor e Tiago; bisavô extremado de Loan e Oceane."

 

1974, janeiro: Confiro uma relação de matriculados para o CPM-Curso Preparatório para o Mestrado e constato que meu nome consta da relação. O CPM foi um curso que a EAESP-Fundação Getúlio Vargas ofereceu durante aquele primeiro semestre de 1974, visando propiciar, tanto aos estudantes diplomados em faculdades afins à Administração de Empresas (Economia, Direito e Engenharia) quanto aos professores de Administração de Universidades brasileiras necessitando reciclagem, os conhecimentos indispensáveis ao acompanhamento do seu CPM-Curso de Mestrado em Administração. Eu não era nem egresso de uma faculdade afim à Administração, nem professor universitário de Administração, mas constatei que, para minha surpresa, meu nome constava da referida relação de matriculados. Explico-me melhor: eu era diplomado em Letras, completamente "fora do ninho", mas caí nas graças da Casa e passei a fazer parte dos administradores. Foi assim que, no primeiro semestre de 1974, pus-me a dedicar-me, em tempo integral, às disciplinas oferecidas pelo CPM, aplicando em meu próprio conhecimento as economias feitas durante os anos de 1972 e 1973 como funcionário da Ciba-Geigy e Medidores Schlumberger. Resumidamente, as disciplinas que ocuparam todo o tempo dos inscritos no CPM no 1º semestre de 1974 foram: Revisão Matemática (ministrada por Prof. José Rappaport), Estatística Aplicada (Profª Lígia Siniscalco de Oliveira Costa), Análise Mercadológica (Prof. Sérgio Roberto Dias), Administração Contábil-Financeira (Prof. Frediano Quilici), Administração da Produção (Prof. Claude Machline) e Microeconomia (Prof. Eduardo Suplicy). Se a memória não me trai, éramos uns 60 estudantes matriculados no CPM, na ocasião em que eu contava com 25 anos de idade. Procurei relacionar-me bem com todos, mas, depois de algum tempo, percebi que estava mais envolvido com colegas do Sul brasileiro, nomeadamente: Adelar Francisco Baggio (Ijuí-RS), Oscar Malvessi, Renato Marchetti, Pauletti, Ariolli, Mauro Boscardin, James Pavan e Afonso José de Matos (Caxias do Sul-RS); Nilton Gomes Paz e Jaime von Loch (Criciúma-SC); Jair Poeiras Assunção (Londrina-PR) e Paulo Roberto Maia Cortes, o "Buda" (Curitiba). Exceção seja feita a Oldemar Santos Filho, que é mineiro de Montes Claros e meu dileto amigo há 47 anos. Mas, se puder contar tudo, afeiçoei-me mais ao Nilton Gomes Paz, ao Oscar Malvessi e ao "Buda", que se tornariam meus amigos mais próximos. 

Quanto ao primeiro, Nilton, ele costumava chegar um pouco antes do início da aula e escrever com o giz num dos cantos do quadro: "Visite Forquilhinha, terra do Jaime von Loch", que, pelo que sei, deve ser um município vizinho de Criciúma. "Estando em Criciúma, não deixe de conhecer o primeiro metrô do Brasil". Explicou-nos Nilton que se tratava de um sistema subterrâneo de extração do carvão, através de canais, por onde se drenava o carvão das minas, operação que era originalmente feita por uns carros de rolimã, espécie de "trolleys" ou "vagonetas" mais tarde motorizadas, que o transportavam do subsolo para cima. 

A respeito de Nilton Gomes Paz, devo começar por informar que ele era muito acolhedor, tendo me recebido como alguém da família em suas duas residências em São Paulo: inicialmente, no pequeno apartamento de um prédio próximo à FGV; logo depois, num apartamento bem mais amplo na Alameda Franca. Como sua esposa Lena era excelente cozinheira, muitas vezes fui convidado para partilhar da sua arte culinária. Nessas ocasiões, brindávamos à saúde da família dele com uma pinga com zimbros que ele trazia de Criciúma, sua terra natal. A pequena família era então constituída do casal Nilton e Lena, e dos filhos Evolyn, Everton ("Lilo") e Karin. Algum tempo depois, o casal foi agraciado com o nascimento de Mila, linda garotinha que nasceu em um hospital paulistano e precisou de muitos cuidados médicos por certo período. Esse foi um momento muito difícil para a família que ansiava pelo convívio com a garotinha. Finalmente, puderam levá-la de vez para casa, saudável e esbanjando alegria por todo o apartamento. 

Nilton e sua Lena, grande amor de sua vida - Crédito: filha Evolyn
 

Registro do casamento de Nilton e Lena - Crédito: filha Evolyn
 

Sobre o Nilton é até difícil enumerar suas inúmeras qualidades e competências, todas desenvolvidas entre os anos de 1974 e 1979, enquanto viveu em São Paulo. Inicialmente é preciso dizer que, dadas as suas facilidades de comunicação e de fazer amigos e conquistar pessoas, era alguém mais predisposto à área de marketing e publicidade; no entanto, ele escolheu a área contábil-financeira, como eu também, provavelmente por constituir um desafio maior para nós, exigindo mais adrenalina de ambos. Devo confessar que Nilton se destacava de qualquer um de nós pela sua capacidade de comunicar-se, fazendo-se agradável através de sua conversa afável e repleta de expressões regionais e ditos chistosos que traziam sorriso à face de todos os seus ouvintes. Tinha o dom de ser contraparte em qualquer roda, conseguindo que seus interlocutores se adaptassem ou correspondessem perfeitamente em relação a seu propósito. E isso ele obtinha com enorme naturalidade, sem "forçar a barra" — como se diz para agradar. 

Outra característica do Nilton é que ele imediatamente conseguia fazer amizade com seus professores, especialmente com os da área do Departamento COFINCO ou CFC (Contabilidade, Finanças e Controle) e pessoas influentes na estrutura administrativa da FGV. Foi assim que levou diversos professores a Criciúma (João Carlos Hopp, Frediano Quilici e Evaristo) para o hotel da família de sua esposa Lena, cujo nome não me lembro mais, sem qualquer custo para esses hóspedes. Eu próprio, quando professor horista da FGV, cheguei a hospedar-me ali a seu convite. Também esteve no hotel de Criciúma, a convite de Nilton Gomes Paz, Reinaldo Magri, Diretor Administrativo e de Benefícios da FGV naquele meado da década de 70, tido como intermediário importante entre a FGV do Rio de Janeiro e a EAESP-FGV, que era considerado pessoa de confiança de Luís Simões Lopes, fundador, presidente da recém-criada Fundação Getúlio Vargas em 1944, cargo que ocupou durante 48 anos, e presidente de honra da FGV (1992-1994).

1976, junho: Em 1976, durante o nosso curso de Mestrado, o chefe do Departamento COFINCO (ou CFC), prof. Dr. Antônio Luiz de Campos Gurgel, tomou a importante iniciativa de dar continuidade a uma decisão do prof. Ivan Pinto Dias 9 anos antes, que tinha decidido recrutar em agosto de 1967 um grupo de novos colaboradores para fazer parte da estrutura acadêmica da FGV no Departamento CFC. Conforme dizia, Prof. Gurgel decidiu contratar quatro novos professores horistas para ministrarem a disciplina de Contabilidade Básica para o curso de graduação em Administração de Empresas e Administração Pública, na condição de professores horistas, tendo sua escolha recaído sobre quatro mestrandos, entre vários candidatos: Nilton Gomes Paz (então funcionário do Metrô de São Paulo), Oscar Malvessi, Moisés Skitnevsky (então funcionário da Sharpe) e eu. Para nos assessorar como orientador pedagógico em nossa tarefa de ministrar a referida disciplina para alunos iniciantes, foi designado o Professor Titular do CFC, Prof. Dr. Jacob Ancelevicz (falecido em 03/12/2015 em São Paulo). Além de nosso orientador pedagógico, prof. Jacob possuía, em seu apartamento na Av. Angélica, um portfólio recheado de Letras de Câmbio de diversas empresas, possibilitando que seus amigos mais chegados — da FGV, principalmente Prof. Nilton e eu — tirássemos igualmente proveito de vantagens oferecidas por seus investimentos, o que fazíamos com certa frequência. Ele costumava repassar alguns desses títulos de crédito com certo prazo já transcorrido, quando tínhamos algum excedente de caixa, passando para nós sua parcela de lucro garantido até o vencimento. 

Durante a nossa estada no Departamento CFC, havia sempre a realização de Seminários internos de fim de ano para previsão de atividades da EAESP-FGV, normalmente num grande hotel sediado em Águas de Lindóia (normalmente no Hotel Majestic) ou em Águas de São Pedro. Nesses Seminários era obrigatória a participação de professores titulares e de carreira, mas excepcionalmente prof. Nilton e eu éramos convidados a comparecer pelo Diretor Administrativo e de Benefícios, Sr. Reinaldo Magri, por quem nutríamos amizade e admiração. 

1978, janeiro: Outra característica de Nilton era a sua enorme capacidade de liderança entre seus amigos mais chegados ou "comandados", companheiros de turma, entre os quais me incluía. Ele conseguia agradar a todos, distribuindo entre nós as demandas de ministrar cursos em diversas faculdades de São Paulo. Ele nos reunia em sua casa e fazia essa distribuição. Foi assim que consegui ser professor de Contabilidade com enfoque fiscal nas Faculdades Integradas Tibiriçá, instituição sediada nas instalações do Mosteiro de São Bento aos cuidados do diretor Hilário Torloni e nas Faculdades São Marcos, no bairro do Ipiranga aos cuidados do Prof. Luiz Paulo Vendramini, responsável pelo curso de Ciências Contábeis. 
 
Mas não foi apenas na FGV que ele angariou bons amigos. Enquanto funcionário  administrativo do Metrô de São Paulo (ou Companhia do Metropolitano de São Paulo), Nilton também fez amizade com um simpático rapaz chamado Wagner, que frequentou sua casa juntamente comigo. 
 
Sobre Hilário Torloni, tive muito boa impressão de conhecê-lo em companhia do prof. Nilton, que me levou até ele para sua aprovação de meu nome no corpo docente das Faculdades Integradas Tibiriçá. Ele era um homem muito respeitável, que tinha uma sala nos fundos de um corredor no 4º andar do Mosteiro, se bem me recordo. Atrás de uma grande mesa, ele nos atendeu com enorme fidalguia: era homem de prodigiosa perícia na história política brasileira e a imagem que retive dele em minha memória é a de um cavalheiro em trajes britânicos (terno com colete e gravata), pitando fumos aromáticos raros (Dunhill, Captain Black ou Borkum Riff no sabor de Bourbon Whiskey) em cachimbos seletos (Dunhill ou Savinelli). Hilário Torloni foi deputado estadual em diversas legislaturas e vice-governador de São Paulo entre 1967 e 1971, na gestão de Abreu Sodré. Já tinha publicado "Estudo de Problemas Brasileiros" (1974) pela Editora Pioneira, que projetou o seu nome nacionalmente, e ainda iria traduzir em 1984 "Anatomia do Poder" do original inglês de John Kenneth Galbraith pela mesma editora. 
 
Vou relembrar aqui um fato acontecido comigo numa das turmas das Faculdades Integradas Tibiriçá. Na minha primeira aula, na qual pretendia falar sobre o conteúdo da disciplina e seus objetivos, começou a ocorrer uma contestação à minha apresentação, liderada por um contador nissei bastante experiente que tentava saber qual era minha resposta a um tópico a ser visto futuramente. Fiquei enrolado com a pergunta e respondi qualquer coisa que não fez muito sentido para ele e para a turma. Começou um burburinho que eu não soube sufocar com minha autoridade. Fui salvo pelo gongo, ou melhor, pela campainha, que felizmente anunciava o término da aula. Procurei imediatamente o Prof. Nilton, responsável por certa disciplina que trataria da Lei 6404, de 1976, a conhecida Lei das Sociedades Anônimas. Ele me ouviu atentamente e observou: 
— Engraçado. Eu também fui encurralado por alguém que queria saber sobre um detalhe da Lei... 
— E como você reagiu?, perguntei.
— Eu respondi ao curioso que, quando eu lesse o tópico da Lei, analisaríamos detidamente o assunto. Até lá,  ele que aguardasse, que eu cumpriria a sequência do programa do curso. 
Fiquei vivamente impressionado com o seu sangue-frio e domínio sobre a turma, o oposto do que ocorrera comigo, ao perder meu controle publicamente. Eu estava envergonhado com a minha reação precipitada e muito temeroso quanto à reação da turma na próxima aula. 
Prof. Nilson não se fez de rogado: percebeu minha aflição e levou-me diretamente ao Dr. Hilário Torloni, acusando a turma de estar tramando contra a minha autoridade, já na primeira aula. Eu permaneci em silêncio, enquanto Nilton me defendia. Em seguida, Dr. Hilário Torloni pediu a minha versão dos fatos. 
O resultado foi que o diretor da Escola, atendendo o pedido de Nilton, compareceu à frente da turma na próxima aula e falou do seu apoio incondicional a mim, em sua opinião "o melhor mestre naquela disciplina", e que não toleraria daquela turma qualquer insubordinação à minha autoridade. Disse ainda que não permitiria que eu fosse interrompido por piadinhas de mau gosto, vindas de um grupo de arruaceiros e irresponsáveis. Finalmente, recomendou-me anotar o nome dos provocadores e levar imediatamente a seu conhecimento, caso o desaforo se repetisse. 
Graças ao Prof. Nilton e ao Dr. Hilário Torloni, consegui escapar do que poderia sido a maior vergonha de minha vida. Encerrando esta seção, queria dizer que sou eternamente grato a esses dois homens que me salvaram diante da turma rebelde com suas interrupções ameaçadoras. 
Sobre o Dr. Hilário Torloni, cabe ainda lembrar que ele foi o idealizador e criador da Revista "Tibiriçá" com publicações de artigos e palestras de professores da instituição ou de especialistas convidados. As edições desta revista, enquanto durou, eram aguardadas pela comunidade acadêmica por seus temas sempre bem abordados e estruturados como convém, dentro da boa técnica gráfica e editorial. 
 
Nesta mesma época, proliferavam em São Paulo alguns treinamentos corporativos para formação de executivos, a exemplo do IDORT, criado em São Paulo em 1932 por Roberto Simonsen. O prof. Nilton conseguiu sua admissão no ITDE-Instituto de Treinamento e Desenvolvimento de Executivos, com sede num prédio da Rua Peixoto Gomide, ao lado do Parque Trianon. Levou-me consigo até à direção do ITDE representada por Sr. Heitor, convencendo-o a dar-me também a oportunidade de contribuir para a formação de executivos brasileiros com palestras por todas as grandes cidades brasileiras. Nesta qualidade, conheci inúmeras grandes cidades e capitais brasileiras [Santos, Londrina (na sede do IBC), Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre]. Cada professor admitido pelo ITDE precisava utilizar na sua preleção material didático inédito de sua autoria. O meu material didático contendo explicações sobre um Fluxo de Caixa e uma Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos (D.O.A.R.) agradou comprovadamente a quantos assistiam às minhas palestras, com base nas avaliações feitas pela direção do ITDE. Deu-me grande alegria o fato de Nilton ter, com minha concordância, utilizado o meu material didático também em suas palestras com bom aproveitamento. 
 
Foi aquela época muito promissora para Nilton em que era muito requisitado por várias instituições e empresas, tendo chegado à marca de 11 firmas contratantes dos seus serviços. Além de professor da FGV, das Faculdades Tibiriçá, das Faculdades São Marcos e do ITDE, recordo-me ainda de ter sido funcionário administrativo do Metrô de São Paulo, assessor de uma transportadora catarinense e consultor da Caixa Econômica Federal em Brasília. Quanto a este último emprego, lembro que o coordenador da consultoria para a CEF era o também catarinense Prof. Alcântara da FGV, com quem Nilton tinha excelentes relações. Devido a este emprego, Nilton precisou se deslocar até Brasília muitas vezes. 
 
Sinceramente, não sei até hoje como Nilton ainda arrumava tempo para ler tantos livros sobre temas da história político-social brasileira. Certamente que essa sua curiosidade foi aguçada por certa disciplina que era oferecida no Mestrado da FGV, ministrada pelo sociólogo, escritor, ensaísta e professor do Departamento de Ciências Sociais, Maurício Tragtenberg ( Getúlio Vargas-RGS, 1929 São Paulo, 1998), que, tendo sido um estudante criterioso de Max Weber, se intessava pelos temas de burocracia, anarquismo e comunismo, tendo escrito, entre outros livros, "Administração, Poder e Ideologia". Nilton lia incansavelmente sobre problemas sociais brasileiros. Lembro-me ainda de outros autores preferidos: Raymundo Faoro, Hélio Silva, Hélio Jaguaribe, Nelson Werneck Sodré, Celso Furtado, Victor Nunes Leal, Caio Prado Júnior, Roberto C. Simonsen, Moniz Bandeira e os brasilianistas Thomas Skidmore e John W. F. Dulles. Alerto o leitor de que devo estar pecando por omissão por não estar conseguindo lembrar todas as obras constantes de sua biblioteca e lidas por ele no período. 
 
Sobre o gosto musical de Nilton, tenho ainda alguns comentários a fazer. Apreciava a voz de Maysa (em 22/01/2023 completam-se 51 anos de seu falecimento, em um acidente de carro), o piano de Johnny Alf e o gênero do tango. Recordo-me de que, certa vez, fomos a uma pizzaria no Brás, Rua do Gasômetro nº 2424, para degustarmos belas massas ao som de um conjunto de tango com solos de violino. Noite inesquecível!

Se bem me lembro, Nilton se despediu definitivamente de São Paulo no início de 1979 para assumir importante cargo na filial da CECRISA REVESTIMENTOS CERÂMICOS S.A., em Criciúma. Convidou-me para acompanhá-lo nesta nova fase de sua vida, mas eu declinei do gentil convite porque tinha sido aprovado em três concursos públicos: para Agente Fiscal de Rendas do Estado de São Paulo, para Fiscal de Tributos Federais da Receita Federal e, finalmente, para o Instituto Rio Branco. Foi, portanto, com a maior tristeza que vi meu amigo-irmão, de convivência diária por 5 anos, privar-me do seu convívio, mas estava confiante de que Deus lhe reservaria a melhor parte da vida entre os seus concidadãos e familiares. Em São Paulo, apesar de bem sucedido,  Nilton sentia-se uma ovelha desgarrada do seu rebanho. Na sua partida, lembrei-me do seu registro diário, saudoso de sua terra natal, no quadro negro da nossa sala de aula: "Visite Forquilhinha, terra do Jaime von Loch" e "Estando em Criciúma, não deixe de conhecer o primeiro metrô do Brasil". Resignado, compreendi a sua determinação do retorno às origens.
 
1983, março: Esse envolvimento profissional dele com muitas instituições e firmas acabou por prejudicar Nilton em seu trabalho de pesquisa no curso de Mestrado, impedindo-o de escrever e entregar sua monografia dentro do prazo estipulado pela FGV, que, para o nosso grupo, tinha sido prorrogado para março de 1983. Lembro-me de ter contactado meu amigo e sugerido que não perdesse este prazo estendido que a FGV graciosamente dava ao nosso grupo, mas naquela altura ele já estava ausente do meio acadêmico há cinco anos, envolvera-se com outros negócios em Santa Catarina e não manifestou interesse de obter o título de conclusão do Mestrado com a entrega de sua monografia final, requisito indispensável para a obtenção do grau de Mestre em Administração de Empresas. 
Além de Prof. Jacob Ancelevicz ter-se proposto a orientá-lo na sua monografia, ainda este e eu nos oferecemos para ajudá-lo a redigir a monografia — algo relativamente simples para nós —, mas ele terminantemente alegou estar sobrecarregado com muitos afazeres no mês de março de 1983 e não dispor de tempo para viajar até São Paulo para concluir sua monografia de mestrado. Respeitamos (apesar de lamentarmos) a sua decisão definitiva. 
De minha parte, eu tinha viajado de Brasília — onde exercia o cargo de Chefe dos Treinamentos da Receita Federal na Assessoria de Modernização, deixando como minha substituta a auditora fiscal Dione Alves — dirigindo-me a São Paulo e ali permanecendo durante todo o mês de março, para aproveitar a última oportunidade de entregar a minha monografia dentro do prazo estipulado pela FGV. 
 
Lena e Nilton, num seminário - Crédito: filha Evolyn

 
 
2003, julhoEm julho de 2003, viajei de Brasília em companhia de minha esposa Rute Pardini a Tubarão para apresentá-la à família de Nilton e para reencontrar meu amigo-irmão. Chegamos a Tubarão de surpresa e foram dias de confraternização e de belas recordações, quando tivemos a oportunidade de visitar a nova firma que Nilton tinha fundado em Tubarão: a Dehonplast, produzindo há 24 anos rótulos manga e embalagens plásticas flexíveis em polietileno e também oxibiodegradável. Essas boas emoções não se repetiram, porque no ano de 2012, partindo de nossa morada em São João del-Rei, fizemos nova viagem a Tubarão, mas, em razão de querermos fazer surpresa e por ser época de festas natalinas, a família de Nilton estava ausente, para nossa tristeza. Tinha ido passar férias em Florianópolis. Um nosso possível reencontro, muitas vezes adiado por diferentes motivos, mas principalmente pela distância, foi impossibilitado nesta nossa dimensão terrena. Nilton estava seguro de que "qualquer hora dessa, Papai do Céu virá buscar-me" na hora certa, conforme sua própria expressão, numa de suas últimas mensagens para mim por e-mail.
 
  

II. AGRADECIMENTO
 
O gerente do Blog do Braga agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas nesta homenagem fúnebre.
 

10 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Francisco José dos Santos Braga disse...

Prezad@,
Em 26 de dezembro, Mila deu-me a triste notícia de que seu pai, NILTON GOMES PAZ, meu amigo-irmão, tinha falecido ou descansado após meses de piora da saúde.
Soube que, até os últimos instantes, a esposa Lena o acompanhou, oferecendo-lhe o conforto de sua companhia.
Decidi de imediato fazer-lhe esta homenagem, fruto de uma gratidão incontida que sinto por tudo o que recebi deste saudoso amigo-irmão, com a ressalva de que me encontro no momento em São Paulo, muito distante de São João del-Rei, e portanto meu texto pode estar omitindo alguma informação importante e tudo o que foi escrito utilizou a faculdade da minha memória, sem acesso a informações que possúo em minha casa.
Apesar dos nossos poucos anos de convívio, pude constatar que Nilton tinha um grande coração: esposo amante, pai amoroso, avô carinhoso e bisavô extremado.
Da minha parte, tenho a dizer que Deus colocou no meu caminho um amigo fiel.

https://bragamusician.blogspot.com/2022/12/lembrancas-saudosas-do-amigo-irmao.html 👈

Cordial abraço,
Francisco Braga

Lúcio Flávio Baioneta (autor do livro "De banqueiro a carvoeiro", conferencista e proprietário da Análise Comercial Ltda em Belo Horizonte) disse...

Meu amigo FJSBRAGA, alio-me à sua perda. A morte de um amigo-irmão é muito difícil de ser suplantada. Deus lhe ampare. 

João Alvécio Sossai (escritor, autor de "Um homem chamado Ângelo e outras histórias, ex-salesiano da Faculdade Dom Bosco e ex-professor da UFES (1986-1996)) disse...

Obrigado, Francisco, por enviar-me mais esse testemunho. Ter um amigo de verdade é algo raro que devemos preservar com todo carinho.

Envio um abraço e votos de um ano de 2003 rico em novas e brilhantes produções.

João Sossai

Hilma Pereira Ranauro (escritora, autora de "O Falar do Rio de Janeiro") disse...

Sinto muito, Francisco.

Hilma Ranauro

Evolyn (filha de Nilton Gomes Paz e empresária) disse...

Gratidão!

Evolyn (filha de Nilton Gomes Paz e empresária) disse...

Oi, Francisco,
Gratidão! Gratidão pelo carinho, pelas palavras.
Está difícil, obviamente, mas meu pai precisava descansar. Este ano foi um ano muito doído para ele; o corpo dele foi muito sacrificado.
Mas ele foi sereno, tranquilo.
Minha mãe conversou com ele, conseguiu conversar com ele.
Não o que eles falaram... Eu não estou no Brasil.
Ele não quis que me avisassem, que me falassem.
Eu vim passar o Ano Novo com a minha filha que está na Suíça. Tínhamos vindo passar o Ano Novo na casa dos sogros dela aqui na França. E ele não que me avisassem em momento algum.
Então, estou eu aqui respeitando a vontade dele, mas lhe agradeço essas memórias que escreveu com carinho por ele.

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga

Além da sua bela homenagem ao amigo-irmão, feliz expressão, ficam as notas também das suas interessantes trajetórias na "FGV" e "Tibiriçá". Que Nilton possa estar bem, lá do outro lado da vida.
Cumprimentos.
Cupertino

Pe. Sílvio Firmo do Nascimento (professor, escritor e editor da Revista Saberes Interdisciplinares da UNIPTAN e membro da Academia de Letras de SJDR) disse...

Minha gratidão, caro confrade da Academia de Letras de SJDR, pela remessa de sua homenagem ao seu amigo, o que li e gostei devido a sua importância para resgatar e conservar a história dos grandes homens na literaratura e na cultura em geral. Parabéns! 
Na oportunidade, feliz natal e abençoado ano novo.
Respeitosamente,
Pe. Sílvio Firmo do Nascimento

Dr. Afrânio Vilela (desembargador do TJMG, escritor e membro do IHG-São João del-Rei) disse...

Prezado confrade Francisco Braga, boa noite! 
Não conhecia o seu amigo-irmão Nilton, lamentavelmente!! Porém, pelo seu relato era pessoa especial. Não morreu! Apenas passou do mundo das criaturas para o lado do Criador, como escreveu Santo Agostinho! Então, não foi morte! Não foi nada…para o coração amigo, como o seu! 
Boa noite!