sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

RECUPERE SEU LATIM > > PARTE 15: EXCERTOS DA HISTÓRIA ROMANA POR EUTRÓPIO

Introdução, tradução do latim e comentários por Francisco José dos Santos Braga 

Flávio Eutrópio (✰ ? - ✞ Constantinopla, 399 d.C.)

I. INTRODUÇÃO

 
Flávio EUTRÓPIO é um historiador do século IV d.C., do qual nos resta somente um resumo esquemático da história do povo Romano: Breviarium ab Urbe condita (ou também Breviarium historiae Romanae), a pedido do imperador Valente, que reinou de 364 a 378 d.C., responsável pela parte oriental do Império Romano. 
O Breviário é um compêndio da história de Roma desde a fundação da cidade até a ascensão de Valente ao trono e está estruturado em dez livros. Seu estilo, muito claro, é dos mais simples de toda a literatura latina. O Breviário foi realizado com cuidado, baseando-se nas melhores fontes então disponíveis e dá mostras, globalmente, de imparcialidade e de clareza no estilo de escrita. 
Muito embora por vezes o latim empregado se afaste dos modelos ditos "puros", a obra foi durante muito tempo leitura indispensável para o ensino básico. 
O Breviário foi aumentado e continuado até a época de Justiniano I (527–565 d.C.) por Paulo, o Diácono. O trabalho deste último foi, por sua vez, retomado por Landolfo Sagax (c. 1000), e completado até aos dias do imperador Leão V, o Armênio (813–820 d.C.), na Historia Miscella
 
Eutrópio foi alto funcionário e cônsul eunuco do Império Bizantino do final do século IV. Castrado na infância e vendido como escravo, foi propriedade de vários indivíduos, sobretudo militares, até adquirir sua liberdade no fim da década de 370. Desde então serviu na corte imperial sob Teodósio I (378–395 d.C.) e conseguiu ascender nas fileiras imperiais através do patrocínio de Abundâncio. Em 393, foi enviado numa importante missão ao Egito e então com a morte do imperador, tornar-se-ia epítropo (regente) de seu filho e sucessor, o jovem Arcádio (395–408 d.C.). Em 398, liderou um exército contra invasores hunos que estavam pilhando as províncias orientais. Por conseguir uma vitória significativa contra eles, foi nomeado cônsul de 399, mas permaneceria pouco tempo no poder, pois logo seria executado sob influência do oficial ostrogótico Gainas.
 
 
II. EXCERTOS DO BREVIÁRIO DE EUTRÓPIO
 
 
1) Livro VI, cap. 21 - Guerra civil entre César e Pompeu 
 
Nunca até então tinham se reunido tantas tropas romanas num único lugar nem com melhores comandantes, que teriam facilmente subjugado todo o mundo, se fossem levadas contra os bárbaros. Contudo, combateu-se com grande esforço, e Pompeu foi vencido e seu acampamento saqueado. Ele, posto em fuga, buscou refúgio em Alexandria ¹, esperando receber ajuda do rei do Egito, a quem, devido à sua pouca idade, ele tinha sido dado como tutor pelo Senado. Este (rei do Egito), seguindo mais a fortuna do que a amizade, matou Pompeu e enviou a sua cabeça e o anel a César. Tendo aquilo sido visto, conta-se que César até derramou lágrimas, olhando para a cabeça de um tão grande homem e, em outro tempo, seu genro. 
 
¹  Os historiadores da história romana costumam omitir o fato do primeiro incêndio parcial da Biblioteca de Alexandria em que esteve envolvido Júlio César durante a guerra civil protagonizada por ele e Pompeu. Recentemente tem sido reconhecido que César teria incendiado a Biblioteca ou parte da sua coleção por acidente, o que a teria danificado parcialmente, fato não comentado no texto de Eutrópio e de outros historiadores romanos que teria ocorrido por ocasião de perseguição de César à frota de Pompeu, durante o cerco de Alexandria (48 a.C.). Ainda não está claro quanto realmente foi destruído e parece ter sobrevivido ou sido reconstruído pouco depois. 
 
Texto latino: Numquam adhuc Romanae copiae in unum neque maiores neque melioribus ducibus convenerant, totum terrarum orbem facile subacturae, si contra barbaros ducerentur. Pugnatum tamen est ingenti contentione victusque ad postremum Pompeius et castra eius direpta sunt. Ipse fugatus Alexandriam petiit, ut a rege Aegypti, cui tutor a senatu datus fuerat propter iuvenilem eius aetatem, acciperet auxilia. Qui fortunam magis quam amicitiam secutus occidit Pompeium, caput eius et anulum Caesari misit. Quo conspecto Caesar etiam lacrimas fudisse dicitur, tanti viri intuens caput et generi quondam sui. 
 
2) Livro VI, cap. 22 - Guerra civil entre César e Pompeu (cont.) 
 
Pouco depois César foi a Alexandria. A este também Ptolemeu quis preparar ciladas: contra a vida de César também Ptolemeu quis armar ciladas, para tal se fez a guerra ao rei ¹. Vencido no Nilo, pereceu e seu corpo foi encontrado com uma couraça de ouro. César, tendo-se apoderado de Alexandria, deu o reino a Cleópatra, irmã de Ptolemeu. César, voltando daí, venceu em batalha Pharnaces ², filho de Mitridates o Grande, que tinha ido em socorro de Pompeu perto da Tessália, que se rebelara no Ponto e que ocupava muitas províncias do povo Romano. Depois o obrigou a suicidar-se. 
 
¹  Ptolemeu XII estava em guerra com Cleópatra expulsa pelos Alexandrinos. César defendeu-a com o auxílio dos aliados de Mitridates e obrigou a Alexandria a aceitá-la como rainha. O próprio César comunicou a notícia a Roma da rapidez da vitória com três palavras: "Vim, vi, venci." 
 
²  Pharnaces era filho de Mitridates VI Eupátor, o rei de Ponto que guerreou três vezes contra Roma, trazendo muito perigo ao predomínio romano. Para ganhar o favor dos Romanos, Pharnaces enviou pelo mar a Sinop o corpo mutilado e virtualmente irreconhecível do seu pai como uma oferta de paz a Pompeu. Com isso, Pharnaces conseguiu ganhar o favor de Pompeu e como prêmio recebeu um reino na costa norte do Mar Negro. Mas esse prêmio era exíguo para Pharnaces: enquanto Pompeu e César lutavam, envolvendo Roma numa guerra civil, Pharnaces atravessou o Mar Negro e tomou Sinop de Calvino. Em 47 a.C., depois de derrotar Pompeu na batalha de Farsália, César o perseguiu até o Egito, e avançando sobre a Síria, marchou contra Pharnaces e rapidamente o derrubou na batalha em Zela. O próprio César anunciou a vitória dos Romanos, através de famoso despacho: "Vim, vi e venci". 
Pharnaces fugiu para Sinop através de Amissós, importante porto na costa norte do Mar Negro. Tendo feito um acordo ignóbil com Calvino em Sinop, que lhe permitiu partir em segurança, Pharnaces fugiu para seu ex-reino. Ali encontrou a morte, golpeado mortalmente por seu cunhado, Asander.  
 
Texto latino: Mox Caesar Alexandriam venit. Ipsi quoque Ptolomaeus parare voluit insidias, qua causa bellum regi inlatum est. Victus in Nilo periit inventumque est corpus eius cum lorica aurea. Caesar Alexandria potitus regnum Cleopatrae dedit, Ptolomaei sorori, cum qua consuetudinem stupri habuerat. Rediens inde Caesar Pharnacen, Mithridatis Magni filium, qui Pompeio in auxilium apud Thessaliam fuerat, rebellantem in Ponto et multas populi Romani provincias occupantem vicit acie, postea ad mortem coegit. 
 
3) Livro VI, cap. 25 - A morte de César 
 
Terminadas as guerras civis em todo o mundo, César voltou dali a Roma e começou a se comportar com crescente insolência, contrário à prática da liberdade romana. Como ele dispunha, portanto, a seu bel prazer, daquelas honras, que antes eram conferidas pelo povo e (como) nem mesmo se levantasse na presença do Senado, e fizesse outras coisas régias, ou quase tirânicas, foi tramada contra ele uma conspiração por sessenta ou mais senadores e cavaleiros romanos. Os principais entre os conspiradores foram dois Brutos (da família daquele Bruto que havia sido o primeiro cônsul de Roma e que havia expulsado os reis), Caio Cássio e Servílio Casca. Portanto, César, como tinha entre outros vindo à côrte, em um certo dia marcado para uma reunião, foi perfurado com vinte e três punhaladas. 
 
Texto latino: Inde Caesar bellis civilibus toto orbe conpositis Romam rediit. Agere insolentius coepit et contra consuetudinem Romanae libertatis. Cum ergo et honores ex sua voluntate praestaret, qui a populo antea deferebantur, nec senatui ad se venienti adsurgeret aliaque regia et paene tyrannica faceret, coniuratum est in eum a sexaginta vel amplius senatoribus equitibusque Romanis. Praecipui fuerunt inter coniuratos duo Bruti ex eo genere Bruti, qui primus Romae consul fuerat et reges expulerat, et C. Cassius et Servilius Casca. Ergo Caesar, cum senatus die inter ceteros venisset ad curiam, tribus et viginti vulneribus confossus est.
 
4) Livro VII, cap. 1 - (Marco) Antônio renova a guerra civil 
 
No ano 709 desde a fundação da Cidade, tendo César sido assassinado, renovaram-se as guerras civis ¹, pois o Senado favorecia os assassinos de César; e (Marco) Antônio, o cônsul da facção de César, tentava esmagá-los com uma guerra civil. A república, portanto, conturbada, (Marco) Antônio, que cometia muitos crimes, foi declarado inimigo pelo Senado. Foram enviados em sua perseguição os dois cônsules, Pansa e Hírtio, junto com Otaviano, um jovem de dezoito anos de idade, sobrinho-neto de César ², a quem no seu testamento este tinha nomeado seu herdeiro e lhe mandara usar seu nome; este é o mesmo que depois foi chamado de Augusto ³ e obteve a dignidade imperial. Esses três comandantes, portanto, marchando contra (Marco) Antônio, o derrotaram. Aconteceu, porém, que os dois cônsules vitoriosos perderiam a vida. Pelo que os três exércitos ficaram subordinados apenas a César Augusto. 
 
¹  Os assassinos de César foram obrigados a abandonar Roma, onde permaneceu, como único senhor, (Marco) Antônio. Neste ínterim, M. Otaviano, sobrinho-neto e filho adotivo de César, saiu de Apolônia, na Ilíria e foi a Roma para tomar posse da herança com o favor de Cícero e do Senado. Em seguida, fez com que (Marco) Antônio fosse declarado inimigo da Pátria. 
 
²  Acia, mãe de Otaviano, era a filha de Júlia, irmã de Júlio César. Assim, Júlio César era tio-avô de Otaviano. 
 
³  Em janeiro de 27 a.C., o Senado deu a Otaviano o título de Augusto, que designa o caráter sacrossanto e majestático da pessoa: com isso inicia-se o Império Romano. 
 
Texto latino: Anno urbis septingentesimo fere ac nono interfecto Caesare civilia bella reparata sunt. Percussoribus enim Caesaris senatus favebat. Antonius consul partium Caesaris civilibus bellis opprimere eos conabatur. Ergo turbata re publica multa Antonius scelera committens a senatu hostis iudicatus est. Missi ad eum persequendum duo consules, Pansa et Hirtius, et Octavianus, adulescens annos X et VIII natus, Caesaris nepos, quem ille testamento heredem reliquerat et nomen suum ferre iusserat. Hic est, qui postea Augustus est dictus et rerum potitus. Qui profecti contra Antonium tres duces vicerunt eum. Evenit tamen ut victores consules ambo morerentur. Quare tres exercitus uni Caesari Augusto paruerunt. 
 
5) Livro VII, cap. 6 - (Marco) Antônio e Cleópatra 
 
Neste ínterim, Pompeu rompeu a paz e, tendo sido vencido num combate naval, foi morto, quando fugia para a Ásia. (Marco) Antônio, que tinha a Ásia e o Oriente, depois de ter repudiado a irmã de César Augusto Otaviano, casou-se com Cleópatra, rainha do Egito. Ele (Marco Antônio) pelejou também contra os Persas. Venceu-os nos primeiros combates; contudo, ao regressar, sofreu a fome e a peste, e perseguindo-o os Partos, ele retirou-se como vencido. 
 
Texto latino: Interim Pompeius pacem rupit et navali proelio victus fugiens ad Asiam interfectus est. Antonius, qui Asiam et Orientem tenebat, repudiata sorore Caesaris Augusti Octaviani Cleopatram, reginam Aegypti, duxit uxorem. Contra Persas etiam ipse pugnavit. Primis eos proeliis vicit, regrediens tamen fame et pestilentia laboravit et, cum instarent Parthi fugienti, ipse pro victo recessit. 
 
6) Livro VII, cap. 7 - Batalha de Ácio
 
Ele (Marco Antônio) também suscitou uma grande guerra civil por instigação de sua mulher Cleópatra, enquanto por um capricho de mulher desejava reinar também em Roma. Foi vencido por Augusto na célebre e ilustre batalha naval perto de Ácio, que se localiza no Epiro, de cuja batalha fugiu para o Egito e, na sua posição desesperada, visto que passavam todos para o lado de Augusto, ele se matou. Cleópatra deixou-se morder por um áspide e morreu envenenada. O Egito foi incorporado ao império romano por Otaviano Augusto e foi posto à testa dele Cornélio Gallo. O Egito teve este romano como primeiro juiz supremo. 
 
Texto latino: Hic quoque ingens bellum civile commovit cogente uxore Cleopatra, regina Aegypti, dum cupiditate muliebri optat etiam in urbe regnare. Victus est ab Augusto navali pugna clara et inlustri apud Actium, qui locus in Epiro est, ex qua fugit in Aegyptum et desperatis rebus, cum omnes ad Augustum transirent, ipse se interemit. Cleopatra sibi aspidem admisit et veneno eius extincta est. Aegyptus per Octavianum Augustum imperio Romano adiecta est praepositusque ei C. Cornelius Gallus. Hunc primum Aegyptus Romanum iudicem habuit. 
 
7) Livro VII, cap. 8 - Otaviano toma o título de Augusto 
 
Acabadas assim as guerras em todo o mundo, Otaviano Augusto ¹ regressou para Roma, doze anos depois que fora cônsul. Desde esse ano ele sozinho governou a República durante 44 anos; pois antes a governara 12 anos com Antônio e Lépido. Assim, desde o início do reinado até o fim, passaram-se 56 anos. E morreu de morte natural aos 76 anos de idade em Atela, cidade da Campânia. Foi enterrado em Roma no Campo de Marte, varão que foi merecidamente julgado semelhante a um deus pela maior parte dos homens, pois que ninguém foi mais feliz do que ele nas guerras, ou mais moderado na paz. Nos 44 anos em que governou sozinho, comportou-se com muita afabilidade; muito liberal para com todos, fidelíssimo para com seus amigos, aos quais elevou a tão grandes honras, que quase os igualou à sua suprema grandeza. 
 
¹  Primeiro imperador romano, que governou desde o ano 29 a.C. até 14 d.C. 
 
Texto latino: Ita bellis toto orbe confectis Octavianus Augustus Romam rediit, duodecimo anno, quam consul fuerat. Ex eo rem publicam per quadraginta et quattuor annos solus obtinuit. Ante enim duodecim annis cum Antonio et Lepido tenuerat. Ita ab initio principatus eius usque ad finem quinquaginta et sex anni fuerunt. Obiit autem septuagesimo sexto anno morte communi in oppido Campaniae Atella. Romae in campo Martio sepultus est, vir, qui non inmerito ex maxima parte deo similis est putatus. Neque enim facile ullus eo aut in bellis felicior fuit aut in pace moderatior. Quadraginta et quattuor annis, quibus solus gessit imperium, civilissime vixit, in cunctos liberalissimus, in amicos fidissimus, quos tantis evexit honoribus, ut paene aequaret fastigio suo. 
 
8) Livro VII, cap. 9 - Guerras de Otaviano Augusto 
 
Em nenhum tempo antes dele a República floresceu mais: pois, exceto as guerras civis, nas quais foi invencível, anexou ¹ ao império Romano o Egito, a Cantábria, a Dalmácia, muitas vezes vencida antes, mas então sujeitada de todo; a Panônia, a Aquitânia, o Ilírico, a Récia, a Vindelícia e os Salassos nos Alpes; todas as cidades marítimas do Ponto, entre estas as nobilíssimas do Bósforo e Panticapeon. Venceu em muitas batalhas os Dácios. Destroçou as numerosas tropas dos Germanos, lançou-os também ao outro lado do rio Elba, que está em Barbáricum muito além do Reno. Porém fez esta guerra por meio do seu enteado Druso, assim como fez a guerra contra a Panônia por meio de Tibério, outro seu enteado, na qual transportou da Germânia 40 mil prisioneiros e os estabeleceu na Gália, na margem do Reno. Recuperou dos Partos a Armênia. Os Persas deram-lhe reféns o que a ninguém tinha acontecido antes: restituíram também as bandeiras romanas, que tinham tirado de Crasso depois de tê-lo vencido. 
 
¹ Eis a localização de alguns nomes geográficos citados: Cantábria ou Espanha Tarraconense, região do norte da Espanha; Dalmácia: parte da Iugoslávia à margem do Mar Adriático; Panônia: Hungria; Aquitânia: região do sul da França nas proximidades do Atlântico; Ilírico: Iugoslávia; Récia: grande parte da atual Suíça; Ponto: região da atual Turquia, à margem do Mar Negro; Ponticapeon: região correspondente à atual península da Crimeia, no Mar Negro; Dácia: atuais Sérvia, Montenegro e Bulgária ocidental; Germânia: Alemanha; Albis: o rio Elba, na Alemanha; Barbáricum: a Alemanha que não dependia de Roma; Partos: povo que habitava a parte oriental da atual Pérsia.
 
Texto latino: Nullo tempore ante eum magis Romana res floruit. Nam exceptis civilibus bellis, in quibus invictus fuit, Romano adiecit imperio Aegyptum, Cantabriam, Dalmatiam saepe ante victam, sed penitus tunc subactam, Pannoniam, Aquitaniam, Illyricum, Raetiam, Vindelicos et Salassos in Alpibus, omnes Ponti maritimas civitates, in his nobilissimas Bosphorum et Panticapaeum. Vicit autem multis proeliis Dacos. Germanorum ingentes copias cecidit, ipsos quoque trans Albim fluvium summovit, qui in Barbarico longe ultra Rhenum est. Hoc tamen bellum per Drusum, privignum suum, administravit, sicut per Tiberium, privignum alterum, Pannonicum, quo bello XL captivorum milia ex Germania transtulit et supra ripam Rheni in Gallia conlocavit. Armeniam a Parthis recepit. Obsides, quod nulli antea, Persae ei dederunt. Reddiderunt etiam signa Romana, quae Crasso victo ademerant. 
 
9) Livro VII, cap. 10 - Honras tributadas a Augusto 
 
Os Citas ¹ e os Indos ², cujo nome era antes desconhecido dos Romanos, enviaram-lhe (a Augusto) presentes e embaixadores. Sob seu governo foi feita província também a Galácia, antes tendo sido reino. M. Lólio por primeiro a governou na qualidade de Propretor. Contudo, (Augusto) foi objeto de um amor tão grande, mesmo entre os bárbaros, que reis amigos do povo Romano fundaram em sua honra cidades, que chamaram Cesareias (como foi feito na Mauritânia pelo rei Juba, e na Palestina, que é hoje uma cidade muito famosa). E muitos reis vieram dos seus reinos para obsequiá-lo, e em veste Romana, a saber: trajando togas, correram ao lado do seu coche ou seu cavalo. Ao morrer, foi chamado Divino ³; deixou a República em situação muito favorável a seu sucessor Tibério, que tinha sido seu enteado, pouco depois genro, finalmente filho adotivo. 
 
¹  Povo formado de várias tribos nômades equestres, que ocupavam por toda a Antiguidade Clássica a estepe pôntico-cáspia correspondente à região do Mar Negro até a China, incluindo aí o sul da Rússia, a Ucrânia, a Sarmácia (Polônia). Por vezes o termo também serviu para se referir aos eslavos. Foram os gregos que cunharam o seu nome (Skythoi; ou Scythae em latim). Os citas eram hábeis arqueiros com grande experiência em tiro com arco montado. 
 
²  Habitantes da região localizada entre os rios Indo e Ganges. 
 
³  Enodoa a figura de César Augusto um triste fato para a literatura latina: por ato desse imperador, no ano 8 d.C., o poeta Ovídio foi banido de Roma e obrigado a refugiar-se em remota fronteira nordeste do Império Romano. 
Ovídio faleceu no ano 17 d.C. em Tômis (atual Constança na Romênia). Hoje, o país considera Ovídio o primeiro poeta romeno. 
É desconhecida a causa do banimento, mas muito provavelmente o seu envolvimento num escândalo com Júlia, a neta do imperador Augusto, e o fato provável deste ter achado imoral seus conselhos em Ars Amatoria devem ter contribuído para a cruel decisão. 
 
Texto latino: Scythae et Indi, quibus antea Romanorum nomen incognitum fuerat, munera et legatos ad eum miserunt. Galatia quoque sub hoc provincia facta est, cum antea regnum fuisset, primusque eam M. Lollius pro praetore administravit. Tanto autem amore etiam apud barbaros fuit, ut reges populi Romani amici in honorem eius conderent civitates, quas Caesareas nominarent, sicut in Mauritania a rege Iuba, et in Palaestina, quae nunc urbs est clarissima. Multi autem reges ex regnis suis venerunt, ut ei obsequerentur, et habitu Romano, togati scilicet, ad vehiculum vel equum ipsius cucurrerunt. Moriens Divus appellatus. Rem publicam beatissimam Tiberio successori reliquit, qui privignus ei, mox gener, postremo adoptione filius fuerat.

7 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
Dando continuidade ao programa "Recupere seu Latim", desenvolvido e transmitido pelo Blog do Braga, hoje trago trechos selecionados de BREVIÁRIO DA HISTÓRIA ROMANA por Flávio EUTRÓPIO.
O estilo desse autor é muito leve e acessível, o que o torna de fácil comunicação, muito apreciado pelos professores de Latim.

Link: https://bragamusician.blogspot.com/2022/12/recupere-seu-latim-parte-15-excertos-da.html 👈

Cordial abraço,
Francisco Braga

Luiz Solano ("o Repórter do Planalto" e membro do IHG-DF e da Academia de Letras e Artes do Planalto) disse...

MUITO BOM!

Diamantino Bártolo (professor universitário Venade-Caminha-Portugal, gerente de blog que leva o seu nome http://diamantinobartolo.blogspot.com.br/) disse...

Muito obrigado, estimado amigo.
Santo e Feliz Natal e próspero Ano Novo de 2023.
Abraço.
Diamantino

João Alvécio Sossai (escritor, autor de "Um homem chamado Ângelo e outras histórias, ex-salesiano da Faculdade Dom Bosco e ex-professor da UFES (1986-1996)) disse...

Dados históricos muito interessantes. Somente o Francisco poderia nos brindar com essa tradução.

Abraço.

Geraldo Reis (poeta, membro da Academia Marianense de Letras e gerente do Blog O Ser Sensível) disse...

Obrigado amigo. Você é um exemplo de dedicação, um devotado mestre distrbuindo conhecimento. Enfim, um Ser Sensível e à disposição. Coisa rara nos tempos atuais. Meu abraço poético, meus agradecimentos, meus respeitos.

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga,
Um historiador contemporâneo dos últimos tempos do Império (Eutrópio), quando os fatos relatados se referiam a um passado glorioso e irrecuperável ! 
Saudações por mais essa tradução !
Grato,
Cupertino

Augusto Coura disse...

Agradeço a rica mensagem. Um grande abraço do seu sempre amigo: Augusto Coura.