Por Antón Pávlovitch Tchékhov
Tchekhov e sua esposa Olga Knipper |
Conto traduzido do russo por Francisco José dos Santos Braga
“Eu o amo. O sr. é minha vida, minha felicidade — tudo para mim! Desculpe pela confissão, mas não tenho forças para sofrer e ficar calada. Não peço amor recíproco, mas simpatia. Esteja às oito da noite no velho caramanchão. Considero desnecessário assinar meu nome, mas não se assuste com a autora anônima. Eu sou jovem, bem-parecida... O que mais o Sr. quer?”
Tendo lido essa carta, o veranista Pável Iványtch Vykhodtsev, pai de família, sério, encolheu os ombros e coçou a testa em perplexidade.
“Que diabos é isso? — pensou. — Sou uma pessoa casada, e de repente essa carta estranha... estúpida! Quem a escreveu?”
Pável Iványtch virou a carta diante de seus olhos, leu novamente e cuspiu.
“Eu o amo”... — arremedou. — “Que garoto ela achou! Então eu vou pegar e correr para você no caramanchão!... Eu, minha mãe, há muito tempo já me desacostumei desses romances e fleurs-d’amour... Hum! Ela deve ser alguma criatura tonta, leviana... Bem, essas mulheres são uma gente estranha! Que sirigaita ela precisa ser — Deus nos perdoe! — para escrever uma carta como esta a um desconhecido, e ainda por cima a um homem casado! Uma verdadeira desmoralização!”
Durante todos os oito anos de sua vida casada, Pável Iványtch desacostumou-se de sentimentos delicados e não tinha recebido quaisquer cartas, exceto de congratulações, e, por isso, embora ele procurasse fazer-se de rogado, a supracitada carta fortemente o desconcertou e excitou.
Uma hora após o seu recebimento, ele estava deitado no divã e pensava:
“Claro que não sou um garoto e não vou por-me a correr para este estúpido rendez-vous, mas, apesar de tudo, seria interessante saber quem a escreveu. Hum... A caligrafia é evidentemente feminina... A carta está escrita sinceramente, com alma, e por isso duvido que seja uma brincadeira... Provavelmente seja alguma psicopata ou viúva... Viúvas geralmente são frívolas e excêntricas. Hum... Quem poderia ser?”
Foi ainda mais difícil resolver essa questão, porque, entre os veranistas conhecidos de Pável Iványtch, não conhecia nenhuma mulher no povoado inteiro, exceto sua esposa.
“Estranho... — estava perplexo. — “Eu o amo”. Quando então conseguiu se apaixonar? Mulher admirável! Ela se apaixonou, do nada, sem sequer conhecer e sem saber que tipo de pessoa eu sou ... Deve ser ainda jovem demais e romântica, se ela é capaz de se apaixonar por dois ou três olhares ... Mas... quem é ela?”
De repente, Pável Iványtch se lembrou de que, na véspera e na antevéspera, quando passeava no cinturão do povoado, havia cruzado algumas vezes com uma jovem loura num vestido azul-claro e com um narizinho empinado. A loura olhava para ele de vez em quando e, quando ele se sentou no banco, ela se pôs a seu lado...
“Ela? — refletiu Vykhodtsev. — Não pode ser! Será que uma criatura delicada e transitória pode apaixonar-se por tal enguia velha, desgastada, como eu? Não, é impossível!”
Durante o almoço, Pável Iványtch olhou estupidamente para a esposa e refletiu:
“Ela escreve que é jovem e bem-parecida... Quer dizer, não é mulher velha... Hum... Para ser franco, com toda a sinceridade, ainda não sou tão velho e ruim que seja impossível alguém enamorar-se de mim. Afinal, minha mulher me ama! E além do mais, o amor é cego...”.
— Em que você pensou? — perguntou sua esposa.
— Oh!... minha cabeça está doendo um pouco... — Pável Iványtch pregou uma mentira.
Ele tinha decidido que era estúpido prestar atenção a tal insignificância, como uma carta de amor, riu-se dela e de sua autora, mas — infelizmente! — o inimigo do homem é forte.
Depois do almoço, Pável Iványtch estava deitado em sua cama e, em vez de dormir, pensava:
“E, com efeito, ela espera que eu vá. Que tola! E imagino como ela vai ficar nervosa e perder seu "jogo de cintura", quando não me encontrar no caramanchão!... E eu não irei... Bem, lamento irritá-la!”
Mas, repito, o inimigo do homem é forte.
“Por outro lado, não seria o caso de ir por curiosidade?...” — pensava o veranista depois de meia hora. — “Ir e olhar de longe que troço é este... Deve ser interessante olhar! É só para rir! Realmente, por que não dar umas boas risadas, se um caso oportuno se apresentou?”
Pável Iványtch levantou-se da cama e começou a vestir-se.
— “Aonde você pretende ir vestido assim?” — indagou-lhe a esposa, ao notar que ele vestia uma camisa limpa e gravata da moda.
— “Então ... quero dar uma volta... Minha cabeça está doendo um pouco...”
Pável Iványtch se vestiu e, esperando as oito horas, saiu de casa. Seu coração pôs-se a bater, quando, diante de seus olhos, contra o fundo verde-vivo, banhado pela luz do sol poente, apareceram figuras de veranistas descontraídos de ambos os sexos.
“Qual delas?...”, pensava ele, olhando tímida e obliquamente para os rostos das veranistas. — Mas não se vê uma loura... Hum... Se ela escreveu, então significa que já se acha no caramanchão...”
Vykhodtsev ingressou na alameda, ao fim da qual, por causa da folhagem nova de tílias altas, assomou o "velho caramanchão"... Ele caminhou silenciosamente até ele...
“Vou ver de longe... — pensava, avançando indecisamente. — Bem, com o que eu me intimido? Afinal, não vou a um encontro. Tamanho idiota! Cria coragem: vai! E daí, se eu for ao caramanchão? Bem, bem... não adianta!”
O coração de Pável Iványtch bate ainda mais violentamente... Involuntariamente, sem querer, de repente ele imaginou a penumbra do caramanchão... Em sua imaginação, uma loura esbelta em um vestido azul-claro e um nariz arrebitado... Ele imaginou como ela, envergonhada do seu amor e tremendo todo o corpo, acanhadamente se aproxima dele, respira fogosamente e... de repente o aperta nos braços.
“Se eu não fosse casado, não seria nada... — pensava, tirando da cabeça pensamentos pecaminosos. — No entanto... uma vez na vida, não seria mau para alguém experimentá-lo, caso contrário, você morrerá sem saber que negócio é este... E minha esposa, o que ela tem a ver com isso? Graças a Deus, por oito anos eu nunca arredei o pé para longe dela... Oito anos de dever irreprovável! Chega dela... É até chato... Vou pegar; por desaforo, também vou trair.”
Tremendo o corpo todo e retendo sua respiração, Pável Iványtch foi ao caramanchão, comprimido pela hera e videira agreste, e olhou dentro dele... Exalava umidade e o fedor de mofo veio até ele...
“Parece que não há ninguém...” — pensou, quando entrou no caramanchão, e então viu uma silhueta humana no canto...
A silhueta pertencia a um homem... Olhando para ele, Pável Iványtch o reconheceu como o irmão de sua esposa, o estudante Mitya, com quem morava em sua casa de campo.
— Ah, é você?... — ele murmurou com uma voz desgostosa, tirando o chapéu e sentando-se.
— Sim, eu... — respondeu Mitya.
Uns dois minutos se passaram em silêncio.
— Desculpe-me, Pável Iványtch, — começou Mitya — mas eu poderia pedir ao sr. que me deixasse só?... estou refletindo sobre a tese de um candidato e... e a presença de quem quer que seja me incomoda...
— Mas vá você a algum lugar em uma alameda escura... — Pável Iványtch observou docilmente. — Ao ar livre, é mais fácil pensar, e além disso... oh! eu gostaria de tirar uma soneca aqui neste banco... Não está tão quente aqui...
— O sr. quer dormir, mas eu quero refletir sobre a minha tese... — resmungou Mitya. — A tese é mais importante...
O silêncio voltou a se fazer presente... Pável Iványtch, que tinha dado asas à sua imaginação e a cada momento ouvia passos, subitamente ergueu-se de um salto e disse com uma voz chorosa:
— Bem, eu lhe peço, Mitya! Você é mais jovem do que eu e é obrigado a respeitar... Estou doente e... quero dormir... Vá embora!
— Isso é egoísmo... Por que é necessário que o sr. esteja aqui, e eu não? Eu não sairei por uma questão de princípio...
— Vamos, eu peço! Ainda que eu seja egoísta, déspota e tolo... mas eu lhe peço! Uma vez na vida eu peço! Mostre alguma consideração!
Mitya girou a cabeça...
“Que besta!... — pensou Pável Iványtch. — Afinal, na presença dele o encontro não acontecerá! Diante dele é impossível!”
— Ouça, Mitya, — disse — eu lhe peço pela última vez... Mostre que você é uma pessoa inteligente, humana e educada!
— Não compreendo o que importuna o sr. — encolheu Mitya os ombros.— Eu disse que não vou sair, e não vou mesmo. Vou ficar aqui por princípio.
Neste momento, subitamente, espiou dentro do caramanchão um rosto feminino com um nariz arrebitado...
Avistando Mitya e Pável Iványtch, ela franziu a testa e sumiu...
“Foi embora! — pensou Pável Iványtch, olhando para Mitya com rancor. — Ela viu este patife e foi embora! Tudo está perdido!”
Tendo esperado ainda um pouco, Vykhodtsev levantou-se, pôs o chapéu e disse:
— Você é uma besta, um patife e um canalha! Sim! Uma besta! Você agiu vil e... e estupidamente. Entre nós está tudo acabado!
— Com muito prazer! — murmurou Mitya, também levantando-se e pondo seu chapéu. — Saiba que o sr. agora, com sua presença, me fez tamanha sujeira que não lhe perdoarei, até mesmo na hora da morte.
Pável Iványtch saiu do caramanchão e, não se lembrando da raiva, rapidamente se pôs em marcha para sua casa de campo... Não o tranquilizou a vista da mesa, servida para o jantar.
“Uma vez na vida se apresentava uma oportunidade, — ele se preocupava — e então foi impedida! Agora ela está ofendida... morta!”
Durante o jantar, Pável Iványtch e Mitya olhavam para seus pratos e permaneciam calados... Eles estavam odiando um ao outro do fundo dos seus corações.
— De que tu estás sorrindo — criticou Pável Iványtch sua esposa. — Apenas alguns tolos riem sem motivo!
A esposa olhou para o rosto zangado do marido e soltou uma gargalhada.
— Que tipo de carta tu recebeste hoje de manhã? — perguntou ela.
— Eu?... Eu não recebi nenhuma... — confundiu-se Pável Iványtch. — Tu estás inventando... imaginação.
— Vamos, conta! Reconhece: recebeste! Bem, eu te enviei esta carta! Palavra de honra, eu! Ha-ha-ha!
Pável Iványtch ficou corado e inclinou-se para o prato.
— Brincadeiras estúpidas, — ele resmungou.
— Mas o que fazer! Julga por ti mesmo... Precisávamos lavar o chão hoje, mas como expulsar vocês de casa? Só dessa forma serem expulsos... Mas não fica com raiva, bobo... Para que não ficasses entediado no caramanchão, eu enviei a mesma carta também para Mitya! Mitya, tu estiveste no caramanchão?
Mitya sorriu e parou de olhar com ódio para seu rival.
Fonte: http://feb-web.ru/feb/chekhov/texts/sp0/sp5/sp5-153-.htm
Tendo lido essa carta, o veranista Pável Iványtch Vykhodtsev, pai de família, sério, encolheu os ombros e coçou a testa em perplexidade.
“Que diabos é isso? — pensou. — Sou uma pessoa casada, e de repente essa carta estranha... estúpida! Quem a escreveu?”
Pável Iványtch virou a carta diante de seus olhos, leu novamente e cuspiu.
“Eu o amo”... — arremedou. — “Que garoto ela achou! Então eu vou pegar e correr para você no caramanchão!... Eu, minha mãe, há muito tempo já me desacostumei desses romances e fleurs-d’amour... Hum! Ela deve ser alguma criatura tonta, leviana... Bem, essas mulheres são uma gente estranha! Que sirigaita ela precisa ser — Deus nos perdoe! — para escrever uma carta como esta a um desconhecido, e ainda por cima a um homem casado! Uma verdadeira desmoralização!”
Durante todos os oito anos de sua vida casada, Pável Iványtch desacostumou-se de sentimentos delicados e não tinha recebido quaisquer cartas, exceto de congratulações, e, por isso, embora ele procurasse fazer-se de rogado, a supracitada carta fortemente o desconcertou e excitou.
Uma hora após o seu recebimento, ele estava deitado no divã e pensava:
“Claro que não sou um garoto e não vou por-me a correr para este estúpido rendez-vous, mas, apesar de tudo, seria interessante saber quem a escreveu. Hum... A caligrafia é evidentemente feminina... A carta está escrita sinceramente, com alma, e por isso duvido que seja uma brincadeira... Provavelmente seja alguma psicopata ou viúva... Viúvas geralmente são frívolas e excêntricas. Hum... Quem poderia ser?”
Foi ainda mais difícil resolver essa questão, porque, entre os veranistas conhecidos de Pável Iványtch, não conhecia nenhuma mulher no povoado inteiro, exceto sua esposa.
“Estranho... — estava perplexo. — “Eu o amo”. Quando então conseguiu se apaixonar? Mulher admirável! Ela se apaixonou, do nada, sem sequer conhecer e sem saber que tipo de pessoa eu sou ... Deve ser ainda jovem demais e romântica, se ela é capaz de se apaixonar por dois ou três olhares ... Mas... quem é ela?”
De repente, Pável Iványtch se lembrou de que, na véspera e na antevéspera, quando passeava no cinturão do povoado, havia cruzado algumas vezes com uma jovem loura num vestido azul-claro e com um narizinho empinado. A loura olhava para ele de vez em quando e, quando ele se sentou no banco, ela se pôs a seu lado...
“Ela? — refletiu Vykhodtsev. — Não pode ser! Será que uma criatura delicada e transitória pode apaixonar-se por tal enguia velha, desgastada, como eu? Não, é impossível!”
Durante o almoço, Pável Iványtch olhou estupidamente para a esposa e refletiu:
“Ela escreve que é jovem e bem-parecida... Quer dizer, não é mulher velha... Hum... Para ser franco, com toda a sinceridade, ainda não sou tão velho e ruim que seja impossível alguém enamorar-se de mim. Afinal, minha mulher me ama! E além do mais, o amor é cego...”.
— Em que você pensou? — perguntou sua esposa.
— Oh!... minha cabeça está doendo um pouco... — Pável Iványtch pregou uma mentira.
Ele tinha decidido que era estúpido prestar atenção a tal insignificância, como uma carta de amor, riu-se dela e de sua autora, mas — infelizmente! — o inimigo do homem é forte.
Depois do almoço, Pável Iványtch estava deitado em sua cama e, em vez de dormir, pensava:
“E, com efeito, ela espera que eu vá. Que tola! E imagino como ela vai ficar nervosa e perder seu "jogo de cintura", quando não me encontrar no caramanchão!... E eu não irei... Bem, lamento irritá-la!”
Mas, repito, o inimigo do homem é forte.
“Por outro lado, não seria o caso de ir por curiosidade?...” — pensava o veranista depois de meia hora. — “Ir e olhar de longe que troço é este... Deve ser interessante olhar! É só para rir! Realmente, por que não dar umas boas risadas, se um caso oportuno se apresentou?”
Pável Iványtch levantou-se da cama e começou a vestir-se.
— “Aonde você pretende ir vestido assim?” — indagou-lhe a esposa, ao notar que ele vestia uma camisa limpa e gravata da moda.
— “Então ... quero dar uma volta... Minha cabeça está doendo um pouco...”
Pável Iványtch se vestiu e, esperando as oito horas, saiu de casa. Seu coração pôs-se a bater, quando, diante de seus olhos, contra o fundo verde-vivo, banhado pela luz do sol poente, apareceram figuras de veranistas descontraídos de ambos os sexos.
“Qual delas?...”, pensava ele, olhando tímida e obliquamente para os rostos das veranistas. — Mas não se vê uma loura... Hum... Se ela escreveu, então significa que já se acha no caramanchão...”
Vykhodtsev ingressou na alameda, ao fim da qual, por causa da folhagem nova de tílias altas, assomou o "velho caramanchão"... Ele caminhou silenciosamente até ele...
“Vou ver de longe... — pensava, avançando indecisamente. — Bem, com o que eu me intimido? Afinal, não vou a um encontro. Tamanho idiota! Cria coragem: vai! E daí, se eu for ao caramanchão? Bem, bem... não adianta!”
O coração de Pável Iványtch bate ainda mais violentamente... Involuntariamente, sem querer, de repente ele imaginou a penumbra do caramanchão... Em sua imaginação, uma loura esbelta em um vestido azul-claro e um nariz arrebitado... Ele imaginou como ela, envergonhada do seu amor e tremendo todo o corpo, acanhadamente se aproxima dele, respira fogosamente e... de repente o aperta nos braços.
“Se eu não fosse casado, não seria nada... — pensava, tirando da cabeça pensamentos pecaminosos. — No entanto... uma vez na vida, não seria mau para alguém experimentá-lo, caso contrário, você morrerá sem saber que negócio é este... E minha esposa, o que ela tem a ver com isso? Graças a Deus, por oito anos eu nunca arredei o pé para longe dela... Oito anos de dever irreprovável! Chega dela... É até chato... Vou pegar; por desaforo, também vou trair.”
Tremendo o corpo todo e retendo sua respiração, Pável Iványtch foi ao caramanchão, comprimido pela hera e videira agreste, e olhou dentro dele... Exalava umidade e o fedor de mofo veio até ele...
“Parece que não há ninguém...” — pensou, quando entrou no caramanchão, e então viu uma silhueta humana no canto...
A silhueta pertencia a um homem... Olhando para ele, Pável Iványtch o reconheceu como o irmão de sua esposa, o estudante Mitya, com quem morava em sua casa de campo.
— Ah, é você?... — ele murmurou com uma voz desgostosa, tirando o chapéu e sentando-se.
— Sim, eu... — respondeu Mitya.
Uns dois minutos se passaram em silêncio.
— Desculpe-me, Pável Iványtch, — começou Mitya — mas eu poderia pedir ao sr. que me deixasse só?... estou refletindo sobre a tese de um candidato e... e a presença de quem quer que seja me incomoda...
— Mas vá você a algum lugar em uma alameda escura... — Pável Iványtch observou docilmente. — Ao ar livre, é mais fácil pensar, e além disso... oh! eu gostaria de tirar uma soneca aqui neste banco... Não está tão quente aqui...
— O sr. quer dormir, mas eu quero refletir sobre a minha tese... — resmungou Mitya. — A tese é mais importante...
O silêncio voltou a se fazer presente... Pável Iványtch, que tinha dado asas à sua imaginação e a cada momento ouvia passos, subitamente ergueu-se de um salto e disse com uma voz chorosa:
— Bem, eu lhe peço, Mitya! Você é mais jovem do que eu e é obrigado a respeitar... Estou doente e... quero dormir... Vá embora!
— Isso é egoísmo... Por que é necessário que o sr. esteja aqui, e eu não? Eu não sairei por uma questão de princípio...
— Vamos, eu peço! Ainda que eu seja egoísta, déspota e tolo... mas eu lhe peço! Uma vez na vida eu peço! Mostre alguma consideração!
Mitya girou a cabeça...
“Que besta!... — pensou Pável Iványtch. — Afinal, na presença dele o encontro não acontecerá! Diante dele é impossível!”
— Ouça, Mitya, — disse — eu lhe peço pela última vez... Mostre que você é uma pessoa inteligente, humana e educada!
— Não compreendo o que importuna o sr. — encolheu Mitya os ombros.— Eu disse que não vou sair, e não vou mesmo. Vou ficar aqui por princípio.
Neste momento, subitamente, espiou dentro do caramanchão um rosto feminino com um nariz arrebitado...
Avistando Mitya e Pável Iványtch, ela franziu a testa e sumiu...
“Foi embora! — pensou Pável Iványtch, olhando para Mitya com rancor. — Ela viu este patife e foi embora! Tudo está perdido!”
Tendo esperado ainda um pouco, Vykhodtsev levantou-se, pôs o chapéu e disse:
— Você é uma besta, um patife e um canalha! Sim! Uma besta! Você agiu vil e... e estupidamente. Entre nós está tudo acabado!
— Com muito prazer! — murmurou Mitya, também levantando-se e pondo seu chapéu. — Saiba que o sr. agora, com sua presença, me fez tamanha sujeira que não lhe perdoarei, até mesmo na hora da morte.
Pável Iványtch saiu do caramanchão e, não se lembrando da raiva, rapidamente se pôs em marcha para sua casa de campo... Não o tranquilizou a vista da mesa, servida para o jantar.
“Uma vez na vida se apresentava uma oportunidade, — ele se preocupava — e então foi impedida! Agora ela está ofendida... morta!”
Durante o jantar, Pável Iványtch e Mitya olhavam para seus pratos e permaneciam calados... Eles estavam odiando um ao outro do fundo dos seus corações.
— De que tu estás sorrindo — criticou Pável Iványtch sua esposa. — Apenas alguns tolos riem sem motivo!
A esposa olhou para o rosto zangado do marido e soltou uma gargalhada.
— Que tipo de carta tu recebeste hoje de manhã? — perguntou ela.
— Eu?... Eu não recebi nenhuma... — confundiu-se Pável Iványtch. — Tu estás inventando... imaginação.
— Vamos, conta! Reconhece: recebeste! Bem, eu te enviei esta carta! Palavra de honra, eu! Ha-ha-ha!
Pável Iványtch ficou corado e inclinou-se para o prato.
— Brincadeiras estúpidas, — ele resmungou.
— Mas o que fazer! Julga por ti mesmo... Precisávamos lavar o chão hoje, mas como expulsar vocês de casa? Só dessa forma serem expulsos... Mas não fica com raiva, bobo... Para que não ficasses entediado no caramanchão, eu enviei a mesma carta também para Mitya! Mitya, tu estiveste no caramanchão?
Mitya sorriu e parou de olhar com ódio para seu rival.
Fonte: http://feb-web.ru/feb/chekhov/texts/sp0/sp5/sp5-153-.htm
II. ELUCUBRAÇÕES ACERCA DO CONTO "NUMA CASA DE CAMPO"
Por Francisco José dos Santos Braga
1. O conto “Numa casa de campo” apareceu pela primeira vez no número 20 da revista O Despertador, edição de 25 de maio de 1886, assinado por A. Chekhonté, um dos pseudônimos de Tchekhov, e foi reproduzido na edição do 25º aniversário da revista, com a nota “Publicado em virtude de acordo com o proprietário das obras de A. Tchekhov, A. F. Marx”.
Ainda se conserva o recorte da publicação original com a seguinte anotação de Tchekhov: “N.B. Não incluir nas obras completas. Ant. Tchekhov”.
Durante a vida de Tchekhov foi traduzido para o finlandês e o tcheco.
Ainda se conserva o recorte da publicação original com a seguinte anotação de Tchekhov: “N.B. Não incluir nas obras completas. Ant. Tchekhov”.
Durante a vida de Tchekhov foi traduzido para o finlandês e o tcheco.
2. Prof. Mark Gamsa é palestrante sênior na Universidade de Tel Aviv, com principais interesses de pesquisa na história tardia imperial e moderna russa e chinesa, bem como na história cultural, intelectual e comparativa, historiografia e a história da tradução.
Seu artigo “Tradução e suposta situação de plágio da literatura russa na China Republicana”, em [GAMSA, 2011, 151-71], examina as angústias sobre autoria e acusações de plágio na cultura literária chinesa durante o período republicano (1911-1949). Nesse artigo, concentrando-se em duas histórias dos escritores Shi Zhecun ("Perseguição", 1928) e Ling Shuhua ("O Templo das Flores", 1925), analisa suas conexões com obras da literatura soviética e pré-revolucionária russa retraduzida para o chinês do inglês apenas meses antes que essas obras chinesas aparecessem: respectivamente, duas histórias de Ivan Kasatkin ("Flying Osip", 1921) e Anton Chekhov ("At a Summer Villa" — ou "Numa Casa de Campo" em minha tradução, 1886).
Interessa-nos aqui examinar apenas o raciocínio do articulista, focalizando apenas na história “O Templo das Flores” escrita pela escritora chinesa Ling Shuhua, que é considerada uma apropriação indevida do conto “Numa Casa de Campo” de Tchekhov, conforme minha tradução para o português. Segundo o estudioso israelita, especificamente a respeito da escritora Ling Shuhua, escreve:
“O conto de Tchekhov, breve e leve ‘Numa Casa de Campo’, abre com uma carta anônima recebida por Pável Vykhodtsev, um homem casado de meia idade, agora em férias de verão com sua esposa. Essa carta curta é uma declaração de amor feita por uma desconhecida mulher bonita, que marca com ele um encontro no ‘velho caramanchão’ na mesma noite. Vykhodtsev inicialmente está zangado, em seguida curioso e finalmente lascivo, ao mesmo tempo que imagina que a autora da carta pudesse ter sido uma jovem loura que ele tinha percebido outro dia. Mas, ao entrar no caramanchão à noite, a única pessoa que ali vê é seu cunhado, o estudante Mitya. Vykhodtsev tenta convencer o estudante a sair, mas inutilmente. Enquanto eles estão discutindo, uma mulher espia dentro do caramanchão e, notando a presença dos dois homens, desaparece. Os rivais dirigem-se à casa, zangados um com o outro, mas então, ao jantar, a esposa de Vykhodtsev solta uma gargalhada, ao mesmo tempo que revela que ela própria tinha enviado as cartas (uma idêntica tinha sido remetida a seu marido e a seu irmão) apenas porque ela queria vê-los longe de casa, enquanto estivesse lavando o piso da casa.
Em ‘O Templo das Flores’ da escritora Ling Shuhua, o casal não está numa casa de campo, mas em casa. O marido, chamado Youquan, é um poeta; o nome de sua esposa é Yanqian. A história é obviamente modelada no conto de Tchekhov, mas há muito mais diferenças. A carta anônima que Youquan recebe é muito mais longa e mais elaborada do que a mensagem de amor no começo do conto de Tchekhov; contrário ao leitor de Tchekhov, que duvida desde o início que uma “jovem e bela” mulher tenha se apaixonado pelos charmes de Pável Vykhodtsev, o leitor de Ling recebe uma explicação: a autora da carta é uma admiradora da poesia de Youquan. Ela marcou com ele um encontro “sob o pessegueiro de cor esmeralda” e — mais uma antecipação angustiante — é, claro, sua própria esposa que vê chegar ao templo. Contrário ao modelo russo, a descoberta da brincadeira não está no fim da história: Yanqian não só tem nome (diferentemente da esposa anônima de Vykhodtsev), como também é mais de uma personalidade, pois de suas próprias palavras e comportamento podemos suspeitar que, ao escrever sua carta altamente literária e então ao vir pessoalmente ao local do encontro, ela queria não tanto testar seu marido quanto apimentar seu casamento.
A história por Ling Shuhua é mais uma variante do conto de Tchekhov do que uma tentativa de ‘furtar’ dele. O que interessa não é simplesmente os bocados da vida e tradição chinesas que a autora introduz: um templo budista em vez de um caramanchão num refúgio de veranistas russos; as várias citações diretas da literatura clássica chinesa e possíveis alusões a outras obras canônicas. Remodelando seus personagens, Ling realizou uma recontação da história de Tchekhov: a melhor forma para descrever o que aconteceu para o conto de Tchekhov nas mãos dela pode ser falar da circulação internacional e transformação do texto russo. (...) a atração do modelo russo do século XIX para Ling Shuhua provavelmente consistia de sua tomada humorística porém perceptiva sobre as relações entre marido e esposa. O interesse particular de Ling na psicologia conjugal pode tê-la levado a desenvolver além a figura da “esposa engenhosa” numa história posterior. (De acordo com Dooling, “Ling Shuhua”, p. 99, isso se refere à peça-título da segunda coleção de Ling, Nüren.)”
“Outra controvérsia surgiu depois da morte de Ling Shuhua (1990) a respeito de uma novela escrita por uma mulher chamada Hong Ying, que era implicitamente baseada num suposto “caso” entre Ling Shuhua e Julian Bell, sobrinho de Virginia Woolf. Julian Bell ensinava na Universidade de Wuhan durante a década de 1930 e fez alusão à relação deles em cartas publicadas em 1937. O incidente recebeu ampla exposição nos meios de comunicação quando Chen Xiaoying, filha de Ling Shuhua, ameaçou levar Hong Ying ao tribunal.”
III. BIBLIOGRAFIA
GAMSA, Mark: Translation and Alleged Plagiarism of Russian Literature in Republican China, Chinese Literature: essays, articles, reviews (CLEAR), vol. 33 (December 2011), p. 151-71. JSTOR, www.jstor.org/stable/41412924. Accessed em 19 Jun 2020.
LEE, Lily Xiao Hong: Biographical Dictionary of Chinese Women, Armonk (NY): M. E. Sharpe, 2003, vol. 2, 761 p.
Link: https://books.google.com.br/books?id=XOGdnCPJSOMC&pg=PA354&lpg=PA354&dq=ling+shuhua&source=bl&ots=rmDFBfsxm5&sig=ACfU3U3v7-dfui08CH8J5HVAFXM3VU3p9g&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwimx4GxrY7qAhUQH7kGHc7pD_gQ6AEwDnoECBMQAQ#v=onepage&q=ling%20shuhua&f=false
Link: https://books.google.com.br/books?id=XOGdnCPJSOMC&pg=PA354&lpg=PA354&dq=ling+shuhua&source=bl&ots=rmDFBfsxm5&sig=ACfU3U3v7-dfui08CH8J5HVAFXM3VU3p9g&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwimx4GxrY7qAhUQH7kGHc7pD_gQ6AEwDnoECBMQAQ#v=onepage&q=ling%20shuhua&f=false
16 comentários:
Acho que é ocioso falar da importância de visitarmos novamente o escritor russo ANTÓN PÁVLOVITCH TCHÉKHOV, um dos grandes da literatura universal que valorizava o cotidiano da vida e que era um verdadeiro mestre na capacidade de evocar imagens e descrever emoções.
Hoje lhe apresento a tradução de mais um conto desse célebre autor russo, intitulado NUMA CASA DE CAMPO , datado de 1886. Com esse trabalho, são quatro os contos desse autor cuja tradução, do russo para o português, não foi publicada pelas editoras até hoje, a não ser pelo Blog do Braga. Nesse espaço virtual, anteriormente já publiquei, do autor russo, Uma Brilhante Personalidade (Conto de um Idealista), Vingança de uma Mulher e Um Escândalo.
A tradução em português do presente conto é acompanhado das elucubrações de um professor da Universidade de Tel Aviv sobre o plágio cometido por uma escritora chinesa, Ling Shuhua, servindo-se da tradução americana do conto de Tchekhov para compor o seu "O Templo das Flores", datado de 1925.
https://bragamusician.blogspot.com/2020/06/numa-casa-de-campo.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Grande abraço meu nobre Confrade! Aqui em quarentena mas de antena ligada! Republiquei aqui, em nossa página e grupo da AFL.
Grande abç a vcs!
Att.,
Paulo José - Pajo
Obrigado, Francisco Braga. Abraço do Gilberto Mendonça Teles
Caro professor Braga;
Curiosíssimo conto; revelada a trama da esposa, resta a dúvida de quem era afinal o "rosto feminino de nariz arrebitado" que chegou ao caramanchão! Uma vez mais cumprimentos por mais uma brilhante tradução.
Abraço,
Cupertino
Caro Braga;
Darei uma lida nos textos.
Obrigado pela remessa.
Abraços.
Paulo Milagre
Muito obrigado, caro confrade. Lerei com prazer.
Abraço fraterno
J. Carlos Hdez
Olá, Francisco e Rute. Parabéns, com sua tradução deste grande autor!!! Com meus votos franciscanos de "Paz e Bem!", tenham um Domingo feliz e animador! f. Joel.
Obrigado, Francisco. Abraço, Mauricio
Prezado Braga, obrigado pelo envio dos textos. Saudações de isolamento para você e Rute. Pax. Fernando Teixeira
Parabéns, mestre tradutor!
Muito me honram os laços de amizade que nos unem.
Que Deus conceda saúde ao casal Braga e Rute!
Meu caro Braga, boa tarde.
Sobre o conto "Uma Casa no Campo", de Tchékov, creio que há um pequeno equívoco em sua explicação inicial.
Este conto foi anteriormente traduzido do russo por Tatian Belinsky, para Edições de Ouro/Nova Fronteira,com o título "Veraneio", no volume Anton Tchekhov Contos.
Por acaso, estou lendo aqui nestes dias de quarentena, no Kindle, a 4ª edição de 2018, onde constam estas informações.
Claro, nenhum prejuízo traz a publicação deste texto no Blog do Braga. Aliás, nunca é demais falar de grandes autores e suas obras. Se errado, me corrija.
Abraços.
Aidenor Aires
Escritor
Caro Braga, recebi com alegria sua amável resposta.
Palavras de um mestre, plenas daquela modéstia que sempre honra a verdadeira sabedoria.
Agradeço pelos textos sobre música e notícias sobre a obra do baiano,
Julimar Cardoso, que desconhecia até agora.
Continuo sendo um leitor mais atento de seu blog.
Abraços.
Aidenor Aires
Prezado Aidenor Aires,
Bom dia!
Estive muito ligado à Goiânia há uns 30 anos atrás. Desenvolvi um trabalho pedagógico aí (foram bem uns 3 anos, na tarde das sextas e manhã dos sábados), na oficina de Jobenil Magalhães, o "Mestre Jô". Sobre essa atividade intelectual escrevi e debati no seguinte artigo e, principalmente, na sua nota explicativa nº 4:
https://bragamusician.blogspot.com/2014/01/musica-de-teclado-um-programa.html
Agradeço-lhe o envio da informação. Vou ter mais cuidado a próxima vez que falar de ineditismo.
Foi bom eu não ter conhecimento da tradução que realizou a grande tradutora Tatiana Belinky nem tê-la consultado, porque minha tradução, com o fato, guardou independência, embora a fonte russa seja a mesma.
Permita-me enviar-lhe ainda alguns trabalhos que realizei sobre intelectuais baianos, seus conterrâneos (Mendes de Aguiar e Julimar Esteves Cardoso) hoje esquecidos.
https://bragamusician.blogspot.com/2010/09/hino-nacional-brasileiro-em-latim.html
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2017/09/musica-e-formas-liricas-na-grecia-antiga.html
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2017/09/colaborador-julimar-cardoso.html
Estou preparando um novo (inédito mesmo) trabalho sobre Julimar Esteves Cardoso, que só viveu 38 anos.
Grato pelo contato e sempre a seu dispor, esperando suas contribuições adicionais e bem-vindas,
Braga
Pois é, meu amado esposo... eu logo imaginei que fosse a esposa a autora da carta, pois Pável tinha uma relação muito estável com ela.
Bem; você foi muito feliz em traduzir essa bela trama da esposa tentando apenas limpar a casa e ainda mais nesta época de quarentena que todos ficam amontoados dentro de casa. Ela querendo continuar a fazer seu trabalho diário e ninguém saindo de casa, impedindo que a coisa se faça. Bom demais!
Ainda bem que aqui em casa somos apenas dois, você ocupando-se com seus trabalhos enquanto eu executo o meu. Assim eu posso propiciar a você um espaço bem aconchegante e assim nós nos amamos cada vez mais.
Te amo, meu doce, e gosto da sua companhia sempre junto a mim.
Ainda bem que tenho meu caramanchão aqui no meu quintal.
Parabéns! Adorei a cena do caramanchão. Assim a casa ficou limpinha.
Grande abraço meu nobre Confrade! Aqui em quarentena mas de antena ligada! Republiquei aqui, em nossa página e grupo da AFL.
https://www.facebook.com/pg/academiaformiguensedeletras/posts/
Grande abç a vcs!
Att.,
Paulo José - Pajo
Большое спасибо за ваши переводы. Очень радует, что благодаря вам и другим переводчикам, с творчеством наших писателей могут знакомиться люди, говорящие на разных языках.
Думаю, что именно благодаря своей блестящей способности описывать характеры и эмоции героев, Чехов стал пожалуй самым популярным русским писателем в мире.
Особенности языка порой теряются при переводе, но характеры людей часто понятны, на каком бы языке не шел разговор.
Хотели рассказать вам об интересном опыте, который предпринял один из ведущих российских театров - Большой Драматический театр имени Товстоногова, расположенный в Санкт-Петербурге.
В период пандемии, когда все театры закрыты и спектакли отменены, актеры поставили спектакль по мотивам пьесы Чехова "Вишневый сад" в виртуальной игровой вселенной Minecraft.
https://meduza.io/news/2020/06/14/bdt-predstavil-pervyy-v-rossii-spektakl-v-minecraft
Конечно, это, в первую очередь, попытка сделать классику интересной для молодого поколения, проводящего много времени в социальных сетях и интернете.
К своему стыду должен признаться, что я по памяти не помню ни одного писателя, пишущего на португальском языке.
Что бы вы посоветовали почитать в первую очередь, чтобы познакомиться с литературой на португальском?
Заранее спасибо!
С теплыми объятиями,
Нана и Денис
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