segunda-feira, 25 de junho de 2018

GRÉCIA: UMA CRISE QUE (NÃO) ACABOU


Por Giánnis Papadimitríou

(em artigo na Deutsche Welle, editado em 23/06/2018)
Traduzido do grego por Francisco José dos Santos Braga

 

Uma avaliação positiva do acordo do Eurogrupo, mas também um ceticismo acerca do “dia seguinte” na imprensa alemã. A crise grega está regulamentada, mas não passa, diz a maioria dos analistas.

Vejamos os principais jornais alemães:

“O exemplo da Grécia” é título de uma opinião do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), que está tentando extrair lições da crise grega. Como diz o colunista, o exemplo da Grécia mostra que os acordos europeus não produzem automaticamente soluções ideais. Os Gregos sofreram uma enorme perda de renda, mas continuam tendo uma dívida muito elevada. Os outros países da zona do euro correm o risco de perder bilhões. Na Grécia começou a desenvolver-se um cenário que está se espalhando por todo o continente europeu: a corrosão do sistema político existente por meio de crises sociais e econômicas. Todos os pacotes de ajuda de Bruxelas não conseguiram impedir a ascensão dos partidos populistas ao poder, em Atenas. Algo que é compreensível, dado o fracasso das forças políticas tradicionais, e, além disso, o SYRIZA provou surpreendentemente pragmático no governo. Mas, em última análise, a Europa pagou pela estabilização do euro com um clima político tóxico dentro e entre os Estados-Membros.”

Em resposta de Luxemburgo e com o título "Um momento histórico", o jornal Süddeutsche Zeitung se refere a detalhes interessantes da negociação. Conforme assinala, sobretudo a Alemanha exerceu pressões para serem mínimas possível as facilidades para a dívida. Inicialmente, o ministro das Finanças alemão queria prorrogar o período de reembolso do empréstimo por apenas três anos, mas ele acabou percebendo que isso não seria nem sustentável nem confiável. E assim resultaram dez anos, juntamente com a sinalização de que em 2023 será reexaminado se são necessárias facilidades adicionais para a dívida. Claro que ninguém pode prever tal coisa, nem mesmo se a Grécia vai corresponder às metas que é chamada a cumprir. É um caminho inacessível, que os outros irão supervisionar e avaliar a cada trimestre.

"O corte ¹ é uma questão de tempo"

Ainda mais pessimista nas suas previsões, o jornal Stuttgarter Zeitung: Se a Grécia de fato mudou, permanece uma incógnita. Pelo menos, os indicadores econômicos inspiram otimismo. Mas a grande questão é se a recuperação é sustentável. Sem o corte da dívida, a Grécia provavelmente não vai ficar de pé novamente. É uma questão de tempo para que os estados-membros da zona do euro finalmente percebam isso.

Um humor mordaz exala o comentário na versão eletrônica da revista Der Spiegel. "A crise acabou? Diga isso aos Gregos ..." é o título característico. Como mencionado no comentário: os Gregos têm todas as razões para serem céticos. Não só porque eles já ouviram infinitas vezes anunciar o fim da crise. Mas especialmente porque os benefícios não nítidos do acordo no Eurogrupo contradizem a certeza de que eles vão sofrer de novo cortes penosos no final do ano. "Que reunião do Eurogrupo?", perguntou-me um oficial da reserva de 76 anos. "Minha única preocupação é hoje, como foi ontem, juntar o dinheiro que preciso para o meu funeral". As pensões na Grécia já foram reduzidas em 60% e serão cortadas de novo em 2019, observa o articulista.

Grécia-Itália: Vidas paralelas?

A dimensão diferente no balanço da crise é abordada pelo jornal Die Welt: “Com a sua quase bancarrota, a Grécia trouxe à luz os grandes defeitos estruturais da zona do euro. Com a oposição contínua que ela pôs em evidência e com a crise duradoura que se seguiu, também dividiu politicamente a zona do euro. Bem como o governo federal, que se mostrava um apoiador fanático da austeridade, mas a principal razão pela qual ele estava atormentando os Gregos era que ele queria propor aos Italianos o que os esperaria no caso italiano. Depois de todos esses anos penosos, a questão mais decisiva para a Grécia é: “Foi isso; acabou? Pode o país ficar de pé novamente ou talvez em três, quatro, dez anos, implorará por uma ajuda a Bruxelas? A resposta é frustrante: Não sabemos ...”


NOTA EXPLICATIVA


¹   Corte é um jargão usado para referir-se à redução do valor de face (da dívida).


Fonte: http://www.dw.com/el/%CE%B5%CE%BB%CE%BB%CE%AC%CE%B4%CE%B1-%CE%BC%CE%AF%CE%B1-%CE%BA%CF%81%CE%AF%CF%83%CE%B7-%CF%80%CE%BF%CF%85-%CE%B4%CE%B5%CE%BD-%CF%84%CE%B5%CE%BB%CE%B5%CE%AF%CF%89%CF%83%CE%B5/a-44357710

5 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
Tenho o prazer de apresentar-lhe minha tradução do grego para o texto epigrafado. Blogs e revistas na Grécia estamparam textos parecidos, mostrando ao mesmo tempo um otimismo e uma desconfiança de que, mesmo com as facilidades (10 anos de carência para saldar sua dívida), a Grécia tenha que recorrer de novo a uma ajuda de Bruxelas.
Isso é a percepção da mídia alemã. Confira!

A mídia alemã não quis perguntar aos Gregos o que eles acham. Ela não iria gostar de ouvir a resposta: ❡!#*(?>=@✰⍴⍴⍴ˆ$=✰⍴⍴⍴ˆ$=

http://bragamusician.blogspot.com/2018/06/grecia-uma-crise-que-nao-acabou.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Dr. Mário Pellegrini Cupello (escritor, pesquisador, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, e sócio correspondente do IHG e Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caro amigo Braga

Pobre Grécia, com uma dívida internacional de 177% acima do PIB!

Li, recentemente, que a dívida grega chega a cerca de 320 bilhões de Euros, o equivalente a 1 trilhão de Reais, não obstante a Grécia haver recebido, a partir de 2010, 240 bilhões de Euros do FMI e da União Europeia.

Agradecemos pelo envio de mais estas notícias, embora desalentadoras, sobre um País tão belo e cheio de tradições históricas como a Grécia. Uma pena!

Abraços, de Mario e Beth.

Katia De Martino (representante da Coca-Cola na Itália, residente em Nápoles) disse...

Francisco complimenti per i tuoi lavori... tu e Rute siete sempre nel mio cuore! Un abbraccio

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Realmente um desafio político para a sociedade grega, na medida em que as relações do capitalismo financeiro entre as nações "centrais" e as "periféricas" sempre geram uma condição neocolonialista, uma dependência permanente. A subserviência e a ruptura são alternativas terríveis.
Grato por mais essa tradução.
Cumprimentos,
Cupertino

Dr. Hércules Douglas da Costa (proprietário da Pousada e Espaço Lago d'Ouro, em Santa Cruz de Minas-MG) disse...

Bom dia, prezado amigo Braga.
Agradecemos muito o convite. Vejo que o amigo tem produzido muito e com muita qualidade. Parabéns por tudo e em especial pela narrativa "Nossa vida em Moscou" e as traduções "A Alemanha tem muito a perder, se não mudar de tática" e "Grécia - Uma crise que (não) acabou" e principalmente por resgatar a História de nossa querida São João del-Rei e região e dos grandes homens que ajudaram a escrever esta História. Muito nos honra a sua amizade e da Rute.
Um forte abraço nos amigos.
Hércules