segunda-feira, 13 de agosto de 2018

FUNDAÇÃO CEREM RECEBE ACERVO DE ILUSTRE COMPOSITOR SÃO-JOANENSE





A Fundação Centro de Referência Musicológica José Maria Neves (FCEREM) recebeu do pianista e professor da UFJF, André Pires, o acervo de partituras que pertenceu a um dos mais importantes compositores são-joanenses, Presciliano Silva (1854-1910). 


Natural de São João del-Rei, nascido de família humilde da Rua Santa Tereza, ao lado da Igreja do Carmo, o compositor afro-descendente foi discípulo do célebre maestro Martiniano Ribeiro Bastos. Silva teve que vencer todas as dificuldades até se matricular muito jovem no Real Conservatório de Milão, onde estudou, compôs e publicou obras durante quatro anos.

O são-joanense presenciou na cidade milanesa todo o esplendor da ópera italiana, convivendo com compositores e músicos célebres. De volta ao Brasil, fixou-se em Campinas (SP), Cantagalo e Nova Friburgo (RJ), onde fundou e dirigiu escolas e grupos musicais.

Como compositor destacam-se suas peças de música sacra, como a Missa para Pequena Orquestra Opus 17, a produção para piano, bem como a música destinada a bandas de música. Além deste acervo a Fundação Cerem receberá do professor André o acervo de outro compositor, o irmão de Presciliano, Firmino Silva. Ambos os acervos estavam em poder do professor André, que pesquisou sua tese de doutoramento pela Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO). A cerimônia de entrega do acervo aconteceu no dia 10 de agosto, sexta-feira, às 14h, na sede do Cerem (Rua da Cachaça, 24- Centro).



Em São João del-Rei, Presciliano Silva é principalmente admirado por sua composição para orquestra e coro, intitulada “O vos omnes”, executada durante a Solene Ação Litúrgica, na Sexta-feira Santa. Outra composição muito conhecida de Presciliano Silva é o hino Crux Fidelis, para 2 coros a 4 vozes, normalmente cantado na Sexta-feira Santa, quando da Adoração da Cruz. No YouTube há dois vídeos apresentando Crux Fidelis:
https://youtu.be/j3RHdCH6BzE (trecho do arranjo para coral de trombones)





O pianista André Pires resgatou e apresentou no YouTube uma fantasia de Presciliano Silva para piano intitulada “O Sonho do Futuro” op. 8.

Sobre a bolsa de estudos obtida por Presciliano Silva para cursar a Real Escola de Milão: Gustavo Pena na primeira página do periódico O Pharol, de 12/10/1890 (reproduzido por [GUERRA, 1968: 72]), comentando uma apresentação do músico são-joanense João da Matta no Teatro Novelli, de Juiz de Fora: “Há talvez 17 anos ouviu o escritor destas linhas este juízo a respeito do maestro mineiro pronunciado pelo imortal autor do ‘Guarany’: ‘Que esplêndido talento tão desaproveitado!... Se vocês querem, eu vou pedir ao Imperador que lhe conceda uma pensão para ir seguir o curso no conservatório de Milão.’

Observe que, se Pena escreveu isso em 1890, referindo-se a 17 anos antes, o fato se deu por volta de 1873. Não só com base no testemunho do jornalista Gustavo Pena, mas também o que se comenta em São João del-Rei é que João da Matta teria recusado a bolsa de estudos intermediada por Carlos Gomes para estudar na Itália por causa de seu casamento recente.



Seja como for, uns seis anos depois, outro são-joanense, desta vez Presciliano José da Silva (18/02/1854, São João del-Rei-1910, ?), igualmente negro, discípulo de Martiniano Ribeiro Bastos e músico talentoso, em todos esses aspectos semelhante a João da Matta, é quem, após ter estudado humanidades no Colégio Imperial no Rio de Janeiro, embarca em 19/04/1879 para a Itália, de posse de uma bolsa de estudos obtida junto ao imperador D. Pedro II, e matricula-se na Real Escola de Milão, onde se gradua.

Compositor são-joanense Presciliano José da Silva - 
Crédito: historiador Silvério Parada



Estando no exterior, compôs, dentre outras obras, uma Solene Encomendação para a Ordem Terceira do Carmo, assim como a Missa para Pequena Orquestra op. 17. (PIRES, 2011) 

De volta ao Brasil, desenvolveu atividades musicais em Cantagalo e Nova Friburgo-RJ e Campinas-SP. Observe que bem depois é que a família real esteve em São João del-Rei quando de sua passagem pela cidade para a inauguração da EFOM-Estrada de Ferro Oeste de Minas em abril de 1881, portanto quando Presciliano Silva já estava cursando a Real Escola de Milão.
Crédito: Conservatório Pe. José Maria Xavier
 
Crédito: Aluízio José Viegas (foto de casamento)

Certamente improvável, se não impossível, o que se conta: Presciliano Silva teria tentado, quando da vinda do Imperador D. Pedro II para a inauguração da Estrada de Ferro Oeste de Minas em São João João del-Rei, entregar-lhe uma composição, o Hino ao Imperador, porém foi impedido. A Princesa Isabel, que estaria observando a cena da janela, ordenou que o chamassem, e pedido para que tocasse piano. Nesta oportunidade, teria recebido indicação para que estudasse no Rio de Janeiro. 

Entretanto, apesar de emprestar certo charme à sua biografia, esta história certamente não é verdadeira: a data da visita de Dom Pedro II é posterior à sua ida à Europa (PIRES, 2011).



(Contribuições: Francisco José dos Santos Braga - ASCOM UFSJ - André Pires)