Por Francisco José dos Santos Braga
Existem inúmeros livros de genealogia cujos autores foram fundo na investigação dos povoadores de uma região. Alguns deles são obras extremamente complexas e aprofundadas, como a Nobiliarquia Paulistana, de Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777), mesmo sendo apenas conhecida a terça parte da obra original; Genealogia Paulistana, de Luís Gonzaga da Silva Leme (1852-1919) em 9 volumes; as Efemérides Mineiras, de José Pedro Xavier da Veiga (1846-1900); a Genealogia Mineira, de Arthur Vieira de Rezende e Silva (1868-1945), etc. Esses são livros que reúnem a genealogia de diversas famílias. Claro, em geral, são dedicados a famílias tradicionais. Mas, de certa forma, quanto mais avançamos em nossa pesquisa genealógica particular, maior a chance de desembocar em alguma dessas famílias já estudadas nessas obras-chave.
Mas existem também aqueles livros que são mais específicos, concentrados em uma família, não necessariamente tradicional. Posso exemplificar com dois livros que tenho muito orgulho de possuir, não só porque ambos os autores consideram ser a cidade de São João del-Rei e circunvizinhanças o berço primitivo de sua linhagem, mas também porque seus autores me honraram com suas ilustres dedicatórias.
O primeiro livro se chama As Famílias de Nossas Famílias (Mineiros e Paulistas), escrito por Apparecida Gomes do Nascimento Thomazelli, autora que visitei em sua residência na rua do Acre, nº 602, no bairro Alto da Mooca, São Paulo, em 25/01/1991, por indicação dos historiadores Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva e Sebastião de Oliveira Cintra. Não esperava encontrá-la tão facilmente. Mas estava enganado. Ela própria me atendeu à porta, convidando-me a entrar, logo após anunciar o meu intento (conhecer a autora recomendada por dois historiadores são-joanenses e adquirir o seu trabalho genealógico). Ela imediatamente me presenteou com um exemplar de sua obra genealógica com dedicatória.
O segundo livro, digno de ser citado, trata do tronco dos Ribeiro do Valle, intitulado “Ribeiro do Valle: E eles também cresceram e se multiplicaram”, de José Ribeiro do Valle, o “Juquinha”, que visitei na Avenida Iraí, nº 1917, em São Paulo, em 10/07/1992, o qual gentilmente me ofertou um luxuoso exemplar de sua própria edição de 1982 com dedicatória.
Durante a conversa mantida com D. Thomazelli, tratamos de assuntos variados. Fiquei sabendo que ela nascera em Igarapava, mas que se casara em Franca. Que tinha um irmão, Dr. Valeriano Gomes do Nascimento, professor de Latim de inúmeras gerações de estudantes francanos. Sobre Franca, cidade que parecia considerar sua terra natal, a autora escreveu (p. 254):
“ Franca – ‘o Bello Sertam da Estrada dos Goyazes’ – tem sido sempre considerada nossa cidade natal. Saint-Hilaire, o conhecido viajante francês que percorreu as terras brasileiras no seus primórdios, afirmou que o nome Franca foi dado à cidade em homenagem ao General Antônio de Franca e Horta, Governador da Província de São Paulo em 1802. Para nós, ela foi sempre o “Sertão dos Capins mimosos”, a “terra da Anselmada”, a “Vila del-Rei”, a “Franca do Imperador”, por onde transitaram os bandeirantes a caminho do sertão bruto. “Passagem livre, franqueada aos tropeiros de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais”, conforme escreveu, em 1818, Luís d’Alincourt. Por muito tempo foi ela Paróquia de Nossa Senhora do Sertão do Rio Pardo. Era conhecida como o Pouso dos Bagres e tinha o seu início nas Covas. Banhada pelo córrego dos Bagres que a atravessa e é tributário do Ribeirão dos Bagres, que passa em Mandiú, pequenina estação da Mogiana bem próxima dali. Somente a 24/04/1856, foi ela elevada à categoria de cidade. O arraial teria tido início em 1760, como ponto de parada de tropeiros e carreiros em busca do chamado “sal tropeiro”. Seus fundadores, pioneiros, vieram de Minas Gerais, mais exatamente, de Cajuru, em São João del-Rei, de Lavras do Funil, de todo o sul mineiro. Dentre eles, salientamos Hipólito Antônio Pinheiro, Antunes de Almeida, José Simão de Almeida, Manuel Pedro Furquim e sua mulher D. Gertrudes da Silva, além do tenente-coronel José Garcia Duarte, que nasceu em Cajuru em 1821 e foi feito Barão de Franca em 1888.”
Contou-me ainda que começou a sentir-se deprimida por ocasião de sua descoberta de um “entrelaçamento da linhagem dos Branquinho com os Gomes do Nascimento (p. 361-478), – e com os Junqueira (permito-me acrescentar, conforme p. 405-416) – entrelaçamento que, ao que dizia nosso pai, iniciava-se com D. Maria Teresa ¹ , sua avó paterna, que foi casada com Antônio Gomes do Nascimento, filho legítimo de Gomes Antônio do Nascimento, neto paterno de D. Joana Maria da Conceição e bisneto materno de João Gomes do Nascimento – o patriarca com que iniciamos o presente trabalho.
José Gomes Branquinho, que era natural da Freguesia de São Salvador da cidade de Angra, nos Açores, onde foi batizado, filho legítimo de Manuel Gomes Branquinho e de sua mulher, D. Francisca de Assunção, constitui o patriarca da família em nosso país. Não sabemos quando ele veio para o Brasil. Sabemos, todavia, que era solteiro e que em 1733 já aqui se encontrava. Há, como comprovante disso, no Livro nº 1 de Registros de Casamentos de São João del-Rei, o registro de seu casamento, realizado em 02/02/1733, na Capela de São Miguel do Cajuru, filial do Pilar – Igreja Matriz daquela cidade mineira – com D. Ângela Ribeiro de Moraes. D. Ângela era filha legítima do capitão Pedro da Cunha Ribeiro e de sua mulher, D. Teresa de Moraes. O nome de D. Teresa encontra-se apagado, uma vez que o tempo e os cupins vêm se encarregando de acabar com muitos documentos valiosos. (...)” (p. 363)
A autora Thomazelli acrescentou que não queria mais trabalhar com genealogia, porque em suas pesquisas em diversas instituições, em especial nos inventários e testamentos existentes naquela ocasião no Museu Regional de São João del-Rei, tomara conhecimento da horrível situação de muitas crianças que ficaram órfãs com a morte prematura de seus genitores, em razão de incidentes cruentos, muitas vezes. Relatou que passou a ser incomodada por sonhos aterradores com anjinhos e outras entidades. Também ficou muito impressionada com essa situação de privação dos genitores por parte das crianças órfãs, de tal forma que disparou em seu íntimo a referida depressão, da qual ainda não se recuperara completamente. Também comentou sobre o mal-estar que lhe causou tomar conhecimento, naquele Museu Regional, do “Crime dos Junqueiras”, em forma de um processo criminal de 1833. Apesar do nome que pode levar a um mal-entendido, os negros em rebelião foram os assassinos, sendo as vítimas, pessoas da família Junqueira. Descreveu da seguinte forma no seu livro (p. 218-219) o abandono da humanidade e o retorno à barbárie ² :
“Dona MARIA TERESA, segundo afirmava nosso pai, que era seu neto, pertencia à família dos BRANQUINHOS, pesquisa que ainda pretendemos continuar (1984). Ela seria tia ou tia avó de uma criança, que escapou à mortandade levada a efeito por um grupo de escravos foragidos, em uma Fazenda situada no Curato da Serra das Letras, única criança que, se encontrando na Fazenda no momento dos crimes, escapou com vida. É uma história exatamente igual à dos acontecimentos da FAZENDA BELA CRUZ, no mesmo Curato e época, que, acabamos por descobrir em forma de PROCESSO CRIMINAL em 1833, processo que ficou conhecido pelo título de ‘O Crime dos Junqueiras’, embora as vítimas fossem da Família Junqueira e os assassinos os negros em rebelião. Esse Processo encontra-se em arquivo no Museu Regional de São João del-Rei.
Nessa ocasião, foram massacrados: José Francisco Junqueira e sua mulher, dona Antônia Maria de Jesus, filha legítima de João Garcia Duarte; Manuel José da Costa e sua mulher, dona Emiliana Francisca Junqueira, além de dois filhos seus, crianças, José e Maria; Ana Cândida da Costa, viúva de Francisco José Junqueira, e Antônia, de quatro anos de idade, filha de Manuel Vilela.
Essa tragédia, parece-nos, teve ainda outra consequência: Antônia Maria de Jesus, viúva de João Garcia Duarte, que, na ocasião, perdeu um outro filho, solteiro – José Garcia Duarte, do qual era herdeira, enlouqueceu. Foi inventariante como seu procurador seu outro filho MIGUEL GARCIA DUARTE. (Inventário de 1833, em arquivo no Museu Regional de São João del-Rei).”
Em seguida, Thomazelli continuou apresentando agora a versão de seu pai para o incidente:
“Desde bem pequena, ouvi por vezes incontáveis a história que sempre me comoveu e fascinou e que, com a sua simplicidade de velho senhor, papai narrava da seguinte maneira: ‘Minha bisavó materna, cujo nome ignoro, morava numa fazenda com um filho casado que tinha os filhos ainda pequenos. Certo dia, o rapaz foi à Vila com a mulher e as crianças menores. Na casa da fazenda ficaram: sua mãe, já idosa, mais algumas pessoas da família, a filha maior do casal, menina de mais ou menos seis a sete anos de idade, e uma negra escrava, mucama da senhora e babá das crianças.
Os negros do quilombo, que odiavam os patrões e que viviam à espreita, aproveitaram a ocasião para atacar e saquear a fazenda. Logo de início, maltrataram a velha senhora, que se encontrava na varanda da casa, matando-a; e mataram todos os outros. A seguir, quiseram levar a escrava com eles, mas como ela resistisse, enforcaram-na numa árvore da frente da casa.
Somente sobrou a menina, pois logo que ela percebeu o tumulto, apavorada, procurou se esconder. A mando da preta, correu para um quarto de hóspedes onde havia muitos colchões enrolados, dentro dos quais costumava brincar, e escondeu-se dentro de um que se encontrava no canto.
Mais tarde, quando o filho de minha bisavó voltava com a família, os negros que, escondidos no caminho, continuavam à espreita, concluíram sua obra, matando-os também. Não escapou nem a criancinha de meses.
Somente depois de bastante tempo é que os vizinhos descobriram os cadáveres, curiosos pela quantidade de urubus que sobrevoavam o local.
Escondida no colchão, a menina só saiu quando ouviu vozes amigas conhecidas. Saiu quase desfalecida, mas viva.
Os parentes, enlouquecidos, armaram-se bem e foram tirar desforra.
Essa menina, contava minha avó Maria Teresa, era sobrinha de sua avó.’ ”
E a autora finalizou com essas observações:
“Era assim que papai narrava essa história que, procurando em arquivos, tive quase a certeza de que, pela época a que se reportava – bem antes do casamento de sua avó Maria Teresa que, sabemos com certeza, se casou em 1838 – seria a mesma constante do já referido processo criminal apesar de as revoltas de negros escravos serem frequentes à época.
Não há no Processo nada relativo à babá das crianças, nem se diz da menina de seis anos que se salvou escondida em colchão enrolado no quarto de hóspedes. Isto, entretanto, nada significa: a menina não chegou a ser vítima e a preta, à época, era menos do que um objeto útil.
A história não registra a vingança praticada, mas podemos ainda hoje imaginar o ódio dos familiares das vítimas.
O processo arrastou-se, diluindo-se no tempo e a Justiça, lenta, se assim se pode chamar, diluiu-se no espaço.”
A autora reconheceu (p. 364) que “o genealogista Ary Florenzano, de Lavras, atenciosamente lhe escrevia sobre D. Maria Teresa, nossa bisavó” (p. 364) e que teve acesso a dados gentilmente fornecidos do arquivo particular do historiador Sebastião de Oliveira Cintra, de São João del-Rei.
Recentemente, por exemplo, eu estava pesquisando um ramo da minha família e fui encontrar nesse livro as informações que necessitava. Localizei-as no Título 3, intitulado Descendência de D. Quitéria Maria da Conceição (p. 159-161).
Durante a visita que lhe fiz naquele começo de 1991, Apparecida ainda me falou sobre uma dissertação de Mestrado que apresentara ao Departamento de Línguas Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, em 1979, transformada em livro, intitulado: “Mau Tempo no Canal: Espaço e Tempo Açoriano”. Mais surpreso fiquei quando ela me presenteou também com o supracitado livro que mandara editar de sua tese. A autora incorpora, no seu, o próprio título dado pelo escritor açoriano Vitorino Nemésio a seu romance Mau Tempo no Canal, objeto da tese de Mestrado de Apparecida Thomazelli.
Para minha surpresa, verifiquei que minha interlocutora era uma conhecida autora pelo menos desde 1958, quando ela tinha lançado pela Editora Leia o livro “Almas Predestinadas”, romance baseado em fatos reais ocorridos na região de Ibiraci, Minas Gerais, e transformado em novela radiofônica, no início dos anos sessenta do século passado. Voltaremos a este assunto, quando tratarmos dos nomes dos protagonistas desse romance.
APPARECIDA GOMES DO NASCIMENTO THOMAZELLI por si mesma e por seu sucessor na Cadeira nº 28 (vaga por sua morte em 12/09/2007) na Academia Paulista de Educação
Na p. 281 da obra genealógica de Apparecida Gomes do Nascimento Thomazelli, lemos:
"Natural de Igarapava, Supervisora de Ensino, casada em Franca em 04.03.1943, com OSCAR THOMAZELLI, Bacharel em Ciências Contábeis, ex-assessor administrativo da reitoria da Universidade Mackenzie, onde é professor e ex-coordenador do Projeto Rondon, natural de Barretos, filho legítimo de Mariano Thomazelli, natural de “Santo Donato”, e sua mulher, dona Angélica Botacini Thomazelli; neta materna de Nicola Tomazelli, “Trombettière Comunel Di Carinola; Distrito Militar de Gaeta, Itália, del Regio Esecito Italiano”, filho legítimo de Antonio Tomazelli e de dona Antônia Nicolorpio, e de d. Ângela Santoro di Giuseppe, filha legítima de Giuseppe Santoro e de dona Mariana de Lorenzo, filha legítima de Leone Lorenzo e de dona Giosni Santoro; n.m. de José Botacini e de dona Bárbara Bronzatti Botacini, filha legítima de Sebastião Bronzatti e de dona Catharina Silvestre, natural de Pádua, Itália."
Apparecida Gomes do Nascimento Thomazelli faleceu em 12 de setembro de 2007.
Em discurso de posse na Academia Paulista de Educação, o Acadêmico FRANCISCO APARECIDO CORDÃO em 14/04/2009 foi admitido para ocupar a cadeira nº 28, então vaga, pela morte da Sra. Apparecida Thomazelli. Sobre sua antecessora na cadeira nº 28, fez os seguintes comentários: “A segunda ocupante da cadeira nº 28 da Academia Paulista de Educação foi a saudosa professora Apparecida Gomes do Nascimento Thomazelli, falecida em 12 de setembro de 2007. Professora normalista, formada na cidade de Franca, foi, também, licenciada em Pedagogia e graduada em Direito na cidade de Mogi das Cruzes, bem como licenciada em Letras, com especialização em Português, Francês, Latim e Grego, pela PUC de São Paulo e pela USP. Concluiu o programa de pós-graduação em Língua Portuguesa pela USP, tendo sua dissertação de mestrado sido aprovada com distinção. Concluiu estágio reservado para pedagogos brasileiros no Centro Internacional de Estudos Pedagógicos na Universidade de Sèvres, na França. Na Rede Estadual de Ensino de São Paulo, foi professora primária por concurso de títulos, professora secundária contratada de Português, Diretora de Grupo Escolar por concurso de provas e títulos, Supervisora de Ensino, também por concurso de provas e títulos e Delegada de Ensino. Na rede privada de ensino foi professora de Administração e de Inspeção Escolar, de Supervisão de Ensino, de Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus, bem como professora de Linguística, Teoria Literária, Literatura Portuguesa e Literatura Brasileira. Dentre os trabalhos publicados pela professora Apparecida Thomazelli está o romance “Almas Predestinadas”, que foi radiofonizado em novela por Oduvaldo Viana, pelas Rádios Difusora e Tupi, de São Paulo, e Radio Jornal do Comércio, de Recife. Destacam-se também as obras ‘Português para Concursos’, ‘Educação no Estado de São Paulo’, ‘Padre Manoel da Nóbrega – o Fundador da Cidade de São Paulo’, ‘Administração Escolar’, ‘Mau Tempo no Canal: Espaço e Tempo Açoriano’, ‘Mooca e Alto da Mooca’, bem como a obra genealógica ‘As Famílias de Nossas Famílias (Mineiros e Paulistas)’.”
Fonte: http://www.apedu.org.br/site/2011/07/05/discurso-de-posse-do-academico-francisco-aparecido-cordao/
Fonte: http://www.apedu.org.br/site/2011/07/05/discurso-de-posse-do-academico-francisco-aparecido-cordao/
Além do que foi mencionado pelo Acadêmico Francisco Aparecido Cordão sobre o romance “Almas Predestinadas”, a autora, no seu livro “As Famílias de Nossas Famílias (Mineiros e Paulistas)”, ao tratar dos filhos de Manuel Gomes do Nascimento c.c. D. Maria Teresa da Assunção, fez os seguintes comentários ao falar da 2ª filha do mencionado casal (p. 220):
“D. Maria Justina ("Marica"): Teve uma vida marcada por numerosas vicissitudes, o que nos levou a romanceá-la, há alguns anos atrás na obra intitulada Almas Predestinadas, editada duas vezes pela Editora Cúpolo Ltda. de São Paulo e radiofonizada por Deoscelia e Oduvaldo Viana, pai.
Casou-se em primeiras núpcias, em Dores do Aterrado (hoje Ibiraci), Minas Gerais, aos 31/07/1880, com Francisco Alves Salgado, fazendeiro, que contava à época 52 anos de idade e era pai de 8 filhos, viúvo de sua tia materna D. Maria Clara Rodrigues. Marica contava, então, 13 anos de idade.
Entre as justificativas de impedimento canônico contidas no processo de habilitação desse casamento, encontra-se a seguinte: ‘P.P. Que eles Oradores intentão casar-se por amor e afeição de ambos, e para bem de família, e para ter o Orador quem ajude a criar e educar seos filhos portanto.’
A tradição da Família desmente esse amor, que não passava, da parte dela, de amizade e respeito de sobrinha para com o tio. O verdadeiro amor de Maria Justina foi o seu tio paterno – Gabriel Gomes do Nascimento, com quem contraiu segundas núpcias muitos anos depois. Por discussão tola das mães, Gabriel e Maria Justina, às vésperas de seu casamento, viram frustradas suas esperanças. Estiveram separados por longo tempo.
D. Maria Justina e Gabriel Gomes do Nascimento casaram-se em Santa Rita de Cássia, Minas Gerais, a 29/07/1902, conforme consta do registro de fls. 90 do Livro 2, arquivo no Cartório de Registro Civil e Casamentos daquela cidade. Gabriel residia à época, em Pedregulho, São Paulo, e contava 38 anos de idade.
De seu segundo leito, Maria Justina não teve filhos. Com Chico Salgado, teve:
1) Uma filha, cujo nome ignoramos, mas que sabemos haver fugido com o capataz da fazenda do pai, indo para Goiás. Aí o rapaz foi assassinado por jagunços. Tentando a volta para a casa paterna, a moça despertou em um fazendeiro daquelas paragens uma paixão que culminou em tragédia: a esposa do fazendeiro, ofendida, matou-a com a faca do irmão; o fazendeiro, alucinado, matou a tiros a esposa e o cunhado inocente, suicidando-se a seguir, num drama verdadeiramente passional.
2) Argêncio, nascido em 02/08 e batizado em 18/10/1889. Foram seus padrinhos: Justino Alves Peixoto e D. Silvéria Alves Pimenta. Era meninote ainda quando houve a tragédia com a irmã. Inexperiente, quis vingá-la, tendo sido assassinado pelo mesmo jagunço que matara o cunhado. (...)”
TRANSCRIÇÃO DA INTRODUÇÃO AO LIVRO "AS FAMÍLIAS DE NOSSAS FAMÍLIAS"
APPARECIDA GOMES DO NASCIMENTO THOMAZELLI, do Instituto Genealógico Brasileiro de São Paulo, da Academia Paulista de Educação, do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, do Instituto Histórico e Geográfico de Campanha, fez dedicatórias em sua obra As Famílias de Nossa Família (Mineiros e Paulistas), 1984, da seguinte forma (p. 5 e 7):
A meu marido OSCAR THOMAZELLI, que me permitiu realizar as pesquisas necessárias a este modesto trabalho.
A meus FILHOS, meus incentivadores.
Aos GOMES DO NASCIMENTO (nome este que atravessou mais de dois séculos no Brasil), de modo especial a meus IRMÃOS que, com seu interesse pelos antepassados, ajudaram-me a continuar.
A minha irmã HERCÍLIA, auxiliar de muitas horas.
A minha irmã MARIA AURORA que, anotando velhas recordações e dados da família narrados por nosso pai, facilitou estas pesquisas.
A memória de meus queridos e inesquecíveis PAIS.
A todos aqueles que de uma forma ou de outra colaboram comigo.
A SÃO JOÃO DEL-REI, berço da família.
Às p. 3 e 9, menciona as seguintes epígrafes respectivamente:
1) "MULTIPLICAREI TUA DESCENDÊNCIA COMO AS ESTRELAS DO CÉU: DAREI AOS TEUS PÓSTEROS TODAS ESTAS TERRAS, E NA TUA DESCENDÊNCIA SERÃO BENDITAS TODAS AS NAÇÕES DA TERRA..."
(Gênesis, 26)
2) Certo epitáfio:
“Pensam todos que morrestes,
que para sempre me deixaste,
quando apenas na jornada
mais depressa um pouco andaste.
Após ti eu caminho;
na mesma senda prossigo;
meu passo não é tardio,
bem cedo serei contigo.” *
* Versos encontrados, sob o título “A JORNADA”, na pedra tumular de MATILDE DE CASTRO LIMA, falecida em 27.01.1873, em São João del-Rei e enterrada no cemitério da Igreja de Nossa Senhora do Carmo.
N. A. “Para sempre” (no 2º verso) substitui a palavra “viúvo”.
Às p. 11 e 12, a autora transcreve uma saudação à sua pessoa feita por Trigueirinho:
SAUDAÇÃO A UMA NOVA GENEALOGISTA
“Os nossos antepassados vivem em nós”. Tudo aquilo que julgamos ser, não somos, já fomos. Assim nos ensina a genealogia, ciência das mais fascinantes. Ela nos prova a eternidade do homem através de sua descendência na metempsicose das gerações.
Mas a genealogia nos dá satisfação mais próximas. Conta-nos que são os nossos avós, como vieram e a mais bela história do mundo, a das nossas famílias, isto é, a de cada um de nós.
Esta introdução foi pretexto para anunciar uma nova genealogista, o que muito nos apraz. Tanto mais, quando legítima representante da mulher paulista, qual APPARECIDA GOMES DO NASCIMENTO THOMAZELLI. E porque na constituição de sua árvore de costados, seguem-se pegadas bandeirantes de paulistas e mineiros. Sempre dissemos mineiros que não são paulistas ou paulistas que não são mineiros, não são nenhum, nem outro.
O mais importante, a autora atingiu o objetivo. Conseguiu compor frondosa árvore de costados, a partir do patriarca JOÃO GOMES DO NASCIMENTO e de sua mulher RITA MARIA DA CONCEIÇÃO, desde os meados dos setecentos, em São João del-Rei.
Trabalho valioso. A par da genealogia há muito de história e documentação comprobatória. Custou dez anos de afanosas pesquisas. Verdadeira peregrinação entre São Paulo e Minas, percorrendo todos cartórios, igrejas, cemitérios, arquivos e museus. Pelas cidades de São João del-Rei, Campanha, Lavras, Três Corações e São Tomé das Letras, famosa duas vezes, por suas escritas rupestres e por lá ter a autora suas raízes. Sem contar, exaustiva leitura de tratados genealógicos.
Escusa-se a genealogista sobre possíveis lacunas e até mesmo incorreções. Como não poderia deixar de ser, lamenta: “Entretanto a dificuldade maior, nós a encontramos em reunir os dados dos vivos que, infelizmente, nem sempre se interessam por um assunto, no seu entender, árido e enfadonho”.
Em verdade, nenhum genealogista pode se orgulhar de escrever obra definitiva, tantas e tamanhas são as dificuldades. Traçam roteiros para servir a outros e mesmo que voltem ao tema sabem que estão publicando sempre penúltimo trabalho, nunca o último.
A outra resposta.
Sim, os vivos! Estes por mais que se peça, insista, não respondem ao chamado. Só nos transmitem informações parentes idosos porque para eles a família ainda é a suprema instituição, a sociedade e a pátria. Temos a certeza, ora que esse livro for publicado os novos serão os primeiros a reclamarem de terem sido omitidos.
Amiga e irmã em genealogia, APPARECIDA GOMES DO NASCIMENTO THOMAZELLI, os protestos que vier a receber dos vivos, não é o mal, mas o bem, significa que estão voltando ao lar que haviam perdido, não foram todos os seus anos ao reconstituir a árvore de costados de “As Famílias de Nossa Família (Mineiros e Paulistas)”.
Missão cumprida é o que importa. E no mais: “Quoi qu’il soit voici mon oeuvre”.
Dr. Augusto Galvão Bueno Trigueirinho.
São Paulo, dezembro de 1983.
Às p. 13 chegamos ao prefácio propriamente dito do livro, assinado por Monsenhor José do Patrocínio Lefort, de Campanha. Ei-lo:
APRESENTANDO
Vezes sem conta, numa persistência tenaz e digna de nota, a Dra. APPARECIDA GOMES viajou para Campanha, para São João del-Rei, para Seca e Meca e Olivais de Santarém. O objetivo máximo não foi distrair-se de suas atividades habituais. Nem conhecer sítios e personagens. Tão pouco querer projetar seu nome e ganhar aplausos. Não, não foi.
Viajou muito, sofreu bastante, mas conseguiu o que ardentemente desejava: – a organização e lançamento deste livro, destinado a ter muito sucesso.
Ninguém poderá dizer que a tarefa lhe foi fácil. Se duvidar, então que experimente também armar um desses labirintos. E ficará perdido num cipoal medonho, se não tiver fôlego e garra em reservas. É que não é suficiente consultar letras graúdas, colher informações, por vezes contraditórias e incompletas. Mister se faz ter muita paciência, senso de equilíbrio e sensatez para enfrentar e resolver tantos problemas que constantemente surgem e exigem imediata solução. Nesse número se colocam manuscritos e documentos de caligrafia e de cacografia de dois e mais séculos. Livros de Batizados, de Casamentos e de Óbitos; livros de testamentos e de habilitações diversas; inventários empoeirados e carcomidos pelas traças, pelo fogo e pela água. Uma calamidade, enfim. E o tempo a correr e o nome empenhado numa promessa de um resultado próximo.
Tudo isso enfrentou e venceu galhardamente Dra. Apparecida, a festejada autora deste livro. Sim, venceu espetacularmente. Pode agora, com muita justiça, cantar o seu Te Deum. E cantando, fazer ecoar pelo Brasil inteiro as palavras do Profeta-Rei:
“Tal é a geração dos que buscam a face de Deus … pois que de geração em geração publicaremos os seus louvores” (Salmos 23,6 e 78,13).
Campanha, 3 de novembro de 1982
Mons. José do Patrocínio Lefort
Por fim, ainda nesta fase preliminar, a autora juntou ao livro, à p. 15, uma correspondência do Monsenhor Paiva, de São João del-Rei, datada de 30/10/1982, incorporada ao livro sob a forma de apreciação da obra em reconhecimento da parte dela por ter ele colocado o Arquivo Paroquial da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar à disposição da autora, durante todo o período de sua pesquisa genealógica:
São João del-Rei, 30 de outubro de 1982.
Exma. Sra.
Apparecida Gomes do Nascimento Thomazelli
Saudações.
Em minhas mãos o seu precioso livro.
Cumprimento-a pelo término de uma obra que lhe é tão querida.
Tenho a dizer-lhe que, desde o início acompanhei seus ingentes esforços e dedicação para que levasse adiante este seu ideal de escrever “AS FAMÍLIAS DE NOSSAS FAMÍLIAS”. Só mesmo a poder de muita luta, incompreensões e sacrifícios é que se pode chegar à vitória.
Agora, o trabalho terminado, admiro o seu desvelado carinho, sua segurança no assunto, o amor e o cuidado com que escreveu o seu livro.
Ele é feito com história e arte e admiravelmente escrito com uma cadência literária que a sua leitura o torna ameno e atraente, revelando ser a senhora uma competente genealogista.
Pedindo a Deus que a abençoe e lhe conceda suas graças abundantes e preciosas, subscrevo-me,
Servo em Cristo,
Mons., Sebastião R. de Paiva.
Por fim, concluindo o que chamei de fase preliminar anterior ao livro propriamente dito, a autora fala através de uma Introdução diretamente ao leitor, relembrando sua experiência de "mais de dez anos percorrendo os arquivos de paróquias, museus e cartórios de diversas cidades" e dando crédito a alguns colaboradores. Em São João del-Rei, por exemplo, nomeia seus principais colaboradores: os historiadores o Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, Sebastião de Oliveira Cintra e o Prof. Fábio Nelson Guimarães. Eis a Introdução do livro, às p. 17-18:
INTRODUÇÃO (DA AUTORA)
Remontar aos mais distantes antepassados é tarefa morosa, que exige persistência, boa disposição e amor ao passado e à História.
Temos gasto, nas pequeninas parcelas de tempo que nos permite o trabalho ativo como Supervisora de Ensino ainda não aposentada, mais de dez anos percorrendo os arquivos de paróquias, museus e cartórios de diversas cidades do norte de São Paulo e do sul de Minas Gerais, de modo especial, de São João del-Rei, da Campanha, de Lavras, de Três Corações e de São Tomé das Letras. Nossos agradecimentos a todos os que aí nos acolheram e conosco colaboraram, dos quais, mesmo com o risco de esquecimentos, citaremos: os Genealogistas ARY FLORENZANO, de Lavras; Monsenhor JOSÉ DO PATROCÍNIO LEFORT, dedicado Chanceler do Bispado de Campanha; Dr. JOSÉ GUIMARÃES, de Ouro Fino; Monsenhor SEBASTIÃO PAIVA, de São João del-Rei; os Historiadores SEBASTIÃO DE OLIVEIRA CINTRA E Prof. FÁBIO NELSON GUIMARÃES, também de São João del-Rei; ANTÔNIO PEREIRA BRANQUINHO e sua esposa IVETE, nossos prezados primos de Três Corações; o Escrivão de Paz e Registro Civil de São Tomé das Letras, bem como sua ilustríssima progenitora; o Escrivão de Paz e Registro Civil de Emboabas, REVELINO JOSÉ DO NASCIMENTO FILHO; o Sr. JOSÉ CRISTÓVÃO DE LIMA, de Piumhi; e, no Estado de São Paulo, o jovem e talentoso genealogista Dr. ROBERTO VASCONCELOS MARTINS, de Ribeirão Preto, e d. MATHILDES LOPES SALOMÃO, pesquisadora das mais gentis e acolhedoras, residente em São João da Boa Vista.
Nosso trabalho apresenta muitas lacunas. Somente ousamos publicá-lo pelo incentivo do Dr. Augusto Galvão Bueno Trigueirinho, Presidente do Instituto Genealógico Brasileiro, a quem também agradecemos. No seu entender, devemos publicar nossas pesquisas à medida em que se adiantam. Publicando-as, daremos oportunidade a outros pesquisadores de ampliá-las ou corrigi-las, ou ainda de aproveitá-las em suas próprias pesquisas. Assim, este é apenas um trabalho de modestíssima contribuição ao desenvolvimento da Genealogia em nosso país.
Os dados aqui apresentados são, na quase totalidade, tirados de fontes documentais, uns tantos de obras já publicadas e outros fornecidos por fontes orais. Tivemos que proceder a uma exaustiva seleção, pois não somente muitos escravos usavam os apelidos dos "Sinhôs", mas também grande parte da população acrescentava a seus nomes o apelido "Nascimento", se a pessoa houvesse nascido por ocasião do Natal de Cristo.
Entretanto, a dificuldade maior, nós a encontramos em reunir os dados dos vivos que, infelizmente, nem sempre se interessam por um assunto, no seu entender, árido e enfadonho.
Escrevemos para aqueles que, como nós, sentem infinito prazer em reviver entes queridos que nos precederam, numa saudosa e sentimental reconstituição mental de alegrias, dores, prazeres e vicissitudes.
Entremeamos aos genealógicos elementos históricos das principais localidades em que viveram nossos ancestrais, na esperança de que, assim, pudéssemos apresentar um quadro vivencial menos estático.
Utilizamo-nos de algumas abreviaturas facilmente compreensíveis, como fºlº = filho legítimo; fn. = filho natural; c.c. = casado com. Nem sempre obedecemos à ordem cronológica e procuramos atualizar a grafia dos nomes, evitando o exagero das escritas antigas e apenas conservando, de modo geral, algumas grafias de nomes consagrados ou estrangeiros. E acabamos, após ensaios diversos, por dividir a obra à maneira do Dr. Frederico de Barros Brotero em seu monumental trabalho Memórias e Tradições da Família Junqueira, porque, extensa, poderia ser, assim, mais facilmente entendida.
São Paulo, 1983
A AUTORA.
APRESENTAÇÃO (p. 19-33)
JOÃO GOMES DO NASCIMENTO ³ E SÃO JOÃO DEL-REI
JOÃO GOMES DO NASCIMENTO veio para o Brasil ainda jovem e solteiro. Era natural da Freguesia de Santa Maria da Vila Nova, do antigo termo da vila de Barcelos, hoje Concelho e Comarca de Barcelos, na província do Minho, arcebispado de Braga, Portugal, situada a 41° 31,8' de latitude norte e a 0° 30,8' de longitude, a cerca de 12 km da foz do Cávado, à direita do qual se situa, e de 15 a 19 km a oeste de Braga.
Muito antiga e antes denominada "Barracellos", a povoação, de remota e controversa origem, foi arruinada pelos Godos, Suevos, Vândalos, Álanos e Árabes, sendo por estes últimos reedificada, dada a beleza do lugar.
Novamente levantada ao tempo ao tempo de D. Afonso Henriques, teve o seu primeiro foral em data que se situa entre os anos de 1156 e 1169, e fazia parte do Julgado de Neiva. D. Denis constituiu-a condado em 1298 – o 1º Condado de Portugal. Em 1526, foi ela elevada à categoria de ducado, tendo sido seu primeiro duque o 11º Conde, D. Jaime, 4º Duque de Bragança. (...)
Desse meio religioso e crente, foi que saiu, por volta de 1740 com destino a Minas Gerais, esse nosso avô, que se constituiria em patriarca da família Gomes do Nascimento no Brasil. Era ele fºlº de MANUEL FERNANDES e de sua mulher, D. MARIA GOMES DO NASCIMENTO. ⁴
Em 1747, encontramo-lo no Brasil, a batizar sua primogênita Maria, na Capela de Ibertioga, filial da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo. Era capelão da mesma o Reverendo Padre José Coelho da Rocha e vigário o Reverendo Padre João da Fé de São Jerônimo Gurgel do Amaral. A mãe da criança, mulher de João Gomes, era D. Rita Maria da Conceição, fªlª de Daniel de Sousa Pimentel e de sua mulher, D. Luísa Rodrigues Cid, sobrinha do capitão-mor João Manuel de Azevedo Matos, que era também parente de João e que foi o padrinho da criança.
D. Rita Maria era natural da Vila de São José del-Rei, hoje Tiradentes, situada ao nordeste da Vila de São João del-Rei, a 21° 10' de latitude e 332° 15' de longitude, nas setentrionais do Rio das Mortes.
Seguindo o costume da época, João, ignorando a barreira natural formada por esse rio, contraíra casamento com uma sua parenta, às onze horas de 5.10.1745, na Capela de Santo Antônio de Ibertioga, da Freguesia de Nossa Senhora da Borda do Campo (registro em livro de Barbacena, em arquivo na Arquidiocese de Mariana).
Foi dessa forma que reuniu, como palco de suas vidas, as duas Vilas das mais famosas da época e representativas de nossa História: uma, erigida sob a proteção da Senhora do Pilar, e a outra, sob as bênçãos de Santo Antônio, nas proximidades da Serra de São José.
Igreja Matriz de Santo Antônio de Ibertioga |
Sabemos ainda, com certeza, que em 1765 João Gomes do Nascimento, temente a Deus e cheio do fervor religioso que envolveu sempre os nossos aventureiros descobridores, era já o chefe de família numerosa, desbravador e colonizador das matas de São João del-Rei, lugar alegre, acolhedor, onde "os montes se levantam como em perene anseio para o céu, os vales se rasgam para a abundância das águas que neles cachoeiram em preciosas quedas ou mansamente se espraiam em amplos vargedos, as matas orlam graciosamente o sopé das eminências e a verde pelúcia dos campos veste as extensas lombadas das terras." ⁵
A histórica cidade, nessa época, englobava, na categoria de Vila e sede de Comarca do Rio das Mortes, os terrenos que hoje formam municípios vizinhos, independentes e também prósperos.
João Gomes do Nascimento residia na "Fazenda Pouso Alegre", cujas terras pertenciam, na maior parte, ao antigo Curato do Onça, mas que, com as novas divisões administrativas, acabaram pertencendo ao atual município de Ibertioga e sua fazenda, ao Distrito de Padre Brito.
A Fazenda Pouso Alegre esteve sempre em mãos dos descendentes de João Gomes do Nascimento. Até bem pouco tempo pertenceu a Horácio Moreira Campos, recentemente falecido, bem como sua esposa. Depois, passou a pertencer a Vital Antônio Campos, que procurou melhorá-la, pintando-a e rebocando-a, segundo nos pareceu. Seu filho, Vital Antônio Campos, casado com D. Legia Diet Campos, passou-a ao atual dono, Moreira Campos.
A propriedade vem resistindo aos anos, galhardamente. Contém nove cômodos principais, entre salas e dormitórios, assoalhados com tábuas bem largas e claras. A cozinha é muito grande - pode-se dizer copa-cozinha, tendo uma parte forrada de madeira, que acompanha a linha do telhado. O fogão, outrora inteiramente construído de pedra-sabão, tem hoje a parte superior reformada com outro material. Além do corpo principal, o "solar" tem ainda um adendo para outras serventias. Os novos donos acham que é mais fácil construir sede nova do que reformar a antiga, com o que não concordamos absolutamente, embora nada tenhamos a ver com isso. Apenas impera em nós o sentimentalismo.
Enquanto isso, no Distrito outrora denominado São Francisco do Onça, hoje Emboabas, os Nascimentos ergueram uma outra sede com o nome de "Fazenda Nova do Pouso Alegre de João Gomes", denominação essa que vem citada em vários registros civis iniciados com o advento da República.
São Francisco do Onça, ou melhor, Emboabas, distrito rural sul de São João del-Rei, abrange hoje os seguintes povoados ⁶ : Curtidor, Matola de Cima, Carvoeiro, Estiva, Morro Grande e Lajinha; e as localidades seguintes: Montividio, Cananeia, Matola de Baixo e Cachoeirinha. As terras de João Gomes do Nascimento estendiam-se daí a perder de vista, banhadas pelo Ribeirão do Onça e pelo Ribeirão dos Matolas, alcançando, para o oeste, São Miguel do Cajuru, hoje Distrito de Arcângelo. Ibertioga ficava mais longe, também ampla, próxima à Borda do Campo (Barbacena).
Em todas as nossas pesquisas em torno da família, deparamo-nos com os nomes de Ibertioga e São Francisco do Onça, principalmente, e Nazaré – Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Barra, Ibituruna, Piedade do Rio Grande, Santana do Garabéu, Matola de Cima, Matola de Baixo, Cajuru, dentre outros locais, nos quais seus descendentes predominaram.
O testamento de sua filha Verônica Maria da Conceição, datado de 1835, especifica claramente o local de sua residência: "Fazenda de João Gomes da Aplicação de São Francisco do Onça, Comarca do Rio das Mortes".
O inventário de seu neto Isidoro Gomes do Nascimento, datado de 1862, fala em Fazenda Montevidéu, distrito do Onça.
Do inventário (partilha amigável) datado de 1879, dos bens de Rita Francisca de Jesus, que foi casada com Francisco Gomes do Nascimento Pereira, filho de Alexandre Gomes do Nascimento e neto de João Gomes do Nascimento, residente em Cajuru, constam os nomes das Fazendas "Mato Grosso", no distrito de Ibertioga, e "Pouso Alegre", de João Gomes, distrito de São Francisco do Onça.
Todas as suas terras foram sendo repartidas entre seus numerosos herdeiros, do que temos muitas notícias contidas no Livro de Termos de Propriedades, tipo registro de escrituras, encontrado no Arquivo Público Mineiro de Belo Horizonte. ⁷
Por aqueles terrenos multiformes e agrestes, andarilhos, os familiares e herdeiros de João Gomes do Nascimento percorreram léguas e léguas, entrelaçando-se com outras famílias, dentre as quais os Gomes da Rocha, os Fagundes, os Dias de Freitas, os Valins, os Mafras, os Ribeiros, os Teixeiras, os Vieiras, os Campos, os Alves Pedrosa, os Ávilas, os Branquinhos, os Junqueiras, os Nogueiras, os Borges da Silva, os Andrades, os Costas, os Corrêas, os Borges da Costa, os Oliveiras, num verdadeiro e intrincado emaranhado de famílias.
Em todo o município de São João del-Rei, principalmente na zona rural, residem ainda hoje muitos descendentes de João Gomes do Nascimento. Mas, boa parte da família, com o mesmo espírito desbravador e aventureiro que trouxe seus antepassados ao Brasil, espalhou-se por todo o sul de Minas Gerais e norte de São Paulo. Do ramo que se passou para a pitoresca cidadezinha mineira de São Tomé das Letras, a qual, apesar de estacionária, figurou por muito tempo nos mapas oficiais do Estado, é que fazemos parte.
Pesquisando os dados dessa numerosíssima família, somos de tal forma atraída para a cidade de São João del-Rei, onde nos sentimos verdadeiramente "em casa", que chegamos a pensar em atavismo. São João del-Rei é o berço da família e como tal digna de nosso apreço e carinho, espontâneos nesta neta de João Gomes do Nascimento.
Quanto a esse nosso avoengo, que legou à maior parte de seus descendentes características próprias dos portugueses do norte de Portugal, bem como o gosto por terras elevadas, faleceu por volta de 1775, sem testamento, tendo sido enterrado na Capela de Ibertioga, então termo de São João del-Rei.
Dele temos cópia da assinatura aposta no termo da ata de uma reunião dos membros da Diretoria da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, de São João del-Rei, página 52b do Livro competente, gentilmente a nós enviada pelos historiadores Sebastião de Oliveira Cintra e Prof. Fábio Nelson Guimarães. Essa ata é o "termo do que se determinou a respeito do requerimento que fez o N. Caríssimo Irmão definidor João Gomes do Nascimento para se compensar o que devia a esta Vel. Ordem com o que a mesma lhe devia com ttº do Campitam Mor". Essa ata está assim redigida:
"Aos vinte e nove dias do mês de setembro de 1765, estando fazendo meza Fr. Manoel do Livramento, Comissário Vizitador e o Ir. Ministro e mais definidores, abaixo assinados estando presente o N.C. Irmão João Gomes do Nascimento, por elle foy dito que era devedor a esta Veneravel Ordem de varias parcellas de ouro, a saber: de propinas de dous anos de deffinidor e de annuais seus e de sua mulher a N.C. Irmã Rita Maria da Conceição que agora foy Eleita Ministra e da propina do mesmo cargo e do emprego de sachristão do ano passado, queria que de tudo o que ambos devessem se fizesse a conta e se debatesse no que esta Vel. Ordem lhe devia do ttº do Capitam Mor João de Matos, e que daria recibo pª as contas do mesmo ttº e pelo vel. definidor foy resolvido assim se fizesse, e pª constar mandarão fazer este termo que assinarão. E eu Antonio da Silva Souza que o subscrevy.
a/a - Fr. Livramento - Com. Vizitador geral
Antônio José de Mello - Ministro
Antônio da Silva e Souza - Secretário
Domingos Miz Fonseca
João de Faria
João Roiz. Borges
Antônio da Silva Guimarães e
João Gomes do Nascimento, Irmãos Definidores".
O fato de ser ele Irmão Definidor da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis, e não apenas isso, mas também "Irmão Sacristão", o que constituía honra para o eleito, e mais a respeitosa referência a sua mulher, D. Rita Maria da Conceição, eleita à época para o mais alto cargo a que a mulher podia e pode ascender dentro daquela Ordem, levam-nos a aquilatar o bom conceito de que gozavam esse nosso antepassado e seus familiares na localidade em que viviam. ⁸
De seu parente, o Capitão-Mor João de Matos, que, ao que tudo indica, teve influência em sua vinda para o Brasil, sabemos pelas Efemérides do historiador Sebastião de Oliveira Cintra, que residia nas proximidades da primitiva Igreja de São Francisco de Assis, e que esta ficava no mesmo local em que se ergueu a nova.
Como se pode ver nos Acórdãos de Vereança de 1748 a 1755, gentilmente enviados pelo mesmo historiador, como Capitão-Mor, tomou parte ativa na vida política de São João del-Rei, vistoriando obras, assinando documentos, apresentando sugestões junto ao Senado da Câmara, e até mesmo atuando como Juiz Ordinário, como consta, por exemplo, do Termo de Abertura do Pelouro.
O Capitão-Mor faleceu aos 4/7/1758, solteiro. Deixou testamento datado de 15/12/1757, no qual declara ser natural da Freguesia de Santa Maria da Vila Nova, Termo de Barcelos, Arcebispado de Braga, Portugal, fºlº de Gabriel Fernandes e de sua mulher, D. Maria Manuela.
Era sua irmã D. Maria Antonia de Matos, natural da mesma Freguesia, c.c. José Rodrigues de Miranda, natural da Freguesia de São Emilião de Maris, fºlº de Francisco Rodrigues, natural da mesma Freguesia, e de D. Alvina de Miranda, nat. de Freguesia de S. Payo de Carvalhal, Termo de Barcelos, e pais do Padre José Rodrigues de Matos Maris. Ordenado em 1766, conforme Processo de habilitação de "Genere et Moribus", em arquivo na Cúria arquidiocesana de Mariana, Minas Gerais, foi muitas vezes padrinho de batizados, ou testemunha de noivos da família.
Piedoso, o Capitão-Mor João de Matos deixou o legado de cem mil réis a cada uma das numerosas ordens religiosas da região. Deixou também a mesma quantia a pobres seus conhecidos e protegidos, bem como a algumas afilhadas, dentre elas Maria, filha de João Gomes do Nascimento. Quanto a Rita Maria, não perpetuou o nome de seus pais. A ascendência de João Gomes foi – pode-se dizer – patriarcal. Dessa forma, nenhum de seus filhos adotou o apelido da mãe. (...)
DO LIVRO PROPRIAMENTE DITO
O livro "As Famílias de Nossas Famílias (Mineiros e Paulistas)" está dividido em duas partes, conforme a autora:
1ª PARTE: A família de João Gomes do Nascimento: Títulos 1 a 14 (p. 35-212)
2ª PARTE: Capítulos Especiais, destacados da 1ª PARTE, por constituírem entrelaçamentos com outros ramos, assim distribuídos:
CAPÍTULO 1: Família de Antônio Gomes do Nascimento (bisavô da autora)
CAPÍTULO 2: Família de Joaquim Gomes do Nascimento (pai da autora)
CAPÍTULO 3: Família Marques
CAPÍTULO 4: Família Corrêa Neves
CAPÍTULO 5: Família Branquinho
CAPÍTULO 6: Família Gonçalves Valim
Vejamos então em que consiste a 1ª PARTE.
O casal João Gomes do Nascimento e Rita Maria da Conceição tiveram 14 filhos, que constituem Títulos (1 a 14) do livro, descritos abaixo, conforme pude colher de informações fornecidas no livro:
1. MARIA GOMES DO NASCIMENTO, primogênita, "batizada em 1747 na Capela de Ibertioga, filial da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo. Era capelão da mesma o Reverendo Padre José Coelho da Rocha e vigário o Reverendo Padre João da Fé de São Jerônimo Gurgel do Amaral. De seus padrinhos de batismo, só pudemos saber o nome de um, o do Capitão-Mor João Manuel de Azevedo Matos, pois que o livro de registro se encontra bastante corroído pelos cupins e pelo tempo implacável. (...) Casou-se duas vezes: a primeira, aos 12/10/1762, na então Matriz de Nossa Senhora do Pilar, hoje Catedral e Basílica, com Manuel Nunes Ribeiro (...); a segunda vez, na Matriz de Nossa Senhora da Piedade de Barbacena, aos 16/05/1799, com João Pereira Balbão."Faleceu em setembro de 1832, tendo deixado testamento datado de 09/04/1825, em arquivo do Museu Regional de São João del-Rei. (...) (p. 37-80)
2. JOANA MARIA DA CONCEIÇÃO ⁹, batizada na Capela de Ibertioga pelo Coadjutor Padre Manuel da Fonseca, aos 25/06/1749, tendo como padrinhos Manuel Teixeira Maciel e D. Joana Rodrigues, casou-se aos 23/02/1773 com Ignacio Gomes da Rocha na Matriz do Pilar. Desse casal descende o ramo que foi morar em São Tomé das Letras. (p. 81-158)
3) QUITÉRIA MARIA DA CONCEIÇÃO, casada na Matriz do Pilar em 23/02/1773, com João José de Ávila, natural da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo, fºlº de Antônio de Ávila Bittencourt e de D. Inacia Ferreira. O Coadjutor Pe. Joaquim Pinto da Silveira oficiou. Foram testemunhas: o Pe. José Rodrigues de Matos Maris, sobrinho do Capitão-Mor João de Matos e Francisco da Costa Dias. (p. 159-161)
4) MANUEL GOMES DO NASCIMENTO, nascido em São João del-Rei, foi batizado na Capela de Ibertioga, em 07/01/1753, pelo Reverendo Pe. José Coelho. Foram seus padrinhos: Domingos Fernandes da Silva e D. Custódia Maria de Araújo. O Coadjutor Pe. Antônio Álvares de Magalhães registro. Casou-se na Igreja de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo, com registro em livro de Barbacena arquivado em Mariana, em 26/11/1773, com D. Ana Maria da Fonseca, fªlª de Manuel Cubas de Brito e de D. Úrsula da Fonseca. Foram testemunhas: José Rodrigues e Manuel Francisco Pereira. O Reverendo Pe. Vigário Feliciano Pitta de Castro oficiou. (p. 162)
5) ANA MARIA DA CONCEIÇÃO, natural de São João del-Rei, foi batizada na Matriz do Pilar. Nasceu em 1756 e casou-se em Ibertioga, aos 27/05/1777, com João José de Sousa, natural da Freguesia de Santa Maria de Vila Nova, Termo de Barcelos, Arcebispado de Braga, Portugal, onde foi batizado, fºlº de Urbano de Souza e de D. Rosa Maria de Souza. (p. 163)
6) INÁCIA MARIA DA CONCEIÇÃO, casada com José Luis de Campos. (p. 164)
7) ANTÔNIO GOMES DO NASCIMENTO, casado em primeiras núpcias, na Matriz do Pilar de São João del-Rei, em 22/05/1779, com D. Ana Maria da Silva, natural da Borda do Campo, fªlª de Domingos Ferreira da Silveira e de D. Maria da Conceição Silva; casado em segundas núpcias, em 24/07/1827, em Pouso Alegre, com D. Mariana Francisca do Espírito Santo, fªlª de Elias da Silva e de D. Ana Jacinta Siqueira. (p. 165-166)
8) VERÔNICA MARIA DA CONCEIÇÃO, batizada na Matriz do Pilar em São João del-Rei, em 17/04/1763, pelo Reverendo Pe. Luis Pinto de Magalhães. Foram seus padrinhos: Francisco Lopes Guimarães, da Borda do Campo, e D. Teresa de Jesus, mulher de Manuel Gomes; casada na Matriz do Pilar, em 28/01/1778, com Agostinho da Cruz Fagundes, natural da Freguesia de Santo Estêvão, Termo de Guimarães, Arcebispado de Braga, Portugal, onde foi batizado, fºlº de Francisco Fagundes e de sua mulher, D. Ana Maria Fagundes, neto paterno de Joaquim e Ângela de Moraes. O casal e sua família viveram sempre na Fazenda de João Gomes do Nascimento, da Aplicação de São Francisco do Onça. Ela faleceu por volta de 1835, tendo deixado testamento data dessa época. (p. 167-183)
9) ALFERES JOSÉ GOMES DO NASCIMENTO, casado em primeiras núpcias com D. Narcisa Maria de Nazaré e, em segundas núpcias, com D. Ana Dias de Freitas, fªlª de Manuel da Cruz e de D. Rosa Maria de Freitas, natural da Freguesia da Borda do Campo, batizada a 01/11/1798, na Igreja do Pilar de São João del-Rei. (p. 184-188)
10) ALEXANDRE GOMES DO NASCIMENTO ¹⁰, casado na Capela de São Miguel do Cajuru, em São João del-Rei, com D. Ana Antônia do Nascimento, fªlª de Manuel Pereira Penela e de D. Ana Maria Pereira Penela. D. Ana Antônia foi batizada na Capela de Nossa Senhora da Conceição do Porto, Freguesia das Lavras do Funil. Ao morrer, deixou testamento datado de 01/04/1822. Foram seus testamenteiros: Alexandre Gomes do Nascimento (Filho); João José Pena, seu genro; Antônio Joaquim da Silva, também seu genro e João Neto Carneiro, outro de seus genros. Quanto a Alexandre, não deixou testamento. Foi feito inventário de seus bens, com término em 23/06/1828. (p. 189-199)
11) FRANCISCA MARIA DA CONCEIÇÃO casou-se em 19/05/1790, na Capela de Santo Antônio da Ibertioga, com Custódio da Cruz Fagundes, fºlº de Francisco Fagundes e de sua mulher, D. Domingas de Sousa, natural da Freguesia de São Salvador dos Briteiros, do Arcebispado de Braga, Portugal. (p. 200-206)
12) FELICIANA MARIA DA CONCEIÇÃO, gêmea com Felícia Maria, nasceu em 1771. Conforme o livro competente de assentos de casamentos, fls. 347, casou-se na Capela de São Francisco de Assis do Onça, em 15/02/1790, com Luís Manuel Vieira, fºlº de Luís Vieira Guedes e de sua mulher, D. Mariana de Lemes de Oliveira, natural daquela freguesia. Foram testemunhas do casamento Agostinho da Cruz Fagundes e José Gomes. (p. 207-208)
13) FELÍCIA MARIA DA CONCEIÇÃO, gêmea com D. Feliciana Maria, casou-se em 23/07/1790, na Capela de Santo Antônio da Ibertioga, em São João del-Rei, com José Joaquim da Silva, natural da Borda do Campo, fºlº de Matias da Silva Borges e de D. Francisca do Sacramento, sua mulher. Foram testemunhas do casamento Agostinho da Cruz Fagundes e José Luís. O Capelão Antônio Vicente d'Almada celebrou. (p. 209-211)
14) JOÃO GOMES DO NASCIMENTO casado com D. Vicência Maria Perpétua, fªlª de José da Costa e D. Maria Inácia. A autora nada sabe de sua descendência. (p. 212)
NOTAS EXPLICATIVAS
¹ Os ascendentes em linha reta de Apparecida Gomes do Nascimento Thomazelli (p. 281) até o 7º grau são:
² [FONSECA, 1961, 37-38] descreve o caos provocado no Caminho de Goiás ("Picada de Goiás") pelos quilombolas do Quilombo do Ambrósio, o principal quilombo de Minas Gerais:
1) em 1º grau: Joaquim Gomes do Nascimento c.c. Maria Cândida do Nascimento (p. 237 e 253)
2) em 2º grau: José Gomes do Nascimento c.c. Ana Flora Corrêa Neves da Costa (p. 231)
3) em 3º grau: Maria Teresa de Jesus c.c. Antônio Gomes do Nascimento (p. 149, 215 e 219)
4) em 4º grau: Gomes Antônio do Nascimento c.c. Antonia Josefa da Conceição (de) Oliveira (p. 123 e 137)
5) em 5º grau: Joana Maria da Conceição c.c. Ignacio Gomes da Rocha (p. 81)
6) em 6º grau: João Gomes do Nascimento c.c. Rita Maria da Conceição (p. 20)
7) em 7º grau: Maria Gomes do Nascimento c.c. Manuel Fernandes (p. 32)
² [FONSECA, 1961, 37-38] descreve o caos provocado no Caminho de Goiás ("Picada de Goiás") pelos quilombolas do Quilombo do Ambrósio, o principal quilombo de Minas Gerais:
“(...) Não há dúvida que esta invasão negra fôra provocada por aquêle escandaloso transitar pela picada, e que pegou a dar na vista demais. Goiás era uma Canaã. Voltavam ricos os que tinham ido pobres.
Iam e vinham mares de aventureiros. Passavam boiadas e tropas. Seguiam comboios de escravos. Cargueiros intérminos, carregados de mercadorias, bugigangas, miçangas, tapeçarias e ... sal.
Diante disso, negros foragidos de senzalas e de comboios em marcha, unidos a prófugos da justiça e mesmo a remanescentes dos extintos cataguás, foram se homiziando em certos pontos dessa estrada. Essas quadrilhas perigosas, sucursais dos quilombolas do Rio das Mortes, assaltavam transeuntes e os deixavam mortos no fundo dos boqueirões e perambeiras, depois de lhes pilhar o que conduziam.
Roubavam tudo. Boiadas. Tropas. Dinheiro. Cargueiros de mercadorias vindos da Côrte. E até os próprios comboios de escravos, matando os comboieiros e libertando os negros trelados. E, com isso, era mais uma súcia de bandidos a engrossar a quadrilha.
Em terras oliveirenses açoitava-se grande parte dessa nação de “caiambolas organizados” nas matas do Rio Grande e Rio das Mortes, de que já falamos. E do combate a essa praga é que vai surgir a colonização do território. (...)
Entre os mais perigosos bandos do Campo Grande, figuravam o quilombo do negro Ambrósio e o do negro Canalho. (...)”
³ Conforme pesquisa de João Paulo Ferreira de Assis, de Ressaquinha (MG), na publicação Polis 30, nº 14 de mar/2000, pág 49, consta copiado do livro dos casamentos da Matriz N. S. da Piedade da Borda do Campo e outras filiais da Matriz de N. S. da Piedade da Borda do Campo, (referentes aos casamentos 1741/1745, Livro D-10, arquivado em Mariana, à pág 189V) o casamento efetuado em 05/OUT/1745 em Ibertioga, de JOÃO GOMES DO NASCIMENTO, natural de Santa Maria de Vila Cova, Termos de Barcelos, Arquidiocese de Braga, filho de MANOEL FERNANDES e de MARIA GOMES, com RITA MARIA DA CONCEIÇÃO, natural da Vila de São José, filha de DANIEL DE SOUZA PIMENTEL e de LEONOR RODRIGUES.
A descendência de JOÃO GOMES DO NASCIMENTO e RITA MARIA DA CONCEIÇÃO é estudada no livro “As Famílias de Nossas Famílias (Mineiros e Paulistas)”, onde a autora Thomazelli escreve na "Introdução" (p. 17): “(...) Publicando-as (nossas pesquisas) daremos oportunidade a outros pesquisadores de ampliá-las ou corrigi-las, ou ainda de aproveitá-las em suas próprias pesquisas. (...)”
O inventário do patriarca João Gomes do Nascimento (de quem é inventariante a viúva sua mulher D. Rita Maria da Conceição), arquivado no Museu Regional de São João del-Rei, foi redigido em 10/07/1775 e encontra-se transcrito no site
Recomendamos a leitura do livro de Thomazelli, pois contém outras informações sobre outros ramos, bem como fotos e citações muito interessantes sobre a família Gomes do Nascimento.
⁴ Nota interessante a nosso ver é a seguinte: Provindos da mesma localidade – Vila Nova de Santa Maria – filhos de pais com o mesmo sobrenome (FERNANDES), nem João Gomes do Nascimento, nem o Capitão-Mor João de Azevedo Matos usasse esse apelido. Assim, GOMES DO NASCIMENTO veio à família pela linha feminina. (Cf. p. 32)
⁵ ANTONIL, André João: Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas, apud VIEGAS, Augusto: Notícia de São João del-Rei, Belo Horizonte, 3ª edição, p. 11.
⁶ GUIMARÃES, Fábio Nelson: O Município de São João del-Rei aos 250 anos de sua criação - 1713/1963, Tip. Progresso Ltda., São João del-Rei, 1963, p. 11: "pelo espírito do decreto-lei nº 10, de 15/12/1938, parágrafo único do art. 13, deduzo que "os povoados devem ter no mínimo 20 casas agrupadas e, no máximo, 50 moradias" e "localidade é o sítio que apresenta, no máximo, 20 casas".
⁷ Incluído ao final da obra há um capítulo dedicado aos documentos que a autora julgou interessantes e comprovadores (p. 507-528) e à árvore genealógica da família GOMES DO NASCIMENTO (anterior a Apparecida Gomes do Nascimento Thomazelli).
⁸ A Ordem Terceira foi fundada por volta de 1754. Segundo informações que gentilmente nos forneceu o sr. Alfredo Pereira de Carvalho, atual Síndico daquela Ordem, o Definidor é o deliberado. Eleitos anualmente, os Definidores são ainda hoje em número de 12 formando o Conselho Deliberativo. Mas, uma vez eleitos definidores, nunca perdem esse título, ainda que deixem a Diretoria. Além disso, podem ser eleitos para JUIZ DE SANTOS diversos e SACRISTÃO, ou ocupar cargos mais elevados na Diretoria, sempre por escrutínio secreto. (p. 27)
⁹ Lê-se às p. 81-84 do livro As Famílias de Nossas Famílias (Mineiros e Paulistas):
(2ª filha de JOÃO GOMES DO NASCIMENTO, o PATRIARCA DA FAMÍLIA)
Segunda filha de João Gomes do Nascimento, dona Joana Maria da Conceição e seus descendentes constituem o ramo que foi morar em São Tomé das letras e daí se expandiu por localidades diversas, já bastante misturado às famílias das redondezas.
Acreditamos que dona Joana tenha ido para aquela região não muito tempo depois de seu casamento com Ignácio Gomes da Rocha. São Thomé não passava, então, como não passa ainda hoje, de um conglomerado de casas de feitio antigo, amplas, os muros de pedras sobrepostas, situado bem no cimo da Serra das Letras, a cerca de 1.400 metros de altitude. Ao redor, nas lombadas, extensas fazendas foram sendo formadas, embora a Serra seja toda ela rocha viva, na base gneiss e micachito e, na parte superior, quartzo granular conhecido pelo nome de Itacolomito.
A pequena cidade – uma vila a bem dizer, – parece-nos, atravessou os séculos estacionária, ora subordinada a Lavras, ora a Campanha, ora a Três Corações ou a Baependi. Hoje, com mais de quatrocentos habitantes, com divisas com Três Corações, Luminárias, Cruzília (Encruzilhada) e Baependi, é município independente. Há tempos que não figura nos mapas oficiais do Estado, embora tenha o seu nome em mapas rodoviários. É que ela, cuja economia atual se assenta nas conhecidas pedras mineiras com as quais nossa gente muito aprecia para enfeitar as casas, começa a apresentar grande atração turística.
O nome de São Thomé das Letras e o da própria Serra provêm, segundo as lendas, de inscrições de cor vermelha encontradas em pequena gruta situada ao lado da Igreja. Nessa gruta, foi achada escondida uma imagem de São Tomé, talvez o próprio autor das inscrições enigmáticas. Há quem julgue que tais inscrições poderiam ser pinturas feitas por índios. Quanto a nós, somos propensa a crer serem elas de autoria dos negros escravos que fugiam das fazendas circunvizinhas, que formavam quilombos nas grutas e que teriam usado para gravá-las um musgo vermelho – líquen ou celidônio, próprio da região. Ninguém jamais conseguiu decifrar tais sinais que, talvez, pudessem ser classificados como cabalísticos. Os escravos eram revoltados e tinham o coração quase sempre cheio de ódio. Mas, na verdade, inscrições semelhantes, segundo autores abalizados, existem no mundo inteiro, indecifradas. Julga-se com boa razão que sejam marcas feitas pelos índios, que, sabemos eram nômades.
O início do povoamento, de acordo com pesquisas levadas a efeito por Monsenhor José do Patrocínio Lefort, Chanceler do Bispado de Campanha, marca-se pelo registro de óbito de Ana, de dez meses, inocente filha de Antônio Taveira, "do Bairro de São Tomé", no ano de 1759. Em 1772, com o registro de batizado de Francisca, filha legítima de Paulo Francisco Mafra e de Estácia Ana Ribeiro, aparece, pela primeira vez, a denominação de "Lapa de São Tomé", da Serra das Letras, da Freguesia das lavras do Funil.
O capelão de São Tomé era, então, o afamado jesuíta Padre Francisco Álvares Torres, que aí permaneceu como Capelão até 1781. A Capela de São Thomé foi erigida em 1770, a seu pedido. Em 1795, construiu-se Igreja nova. O cemitério, que, anteriormente, era dentro da própria Capela, hoje se estende ao lado e atrás da mesma.
O primeiro Vigário da Paróquia criada em 1840 e instituída canonicamente em 1841, foi o Padre João Ribeiro Maya, cujo nome encontramos nos casamentos, batizados e óbitos de boa parte da família.
Em 18 de outubro de 1808, foi nomeado Guarda-mor da localidade Francisco da Costa Rios.
Na Igreja, chama a atenção a pintura feita na madeira larga do teto, bem como um grande retrato do Barão de Alfenas, Gabriel Francisco Junqueira, colocado normalmente na Sacristia e pintado pelo italiano Nicolau Fachinetti. Chama também a atenção do turista a Igreja até há pouco inacabada, iniciada há mão se sabe quantos anos pelos escravos. Toda feita de pedra mineira superposta com amarração própria, chegou assim até o respaldo. Jamais até agora1 se iniciara a cobertura, e as paredes, extremamente largas, pedra sobre pedra, ali permaneceram por tempo indeterminado, atestando o penoso trabalho escravo. Inúmeros habitantes da terra sonharam um dia terminá-la. Soube que alguém talvez um paulista, a estava terminando ... da maneira moderna que conhecemos. A ser verdade, lamentaremos muito.
Com a intensificação do comércio de pedras e com alguma propaganda turística, o município pôde emancipar-se. O progresso bate às portas, mudando, entretanto, com grande mágoa para os conservadores, a feição tri ou quatricentenária que o marcou até hoje.
JOANA MARIA DA CONCEIÇÃO, batizada na Capela de Ibertioga pelo Coadjutor Padre Manuel da Fonseca, aos 25 de junho de 1749, tendo como padrinhos Manuel Teixeira Maciel e dona Joana Rodrigues, casou-se aos 23 de fevereiro de 1773, pelas "7 para 8 horas da manhã", na Matriz do Pilar, com as bençãos na Capela de São Francisco de Assis do Onça, com INÁCIO GOMES DA ROCHA, filho legítimo de Manuel Gomes Batista e de dona Maria Gonçalves da Rocha. Testemunharam: o Padre José Rodrigues de Matos Marins e Francisco da Costa Dias.
Inácio era irmão de, pelo menos:
1. D. Teresa Gomes da Rocha, c.c. João Gonçalves, fºlº de Manuel Gomes e de d. Antônia da Graça, natural da Freguesia de Nossa Senhora das Angústias da Ilha do Faial, Bispado de Angra. (João Gonçalves era irmão de CATARINA DE SÃO JOSÉ, c.c. CAETANO DE CARVALHO DUARTE, fºlº de João Carvalho e de d. Domingas Duarte)
Pais de, pelo menos:
– Manuel, batizado na Capela de São Miguel do Cajuru aos 6/8/1764, pelo Capelão Gonçalo Ribeiro de Brito. Foram seus padrinhos: Bento Rabelo de Carvalho e d. Maria Teresa, sua mulher.
2. D. Maria Teresa, casada em primeiras núpcias com Inácio Franco e, em segundas núpcias, com Bento Rabelo de Carvalho, fºlº de João de Carvalho e de D. Maria Gonçalves de Carvalho.
3. Manuel Gomes Batista, c.c. d. Inês Gomes da Rocha, fªlª de Luís Gomes e de d. Inês Clara.
Quanto à descendência do casal Inácio-Joana, temos a certeza dos seguintes filhos, que constituirão os Capítulos seguintes:
CAPÍTULO 1. João Gomes do Nascimento
CAPÍTULO 2. D. Ana Josefa do Nascimento
CAPÍTULO 3. Silvério Gomes do Nascimento
CAPÍTULO 4. Antônia
CAPÍTULO 5. Francisco Gomes do Nascimento
CAPÍTULO 6. Batista Gomes do Nascimento
CAPÍTULO 7. Fernando Antônio do Nascimento
CAPÍTULO 8. Gomes Antônio do Nascimento (trisavô paterno da autora Apparecida Thomazelli)
CAPÍTULO 9. D. Teodora Nicésia Gomes do Nascimento”
“TÍTULO 2
DESCENDÊNCIA DE D. JOANA MARIA DA CONCEIÇÃO GOMES DO NASCIMENTO(2ª filha de JOÃO GOMES DO NASCIMENTO, o PATRIARCA DA FAMÍLIA)
Segunda filha de João Gomes do Nascimento, dona Joana Maria da Conceição e seus descendentes constituem o ramo que foi morar em São Tomé das letras e daí se expandiu por localidades diversas, já bastante misturado às famílias das redondezas.
Acreditamos que dona Joana tenha ido para aquela região não muito tempo depois de seu casamento com Ignácio Gomes da Rocha. São Thomé não passava, então, como não passa ainda hoje, de um conglomerado de casas de feitio antigo, amplas, os muros de pedras sobrepostas, situado bem no cimo da Serra das Letras, a cerca de 1.400 metros de altitude. Ao redor, nas lombadas, extensas fazendas foram sendo formadas, embora a Serra seja toda ela rocha viva, na base gneiss e micachito e, na parte superior, quartzo granular conhecido pelo nome de Itacolomito.
A pequena cidade – uma vila a bem dizer, – parece-nos, atravessou os séculos estacionária, ora subordinada a Lavras, ora a Campanha, ora a Três Corações ou a Baependi. Hoje, com mais de quatrocentos habitantes, com divisas com Três Corações, Luminárias, Cruzília (Encruzilhada) e Baependi, é município independente. Há tempos que não figura nos mapas oficiais do Estado, embora tenha o seu nome em mapas rodoviários. É que ela, cuja economia atual se assenta nas conhecidas pedras mineiras com as quais nossa gente muito aprecia para enfeitar as casas, começa a apresentar grande atração turística.
O nome de São Thomé das Letras e o da própria Serra provêm, segundo as lendas, de inscrições de cor vermelha encontradas em pequena gruta situada ao lado da Igreja. Nessa gruta, foi achada escondida uma imagem de São Tomé, talvez o próprio autor das inscrições enigmáticas. Há quem julgue que tais inscrições poderiam ser pinturas feitas por índios. Quanto a nós, somos propensa a crer serem elas de autoria dos negros escravos que fugiam das fazendas circunvizinhas, que formavam quilombos nas grutas e que teriam usado para gravá-las um musgo vermelho – líquen ou celidônio, próprio da região. Ninguém jamais conseguiu decifrar tais sinais que, talvez, pudessem ser classificados como cabalísticos. Os escravos eram revoltados e tinham o coração quase sempre cheio de ódio. Mas, na verdade, inscrições semelhantes, segundo autores abalizados, existem no mundo inteiro, indecifradas. Julga-se com boa razão que sejam marcas feitas pelos índios, que, sabemos eram nômades.
O início do povoamento, de acordo com pesquisas levadas a efeito por Monsenhor José do Patrocínio Lefort, Chanceler do Bispado de Campanha, marca-se pelo registro de óbito de Ana, de dez meses, inocente filha de Antônio Taveira, "do Bairro de São Tomé", no ano de 1759. Em 1772, com o registro de batizado de Francisca, filha legítima de Paulo Francisco Mafra e de Estácia Ana Ribeiro, aparece, pela primeira vez, a denominação de "Lapa de São Tomé", da Serra das Letras, da Freguesia das lavras do Funil.
O capelão de São Tomé era, então, o afamado jesuíta Padre Francisco Álvares Torres, que aí permaneceu como Capelão até 1781. A Capela de São Thomé foi erigida em 1770, a seu pedido. Em 1795, construiu-se Igreja nova. O cemitério, que, anteriormente, era dentro da própria Capela, hoje se estende ao lado e atrás da mesma.
O primeiro Vigário da Paróquia criada em 1840 e instituída canonicamente em 1841, foi o Padre João Ribeiro Maya, cujo nome encontramos nos casamentos, batizados e óbitos de boa parte da família.
Em 18 de outubro de 1808, foi nomeado Guarda-mor da localidade Francisco da Costa Rios.
Na Igreja, chama a atenção a pintura feita na madeira larga do teto, bem como um grande retrato do Barão de Alfenas, Gabriel Francisco Junqueira, colocado normalmente na Sacristia e pintado pelo italiano Nicolau Fachinetti. Chama também a atenção do turista a Igreja até há pouco inacabada, iniciada há mão se sabe quantos anos pelos escravos. Toda feita de pedra mineira superposta com amarração própria, chegou assim até o respaldo. Jamais até agora1 se iniciara a cobertura, e as paredes, extremamente largas, pedra sobre pedra, ali permaneceram por tempo indeterminado, atestando o penoso trabalho escravo. Inúmeros habitantes da terra sonharam um dia terminá-la. Soube que alguém talvez um paulista, a estava terminando ... da maneira moderna que conhecemos. A ser verdade, lamentaremos muito.
Com a intensificação do comércio de pedras e com alguma propaganda turística, o município pôde emancipar-se. O progresso bate às portas, mudando, entretanto, com grande mágoa para os conservadores, a feição tri ou quatricentenária que o marcou até hoje.
JOANA MARIA DA CONCEIÇÃO, batizada na Capela de Ibertioga pelo Coadjutor Padre Manuel da Fonseca, aos 25 de junho de 1749, tendo como padrinhos Manuel Teixeira Maciel e dona Joana Rodrigues, casou-se aos 23 de fevereiro de 1773, pelas "7 para 8 horas da manhã", na Matriz do Pilar, com as bençãos na Capela de São Francisco de Assis do Onça, com INÁCIO GOMES DA ROCHA, filho legítimo de Manuel Gomes Batista e de dona Maria Gonçalves da Rocha. Testemunharam: o Padre José Rodrigues de Matos Marins e Francisco da Costa Dias.
Inácio era irmão de, pelo menos:
1. D. Teresa Gomes da Rocha, c.c. João Gonçalves, fºlº de Manuel Gomes e de d. Antônia da Graça, natural da Freguesia de Nossa Senhora das Angústias da Ilha do Faial, Bispado de Angra. (João Gonçalves era irmão de CATARINA DE SÃO JOSÉ, c.c. CAETANO DE CARVALHO DUARTE, fºlº de João Carvalho e de d. Domingas Duarte)
Pais de, pelo menos:
– Manuel, batizado na Capela de São Miguel do Cajuru aos 6/8/1764, pelo Capelão Gonçalo Ribeiro de Brito. Foram seus padrinhos: Bento Rabelo de Carvalho e d. Maria Teresa, sua mulher.
2. D. Maria Teresa, casada em primeiras núpcias com Inácio Franco e, em segundas núpcias, com Bento Rabelo de Carvalho, fºlº de João de Carvalho e de D. Maria Gonçalves de Carvalho.
3. Manuel Gomes Batista, c.c. d. Inês Gomes da Rocha, fªlª de Luís Gomes e de d. Inês Clara.
Quanto à descendência do casal Inácio-Joana, temos a certeza dos seguintes filhos, que constituirão os Capítulos seguintes:
CAPÍTULO 1. João Gomes do Nascimento
CAPÍTULO 2. D. Ana Josefa do Nascimento
CAPÍTULO 3. Silvério Gomes do Nascimento
CAPÍTULO 4. Antônia
CAPÍTULO 5. Francisco Gomes do Nascimento
CAPÍTULO 6. Batista Gomes do Nascimento
CAPÍTULO 7. Fernando Antônio do Nascimento
CAPÍTULO 8. Gomes Antônio do Nascimento (trisavô paterno da autora Apparecida Thomazelli)
CAPÍTULO 9. D. Teodora Nicésia Gomes do Nascimento”
¹⁰ Apparecida Thomazelli anotou o seguinte a respeito de D. MARIA INÁCIA DO NASCIMENTO (TÍTULO 10, Capítulo 5), filha de Alexandre Gomes do Nascimento:
"Batizada em 31/5/1800, em São João del-Rei.
C.c. JOÃO JOSÉ PENA
Nada sabemos de sua descendência." (p. 191)
Alda Câmara Bueno de Moraes anotou para o Projeto Compartilhar:
“Maria Inácia de Jesus (Gomes do Nascimento) chegou a Goiás por volta de 1850, época em que o sertão do Rio Bonito, atual Caiapônia, era terra inóspita habitada pelos temidos índios caiapós. Acompanhada de 15 filhos, genros, noras, netos, escravos e agregados, partiu de Carmo do Rio Claro-MG, juntamente com o marido, João José Penna, em direção a um destino incerto e de retorno imprevisível.
Maria Inácia nasceu em Ibertioga, então distrito de São João del-Rei, onde foi batizada em maio/1800, filha de Alexandre Gomes do Nascimento e Ana Antônia de Jesus. Neta paterna de João Gomes do Nascimento e Rita Maria da Conceição, neta materna de Manoel Pereira Penella e Ana Maria de Jesus.
Um detalhe chama a atenção sobre essa mulher – em 1846, bem antes de ficar viúva e ainda moradora em Minas, já era titular de vastos latifúndios. Com a morte do marido, continuou proprietária de grandes extensões de terras, apesar do número excessivo de sucessores. Próximo da Abolição seus herdeiros ainda compravam propriedades com escravos de sua herança, uma vez que escravos eram, sim, moeda de troca. João José Penna, o marido, faleceu em 04-10-1858 e seu inventário só foi concluído 25 anos depois, em 1883, em função de inúmeras interferências das centenas de interessados, uma vez que grande parte dos filhos já era falecida. Outro detalhe intrigante faz parte da história desse casal – vários filhos e alguns netos tinham sobrenomes inventados aleatoriamente. Em função dessa inexplicável criatividade, várias famílias em Goiás desconhecem o fato de pertencerem a um mesmo tronco – Lamounier, Nascimento, Vasconcelos, Avelino, Fagundes, Teodoro, Galvão, Faria e outros, legítimos descendentes de Maria Inácia de Jesus e João José Penna. Maria Inácia foi sepultada em 01-01-1877.
Torres do Rio Bonito, 01.01.1877 – Ao primeiro de janeiro de 1877, sepultou-se no cemitério desta vila, Maria Inácia de Jesus, viúva, de idade de 77 anos, natural da Província de Minas Gerais. Morreu repentinamente e foi sepultada na forma do Ritual Romano. Do que para constar faço assento”.
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, João Paulo Ferreira de: Polis 30, nº 14 de mar/2000, pág 49
FONSECA, Luís Gonzaga da Fonseca: HISTÓRIA DE OLIVEIRA, Belo Horizonte: Editôra Bernardo Álvares S/A, 1961, Edição Centenário (de elevação de Oliveira-MG à categoria de cidade), 457 p.
THOMAZELLI, Apparecida Gomes do Nascimento: AS FAMÍLIAS DE NOSSAS FAMÍLIAS (MINEIROS E PAULISTAS), São Paulo: Oficinas Gráficas da FAAP, 1989, 1ª edição.
AGRADECIMENTO
AGRADECIMENTO
A Rute Pardini Braga, minha esposa, pelo carinho e estímulo durante a pesquisa para a elaboração desta resenha crítica. Além disso, dou-lhe crédito pela excelência das fotos.
15 comentários:
Prezado Francisco.
Muito obrigado por sua atenção.
Melhores cumprimentos.
Diamantino Bártolo
Muito interessante!
Apresento-lhe minha resenha crítica de um livro de genealogia - AS FAMÍLIAS DE NOSSAS FAMÍLIAS (MINEIROS E PAULISTAS - que se distingue dos demais que tratam desses assuntos técnicos: a autora, Apparecida Gomes do Nascimento Thomazelli, foi hábil o suficiente para "entremear aos dados genealógicos (que interessam aos especialistas) elementos históricos das principais localidades em que viveram seus antepassados, na esperança de que, assim, pudesse apresentar um quadro vivencial menos estático."
Essa autora é uma genealogista respeitada no seu métier e certamente agradará ao leitor exigente.
https://bragamusician.blogspot.com/2018/11/resenha-critica-do-livro-as-familias-de.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Incrível! A 3 dias (ou quatro) do dia da Consciência Negra, tomo conhecimento do Crime dos Junqueiras, o assassinato bárbaro praticado por Quilombolas...Sobre estes episódios fala-se muito pouco. O que enche livros e jornais, além de discursos de deputados e senadores, são os castigos que se impunham aos escravos, sem chamar a atenção para o fato de que, na África, a escravidão era a regra entre as tribos. E, aliás, é sabido que Zumbi, no Quilombo de Palmares, tinha seus escravos... Belo artigo, Braga, muito esclarecedor. Ótimo! Dangelo
Muito bom!
Obrigado pelo envio da matéria, amigo. Fernando Teixeira
Interessante. Tenho inúmeros livros sobre o assunto. Caso tenha um interesse específico, talvez eu possa ajudar.
Caro professor Braga;
Tudo nessa resenha é fascinante, mesmo para mim que sou um mero cidadão que valoriza a História e a Antropologia, ainda mais para localidades e populações sobre cujas formações o grande manto da ignorância e do esquecimento social sempre pairou. Trabalhos como o da professora Apparecida - e complementares na divulgação como o seu - têm uma valor enorme. Imagino como deve ou deveria ser interessante para as próprias famílias, a despeito do desprezo para com o passado que infelizmente se observa. Trata-se de uma questão de identidade coletiva e de compreensão da própria realidade.
É curioso também como a incansável pesquisa acabou por afetar mesmo o próprio estado emocional da professora, aspecto relevante que demonstra como pode ser envolvente em sua espiritualidade o contato com aquilo que é o âmbito das traças ou está normalmente sepultado. Aspecto que torna sua obra ainda mais comovente.
Grato pela oportunidade desse conhecimento.
Abraço,
Cuper
Prezado confrade Braga, receba meus cumprimentos por essa excepcional resenha mais que literária: histórica e sentimental. Como só hoje consegui ler seu texto, fiquei fascinado não só pela descrição da genealogia, uma obra fantástica da autora, como da capacidade da autora de se sensibilizar com seu próprio trabalho literário. Estou fascinado pelas histórias aqui contadas.
Prezado Prof. Braga
Gostaria primeiramente de parabenizá-lo pela resenha rica e construtiva.
Segundo, é possível entrar em contato com o senhor além do e-mail? Minha tia que desenvolveu a árvore genealógica da nossa família Carvalho enviou um e-mail para o senhor e aí não obteve um retorno.
Aguardo um retorno.
Att
Aline de Carvalho
Caro Francisco Braga,
Bom dia,
Vi a resenha feita em seu Blog sobre o livro da autora Maria Aparecida Gomes do Nascimento e está bastante detalhada e completa.
Preciso pesquisar neste livro para obter comprovação sobre a descendência do casal João Gomes do Nascimento e Rita Maria da Conceição, especialmente da filha Felicia Maria da Conceição, casada com José Joaquim da Silva. Entretanto, não estou conseguindo adquirir o livro, pois parece que a tiragem foi restrita.
Você me poderia informar onde conseguir este livro?
Devido à urgência que temos (eu e minha sobrinha) em conseguir estes dados para enviar à Comunidade Israelita de Lisboa, Portugal, para comprovação de nossa ascendência até o judeu sefardita Antônio Bicudo Carneiro, você poderia fotografar a capa do livro e as páginas correspondentes aos nomes dos filhos de João Gomes do Nascimento e Rita Maria da Conceição ( pelo que pude verificar em seu Blog, estão na primeira parte, páginas 19-33, ou 35-212, e, especificamente, sobre a Felicia Maria da Conceição, nas páginas 209-211 )?
Quanto ficaria o valor para este trabalho?
Antecipadamente, agradeço-lhe se puder nos ajudar.
Atenciosamente,
Ana Emília de Carvalho
Prezada Ana Emília de Carvalho,
Bom dia!
Não faço ideia onde você reside.
O livro, comprei-o diretamente da minha colega historiadora e genealogista Apparecida Gomes do Nascimento Thomazelli, autora, falecida em 08/09/2007, que residia na Mooca (acho).
Junto com o livro, guardei um convite de lançamento do livro no Pátio do Colégio (cópia anexa).
As informações referentes à sua família estão em 3 fotos. Seguem igualmente foto da capa do livro solicitada e da Introdução ao livro, onde você poderá verificar vários nomes mencionados por ela, e aí vejo a possibilidade de você tentar verificar com um deles se ainda possuem o livro. Ao todo, portanto, são 7 (sete) fotos.
Entrei na Estante Virtual e o livro mencionado encontra-se à venda por R$120,00. Acho que vale a pena adquirir o livro para a comprovação de sua ascendência em Portugal.
Xerocópias de todo o livro + despesa com correio ficariam seguramente mais caro do que o preço do livro.
Cordial abraço, com votos de sucesso no seu processo em Lisboa,
Francisco Braga
Prezado, Prof. Francisco Braga.
Obrigada pelo retorno e pelas informações enviadas a minha tia Ana Emília.
Nós somos de Belo Horizonte.
Usamos artigos, blogs e os site Projeto Compartilhar para comprovar a ascendência, mas infelizmente a Comunidade Israelita só aceita certidões ou livros originais. Testamento, por exemplo, eles aceitam só de forma complementar.
Primeiro tentamos comprar o livro sem sucesso. Achei no Mercado Livre um anúncio, mas já estava vendido. Ligamos para os sebos aqui em BH e até de SP. Nem o Sebo do Messias e o Estante Virtual possuem. O senhor disse que encontrou, mas tentei novamente pelo nome do livro e da autora e não encontrei. Tem o link?
como não conseguimos comprar, nossa saída foi procurar alguém com uma edição do livro, daí encontramos o Senhor, único que até agora possui um exemplar, e por isso fizemos o contato.
Não é necessário cópia completa do livro e nem precisa ser impresso via correio. Só precisamos da foto da capa e foto das páginas que possuem a informação sobre o capitão JOÃO GOMES DO NASCIMENTO, sua esposa RITA MARIA DA CONCEIÇÃO, filha de DANIEL DE SOUZA PIMENTEL e de LEONOR RODRIGUES CID e dos filhos deles, principalmente, a página que menciona a filha FELÍCIA.
Se for possível o Senhor nos ajudar neste processo, ficarei muito grata. Caso contrário, agradeço a atenção desde já.
Atenciosamente, Aline de Carvalho Resende
Prezado Professor,
A minha tia me falou do e-mail enviado pelo senhor com as fotos.
Era o que faltava para completar o nosso processo e agora é torcer para a Comunidade dar o ok final.
Muito obrigada de coração.
Ficamos felizes.
Att,
Aline
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