quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Adeus à vida literária em 1961 do poeta e jornalista são-joanense Lincoln de Souza

Por Francisco José dos Santos Braga

MEUS HAI-KAIS


Beijos

Quando eu te beijava
punha em meu beijo todo o coração,
mas tu me beijavas só com a boca ...

Libertação

“Tout passe ...”
Um dia, na minha pobre memória,
serás uma flama extinta ... Felizmente.

Do céu caiu uma estrela ...
Quando à noite me levavas
qual cego, na escuridão,
cuidei que eras uma estrela
me levando pela mão ...

Arcozelo, 6/2/19
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Paisagem Japonesa

Eis aí a “Paisagem Japonesa”:
— O Fuji, cerejeira, uma “musmê”
contemplando o cenário, — uma beleza
que apenas no Japão é que se vê.

Olha tudo com calma e, com carinho,
numa nipônica toada então
tu, fazendo vibrar teu velho pinho,
manda o fruto da tua inspiração!

Rio, 8/1/1969


Lincoln de Souza: Miscelânea [s.l.], 1969?. [sem paginação].

I. Introdução

Neste meu presente trabalho, o tema principal é o da despedida do são-joanense Lincoln Teixeira de Souza (1894-1969). Despedida da vida literária, da carreira do homem de letras. Antes já havia se despedido da sua carreira de desenhista e caricaturista nas artes plásticas; a certa altura do texto, que se verá abaixo, confessa que "dela me afastei há muito tempo, sem nenhum pesar, por reconhecer a mediocridade das minhas produções" (desenhos e caricaturas). Restava-lhe, portanto, dar prosseguimento à sua vida de jornalista. É o que veremos nos textos selecionados para este trabalho, que nos dão a dimensão exata de um intelectual de peso através de seu depoimento honesto, ao decidir-se a encerrar sua vida literária.

Antes, porém, de apreciarmos o material colhido em fontes primárias existente na Biblioteca Municipal Baptista Caetano de Almeida, de São João del-Rei, vou fazer uma breve exposição do "state of the art" da crítica literária.


CAMPOS e CURY (1997) mostraram que um novo conceito de “apropriação” das fontes por parte do pesquisador/sujeito vai além do de preservação e de memória. Tais fontes não podem limitar-se a documentos, sobretudo os impressos; envolvem, antes, uma infinidade de objetos (documentos e objetos pessoais, fotos, lembranças de viagens, correspondências, anotações, recortes de jornais, etc.), que o pesquisador busca, ao tentar estabelecer uma relação com o seu objeto. Sob essa moderna epistemologia, que submete a investigação e a pesquisa a uma “radical força desconstrutora” dos sujeitos, as fontes saem da sua posição “primacial” para a de “ponto relacional”. Nessa condição, a linguagem se transforma em relação de intertextualidade, já que lhe é inerente o sentido da interdependência entre o sujeito e o objeto, e de interdisciplinaridade, já que são chamadas a dar explicações iluminadoras várias ciências que envolvem a linguagem e a memória.
A crítica literária contemporânea, por exemplo, desvencilha-se da obsessão exclusivista com o 'texto' no seu sentido estrito, voltando-se também para os seus 'arredores', trazendo à frente da cena os rascunhos, as anotações, as sublinhas, a correspondência do autor, as fotos, a marginália, os objetos de uso pessoal do escritor. Tudo isso constitui o marginal: os arredores que acontecem à margem do texto e que hoje avultam em importância como determinantes da produção da escrita e da interpretação de seus significados.” (grifo nosso)

Por outro lado, TOLENTINO (2001?), que se debruçou sobre as fontes primárias organizadas e deixadas pelos poetas Lincoln de Souza e José Severiano de Rezende, lembra que o que os dois nos deixaram, ou seja, “textos, correspondências, anotações, recortes de jornais em gavetas, em pastas esquecidas nos gabinetes de escritores nos permitem flagrar a produção da escrita.
Ela alerta para o fato de que “a crítica literária vê-se diante do novo. Todo esse acervo, constituído de pertences do escritor, bem como de produções que ele esquecera ou às vezes desprezara, torna-se passível de leitura como um texto em que se entrecruzam várias vozes no processo de constituição do sujeito escritor/leitor. (...) As Fontes Primárias são expressões de um tempo, de uma memória. Representam o momento artístico e são, além disso, objetos representativos da cultura. Sendo assim, podem ser tomadas como um texto, um grande livro. Cabe à crítica promover uma leitura desprendida de precedentes, pois as fontes possuem sua especificidade e no decorrer da pesquisa é que elas se apresentam. Atuando nos bastidores da memória cultural, a pesquisa em fontes primárias caracteriza-se como um cruzamento de textos. ‘A pesquisa é, enfim, uma forma de leitura de palimpsesto.’” (grifo nosso)
Além disso, defende que o pesquisador, “ciente de que a literatura não é um fato isolado e que dialoga com as séries literária, social e cultural, deve tentar aprofundar, buscando relações com a vida literária do poeta, analisando o meio em que estava inserido quando de sua formação.” Portanto, “o trabalho em fontes primárias tem como objetivo o resgate de produções culturais às vezes esquecidas, desconhecidas ou mesmo adormecidas nas estantes das bibliotecas ou em acervos particulares.” (grifo nosso)
Lembra igualmente que, às vezes, “nem todos os acervos e arquivos estão organizados ou seus documentos estão num mesmo local. O acervo de Lincoln de Souza, por exemplo, divide-se entre a Biblioteca Municipal Baptista Caetano de São João del-Rei, o Museu Bárbara Heliodora e as doações que o escritor fez a particulares.

Finalmente, FARIAS e TOLENTINO (2002) conseguiram, nas fontes primárias organizadas e deixadas por Lincoln de Souza, "rastrear as rasuras e as repetições, bem como as substituições em alguns poemas do escritor (...) enquanto leitor de sua própria obra, numa reescritura constante, em busca da palavra poética."

Inserido na linha de pesquisa de fontes primárias e levando em conta os pressupostos acima, este trabalho visa, fundamentalmente, revisitar a obra do escritor são-joanense Lincoln de Souza, que teve uma produção intelectual — poética, crítica e jornalística — de inestimável valor.


Isto posto, passemos ao objeto da presente matéria, que é o de apreciar como o escritor são-joanense se despede da sua carreira literária. Conforme prometido, seu livro VIDA LITERÁRIA, aqui abordado, seria, de fato, seu último livro.


II. Autobiografia de Lincoln de Souza


Das páginas 6-16 do livro “VIDA LITERÁRIA” do poeta e jornalista Lincoln de Souza extraí a seguinte autobiografia traçada pelo próprio escritor, sob o título DEPOIMENTO, respeitada a ortografia:

"(...)
__________________________

Nasci na cidade mineira de S. João del-Rei, a 20 de junho de 1894.

A minha inclinação para as letras e garatujar bonecos (esta antes daquela) não começou cedo. Meu pai, relojoeiro de profissão, tendo cursado apenas escola primária, mas escrevendo e fazendo quadrinhas com facilidade, com o objetivo de me estimular, compôs um pequeno monólogo em versos de sete sílabas, publicando-o, com a minha assinatura, em “O Tico-Tico”. Eu devia ter uns 8 ou 10 anos à época. O fato não me causou a mínima impressão. Mais tarde, numa fôlha de almaço, redigiu um jornaleco a mão – “O Nico”, do qual me fêz tirar cópias. Também essa tentativa para despertar em mim o gosto pelas letras não surtiu o menor efeito. Eu tinha uma invencível ojeriza a escrever, fôsse o que fôsse. Só lá por volta dos meus 14 anos foi que comecei a rabiscar, em insignificantes jornaizinhos de minha terra, bobagens assim: “Dizem que o Zé da Farmácia Central está de namôro com uma garôta do Tijuco ... que o Antoninho Neves levou a lata da namorada ...” etc. Observo, agora, que essas futilidades de aldeia foram o embrião das mesmas f
utilidades que divulgam hoje os chamados cronistas do “Society”, nos maiores órgãos da nossa imprensa e com as quais usufruem alto prestígio e dinheiro grosso.

O ponto de partida verdadeiro das minhas atividades de literato provinciano foi assim: Eu gostava perdidamente de uma prima e, como de hábito no interior, naquele tempo, ia namorá-la todos os dias, postando-me a uns vinte metros em frente à sua residência. Para me fazer companhia, levava um amigo (da onça) que, ao fim de alguns meses, acabou conquistando-me a prima e casando-se com ela. O que sofri — como sofri! — nem é bom falar. E foi sob uma tremenda crise sentimental que, certa noite, o coração em pranto, me levantei da cama e escrevi “Recordações de Maria”, — uma baboseira incrível, só comparável ao que êsses colegiais suburbanos publicam no “Jornal das Moças”. Foi assim que comecei. Quando, quase quarenta anos depois, reli o tal escrito, não pude conter o riso que êle me provocou...


Passaram-se os tempos. Mas a sarna romântica continuava. Incurável. De 1915 a 1919, ou dos meus 21 aos 25 anos, entro num período de intensa atividade não só literária como artística: percorro
várias localidades mineiras fazendo caricaturas no palco, após a projeção de filmes e começo a colaborar em jornais além dos de minha terra. Dessa forma, atulho de tolos devaneios as páginas da velha “Gazeta de Minas”, de Oliveira e da “Cidade de Barbacena”, da cidade do mesmo nome. Escrevo, mais tarde, no “Minas-Jornal”, uma fôlha que, à maneira de “A Noite” carioca, revolucionou os métodos jornalísticos de São João del-Rei. Promovida por êsse jornal, realizei a minha primeira exposição de caricaturas, juntamente com Alberto Thoréau e Murilo Monteiro, também fazendo ali a minha primeira reportagem moderna, ilustrada por mim mesmo, em tôrno de um curandeiro analfabeto, estimado e respeitado pela população sanjoanense.

Fui eu, igualmente, que criei na imprensa da minha terra natal a reportagem fotográfica de fatos esportivos e policiais, não publicada no jornal, mas apenas fixada à porta da redação, dada a dificuldad
e do preparo de clichês e a inexistência de oficina de gravura na cidade.

Antes da colaboração no “Minas-Jornal”, eu havia conseguido dos irmãos Faleiros, que exploravam o Teatro Municipal, permissão para fazer um jornalzinho, aproveitando os programas de cinema, aos domingos, daquela casa de diversões. Intitulava-se “Cine-Jornal” e foi nêle que publiquei o meu primeiro sonêto, depois de tomar umas lições de metrificação com o professor Campos da Cunha. Meu jornalzinho durou apenas alguns meses, mas foi para mim um treino excelente.


Em 1919, com um prefácio amigo de Belmiro Braga — Deus o tenha em sua santa paz! — dei à estampa as minhas primeiras rimas — “Versos Tristes”. As críticas foram boas, especialmente a de Manuel Bandeira, que me recebeu entusiàsticamente, chamando-me, a lembrar Wilde, de “King of life”, no “Diário Mercantil”, de Juiz de Fora. Devo dizer, a bem da verdade, que depois dos flamantes elogios do poeta de “A Cinza das Horas”, naquela época, nunca mais, até hoje, êle se dignou referir-se aos meus pobres versos, mesmo quando cita aedos mineiros. Isto, porém, não diminui o alto conceito em que tenho o atual acadêmico, que tanto me estimulou, com seus louvores, no comêço da minha carreira no mundo das letras.

Um ano depois, ou seja em 1920, com a transferência dos escritórios da então E. F. Oeste de Minas
¹ (integrada depois na Rêde Mineira de Viação) para Belo Horizonte, inicio ali, com Carlos Drummond de Andrade, minha colaboração no “Diário de Minas”, ao tempo dirigido por J. Osvaldo de Araujo, Noraldino Lima e Arduíno Bolivar. No mesmo ano, Alberto Haas, estudante de engenharia, não podendo cuidar de sua revista “Tank”, que se editava na capital das Alterosas, entregou-me a direção da mesma, com uma gratificação de 50 mil réis mensais (não estava ainda adotado o cruzeiro, que só apareceu em fins de 1942). Foi aí que me iniciei no jornalismo profissional. Na revista de Haas eu tinha de fazer tudo: correspondência, redação da matéria do texto, contrôle de colaboração, paginação, etc. Com efeito, 50 mil réis era pouco, mas é preciso esclarecer que com aquela quantia eu pagava a minha pensão (casa e comida) no bairro da Floresta. As pensões mais caras, as chamadas de luxo, na Rua da Bahia, cobravam 90 mil réis por mês. Por aí se vê o valor que tinha o dinheiro em 1920. A segunda paga, na imprensa, tive-a de Amadeu Amaral, que por um artigo que escrevi na “Gazeta de Notícias”, sôbre uma exposição de pintura em Belo Horizonte, me gratificou com 30 mil réis. Isso para mim foi um assombro: 30 pratas por um simples artigo! A terceira paga que recebi foi em 1936, por duas pequenas reportagens em “Vamos Ler!” — 40 mil réis cada uma, — o que me causou agradável surprêsa. Hoje recebo 1.000, 1.500 e 2.000 cruzeiros por uma colaboração, sem nenhum espanto. Também a nossa moeda caiu tão baixo ...

Agora um caso — o caso de um retrato — que transformou completamente o meu destino, a minha vida. Vou contá-lo muito resumidamente, e só abordando o seu ângulo literário. Quanto ao sentimental, nem uma linha, porque estas páginas devem limitar-se tão sòmente a assuntos vinculados às minhas atividades no setor das letras, das artes e do jornalismo, como assinalei em comêço.

O caso foi o seguinte: Eu residia em Belo Horizonte. Em 1920, vim ao Rio e lembrei-me de fazer uma visita ao m
eu erudito amigo Basílio de Magalhães. Depois de uma hora de palestra, mais ou menos, ao sair, já quase à porta da rua dou, sôbre uma estante, com o retrato de formosa morena, de uns grandes e sugestivos olhos de zíngara. Chamo a atenção do mestre para aquêle impressionante tipo de mulher que contemplávamos. Êle me diz, então, que se tratava de uma criatura inteligentíssima, sua ex-aluna, de quem, por sinal, havia recebido, na véspera, uns versos, cuja cópia, incontinenti, tirou de uma gaveta e me mostrou. Li-os: eram magníficos. A meu pedido, êle me deu o papel que tinha na mão. Ao despedir-me, ofereceu-se o autor de “O Folclore no Brasil” para apresentar-me à fascinante poetisa. Eu, temendo apaixonar-me por ela, pois que empolgado já estava pela foto e o poema, não disse que sim nem que não. Agradeci a gentileza e parti. Dias depois, escrevi um artigo em “Gil Blas”, de Alcebíades Delamare, sôbre as nossas melhores poetisas. Mandei um exemplar à autora dos belos versos que eu lera em casa de Basílio de Magalhães. A carta que recebi, em agradecimento, me deixou deslumbrado, e como um derivativo à horrível monotonia do antigo Curral del-Rei, eu pedi-lhe que me escrevesse de vez em quando, ou quando quisesse, mandando-me impressões de livros, de coisas de arte, etc., tal como fizera na sua primeira mensagem. As cartas vieram. E que cartas! Eram tão encantadoras, que os meus amigos mais íntimos iam ao meu quarto lê-las, tal como se fôssem encantadores livros que me chegassem. A nossa correspondência tornava-se cada vez mais freqüente. O termômetro sentimental ia alto dentro de mim. Ao cabo de algum tempo eu, por carta, fi-la compreender que gostaria de ter ao meu lado a minha musa morena, por tôda a vida ... Ela, com uma sutileza muito feminina, deu-me esperança ... Para encurtar a narrativa: tornei-me noivo dela sem nunca a ter visto pessoalmente. De tal maneira eu me sentia, tão perturbado estava o meu espírito, que em meado de 1921 abandonei meu emprêgo na Oeste de Minas, vim para o Rio conhecer a minha noiva e procurar uma colocação, para aqui residir e instalar o meu lar.

Não quis, porém, o destino que eu me unisse à fascinante criatura dos olhos de zíngara. Em fevereiro de 1922 — lembro-me bem! — cada qual retomou o seu caminho. Ela é, hoje, um nome de projeção internacional e ainda bela, malgrado a mocidade que lhe fugiu.

* * *

Eis-me no Rio. Aqui, minha vida intelectual tomou outros rumos, expandiu-se. Do meu romance (romance ou drama?) resultaram apenas algumas páginas de prosa e poucos poemas. Publiquei depois livros. Fui trabalhar em “A Pátria”. Lá estive oito anos, tendo feito para êsse jornal reportagens em Portugal e na França e criado, em 1931, a crônica cotidiana de rádio, que não havia ainda na imprensa carioca, mas tão sòmente artigos esporádicos sôbre a matéria.

Ainda naquele ano, sem nenhuma finalidade lucrativa divulguei, através da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada e dirigida por Roquette Pinto, alguma coisa da arte oriental, num programa de canto, música e poesia do Líbano, Síria e Egito,
que causou a mais viva repercussão, especialmente nos meios sírio-libaneses do Rio. Só anos depois foi que uma emissora daqui iniciou a irradiação de músicas e cantos do Oriente.

Em 1932 fui nomeado para a Secretaria do Tribunal Regional Eleitoral de S. Paulo. Na Paulicéia, entretanto, não tive nenhuma atuação literária; apenas ajudei um colega, José Calmon de Brito, na redação e transmissão de notícias para “O Globo”, desta capital, do qual era êle correspondente. Pouco depois fui promovido, mas tendo de servir fora de S. Paulo, em Sergipe. Reiniciando na terra de Tobias Barreto as minhas atividades literárias, colaborei na imprensa local, ocasião em que me empenhei em tremenda polêmica com redatores de uma fôlha de Aracaju. Extintos os tribunais eleitorais, regressei ao Rio e, após bem largo período de inação no setor das letras, das artes e do jornalismo, fui trabalhar, em regime de “pró-labore”, em “A Noite Ilustrada” e, em seguida, em “A Noite” (ùltimamente como redator) até dezembro de 1957, data em que o jornal foi fechado pelo Govêrno, sendo reaberto no ano passado pela Companhia Jornalística Castelar.

A “A Noite” dei o melhor
do meu esfôrço, da minha inteligência e da minha dedicação durante longos doze anos. Realizei importantes coberturas jornalísticas e dirigi, por muito tempo, a seção escolar, que inestimáveis serviços prestou à causa do ensino, conseguindo dos proprietários de escolas centenas de bôlsas de estudo e premiando com medalhas, objetos de uso escolar e cofres com depósito em dinheiro milhares e milhares de alunos de estabelecimentos de instrução pública e particular do Rio.

De vez que menciono as minhas atividades em “A Noite”, será oportuno referir-me também a outros fatos mais expressivos da minha carreira na imprensa e que foram: evitar que centenas de alunos do internato de um padre, em Minas Gerais, continuassem a levar uma vida miserável,
com a denúncia que fiz do que ali se passava ao então deputado Luiz da Gama Filho, que da tribuna da Câmara levantara a voz contra o regime de fome e maus tratos vigorante no tal internato, superintendido pelo SAM, a cujo diretor, na ocasião, o padre João Pedron, entreguei uma cópia da minha reportagem. Quando publiquei em “Vamos Ler!” uma colaboração sôbre “A Fonte da Mata”, em Boquim, berço natal de Hermes Fontes e descrevi a situação de penúria em que se encontravam as irmãs do poeta, o dr. Eronides de Carvalho, que era, à época, Interventor em Sergipe, mandou dar-lhes uma pensão, bem como a uma filha de Tobias Barreto, que também carecia de auxílio.

Em “A Pátria” tive a satisfação de desmascarar um engenheiro da Central do Brasil, que, quando da reforma daquela via-férrea, prometera, por carta a um amigo, ajudar os protegidos dêste. O referido engenheiro, no mesmo dia da publicação da carta no jornal, foi sumariamente demitido a bem do serviço público, embora a pseudo vestal José Américo de Almeida, que era o Ministro da Viação, fôsse coagido, depois, a mandar readmitir o sacripanta.

A minha vida de intelectual tem continuado a par da de jornalista. Quanto à de desenhista e caricaturista, confesso que é absolutamente nula. Dela me afastei há muito tempo, sem nenhum pesar, por reconhecer a mediocridade das minhas produções. Depois de caricaturas em palcos de cinemas e teatros, de desenhos e calungas em “O Albor”, uma revista que se publicava aqui, de propriedade de um sacerdote e da exposição de bonecos em S. João del-Rei, em 1918 (ou 1919), só vim a expor uma cabeça, a creiom, no hoje extinto Palace Hotel, no I Salão dos Jornalistas Liberais, em novembro último e, no mês seguinte, no II Salão de Pintura promovido pelo Centro Artístico e Cultural de S. João del-Rei. Mas os trabalhos que figuraram neste dois últimos salões (ilustrações de livros, caricaturas e uma aquarela) eram antigos, pois, como já escrevi, há muito eu abandonara as artes plásticas.

Dando um balanço do que produzi em cerca de meio século de atividades literárias, artísticas e jornalísticas, chego à conclusão de que não resultou de todo inútil o meu esfôrço, à exceção do que diz respeito à caricatura e ao desenho.

Não fui — apraz-me dizê-lo — um intelectual esquecido. Sem que partisse de mim a mais leve insinuação, fui homenageado: em 1946, no programa da Rádio Nacional — “Pátria Distante”, sob a direção de Maria Eduarda; em setembro de 1947, na A.B.I., por parte da Sociedade dos Homens de Letras do Brasil, ao ensejo da publicação da “plaquette” LENITA; em dezembro de 1949, na Rádio Inconfidência Mineira — programa “Vitrine Literária”, criado pelo jornalista e escritor Jorge Azevedo; em 1952, no programa “Lendo e Contando”, da Rádio Ministério da Educação, sob a responsabilidade da jornalista Helena Ferraz e dirigido, na oportunidade, pela poetisa Chiang-Sing; em março de 1953, por intelectuais sergipanos, no auditório da Rádio-Difusora de Sergipe, por iniciativa do escritor e ensaísta José Augusto Garcez; em 1954, no Sindicato dos Jornalistas profissionais do Rio de Janeiro, por ocasião da entrega de diplomas aos decanos da imprensa carioca e, finalmente, em maio do ano passado, no Centro Artístico e Cultural de S. João del-Rei, conjuntamente com os poetas Oranice Franco, José Geraldo Dângelo e Cândido Martins de Oliveira e o compositor Gustavo de Carvalho ².

Em 1953 tive um livro meu premiado pela Academia de Letras — “Entre os Xavantes do Roncador”.


A minha vida jornalística e literária não correu, todavia, sempre em mar de rosas. Como todo homem de letras e de jornal, recebi bordoadas fortes, suportei humilhantes silêncios e tive que manter polêmicas, bem contra a minha vontade. Um dos primeiros aborrecimentos, de que me lembro, foi o causado pelo artigo de um literatelho magro e anêmico como tudo que garatujava (se fôsse hoje, nenhuma impressão me faria) em defesa de Téo Filho, cujo livro “Dona Dolorosa”, eu desancara impiedosamente. Em 1922, em seguida a uma ferina crítica de Agrippino Grieco sobre a poesia da minha ex-musa de olhos de zíngara, escrevi-lhe uma carta desaforada, que trouxe como conseqüência a interrupção de nossa amizade por mais de trinta anos. Tendo censurado a conduta do filólogo José de Sá Nunes, no tocante à questão da reforma ortográfica, escreveu êste uma página inteiro no “Brasil-Portugal”, xingando-me dos piores nomes. Em S. João del-Rei houve entre mim e um médico local, no ano passado, um comêço de polêmica, que não tomou, entretanto, maiores proporções, graças à intervenção de amigos e o espírito conciliatório do referido médico. Polêmica de verdade, e polêmica braba, tive-a eu em Aracaju, com redatores de “O Estado de Sergipe”, em janeiro de 1934. Mas mesmo dessa não guardo nem malquerença aos meus ferozes contendores, nem maior lembrança do que se passou, pois tenho por hábito procurar esquecer os amargos acontecimentos de minha vida.

Ao revés, busco sempre recordar o que me é grato ao espírito. Nesse particular, estão as cento e tantas referências a propósito de trabalhos meus e da minha obscura personalidade, que se lêem na 1ª edição de “Poemas”, na 5ª de “Contam que ...” e ao fim dêste volume.

Também, como flôre
s atiradas no meu caminho, tenho a satisfação de possuir a página de dedicatória, em têrmos que muito me desvanecem, de quase cento e vinte livros que me foram ofertados pelas figuras mais eminentes do nosso mundo literário e artístico, — páginas que, reunidas, formaram um precioso e original álbum de autógrafos.

* * *

Agora, êste livro. VIDA LITERÁRIA é uma série de CRÔNICAS e outros trabalhos publicados em jornais e revistas, em épocas diversas, sôbre assuntos literários ou acêrca de personalidades vinculadas ao mundo das letras. Há, também uma palestra a propósito de crianças, que é a única escrita, sendo tôdas as demais, citadas em outro local, feitas de improviso, bem como as anotações e comentários (“Espumas”) de vária ordem, que constituíam uma curta seção que, por algum tempo, mantive numa fôlha carioca. Reproduzo-os agora, aqui, não fragmentados como saíram, mas em bloco, ocupando cêrca de uma vintena de páginas.

São incluídos neste despretensioso volume umas poucas impressões de leitura e de uma exposição de quadros, não porque lhes dê especial valor, mas tão sòmente para tornar mais duradoura, fixada em livro, a lembrança de amigos que sinceramente admiro e particularmente estimo. Pelo mesmo motivo foram incluídos aqui dois poemas que, com efeito, não se justificam num livro de prosa, — fato que esclareço também na página competente.

VIDA LITERÁRIA
será a minha derradeira obra. Depois desta, não pretendo publicar mais nenhuma outra, de vez que não mo permitem as minhas atuais e absorventes atividades jornalísticas. Foi por isso que quis dar um balanço completo das minhas apoucadas realizações, até hoje, no terreno da literatura, da arte e do jornalismo. Só me resta agora consignar aqui as expressões do meu mais profundo reconhecimento a todos quantos, na minha já longa mas pagada carreira das letras, me estimularam com sua palavra de louvor e sua generosa estima.
Rio, janeiro de 1961.

L. de S."

Esse histórico depoimento do poeta e jornalista são-joanense Lincoln de Souza constitui importante memória do jornalismo de Minas Gerais e Rio de Janeiro no primeiro meado do século XX. A meu ver, suas reflexões sobre sua atividade jornalística no período constituem importante elo na reconstituição da história do jornalismo nos dois Estados.



III. Convite para uma Noite de Autógrafos a se realizar em 18 de junho de 1961, acompanhado de Programa da Festa em São João del-Rei



Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei
C O N V I T E

Em nome do Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei tenho a honra de convidá-lo, juntamente com a sua Exma. Família, para a nossa IV Noite de Autógrafos, que se realizará no Salão de Festas do Minas F. Clube, às 19,30 hs. do próximo dia 18 do corrente mês de junho.

Nessa solenidade, que será abrilhantada com a musica do grande violonista Mozart Bicalho, de Belo Horizonte, será lançado o novo livro de crônicas e ensaios do poeta e jornalista sanjoanense Lincoln de Souza: VIDA LITERÁRIA.

Contando com a sua imprescindível presença, peço-lhe queira aceitar meus respeitosos cumprimentos.

São João del-Rei, 1º de junho de 1961

Pe. Luiz Zver – Presidente



P R O G R A M A


CENTRO ARTÍSTICO E CULTURAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

IV Noite de Autógrafos

Lincoln de Souza: VIDA LITERÁRIA




I Parte:

- Abertura da sessão pelo Presidente do C.A.C.
- Autógrafos.

II Parte:



- Saudação ao Sr. Lincoln de Souza, pelo Sr. José do Carmo Barbosa, Secretário do C.A.C.
- Saudade, Aos pés do Mestre e Doçura de acordar (poemas de Lincoln de Souza, apresentados pela Professora Aparecida Paiva)
- Senza nessuno, de E. Curtis, cantado por José Costa
- Eterna Lembrança (versos de Lincoln de Souza e música de Mozart Bicalho), cantado por Stella Neves Vale
- A manhã no mar (versos de Lincoln de Souza e música de Mozart Bicalho), cantado por Marta Teixeira.

III Parte: O violão e a arte do Professor Mozart Bicalho

Extra-Programa: canta a Senhorita Leila Taier



IV. Comentários registrados naquela memorável Noite de Autógrafos



Mozart Bicalho executou ao violão composições populares e clássicas, sendo vivamente aplaudido pela assistência. Seu último número foi “TEUS OLHOS”, música de sua autoria e letra de Lincoln de Souza, com acompanhamento dos artistas que atuaram na festa.

Finda a parte artístico-musical, o autor de VIDA LITERÁRIA pronunciou o pequeno discurso que vai a seguir:

MEUS CAROS CONTERRÂNEOS,



Esta é uma festa de despedida, uma festa de adeus. Um adeus, porém, sem lenços acenando e sem lágrimas. Devo dizer que sinto, antes, uma sensação de eufórica libertação. Há 47 anos passados, tendo começado nesta minha querida terra natal, sob o impacto de profunda emoção, a minha carreira de homem de letras, hoje venho aqui encerrá-la. Daí a razão desta noite de autógrafos, que marca o termino das minhas obscuras atividades literárias.


Meus amigos,

Estou cansado, exausto, esgotado. Não exagero dizendo, como Papini, que “sono un’ uomo finito”. Faltam-me a vibração e o entusiasmo de outros tempos. E ninguém deve fazer coisa alguma, neste mundo, sem entusiasmo, sem amor. Daí a definitiva resolução que resolvi tomar.

Em VIDA LITERÁRIA, num balanço que abrange quase meio século de atividade, estão registradas tôdas as minhas realizações na área da literatura, do jornalismo e das artes plásticas. Se não levei a termo algo de grande, contribuí, contudo, na medida das minhas fracas possibilidades intelectuais, para a divulgação de alguns aspectos da nossa cultura, através de obras que focalizaram temas folclóricos, assuntos indígenas, o histórico de uma tribo até então ainda não tratada com maiores informes, a síntese bio-bibliográfica de um famoso compatrício e uma série de reflexões de ordem filosófica e social.

Em VIDA LITERÁRIA projetam-se comentários, estudos e divulgações não só no campo da literatura, como no da história, da ciência e da arte.

Devo esclarecer que não se trata de um livro apenas para literatos, mas interessa também ao leitor comum, pela variedade dos assuntos nêle fixados em linguagem simples, despretensiosa e clara. Aí se encontra igualmente a leve palestra sôbre crianças que, sob os auspícios do Centro Artístico e Cultural, levei a efeito, em maio do ano passado, nesta cidade.

VIDA LITERÁRIA é o meu último livro. Último não no sentido de após o penúltimo, mas de últimoponto final.

Vou afastar-me, como já disse, de atividades literárias. Não digo que não venha a compôr algum poema, sob qualquer imperiosa necessidade. Mas o farei para mim mesmo, ou para quem haja inspirado as minhas possíveis rimas. Jamais para publicação em jornal ou revista.

O homem de letras desaparece hoje. Mas, antes disso, quero tornar público o meu imenso reconhecimento pelas provas de atenção que tenho recebido nesta abençoada terra de meu nascimento. Quero agradecer em primeiro lugar, ao meu eminente amigo, o reverendíssimo Padre Luiz Zver, a quem S. João del-Rei tanto deve pela obra verdadeiramente inestimável que está realizando a prol da cultura sanjoanense. Agradeço o concurso valioso de seus dedicados auxiliares no C.A.C. e, em particular, quero externar a minha mais viva gratidão a Gentil Palhares, um dos mais autênticos valores da atual geração, que se tornou cordialmente, embora não aqui nascido, o mais sanjoanense dentre os sanjoanenses que neste rincão mineiro viram a luz. O meu muito obrigado pelos magníficos elementos que atuaram hoje nesta festa de inteligência e coração: Maria Aparecida Paiva – a Poesia que se fez mulher; Marta Teixeira, minha talentosa prima, que trouxe ao velho tronco dos Teixeiras um ritmo de luminosa beleza; Stela Vale, que parece ter um luar na garganta e que canta como devem cantar os anjos; Leila Taier, a mais jovem e a mais fascinante criadora de paraísos interiores com sua voz dulcíssima e rica de sugestões; José Costa, uma legítima afirmação de artista; a professora Maria Monteiro, que tão gentilmente se prestou a acompanhar os números de canto; José do Carmo Barbosa e José Bernardino, tão generosos em suas orações, que foram como braçadas de rosas sôbre o meu crepúsculo; e Mozart Bicalho, meu antigo e querido companheiro de alegres noitadas belorizontinas, que pela sua alta virtuosidade, conhecida e aplaudida no Brasil inteiro, grangeou a justa fama de O Mago do Violão”. Agradeço tambem aos que aqui me honraram com sua presença, entre os quais revejo, com sincero júbilo, velhos e caros amigos.

Seja-me permitido, por fim, agradecer a tôdas as mulheres que passaram pelo meu caminho, ou melhor — pelo meu coração, — umas dando-me os sonhos mais inefáveis, outras, as mais indescritíveis torturas.

A elas, tão somente a elas, eu devo as melhores vibrações da minha musa, pois que, trazendo-me o sonho ou o sofrimento, foram as responsáveis pelos poemas que mereceram os mais fortes louvores da crítica e do público, poemas que vêm desde os meus “Versos Tristes” até os dois únicos de VIDA LITERÁRIA.
A tôdas, por isso, neste comovido instante de adeus, eu ofereço, afetuosamente, o ouro, o incenso e a mirra do meu reconhecimento e da minha homenagem.




V. Lincoln de Souza, anfitrião em banquete em 20 de junho de 1961, oferecido por ocasião de seu aniversário em São João del-Rei




Na noite de 20 de junho p.p., nos salões do Hotel Americano, o poeta sanjoanense Lincoln de Souza, residente no Rio, ofereceu aos seus amigos um banquete, despedindo-se da vida literária e festejando o seu aniversário natalício. Compareceram muitos literatos, amigos, senhoras e senhoritas, havendo música, canto, recitativos, discursos. Castanheira Filho disse-lhe os versos abaixo:


Versos a um poeta

Castanheira Filho

Quer o Lincoln deixar de ser poeta,
Pondo de lado a sua doce Lira.
Não pode haver loucura mais completa
E quer-nos parecer que até delira.

Depois de tantos anos de conquistas,
Tantos louros ganhando, em curto prazo,
Figurando no rol dos bons artistas,
Quer fugir ao convívio do Parnaso.

Tal decisão seria mesmo injusta
Para com nossas protetoras Musas,
E ouvindo o disparate, a gente custa
A acreditar, se não merece escusas.

Ser poeta é cantar a natureza,
Amar o belo, o sonho, a fantasia,
Viver sorrindo em mundo de tristeza,
Viver chorando em meio de alegria.

Olha para o alto e vê milhões de estrêlas,
Na mais linda vivendo Deus, por certo.
Pode contá-las, uma a uma, e tê-las
E conversar com elas bem de perto.

Longe do mundo, em plagas luminosas,
Nas asas dos seus versos de alabastro,
Vaga o poeta, a lira feita em rosas,
Hinos cantando sempre, de astro em astro.

Fecha os olhos seus à dor e à miséria,
Alheio às tentações do ouro maldito.
Deixa da vida a pútrida matéria
Em busca das paragens do infinito.

Ser poeta é viver indiferente
Às lutas, ao rancor da humanidade.
Olhos fitos no céu, no céu sòmente,
De Deus louvando, em tudo, a majestade.

Não se adapta às grandezas desta vida
O seu ser, que se esconde na penumbra,
E no seu coração não tem guarida
A glória, que os mortais tanto deslumbra.

Cantou Lincoln de Souza nos seus versos
O encanto da mulher, o doce encanto,
E aos mil caprichos seus, os mais diversos,
Muitas lôas teceu, em cada canto.

Ergueu a lira ao céu e, embevecido,
Louvou da Criação as maravilhas.
Pintou da fresca aurora o colorido
Em rimas perfumosas de sextilhas.

Exaltou com perícia, em notas claras,
A orquestra matinal dos passarinhos,
Traçando, bem fiel, com tintas raras,
O singular castelo dos seus ninhos.

Não pode Lincoln baquear na estrada,
Na senda azul dos ideais e sonhos,
Nem fugir ao frescor da madrugada,
De tons alegres e de tons tristonhos.

Tem de voar ao cimo do Parnaso,
Revendo as Musas, ao clarão da lua,
Depois que o sol se aprofundar no ocaso,
A terra mergulhada em sombras, nua.

Se a sua lira abandonar um dia,
Tudo em silêncio ficará nos campos
E as noites perderão, em nostalgia,
A pisca-pisca luz dos pirilampos.

Nova fase de amor (se assim me crerdes)
Talvez o espere, em novo desvario,
Para cantar, com garbo, uns olhos verdes,
Olhos verdes da côr do mar bravio.

Lá nos caminhos róseos da existência,
Onde parece o céu tocar a terra,
E o chão cobrindo pétalas de essência,
Do amor muita surpresa alí se encerra.

Vamos, poeta! Eleve a voz sonora,
Num hino de louvor à Criação,
E cante o amor, na sua eterna aurora,
Êsse amor que dá vida ao coração!





VI. Registro desses festejos pelo "Diário do Comércio" de São João del-Rei





O “DIÁRIO DO COMÉRCIO”, de São João del-Rei, na data de 21/6/1961, noticiou o seguinte:

Lincoln de Souza

Aniversariou, ontem, o poeta, jornalista e escritor sanjoanense — Lincoln de Souza, que se encontra nesta cidade há vários dias. O ilustre aniversariante viera à sua terra natal para o lançamento do seu livro VIDA LITERÁRIA, com que pretende encerrar suas atividades literárias de quase 40 anos.

Dotado de excepcional capacidade de ação, inteligente, memória viva e fecunda, Lincoln se projetou no mundo das letras fazendo da imprensa e dos livro que publicara em prosa e versos, o alfa e o ômega de sua vida. Por fôrça de suas funções e por vocação própria, correu meio mundo. E nas suas andanças pelos países europeus, pela America do Norte e pelo Oriente, sôfrego e ávido de tudo ver e conhecer para depois divulgar, Lincoln de Souza soube honrar e dignificar não apenas a imprensa e o “hinterland” literário do país, mas também o rincão mineiro e a própria terra que lhe serviu de berço. Daquí saiu no verdor dos anos e na florescência do seu espírito já plasmado para as coisas sublimes. Já tangia a Lyra no dizer do Pe. Luiz Zver e já se entendia pelo coração com as Musas, que nunca o abandonaram. Irrequieto, “perpetuum mobile”, o escritor sanjoanense, entretanto, fala, agora, em deixar as letras. E que seria sua terra natal o “túmulo” de tôda a sua atividade intelectual. Lançou, por isso, na Livraria São José do Rio de Janeiro e agora aquí em São João, como fêcho, o seu último livro VIDA LITERÁRIA, numa noite de autógrafos das mais memoráveis realizada no salão de festas do Minas. Seu novo livro sobre ser escorreito na forma e no estilo é uma carinhosa homenagem a São João del-Rei, retratada em páginas evocativas e quentes.

Um grupo de amigos e de admiradores de Lincoln de Souza homenageou-o no Hotel Americano pelo ensejo da sua efeméride tão grata a todos que o estimam, já pela sua fidalguia do trato, já pela bondade do seu coração sempre aberto e franco para todos que o cercam.


Esta fôlha se fez representar pelos Dr. Ronaldo Simões Coelho e ten. Gentil Palhares.



VII. OBRAS CONSULTADAS



CAMPOS, E.N. e CURY, M.Z.F.: “Fontes Primárias: Saberes em Movimento”, in Rev. Fac. Educ. vol. 23 n. 1-2, São Paulo, Jan./Dez. 1997.

_____. "Fontes Primárias em Discussão", in Rev. Vertentes, nº 1, São João del-Rei: FUNREI, 1993, p. 53-60.

FARIAS, J.M. e TOLENTINO, E.C.: "Lincoln de Souza: leitor crítico de si mesmo - entre a criação e a reescrita", publicado no Jornal da Universidade (UFSJ), de 23/08/2002. In http://www.ichs.ufop.br/conifes/anais/LCA/clca07.htm

 
MINISTÉRIO DA VIAÇÃO E OBRAS PÚBLICAS. 1918. Almanack do Pessoal da Estrada de Ferro Oeste de Minas e Estrada de Ferro de Itapura a Corumbá – Anno de 1917, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 112 p.

 
SOUZA, Lincoln: Vida Literária, Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti – Editores, 1961, 169 p.


____. Referências à Vida Literária [s.l.], 1961?. [sem paginação].

____. Miscelânea [s.l.], 1969?. [sem paginação].


TOLENTINO, E. C.: Fontes Primárias: Bastidores da Memória Cultural, in http://www.ichs.ufop.br/conifes/anais/LCA/clca07.htm



VIII. NOTAS DO AUTOR



¹  Na p. 18 do Almanack --> do Pessoal da Estrada de Ferro Oeste de Minas e Estrada de Ferro de Itapura a Corumbá – Anno de 1917, o funcionário Lincoln de Souza aparece como quarto escriturário da Contabilidade, nomeado em 05/08/1910, com o tempo líquido de serviço de 2.545 dias.


²  Gustavo de Carvalho, conhecido por Maestro "Guaraná", nasceu em São João del-Rei, tendo-se tornado arranjador e regente da Rádio Nacional na década de 50. Os arranjos do Maestro "Guaraná" eram arrojados, bem como primavam pela qualidade, bom gosto e singularidade, podendo-se dizer que se destacavam das versões de outros arranjadores para as mesmas músicas. Foi ele quem teve a feliz ideia de reunir os instrumentistas associados ao Sindicato dos Músicos Profissionais do Rio de Janeiro e de produzir o LP de 10 polegadas intitulado "Pérolas da Música Brasileira", lançado com o selo Copacabana, do qual tenho a honra de possuir um exemplar.


IX. AGRADECIMENTOS


Gostaria de deixar aqui consignada minha gratidão a todos os funcionários da Biblioteca Municipal Baptista Caetano de Almeida, de São João del-Rei, sobretudo à Bibliotecária-Chefe, Dra. Rosy Mara Oliveira, que prestou grande colaboração à realização desta pesquisa. Também agradeço ao Prof. Evandro de Almeida Coelho pelo empréstimo de livro relativo à E.F.O.M.-Estrada de Ferro Oeste de Minas, que figura na bibliografia.

* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ e Fundação Oscar Araripe em Tiradentes-MG. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...

5 comentários:

Lima disse...

Caríssimo Braga, recebi, li o seu artigo. Ótimo saber que também você é um estudioso das fontes primárias. Melhor ainda que ajuda o estudo, a divulgação do patrimônio cultural são-joanense muitíssimo bem representado pelo poeta que Lincoln de Souza sempre será. A crítica genética que estuda o literário por essa vertente dos bastidores do literário tem sido o fundamento crítico-filosófico de meus estudos sobre Oranice Franco. Ainda vamos conversar e produzir muito nesse sentido. Parabéns pelo texto. Aliás a Maria Zilda Cury que você cita foi a orientadora da minha dissertação de mestrado sobre a obra de Oranice Franco. Grande abraço. Nilo

Jadir disse...

Caro Braga,
Belo trabalho resgatando nosso ilustre são joanense Lincoln de Souza. Devo lhe informar que fazemos um trabalho a cerca de cinco anos entitulado “Lendas São Joanenses” no qual resgatamos algumas lendas de seu livro “Contam que...” Obrigado pelo presente..

Rafael dos Santos Braga disse...

Grande artigo! E ainda p´ra terminar a bela poesia de Castanheira Filho dirigida a ele. Abçs, Raf

Artur Cláudio da Costa Moreira disse...

Meu caro Braga,

Li com atenção e gostei muito de seu artigo sobre o são-joanense Lincoln de Souza.
Meu abraço,

Artur

Prof. Ulisses Passarelli disse...

Acabo de ler a matéria do Lincoln.

Lincoln dispensa comentários. Foi um gênio das letras cujo nome engrandece nossa terra e você Francisco ressalta magnificamente a memória dele com seus textos tão especiais. O texto em questão vem repleto de uma pesquisa séria, calcada em estudo criterioso, sendo fonte fidedigna de consulta para quantos queiram doravante debruçar sobre a obra de Lincoln de Souza.
Parabéns!
Ulisses