segunda-feira, 25 de junho de 2018

A EUROPA NÃO PRECISA SER ARRASTADA AO ABISMO ALEMÃO


Por Mákis Andronópoulos

(post do Blog SLpress.GR, editado em 20/06/2018)
Traduzido do grego por Francisco José dos Santos Braga

 

Vamos ser gratos e realistas. Os Norte-americanos salvaram a Europa duas vezes da bota alemã a um custo enorme em vidas humanas. Após a Segunda Guerra Mundial, financiaram a segurança da Europa, sua reconstrução e da Alemanha em particular, que apoiaram de toda a forma. Mesmo no nível psicanalítico, deixando-lhe, por assim dizer, ar para ser curada do pesado trauma da derrota e da culpa. Em seguida, financiaram o desenvolvimento da Europa e da Alemanha, abrindo tanto o mercado norte-americano quanto o mundial para os produtos delas. Eles também permitiram a unificação alemã. É uma política generosa.
A cúpula do G-7 na última reunião no Canadá no começo de junho de 2018

Ao invés disso, recebeu o egoísmo europeu (de Gaulle), a Ostpolitik estrategicamente suspeita (Willy Brandt) e, recentemente, a ironia de Berlim que, em vez de finalmente adaptar os gastos para a OTAN a 2% do PIB, disse que vai aumentá-los de 1,1 % para 1,2% (Merkel).

A eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos foi essencialmente feita para a correção e revisão das políticas que apoiaram o crescimento mundial, mas criaram um enorme déficit comercial de US$ 800 bilhões, com consequências dramáticas sobre o emprego e a dívida norte-americana. Os EUA não podem mais pagar para a OTAN (4% do PIB norte-americano), enquanto a Europa tem excedentes de US $ 151 bilhões, disse Trump aos países do G7. Ou, não é possível que os Estados Unidos taxem com 2,5% os carros europeus, enquanto a Europa taxa com 10% os (carros) norte-americanos, consequentemente levando a Alemanha a vender três vezes mais carros de luxo nos EUA (que tem 40% do mercado), em relação com as exportações norte-americanas.

E ainda assim ele está certo

A chanceler Merkel murmurou que Trump "não facilita a situação" e ameaçou que "a Europa deve tomar seu destino em suas próprias mãos e defender seus valores". Aqui se coloca uma questão maior política e existencial. Obviamente, Trump constitui uma afronta à nossa estética europeia e suas decisões são brutais, mas tem razão na área comercial, como também na questão da OTAN.

Ele é o presidente dos Estados Unidos para equilibrar as situações que colocam a Europa à frente do espelho do amadurecimento. Sim, os Europeus pagarão impostos, mas nem moralmente nem logicamente precisam ser arrastados a uma guerra comercial. E, sobretudo, para não estar alinhados atrás da Alemanha de Merkel, porque Berlim ambiciona tirar proveito do descontentamento dos Europeus para com Washington e pegar o destino da Europa nas suas mãos, sob o manto dos valores europeus.

A batalha para impedir a germanização definitiva da Europa está entrando numa fase crítica e os Europeus precisam ser cuidadosos. A Europa não deve ser arrastada ao abismo alemão. Uma nova onda de antiamericanismo seria suicida tanto para a Europa, quanto para o Ocidente. A Alemanha recebeu muito. Agora ela tem que dar e sobretudo suportar que não pode de forma nenhuma liderar a Europa. A Europa que precisamos não necessita de "liderança", mas de democracia, de uma cultura de compreensão e de um sistema de redistribuição.

4 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
O texto grego de Mákis Andronópoulos, em minha tradução, procura introduzir uma dose de equilíbrio na análise das relações internacionais, sobretudo no caso da guerra comercial que se anuncia entre EUA e Europa. Com base na história, analisa os fatores que levaram à situação atual em que Berlim ficou com a melhor parte, durante todo o tempo. O presidente Donald Trump representa o contraponto nos interesses alemães na Europa.

Com palavras realísticas chama os analistas à razão, a qual deve presidir sempre as negociações e entendimentos sobre interesses comerciais, acordos nacionais ou regionais que se opõem, na busca do entendimento.

Link: http://bragamusician.blogspot.com/2018/06/a-europa-nao-precisa-ser-arrastada-ao.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (advogado, professor universitário, escritor, poeta e presidente da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Prezado Braga, bom dia. Na história, os interesses nacionais tornam sempre tensas as relações internacionais. O mundo vive de desconfianças mútuas. E a paz é apenas um símbolo. Abraço você e Rute. O Senhor os guarde sempre. Fernando Teixeira

jrossas disse...
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Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Texto bastante claro no que tange à apresentação do tabuleiro dos interesses geopolíticos entre Alemanha e E.U.A! Trata-se do confronto de dois grandes do mundo Ocidental, excetuando-se a gigante Rússia. Em relação à política norte-americana para a Europa Ocidental, desde sobretudo a Grande Guerra, talvez "generosidade" não seja um termo tão adequado para qualificá-la.
Muito oportuna tradução! Grato.
Cumprimentos,
Cupertino