sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Projeto de fomento às bandas civis >>> Parte II


Por Francisco José dos Santos Braga



Em dezembro de 2009, expus sob a forma de Proêmio (leia aqui) minha crença de que o fomento às Bandas civis em geral representa verdadeira solução para a deficiente ou até mesmo inexistente Educação Musical brasileira. Mostrei como as Bandas podem ser consideradas ¨Conservatórios do Povo¨ na feliz expressão de Vicente Salles.

Por outro lado, manifestei minha intenção de publicar o Projeto de Fomento às Bandas Civis de São João del-Rei e Região Circunvizinha, de minha autoria, pelas razões que aduzi na ocasião.

Venho, portanto, cumprir minha promessa para com os leitores do Blog do Braga que aguardaram até hoje a Parte II — o Projeto propriamente dito — em continuação àquele Proêmio.


INTRODUÇÃO


O presente Projeto de Fomento às Bandas Civis de São João del-Rei e Região Circunvizinha constitui o resultado de longos debates do seu autor com o vereador Adenor Simões, profundo conhecedor de assuntos relativos à Educação Musical e formulador do Projeto "Capital Brasileira da Cultura", para São João del-Rei em 2007.

É sabido que a Educação Musical assegura ao indivíduo uma melhor acuidade perceptiva e organização mental, tornando mais fácil a absorção de outros conhecimentos e se, associada à participação num conjunto instrumental, como é o caso de Bandas, os benefícios se ampliam também socialmente — além de haver a conservação de valores culturais nacionais.

A Educação Musical constitui-se de três campos de conhecimento, a saber:
1) O motor, representado pelo domínio do instrumento, através de movimentos automáticos do corpo. Só é adquirido mediante treino e exercícios técnicos diários;
2) O cognitivo, simbolizado pela percepção. Pode ser obtido num piscar de olhos e ser útil no aprendizado de outras disciplinas do Currículo Escolar;
3) O da sensibilidade (em grego, aesthetikós), que tem a ver com a esfera do espírito e, portanto, foge ao campo da experiência sensível. Tanto pode ser considerado sob uma ótica passiva (em que a música é capaz de impressionar o musicista) ou ativa (em que o musicista é capaz de suscitar a sensibilidade do público).

São João del-Rei é conhecida como a Terra da Música. As suas Bandas, verdadeiros "Conservatórios do Povo" nas palavras de Vicente Salles, têm exercido em suas sedes, apesar de todas as dificuldades, a função de "Centros de Formação e Integração Sócio-musical", onde o aprendizado dos instrumentos de sopro é gratuito, desempenhando assim o importante papel de fomentadoras artísticas da comunidade.

Devido às suas "estratégias" de aprendizado musical e de aproximação da "Teoria com a Prática", as Bandas são hoje verdadeiros Pólos Educacionais, com resultados muitas vezes superiores e mais significativos que os das escolas de música, sem contudo, constituírem uma escola "de verdade" em formação musical.

Certamente que o fato de São João del-Rei sediar um Regimento de Infantaria com sua Banda militar contribuiu para elevar o nível da execução musical nas Bandas civis, dada a existência de uma relação harmoniosa entre as duas espécies de Banda. É fato que a vida musical são-joanense muito se enriqueceu com a presença marcante da Banda militar na comunidade.


OBJETIVO


O presente Projeto visa operacionalizar um sistema integrado de gestão de Bandas civis, sediadas em São João del-Rei e entorno (aproximadamente 30 corporações) que tenham o interesse de fazer sua adesão ao Projeto com a finalidade de abrilhantar as festividades cívicas, religiosas e recreativas no ano de 2007 - Ano de São João del-Rei como "Capital Brasileira da Cultura".

As atividades propostas pelo Projeto englobam:
1) Oficinas pedagógicas (duração: 10 dias, em período noturno), onde será ministrado curso de reciclagem e aprimoramento musical aos regentes;

2) Oficinas técnicas instrumentais (duração: 20 dias, em período noturno) para madeiras, metais e percussão, onde será ministrado curso de reciclagem e aprimoramento musical aos músicos de banda;

3) Nomeação de Professores e Assistentes para supervisionar o trabalho desenvolvido pelas diferentes bandas;

4) Encontro regional de bandas civis com produção de CD comemorativo;
Obs.: Para a produção dos CD's será formada uma banda regional contando com músicos selecionados das bandas que participarão do encontro regional.

5) Encontro estadual de bandas civis com produção de CD comemorativo;

6) Apresentação ao ar livre, em palanques, nos teatros e em procissões.

Como a operacionalização do Projeto em sua totalidade requer a adesão e participação ativa das Bandas civis integrantes, é preciso, numa primeira etapa, desenvolver um projeto-piloto junto à Banda Teodoro de Faria, sediada em São João del-Rei, com o objetivo de vivenciar o desenvolvimento de uma comunidade reduzida de músicos e regente, para, balizando nos resultados obtidos, estender a experiência ao conjunto de Bandas civis da região.

7) Ampliação das sedes das Bandas civis;

8) Informatização e digitalização das partituras das Bandas, para o intercâmbio dos respectivos acervos;

9) Aquisição, manutenção e/ou reparo dos instrumentos;

10) Modernização e/ou aquisição de mobiliário;

11) Recursos materiais e financeiros para ampliação do atendimento a educandos.

Estima-se que as Bandas civis relacionadas no ANEXO II deverão solicitar sua inclusão no Projeto. As Bandas dispõem atualmente de aproximadamente 1.500 musicistas e 500 educandos. Ao final do Projeto, a proposta é atingir o quantitativo de 2.500 musicistas e 3.500 educandos.

Na atual estrutura das Bandas civis, faltam espaço físico para ministrarem-se as aulas e recursos para manter professores que possam consequentemente aumentar o quadro de alunos.

Acreditamos numa melhoria da qualidade no padrão dos Regentes após a reciclagem a que os mesmos se submeterão.

As Oficinas Pedagógicas estão discriminadas no ANEXO I.


JUSTIFICATIVA


Entendemos que este Projeto se justifica:
1) Pela relação custo-benefício, pois, com uma importância relativamente exígua, é possível obter excelência na execução das peças musicais, atender um enorme quantitativo de educandos e aumentar a capilaridade das Bandas Musicais no seio da comunidade;

2) Por mobilizar um contingente gigantesco de público local e de turistas para as apresentações de Bandas durante as festividades cívicas, religiosas e recreativas;

3) Por aumentar o intercâmbio entre as Bandas de São João del-Rei e Região e suas congêneres do Estado de Minas Gerais;

4) Por incentivar o intercâmbio entre as próprias Bandas locais, que hoje operam sem integração e isoladas umas das outras;

5) Por possibilitar que as Bandas se transformem em pólos indutores de Educação Musical nas comunidades.


METODOLOGIA


O autor deste Projeto acredita ser possível enriquecer a experiência das Bandas musicais no seu local de origem, mediante a oportunidade que será oferecida de aprimoramento, vivência participativa de atividades conjuntas, envolvimento na obtenção de um único objetivo coletivo e motivação para o progresso a partir de sua experiência local.

Tanto os professores dos cursos quanto os assistentes de supervisão das Bandas estarão ocupados no ensino da melhor técnica gestual dos Regentes e na superação das dificuldades técnicas dos instrumentistas.


Anexo I (clique para ampliar)

Anexo II (clique para ampliar)

Cronograma de execução (clique para ampliar)

Planejamento Financeiro (clique para ampliar)

Planejamento Financeiro II (clique para ampliar)


BIBLIOGRAFIA


BENEDITO, Celso José Rodrigues. Banda de Música Teodoro de Faria: Perfil de uma banda civil brasileira através de uma abordagem histórica, social e musical de seu papel na comunidade. 2005. Dissertação (Mestrado em Música) — Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo.

14 comentários:

Anônimo disse...

Então, sempre ilustre Francisco Braga, também grande musicista, parabéns pelo seu projeto que ora tomo conhecimento.Muito além de proêmio mas, calcado em estudo concreto e conclusivo, como se observa. Pasme, saber que o número de músicos, se reunidas as bandas, soma-se em 1.500, podendo chegar a 2.500 integrantes. É de se estranhar que, ainda não abraçaram este grande e oportuno projeto para a nossa comuna, mormente, o Poder Público Municipal, aliás, por que não, o Estadual? Fala-se muito que somos a terra da música mas, não damos mostra de nosso potencial musical, o que, se este projeto posto em prática, teríamos, sem dúvida, tal chancela.

Em Varginha, cidade próxima, possui uma banda( fanfarra)que conseguiu reunir integrantes de todos os colégios locais. Tornou-se tradicional e já completou, salve engano, alguns 50 aninhos. É um orgulho e expressão máxima para Varginha a sua apresentação nos eventos daquela cidade e região.Apenas, uma fanfarra...

Afinal, qual das duas é a "terra da música"?
Abs.
Musse Hallak

Prof. Aluizio Antônio de Barros disse...

Obrigado, estimado amigo, por compartilhar o projeto.
Não desista dele. Haverá uma fonte de financiamento sensível à necessidade de preservar e valorizar nossa cultura.
Grande abraço,

Prof. Aluizio A. de Barros

Prof. Fernando Teixeira disse...

Prezado Braga, bom dia. Há mistérios nos julgamentos de projetos, especialmente culturais, na área pública. Resgatar a tradição das bandas, que povoaram a paisagem do interior de Minas, deveria figurar entre prioridades. Não figura, porém. Cumprimento-o pelo projeto. Deus proteja você e Rute.
Fernando Teixeira

Dr. Geraldo Ananias Pinheiro disse...

Parabéns pelo trabalho.
Geraldo Ananias

Prof. José Maurício de Carvalho disse...

Muito bem. Boa iniciativa. O importante é podermos ir realizando essas coisas. O Poder Público no País está cada vez menos interessado nessas coisas ou não tem recurso ou sensibilidade.

Carlos Fernando dos Santos Braga disse...

Francisco,
Excelente projeto, meu irmão! O problema da sua "rejeição", ou melhor, da sua exclusão, você conhece mais a política do que eu, portanto não se intimide, persevere. Beijos,
Carlos Fernando

José Antônio de Ávila disse...

Numa terra que tem como um dos seus epítetos "a cidade da música" não se via até agora ações sérias concretas em favor das corporações musicais e dos musicistas, especialmente os das bandas; eu disse não se via, mas agora se vê: o projeto de Francisco José dos Santos Braga é necessário, urgente e factível! Há sempre dinheiro disponível para realizar tanta coisa por aí quando se tem vontade política... Ou será os representantes dos poderes e a sociedade organizada vão continuar apenas falando que somos a "cidade da música", sem apresentar nada de concreto que possa justificar e fomentar esta afirmação? "Alea jacta est".

José Rui Gonçalves Rosa (Consultor Legislativo do Senado Federal) disse...

Obrigado Braga, pelos belos posts!

Boas Festas para você!

Ab.

José Rui Gonçalves Rosa

Prof. Mário Celso Rios (Presidente da Academia Barbacenense de Letras) disse...

AMIGO BRAGA, tudo bem por aí?
Agradeço a você pelo envio de seu texto sobre bandas postado em Concertino!
Sua verve musical nos sensibiliza como também serve de fonte abalizada para se aprender mais sobre o universo musical! Abraço em RUTE e entes
queridos!
Att., M. CELSO

Lúcio Flávio Baioneta disse...

Meu amigo FJSBRAGA , quero parabenizá-lo pelo feito. O Portal Concertino certamente estará engrandecido com o acolhimento de suas obras. Um abraco do amigo Lucio Flávio

Luiz Correia do Amaral disse...

Prezado Francisco,
Grato pelo envio do post sobre Bandas.
Devo dizer-lhe que aqui em Barbacena as coisas na área da Cultura e do Arquivo Público Municipal funcionam diferentemente de São João del-Rei. Veja, por exemplo, o que o escritor Newton Siqueira de Araújo Lima escreveu em agosto de 2003: "...inaugurou-se no dia 15 do corrente, na Casa da Cultura, o Arquivo Histórico de Barbacena, com enorme acervo documental, principalmente sob o aspecto jurídico-histórico. Orgulho-me de ter posto um 'tijolinho' nesta obra magnífica, quando procurei a FUNDAC e alertei o prezado amigo Edson Brandão e o informei do lamentável estado em que se encontravam preciosíssimos documentos (autos, processos, inventários, etc.) depositados na antiga Sericícola e sujeitos à ação do tempo. Daí em diante, foram feitos contatos com Autoridades Judiciárias desta cidade, que imediatamente acolheram a sugestão de recuperá-los, medida mais que oportuna e necessária, feita por técnicos para isso contratados. Este Arquivo traz muito merecidamente o nome do Professor Altair José Savassi, saudoso e prezado amigo, estudioso de nossa história, pesquisador atento, emérito historiador, autor de várias obras sobre Barbacena, como o foram Correia de Almeida, Soares Ferreira e Nestor Massena."
Fonte:http://www.barbacenaonline.com.br/especialbarbacena/historia/atenas.html
Parabéns pelo trabalho!
Luiz Correia do Amaral

José Antônio de Ávila Sacramento disse...

Conheço e aplaudo o teor do projeto de “Fomento às Bandas Civis de São João del-Rei e Região Circunvizinha".

Reconheço o empenho de Francisco Braga em favor das nossas tão abandonadas bandas de música, as quais sobrevivem heroicamente, a depeito do pouco apoio oficial que recebem.

Creio que ainda não honramos como deveríamos o título de São João del-Rei como "a cidade da música", pois que nos abstemos de envidar esforços para subsidiar as nossas orquestras e bandas, estas últimas, manifestações populares e tão próximas das almas dos mineiros.

Aqui em São João del-Rei temos o Coreto Maestro João Cavalcante - um belo palco na área central da urbe, recentemente restaurado, próprio para retretas e que infelizmente não está sendo utilizado para tais apresentações.

Sou natural de um dos cinco distritos são-joanenses - o de São Miguel do Cajuru-, localidade onde uma banda de música, a Lira de Santa Cecília, teima em sobreviver há quase 200 anos.

Assim, desejo que com a disponibilização do projeto pelo seu autor, alguma cidade possa bem aproveitá-lo.

Quem sabe, ainda poderá aproveitá-lo a nossa própria São João del-Rei? De minha parte, ainda que não tenha prestígio suficiente para visualizar perspectivas de êxito nesta tarefa, farei meus empenhos neste sentido!

Sonhar não custa nada...

Miguel Jorge (poeta, teatrólogo, romancista, contista e Membro da Academia Goiana de Letras) disse...

Caro Braga,
Há precisamente nove anos luto para colocar no palco a ópera A Décima Quarta Estação, a primeira ópera goiana, com libreto meu e música do maestro Estércio Marques. Parece-me, ainda resta a esperança, que este ano nosso projeto será aceito pelo Estado. Vamos aguardar. Grande abraço,
Miguel Jorge

Miguel Jorge (poeta, teatrólogo, romancista, contista e Membro da Academia Goiana de Letras) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.