A escritora MARIA IORDANÍDOU publicou cinco romances em grego moderno, a saber:
"Loxandra" (1963), quando já contava 66 anos de idade, ou seja, na época em que outros escritores interromperam sua produção ou completaram a maior parte de seu trabalho;
"Férias no Cáucaso" (1965);
"Como os Pássaros Loucos" (1978);
"Nas Rotações do Círculo" (1979); e
"O nosso Pátio" (1981).
Maria Iordanídou nasceu em Constantinopla (atual Istambul, que ela trata por "Cidade") em 1897. Seu pai era Nikolákis Kriezís, natural da ilha de Hydra, que trabalhava como engenheiro da marinha comercial inglesa. Sua mãe se chamava Efrosíni Mágou e era uma constantinopolitana (que ela chama de "cidadã").
A vida da escritora revelou-se tempestuosa e foi influenciada por grandes eventos históricos da época, em cujo redemoinho a escritora frequentemente se encontrou.
Os primeiros 4 anos de sua infância, a autora os passou em Constantinopla (ou "Cidade"). Em seguida, viveu com seus pais em Piréus por 8 anos, de 1901 a 1909, quando tinha 4 até 12 anos de idade. Em 1909 seus pais se divorciaram e Maria e sua mãe voltaram para Constantinopla. Ela começou a estudar no American College, onde estabeleceu as bases da sua proficiência linguística.
Maria Iordanídou jovem |
Suas memórias pessoais de vida até 1914 aparecem em vários textos, mas principalmente no primeiro romance, o famoso "Loxandra". É o seu texto maior e bem diferente dos outros. A protagonista aqui é Loxandra, sua avó, uma constantinopolitana rica e terna, com profundo amor pela vida e confiança cega nela e na bondade dos idosos. Cria enteados, filhos, sobrinhos e netos e ocupa, como deusa eféstia, o centro da vida da casa, rodeada por inúmeros parentes, amigos, vizinhos, negociantes e animais de estimação.
Juntamente com Loxandra, no entanto, igual protagonista do livro revela-se também a Constantinopla helênica: localidades, instituições, pessoas, especialmente de origem popular ou da classe média, vida cotidiana, comidas, festas, profissões, relações sociais, juízos. No verão de 1914, dois anos antes de se formar, ela foi convidada por seu tio, estabelecido em Batúmi, na Rússia (hoje pertencente à Geórgia), para ir para lá de férias. Infelizmente para Iordanídou, a intromissão da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Soviética acabou engaiolando-a, após incríveis aventuras, em Stavropol, no Cáucaso.
Iordanídou, para viver, passou a ministrar aulas de inglês, enquanto paralelamente estudava russo e cursava o ginásio em Sebastopol.
As circunstâncias não permitiram que ela terminasse a escola, mas as habilidades linguísticas que adquirira nas difíceis condições de sua juventude (ela conhecia bem pelo menos três línguas) a ajudaram durante toda a sua vida.
Maria Iordanídou ginasiana |
Em 1919, após cinco anos de permanência forçada na Rússia, conseguiu retornar a Constantinopla com muitas adversidades. Já tinha 22 anos de idade e foi trabalhar numa empresa comercial americana.
Em 1920, mudou-se para Alexandria do Egito, onde entrou em contato com círculos intelectuais, tornando-se membro do partido comunista egípcio. Em 1923, casou-se com o professor Iordáni Iordanídis, professor do Victoria College. Depois do casamento, ela se estabeleceu com o marido e a mãe em Atenas, onde trabalhou na Embaixada da União Soviética. Em 1931, ela se separou de Iordanídis, com quem teve dois filhos nesse meio tempo. Em 1939, ela foi demitida da Embaixada e voltou a lidar com aulas de línguas estrangeiras. Durante a ocupação alemã, sua casa foi destruída e ela foi perseguida e trancada em vários campos. Colaborou com o periódico do Partido Comunista da Grécia como tradutora na seção de Educação.
Por causa das circunstâncias de sua vida, Iordanídou ganhou grande proficiência linguística e trabalhou como profissional liberal.
Loxandra, primeiro romance publicado em 1963 pela primeira vez, descreve com grande vivacidade e humor os costumes e a vida dos Gregos da "Cidade" (Constantinopla) e baseia-se nas memórias de Iordanídou antes da Primeira Guerra Mundial. Sua vida na Rússia é descrita em seu livro Férias no Cáucaso (1965), enquanto no livro Como os Pássaros Loucos (1978) ela fala sobre os anos em Alexandria e Atenas durante o período entre as Grandes Guerras. Seu último trabalho é O nosso Pátio (1981).
Por trás do título inocente e insuspeito de "O nosso Pátio", Maria Iordanídou, com seu olhar perspicaz e sua escrita densa, dá vida ao cotidiano nesta nossa época do prédio de cimento, da poluição ambiental, da autodestruição. Através do pequeno espaço de um “pátio”, ela consegue nos apresentar o homem moderno e os problemas da vida cotidiana, como ela própria — uma senhora idosa do século XIX — os vê e os conta com imagens nostálgicas do passado, com humor, simplicidade e estado de espírito leve.
A paisagem urbana e as relações que se desenvolvem entre os condôminos dos prédios são o tema do livro. A simplicidade da abordagem com narrativas simples e descrições precisas dá ao livro um caráter vivo, de tal forma que as “descobertas” da autora ainda continuam atuais. As dificuldades criadas pela área apertada dos apartamentos resultam em sobrarem as brigas no seio das famílias que constituem também a parte principal do romance e onde mal cabem alguns móveis; as repreensões de crianças; a diversão da juventude com a música da moda; o novo consumismo impulsionado pela publicidade; as rusgas e pequenas alegrias; as mudanças e remoções... Esses aspectos da vida constituem também matéria do livro.
Os moradores se conhecem, o "pátio" é mapeado e os hábitos de cada um são pouco ou muito conhecidos. Ao mesmo tempo, vigora a contradição de que vizinhos não se falam uns com os outros e os olhares não se cruzam. É a alienação da megalópole.
Além disso, as dificuldades criadas pelo espaço estreito dos “apertamentos” (sic), onde mal cabem alguns poucos móveis, têm o efeito de sobrecarregar as famílias, que também são a parte principal do romance.
Finalmente, em muitos pontos, a autora compara as condições de vida dos moradores dos blocos de apartamentos com os Gregos com que ela conviveu em Constantinopla (atual Istambul), no bairro histórico de Tatavla, parte da "Cidade" inteiramente grega. Essa oposição entre a Constantinopla de antigamente com a atual megalópole grega (Atenas), bem como a mutação dos costumes que Iordanídou observa na transformação da mentalidade da mulher que era dona de sua casa na “Cidade”, mantém o interesse do leitor pelo texto em bons níveis, quase 40 anos após o seu primeiro lançamento.
Suas obras tiveram um grande sucesso editorial e foram traduzidas para muitas línguas estrangeiras. Foi agraciada em 1978, pelo Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, com a Cruz de Ouro e a menção honrosa de Senhora do Trono Ecumênico.
Os seus romances cobrem um grande período da história grega contemporânea, particularmente aquele que foi amado pelos leitores — Loxandra, traduzido para várias línguas (inclusive a língua turca) e adaptado para a televisão — enquanto foram ignorados pela crítica.
As principais características da obra de Maria Iordanídou é o elemento autobiográfico que domina cada vez mais fortemente durante a sua rota literária, a negligência dela quanto à distribuição sistemática do seu material narrativo e, finalmente, a imediatez, precisão e naturalidade do seu discurso.
Ela morreu em 6 de novembro de 1989 e foi enterrada no cemitério de Nova Esmirna ¹.
NOTA EXPLICATIVA
¹ A região de Atenas que abrigava predominantemente os refugiados de Esmirna ficou conhecida como Nova Esmirna. A criação do assentamento remonta à década de 1920, após a chegada de refugiados de Esmirna e de outras áreas da Ásia Menor aos, então, arredores de Atenas. Para o leitor interessado em conhecer detalhes sobre esses refugiados, recomendo a leitura, na Wikipedia, do Grande Incêndio ou Catástrofe de Esmirna em setembro de 1922.
Por causa das circunstâncias de sua vida, Iordanídou ganhou grande proficiência linguística e trabalhou como profissional liberal.
Loxandra, primeiro romance publicado em 1963 pela primeira vez, descreve com grande vivacidade e humor os costumes e a vida dos Gregos da "Cidade" (Constantinopla) e baseia-se nas memórias de Iordanídou antes da Primeira Guerra Mundial. Sua vida na Rússia é descrita em seu livro Férias no Cáucaso (1965), enquanto no livro Como os Pássaros Loucos (1978) ela fala sobre os anos em Alexandria e Atenas durante o período entre as Grandes Guerras. Seu último trabalho é O nosso Pátio (1981).
Por trás do título inocente e insuspeito de "O nosso Pátio", Maria Iordanídou, com seu olhar perspicaz e sua escrita densa, dá vida ao cotidiano nesta nossa época do prédio de cimento, da poluição ambiental, da autodestruição. Através do pequeno espaço de um “pátio”, ela consegue nos apresentar o homem moderno e os problemas da vida cotidiana, como ela própria — uma senhora idosa do século XIX — os vê e os conta com imagens nostálgicas do passado, com humor, simplicidade e estado de espírito leve.
A paisagem urbana e as relações que se desenvolvem entre os condôminos dos prédios são o tema do livro. A simplicidade da abordagem com narrativas simples e descrições precisas dá ao livro um caráter vivo, de tal forma que as “descobertas” da autora ainda continuam atuais. As dificuldades criadas pela área apertada dos apartamentos resultam em sobrarem as brigas no seio das famílias que constituem também a parte principal do romance e onde mal cabem alguns móveis; as repreensões de crianças; a diversão da juventude com a música da moda; o novo consumismo impulsionado pela publicidade; as rusgas e pequenas alegrias; as mudanças e remoções... Esses aspectos da vida constituem também matéria do livro.
Os moradores se conhecem, o "pátio" é mapeado e os hábitos de cada um são pouco ou muito conhecidos. Ao mesmo tempo, vigora a contradição de que vizinhos não se falam uns com os outros e os olhares não se cruzam. É a alienação da megalópole.
Além disso, as dificuldades criadas pelo espaço estreito dos “apertamentos” (sic), onde mal cabem alguns poucos móveis, têm o efeito de sobrecarregar as famílias, que também são a parte principal do romance.
Finalmente, em muitos pontos, a autora compara as condições de vida dos moradores dos blocos de apartamentos com os Gregos com que ela conviveu em Constantinopla (atual Istambul), no bairro histórico de Tatavla, parte da "Cidade" inteiramente grega. Essa oposição entre a Constantinopla de antigamente com a atual megalópole grega (Atenas), bem como a mutação dos costumes que Iordanídou observa na transformação da mentalidade da mulher que era dona de sua casa na “Cidade”, mantém o interesse do leitor pelo texto em bons níveis, quase 40 anos após o seu primeiro lançamento.
Suas obras tiveram um grande sucesso editorial e foram traduzidas para muitas línguas estrangeiras. Foi agraciada em 1978, pelo Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, com a Cruz de Ouro e a menção honrosa de Senhora do Trono Ecumênico.
Os seus romances cobrem um grande período da história grega contemporânea, particularmente aquele que foi amado pelos leitores — Loxandra, traduzido para várias línguas (inclusive a língua turca) e adaptado para a televisão — enquanto foram ignorados pela crítica.
Loxandra, em tradução turca |
Ela morreu em 6 de novembro de 1989 e foi enterrada no cemitério de Nova Esmirna ¹.
NOTA EXPLICATIVA
¹ A região de Atenas que abrigava predominantemente os refugiados de Esmirna ficou conhecida como Nova Esmirna. A criação do assentamento remonta à década de 1920, após a chegada de refugiados de Esmirna e de outras áreas da Ásia Menor aos, então, arredores de Atenas. Para o leitor interessado em conhecer detalhes sobre esses refugiados, recomendo a leitura, na Wikipedia, do Grande Incêndio ou Catástrofe de Esmirna em setembro de 1922.
5 comentários:
O NOSSO PÁTIO é o título do último romance de MARIA IORDANÍDOU, prosadora grega, nascida em 1897 em Constantinopla (atual Istambul) e falecida em novembro de 1989; é também o título da matéria traduzida do grego para fins deste post do Blog do Braga. Aqui se lerão as primeiras páginas do romance que naturalmente se desenvolverá agregando outros assuntos igualmente fascinantes, à medida que a autora traz ao leitor toda a problemática que vê na convivência diária num prédio de apartamentos e que tem o dom de atrair a atenção do leitor.
Testemunha ocular de praticamente todos os grandes eventos do século XX (a primeira Grande Guerra, a Revolução Russa, a segunda Grande Guerra, etc.), a autora vai concentrar-se através de "O nosso Pátio" nos desafios do mundo atual e não nas suas memórias vivenciadas, tema dos seus quatro romances anteriores.
Suas obras tiveram um grande sucesso editorial e foram traduzidas para muitas línguas estrangeiras. Foi agraciada em 1978, pelo Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, com a Cruz de Ouro e a menção honrosa de Senhora do Trono Ecumênico.
TEXTO DO ROMANCE "O NOSSO PÁTIO"
https://bragamusician.blogspot.com/2019/02/o-nosso-patio.html
BIOBIBLIOGRAFIA DE MARIA IORDANÍDOU DE MINHA AUTORIA
https://bragamusician.blogspot.com/2019/02/biobibliografia-de-maria-iordanidou.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Boa tarde, Francisco Braga.
Muito obrigado pelo excelente texto.
Continuação de bom fim de semana
Abraço.
Diamantino
Prezado Braga, muito grato pelo envio. Fernando Teixeira
Caro amigo Braga
Mais uma vez sentimo-nos no dever – e na alegria – de cumprimentá-lo por sua vasta produção literária, muitas vezes memorialista, através da qual o ilustre amigo e Maestro expressa sua invulgar inteligência e reconhecida cultura. Não se trata de um “afago” de amigos que lhe querem bem, mas uma realidade facilmente comprovada em seus inúmeros artigos.
Permita-nos dizer-lhe algumas palavras sobre o seu primeiro post, “O nosso pátio”, seguido de seu atraente comentário biográfico (com fotos!) sobre autora, Maria Iordanídou. Muito bom!
No artigo, a autora com muita propriedade conseguiu definir, exatamente, a vivência de uma pessoa que reside em um prédio de apartamentos – do tipo ‘malfadado’, conhecido como “especulação imobiliária” – onde o lucro do empreendedor se sobrepuja ao conforto e, muitas vezes, à dignidade de seus futuros moradores. Trata-se de um projeto arquitetônico conhecido como de “conforto mínimo”, onde os cômodos possuem apenas as reduzidas dimensões imagináveis para que ali possa residir uma pessoa.
Por outro lado, ressalte-se no artigo da escritora Maria Iordanídou, como os moradores deste tipo de prédio são obrigados a participarem da vida de seus vizinhos, conhecendo suas rotinas, além dos ruídos indesejáveis de seus banheiros, de suas vozes e gritos que tiram a tranquilidade de qualquer pessoa.
Apreciamos muito a leitura desse artigo que, com sua licença, pretendemos repassá-lo para nossos amigos arquitetos!
Dos amigos Mário e Beth
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