Por Francisco José dos Santos Braga
Dedico esta página aos Acadêmicos da ADL-Academia Divinopolitana de Letras, que neste ano comemora seu 60º aniversário, em especial ao Pe. José Raimundo Bechelaine, que, em reunião ordinária da ADL no dia 09/10/2021, relembrou triste episódio de morte acidental de sete quintanistas do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei, em intervenção muito pertinente à substanciosa palestra de Dr. Célio Tavares sobre a vida e obra de José Maria Álvares da Silva Campos, personalidade notável que inspira a presente crônica.
Foto de José Maria Álvares da Silva Campos - Crédito: Arquivo da ADL por intermédio do Acadêmico Arnaldo Mesquita Santos Júnior |
No começo do corrente ano, fiz uma postagem sobre Dona Sinhá Neves ¹ , em crônica de Gentil Palhares intitulada "Dona Sinhá Neves, uma vida para exemplo!" em homenagem à respeitável matrona são-joanense, mãe de doze filhos, dentre os quais se destaca o saudoso presidente Tancredo de Almeida Neves. Meu comentário de nº 3 naquela postagem permito-me transcrever aqui:
"Em 27 de novembro de 1936, quintanistas do Ginásio Santo Antônio faziam uma excursão à Usina de Carandaí quando uma ponte caiu, resultando em muitas mortes e feridos.
[CINTRA, 1967, 227] ² descreveu o trágico acontecimento da seguinte forma: "Os bacharelandos do Ginásio Santo Antônio de S. João del-Rei, acompanhados pelo Pe. Frei Norberto Beaufort, realizavam um passeio à usina hidroelétrica do Rio Carandaí. Postaram-se numa ponte, nas proximidades da usina, pedindo ao citado franciscano que batesse uma fotografia. Após a execução da fotografia, a ponte desabou, perecendo no Rio Carandaí os jovens seguintes: Gastão de Almeida Neves, Humberto Álvares da Silva Campos, Geraldo Castanheira de Carvalho, João de Oliveira Resende, José Darci dos Reis Meireles, José Rivadávia Estêves Guedes e Raimundo Moreira Guimarães."
No referido comentário ainda fiz o seguinte acréscimo à efeméride do historiador são-joanense:
Consta ainda, agora na tradição oral são-joanense, que, após a foto, todos os alunos saltaram sobre a ponte pênsil, o que ocasionou a forte distensão dos cabos ou tirantes que, não suportando o empuxo, romperam-se. Praticamente, todos se feriram no acidente: uns, devido à queda violenta sobre pedras, sete, em razão da fatalidade da morte súbita devido à violência da queda ou afogamento."
Esta é reconhecidamente uma página triste, não só do Ginásio Santo Antônio, mas de São João del-Rei, pois esse trágico acontecimento, em que sete ginasianos perderam a vida, entre eles, Gastão de Almeida Neves, filho de Dona Sinhá Neves, marcou não apenas o coração dos familiares dos rapazes ceifados na flor da idade, mas também foi uma comoção atroz para toda a população são-joanense.
Neste momento, entretanto, vou tratar do desaparecimento de Humberto Álvares da Silva Campos, filho de uma personalidade ilustre de Divinópolis: José Maria Álvares da Silva Campos, o farmacêutico formado pela Escola de Farmácia em Ouro Preto, proprietário da antiga Farmácia Campos situada na Rua Goiás, kardecista convicto, cofundador da ADL-Academia Divinopolitana de Letras, tendo inaugurado a Cadeira nº 3, para a qual escolheu como patrono Machado de Assis, e autor do livro "Evocação", — segundo Dr. Célio Tavares, obra fundamental do "grande e insigne poeta" que honra a poesia brasileira.
Anteriormente, o poeta José Maria Campos tinha sido louvado também com muita propriedade por Augusto Ambrosio Fidelis, por ocasião do 57º aniversário da ADL, em feliz referência a sua veia poética escorreita e inigualável, nos seguintes termos ³:
“Empossado na Cadeira nº 3, José Maria Álvares da Silva Campos, além dos seus afazeres como farmacêutico, legou ao município belíssima obra, particularmente no que tange à poesia, como no soneto de sua autoria:
SAUDADE
Quando um dia seguires o teu caminho,
Guia os teus passos com serenidade;
Não penses nunca que ficou sozinho,
Quem ficou sob o amparo da saudade.
Esse sentir não nasce da verdade,
E sim do grande afeto, do carinho
E na sua azulada claridade
O distante se torna tão pertinho.
Há de ser venturoso todo aquele
Que conseguir deixar um pouco dele
Após o instante da separação.
A vida é assim. Mas seja como for
Há glória no destino quando o amor
Permanece no nosso coração.”
Bem, agora vamos à lenda. Como dizia o geógrafo, historiador e cofundador do IHG de São João del-Rei, Geraldo Guimarães, em entrevista à TV Del Rei ⁴, “a lenda é mais fácil de ser divulgada do que a própria história, porque a lenda é mais romântica, mais bonita, mais interessante, mais fácil de ser guardada”, diferentemente do fato histórico que se nutre de fontes históricas constituídas por elementos feitos pelo homem e cujos vestígios ele deixou no passado.
Pois bem. Conforme tinha dito no início, compareci ao elogio acadêmico que Dr. Célio Tavares fez ao poeta José Maria Álvares da Silva Campos e ali ouvi atentamente o aparte de Pe. J. R. Bechelaine. De fato, o franciscano holandês Norberto Beaufort fotografou o último instante de vida de seus sete alunos e teria ficado completamente traumatizado com o desfecho fatal para os rapazes, razão por que teria afixado numa parede, como lembrança dos rapazes, aquele último registro fotográfico deles ainda vivos.
E sob este anotou:
"Esta é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!"
Sabe-se que Drummond de Andrade, no seu poema "Confidência do Itabirano", termina da mesma forma seu conhecido poema:
"Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!"
É fato historicamente comprovado que Drummond tenha plagiado o gesto e o escrito de frei Norberto? Em segundo lugar, plagiou a partir do que viu, ou ouviu dizer de terceiro que viu? Ou tudo não passa de mera coincidência que se tornou lenda para adormecer crianças?
II. NOTAS EXPLICATIVAS
¹ PALHARES, Gentil: Dona Sinhá Neves, uma vida para exemplo!, in Blog de São João del-Rei, postado em 11/01/2021
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/01/dona-sinha-neves-uma-vida-para-exemplo.html
² Na data de hoje, os são-joanenses comemoramos o 103º aniversário do saudoso professor Sebastião de Oliveira Cintra (15/10/1918-19/08/2003), autor de "Efemérides de São João del-Rei" e de "Galeria das Personalidades Notáveis de S. João del-Rei", data coincidente com a homenagem que prestamos ao Dia do Professor e, por extensão, ao historiador Cintra por ter sido professor com registro.
⁴ Link: https://www.youtube.com/watch?v=_XiB9Sadglw (de 03:44 a 03:50)
III. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CINTRA, Sebastião de Oliveira: Efemérides de São João del-Rei, 2º volume, Juiz de Fora: Ofic. Gráf. da Sociedade Propagadora Esdeva (edição do autor), 1967, 288 páginas
8 comentários:
Prezad@,
Por ocasião do 60º aniversário da Academia Divinopolitana de Letras neste ano de 2021, festejado no dia 8 de junho, achei conveniente revisitar alguns Acadêmicos imortais, dentre os quais se destaca o "grande e insigne poeta" que honra a poesia brasileira: JOSÉ MARIA ÁLVARES DA SILVA CAMPOS, cofundador da nossa Casa da Cultura divinopolitana.
Por isso, estou postando uma crônica de minha autoria homenageando-o no Blog do Braga.
Link: https://bragamusician.blogspot.com/2021/10/jose-maria-alvares-da-silva-campos.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Boa Tarde
Francisco Braga.
Muito obrigado. Parabéns pelo seu excelente trabalho.
Abraço.
Bom final de semana.
Diamantino
Parabéns e obrigado, meu caríssimo confrade.
Caro professor Braga
Passando por episódio doloroso, pelas menções a personalidades respeitáveis no âmbito da memória local e uma curiosa dúvida literária, outra muito interessante crônica.
Parabéns e minha gratidão pela oportunidade de leitura.
Cumprimentos
Cupertino
Ilustre confrade Francisco Braga!
Obrigado pelo elogio à minha saudação ao poeta e acadêmico, José Maria Campos, ele é merecedor de toda a minha dedicação ao estudo da sua bela obra!
Caro Francisco Braga
Que história triste e trágica dos jovens mortos na ponte.
Lembrei de história semelhante de rapazes que estavam num avião, que caiu às margens do rio Apa, na fronteira do Paraguai.
O marco está lá até hoje.
Figuras interessantes como Sinhá Neves e José Maria Campos, na resistência e na dor.
Abraço grande,
Raquel Naveira
Ele era meu bisavô! Kkkkk
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