sexta-feira, 15 de outubro de 2021

JOSÉ MARIA ÁLVARES DA SILVA CAMPOS


Por Francisco José dos Santos Braga 

 
Dedico esta página aos Acadêmicos da ADL-Academia Divinopolitana de Letras, que neste ano comemora seu 60º aniversário, em especial ao Pe. José Raimundo Bechelaine, que, em reunião ordinária da ADL no dia 09/10/2021, relembrou triste episódio de morte acidental de sete quintanistas do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei, em intervenção muito pertinente à substanciosa palestra de Dr. Célio Tavares sobre a vida e obra de José Maria Álvares da Silva Campos, personalidade notável que inspira a presente crônica. 

Foto de José Maria Álvares da Silva Campos - Crédito: Arquivo da ADL por intermédio do Acadêmico
Arnaldo Mesquita Santos Júnior
 
No começo do corrente ano, fiz uma postagem sobre Dona Sinhá Neves ¹ , em crônica de Gentil Palhares intitulada "Dona Sinhá Neves, uma vida para exemplo!" em homenagem à respeitável matrona são-joanense, mãe de doze filhos, dentre os quais se destaca o saudoso presidente Tancredo de Almeida Neves.  Meu comentário de nº 3 naquela postagem permito-me transcrever aqui: 
"Em 27 de novembro de 1936, quintanistas do Ginásio Santo Antônio faziam uma excursão à Usina de Carandaí quando uma ponte caiu, resultando em muitas mortes e feridos. 
[CINTRA, 1967, 227] ²  descreveu o trágico acontecimento da seguinte forma: "Os bacharelandos do Ginásio Santo Antônio de S. João del-Rei, acompanhados pelo Pe. Frei Norberto Beaufort, realizavam um passeio à usina hidroelétrica do Rio Carandaí. Postaram-se numa ponte, nas proximidades da usina, pedindo ao citado franciscano que batesse uma fotografia. Após a execução da fotografia, a ponte desabou, perecendo no Rio Carandaí os jovens seguintes: Gastão de Almeida Neves, Humberto Álvares da Silva Campos, Geraldo Castanheira de Carvalho, João de Oliveira Resende, José Darci dos Reis Meireles, José Rivadávia Estêves Guedes e Raimundo Moreira Guimarães."

No referido comentário ainda fiz o seguinte acréscimo à efeméride do historiador são-joanense:

Consta ainda, agora na tradição oral são-joanense, que, após a foto, todos os alunos saltaram sobre a ponte pênsil, o que ocasionou a forte distensão dos cabos ou tirantes que, não suportando o empuxo, romperam-se. Praticamente, todos se feriram no acidente: uns, devido à queda violenta sobre pedras, sete, em razão da fatalidade da morte súbita devido à violência da queda ou afogamento." 
Esta é reconhecidamente uma página triste, não só do Ginásio Santo Antônio, mas de São João del-Rei, pois esse trágico acontecimento, em que sete ginasianos perderam a vida, entre eles, Gastão de Almeida Neves, filho de Dona Sinhá Neves, marcou não apenas o coração dos familiares dos rapazes ceifados na flor da idade, mas também foi uma comoção atroz para toda a população são-joanense. 
 
Neste momento, entretanto, vou tratar do desaparecimento de Humberto Álvares da Silva Campos, filho de uma personalidade ilustre de Divinópolis: José Maria Álvares da Silva Campos, o farmacêutico formado pela Escola de Farmácia em Ouro Preto, proprietário da antiga Farmácia Campos situada na Rua Goiás, kardecista convicto, cofundador da ADL-Academia Divinopolitana de Letras, tendo inaugurado a Cadeira nº 3, para a qual escolheu como patrono Machado de Assis, e autor do livro "Evocação", segundo Dr. Célio Tavares, obra fundamental do "grande e insigne poeta" que honra a poesia brasileira. 
 
Anteriormente, o poeta José Maria Campos tinha sido louvado também com muita propriedade por Augusto Ambrosio Fidelis, por ocasião do 57º aniversário da ADL, em feliz referência a sua veia poética escorreita e inigualável, nos seguintes termos ³
Empossado na Cadeira nº 3, José Maria Álvares da Silva Campos, além dos seus afazeres como farmacêutico, legou ao município belíssima obra, particularmente no que tange à poesia, como no soneto de sua autoria: 
SAUDADE
Quando um dia seguires o teu caminho, 
Guia os teus passos com serenidade; 
Não penses nunca que ficou sozinho, 
Quem ficou sob o amparo da saudade. 
 
Esse sentir não nasce da verdade, 
E sim do grande afeto, do carinho 
E na sua azulada claridade 
O distante se torna tão pertinho. 
 
Há de ser venturoso todo aquele 
Que conseguir deixar um pouco dele 
Após o instante da separação. 
 
A vida é assim. Mas seja como for 
Há glória no destino quando o amor 
Permanece no nosso coração.
 
Bem, agora vamos à lenda. Como dizia o geógrafo, historiador e cofundador do IHG de São João del-Rei, Geraldo Guimarães, em entrevista à TV Del Rei , “a lenda é mais fácil de ser divulgada do que a própria história, porque a lenda é mais romântica, mais bonita, mais interessante, mais fácil de ser guardada”, diferentemente do fato histórico que se nutre de fontes históricas constituídas por elementos feitos pelo homem e cujos vestígios ele deixou no passado. 
 
Pois bem. Conforme tinha dito no início, compareci ao elogio acadêmico que Dr. Célio Tavares fez ao poeta José Maria Álvares da Silva Campos e ali ouvi atentamente o aparte de Pe. J. R. Bechelaine. De fato, o franciscano holandês Norberto Beaufort fotografou o último instante de vida de seus sete alunos e teria ficado completamente traumatizado com o desfecho fatal para os rapazes, razão por que teria afixado numa parede, como lembrança dos rapazes, aquele último registro fotográfico deles ainda vivos. E sob este anotou: 
"Esta é apenas uma fotografia na parede. 
Mas como dói!" 
Sabe-se que Drummond de Andrade, no seu poema "Confidência do Itabirano", termina da mesma forma seu conhecido poema: 
"Itabira é apenas uma fotografia na parede. 
Mas como dói!" 
É fato historicamente comprovado que Drummond tenha plagiado o gesto e o escrito de frei Norberto? Em segundo lugar, plagiou a partir do que viu, ou ouviu dizer de terceiro que viu? Ou tudo não passa de mera coincidência que se tornou lenda para adormecer crianças? 

 

II. NOTAS  EXPLICATIVAS

 

¹  PALHARES, Gentil: Dona Sinhá Neves, uma vida para exemplo!, in Blog de São João del-Rei, postado em 11/01/2021
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/01/dona-sinha-neves-uma-vida-para-exemplo.html
 
² Na data de hoje, os são-joanenses comemoramos o 103º aniversário do saudoso professor Sebastião de Oliveira Cintra (15/10/1918-19/08/2003), autor de "Efemérides de São João del-Rei" e de "Galeria das Personalidades Notáveis de S. João del-Rei", data coincidente com a homenagem que prestamos ao Dia do Professor e, por extensão, ao historiador Cintra por ter sido professor com registro.

 
⁴  Link: https://www.youtube.com/watch?v=_XiB9Sadglw (de 03:44 a 03:50) 
 

III. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA  

 

CINTRA, Sebastião de Oliveira: Efemérides de São João del-Rei, 2º volume, Juiz de Fora: Ofic. Gráf. da Sociedade Propagadora Esdeva (edição do autor), 1967, 288 páginas

8 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
Por ocasião do 60º aniversário da Academia Divinopolitana de Letras neste ano de 2021, festejado no dia 8 de junho, achei conveniente revisitar alguns Acadêmicos imortais, dentre os quais se destaca o "grande e insigne poeta" que honra a poesia brasileira: JOSÉ MARIA ÁLVARES DA SILVA CAMPOS, cofundador da nossa Casa da Cultura divinopolitana.
Por isso, estou postando uma crônica de minha autoria homenageando-o no Blog do Braga.

Link: https://bragamusician.blogspot.com/2021/10/jose-maria-alvares-da-silva-campos.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Diamantino Bártolo (professor universitário Venade-Caminha-Portugal, gerente de blog que leva o seu nome http://diamantinobartolo.blogspot.com.br/) disse...

Boa Tarde
Francisco Braga.
Muito obrigado. Parabéns pelo seu excelente trabalho.
Abraço.
Bom final de semana.
Diamantino

Memorial de Corguinhos disse...

Parabéns e obrigado, meu caríssimo confrade.

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga
Passando por episódio doloroso, pelas menções a personalidades respeitáveis no âmbito da memória local e uma curiosa dúvida literária, outra muito interessante crônica.
Parabéns e minha gratidão pela oportunidade de leitura.
Cumprimentos
Cupertino

Célio Tavares disse...

Ilustre confrade Francisco Braga!
Obrigado pelo elogio à minha saudação ao poeta e acadêmico, José Maria Campos, ele é merecedor de toda a minha dedicação ao estudo da sua bela obra!

Raquel Naveira (membro da Academia Matogrossense de Letras e, como poetisa publicou, entre outras obras, Jardim Fechado, antologia poética em comemoração aos seus 30 anos dedicados à poesia) disse...

Caro Francisco Braga
Que história triste e trágica dos jovens mortos na ponte.
Lembrei de história semelhante de rapazes que estavam num avião, que caiu às margens do rio Apa, na fronteira do Paraguai.
O marco está lá até hoje.
Figuras interessantes como Sinhá Neves e José Maria Campos, na resistência e na dor.
Abraço grande,
Raquel Naveira

Anônimo disse...

Ele era meu bisavô! Kkkkk