LOUVOR AO BLOG

Por Francisco José dos Santos Braga

 

Posto Central de Achados e Perdidos funciona desde 1975 na Estação Sé

As dificuldades que um autor ainda desconhecido enfrenta para publicar um livro é um tema para muitas páginas, mas aqui vou tratá-lo de forma muito resumida. 

Muitas vezes, a criação da obra é a tarefa mais simples: o trabalho do autor não termina na última página escrita. Para chegar à publicação do texto, para alguns o caminho é muito longo e árduo. Fazer chegar ao leitor a obra já pronta é uma tarefa das mais complexas e em geral requer muita persistência por parte do seu autor, para vê-la editada. Alguns preferem encurtar o caminho partindo para a edição de autor, onde investem recursos do próprio bolso para tal. Neste caso, há editoras com foco nesse mercado, nas quais são oferecidos serviços especiais, como revisão e projeto gráfico. 

Quando o autor não tem fama e consequentemente tradição no campo editorial, resta contar com o recurso de servir-se de um blog para transmitir ideias e transformá-las em uma história que, de alguma forma, enriqueça a vida do leitor e represente uma contribuição cultural para a sociedade. 

Quando me perguntam o que é um blog, costumo responder que é um lugar onde você pode falar com os seus seguidores, sabendo, entretanto, que essa resposta é muito simplista, porque os blogs podem ser usados para muito mais do que isso. Mas, no meu caso, o meu blog não é de negócios, e sim pessoal, onde o contato com meus seguidores é o fator preponderante para trabalhar com carinho as minhas postagens na forma de artigos bem pesquisados e estilisticamente bem elaborados. 

Pode-se citar como uma das vantagens de ter um blog a de permitir que seu gerente estabeleça uma marca pessoal, sendo o conteúdo das postagens um fator predominante para aumentar a consciência de marca. 

Além de ser obrigatório desenvolver uma excelente habilidade de escrita, ainda é preciso adquirir conhecimento em SEO, uma sigla que em inglês é Search Engine Optimization, e que pode ser descrita como um conjunto de técnicas e estratégias para o blog ficar melhor posicionado nos buscadores, gerar reconhecimento de marca e aumentar as visualizações de seus artigos. Tipicamente, uma postagem de blog otimizada para SEO vai incluir palavras-chave que as pessoas pesquisam frequentemente nos mecanismos de busca. Adicionalmente, um blog bem desenhado terá uma seção de comentários, onde uma linha de comunicação possa ser criada entre os leitores e o autor.

 

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Tendo chegado a este ponto — seção de comentários do blog —, caro leitor, vou contar-lhe um fato ocorrido comigo na virada do ano para 2025. 

No domingo, 29 de dezembro, senti falta do meu RG. Minha amada esposa Rute Pardini Braga e eu reviramos todas as nossas roupas e valises, e não o localizamos entre os nossos pertences. Ela passou a questionar qual tinha sido a última vez que usei o documento, ciente de que só tinha sido usado para entrada livre nas estações do metrô. Devia tê-lo colocado no bolso esquerdo de minha jaqueta em todas as situações nas quais tive que usar o referido documento para passar pela catraca, lembrou ela.

Diante desse questionamento, não pude categoricamente definir qual tinha sido a última estação em que tive livre acesso ao metrô devido à idade (acima de 65 anos). Com base nos selfies dela, argumentou comigo que era possível identificar a última vez que eu o tinha usado naquela circunstância. Definida essa fase, a partir daí passamos a tratar das várias hipóteses.

Um print nosso aguardando a chegada do metrô na Estação São Bento: minha esposa Rute Pardini dava uma canja cantando Con Te Partiró, enquanto eu segurava o RG. Último dia em que o RG foi usado antes do seu sumiço.

Rute se fixou em nossa ida a um restaurante no dia 28, quando, ao me abrigar de uma chuva com a jaqueta sobre minha cabeça até ao carro e no caminho entre o restaurante e o estacionamento, concluindo que o RG teria caído do bolso no meio da rua. Após 10 dias do evento, estivemos no restaurante, falando com os funcionários e manobristas de veículos, e constatei que ninguém havia encontrado meu RG até aquela data. Senti-me derrotado.  

Comecei a imaginar diferentes situações, nas quais, alguém que porventura o encontrasse poderia maldosamente fazer uso do tal documento, por exemplo utilizando-o para a consecução de alguma ação delituosa ou simplesmente deixá-lo ali, na rua, ao léu.

Então, diante desse quadro, cheguei a imaginar-me pedindo a 2ª via do documento de identidade, que no estado de São Paulo, conforme anunciado, a partir de 2 de janeiro de 2025, passaria a ser substituída pela Carteira de Identidade Nacional - CIN. Mas independente disso, havia a vergonha de haver perdido pela primeira vez um documento nas ruas paulistanas. Alguns nos recomendaram abrir um B.O., para o qual não há a necessidade do comparecimento do interessado, pois existe o site de uma Delegacia Eletrônica para esse fim. Porém, antes dessa providência derradeira, Rute decidiu que percorreríamos ainda outros locais que frequentáramos antes do sumiço do RG, principalmente o metrô que possui uma uma espetacular e curiosa central de achados e perdidos do metrô paulistano na Estação da Sé. Expectativa frustrada! 

E o tempo foi passando sem resultado animador infelizmente. Chegou o ano novo, e nada. Minha estada em São Paulo estava chegando ao fim, calculando que o recurso à 2ª via do RG poderia se alongar até o último dia de nossa estada. 

Na noite do dia 9 recebi um comentário de um leitor do Blog do Braga que fazia interessante observação sobre sua última matéria intitulada “No Caraça... crime real?”. Decidi registrá-lo naquele mesmo instante, como faço de costume, e, ao fazê-lo, verifiquei outro comentário anterior de forma direta e anônima, postado em 19/12/2024. A princípio pensei que se tratasse de um leitor, mas, depois de ler uma segunda vez, percebi que o comentador que não se identificava falava de meu documento perdido, ou em suas próprias palavras: “Me perdoe o canal, mas te procurei pelas redes sociais sem sucesso. Encontrei sua identidade. Deixarei na recepção do hotel Laghetto Stilo SP (Oscar Porto, 836). Feliz Ano Novo!” Não acreditei no que estava lendo. “Alguém encontrou meu documento nesta selva de pedra”, comentei com minha esposa. 

De fato, confirmando a intuição de minha esposa, para quem o documento teria sido entregue a algum estabelecimento comercial nas cercanias do restaurante, a distância entre este e o hotel é de cerca de 300 metros.

Certamente, essa pessoa anônima teria encontrado meu RG na rua e, em seguida, feito uma pesquisa no Google buscando pelo meu nome, foi direcionado para meu último trabalho até então no blog. Ao entrar na referida matéria e postar o seu comentário, conseguiu efetivar um contato comigo, obtendo, sim, o maior sucesso. Fiquei radiante: “Um amigo anônimo! Como gostaria de conhecê-lo.”

Restava ainda uma dúvida: teria a recepção do hotel se cansado por não termos aparecido até o dia 9 de janeiro? De fato, nesta data tentamos contato com a recepção do hotel por diversas vezes, mas não atenderam nossa chamada telefônica, certamente por ter sido feita à noite. Ficamos ainda com a ansiedade por mais 12 horas, e no dia seguinte, 10/01/2025, fizemos novo contato com o hotel que, desta vez, gentilmente nos tranquilizou com a informação de que o documento estava em sua posse, resguardado na recepção. Imediatamente dirigimo-nos ao hotel e o documento voltou às nossas mãos. A recepção garantiu-nos que o trouxera um homem desconhecido (não hóspede), que tinha deixado o documento, que foi então colocado dentro de um envelope lacrado. Agradecemos muito e retiramo-nos. 

A caminho do meu hotel fiquei pensando: Quem será essa pessoa abençoada e muito caridosa, com senso de responsabilidade, que não se identificou no blog? Como não tenho o nome do meu beneficiário, nem tenho outro meio de contato a não ser meu blog, vou utilizá-lo para manifestar minha gratidão a você, meu benfeitor, por seu sentimento de empatia e solidariedade. 

Acredito que tudo o que é bom e de utilidade pública deve ser compartilhado, ainda mais quando esse gesto de educação, respeito e amor ao próximo esteja diretamente vinculado a mim, através desta minha plataforma. Nutro a esperança de que haja mais e mais pessoas boas próximas a mim como esse meu “bom samaritano”. 

Quando você, leitor, não possuir o e-mail ou telefone de alguém aflito pela perda de seu documento, acesse a matéria mais recente de um eventual blog de sua propriedade, como fez meu benfeitor e deixe sua mensagem nos “comentários”. Assim agindo, poderá trazer paz e consolo àquele que só pensa na contribuição cultural que eventualmente possa estar trazendo à sociedade. 

Por enquanto, gracias a la vida que me ha dado tanto... volto para casa feliz com o desfecho desse imbroglio.