Por Francisco José dos Santos Braga
I. INTRODUÇÃO
Em uma década de crise e profunda recessão, iniciada com a quebra do banco Lehmann Brothers, a Grécia já passou por três pacotes de resgate e ainda tem uma dívida que corresponde a 180% do Produto Interno Bruto (PIB). O terceiro pacote de resgate terminou no dia 20 de agosto de 2018, mas a avaliação é de que o país continuará submetido a uma extrema vigilância de seus credores. Cerca de 500 mil gregos já deixaram o país desde que a crise se agravou.
A revista Exame, em conexão com a Agence France-Presse (AFP), fez a cobertura do otimismo que tomou conta do primeiro-ministro, em artigo datado do dia 21/10/2018, intitulado "A Grécia assume hoje seu destino, diz primeiro-ministro", com o subtítulo "O primeiro-ministro Alexis Tsipras comemorou o final das políticas de austeridade e de recessão aplicadas desde 2010". A euforia dele deveu-se a saída da Grécia do 3º programa grego de resgate. Por representar um bom retrato desse importante momento histórico para a Grécia, entendo ser conveniente reproduzir na íntegra aqui todo o artigo, que é curto:
“A Grécia assume hoje seu destino”, disse nesta terça-feira o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, em uma mensagem televisionada da ilha de Ítaca, símbolo da longa viagem de Ulisses.
A Grécia recebeu 289 bilhões de euros em empréstimos em três programas em oito anos (Yiorgos Kontarinis/Eurokinissi/Reuters) |
Tsipras quis marcar o primeiro dia da “nova era” de seu país “livre dos planos de ajuda internacional e da tutela dos credores que pesou sobre o país durante os últimos oito anos”, disse de Ítaca, mar Jônico, ponto de partida e de regresso de Ulisses em ‘A Odisseia’ de Homero.
O primeiro-ministro disse que “um novo dia chegou” para a Grécia. “Um dia histórico (…) o do final das políticas de austeridade e de recessão”, ressaltou.
Em seu discurso, ele fez várias referências a ‘A Odisseia’, comparando a valentia dos Gregos com a de Ulisses.
“A Odisseia moderna que nosso país tem atravessado desde 2010 chegou ao fim”, acrescentou, sobre a conclusão de oito anos de reformas impostas à Grécia por seus credores, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), com base em redução de salários e aposentadorias e no aumento de impostos.
No total, a Grécia recebeu 289 bilhões de euros em empréstimos em três programas (2010, 2012 e 2015).
A Grécia é o último país, depois de Portugal, Irlanda, Espanha e Chipre, a sair dos programas de ajuda internacionais.
II. QUEDA DE BRAÇO ENTRE O FINANCIAL TIMES E O GOVERNO GREGO DO PRIMEIRO-MINISTRO ALÉXIS TSÍPRAS
O jornal Financial Times responde a Aléxis Tsípras sobre a saída da Grécia dos “Memorandos”, ou seja, do programa de ajuda financeira da União Europeia, em minha tradução do conteúdo do vídeo in https://youtu.be/XBJkcHc28DU)
“・A Grécia está saindo de um programa de assistência financeira, mas a economia está muito atrás do nível pré-crise.
・O desemprego beira os 20% ⏤ aproximadamente 1.000.000 de pessoas desempregadas.
・O desemprego grego está em nível mais do que o dobro de antes da crise, comparando maio/2007 com maio/2018.
・Os empréstimos pessoais (de consumidores), para empresas e para aquisição de imóveis continuam inadimplentes.
・Aproximadamente metade de todos os empréstimos estão inadimplentes.
・O tamanho dos empréstimos inadimplentes é 8 vezes maior do que os níveis pré-crise.
・O PIB está 3,5% maior do que a média de 2015.
・Mas permanece 25% abaixo dos níveis de 2007.
・O PIB previsto para 2023 será 17% abaixo dos níveis de 2007.
・O PIB grego está recuperando, mas está contraído.
・O investimento está 70% abaixo dos níveis do pico pré-crise.
・Os preços dos imóveis estão 42% mais baratos.
・Os preços dos imóveis despencaram 42% dos níveis da época pré-crise.
・A Grécia é o 4º país mais pobre da União Europeia.
・(Vem) depois da Bulgária, Croácia e Romênia.”
Essa foi a resposta do Financial Times a Tsípras a respeito de a Grécia deixar os “Memorandos”.
Embora o governo compartilhado de esquerda possa engambelar os Gregos com contos de fadas sobre a suposta saída dos “Memorandos”, as evidências econômicas reais sobre a terrível situação financeira grega é inexorável!
A Grécia é o 4º país mais pobre da Europa.
Donald Tusk, president of the European Council, tuitou em 19/8/2018: “You did it! Congratulations to Greece and its people on ending the programme of financial assistance. With huge efforts and European solidarity you seized the day.”
(Minha tradução: Por ocasião do fim do 3º programa grego de resgate, Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, tuitou em 19/8/2018: “Vocês conseguiram! Parabéns à Grécia e ao seu povo por chegar ao fim do programa de assistência financeira. Com enormes esforços e a solidariedade europeia, vocês podem aproveitar o dia de hoje (carpe diem).”)
Em 20/8/2018, Lionel Barber, editor do Financial Times, em relação ao comentário de Donald Tusk no Twitter, replicou: “Greece will never repay its mountain of debt. This is more extend and pretend to cover up for European banks who lent irresponsibly. Greece may have been “corrupt to the bone” (ex PM A Papandreou), but Greeks did not deserve this treatment. Explains (partly) why EU so unpopular.”
(Minha tradução: No dia seguinte, Lionel Barber, editor do Financial Times, em relação ao comentário de Donald Tusk no Twitter, replicou: “A Grécia nunca saldará sua montanha de dívida. A saída (grega dos "Memorandos") é simplesmente outro antídoto temporário para encobrir os empréstimos irresponsáveis dos bancos europeus. A Grécia pode ter sido corrupta ‘como o osso’ (como tinha dito o seu ex-Primeiro- Ministro, Andréas Papandréou), mas os Gregos não mereciam este tratamento. Isso explica, em parte, porque a União Europeia é tão impopular”.)
5 comentários:
O Blog do Braga apresenta a seus leitores um quadro divergente da euforia do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras, representado pelo jornal Financial Times. Trata-se de uma postura conservadora do jornal diante da euforia motivada pela histórica (em 20/08/2018) saída da Grécia do 3º programa de resgate, monitorado pelo FMI e pela União Europeia.
A manifestação do Financial Times jogou "água fria na fervura" e provocou análises econômicas mais realísticas entre os Gregos.
https://bragamusician.blogspot.com/2018/10/os-alertas-do-jornal-financial-times.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Legal. Obrigado.
Tenha uma boa tarde.
Paz, saúde e alegria!
Estou com muitos afazeres, sem tempo para ler seus artigos.
Estou arquivando-os para que eu possa lê-los, assim que for possível.
Abraços extensivos a nossa querida Rute.
Grato pelo envio. Abraço do Fernando Teixeira
Caro professor Braga:
parabéns por trazer ao público leitor essas traduções de matérias referentes à Grécia que tem estado no olho do furacão da crise capitalista européia. Por outro lado, devemos ponderar que a linha de trabalho de um chefe de Estado de uma sociedade tão fragilizada como a daquele país, não tem paralelo com a de um jornal representante dos interesses econômicos globais.
Muito grato. Cumprimentos
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