Por Francisco José dos Santos Braga
I. INTRODUÇÃO
Compositor francês Fernand Jouteux (✰ Chinon, 11/01/1866 -✞ Belo Horizonte, 16/09/1956), 1º Diretor do Conservatório de Música Sanjoanense |
No dia 14 de março p.p., uma quinta-feira, recebi um convite por e-mail do professor e pesquisador Paulo Augusto Castagna, com produção em musicologia histórica, arquivologia musical e edição musical, para comparecer, na segunda-feira seguinte (18 de março), à Fundação CEREM, em São João del-Rei, onde haveria a entrega da Coleção Francesa de Fernand Jouteux (1866-1956). A Coleção Jouteux a ser entregue ao CEREM tinha sido doada pela brasileira Carolina Magalhães, radicada na França, e organizada pelo missivista no Instituto de Artes da UNESP. Incluía partituras e documentos pessoais de grande riqueza sobre a produção do compositor e a vida musical em Pernambuco e Minas Gerais na primeira metade do século XX.
Por fim, informava que Fernand Jouteux é um compositor francês, que iniciou viagens ao Brasil em 1892 e radicou-se no país nos primeiros anos do século XX. Residiu principalmente em Garanhuns e Recife (PE) e, a partir de 1938, em Tiradentes (MG). Compôs grande quantidade de obras, muitas delas com temática brasileira, destacando-se a ópera "O Sertão", baseado no livro de Euclides da Cunha e representada em Belo Horizonte e Juiz de Fora em 1955.
Portanto, a convite do Prof. Dr. Paulo Augusto Castagna, tive a grata satisfação de comparecer, em 18/03/2019, na sede da Fundação CEREM-Centro de Referência Musicológica José Maria Neves, à solenidade de doação de "A Coleção Francesa de Jouteux", um acervo incluindo partituras impressas e manuscritas, recortes de jornais, programas de concertos, entre outros documentos, que pertenceram ao compositor, arranjador e regente francês FERNAND JOUTEUX (✰ Chinon, 11/01/1866-✞ Belo Horizonte, 16/09/1956), que visitou o Brasil pela primeira vez em 1892 e se radicou no Brasil, em companhia de sua esposa Magdeleine Aubry, a partir de 1911, inicialmente em Garanhuns-PE e, mais tarde, a partir de 1938, em Tiradentes. A doação foi feita pelo coordenador do CEREM e responsável pela guarda do acervo, musicólogo Paulo Augusto Castagna.
Além do doador, estiveram também presentes à solenidade de entrega do famoso acervo as seguintes personalidades: Maestro e Prof. Modesto Flávio Chagas Fonseca, Prof. Antônio Guimarães, Profª Camila Bomfim (EMESP), João Bosco de Castro Teixeira, Salomé Viegas, Rute Pardini Braga, Olinto Rodrigues dos Santos Filho (IHGT-Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes), Willer Silveira (SOBR-Sociedade Orquestra e Banda Ramalho de Tiradentes), Henrique Rohrmann (Secretário de Cultura de Tiradentes) e monitor Dr. Flávio Henrique da Silveira.
Permita-me inicialmente apresentar aos leitores do Blog do Braga o Prof. Paulo Castagna através de seu breve currículo:
"Paulo Castagna é docente do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP) desde 1994, Colaborador do Museu da Música de Mariana desde 2001, Pesquisador PQ do CNPq desde 2007 e membro do Conselho Consultivo da Fundação Centro de Referência Musicológica José Maria Neves (F-CEREM) desde 2012. Vem produzindo partituras, livros, artigos, cursos, conferências, programas de rádio e televisão na área de musicologia histórica, coordenando a pesquisa musicológica para a gravação de CDs e coordenando eventos científicos no campo da musicologia. Foi o coordenador das séries de partituras Acervo da Música Brasileira (Fundarq, 2001-2003) e Patrimônio Arquivístico-Musical Mineiro (Secretaria de Cultura de Minas Gerais, 2008-2011), idealizador e apresentador da série de programas de rádio Alma latina (Cultura FM de São Paulo, 2012) e um dos autores da série História da Música Brasileira (Telebras, 1999). Coordena o Laboratório de Conservação, Arquivologia e Edição Musical, destinado ao tratamento de acervos musicais históricos."
Do Prof. Dr. Paulo Castagna recebi o seguinte e-mail um dia depois da solenidade de entrega do acervo francês de Jouteux:
Prezado Francisco,
Inicialmente gostaria de agradecer sua presença e interesse no evento de ontem, bem como sua generosidade e disponibilidade em divulgar a Coleção Fernand Jouteux da F-CEREM e a própria memória de Fernand Jouteux no Campo das Vertentes.
Envio o arquivo do inventário, que contém algumas informações e bibliografia sobre Fernand Jouteux. Esse inventário também está disponível online em PDF, no endereço https://archive.org/details/InventarioColecaoJouteuxFCEREM, que agradeço divulgar. Criei também a página "Fernand Jouteux" na Wikipédia, que igualmente agradeço divulgar: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernand_Jouteux e estou começando a trabalhar na página "Centro de Referência Musicológica José Maria Neves" da Wikipédia, em https://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_de_Referência_Musicológica_José_Maria_Neves
Como mencionei ontem, há um documento na Coleção Jouteux do CEREM que indica que ele foi nomeado diretor do “Conservatório de Música Sanjoanense” (atual Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier) no período de sua criação, portanto entre 1951-1953, e pode ter sido o primeiro diretor dessa instituição. Infelizmente essa coleção não possui documentos que atestariam sua posse, mas a partir de agora é possível iniciar pesquisa a respeito. Envio uma imagem de uma parte desse documento e fico à disposição para enviar outras imagens mencionadas no inventário.
Abraço,
Paulo Castagna
O presente trabalho pretende dirimir a dúvida do Prof. Paulo Castagna:
No que se refere a São João del-Rei, teria sido Eugène Maurice Fernand Jouteux o primeiro diretor do Conservatório Pe. José Maria Xavier no período de sua criação, portanto entre 1951-1953?
II. CRIAÇÃO DO 1º CONSERVATÓRIO DE MÚSICA SANJOANENSE
Em 1937, Fernand Jouteux “esteve na onda” na cidade de São João del-Rei. Vejamos o destaque recebido pelo Maestro francês entre nós, através das páginas de A TRIBUNA, jornal são-joanense. Atendendo a solicitação de Prof. Paulo Castagna, temos, portanto, o prazer de responder a suas indagações reproduzindo nossos achados no periódico em questão. Os grifos são todos nossos.
Inicialmente, eis o comunicado do Conservatorio de Musica Sanjoannense aos leitores do periódico A TRIBUNA, Anno XXIII, edição nº 1.379, de 30 de maio de 1937, p. 2:
"RECEBEMOS do Conservatorio de Musica Sanjoannense o seguinte comunicado:
S. João del Rey, 27 de Maio de 1937.
Illmo. Sr. Redactor da "A Tribuna"
Cidade.
Tenho a honra de levar ao vosso conhecimento, bem como do vosso jornal, em nome do Sr. Director deste Conservatorio, que em data de 4 de Abril do corrente anno, às 15 horas, à Avenida Raul Soares n. 1, foi fundado o "Conservatorio de Musica Sanjoannense", tendo assim ficado constituida a sua primeira directoria:
Director Effectivo, Prof. Fernand Jouteux; Secretario, Sr. Sady Carnot Baltar; Thesoureiro, sr. Luiz Bini; Procurador, sr. Ricardo Mauro.
Fundadores: - Dr. José das Chagas Viegas, Paulo Campello, Aurelio de Almeida, José Victor D'Apparição, José Hilario, Pedro de Souza, Antonio Albuquerque, Srta. Maria Mercês Bini, Domingos de Oliveira Dias e Luiz de Oliveira.
Saudações Attenciosas.
Sady Carnot Baltar - Secretario"
Após localizarmos esta comunicação que procurávamos, fizemos uma pesquisa em todas as edições de A TRIBUNA, referentes ao ano de 1937, na expectativa de examinarmos se havia uma preparação prévia para o surgimento do 1º Conservatório de Música São-joanense. Assim sendo, nossa atenção inicialmente foi atraída por um dos fundadores do novo Conservatório. Trata-se do sr. LUIZ DE OLIVEIRA, cuja aparição reiterada no periódico A TRIBUNA nos surpreendeu, já que ele visita as páginas do periódico do dia 31 de janeiro até 14 de março daquele ano. Achamos interessante reproduzir os anúncios e críticas que apareceram, porque eles podem trazer elementos que facilitem a nossa compreensão do processo da criação do 1º Conservatório.
Na edição 1.362 de 31 de janeiro de 1937 de A TRIBUNA, p. 1, na coluna Vida Artística lê-se:
"A commissão organisadora (sic) dos 2 recitaes de violoncello que o prof. Luiz de Oliveira vae realizar, no nosso Theatro Municipal, decidio que os mesmos sejam realisados em meiados (sic) do proximo mez de Fevereiro, isto é, após os folguedos carnavalescos.
Luiz de Oliveira, um dos maiores violoncellistas brasileiros, que São João del-Rey hospeda actualmente, se apresentará ao publico de sua terra natal, com interessante programma que lhe permittirá pôr em relêvo os seus grandes dotes de artista previlegiado (sic) do arco.
Estes recitaes marcarão o inicio da Excursão Artistica que o festejado virtuose irá emprehender pelo Estado de Minas Geraes.
Após São João del-Rey, esse illustre maestro, que exerce as funcções de cathedratico de Violoncello e theoria musical, no Conservatorio Pernambucano de Musica, visitará Bello Horizonte, Barbacena, Juiz de Fóra e mais algumas cidades.
Esperemos, pois, mais um pouco por estas encantadoras horas de fina espiritualidade, com que Luiz de Oliveira nos brindará."
A edição nº 1.364 de A TRIBUNA, de 14/02/1937, p. 2 reitera o anúncio dos dois recitais programados para se realizarem no Theatro Municipal de São João del-Rei:
Vida Artistica
Estão sendo esperados, com justa ansiedade, os anunciados recitaes de Violoncello, que o Maestro Luiz de Oliveira realizará no Theatro Municipal.
Ainda não estão afixadas as datas, entretanto, podemos, desde já, adiantar que será por todo este fim de mez.
A commissão, encarregada da organização destas duas noitadas de fina arte, está envidando esforços para que se revista de um cunho altamente significativo este acontecimento, dadas as altas credenciaes do nosso estimado conterraneo, que é hoje um nome acatado nos altos centro musicaes do paiz e que tem sabido honrar, com galhardia, a terra em que nasceu."
Ainda não estão afixadas as datas, entretanto, podemos, desde já, adiantar que será por todo este fim de mez.
A commissão, encarregada da organização destas duas noitadas de fina arte, está envidando esforços para que se revista de um cunho altamente significativo este acontecimento, dadas as altas credenciaes do nosso estimado conterraneo, que é hoje um nome acatado nos altos centro musicaes do paiz e que tem sabido honrar, com galhardia, a terra em que nasceu."
Na edição 1.365 de A TRIBUNA, de 21/02/1937, p. 3 encontramos:
Recital de VIOLONCELLO
Na semana entrante, realizar-se-á, no Theatro Municipal, os dois recitaes do maestro Luiz de Oliveira.
Vai, assim, a culta sociedade sanjoannense ter occasião de assistir variados numeros de musica interpretados com maestria, pelo nosso illustre conterraneo.
O violoncellista Luiz de Oliveira, que iniciará com estes recitaes uma excursão artistica pelo Estado de Minas, tocará producções do Maestro Fernand Jouteux e de outros compositores nacionaes e extrangeiros (sic).
O professor Luiz de Oliveira será acompanhado ao piano pela senhorinha Maria das Mercês Bini.
Está assim constituida a commissão organizadora dessas duas noites de arte:
Dr. Belisario Netto
Maestro João E. Pequeno
Maestro Fernando Caldas
Tenente João Cavalcanti
Dr. Christovam Braga
Major Herculano Vellozo
Mozart Novaes
Na edição 1.365 de A TRIBUNA de 21/02/1937, lemos uma matéria intitulada
Theatro Municipal
Theatro Municipal
Na proxima 5ª feira, 25 do corrente, às 20 horas, realizar-se-á o 1º recital de Violoncello do Prof. Luiz de Oliveira, com o seguinte programma:
1ª PARTE
Gabriel-Marie La cinquantaine
Air dans le style ancien
L. Boccherini 3ª sonata em sol maior
Largo
Allº alla militaire
Menuetto
2ª PARTE
Georg Goltermann - 1º Concerto em lá menor
Allegro moderado
Cantilena-Andante
Allegro moderado
3ª PARTE
Saint-Saëns Le cygne
Schumann Rêverie
D. Popper Papillon
G. Goltermann Ballada n. 2
Emile Dunkler La fileuse
Ao piano: Senhorinha Maria Mercês Bini.
Na edição nº 1.366 de 28/02/1937, p. 1 de A TRIBUNA, lemos uma matéria intitulada
Maestro Luiz de Oliveira
Por Asterack Germano Lima
Bellas noitadas de musica, de verdadeira vibração artistica, de emoções e de enthusiasmo já se perdem num passado de três lustros, quando ainda éramos jovens.
Rememorar o passado é sempre agradavel, maxime quando se trata de reviver as scenas emotivas da vida, no relampaguear constante de luz que banha o nosso espirito ainda moço, avido dos encantos da natureza - em todas as suas manifestações de energia, de vida e de amor.
Luiz de Oliveira, o eximio violoncellista que, na noite de 25 do corrente, tão bem se exibiu na platéa do Theatro Municipal, é uma figura da musica brasileira, sempre festejada por onde tem passado, aqui e alhures, honrando e exalçando os foros de que goza a nossa grande e culta cidade, porque é filho de São João d'El-Rey.
Quinze annos são passados que pela primeira vez tivemos a grande honra de conhecer o artista sanjoannense em magestosas (sic) audições de violoncello, no saudoso quarteto da casa major Vasconcellos, no Largo das Mercês, em que figuravam Buys, Victor e Gelta.
Discrever (sic) aquellas noitadas de arte será tarefa de todo impossivel, bastando frisar, por isso mesmo, o valor dos componentes do quarteto.
Luiz de Oliveira, como todos tiveram a opportunidade de observar, conhece os mais reconditos segredos do instrumento de que é mestre.
O seu violoncello fala, geme e chora. Tem elle o encanto e a magia que só um artista póde conseguir e, nas vibrações, tão sonoramente magistraes, ninguem poderá deixar de render-lhe a homenagem de que faz jús, por onde quer que passe, como sóe acontecer neste momento em que escolheu para dar inicio a uma temporada, attravés de nosso glorioso Estado, a nossa grande cidade, como ponto inicial da sua excursão artistica, mostrando, com este seu gesto, que tem o carinho, que dedica inteira e immorredoura affeição à terra donde sahiu.
Promete-nos uma outra audição em breves dias e todos lá estarão, admirando, como nós, o grande violoncellista cujo nome já transpoz as fronteiras da nossa patria e que, actualmente, occupa, merecidamente, o logar de professor do Conservatorio de Recife.
Na mesma edição (1.366), ainda repercutia em primeira página de A TRIBUNA o concerto do violoncelista são-joanense:
Realisou-se, a 25 deste, no Theatro Municipal, o recital de Luiz de Oliveira, sanjoannense nato e festejado professor do Conservatorio de Recife. O exímio artista do arco foi acompanhado pela brilhante pianista senhorinha Maria Mercês Bini.
O concerto esteve à altura de um princípio e correspondeu à espectativa (sic) da selecta platéa, que não regateou aos virtuoses os seus francos e merecidos applausos.
A "A Tribuna", especialmente convidada, compareceu pelo seu redactor-chefe, e folga immenso em salientar que o illustre musicista, antigo discípulo de Ribeiro Bastos e filho desta terra, pelos seus predicados de artista, constitue uma das glorias de São João del-Rey e sabe empolgar o auditorio pela magia e encantamento da sua explendida (sic) execução.
Em efeméride do dia 25 de fevereiro de 1937, [GUERRA, 1968, 206] também registra os dois importantes recitais do violoncelista Luiz de Oliveira com informações preciosas sobre o compositor Fernand Jouteux e a amadora Suely Belo, distinta amadora do Clube Artur Azevedo:
"25-2-1937 - Recital de violoncelo, do laureado Professor do Conservatório de Pernambuco, LUIZ DE OLIVEIRA. São-joanense nato, antigo discípulo do saudoso maestro Ribeiro Bastos, que sabe sempre empolgar o auditório pela magia e encanto de sua esplêndida execução, podendo ser considerado uma das glórias da música são-joanense. Concorrência seleta lotou o nosso teatro e aplaudiu como muito merecia o festejado conterrâneo. No dia 11 de março foi realizado um segundo concêrto, dedicado ao grande maestro francês Fernand Jouteux, residente na cidade, com o concurso da amadora do "Artur Azevedo", Srta. Suely Belo, a qual em recente concurso interestadual foi escolhida para interpretar o papel-título do filme MARIA BONITA." (grifo nosso)
Localizamos ainda na edição 1.368 de 14/03/1937, p. 3 de A TRIBUNA a seguinte notícia sobre seu 2º recital:
CONCERTO
"25-2-1937 - Recital de violoncelo, do laureado Professor do Conservatório de Pernambuco, LUIZ DE OLIVEIRA. São-joanense nato, antigo discípulo do saudoso maestro Ribeiro Bastos, que sabe sempre empolgar o auditório pela magia e encanto de sua esplêndida execução, podendo ser considerado uma das glórias da música são-joanense. Concorrência seleta lotou o nosso teatro e aplaudiu como muito merecia o festejado conterrâneo. No dia 11 de março foi realizado um segundo concêrto, dedicado ao grande maestro francês Fernand Jouteux, residente na cidade, com o concurso da amadora do "Artur Azevedo", Srta. Suely Belo, a qual em recente concurso interestadual foi escolhida para interpretar o papel-título do filme MARIA BONITA." (grifo nosso)
Localizamos ainda na edição 1.368 de 14/03/1937, p. 3 de A TRIBUNA a seguinte notícia sobre seu 2º recital:
CONCERTO
Mais uma vez o consagrado musicista prof. Luiz de Oliveira ensejou aos seus conterraneos opportunidade para aprecial-o, em uma das suas magnificas exhibições.
Quinta-feira, ultima, no Municipal, com grande concorrencia, realizou-se com seu 2º concerto, com o concurso brilhante da esperançosa conterranea senhorinha Mercês Bini, apresentando variado programma.
A noite de arte, que agradou, plenamente, foi dedicado ao povo sanjoannense, na pessoa do seu illustre prefeito dr. Antonio Viegas, e ao maestro Fernand Jouteux.
Ainda a respeito deste primeiro ano de funcionamento do Conservatorio de Musica Sanjoannense, reproduzimos da edição nº 1.390 de A TRIBUNA, de 15/08/1937, p. 2 a seguinte notícia triste:
À MEMORIA DO PROF. JOSÉ VICTOR
A Directoria e o Conselho de Administração do Conservatorio de Musica Sanjoannense, fundado no 4 de Abril passado, e que vai abrir brevemente suas aulas, querendo prestar uma merecida homenagem à sympathica memoria do Professor JOSÉ VICTOR, um dos fundadores do dito Conservatorio, falecido no dia 31 de julho, - mandarão celebrar uma Missa Cantada de 30 dias na Matriz, a 31 do corrente mez, às 7 horas, com o concurso da Orchestra e dos Coros da Lyra. - Durante a Missa o Maestro Fernand Jouteux, director do Conservatorio, cantará o Requiem do seu Oratorio Joanna d'Arc.
Ficam convidados pelo presente Aviso, todos os Professores, musicos, amadores e amigos do antigo e sentido Mestre do 28º Batalhão de Infanteria (sic).
A edição nº 1.395 de A TRIBUNA, de 19/09/1937, na p.1, ainda fez a cobertura do 31º concerto da nossa "Sinfônica" nos seguintes termos:
SOCIEDADE DE CONCERTOS SYMPHONICOS
Com grande e fina concorrencia realizou-se quinta-feira, no Municipal, o 31º concerto dessa insigne sociedade artistica.
O programma muito agradou, recebendo francos aplausos, notadamente a soprano Jupyra Raposo Netto e as composições de J. Cavalcanti, Olavo Caldas, F. Jouteux e as "Danses Polovtsiènnes", de A. Barodine.
Foram inaugurados os palanques da Sociedade, que realçaram muito a disposição dos musicos.
Sobre esse histórico 31º concerto [GUERRA, 1968, 208] registrou:
"16-9-1937 - Em seu 31º programa desde a fundação, realizou a SINFÔNICA um concêrto com DANÇAS POLOVTSIANAS, de Alex Borodin e DANÇA CHINESA, de F. Jouteux e muitos outros números de real valor."
Resumindo: o que temos nas referidas edições de A TRIBUNA, no ano de 1937, é que Fernand Jouteux parece ter sido muito bem acolhido em São João del-Rei, tendo sido uma figura respeitada e enaltecida no meio artístico naquele ano de 1937 e que de fato exerceu o cargo de diretor do "Conservatorio de Musica Sanjoannense", um ano antes de seu estabelecimento em Tiradentes-MG em 1938.
Com mais folga na nossa apertada agenda voltaremos a este tema.
III. AGRADECIMENTO
"16-9-1937 - Em seu 31º programa desde a fundação, realizou a SINFÔNICA um concêrto com DANÇAS POLOVTSIANAS, de Alex Borodin e DANÇA CHINESA, de F. Jouteux e muitos outros números de real valor."
Resumindo: o que temos nas referidas edições de A TRIBUNA, no ano de 1937, é que Fernand Jouteux parece ter sido muito bem acolhido em São João del-Rei, tendo sido uma figura respeitada e enaltecida no meio artístico naquele ano de 1937 e que de fato exerceu o cargo de diretor do "Conservatorio de Musica Sanjoannense", um ano antes de seu estabelecimento em Tiradentes-MG em 1938.
Com mais folga na nossa apertada agenda voltaremos a este tema.
III. AGRADECIMENTO
A Rute Pardini Braga e à Profª Camila Bomfim pelas fotos que formataram e editaram para os fins desta matéria.
IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A TRIBUNA: periódico são-joanense que circulou durante todo o ano de 1937, cobrindo todos os eventos musicais de São João del-Rei.
GUERRA, Antônio. Pequena história de teatro, circo, música e variedades em São João del-Rei - 1717 a 1967. Juiz de Fora: Lar Católico, 1968, 327 p.
5 comentários:
É muito salutar ver um verdadeiro amor pelo Brasil. A biografia de FERNAND JOUTEUX é um caso de amor à primeira vista por nosso país.
É o que se constata ao ler um pouco da vida de Fernand Jouteux, compositor francês, ilustre aluno de Jules Massenet, que fez sua primeira visita ao Brasil em 1892 e se encantou com o que encontrou neste país. Retornou em companhia de sua esposa Magdeleine Aubry para se radicar em 1911, inicialmente em Garanhuns-PE e, mais tarde, a partir de 1938, em Tiradentes.
A convite do Prof. Dr. Paulo Augusto Castagna, tive a grata satisfação de comparecer, em 18/03/2019, na sede da Fundação CEREM-Centro de Referência Musicológica José Maria Neves, à solenidade de doação de "A Coleção Francesa de Jouteux", um acervo incluindo partituras impressas e manuscritas, recortes de jornais, programas de concertos, entre outros documentos, que pertenceram ao compositor francês. Portanto, a partir de então, a F-CEREM passa a sediar "A Coleção Francesa de Jouteux", encontrando-se à disposição de pesquisadores.
O presente artigo trata da presença luminosa de Fernand Jouteux em São João del-Rei durante todo o ano de 1937, antes, portanto, de seu estabelecimento em Tiradentes.
https://bragamusician.blogspot.com/2019/05/anotacoes-sobre-o-1-conservatorio-de.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Prezado Francisco,
Parabéns por tão minuciosa e relevante pesquisa, que esclareceu vários aspectos da passagem de Fernand Jouteux pelo Campo das Vertentes, particularmente sua nomeação como diretor do Conservatório de São João del-Rei em 1937. Sua contribuição ajuda a reconhecer Fernand Jouteux como um nome relevante da vida musical mineira e são-joanense. Espero que você prossiga as pesquisas sobre este e outros músicos que atuaram na região e siga contribuindo para desvendar enigmas da antiga vida musical mineira, como já o fez em outros casos, com destaque para o nascimento de João da Matta.
Grande abraço!
Paulo Castagna
Grato pelo envio da matéria. Abraço para você e Rute. Fernando Teixeira
Caro professor Braga.
Excelente a aquisição desse Memorial de F. Jouteux, uma importante fonte de pesquisa, bem como a oportunidade de sua apresentação a respeito do Primeiro Conservatório Musical, do contexto e de nomes da música sanjoanense da primeira metade do século XX! Bom trabalho.
Cumprimentos.
Cupertino
Caro Francisco! Sua pesquisa veio acrescentar importantes informações sobre Jouteux às recentes iniciativas de recuperação e guarda de seu acervo no CEREM. As informações que recolheu são também importantíssimas para esclarecimentos sobre a vida musical em São João del-Rei. Tenho recolhido várias informações sobre o músico através de outras hemerotecas brasileiras. A importância dos jornais para nossas pesquisas vem confirmar a necessidade de um tratamento, preservação, digitalização e disponibilização das hemerotecas de São João del-Rei, em especial a da Biblioteca Batista Caetano. IHG, Academia de Letras, IPHAN, UFSJ, Conselho de Patrimonio poderiam se unir nesta missão que contribuirá para avançarmos no conhecimento histórico . Agradeço o envio da matéria. Abraços, Suely Campos Franco (Escola de Música da UFRJ/IHG São João del-Rei)
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