Por Francisco José dos Santos Braga
Efígie de Fernand Jouteux (1866-1956), por autor desconhecido, provavelmente desenhada em Paris no 2º período francês (entre 1921-1925) |
I. INTRODUÇÃO
Desde o dia 21 de novembro de 1948, o Estadão vinha anunciando, na coluna "A Sociedade", edição nº 22.551, p. 11, um FESTIVAL MUSICAL constando de obras do maestro Fernand Jouteux a realizar-se no dia 25 no Teatro Municipal, sob o patrocínio do Sr. Robert Valeur, cônsul geral da França em São Paulo, e com o concurso da Banda Militar da Força Pública. Assim, no dia 25 de novembro de 1948, dia do concerto, a edição nº 22.554 do jornal Estado de S. Paulo estampou, na coluna “A Sociedade”, na p. 7, a mesma matéria anunciada desde 21/11, intitulada FESTIVAL MUSICAL, nos seguintes termos:
Realiza-se hoje, às 21 horas, no Teatro Municipal, um festival musical de obras do maestro francês Fernand Jouteux, sob o patrocínio do sr. Robert Valeur, consul geral da França em São Paulo, e com o concurso da Banda Militar da Força Pública.
O programa é o seguinte: “Impressões de meu jardim”, “Árias sudanesas”, “Dança chinesa”, Sinfonia das Americas”, “Pavane de amor”. – “Bailado” (Canudos): Ópera “Os Sertões”: a) Valsa nostálgica; b) Baiano; c) Sarabanda dos Punhais; e Marcha solene dos “maquis”.
Em todos os dias seguintes ao Festival Musical, tentei localizar alguma referência ao concerto, mas, neste caso, nenhuma palavra, bem como nenhuma crítica ao Festival Musical no acervo do “Estadão”.
Pior ainda se portou o Jornal de Notícias: nenhum anúncio do Festival Musical, nem notícia no dia do concerto. Silêncio completo!
Também, não houve qualquer referência ao Festival Musical na Folha da Manhã.
É possível que aquela apresentação de obras de Fernand Jouteux no Teatro Municipal de São Paulo tenha tido um caráter reservado, já que de iniciativa do Consulado Geral da França em São Paulo. Mas, neste caso, não justificaria o anúncio-convite desde o dia 21/11/1948 para os leitores do Estadão comparecerem.
Abaixo apresento três páginas do Programa, sendo minha a tradução do texto em francês.
Pior ainda se portou o Jornal de Notícias: nenhum anúncio do Festival Musical, nem notícia no dia do concerto. Silêncio completo!
Também, não houve qualquer referência ao Festival Musical na Folha da Manhã.
É possível que aquela apresentação de obras de Fernand Jouteux no Teatro Municipal de São Paulo tenha tido um caráter reservado, já que de iniciativa do Consulado Geral da França em São Paulo. Mas, neste caso, não justificaria o anúncio-convite desde o dia 21/11/1948 para os leitores do Estadão comparecerem.
Abaixo apresento três páginas do Programa, sendo minha a tradução do texto em francês.
II. O PROGRAMA DO FESTIVAL MUSICAL
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São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 1948
Sob o sumo patrocínio de Sr. Valeur
Cônsul Geral da França e de Sra. Valeur
GRANDE FESTIVAL ARTÍSTICO
em benefício da Ajuda Mútua francesa
Execução de obras francesas, brasileiras, chinesas
e africanas de
Fernand Jouteux
Discípulo predileto de MASSENET
pela “Orquestra Sinfônica Militar da Força Pública”
graciosamente oferecida pelo Sr. Comandante
Cel. Eleutherio Brum Ferlich
Direção do autor
Identificação no acervo na F-CEREM: JOU.05.015 |
PROGRAMA
I
IMPRESSÕES DE MEU JARDIM de Garanhuns-PE Fernand Jouteux
I – Minha vida de poeta e o jardineiro amador na “Suíça Pernambucana”.
II – A sesta, sob a encantadora varanda.
III – Os mamoeiros, à beira do abismo
IV – Apoteose do TRABALHO, que transformou matagal em “Jardim das Hespérides”
Obras de caráter exótico: Fernand Jouteux
África: ÁRIAS SOUDANESAS – da Corte de Samory, ex-rei do Sudão
Ásia: DANÇA CHINESA – sobre a escala chinesa de 6 notas: dó, ré, mi, fá, sol, lá.
II
SINFONIA DAS AMÉRICAS A. B. Cunha
PAVANA DE AMOR – da Suíte de Orquestra HIMENEU
( VALSA NOSTÁLGICA – a nostalgia do “sertão”).
( BAIANO (as burlescas) – cena carnavalesca).
( SARABANDA DOS PUNHAIS – os Jagunços), do Balé da ópera “O SERTÃO” sobre a epopeia de Canudos Fernand Jouteux
OS MAQUIS – marcha solene – dedicada ao glorioso General de Gaulle – sobre o Oratório de Saint-Martin
BELLATOR DOMINI Fernand Jouteux
Fernand Jouteux
PAVANA DE AMOR – da Suíte de Orquestra HIMENEU
( VALSA NOSTÁLGICA – a nostalgia do “sertão”).
( BAIANO (as burlescas) – cena carnavalesca).
( SARABANDA DOS PUNHAIS – os Jagunços), do Balé da ópera “O SERTÃO” sobre a epopeia de Canudos Fernand Jouteux
OS MAQUIS – marcha solene – dedicada ao glorioso General de Gaulle – sobre o Oratório de Saint-Martin
BELLATOR DOMINI Fernand Jouteux
Fernand Jouteux
Nasceu na cidade histórica de Chinon (Indre-et-Loire, França). Após ter terminado seus estudos literários no Ginásio de Pontlevoy (Loir-et-Cher), e musicais no Conservatório de Paris, com Massenet, o imortal autor da Manon e da Thaïs, ele vogou pelas águas do Rio-Mar, para ligar sua música com o ambiente brasileiro, e sugar às nossas floras a essência de sua originalidade. Durante quarenta anos, percorreu o Pará, o Amazonas e os sertões do Norte, em busca de impressões novas, de assuntos exóticos, para saturar de sonhos inéditos o seu espírito de Bandeirante do Ideal, vestir os seus poemas sinfônicos de um sabor intenso de brasilidade, fazendo de sua propriedade Bela Aliança (nome predestinado!) em Pernambuco, a sua tenda de trabalho.
Lá, escreveu a Sinfonia Brasileira – Os Cantos Brasileiros – e a grande ópera brasileira O Sertão, sôbre a epopéa de Canudos. Trechos dessas obras, assim como o seu Oratório de São Martinho, Bellator Domini, e uma outra ópera Klytis obtiveram em Paris um ruidoso sucesso e deram ao seu nome uma fama mundial.
Seus Cantos Brasileiros foram premiados pelo “Salon des Musiciens Français” e a sua cena dramática Le Retour de Marin pela Société des Compositeurs de Paris.
Massenet, de quem foi o aluno predileto, declarou “ser ele um compositor vibrante, um Mestre em toda a acepção da palavra”.
O Mestre italiano Gianneti deu-lhe o apelido de “Herdeiro de Massenet” (Revista Musical do Rio, 3-11-1937).
O Maestro brasileiro Hernani Bastos, quando Diretor do Conservatório de Niterói, publicou que “suas obras, debordantes de brasilidade, no alto estilo de sua personalidade, empolgam aos mais eruditos”.
III. AGRADECIMENTO
À minha esposa Rute Pardini Braga pelas fotos que formatou e editou para os fins desta matéria.
À F-CEREM, na pessoa de Márcio Saldanha, Secretário do Programa de Pós-Graduação em Música da UFSJ, pela boa acolhida para a realização desta pesquisa no acervo francês do compositor Fernand Jouteux.
7 comentários:
Tenho o prazer de apresentar-lhe o meu 5º trabalho da série sobre o compositor francês FERNAND JOUTEUX, discípulo predileto de Massenet, que parece ter residido em São João del-Rei em 1937 quando fundou e dirigiu o Conservatório de Música Sanjoanense, e seguramente em Tiradentes no período de 1938 a meados de 1953.
No presente post, será mostrada a apresentação de suas peças no Teatro Municipal de São Paulo em 25/11/1948, sob o patrocínio do Sr. Robert Valeur, cônsul geral da França em São Paulo, e com o concurso da Banda Militar da Força Pública, a que o Estadão deu o nome de FESTIVAL MUSICAL, enquanto o cônsul francês a chamou GRANDE FESTIVAL ARTÍSTICO.
https://bragamusician.blogspot.com/2019/06/grande-festival-artistico.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Bom dia Francisco.
Muito obrigado.
Bom fim de semana.
Abraço.
Sucesso!
Caro amigo Braga
Agradecemos pelo envio do seu 5º trabalho sobre o compositor Fernand Jouteux, pelo que lhe felicitamos. Excelente matéria!
Abraços, dos amigos Mario e Beth.
Prezado Braga, bom dia. Agradeço o envio de seu precioso (sempre) blog memorial. Grato. Fernando Teixeira
Obrigado, Braga, pela notícia de mais um trabalho sobre Fernand Jouteux, esperando que outros mais sejam publicados, tendo em vista a riqueza da história desse personagem. A cada nova informação vai ficando clara a profunda presença desse compositor no meio musical são-joanense e mineiro, sem contar suas viagens por todo o Brasil.
Abraço,
Paulo Castagna
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