Por Francisco José dos Santos Braga
Página de rosto do livro "O Jogador", por Dostoiévski (1ª edição de 1866 impressa por Stellovski) - Crédito pela imagem: Link: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Gambler_(novel) |
As Grandes Reformas de Alexandre II da década de 1860 — incluindo a emancipação dos servos — que parecia serem um ponto de inflexão na política russa, não satisfizeram o apetite dos radicais por mudança. Os russos moderados que já se sentiam atemorizados com tais medidas, consideraram ainda mais alarmantes as mudanças sociais com mulheres se juntando às fileiras dos autodenominados niilistas, os quais, com base nos escritos de Nietzsche, defendiam a teoria da realidade do nada como algo intrinsecamente associado ao sentido de declínio, catástrofe, crise cultural do Ocidente. Elas fumavam cigarros, cortavam o cabelo curto, preferiam Feuerbach às novelas e rejeitavam o casamento em favor de carreiras na ciência e na medicina (ou, ocasionalmente, no terrorismo).
Os pensadores viam uma Rússia em rota de colisão consigo mesma, mas poucos temiam mais os resultados potenciais desta viragem do que Fiódor Mikháilovitch DOSTOIÉVSKI, que na cerimônia de inauguração do monumento a Aleksandr Pushkin em Moscou em 1880, proferiu um inflamado discurso memorável, sobre o destino da Rússia no mundo, enquanto apelava a seus compatriotas que considerassem as novas teorias de progresso social vindas do Ocidente como estranhas ao espírito russo. Continuando, ele elogiou Tatiana, a heroína de “Eugene Onegin”, romance em verso de Pushkin de 1833, por incorporar um espírito de auto-sacrifício exclusivamente russo. No romance, Tatiana era uma mulher casada que rejeita os avanços de seu antigo amante que a desprezara quando moça em condição humilde, mas que agora, mulher experimentada e sofisticada, a assediava porque, adulta e realizada com o casamento com um nobre, galgara uma posição social invejável. Onegin descobre que ela ainda o ama, mas ela afirma que permanecerá fiel ao marido para sempre. Tatiana, para Dostoiévski, era a prova de que uma verdadeira “mulher russa sempre se recusaria a construir sua felicidade com base na infelicidade dos outros”.
Ao referir-se aos valores morais da verdadeira mulher russa, certamente Dostoiévski tinha diante dos olhos a figura de uma mulher que não fosse fictícia. Anna Grigórievna Snítkina (nome de solteira) era a mulher em quem se espelhava, 24 anos mais nova do que ele.
Anna tinha crescido numa casa senhorial em São Petersburgo, numa família sobre a qual escreveu ela mais tarde, “sem brigas, dramas ou catástrofes”. Seu pai, funcionário público, era um grande admirador de Dostoiévski e falou longamente sobre o jovem e promissor autor de “Gente Pobre” (1846). “Infelizmente”, disse ele à filha, “o homem (Dostoiévski) se envolveu na política, desembarcou na Sibéria e desapareceu lá sem deixar vestígios”. Anna, em seu livro "Meu Marido Dostoiévski" observa que ela mesma admirava suas obras e conta que chorou ao ler "As recordações da casa dos mortos".
Mas... Anna não era apenas o exemplo de caráter moral que Dostoiévski, no seu louvor a Pushkin, procurava passar para as moças russas.
Nos primeiros anos de seu casamento, agora Anna Dostoiévskaia, foi chamada a praticar níveis sobre-humanos de altruísmo e perdão. Ela viveu à mercê do vício do jogo do marido, oscilando na ruína financeira durante anos — a certa altura, tendo que penhorar suas próprias roupas íntimas. Dostoiévski pouco fez para protegê-la de sua família dominadora, que tentava controlar seus recursos financeiros. Quando Pavel Aleksandrovitch, enteado de Dostoiévski no seu primeiro casamento, soube do seu segundo e futuro casamento, "pediu ao 'pai' para voltar atrás e se lembrar que já é um 'velho', sem idade, nem forças para começar uma vida nova e que Fiódor Mikháilovitch possuía outras obrigações, etc.". (p. 67 de "Meu Marido Dostoiévski" por Anna Grigórievna Dostoiévskaia)
Retrato por Vassily Perov c. 1872 - Crédito pela imagem: https://en.wikipedia.org/wiki/Fyodor_Dostoevsky |
“Ela não só ajudou Dostoiévski a se reerguer de uma terrível fase pessoal e financeira, causada pelo vício em jogos, como estabeleceu um padrão de publicação e distribuição de livros que mexeu com o mercado editorial e fez dela a primeira mulher russa a ter uma editora própria, bem como estabeleceu um padrão de publicação e distribuição de livros que mexeu com o mercado editorial. Apesar de sua bem-sucedida carreira ao lado do marido famoso, Anna acabou relegada pela história”, observa com propriedade a jornalista Raquel Carneiro da VEJA na edição de 18/09/2021.
Um especialista em literatura russa, o americano Andrew D. Kaufman, narra em detalhes os quatorze anos dessa união no livro The Gambler Wife: A True Story of Love, Risk, and the Woman Who Saved Dostoyevsky (A Esposa do Jogador: uma História de Amor, Risco e a Mulher que Salvou Dostoiévski, ainda não traduzido para o português). “Se não fosse por Anna, dificilmente teríamos obras magníficas como Os Irmãos Karamázov e O Idiota”, disse Kaufman a VEJA.
A jornalista da VEJA conclui: "Anna também foi marqueteira talentosa. Recém-casada, percebeu que Dostoiévski estava no fundo do poço — e botou ordem na casa. Estipulou horários para a produção do marido, estudou o esquema das livrarias, reuniu os textos publicados de forma seriada em obras únicas e devolveu ao autor a estabilidade financeira que lhe garantiria tempo para tecer trabalhos como Os Irmãos Karamázov. Ao ficar viúva, recusou ofertas polpudas pelos direitos das obras e investiu em boxes de coletâneas — ação inédita que lhe renderia 5 milhões de dólares em valores atuais. Ela era uma mulher invisível, mas não brincava em serviço."
Com determinação, Anna se autodenominava "mulher emancipada" — termo corrente na Rússia da década de 1860 —, ansiosa por traçar seu próprio caminho sem depender de marido. Como outras mulheres de sua geração e orientação política, decidiu estudar ciências. Inicialmente ingressou numa escola de zoologia, mas desistiu, depois de desmaiar diante da primeira cobaia: o cadáver de um gato. Ela então, num ginásio masculino, se matriculou em um curso de estenografia cujo instrutor, vendo seu progresso, em 03/10/1866 ofereceu-lhe um trabalho estenográfico para ninguém menos do que o escritor Dostoiévski que precisava do auxílio de um estenógrafo para escrever seu novo romance. (p. 37, idem) Diante dessa oportunidade de emprego, sentia-se uma profissional abandonando a condição de estudante e, "como uma moça dos anos 60" sonhava, podia finalmente "ganhar dinheiro com o seu próprio trabalho", já que "a ideia de independência para ela era uma das mais caras". (p. 38, idem)
Relembrando: na ocasião em que travaram conhecimento, Dostoiévski tinha 44 anos de idade e Anna, 20.
Observe, porém, que Anna afirma em seguida que "a possibilidade de trabalhar com Dostoiévski e conhecer pessoalmente este escritor era o que mais me agradava e importava no trabalho oferecido." (p. 38, idem) No dia seguinte, quando Anna chegou à casa de Dostoiévski para uma entrevista, o escritor enfrentava um prazo impossível (26 dias) e não havia escrito nada, exceto algumas notas para uma “história de um jogador russo devasso perdido em uma cidade turística europeia chamada Roulettenburg”.
Ademais, a própria Anna nos relata os detalhes da "revoltante armadilha em que caíra" Fiódor Mikháilovitch: "Após a morte de seu irmão mais velho, Mikhail, Fiódor assumira todas as dívidas da revista 'Vremia', editada por seu irmão. As dívidas eram em promissórias, e os credores não davam descanso a Fiódor, ameaçando-o com penhora de bens e prisão no departamento de dívidas. Naquela época era possível fazer isso." (p. 45, idem) "Quando todas as tentativas de convencer os credores se revelaram inúteis, e Fiódor estava à beira do desespero, apareceu inesperadamente em sua casa o editor F. T. Stellovski com a proposta de comprar por três mil os direitos da edição das obras completas em três volumes. Além disso, Fiódor era obrigado a escrever um novo romance, sem cobrar nada. Como a situação de Fiódor era crítica, ele concordou com todas as condições do contrato, pois o principal era se livrar da ameaça de ser preso." (p. 46, idem)
Segundo Anna, "o contrato fora assinado no verão de 1865, e Stellovski registrou o valor combinado em cartório. Com este dinheiro, no dia seguinte, Fiódor pagou os credores e ficou sem um tostão. (...) Stellovski era um esperto e trapaceiro explorador dos nossos escritores e músicos (de Pisemski, Krestovski, Glinka). (...) A condição mais difícil era a obrigação de entregar um novo romance no dia 1º de novembro de 1866. Em caso de atraso na entrega dos originais, Fiódor pagaria uma pequena multa. Agora, caso entregasse somente no dia 1º de dezembro do mesmo ano, perderia todos os direitos sobre suas obras, que passariam para as mãos de Stellovski para sempre. Claro que o selvagem Stellovski pretendia exatamente isso. Fiódor, em 1866, estava mergulhado no romance "Crime e Castigo" e queria finalizá-lo. Como poderia ele, um homem doente, escrever mais tantas páginas de um novo romance?" (p. 46, idem)
Em resumo: Dostoiévski concluiu os originais de "O Jogador" no dia 29 de outubro de 1866 com o auxílio de sua colaboradora Anna, que já chamava de "minha zelosa amiga", o que a deixava muito feliz. (p. 50, idem)
Uma parte considerável do livro de Anna é dedicada à “lua de mel” do casal, uma viagem de três meses à Alemanha que acabou durando quatro anos. O hábito de jogo de Dostoiévski tornou-se tão agudo que eles não podiam regressar à Rússia sem medo de que ele fosse preso na fronteira e enviado para a prisão de devedores.
Vamos agora ao livro "O Jogador".
Preliminarmente, convém que nos ambientemos com alguns fatos e feitos que constituem a linha temporal do autor e do seu romance O Jogador, considerado um "romance maravilhoso" por Thomas Mann.
Em 1857 ele se casou com uma viúva, Maria Dmitrievna Isaieva (1824-1864), que criou uma relação de amizade com o seu jovem amante semelhante à descrita em Noites Brancas (1848).
Entre 1862 e 1863 fez várias viagens pela Europa, onde conheceu Paulina Suslova, sua amada marcante que serviu de modelo para algumas das suas heroínas. Sobre essa personagem real, convém observar que há este lado biográfico em O Jogador: em 1863, quando viajava ao encontro de Paulina Suslova, a grande paixão amorosa da sua vida, que vivia então em Paris, Dostoiévski, endividado e alucinado pelo enriquecimento súbito, tentou a sua sorte nas roletas de Wiesbaden. Ganhou, perdeu, recuperou e retomou o caminho para Paris. Mas na viagem que fez com Paulina procurou de novo as intensidades da roleta em Baden-Baden, onde perdeu tudo o que tinha, incluindo o seu relógio e o anel de Paulina. Inventou um sistema para ganhar que falhou em Bad Homburg, obrigando-o a voltar sozinho a São Petersburgo.
Foi em Wiesbaden que se iniciou na paixão pelo jogo. O próprio Dostoiévski estivera em cidades de jogatina citadas no romance O Jogador, como Hamburg e Baden-Baden, fora viciado em jogo, vivenciara o episódio com o eclesiástico católico contado pelo narrador, e também extraíra de uma situação da própria vida a intriga amorosa que permeia a trama.
Lembremo-nos de que O Jogador é a obra em que ficcionou a sua atração pela roleta, publicada alguns anos mais tarde (1866) e logo se tornou uma das suas obras mais lidas, na qual depositou, tal como em grande parte dos seus outros livros, as suas traumatizantes experiências de vida.
Passado na Alemanha, num ambiente de cassinos, Aleksei Ivánovitch destaca-se como figura principal — um jovem com um forte sentido crítico em relação ao mundo que o rodeia, mas carente de objetivos, que descobre em si a paixão compulsiva pelo jogo. Dostoiévski expõe as personagens nas suas motivações mais íntimas, com humor e ironia, criando uma obra simultaneamente viva e profunda, na melhor tradição dostoievskiana. O fascínio torturado dos jogadores adequa-se genialmente ao tratamento de temas caros ao autor, e ainda o descontrole e o desespero, as paixões que raiam a loucura e a solidão sem perspectivas, além de uma análise social impiedosa, por vezes satírica.
O Jogador tem o subtítulo “Das anotações de um jovem”, e o jovem em questão é Aleksei Ivánovitch, o narrador-protagonista. Por essa razão, Dostoiévski fez desta obra uma espécie de autobiografia. Ficamos sabendo pouca coisa sobre Alexei ao longo do livro: ele é aristocrata, tem 25 anos, sangue tártaro e formação universitária, mas obviamente pertence à nobreza pobre, pois trabalha num hotel como preceptor dos filhos de um general que é considerado um nobre russo de grande fortuna e cujo nome não se menciona.
Quanto à trama ou enredo do romance, reconheço que há excelentes resenhas, normalmente desenvolvidas pelos tradutores brasileiros e portugueses da obra. A que mais me agradou é a de Érika Batista, intitulada "Resenha: O jogador, de Fiódor Dostoiévski", publicada pelo portal Medium, e vou, nos parágrafos abaixo, reproduzir parte do seu texto dedicado à análise de O Jogador de Dostoiévski.
“Quando a ação começa, ele está retornando para a cidade alemã de Roletemburgo (a cidade imaginária em que se passa a história) após cumprir algumas incumbências de natureza financeira para o patrão e a afilhada dele, Polina. Por essa jovem, o protagonista está apaixonado, confessamente, e as relações entre eles são estranhas, ao mesmo tempo íntimas e hostis. Outra pessoa apaixonada por Polina é o tímido e honrado ricaço inglês Mr. Astley, um amigo que Aleksei fez na viagem. Polina, por sua vez, está apaixonada pelo francês Des Grieux, conforme mais tarde descobrimos. O triângulo (ou quadrilátero) amoroso, no entanto, não é o ponto central do enredo, embora possa parecer, à primeira vista. Eu diria até que o livro não é só sobre o vício em jogo, seu motivo óbvio, mas sobre o dinheiro.
Sim, a cada três parágrafos, tropeçamos no dinheiro, que está no centro de quase todas as relações interpessoais retratadas no livro. O general já começa a história afundado em dívidas com o francês Des Grieux, com a propriedade e os bens de seus filhos totalmente hipotecados em favor do sócio (ou ex-sócio), e aguardando ansiosamente que sua tia solteirona morra para receber uma boa herança. Ele também precisa de dinheiro para manter o estilo de vida luxuoso dos nobres russos no estrangeiro e para se casar com uma moça de reputação duvidosa por quem se apaixonou, também francesa, a Mlle. Blanche “de Cominges”.
Polina também precisa de dinheiro, mas ela não diz para quê, só pede que Aleksei o ganhe para ela, apostando na roleta o dinheiro que ela conseguira ao penhorar suas jóias. O preceptor aceita, apesar do pedido do general para que ele não jogasse, para não manchar a reputação do patrão, ganha dinheiro, perde dinheiro, conversa vai, conversa vem, Polina acaba provocando indiretamente a demissão de Aleksei e, nisso, quando menos esperam, em vez de um telegrama sobre a herança, aparece em Roletemburgo a própria vovó, que estava com um pé na cova. Afinal, a cidade também era um balneário termal, e os médicos tinham-lhe recomendado terminar a recuperação no estrangeiro.
Como se não bastasse esse choque, a vovó acaba viciada na roleta, perde tudinho o que trouxera da Rússia, tendo que pedir dinheiro emprestado para voltar e dando o que falar na cidade. Os dois franceses, vendo a viola em cacos — i.é., que daquela fonte não sairia nem um dinheiro para o general, nem, consequentemente, para eles — preparam-se para decolar. É nesse momento que se revela que Des Grieux e Polina eram amantes e, para se livrar dela de maneira “honrosa”, ele perdoa uma parte da dívida do padrasto da moça, parte essa correspondente ao patrimônio da própria Polina, herdado da mãe dela, que o general havia dissipado.
Desesperada, ela recorre a Aleksei, e é nesse momento que o demônio da roleta possui o rapaz. Desde o começo ele queria jogar, acreditava que sua própria sorte mudaria na roleta, mas não tinha tentado até então. O desabafo de Polina, interpretado por ele como um pedido de socorro, é o empurrão que faltava. E, talvez devido à afamada “sorte de principiante”, ele ganha uma verdadeira, quebra a banca de vários jogos disponíveis, apesar de jogar sem nem um cálculo, numa espécie de frenesi.
Ele leva o dinheiro para casa e oferece parte dele para Polina, para que ela jogue na cara de Des Grieux o valor da dívida “perdoado” por ele e se liberte moralmente. Polina também está numa espécie de febre, e eles dormem juntos. No dia seguinte, furiosa, ela acusa Aleksei de tratá-la como uma prostituta, joga o dinheiro na cara dele e foge para o abrigo do Mr. Astley. Nosso herói vai saber notícias dela, troca farpas com Mr. Astley, e pouco depois esquece de repente do seu amor por Polina quando recebe daquela mesma Mlle. Blanche um convite para ir a Paris com ela torrar o dinheiro que ele ganhara em Paris.
O convite é aceito. A curta temporada em Paris traz prazeres a Aleksei, mas não muita satisfação: ele passa os dias em um cabaré aprendendo a dançar cancã e se embebedando enquanto a Mlle. Blanche compra e mobilia um apartamento e vive em alto padrão com o dinheiro dele. Segundo suas próprias notas, o rapaz não via a hora de que a temporada acabasse. E quando isso acontece, ele volta para as cidades de jogatina alemãs, as quais percorre por muito tempo, apostando, ganhando um pouco, mas perdendo muito, chega ir preso por dívida e a se empregar como secretário-lacaio de um figurão.”
*
* *
Anos mais tarde, após ter estado preso, Ivánovitch encontra Mr. Astley na Alemanha, que afirma ter vindo a Homburg a pedido de Polina. Ele revela o amor que esta sentia por Aleksei, afirmando que o diz sem quaisquer receios por ter a certeza de que Aleksei é um homem perdido, depois que Aleksei desconfia do amor de Polina com a exclamação e a dúvida: "Será possível! Será possível?"
Astley o repreende pela incredulidade e desfaçatez e faz um grande desabafo por ver tamanha insensibilidade em Aleksei, nos seguintes termos: “Sim, desgraçado, ela o ama, posso revelar-lhe isto porque você é um homem perdido! Mais ainda, se eu lhe disser que ela o ama até hoje, você apesar disso ficará aqui! Sim, você se perdeu. Tinha certas aptidões, um caráter vivo, e era boa pessoa, podia ser útil à sua pátria, que tanto necessita de homens, mas... ficará por aqui, e sua vida terminou.” Dizendo a seguir que não pode acusá-lo, Astley emite a opinião de que "todos os russos são assim, ou inclinados a ser assim. Se não fosse a roleta, seria coisa parecida. As exceções são raríssimas. Você não é o primeiro a não querer saber o que é trabalho (não estou falando do seu povo). A roleta é um jogo essencialmente russo. Até hoje você foi honesto e preferiu ser lacaio a furtar... mas é terrível pensar o que lhe pode acontecer no futuro.”
E para finalizar e em tom de despedida, Astley oferece a Ivánovitch uma pequena quantia (dez luíses de ouro) que lhe permitiria viajar até à Suíça, onde se encontra Polina.
O romance termina com um conflito interior de Aleksei, indeciso entre apostar aquela quantia na roleta ou correr de imediato para os braços de Polina.
Aqui estão registradas algumas impressões que me causaram as leituras de O Jogador de Fiódor Dostoiévski e Meu Marido Dostoiévski de Anna Grigoriévna Dostoiévskaia.
BIBLIOGRAFIA
BATISTA, Érika: Resenha: O jogador, de Fiódor Dostoiévski, publicado pelo portal Medium em 29/12/2020
Link: https://erika-batista.medium.com/resenha-o-jogador-de-fi%C3%B3dor-dostoi%C3%A9vski-f4d1c778962d 👈
CARNEIRO, Raquel: Livro sobre esposa de Dostoiévski resgata uma grande mulher injustiçada, publicado por VEJA, edição de 18/09/21
DOSTOIÉVSKAIA, Anna Grigoriévna: Meu Marido Dostoiévski, publicado por MAUAD Editora, trad. por Zoia Prestes, Rio de Janeiro, 1999, 334 p.
DOSTOIÉVSKI, Fiódor Mikháilovitch: O JOGADOR (Obs. Minha xerocópia menciona tradução para o português de Pedro Gambarra, infelizmente sem outros detalhes técnicos de edição, com 154 p.)
NET SABER: Resumo: O Jogador
POPOVA, Maria: Anna Dostoyevskaya on the Secret to a Happy Marriage: Wisdom from One of History's Truest and Most Beautiful Loves, publicado pelo portal The Marginalian
WILSON, Jennifer: The Stenographer Who Married Dostoyevsky — and Saved Him From Ruin, publicado pelo The New York Times, edição de 31/08/21
5 comentários:
Prezad@,
Tenho o prazer de enviar-lhe uma resenha que fiz de dois livros do cânone universal: trata-se dos famosos títulos O JOGADOR, de Dostoiévski, e de MEU MARIDO DOSTOIÉVSKI, de sua segunda esposa Anna G. Dostoiévskaia. Dei-lhe o título de DOSTOIÉVSKI: a história de vida de um jogador.
Todos sabemos que o escritor genial russo foi um jogador compulsivo e patológico, mas poucos de nós sabem que a verdadeira heroína para o seu êxito literário foi sua segunda esposa, a autora de Meu Marido Dostoiévski.
Link: https://bragamusician.blogspot.com/2024/04/dostoievski-historia-de-vida-de-um.html 👈
Cordial abraço,
Francisco Braga
Parabéns, gratidão.
Compartilho.
Caro professor Braga
Excelente publicação, interessante sinopse! O caso pessoal de Dostoiévski parece sancionar a máxima popular de que "por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher", independentemente da sua nacionalidade.
Já a compulsão pelo jogo e pela exploração mútua parecem ser mesmo inata no Homem, tanto que uma parte dos grandes sistemas econômicos nada mais são do que uma projeção regulada disso.
Saudações !
Caro amigo Braga
Agradecemos pelo envio de sua resenha sobre estes dois livros: o assunto parecer ser muito interessante!
Mais tarde faremos, com prazer, a leitura dessa postagem.
Fraternal abraço, dos amigos
Maio e Beth Cupello
As biografias, feitas por quem viveu com convivências, mostram sempre a criatura humana atrás da obra. Abraço.
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