terça-feira, 23 de novembro de 2021

ASSEMBLEIA MAGNA DA ABROL-ACADEMIA BRASILEIRA ROTÁRIA DE LETRAS-MG LESTE, EM BARBACENA


Por Francisco José dos Santos Braga 
 
Convite para 1ª Assembleia Magna presencial da ABROL-Academia Rotária de Letras - MG Leste, em Barbacena

 

 

I. INTRODUÇÃO 

 
A 1º de outubro de 2021, fui surpreendido com convite oral de Prof. José Cimino para nosso Duo Rute Pardini & Francisco Braga participar de apresentação musical em homenagem a Antônio Carlos Gomes, na qualidade de Presidente da ABROLAcademia Brasileira Rotária de LetrasMG Leste, durante a Assembleia Magna da ABROLMG Leste, programada para realizar-se em 20/11/2021 em Barbacena. A surpresa se deve a meu conhecimento prévio de Prof. José Cimino como fundador do TÚNISTeatro Universitário Sanjoanense e um dos responsáveis pelo seu sucesso estrondoso na década de 60 e professor universitário da Faculdade Dom Bosco de Filosofia Ciências e Letras de São João del-Rei e, mais tarde, como escritor, poeta e filósofo e, neste último caso, como Presidente da AMEFAcademia Mantiqueira de Estudos Filosóficos. Sem dúvida, tratava-se de grandiosa coroação para a sua vida de estudo e de dedicação à área educacional e também era um importante marco para o Rotary Club a criação da citada Academia de Letras, especialmente como filial de uma ABROL de abrangência nacional, quiçá internacional. 
De imediato, agradeci ao Presidente Cimino a gentileza do convite e passamos a analisar detalhes quanto ao repertório a apresentar durante a reunião solene e presencial do dia 20 de novembro de 2021. A novidade, segundo o Presidente Cimino, seria o retorno às reuniões presenciais, já que todas as reuniões que serão tratadas no próximo item tinham sido realizadas em sala virtual, não presencial por motivo da pandemia do corona vírus Plataforma Zoom para o Rotary Club de Barbacena. 
 
 
II. UM POUCO DE HISTÓRIA DA CRIAÇÃO E INSTALAÇÃO DA ABROLMG LESTE 
 
 
Comunicava-me, então, o Prof. José Cimino, que em 1º de junho de 2021 fora empossado presidente da ABROLMG Leste. Com base em informações contidas na Revista VEGA ¹, nº 1, a sua posse se dera em atendimento à convocação do Presidente da ABROL NACIONAL, Geraldo Leite, e devido ao fato de ter sido indicado e designado pelo Governador Fauzi Haddad desde 23 de outubro de 2020 para elaborar o Estatuto da futura ABROLMG Leste. Ele já era membro da Arcádia desde 3 de março de 2021 data da criação e fundação da ABROLSeção Minas Gerais Leste , quando os confrades foram designados para ocupar as cadeiras da Arcádia. Coube a José Cimino a cadeira nº 16, patroneada por Aloysio João Fellet. A referida reunião de 3 de março de 2021 teve ainda as seguintes missões: 
a) discutir e aprovar o Estatuto da nova Arcádia 
b) proceder à eleição da Diretoria 
c) indicar e aprovar os membros do Conselho Consultivo 
d) dar posse aos membros eleitos e designar, para cada um deles, as cadeiras acadêmicas com os respectivos patronos 
e) definir a sede da entidade. 
Cabe ainda salientar que aos 27 de abril de 2021, atendendo a convocação do Presidente José Cimino, houve uma reunião virtual, para que, em caráter preparatório, pudessem ser examinados todos os itens necessários à realização da Assembleia solene de instalação da ABROLMG Leste, agendada para o dia 1º de junho de 2021, conforme já visto. Nesta data, assim que foi declarado empossado José Cimino Presidente da ABROLMG Leste, ele prestou seu juramento e, em seguida, solicitou ao Secretário Nacional da ABROL NACIONAL que fizesse a apresentação dos Acadêmicos Fundadores e seus respectivos Patronos, ao mesmo tempo que, individualmente, os diplomas eram exibidos em tela de vídeo. Coube ao Presidente José Cimino declará-los empossados e convidar a confreira Ângela Maria Silva Rezende para fazer o juramento em nome dos mesmos. Coube ainda ao Presidente José Cimino apresentar e nomear os membros do Conselho Diretor, a saber: 
Presidente - José Cimino 
Vice-Presidente - Fauzi Haddad 
Diretora Secretária - Áurea Luiza Campos de Vasconcelos Grossi 
2ª Diretora Secretária - Lourdes Inácia Batista 
Diretora Tesoureira - Grácia Maria Araújo Gomes 
2º Diretor Tesoureiro - Dirceu Rocha Pereira 
Diretor de Eventos - Edson Carlo Brandão Silva 
2ª Diretora de Eventos - Tânia Werneck Pfaltzgraff Pereira 
Diretor de Protocolo - Paulo Cesar Barroso Araújo 
2º Diretor de Protocolo - José Marteleto Neto 
Conselho Consultivo - Adriano Ferreira das Neves, Aluizio Alberto da Cruz Quintão e Alberto Aluisio Pacheco de Andrade. 
Deu-se continuidade com a leitura do Termo de Nomeação dos mesmos. 
Portanto, voltando ao convite do Presidente José Cimino em 01/10/2021, o Duo Rute Pardini & Francisco Braga estava sendo convidado para abrilhantar a reunião solene e presencial do dia 20 de novembro de 2021, participando de seu Momento Cultural
 
ABROL-MG Leste: Revista VEGA, Ano I, nº 1, nov. 2021, 84 p. / Crédito para quase todos as imagens deste post: site Cidadã de Muriaé Link: https://cidadademuriae.com/noticia/1093911/abrol-mg-leste-recebe-academicos-em-barbacena-e-lanca-revista-vega

 
 
III. ASSEMBLEIA MAGNA DE 20/11/2021 
 
 
A Academia Brasileira Rotária de Letras MG Leste (Abrol-MG Leste) realizou no Salão Ouro do Hotel Master Plaza a Assembleia Magna para entronação de dois novos acadêmicos à entidade e confirmação do título de Acadêmico Honorário ao governador do Rotary Distrito 4521 Ano 2021-2022 Antonio Carlos Jacob. 
A solenidade foi presidida pelo Acadêmico fundador da entidade, Professor José Cimino, que chamou para compor a Mesa Diretora dos trabalhos a seu lado o governador Antônio Carlos Jacob; a governadora confreira e presidente de honra da ABROL-MG Leste, Cláudia Maria Lelo Scaglioni; o governador Duarte César Silveira Caldeira; o governador Dirceu Rocha Pereira; José Eduardo da Silva (presidente do Rotary Club de Barbacena); Raquel de Paula (presidente do Rotary Club de Barbacena Monte Mário), Alcimara Auxiliadora Andrade de Paula e o professor Rodrigo Tostes Geofroy (presidente da Academia Barbacenense de Letras).
 
Composição da Mesa Diretora dos trabalhos

 
A Assembleia Solene de 20/11/2021 constou de duas partes: na primeira parte, denominada Solenidades Acadêmicas, houve especialmente as posses de dois novéis Acadêmicos: Antônio Carlos Jacob (Honorário) e Alcimara Auxiliadora Andrade de Paula. Para apresentarem ambos os novéis Acadêmicos, que foram investidos da pelerine, do colar acadêmico e do diploma oficial, foram convidados respectivamente os confrades Luiz Carlos Heidenreich e Isaura Vargas de Oliveira. 
 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Durante a sessão de Solenidades Acadêmicas, ainda a confreira Áurea Campos de Vasconcelos fez uso da palavra, para render homenagem ao presidente José Cimino em nome do Rotary Club de Barbacena, elencando suas inúmeras realizações e contribuições para a elevação do grupo, entregando-lhe uma placa. A espontaneidade do gesto carinhoso da confreira e sua enorme gratidão foram muito apreciados por todos os presentes e levaram o Presidente Cimino às lágrimas. 
 
Placa em homenagem a Prof. José Cimino


Pausa para foto de todos os Acadêmicos

A sessão do Momento Cultural consistiu de duas homenagens, a saber: 
a) uma homenagem a Carlos Gomes, "o maior operista das Américas", em que o confrade Edson Brandão proferiu palestra sobre sua vida e obra. Como apêndice da palestra brilhantemente exposta, houve a performance musical a cargo do Duo Rute Pardini & Francisco Braga, para o qual estava programada a apresentação de duas peças: 
1) modinha "Quem sabe?" (1859-1860) 
2) canzonetta veneziana "Lisa, me vostu ben?" (1869) 
b) outra homenagem a João Cabral de Melo Neto, em que foi lido o currículo do grupo de teatro Lovioleiros por Cláudia Valle, também integrante do grupo; em seguida foi encenado o Funeral do Lavrador com excertos de Morte e Vida Severina e música de Chico Buarque de Holanda. A adaptação, montagem e direção esteve a cargo de Cláudia Valle. 
 
Lovioleiros: Funeral do Lavrador de Morte e Vida Severina

 
Cláudia Valle homenageada

Ainda constou do evento um jantar festivo no Salão do Rotary Club, que encerrou o evento com chave de ouro, durante o qual houve ainda o lançamento do nº 1 da Revista VEGA da ABROLMG Leste, totalmente ilustrada, "destinada a registrar, entre outros, a criação e instalação oficial da ABROLMG Leste, novo sodalício que nasceu como anseio do presidente do Rotary Club de Barbacena, Paulo Cézar Barroso de Araújo, e do Governador Fauzi Haddad". 
Cada Acadêmico recebeu exemplares da revista, com textos e reflexões dos acadêmicos da ABROLMG Leste, bem como o histórico de cada um dos acadêmicos e seus patronos. 
Na mesma ocasião foi lançado o livro do Prof. José Cimino, intitulado "Na Luz do Ser: Investigações de ontoantropologia". 
 
"Na Luz do Ser: Investigações de ontoantropologia", por Prof. José Cimino     

 

 
"As Aventuras de um Brasileiro nascido na Noruega", por Per Christian Braathen
 
III. CARLOS GOMES NO MOMENTO CULTURAL DE 20/11/2021 
 
 
De forma resumida, logo no início da palestra proferida pelo confrade Edson Brandão, o orador manifestou que sua palestra na íntegra abrangeria os 4 Atos da vida de Carlos Gomes, tendo sido reduzida para o 1º e o último Atos, por uma questão de tempo. 
 
Edson Brandão, Diretor de Eventos da ABROL-MG Leste e membro correspondente do IHG de São João del-Rei, profere palestra sobre vida e obra de Carlos Gomes, "o maior operista das Américas"

 
Em seguida, foi destacado o fato de a vida de Carlos Gomes ter sido marcada pela dor, ou, nas palavras do palestrante, "ter sua vida sido, ela própria, uma ópera": nascido em 11/07/1836 em Campinas-SP, sofreu o primeiro grande drama da sua ópera pessoal quando do assassinato (nunca esclarecido) de sua mãe aos seus oito anos de idade. Resumidamente, "Nhô Tonico", como era conhecido Gomes em família, desde o nascimento revelara pendores musicais; o seu primeiro desenvolvimento em Campinas se deu na Banda Musical de Campinas, fundada por seu pai; com o incentivo do pai e de seu irmão José Pedro de Sant'Ana Gomes foi crescendo em idade e conhecimento musical; aos 15 anos de idade já compunha valsas, quadrilhas e polcas; conheceu São Paulo, onde passou a realizar frequentemente concertos; a sua ida para a Capital Federal foi acompanhada de grande sucesso; aos 25 anos, em 04/09/1861, estreou A Noite do Castelo, ópera baseada na obra de Antônio Feliciano de Castilho. Pelo fato de ter constituído uma grande revelação e um êxito sem precedentes nos meios musicais do país, o interesse por sua música calou fundo no Imperador D. Pedro II e a confirmação dessa sua admiração pelo músico genial foi conceder ao campineiro uma bolsa de estudos musicais na Europa. Pensando também na sua amada Ambrosina, com quem namorava, moça da família Correia do Lago, Carlos Gomes escreveu a modinha "Quem sabe?", para letra de Bittencourt Sampaio, cujos versos ainda são cantados pela nossa geração. Devido à questão do tempo para a exposição de seu tema, Edson Brandão informou que restringiria sua palestra ao 1º Ato e ao último Ato da ópera que considerou ter sido a vida de Gomes. A sua destinação para a Itália tinha por objetivo a protagonização do compositor no projeto cultural do Segundo Reinado. 
Na Itália, a exaltação da figura de Gomes acabou por identificá-lo com um verdadeiro mito, um pop star, à guisa dos Beatles da época. "Todos falavam de sua vasta cabeleira, apelidaram-no de "testa di leone" (cabeça de leão), os restaurantes ofereciam pratos 'à Carlos Gomes' e uma taça de sorvetes 'Peri e Cecilia' com chocolate e creme lado a lado. Os humoristas diziam que quem então fazia música em Milão era um índio..." Há também a lenda, segundo a qual Verdi teria dito após assistir a Il Guarany: "Questo giovane comincia dove finisco io!" (Este jovem começa onde eu termino!) Era a consagração de Carlos Gomes em 1870 com Il Guarany. 
No ano seguinte, em dezembro, Gomes se casou com Adelina del Conte Péri, de família bolonhesa, que ele conhecera como professora de piano no Conservatório de Milão e com quem ele teve cinco filhos.
Diante do grande sucesso de público de Il Guarany (1870) e principalmente de Salvator Rosa (1874), Gomes entusiasmou-se com a aquisição da Villa Brasilia, uma villa paradisíaca em Maggianico de Lecco, próximo a Milão, na região dos Alpes, às margens do lago de Como, onde passou a residir. 
Sua vida começa a deteriorar-se em 1879 em decorrência de problemas financeiros e pessoais, quando ocorreu a morte prematura tanto do filho Mário quanto do sobrinho Paulino em 1883, filho de seu irmão Pedro Sant'Anna Gomes, que sofria de tuberculose e morreu em sua companhia, deixando-o arrasado.
Em 1885, a sua situação financeira se deteriorara em virtude de alguns fatores: além daquele investimento fracassado numa villa nos Alpes, o divórcio da esposa Adelina demandou extenso processo litigioso que minou definitivamente o espírito de Gomes. 
No último Ato da ópera da vida de Gomes, ele, identificado como produto do Império, não se atualizara quanto ao momento que vigorava no Brasil da última década do século XIX. 
Houvera grandes mudanças na arena política, podendo-se citar, principalmente, o golpe militar da proclamação da República, fato histórico que estancou o fluxo de recursos provenientes da Monarquia, com os quais Gomes contava para manter o luxo da Villa Brasilia e apoiar o projeto cultural do Segundo Reinado. Sem recursos, instalou-se em um modesto apartamento em Milão, com janelas para dentro da Galleria Vittorio Emanuele II. 
Sua imagem, ligada ao Imperador Dom Pedro II, deposto em 1889, levava agora o seu público brasileiro a considerá-lo um músico antiquado. 
Alquebrado e doente, padecendo de câncer na língua, prevendo seu triste fim, decide morrer em sua terra brasileira, mas só consegue o cargo de diretor do Conservatório de Música de Belém, assim mesmo com apoio político do governador Lauro Sodré. É que, após sua última estada em Belém, em 1895, e o grande sucesso de suas óperas encenadas no Theatro da Paz, Carlos Gomes foi convidado por Sodré a viver na cidade e assumir a direção do seu Conservatório de Música. 
O compositor então foi à cidade italiana de Milão para desfazer-se de seus pertences, retornando a Belém em abril de 1896, assumindo a direção do Conservatório até sua morte, em 16 de setembro do mesmo ano. 
 
Da esq. p/ dir.: Francisco Braga e Rute Pardini, Edson Brandão e José Cimino

 
 
IV. NOSSA PERFORMANCE MUSICAL 
 
 
Após a rica palestra do confrade Edson Brandão sobre Carlos Gomes, o Duo Rute Pardini & Francisco Braga, composto da soprano Rute Pardini e do músico e compositor Francisco Braga, foi convidado a se apresentar, tendo concordado com a dispensa da leitura de seus currículos artísticos em posse do Diretor de Eventos Edson Brandão, a fim de abreviar o Momento Cultural, diante do adiantado da hora. Conforme dito anteriormente, foram apresentadas as peças constantes do convite na seguinte sequência: 1) canzonetta veneziana "Lisa, me vostu ben?" (1869) 
2) modinha "Quem sabe?" (1859-1860) 
Antes da apresentação, teci alguns comentários sobre as peças. Sobre a canzonetta veneziana "Lisa, me vostu ben?", expliquei que a canzonetta estava muito próxima à tradição popular, com assuntos comuns à vida do homem do campo, tratando de assuntos de cunho pastoral ou de amor de pastoras. 
A soprano Pardini falou sobre os versos contidos na canção em sua tradução: "Sempre que Pedro pergunta se Lisa o quer bem, ela responde que sim. Mas é um sim que deixa dúvidas, que também parece não, e é assim só para ouvi-lo perguntar outra vez: Lisa, você me quer bem?" 
Achei importante acrescentar ainda que se tratava de uma história real de amor que levou ao casamento, em 1897, de duas personalidades altamente significativas do movimento nacional e nacionalista italiano: Piero Foscari (1865-1923) e a nobre Elisabetta Widmann Rezzonico (1878-1953): Piero e Lisa, da canção. 
Após a explicação da cantora, Braga continuou a explicar que a composição de Gomes foi dedicada a seu amigo Antonio Pavan (1823-1898), personalidade influente da vida intelectual de Veneza na época do risorgimento, do período anterior e posterior à recuperação do Vêneto pela Itália e pela retomada do antigo significado de sua vida cultural após a sua reintegração no reino nacional da Itália, tudo obtido através da reunificação italiana e das guerras travadas contra a Áustria. 
Quanto à mais famosa das modinhas de Carlos Gomes, "Quem sabe?", tão ao gosto do povo brasileiro, teve como inspiradora o primeiro amor do compositor, Ambrosina, irmã de seu grande amigo, pianista, compositor e editor de música, Emiliano Euquitiano Correa do Lago. 
Os versos são de Dr. Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, um sergipano acadêmico de Direito de São Paulo, que tocava violão e era figura obrigatória nos saraus literários da época. Triste, o texto expõe as dúvidas do amor: a distância da pessoa amada, a saudade, a dúvida sobre a permanência do amor.
Disse ainda que, quando se pensa nos versos de Bittencourt Sampaio nessa modinha, vem à memória o verso "Tão longe de mim distante", aliado à aluna campineira de Gomes aos 23 anos, o que explica a penetração dessa modinha no gosto do povo brasileiro, o que transpareceu na participação de todo o público presente acompanhando a soprano e secundando a sua exuberância vocal. 
Terminada a apresentação e diante do enorme sucesso e insistentes pedidos de bis, propusemo-nos a apresentar a peça de Josh Groban intitulada "Per Te", com versos em língua italiana e excelente arranjo para acompanhamento do piano. A música foi composta para a própria voz do compositor, infelizmente com algumas notas graves para o registro de uma soprano, mas a beleza da peça compensa um possível incômodo para a cantora. 
Em reconhecimento e gratidão pela nossa participação no Momento Cultural, a ABROL-MG Leste emitiu e nos conferiu dois Certificados, individualmente, que nos honrou sobremaneira, nos seguintes termos: 
CERTIFICADO 
A Academia Brasileira Rotária de Letras MG Leste confere o presente certificado à cantora lírica RUTE PARDINI em reconhecimento pela exímia interpretação da modinha "Quem sabe?" e da canzonetta veneziana "Lisa, me vostu ben?", ambas da autoria de Carlos Gomes, na Assembleia Magna da ABROLMG Leste, tendo dado, com sua voz de soprano incomparável, particular brilho ao evento. 
Barbacena, 20 de novembro de 2021 
Ass. José Cimino-Presidente 
Áurea Luiza C. Vasconcelos Grossi-Diretora Secretária 
 
Cantora Rute Pardini homenageada

 
 CERTIFICADO 
A Academia Brasileira Rotária de Letras MG Leste confere o presente certificado ao músico, escritor e poeta FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA em reconhecimento pelo apoio e pelo impecável acompanhamento, ao piano, à cantora lírica Rute Pardini, na Assembleia Magna da ABROLMG Leste.
Barbacena, 20 de novembro de 2021 
Ass. José Cimino-Presidente 
Áurea Luiza C. Vasconcelos Grossi-Diretora Secretária 
 

 
Por oportuno, pedi licença para fazer a entrega de um exemplar do livro comemorativo do Cinquentenário da Academia de Letras de São João del-Rei (1971-2021) ao Presidente José Cimino, com dedicatória de sua Presidente Zélia Leão Terrell, a ser lançado em reunião no dia 28/11/2021, augurando-lhe os melhores votos de sucesso na sua gestão à frente da ABROLMG Leste. 
 
Duo Rute Pardini & Francisco Braga
 
Finalmente, o nosso Duo se vê na obrigação de revelar que contou com o apoio imprescindível do musicista barbacenense Miguel Arcanjo, que nos disponibilizou não só o seu instrumento de trabalho (piano digital de cauda), mas também o seu assessoramento durante a performance, permanecendo ao nosso lado até o término do recital. A este digno profissional e artista, na verdadeira acepção da palavra, nosso mais sincero agradecimento. 
 
 Pianistas Francisco Braga e Miguel Arcanjo e cantora Rute Pardini

 
 

V. NOTA  EXPLICATIVA

 

¹  Vega é a estrela mais brilhante da constelação de Lira e a quinta estrela mais brilhante do céu noturno. Ela está separada do nosso sistema solar por 25 anos-luz, o que a torna uma das estrelas mais próximas do nosso Sol. 
 
Mitologia 
O festival de Tanabata tem origem numa lenda japonesa. Orihime era a filha de um poderoso deus do reino celestial. Certo dia, estando diante de seu tear, viu passar Altair conduzindo um boi, e por ele se apaixonou. O pai consentiu o casamento dos dois jovens. Porém, casados e totalmente dominados pela paixão, ambos descuidaram-se de seus afazeres normais. Foi então que, o pai indignado, ordenou que eles vivessem separados, um de cada lado da Via Láctea. Ele permitiria que, entretanto, o casal se reencontrasse apenas uma vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar, se cumprisse a ordem do pai, que era atender os pedidos vindos da Terra. Segundo a mitologia japonesa, este casal é representado por estrelas situadas em lados opostos da galáxia: Orihime é representada pela estrela Vega, e Altair (o pastor), do lado oposto da galáxia, que realmente só são vistas juntas uma vez por ano.
 
No festival de Tanabata, as ruas do bairro da Liberdade e a praça da Liberdade em São Paulo são decoradas com grandes ramos de bambu que recebem a ornamentação de enfeites coloridos de papel que simbolizam as estrelas. Nesses bambus são pendurados os tanzaku, pequenos pedaços também coloridos de papel, onde as pessoas colocam seus pedidos. 
 
  

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ABROL-MG Leste: Revista VEGA, Ano I, nº 1, nov. 2021, 84 p.
 
BISPO, Antonio Alexandre (Ed.): “O canto popular veneziano e o ressurgimento nacional italiano. A Canzonetta veneziana Lisa me vostu ben? de A. Carlos Gomes (1836-1896) dedicada a Antonio Pavan (1823-1898) no decanto do amor de Piero Foscari (1865-1923) e Elisabetta Widmann Rezzonico (1878-1953)“. Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 163/6 (2016:05). 
 
TANK, Niza de Castro: Minhas Pobres Canções: Antonio Carlos Gomes, 2006, 1ª edição, 449 p.  

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

MEU AVÔ POR RASÚL GAMZÁTOV


Por Francisco José dos Santos Braga 
 
Poema escrito em Avar por Rasúl Gamzátov e traduzido para o Russo por Яков Козловский em 1963. Desenhos de В. Челинцовой.

"Em homenagem a meu avô paterno, falecido em 19/11/1965, conhecido pelos de casa como Vô Zeca e pelos de fora como Nhonhô Braga, por sua diligência, amor e zelo com os netos, entre os quais me incluo. Traduzindo da língua russa o poema MEU AVÔ do daguestanês Rasúl Gamzátov, em diversas passagens, identifiquei a alma bondosa de José da Silva Braga, meu avô, com o herói do poema."

 

I. INTRODUÇÃO

 
Quero aqui consignar meu agradecimento à Profª Marina Gubaydullina pelos registros feitos nos intervalos de sua leitura do poema "Meu Avô" e apresentados no trabalho "Leitura com estações", mostrando o método do seu trabalho docente com crianças, que vou reproduzir aqui, traduzindo-os na íntegra. 
Esclareço o fato de que o poema, em minha tradução, pode ser lido integralmente sem prejuízo para o leitor sem as paradas. Mas, para aquele que quiser conhecer a reação das classes infantis diante da leitura do poema, julgo conveniente fazer a parada em cada "estação do poema" para conhecer um pouco sobre a técnica da pedagogia russa suscitando a participação de todas as crianças que atenciosamente ouvem as professoras. Com seu jeito especial de provocar respostas das crianças à guisa da maiêutica do filósofo Sócrates, motivam a criançada a esclarecer o problema, aproveitando a diferente origem, grupo étnico e experiência da criançada, suscitando, sem pressa e aos poucos, a participação de todas as crianças, cujo objetivo é mostrar-lhes que pertencem à mesma Pátria russa. 
Antes de propriamente começar a leitura do poema, a Profª supracitada fez a seguinte observação: 
“Nós lemos este poema de Rasul Gamzatov com idêntico êxito nas classes juniores 2-x, 3-x e 4-x. Trabalhando com esta obra, utilizamos a tecnologia "Desenvolvimento do pensamento crítico através da leitura e da escrita".”
Segundo ela, todo o trabalho foi dividido em cinco trechos: “Na aldeia”, “Ajudante”, “Um incidente engraçado”, “Como o avô e o neto passam o tempo juntos”, “Encontro com um veterano na escola”. Ao ler esse poema, a gente pode conversar com as crianças sobre uma variedade de coisas importantes, úteis e interessantes para as próprias crianças. Primeiro, sobre a geração mais velha, sobre avós, pais e mães. Um outro tópico de conversa é sobre o trabalho doméstico, sobre as responsabilidades que uma criança deve ter em casa. Além disso, foram discutidas questões sobre como o avô e o neto passam o tempo, o que fazem. E no final, as crianças falaram sobre o que aprenderam de novo sobre os povos do Cáucaso, quais os seus costumes e tradições, que modo de vida eles levam, sobre a natureza no Cáucaso, sobre o que, nas pessoas, a vida nas montanhas deixa marcas e o que contribui para a longevidade nestas condições adversas...
O resultado dessa comunicação foram resenhas escritas das crianças e seus desenhos sobre o que leram.” 
 
 
 

II. O POEMA: Meu Avô” por Rasúl Gamzátov  


PRIMEIRA ESTAÇÃO: NA ALDEIA 
 
Eu tenho um avô, 
Como o inverno, grisalho. 
Eu tenho um avô 
De barba branca. 
 
No dia que travamos conhecimento 
Isso não é nenhum segredo
Eu tinha meio mês de idade, 
E ele, cem anos. 
 
Filhotes de andorinhas, 
Entoando canções, 
Me acordam junto com vovô 
No meu raiar do dia. 
 
O sol, em ginástica matinal, 
Nos observa de perto. 
Levantamos nossos braços 
Ao comando: "Um!" 
 
E acima de nós molhada 
A folhagem farfalha. 
Nós baixamos os braços 
Ao comando: "Dois!" 
 
E com a água fria, 
Direto do riacho, 
Nos lavamos juntos: 
Vovô e eu. 
 
De mãos dadas 
Com meu avô, 
Por todo o povoado 
Passeamos juntos. 
 
Topamos com o médico 
Que me curou, 
Ou com o ferreiro, 
Profissional do fogo. 
 
Com o carteiro com gorda 
Bolsa no cinto, 
Com o agrônomo, a galope 
Num cavalo castanho,
 
Quem topa conosco 
Na estrada, 
Saúda vovô, 
Dizendo: Salam! 
 
Ando com vovô, 
Pensando com meus botões 
Que, como eu, é provável 
Todo o mundo conheça. 
 
Digo olá às pessoas 
Como moço, a caminho. 
Como é bom para mim ser 
Levado pela mão do avô! 
 
Comentários da Profª Marina Gubaydullina
Será que vocês têm vovô? Quais são eles? O que eles fazem? Vocês costumam se encontrar com eles? Como vocês passam o tempo juntos? E como vocês sobre eles narrariam algo que desejariam comunicar sobre o avô de vocês, antes de mais nada? E agora escutem o que o menininho do poema de Rasul Gamzatov está contando sobre o seu avô... Como aparece diante de vocês o herói do poema? (As respostas foram: "Gentil, sábio", Ele é grisalho, como a neve", "Ele tem barba branca", "Ele tem cem anos", "Ele levanta cedo, faz exercícios, se lava com água fria...".) Sobre o relacionamento com a geração mais velha, as respostas foram: "Todos o cumprimentam, como um rei." "Ele é um ancião. Todo o mundo o respeita." 
A princípio tudo parece tão próximo e, até parece, não difere daquela vida que as cerca, que as crianças até pensem no fato de que a ação possa se desenrolar em algum lugar da nossa região. Desde as primeiras estrofes, as crianças compreendem que o avô e o neto vivem na aldeia. "É uma aldeia tártara", dizem nossas crianças, e nós não os dissuadimos por ora. E por que vocês assim decidiram? As crianças dizem que na aldeia se cumprimentam em tártaro: "Salam!" e ainda: "Aldeia não é aldeia de jeito nenhum, mas se chama "Aúl"."
Mas, representantes de quais profissões moram em "Aúl"? Sem esforço são chamados doutores, carteiros, não esquecendo o ferreiro. Na verdade, nem todos entendem, o que eles fazem. E de jeito nenhum sabem as crianças contemporâneas o que faz um agrônomo. Por isso o poema de Rasul Gamzatov é um motivo muito bom para se falar de várias profissões. 
 
SEGUNDA ESTAÇÃO: AJUDANTE
 
No quintal e dentro de casa 
Estou contente por trabalhar. 
Meu avô diz: 
Dê de comer aos frangos! 
 
Tchi, tchi, tchi! eu grito 
No meio do quintal. 
Tchi, tchi, tchi! eu grito. 
É hora do café matinal! 
 
O falcão está dando voltas no céu, 
Pela terceira vez consecutiva, 
Mas, dirigindo-se a ele, assaltante: 
"Não furte os frangos!" 
 
Afinal, uma cartucheira 
Temos, amigos. 
E vovô atira 
Certeiro de rifle... 
 
Para nosso cabrito 
Colhi ervas 
Pena que nosso cabrito 
Você não tenha visto. 
 
Por ora ele ainda tem 
Mamadeiras não chifres. 
E ele é todo tão branco 
Como neve no inverno. 
 
Embora ele viva no mundo 
Pouco mais de um mês 
Mas já dá chifradas
Não brinque com ele! 
 
Os lobos cinzentos amolam 
Seus dentes nas crianças 
Mas os cães pastores são perspicazes 
Não dormindo à noite. 
 
E de tiroteio meu avô 
Entende muito: 
Escapar do tiro para a floresta 
O lobo não sabe. 
 
De um caso engraçado para você 
Eu vou contar agora. 
Orelhudo, cinzento 
Temos um burro.
 
Comentários da Profª Marina Gubaydullina
Um assunto particular de conversação sobre o trabalho doméstico, que está a cargo da criança em casa. Com qual heroizinho do poema com idade infantil se acostumam? Como vai ajudar sua família a administrar com grande economia? Quais são suas obrigações? A criança com vontade realiza seu trabalho? E você como vai ajudar em casa, com suas obrigações? Quais?
E quais animais vivem no seu quintal? Muitos de vocês, claro, viveram em aldeia. Em nossas aldeias é possível encontrar esses animais? Quais, além dos burros? 

TERCEIRA ESTAÇÃO: UM INCIDENTE ENGRAÇADO
 
Chega à cintura do avô, 
Não é nada. 
Vovô sentou-se uma vez 
No campo com ele. 
 
O burro mudou-se pra casa 
(A via não é longe daqui). 
Eu o trouxe com solas do pé 
Um cavaleiro no chão. 
 
De repente empacou pregado no chão 
Burro a caminho: 
"Vovô pernalto,
Eu não quero dirigir.” 
 
Eu o trouxe com solas do pé 
Um cavaleiro no chão. 
E ele disse alegre: 
"O caminho não é longe daqui". 
 
Não me fica bem cavalgar 
Montado num burro. 
Estou melhor em casa 
Confio no a pé. 
 
E a passos rápidos 
Fui pelo caminho 
E atrás dele zangado. 
O burro correu. 
 
Bem, a mim em um burro 
Andar a cavalo 
Palavra!, agradaria mais 
Do que ir a pé. 
 
Comentários da Profª Marina Gubaydullina
E os burros? Que animais são? "Os burros podem estar às vezes teimosos, às vezes ofendidos." "Sobre eles se diz: Teimoso, como um burro!" "Quando os cavalos estão trabalhando, eles não batem papo, mas os burros dizem: 'ia-ia'. Mas vovô debate com o burro, quando ele não aceita levá-lo? "Não, ele sábia e pacientemente se dirige ao burro: ele desce do burro e vai ele próprio a pé, e o burro se ofendeu e foi atrás dele." E para que se mantêm burros nas aldeias? "Os burros são menores do que os cavalos. Mas em cima de burros é possível transportar coisas pesadas. Eles são muito resistentes e amam o trabalho".
E onde, apesar de tudo, vivem os burros? Alguém responde que o burro Ia-ia vive no conto sobre o ursinho Pooh. E alguém lembrou que na comédia "Prisioneira caucasiana" também há um burro "que nem sempre tem obedecido a Xurika." E onde acontece a ação no filme "Prisioneira caucasiana"? Não imediatamente, mas alguém balbucia a almejada palavra "Cáucaso". "Mas onde Cáucaso se encontra?" "Na cidade". "No país". Finalmente, alguém em um tom hesitante: "Na região... No sul...". Acrescenta: "Há montanhas no Cáucaso". Então nós aos poucos esclarecemos, que os burros vivem no Cáucaso, isto é, que podemos supor que também nossos heróis avô e neto moram no Cáucaso, no Aul montanhoso. Em tal aldeia montanhosa, cujo nome é Tsada, nasceu também o autor do poema Rasul Gamzatov. 
 

QUARTA ESTAÇÃO: COMO O AVÔ E O NETO PASSAM O TEMPO JUNTOS
 
 
Vovô sabe muito 
De histórias fantásticas: 
Sobre lua e sol 
Sobre animais e pássaros. 
 
Lhe faço perguntas diferentes 
Esfalfando-o: 
Onde? 
Pra quê? 
E em quanto tempo? 
Quanto? 
Por quê? 
 
Meu avô é tudo pra mim 
Pode dar uma resposta. 
E meu avô não é velho, 
Apesar de ter cem anos. 
 
Ele se faz de cavalinho 
Talvez pacatá, 
Para eu cavalgar 
Em seus ombros. 
 
E quando meu avô 
Montar em um cavalo, 
Então me fará sentar 
Na sela. 
 
Vamos sentar no balanço
Dois temerários
E nós decolamos alegremente 
Mais alto que as nuvens. 
 
Sentemos no balanço
Ambos temerários
E decolemos alegremente 
Mais alto que as nuvens. 
 
Afinal, rua abaixo 
Conosco caminham as nuvens. 
E os riachos saltam para nós 
Direto da geleira. 
 
Afinal, rua abaixo 
As nuvens estão caminhando. 
E os riachos saltam para nós 
Direto da geleira. 
 
Vovô trabalha 
Como se fosse jovem 
Rega macieiras com água 
De nascente. 
 
Estou no celeiro atrás da escada, 
Acreditem! não irei 
Colher a maçã madura 
No pomar, 
 
Porque vovô 
Rápido e facilmente, 
Num instante pode me erguer 
Muito alto. 
 
Lezguinka ¹ vovô e eu 
Adoramos dançar. 
Se fica acertado que cabe 
A mim começar 
Então, apertando afetuosamente 
Os olhos gentis 
Vovô bate palmas 
E grita: Arssa!
 
E vovô põe-se a dançar 
Esguio como uma videira, 
Eu bato palmas 
E grito: Arssa! 
 
Perto do velho moinho 
Ao alvorecer do dia 
Nadar em um rio de montanha 
Ele me ensinou. 
 
E agora vovô e eu 
Nas ondas do rio 
Costumamos nadar no verão 
Aposta: quem chega primeiro?... 
 
Ele fabricou uma flauta 
Eu fiz de caniço. 
Amam minha flauta 
Campo e rio. 
 
O rouxinol no bosque 
Ama minha flauta. 
À noite, costuma cantar 
Junto dela. 
 
E quando nós esperamos 
Com o Avô Inverno ²
Então, em um trenó montanha abaixo 
Passamos voando com ele. 
 
Com faíscas azuis
A neve gira em redemoinhos. 
Num instante, o eco responderá 
Numa risada divertida. 
 
Se você ficar com raiva 
Eu ficarei no frio 
Esfregando com uma luva 
Nariz avermelhado 
O avô dirá baixinho: 
Esconde-te, pardal!
E me agasalha 
Com sua burca. 
Águia tão pequena 
Nas rochas antes de dormir 
Águia mãe afetuosamente 
Esconde-a sob a asa. 
 
As estrelas brilham ao anoitecer 
O pomar dorme na neve. 
Vovô e eu nos sentamos 
Mais perto da lareira. 
 
Ele lê livros pra mim
Afinal, ler eu mesmo 
Ainda não posso 
Mesmo por sílabas. 
 
Comentários da Profª Marina Gubaydullina:
Este trecho permite travar conhecimento mais íntimo com o modo de vida do povo do Cáucaso setentrional. Também aqui as crianças particularmente estão ativas na conversação. Será que isso é chato para o avô e o neto? Como eles juntos passam o tempo? E o que de novo vocês, crianças, souberam sobre os povos do Cáucaso a partir desse trecho? Qual é a natureza no Cáucaso? E como influencia na vida da gente montanhesa? O que contribui para a longevidade dos avós? Quais costumes, tradições entre os povos caucasianos? Qual cultura, quais danças populares? 
Ao declamar o trecho apresentamos junto a seguinte narrativa sobre a vida dos povos do Cáucaso setentrional: 
“A vida nas montanhas é uma vida em condições austeras. No inverno lá é frio, e os homens agasalham-se com burcas de pele de cordeiro (capas de feltro usadas no Cáucaso); em tal burca o avô vai esconder o pequerrucho no frio intenso de inverno. As montanhas circundam Aúl com cumes gelados, das montanhas caem cachoeiras e fluem riachos diretamente da geleira, por isso a água neles, mesmo no verão, é muito fria. A natureza nas montanhas é muito bela, majestosa. A posição de Aúl é mais elevada do que as nuvens. Lá há ricas pastagens verdes, onde são apascentados bodes montanheses, ovelhas e carneiros, existem fontes, crescem macieiras e pessegueiras, onde é possível ouvir o canto do rouxinol. Nos penhascos da montanha vivem aves de rapina águias e falcões, que podem surripiar frangos, e nos bosques encontram-se lobos, que estão dispostos a aproveitar-se dos animais domésticos. Por isso, é preciso sempre estar pronto para tal ataque. 
Os povos caucasianos trabalham muito e acostumam os filhos desde a mais tenra idade ao trabalho. Os meninos desde a primeira infância são bons cavaleiros e atiradores certeiros, fortes e resistentes fisicamente. Os montanheses povo enrijecido, banhando-se em riachos frios da montanha, nadam até para ver quem chega primeiro. O ar livre da montanha e então o modo de viver contribuem muito para a vigorosa saúde e longevidade. Nas tradições dos povos caucasianos a formação do respeito e da relação respeitosa para com a geração idosa, visível no poema, mostra como todos respeitam o avô. E ainda aqui, sua cultura irrepetível: a música, sem semelhança nem em quaisquer outras danças. Todos gostam de dançar lezguinka. Eles mesmos fazem da cana de açúcar tubos e brincam com eles. A rica língua pertencente a cada povo fica bem evidente quando o menino conta que o avô "sabe muitas histórias fantásticas...".”
 
 
QUINTA ESTAÇÃO: ENCONTRO COM UM VETERANO NA ESCOLA
 
 
Eis o que meu avô é!
No feriado de maio, ele
Estava na reunião na escola
Convidado pela criançada.

Ele chegou a tempo
Não decepcionou a criançada.
Ficou sob a bandeira vermelha
Destacamento de pioneiros.

E mantendo o alinhamento,
Todas as crianças estão aqui
Ao avô pioneiro
Fizeram uma saudação.

E quando solene
O fogo estava queimando
Meu avô disse,
Velho habitante da montanha,

Que tal como acontece com outros montanheses
No início de fevereiro
Ele esteve em visita a Lênin
E visitou o Kremlin.

Como ele doou, com o coração apertado,
Uma Burca Ilitch... ³
Ser tal como meu avô,
Eu realmente quero!

Venham nos visitar
Nas montanhas íngremes
Conheçam a si mesmos
Com meu avô!
 
Comentários da Profª Marina Gubaydullina:
O que mais ficamos sabendo do avô? O avô, como muitos habitantes dos mais diferentes cantos do nosso país, ainda é também participante da Grande Guerra Patriótica.   E esta o uniu a muitos, e naquela data também a nossos patrícios. 
Eis como falamos, lendo os versos de Rasul Gamzatov. A leitura dessa obra instrui muitas das criancinhas, em muitas abre os olhos, permite confrontar seu modo de vida com a vida das pessoas, habitantes nestas montanhas. Tudo, sobre o qual se conta no poema, está próximo e claro para as crianças. Elas, de bom grado se lembram de seus avós, os comparam com o herói de Rasul Gamzatov, e também o fazem com seus sentimentos, que elas experimentam com seu avô, com sentimento de orgulho, do qual está repleto o heroizinho do poema. 
 
 
 
 

II. NOTAS  EXPLICATIVAS

 

¹  De acordo com a Encyclopaedia Britannica
"Lezginka, soletrado também Lezguinka, dança folclórica com origem atribuída ao povo Lezgin do Cáucaso. É uma dança de homem solo (frequentemente com uma espada) e também uma dança para um casal. O homem, imitando a águia, cai em seus joelhos, salta para cima, e dança com breves passos e fortes e afiados movimentos braçais e corporais. Quando a dança é representada aos pares, os casais não se tocam; a mulher dança tranquilamente olhando a exibição masculina." 
 
²  Na Rússia, em vez do Papai Noel, existe outro personagem que se chama Ded Moroz (pron. Dyed Moróz). Muita gente traduz esse nome em português como Vovô Gelo. No poema, o velhinho é chamado de Vovô Inverno.
Ded Moroz é um velhinho que entrega os presentes para crianças na festa do Ano Novo, e não é no Natal que é celebração religiosa. Ded Moroz tem uma netinha Sniegúrka ou Sniegúrotchka, a heroína de muitos contos de fadas russos, a Donzela de Neve, que ajuda seu vovô.
 
³ A referida burca ficou famosa porque Vladimir Ilitch Lodyzhensky (2/3/1886-16/01/1915) a usava quando caiu com honra e como herói no campo de batalha da Galícia durante ataque.
Em 2018, uma residente em São Petersburgo, Natalya Georgievna Dobrovolskaya, doou uma burca de seu parente, o coronel Vladimir Lodyzhensky, que morreu na frente em 1915, para o Museu "Rússia na Grande Guerra". Perfurado por uma bala, foi mantido na família por mais de 100 anos.
A coleção da Reserva do Museu do Estado de Tsarskoe Seló foi reabastecida com um item raro.
Cf.  https://spbdnevnik.ru/news/2018-06-13/peterburzhenka-peredala-v-muzeyzapovednik-tsarskoe-selo-probituyu-puley-burku


Burca Ilitch
 
 
Com essa expressão utilizada na Rússia e noutras ex-repúblicas soviéticas, esses países tentaram descrever o conflito e o esforço de guerra contra a Alemanha Nazista e seus aliados (Bulgária, Hungria, Itália, Romênia, Eslováquia, Finlândia e Croácia) ocorrida entre 1941 e 1945 na II Guerra Mundial.
Em 22/06/1941, o III Reich deslanchou um pérfido ataque à União Soviética, dando início à Grande Guerra Patriótica, quando os alemães invadiram Lviv. Então o avô foi enviado para o front da batalha nas fileiras do Exército Vermelho.
Calcula-se que cinco milhões de soldados do Exército Vermelho tenham sido mortos, capturados ou feridos nos primeiros seis meses da guerra.
Apesar das significativas vitórias dos exércitos do Eixo nas batalhas de Minsk, Smolensk, Viazma e Kiev, entre outras, a tenacidade da resistência dos soldados soviéticos, acrescentada à mobilização do povo soviético diante do inimigo, fez com que a máquina de guerra nazista não alcançasse seus principais objetivos, que eram destruir o exército soviético e conquistar as principais cidades do país: Leningrado e Moscou.   



 
BIBLIOGRAFIA
 
 
GUBAYDULLINA, Marina: Расул Гамзатов. Поэма «Мой дедушка»: Чтение с остановками в младших классах. 12 p. 

ГАМЗАТОВ, Расул: Мой дедушка, Moscou: Детская литература, 1975 (ilustrado)

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

NÃO FIQUES JUNTO DE MEU TÚMULO A CHORAR


Por Francisco José dos Santos Braga 
 
Sou o veloz animado bater de asas / de tranquilos pássaros em voo circular

 

CONTEXTO HISTÓRICO 

Mary Elizabeth Frye (1905-2004) foi uma poetisa norte-americana que ficou conhecida hoje quase exclusivamente por ter escrito um único poema, "Não fiques junto de meu túmulo a chorar" em 1932 e, apesar disso, ele se mantém o mais popular em língua inglesa. Ela o escreveu especificamente para uma jovem judia alemã chamada Margaret Schwarzkopf que vivia com Frye e seu marido e estava desolada com a morte de sua mãe, que morava na Alemanha. Frye escreveu o poema do ponto de vista da mãe da jovem enlutada, a fim de dar esperança e conforto a essa filha que tanto sofria. Em 1939, o Congresso dos EUA publicou o poema para o serviço memorial dos Veteranos da Guerra Espanhola Unidos sem atribuir-lhe a autoria. O efeito do poema foi monumental. Ele impactou todos os leitores que já perderam um ente querido. Este poema não só ofereceu conforto à jovem para quem foi escrito, mas também a milhões de leitores em todo o mundo. 
 
O POEMA EM PORTUGUÊS
 
Eis minha tradução de "Do not stand at my grave and weep" por Mary Elizabeth Frye: 
 
Não fiques junto de meu túmulo a chorar. 
Não estou aí, nem estou dormindo. 
Sou milhares de ventos que sopram. 
Sou as fagulhas diamantinas na neve. 
Sou o raio solar no trigo maduro. 
Sou a chuva suave de outono. 
Quando acordas no silêncio matinal, 
sou o animado veloz bater de asas 
de tranquilos pássaros em voo circular. 
Sou o doce brilho estelar noturno. 
Não fiques junto de meu túmulo a chorar. 
Não estou aí, nem morri. 
 
O POEMA EM INGLÊS 
 
Do not stand at my grave and weep. 
I am not there. I do not sleep. 
I am a thousand winds that blow, 
I am the diamond glints on snow. 
I am the sunlight on ripened grain, 
I am the gentle autumn rain. 
When you awaken in the morning's hush 
I am the swift uplifting rush 
Of quiet birds in circled flight. 
I am the soft star-shine at night. 
Do not stand at my grave and cry. 
I am not there. I did not die. 
 
ANÁLISE DO POEMA 
 
O poema é composto de 12 versos, rimando em dísticos. Cada linha é constituída de um tetrâmetro jâmbico, exceto as linhas 5 e 7: a 5ª com uma sílaba extra; e a 7ª, com duas extras. 
A primeira linha do "Não fiques junto de meu túmulo a chorar" revela um protagonista por trás da voz de alguém que está no pós-vida. O que intriga o leitor é o tom de autoridade que a frase é dita, como de alguém que sabe o que é morrer, e no-lo anuncia do além-túmulo. Essa linha não é de apelo ou sugestão, mas de comando. Ela ordena a seus enlutados que não chorem. 
Na linha 2, novamente a voz autoritária argumenta: não adianta chorar por mim, pois "não estou aí, nem estou dormindo". Com essas sentenças assertivas o protagonista mostra que possui autoridade neste assunto e que não cabe questionar se há ou não vida pós-morte. 
Nas linhas 3-9, o protagonista muda o tom, de autoritário que tinha sido até então, para outro que ofereça conforto e que tranquilize os leitores. Para isso, convida-os a descobrir onde eles podem encontrá-lo: nos "ventos que sopram" e nas "fagulhas diamantinas na neve". Podem ainda senti-lo no "raio solar" e na "chuva de outono". Esses foram os elementos da natureza em que os enlutados podem encontrar a sua alma. Além disso, o protagonista ainda enumera as situações em que é possível sentir a sua presença física: nos sons dos pássaros em seu voo circular (linhas 8 e 9), no silêncio da manhã (linha 7) ou no doce brilho dos astros (linha 10). 
Nas linhas 11-12, o protagonista retoma o tom de comando inicial, modificando apenas o fechamento do poema, esclarecendo que sua alma está viva ("não morri"), recomendando ao leitor que não deve procurá-la na campa fria, e sim, a partir de agora, pode ser vista ou sentida em todos os lindos elementos da natureza. 
 
AUTORIA CONTROVERSA 
 
"Não fiques junto de meu túmulo a chorar" é o primeiro verso e título popular de um poema de luto de autoria realmente controversa. O poema foi popularizado no final dos anos 1970 graças a uma leitura de John Wayne que inspirou outras leituras na televisão. Durante o final da década de 1990, Mary Elizabeth Frye afirmou ter escrito o poema em 1932. Isso foi supostamente confirmado em pesquisa de 1998 conduzida para a coluna do jornal, "Dear Abby" (Pauline Phillips). 
No entanto, o jornal de Oxford, "Notes and Queries", publicou um artigo de 2018 afirmando que o poema, originalmente intitulado "Immortality", foi de fato escrito por Clare Harner Lyon (1909-1977) e publicado pela primeira vez com seu nome de solteira (Harner) na edição de dezembro de 1934 da revista de poesia The Gypsy no jornal Kansas City Times. O poema teve uma reedição no mesmo jornal em 8 de fevereiro de 1935, p. 18. 
Cf. imagem dessa reedição: https://www.newspapers.com/image/649187665/  👈
 

Observam-se três diferenças entre esta versão do poema de Clara Harner e o apresentado anteriormente: 1) ter um título, ou não ter o seu título Immortality, idêntico ao primeiro verso; 2) ter adotado a "indentation" (processo de deixar um espaço à margem de uma linha, ao escrevê-la) e 3) fazer uso de quebras de linha.

 
ENQUETE DA BBC 
 
Para coincidir com o Dia Nacional da Poesia de 1995, o programa de televisão britânico The Bookworm conduziu uma enquete para descobrir os poemas favoritos da nação inglesa e, posteriormente, publicou os poemas vencedores em forma de livro. O prefácio do livro afirmou que "Não fiques junto de meu túmulo a chorar" foi "o sucesso inesperado da poesia do ano do ponto de vista do Bookworm"; o poema "provocou uma resposta extraordinária... os pedidos (de reconhecimento de voto) começaram a chegar quase imediatamente e, nas semanas seguintes, a demanda aumentou para um total de cerca de trinta mil. Em alguns aspectos, tornou-se o poema por procuração favorito da nação... apesar de ele estar fora da competição." Isso foi ainda mais notável, uma vez que o nome e a nacionalidade do autor(a) norte-americano(a) só se tornaram conhecidos vários anos depois. 
Em 2004, o The Times escreveu: "O poema demonstrou um poder notável para amenizar a perda. Tornou-se popular, cruzando as fronteiras nacionais para uso em cartões de luto e em funerais, independentemente de raça, religião ou status social". 
 
POPULARIDADE DO POEMA 
 
O poema de Mary Frye/Clara Harner já foi traduzido para praticamente todas as línguas ocidentais. Recentemente tomei conhecimento do poema traduzido para o árabe em 2 versões: por Abdurrahman Alsayed e Muath Alomari. 
Também localizei interessante arranjo musical para o coro infantil LIBERA pelo compositor Robert Prizeman, que musicou a letra do poema: 
Cf. nos links: https://youtu.be/lHZ1cuYSRh4  👈
 
Este é certamente o lugar para desejar ao compositor britânico, Sr. Robert Gordon Prizeman:
RIP! Descanse em Paz! (falecido em 8/9/2021)


 
II. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
WIKIPEDIA: Do Not Stand at My Grave and Weep
 
WIKIWAND:  Do Not Stand at My Grave and Weep