quinta-feira, 8 de julho de 2021

TRIBUTO À PROFª HEBE RÔLA: 90 ANOS DE VIDA / 75 ANOS DEDICADOS À EDUCAÇÃO E À CULTURA MARIANENSE


Por Francisco José dos Santos Braga 
 
Em Mariana / A ARTE esvoaça no dobre dos sinos / Canta nas bandas de música / Nos conjuntos de seresteiros, nos corais / Pinta nos tetos dos templos e / Esculpe as portas dos sacrários / Desenha nas fraldas das montanhas / Borda nas minas e nos leitos dos rios... 
Hebe Rôla

 

Crédito: Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas

I. INTRODUÇÃO

No dia 16 de maio de 2021, a Casa de Cultura de Mariana - AML, a Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil - ALACIB e a ALDRAVA LETRAS E ARTES abriram as comemorações do nonagésimo aniversário da Presidente da Casa de Cultura – Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes, HEBE RÔLA, que se deu em 23 de junho. 

Profª Hebe foi homenageada com a edição do livro “HEBE RÔLA – 90 anos de vida / 75 anos dedicados à Educação e à Cultura Marianense”, organizado pela Acadêmica e escritora Andreia Donadon Leal, que fez a entrega da edição impressa à personalidade homenageada. Andreia destacou o trabalho exemplar e contínuo da educadora e ativista cultural da Primaz de Minas na Apresentação do livro: 

Minha gratidão à professora Hebe Rôla é imensurável. Meu anjo da guarda nos tempos de graduação, quando cursava Letras na Universidade Federal de Ouro Preto. Ela, várias vezes me socorreu, abrigando-me em sua casa até que melhorasse, pois naquele tempo sofria de irremediável problema de saúde. Completando 90 anos e na presidência da Casa de Cultura – Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes, ativa participante da ALACIB MARIANA e da ALDRAVA LETRAS E ARTES e na coordenação da Academia Brasileira de Autores Aldravianistas – Infanto-juvenil e da Academia Marianense Infanto-juvenil de Letras, Ciências e Artes (idealizadora e coordenadora); enfrenta a pandemia produzindo e publicando em redes sociais, Hebe continua com a vitalidade de sempre. Essa vitalidade não poderia deixar de ser comemorada com a publicação deste livro em sua louvação. Convidei acadêmicos, parceiros de trabalho e de vida literária para participarem desta publicação. Prontamente todos atenderam e enviaram textos que marcam a grandeza do espírito criativo, empreendedor e benevolente da mais popular professora de Mariana. 
Fiquei feliz com o resultado. Essa publicação, embora singela, é uma sincera homenagem da Casa de Cultura – Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes, da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil (ALACIB-MARIANA), da ALDRAVA LETRAS E ARTES, da Academia Brasileira de Autores Aldravianistas – Infanto-juvenil, da Academia Marianense Infanto-juvenil de Letras, Ciências e Artes e da Universidade Federal de Ouro Preto à sua louvável trajetória profissional, artística, literária e de pessoa que prestou assistência à sociedade desmedidamente. 
Parabéns por esta data natalícia, e desejos de muitos anos de vida!”. 

 

Crédito: Jornal Aldrava Cultural

 

II. ENTREVISTA virtual da Profª Hebe Rôla no seu nonagésimo aniversário concedida ao Acadêmico Francisco José dos Santos Braga / Membro da ACADEMIA MARIANENSE DE LETRAS

Na impossibilidade de entrevistar presencialmente D. Hebe Maria Rôla Santos devido à pandemia, imaginei uma entrevista ficcional ou imaginária em que HR – sigla do nome da entrevistada – concede a entrevista a FB – sigla do nome do autor. O leitor poderá questionar: “Na impossibilidade de entrevistar pessoalmente HR, não podia tê-lo feito por escrito?” Até entendo. Mas se o tivesse feito, teria sido muito real, teria perdido o meu foco, eis que o meu objetivo era ser virtual, sem a pretensão de ser linear nem exato. Deixo à entrevistada decidir qual teria sido o melhor caminho. 
Vamos à Entrevista: 
 
No auge dos seus 90 anos, a Professora Emérita da UFOP-Universidade Federal de Ouro Preto e Presidente da Academia Marianense de Letras, educadora, poetisa, escritora, pesquisadora do folclore e da cultura, entre outras atribuições, continua trabalhando e afirma não querer parar. É ela que nos conta sobre sua paixão pela educação e pelas letras numa entrevista exclusiva. 
 
“IN HOC ALIQUID GAUDEO DISCERE ET DOCERE” (Sêneca)
Nisso consiste nossa alegria: aprender para ensinar.
 
FB: Presidente Hebe, é impressionante seu dinamismo e liderança nas suas múltiplas atividades. A sra. não pensa em descansar um pouco? 
HR: Eu continuo trabalhando porque eu quero retribuir ao povo o que ele sempre me deu e me dá. Porque o povo é bom, nós precisamos só ajudá-lo a se conduzir. 
 
FB: Além dessa questão de retribuir, é o amor pela profissão que faz a sra. continuar? 
HR: Eu não consigo parar. Eu não sei... tenho uma força propulsora que me leva às escolas. Eu considero que lá é meu lugar também. Porque eu tenho que conviver também com as outras gerações. Então, é assim uma espécie de respeito, de carinho  com a criança, o jovem e o idoso da minha terra. 
 
FB: Qual a razão de ter escolhido a profissão de educadora? 
HR: Primeiro, eu queria ser advogada. Queria defender todo o mundo que não tivesse defesa. Aquele senso de justiça que a gente tem. Mas, depois, eu tive uma experiência de pequenininha no infantil: na escola eu era monitora da professora. Isso era chique demais. Eu comecei a ver que era tão bom ensinar e comecei a aprender muito para ensinar e a estudar muito para ser uma professora digna. Porque o professor que não estuda está fadado a ser considerado um mau professor. 
 
FB: Como pesquisadora do folclore, especialmente de personagens, cantigas, linguagem dos sinos, histórias, parlendas e causos da Região dos Inconfidentes, o que a sra. tem a nos dizer sobre sinos? 
HR: Venho estudando os toques e repiques de sinos em Mariana e Ouro Preto desde a década de 1980 e até já dediquei um livro à criançada, intitulado “O Bem-Te-Sino” (2004). A obra fala de um bem-te-vi que queria ser um sino de Mariana, cidade que também conserva esse velho sistema de comunicação entre a Igreja e a população. E, para encantar ainda mais as crianças, carrego, para as minhas palestras, todos os personagens do livro, em forma de brinquedos. Antes da pandemia naturalmente, na Escola Dom Benevides (de tempo integral), as turmas do 1º ao 5º ano ficavam de olhos grudados e ouvidos atentos para não perder nenhuma das minhas explicações. Antes da palestra, costumava convocar, especialmente para a ocasião, a centenária Sociedade Musical União XV de Novembro para a abertura, tocando um trecho de Os Sinos de Minha Terra, do compositor marianense Aníbal Walter. 
Assim, conclui o prefacista J.B. Donadon-Leal: 
“(...) a bela história de O Bem-Te-Sino, lapidada por Hebe, cumpre com uma função fundamental: a formação da cultura de apoio e incentivo à criatividade infantil. É isto que nos ensina a família Bem-Te-Vi ao aceitar as peripécias do filho diferente, mas ao mesmo tempo o filho se dispõe a utilizar suas habilidades para o bem social. A singela história de O Bem-Te-Sino é uma profunda aula de virtudes, além de ser um registro inequívoco da linguagem dos sinos, por pouco silenciadas das torres das igrejas históricas de Minas, mas agora perpetuada pela exaustiva pesquisa de Hebe Rôla e pela docilidade da divulgação dessa linguagem para um público em formação. Que todos os sinos cantem em sua homenagem, Hebe Rôla.”

 

Em 2012, houve o lançamento do meu livro “Chitarô. Cadê o Gato?”, dedicado ao público infanto-juvenil, com ilustrações criativas e atrativas, oferecendo atividades de passatempo, testes de conhecimento e leitura sintética das histórias em quadrinhos. Para além da aparente simplicidade textual, a obra privilegia a virtude da valorização dos laços familiares que proporcionam estabilidade tanto à vida das pessoas, quanto à dos animais. 

 
FB: E na UFOP? Como foi lecionar nessa universidade tão importante? 
HR: Eu tive experiências exitosas na UFOP. Um dos projetos que eu fiz lá – também foi de extensão – foi o projeto da linguagem dos sinos que resultou no “Pequeno Dicionário da Linguagem dos Sinos”. Não era só eu: chamei outros professores para participarem. Foi muito bom esse projeto. Sempre na UFOP eu voltei os olhos para a comunidade, para casar mesmo a UFOP com a comunidade. Então, por isso, eu não trabalhei na UFOP por 40 horas no princípio, não. Fiquei vários anos no Estadual e na UFOP para fazer essa ligação entre a universidade e o ensino fundamental e médio. Eu acho que é necessária essa ligação e na UFOP felizmente a gente fez bons e sérios trabalhos, trabalhamos muito no vestibular, trabalhamos muito com a extensão e trabalhamos com a pesquisa também. 
 
FB: Então, de certa forma, a sra. considera que sua atividade acadêmica na UFOP despertou no seu íntimo o desejo de continuar a sua missão dentro de Academias de Letras, das quais participa? 
HR: Não há dúvida de que anos a fio trabalhei com a língua e a literatura portuguesa nas escolas e na universidade. Fiquei muito familiarizada com muitos poetas simbolistas, em especial com a obra poética de Alphonsus de Guimaraens, marcadamente mística e religiosa. Esses meus estudos de suas obras me despertaram para a minha própria produção poética, como exerceram em mim um fascínio pelas Academias de Letras por sua característica de serem um local propício para troca de experiências intelectuais e divulgação de ricos trabalhos e pesquisas. 
 
FB: De que Academias a sra. participa hoje? 
HR: Bem. Sou Presidente da Academia Marianense de Letras com muita honra, depois que Dr. Roque Camêllo nos deixou em 2017. Como era sua vice-presidente, fui eleita para sucedê-lo, como é natural nesses casos. Trabalhei com Dr. Roque por cerca de dez anos e fiz por onde ter a sua confiança como sua vice, além de termos muitas características em comum: o magistério, a produção literária, o amor à língua portuguesa, o culto às letras e às artes, e, acima de tudo, nossa identificação no ardente desejo de alçar Mariana ao pedestal de Primaz do Brasil. Você sabe o quanto eu admirava Dr. Roque. 
 
FB: Qual foi a sua participação no convite dirigido a mim para pertencer à Academia de Mariana? 
HR: Todos sabemos que era desejo de Dr. Roque trazê-lo para o nosso convívio. Quando ele não se achava mais entre nós, achei por bem respeitar o desejo dele. Mas não só dele: o escultor marianense Hélio Petrus se empenhou muito para vê-lo empossado. Igualmente, os Acadêmicos Dom Francisco Barroso Filho e Frederico Ozanan Santos também endossaram o seu nome. Mais tarde, conforme você sabe, a Diretoria Executiva decidiu sugerir-lhe o nome do próprio Roque Camêllo para seu patrono, destinando-lhe a Cadeira no 23, que você ocupa desde 1o de junho de 2019. 
 
FB: Além da Academia Marianense de Letras, a sra. participa de outras Academias? 
HR: Fui honrada com o convite de outras Academias para pertencer ao seu quadro de sócios. Ocupo desde 2011 a Cadeira de no 317 na AMULMIG-Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, cujo patrono é José Severiano de Resende, poeta marianense simbolista, e a Cadeira no 5 da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil - Mariana, cujo patrono é Alphonsus de Guimaraens. Tenho ainda a grata satisfação de pertencer, como membro efetivo, ao Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais de Minas Gerais, de ser Secretária da Aldrava Letras e Artes e Embaixadora Universal da Paz pelo Círculo Universal dos Embaixadores da Paz, entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). 
 
FB: Como detentora de diversas honrarias, qual delas lhe dá mais orgulho, além de ser professora emérita da UFOP? 
HR: Agradeço-lhe a lembrança desses gratos momentos em minha vida. De fato, tenho idêntico orgulho da Medalha do Dia de Minas, concedida pelo governo mineiro; a Comenda Padre Avelar, pela Câmara Municipal de Mariana; a Medalha Cláudio Manoel da Costa, pelo Centro de Ensino Federal Tecnológico de Ouro Preto; a Comenda Irmã Dulce, pelo Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais na Confederação das Academias de Letras e Artes do Brasil. Valorizo igualmente todas essas demonstrações de carinho para com o meu trabalho, porque significam um reconhecimento de meu destaque em algum projeto que desenvolvi ou que venho desenvolvendo através de contação de causos e histórias nas escolas estaduais e municipais da Região dos Inconfidentes, criando a Academia Infanto-Juvenil de Letras e Artes de Mariana, dirigindo um curso de iniciação ao teatro ou, por fim, criando e promovendo o “Cantando Alphonsus”, em parceria com o Museu Casa Alphonsus de Guimaraens. Olha. Os prêmios para mim me entristecem um pouco. Por um lado, eu fico feliz com eles, por serem uma honra muito grande. Mas ao mesmo tempo eu penso: “Gente, eu tenho que trabalhar muito mais para fazer jus a essa titulação que eu ganhei.” Eu vejo nisso uma responsabilidade igualmente grande. Aí eu começo a trabalhar mais, mas meu organismo hoje já não pode competir com um jovem. 
 
(extraída do livro “HEBE RÔLA – 90 anos de vida/75 anos dedicados à Educação e à Cultura Marianense”, p. 32-38)
 
 

III. BIBLIOGRAFIA

 

DONADON LEAL, Andreia (org.): HEBE RÔLA: 90 anos de vida / 75 anos dedicados à Educação e à Cultura Marianense, Mariana: Aldrava Letras e Artes, 1ª edição, 2021, 128 p.

9 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

No dia 23/06/2021, PROFª HEBE RÔLA completou 90 anos de idade e 75 anos de magistério em prol da cultura de Mariana. Dentre suas múltiplas atividades, destaca-se a de ser presidente da Casa de Cultura de Mariana - AML-Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes. A Acadêmica ANDREIA DONADON LEAL teve a feliz ideia de homenageá-la com um livro com a participação de vários admiradores da aniversariante intitulado “HEBE RÔLA – 90 anos de vida / 75 anos dedicados à Educação e à Cultura Marianense”. O Blog do Braga presta sua homenagem a esta personalidade da cultura marianense, reproduzindo aqui a Entrevista virtual que ela ficticiamente concedeu ao gerente do Blog do Braga e que saiu publicada no livro nas páginas 32-38.
Parabéns à Profª Hebe por seus 90 anos bem vividos, desejando-lhe também muitos anos de vida e felicidade!

https://bragamusician.blogspot.com/2021/07/tributo-prof-hebe-rola-90-anos-de-vida.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Edésio de Lara Melo (professor do Departamento de Música da UFOP) disse...

Caro professor Braga. Parabéns pela merecida homenagem conferida à professora Hebe. Saudações.

Frei Joel Postma o.f.m. (compositor sacro, autor de 5 hinários, cantatas, missas e peças avulsas) disse...

Viva professora Hebe Rôla, e todas e todos que enriquecem e promovem a rica cultura deste grande Estado! Com meus votos franciscanos de "Paz e Bem!" para vocês! Grande abraço! f. Joel.

Andreia Donadon Leal (membro efetivo e tesoureira da Academia Marianense de Letras) disse...

Prezado confrade, Dr. Francisco Braga.
Boa noite!
Imprimimos 200 livros. O lançamento da obra foi em sessão especial na sede da Academia Marianense de Letras/ no dia 23 de junho, às 9:00/ com participação de 7 pessoas: da homenageada/ prefeito de Mariana, Juliano Duarte; Vice-presidente da Casa de Cultura: Dr. J.B.Donadon e Tesoureira: Andreia Donadon Leal; da Secretária de Cultura de Mariana: Andréa Umbelino.

Participaram, também, a neta da professora Hebe Rôla (Kim), e a presidente do Movimento Renovador de Mariana: Raimunda dos Anjos.
Sua entrevista foi publicada/ agradeço-o, penhoradanente! Sua participação é motivo de orgulho.

FORAM INÚMERAS HOMENAGENS à maior Educadora da cidade de Mariana: Hebe Rôla/ exímia e atuante Presidente da Casa de Cultura - Academia Marianense de Letras.

Atenciosamente, Andreia Donadon Leal

Pe. Sílvio Firmo do Nascimento (professor, escritor e editor da Revista Saberes Interdisciplinares da UNIPTAN e membro da Academia de Letras de SJDR) disse...

Recebido e agradecido
Att. Pe. Sílvio

Paulo Roberto Sousa Lima (escritor, gestor cultural e presidente reeleito do IHG de São João del-Rei para o triênio 2021-2023) disse...

Parabéns, confrade, pela invencionice com profundo senso de realidade. Pelo visto você está se especializando em "entrar no sapato" do outro e num gesto maior que empatia, você reconstrói caminhos de vida, como fez com o Mestre Sebastião Cintra e seus curricula. Viva! Bravo!
Abraços fraternos,
Paulo Sousa Lima

Pedro Rogério Couto Moreira (membro da AML-Academia Mineira de Letras, jornalista, cronista e memorialista mineiro) disse...

Saúdo a ilustre mestra, exemplo maior do professorado de Minas e do Brasil.

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga,
"In hoc aliquid gaudeo - discere et docere"; de fato, este "dístico" resume o louvável elogio à pessoa e à figura da professora Hebe, cuja trajetória enaltece uma profissão por si já edificante.
Grato.
Cuper

Dr. Mário Pellegrini Cupello (escritor, pesquisador, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, e sócio correspondente do IHG e Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caro amigo Braga

Agradecemos pelo envio.

Abraços, de Mario e Beth.