Traduzido do russo por Francisco José dos Santos Braga
Dizem que outrora vivia em Fuzhou um estudante pobre. Ele era tão pobre que não podia nem mesmo pagar por uma xícara de chá. Ele se chamava Mi. Teria morrido de fome, se não fosse o dono de uma casa de chá. Este teve pena de Mi e graciosamente lhe deu chá para beber e o alimentou.
Mas, um dia, Mi veio ao proprietário e disse:
— Estou indo embora. Eu não tenho dinheiro e não posso pagar por tudo que bebi e comi aqui. Mas eu não quero ser ingrato. Olha aqui!
E tirou do bolso um pedaço de giz amarelo e desenhou na parede do salão de chá uma cegonha amarela. A cegonha estava absolutamente como viva.
— Esta cegonha — disse Mi — trará a você dez vezes mais dinheiro do que eu devo. Toda vez que as pessoas se reunirem em seu salão de chá, você deve bater palmas três vezes. Então a cegonha vai sair da parede e dançar. Mas você nunca deve fazê-la dançar para uma pessoa sozinha. Se você a obrigar a dançar para uma única pessoa, ela vai dançar pela última vez.
No dia seguinte, quando muita gente se juntou na sala de chá, o dono bateu palmas três vezes e a cegonha saiu da parede e começou a dançar. Os convidados estavam surpresos e não acreditavam em seus olhos.
Desde então, na sala de chá sempre se reuniam muitos clientes e o proprietário ficou muito rico.
Mas eis que, um dia, no salão de chá entrou um rico. Ele veio olhar a cegonha, da qual ouvira falar muito. Colocou muito dinheiro sobre a mesa e forçou o dono a mandar embora todas as pessoas da sala de chá.
— Eu quero sozinho olhar a cegonha — disse ele. O dono viu o dinheiro e esqueceu o que o estudante lhe dissera. Bateu palmas três vezes e a cegonha saiu da parede. Ela tinha a aparência triste e doentia. Dançou apenas uma dança e voltou para o seu lugar. O dono ficou zangado, gritou, mas não pôde fazer nada.
E, à noite, alguém bateu na porta da casa de chá. O dono abriu a porta e viu o estudante Mi, de pé e calado. Depois, o estudante Mi tirou uma gaita do bolso, tocou-a e foi-se embora. A cegonha saiu da parede e foi atrás dele.
Desde então, ninguém nunca mais viu o estudante Mi e sua cegonha amarela.
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Revista SICOOB Credivertentes, São Tiago-MG |
OBRA CONSULTADA
Финагина Ю.В. Русский язык как иностранный. Пособие по чтению: Учеб. пособие / Под ред. Н.А. Дмитренко. – СПб.: НИУ ИТМО; ИХиБТ, 2014. - 81 с.
14 comentários:
Tenho o prazer de apresentar-lhe minha tradução, do russo, de um conto chinês intitulado "A Cegonha Amarela".
Espero que aprecie a moral contida na narrativa sobre o estudante Mi e o proprietário de uma casa de chá.
http://bragamusician.blogspot.com/2018/07/a-cegonha-amarela-conto-popular-chines.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
A título de reflexão, procurando no verbete “A Cegonha Amarela” e para verificar quão inédito era o conto no qual estava trabalhando, localizei no Google um livro intitulado “Mao: a história desconhecida” por Jon Halliday e Jung Chang, que descreve um curioso acontecimento na vida de Mao e que transcrevo abaixo:
“No caminho do rompimento de Wang, Mao viu-se diante de um dilema. Ele era muito mais apreciado por Wang do que por seus compatriotas comunistas e pela maioria dos Russos, e tivera uma ascensão muito maior entre os nacionalistas do que no PCC. Deveria então ficar com Wang? Mais tarde, ele diria dessa época: “Senti-me desolado e, durante algum tempo, não soube o que fazer”. Foi nesse estado mental dividido que um dia ele subiu no belo pavilhão da Cegonha Amarela, às margens do rio Yangtze, em Wuhan. Construído no ano de 223, esse pavilhão era um marco. Dizia a lenda que ali um homem havia outrora acenado para uma cegonha amarela que voava sobre o rio, viajara em suas asas até o Palácio Celestial e jamais retornara. A Cegonha Amarela passou a significar algo que fora embora para sempre. Agora parecia uma metáfora apropriada para tudo o que Mao havia construído para si mesmo no Partido Nacionalista. Foi um dia escurecido por chuva forte. Enquanto estava junto à balaustrada esculpida do pavilhão, olhando através da vastidão do Yangtze, “cercado”, como disse em um poema, entre o monte Serpente e o monte Tartaruga, mas estendido até o infinito pelo dilúvio do céu, Mao ponderou suas alternativas. Numa libação tradicional, derramou sua bebida na torrente que corria lá embaixo e terminou seu poema com o verso: “A maré de meu coração sobe com as ondas poderosas!”.” (...)
Belo conto! Obrigada, um abraço, Salomea
Obrigado, meu nobre Confrade!
Att.,
Paulo José de Oliveira - Pajo
Prezado Braga, paz e bem. É sempre bom pensar que há proprietários de casa de chá e cegonhas na história de tantos (e, talvez de nós mesmos), o Mi, entretanto, perpassa e passa na vida. E o som de sua gaita soa como lição e castigo. Abraço para você e Rute. Fernando Teixeira
Caríssimo amigo Braga, li, com atenção, o Conto que, traduzido do russo, você enviou-me, em mais um gesto de sua gentileza e saber.
Todo ególatra, ainda hoje, esparge apenas dor, decepção. Em Minas, São João del-Rei, a sabedoria popular nos ensina muito bem: quem tudo quer só para si, nada terá!
Muito grato!
Olá Francisco!
Belo conto!
Grata por compartilhar!
Att,
Roseane
Caro amigo Braga
Muito interessante esse conto chinês. Dele se pode tirar uma grande sabedoria.
Agradecemos pelo envio.
Os amigos Mario e Beth.
Lindo conto. Obrigado pelo envio.
Quanta lição num belo conto chinês. Obrigado querido confrade e amigo
Caro professor Braga. Todo mérito a si por trazer tão belo conto, com suas imagens deslumbrantes e sua moral. Pessoalmente acho-o oportuno e deveria ser contado àqueles que acham que o modelo brasileiro de privatização de bens públicos é alternativa para o país. Destruição de patrimônio público, enfraquecimento da noção de sociedade civil e locupletação de máfias.
Forte abraço e muito grato pela oportunidade da leitura.
Braga,
Embora não tenha ainda tido o prazer de conhecê-lo cara a cara, esteja certo de que, desde que “apareceu” pela primeira nos Boletins Redex-s, sou seu admirador, por sua ampla e versátil cultura, e admiração esta que, nesta mesma linha, se estende à querida cidade de São João del-Rei, onde passei 6 anos no antigo Colégio São João e na antiga FDB, como seminarista salesiano (1960-1966). Por todo canto onde vou, não poupo elogios a São João del-Rei, por sua cultura e por sua “antiguidade” perfeitamente contemporizada com a modernidade.
Outro “cara” sanjoanense que admiro “pacas” é o Prof. Antônio Oliveira, que nem sei se é nativo da terra ou se apenas mora aí. Tiro o chapéu para as crônicas que ele escreve, embora apenas uma ou outra eu veicule pelos boletins Redex-s. Apenas por questão de racionalização e de consistência, pois o boletim Redex-s não é uma “revistinha eletrônica” de variedades. Nele só publico o que tem estritamente a ver com nosso perfil de ex-salesianos e que não ultrapasse um volume semanal digerível.
SEM DÚVIDA, vou atender a seu pedido de publicação de sua tradução de A CEGONHA AMARELA. Só não sei ainda se vou publicar o texto ou apenas dar o link. Em princípio, prefiro veicular o texto, pois nossos leitores, todos de “terceira idade”, não são muito “chegados” a abrir links.
Sempre a seu dispor, sem restrições.
Geraldo Pena.
Agradeço ao editor Geraldo Pena a gentileza de publicar a minha tradução, para o português, da fábula chinesa "A Cegonha Amarela", traduzida para o russo.
O referido texto se encontra no Boletim Redex-s 1006-Anexo 5- pág. 1 e 2.
Cordial abraço,
Francisco Braga
Prezado editor dos Boletins Redex-s,
Boa noite!
Venho agradecer-lhe efusivamente a publicação do conto popular chinês, em minha tradução do russo.
Acho sinceramente que ele vá fazer bem aos seus milhares de leitores, já que o conto admite diversas contextualizações. Cada um vai visualizar de acordo com suas experiências, background acadêmico, motivações, visão de mundo, etc.
Aqui entre nós, sem falar também que o conto foge à divisão ideológica, que incomoda muitos leitores.
Por tudo isso sou-lhe muito grato, caro Geraldo Pena.
Um forte abraço,
Braga
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