Abaixo serão transcritas as principais impressões de Bispo, após a participação nos três eventos em que se analisou detidamente o livro de Colombani:
"As linhas principais da biografia de Carlos Gomes, que se repetiriam no futuro, já se encontram delineadas no texto de Colombani.
Colombani menciona a revista humorística ambrosiana Se sa minga, representada pela companhia Antonio Scalvini (1835-1881) no Teatro Fossati, em 1866, lembrando ter alcançado um estrepitoso sucesso. Essa popularidade era devida sobretudo à canção Il fucile ad ago, inspirada na vitória de Sadowa.
Com essa menção, Colombani traz à consciência, de passagem, a participação artística de Carlos Gomes no estado de espírito marcado pelos anelos nacionais italianos e que visavam a libertação de cidades e regiões que ainda se encontravam sob a égide austríaca. A vitória da aldeia de Sadowa, no dia 3 de julho de 1866, conhecida em geral como batalha de Königgrätz, dizia respeito à guerra alemã no combate aos exércitos da Áustria e da Saxônia. Pelo apoio italiano aos alemães, prometera-se à Itália a região de Veneza. Menciona também o êxito da revista Nella luna. (...)
Carlos Gomes, segundo Colombani, teria tido uma índole vivacíssima, fantasia fogosa, imaginosa, irrequieta. Segundo as suas palavras, o fogo das suas origens esquentava o sangue de suas veias. (...)
Essas observações de Colombani adquirem significado no debate sobre o tropical na psicologia cultural, uma vez que oferece um retrato de Carlos Gomes como sendo um compositor tropical e latino, vendo no fogo do seu temperamento principal fator do seu sucesso.
Para Colombani, o personagem de Il Guarany, tirado da história do Brasil, não poderia ter sido melhor escolhido pelo brasileiro, que nele se revelou com toda a paixão de sua natureza temperamental e do fogo do seu espírito.
Certamente, a Fosca que Gomes oferecera em fevereiro de 1873 no Teatro alla Scala seria a ópera mais completa e mais magistral do compositor, mas fora no Il Guarany que Carlos Gomes teria respeitado com mais sinceridade a sua própria índole, sendo a esta espontaneidade que a ópera devia o seu principal sucesso e a sua própria razão de ser.
Colombani relativizava, com essas palavras, o significado de uma consideração exclusivamente guiada por critérios de obra, defendendo uma perspectiva antes cultural ou psicológico-cultural como explicação da extraordinária recepção da obra na Itália. (...)
O compositor brasileiro teria procurado plasmar formas mais completas, mais bem elaboradas, superando-se a si próprio nas óperas que se seguiram. O público, porém, não o seguiu nesse caminho de aperfeiçoamento. Sentiu a artificialidade do seu desenvolvimento e abandonou-o. (...)
O quadro geral oferecido pelo musicógrafo era assim aquele de um compositor que pelas suas próprias qualidades pessoais e culturais, seu temperamento tropical e sua espontaneidade, tinha alcançado popularidade na esfera do teatro de revistas, uma receptividade que se potencializara em Il Guarany. À medida que, procurando se aperfeiçoar, perdera a espontaneidade do ser "aborígene americano", perdera também a simpatia do público.
Carlos Gomes passou a ser assim considerado desde meados de 1970 nos debates relativos a processos relativos à identidade de brasileiros na Europa como um exemplo histórico do experimentado por migrantes latino-americanos. (...)"
"...em 1866 obtém sua carta de alforria dos estudos (no Conservatório de Milão sob a supervisão de Lauro Rossi) e recebe o almejado diploma de maestro-compositor. É o ano também do primeiro triunfo, a revista musical Se sa minga, um inequívoco sucesso na Milão da época. Segue-se outra, Nella Luna, de não menos boa recepção.
Este foi o começo de uma carreira de certa forma irregular pelas poucas obras produzidas em comparação às várias tentativas de iniciar diversos trabalhos. Entretanto, Gomes começa a ocupar seu espaço no cenário milanês. Em 1870 recebe o título de Cavaleiro da Coroa da Itália e no ano seguinte casa-se com uma italiana com distinguidos dotes musicais, Adelina Peri. Progressivamente, sua presença nesse cenário se afirma." (p. 16)
(...) Verifica-se, então, que em sua trajetória, o que ocorre é um aperfeiçoamento de estilo, não apenas de técnica. (...)" (p. 17)
Como compositor de óperas apresentava os três elementos essenciais: um pleno domínio da técnica composicional, uma inventividade melódica invulgar e um agudo senso de desenvolvimento dramático. Mas seu sucesso em Milão não foi meramente o de um excelente compositor – Gomes entendeu seu ambiente de trabalho e soube perceber, e concretizar em suas óperas, exatamente o que este ambiente pontualmente desejava. (...) A aceitação de Gomes na Itália reside na sua competência em oferecer o produto certo no momento adequado. Entretanto, não se pode deduzir ou traduzir disto um epíteto de genialidade." (p. 21)
Porém, pode-se especular que o grande motivo da derrota de Gomes foi sua ousada libertação do jugo dos editores. Contra toda a tendência da época, Gomes resolve ser seu próprio editor e dispensa a fundamental vinculação aos editores. De fato, suas três últimas óperas foram mantidas fora do 'establishment'." (p. 22)
Razão adicional para esta difícil situação de encontrar-se fora da proteção do editores, é a entrada massiva da 'Giovane Scuola', com suas óperas mais fáceis de serem montadas e com bilheterias certas e fartas pelas novidades do Verismo. Então, as condições adversas eram muitas e, para completar, a República proclamada em 1889 agrega-se ao cenário negativo à que se submete um Gomes adoentado porém, e isto é altamente revelador e merece ser cuidadosamente estudado, compulsivamente preocupado com a manutenção e sustento dos filhos (VETRO, 1982, 1998; REGO, 2004)." (p. 22-3) (grifo nosso)
"Se fôssemos colocar um subtítulo para Odaléa (ou Condor), seria provavelmente 'a ópera injustiçada'. Aqui Antonio Carlos Gomes está no auge de seu refinamento orquestral e melódico, mas a peça não emplacou: foi a obra certa no momento mais errado..." (grifo nosso)
"Como na Fosca, percebe-se no Condor um esforço consciente de renovação formal. Há soluções harmônicas e empregos vocais que mostram o quanto Gomes acompanhava as modificações introduzidas pelos veristas no idioma do melodrama italiano – e que, na verdade, ele antecipara nas páginas mais inovadoras da Fosca ou da Maria Tudor. Haja vista a tessitura ousada do “Vampe folgori, rivolte!”, na entrada de Odaléa no início do ato III, seguida da declamação entrecortada de “Febre fatal, sogno crudel d’ebra follìa!”, marcada andante cantabile con grande passione. (...) Há também, lado a lado do reconhecível estilo melódico do compositor – aqui tão inspirado quanto no Schiavo – um refinamento de expressão que mostra Gomes em dia com a ópera francesa, de que Condor retém o modelo: a elegância da música faz pensar em Gounod, Saint-Saëns, Massenet.
Um dos sinais da atenção à escola francesa, é o grande cuidado de Gomes – traço também presente na nova escola – em caracterizar musicalmente os ambientes (isso, de resto, já fora anunciado pela “Alvorada” do Escravo). O ambientismo ¹ do Condor está presente nos temas de sabor oriental que ele utiliza. Mas a escrita orquestral é muito bem trabalhada, não só no Prelúdio de abertura, no Noturno que introduz o ato III, ou no balé, mas também no acompanhamento instrumental, muito elaborado, e de alto grau de autonomia em relação à linha vocal. (...)
É evidente que Condor, em 1891, tinha poucas condições de agradar a um público que – como diz Julian Budden – “já tinha provado o sangue verista”. A história ingênua e de um orientalismo já fora de moda, a má qualidade poética de um libreto cheio de lugares-comuns, o formato de grand-opéra não mais condizente com as óperas compactas, ágeis e intensas praticadas pelos veristas já não atendiam mais ao gosto do dia.
Mas é simplesmente não ter prestado atenção à partitura supor que ela assinale um declínio criativo do compositor. O melodismo de Gomes está lá, sim, mas com movimentos mais flexíveis. O corte dos temas é menos tradicional do que no Guarany; menos popularesco do que no Salvator Rosa. Levam um passo à frente a madura expressão da Maria Tudor e do Schiavo. Há em Condor, em suma, a busca visível de um novo roteiro estético; ou, como diz Andrade Muricy, “não um 'canto de cisne', mas uma indistinta, tateante aurora”.
Condor/Odaléa tem divisão em números muito tênue. Tende para a estrutura em blocos contínuos que Verdi consolidara no Otello; e, nesse sentido, confirma uma tendência já perceptível no autor desde o Guarany. Além da predominância, já observada, do tipo de vocalidade que faz a voz ascender subitamente do registro central para a região aguda – técnica que vai proliferar no Verismo –, é característica no Condor a preocupação com um tipo de declamação que valorize a clara pronúncia das palavras. E esse é outro ponto em que está intimamente associada à nova escola."
De [COELHO, 2002], pinço ainda as seguintes informações de forma resumida:
Após a encomenda, Gomes não teve mais que cinco meses para compor a ópera, que estreou em 21 de fevereiro de 1891 no Scalla com um elenco de primeira categoria, mas foi recebida com frieza pelo público, apesar da regência de Leopoldo Mugnone e do bom elenco: Hericlea Darclée, Adele Stehle, Erina Borlinetto, Giovanni Battista De Negri, Francesco Navarrini e Pio Marini. Um ano antes, subia ao palco a Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, uma revolução nos cânones operísticos italianos de então, que faria cair no gosto do público o formato dos veristas, da Giovane Scuola.
Carlos Gomes introduziu em Odaléa mais inovações, mas a sua peça não era tão avançada como a de Mascagni: a crítica, sem uma análise aprofundada da partitura, estampou Gomes como um compositor tradicional demais. Ainda assim, a ópera teve dez récitas, contra 11 do Lohengrin e 23 da Cavalleria; portanto, foi a segunda mais assistida no Scalla em 1891. Haveria ainda uma apresentação, em 27 de janeiro de 1893, no Carlo Felice de Gênova. Depois disso, a ópera nunca mais foi apresentada na Itália.
Gomes a apresentou no mesmo ano no Rio de Janeiro, mas sua imagem, tão ligada ao imperador D. Pedro II, deposto pouco tempo antes, também fez com que o público e a crítica cariocas o vissem como um profissional antiquado, analisando-o pela sua postura política, e não pela sua música.
Dessa forma, Odaléa/Côndor, foi apresentada apenas por uma temporada no Brasil e duas na Itália na última década do século XIX, e executada poucas vezes no século XX. Com o distanciamento que só o tempo proporciona, críticos e musicólogos têm afirmado que Condor é uma ópera das mais bem elaboradas de Carlos Gomes. É perceptível que ele buscava um caminho novo e o estava encontrando, aproximando-se da escola francesa.
Antes, porém, de trazer novos elementos à apresentação da ópera Odaléa (ex-Côndor) de Carlos Gomes, vamos esgotar esta seção de contribuições de pesquisadores brasileiros.
Ouçamos primeiro o que diz o professor e historiador da Arte, Jorge Coli, sobre o libreto do desconhecido Marco Canti, de que se serviu Carlos Gomes para a fatura de sua última ópera:
"Esse poema inspirado, ao mesmo tempo extático, angustiado e voluptuoso, permitiu uma transformação na arte de Carlos Gomes."
"crítica desnorteada quando Pelléas et Mélisande, de Debussy, estreou",
"o espírito deliquescente que habita Pelléas, é, sem dúvida, o mesmo do qual emanou Côndor."
"A ópera Condor apresenta duas peculiaridades em face do restante da produção de Carlos Gomes: é sua última ópera e foi a única encomenda que Carlos Gomes recebeu durante toda a sua carreira. Junto com a encomenda, já lhe foi entregue para musicar o libreto de Mario Canti, poeta obscuro e a respeito de quem não se tem muitas referências. Por volta de 1890, Carlos Gomes, além de já sentir os sintomas da doença que o mataria em poucos anos, vivia um péssimo momento financeiro. Após uma série de percalços, sua ópera anterior, Lo Schiavo, foi representada no Rio de Janeiro em 1889, mas, por problemas judiciais, nunca conseguiu que ela fosse encenada na Itália. Assim, o convite dos empresários Cesare e Enrico Corti, que representavam a editora Sonzogno na temporada 1890-91 do Teatro alla Scala de Milão, trouxe, além dos ganhos financeiros, um novo alento, já que era uma oportunidade única de retornar àquele teatro, então a casa de ópera mais importante da Europa e onde havia estreado Il Guarany em 1870."
"(...) Após a Proclamação da República, Carlos Gomes ficou à margem da política institucional oficial da Capital Federal, ao retribuir com lealdade o apoio de D. Pedro II, recentemente deposto, e permanecendo um monarquista até o fim dos seus dias. Gomes pôs-se em hostilidade com o novo regime logo após a instalação da República ao se recusar a compor o novo hino nacional encomendado pelas autoridades governamentais. A ofensa foi ainda maior porque o compositor recusou a soma em dinheiro que havia sido enviada pelo governo republicano quando da solicitação oficial. Esse gesto teve uma repercussão prejudicial na relação de Gomes com a estrutura do poder do Rio de Janeiro durante muitos anos. A visão negativa que o compositor tinha do novo regime não mudou mesmo quando, nomeado por Floriano Peixoto, serviu na delegação brasileira durante a Exposição Universal Colombiana de Chicago (1893). ² (...)
A associação de Gomes com o velho regime foi um álibi para que compositores mais novos buscassem neutralizar o seu prestígio mantendo-o alijado do Instituto Nacional de Música (anteriormente Imperial Conservatório de Música). ³ Depois que Leopoldo Miguez assumiu a direção do Instituto Nacional de Música, não havia lugar para Carlos Gomes naquela instituição. ⁴ (...)
A carreira de Gomes foi abalada, ainda, pela recepção negativa que seu poema vocal-sinfônico Colombo teve em sua estreia no Teatro Lírico do Rio de Janeiro em 1892. Artigo publicado na época indica que o insucesso da estreia de Colombo, marcada pela "frieza glacial do público", deveu-se em grande parte ao mau desempenho do conjunto vocal-orquestral. Tal recepção foi agravada pelo impacto do wagnerismo com a revelação de Tannhäuser ao público do Rio de Janeiro, executado alguns dias antes [no mesmo teatro]. (...)
Depois dos wagnerianos nas décadas de 1890 e 1900, os modernistas na década de 1920 deflagraram o segundo assalto sobre o legado de Gomes. (...)
O crítico Oscar Guanabarino "irritou-se com todos os 'avanguardistas da Arte Moderna"'; e encabeçou uma reação feroz contra os detratores de Gomes e defensores do Modernismo. (...)
O crítico Oscar Guanabarino foi chamado insolentemente por Menotti del Picchia de "o ser da época terciária", por defender Carlos Gomes e deprecar "o monstro da Arte Nova" representado na música brasileira por Villa-Lobos. (...)"
II. Enredo da ópera Odaléa
IV. ODALÉA (ex-Côndor) no 150º aniversário do maior compositor operístico das Américas (1836-1986)
Personagens e intérpretes
Últimas palavras de Armando Belardi no seu livro "VOCAÇÃO E ARTE: MEMÓRIAS DE UMA VIDA PARA A MÚSICA" (São Paulo: Casa Manon, 1986, p. 169-70) ⁵
"Vocação e Arte" por Armando Belardi, pág. 170 |
"(...) Como última realização da minha longa existência, tomei a iniciativa de fundar uma Associação para a cultura e desenvolvimento da Arte lírica entre nós.
Assim, em 27 de fevereiro de 1985, no Auditório "Mário de Andrade" da Biblioteca Municipal, reuni numeroso grupo de maestros, artistas, críticos e cultores da arte em nosso meio, para tratar do assunto. E assim, após longo diálogo, foi aprovada a fundação da Associação Brasileira de Teatro de Ópera, com ramificações em todo o País.
Para Presidente foi eleito o ilustre Vereador à Câmara Municipal de São Paulo, Dr. João Brasil Vita, amante da arte e do lírico.
A Associação tem por finalidade orientar e educar em todos os sentidos os cantores líricos (que há muitos) encaminhando-os aos estudos necessários nas partes: vocal, cênica e educativa, através de uma organização que não existe entre nós, e que teria que ser uma obrigação do poder público, mas que a A.B.T.O. espera desenvolver com apoio das autoridades culturais do Estado e do Município.
E para concerto inaugural da Associação e dando início às comemorações do sesquicentenário de nascimento do maior compositor operístico das Américas, nos dias 14 e 16 de março de 1986, realizamos um concerto com músicas de Carlos Gomes, tendo a participação da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e Coral Lírico, cedidos pela Prefeitura, com os cantores Niza de Castro Tank, Renata Lucci, Sergio Albertini, Andrea Ramus e Benedito Silva, tendo como auxiliares, os maestros Marcello Mechetti, Roberto Tibiriçá, além da minha direção geral e regência.
A apresentação foi um sucesso de público que lotou os dois concertos.
Nos dias 29 e 31 de agosto, a Associação realizou um concerto que ficará nos anais artísticos culturais de São Paulo e do País, com a ópera "Odaléa" de Carlos Gomes. Havia muito desejava apresentar a ópera, o que foi possível apenas em forma de concerto, pois sabia que seria do agrado do público, por ser uma obra-prima do compositor e inédita em São Paulo.
Os artistas que se apresentaram foram Renata Lucci (Odaléa), Niza de Castro Tank (Adin), Teresa Boschetti (Zuleida), Sergio Albertini (Condor), Benedito Silva (Almazor) e Jairo Vaz (Mufti), que se portaram magistralmente, à altura da difícil partitura gomesiana.
Será isto o que pretendo deixar à posteridade, e aos estudantes do Teatro de ópera em nosso Estado e no País.
Com esta última programação termino esta minha Autobiografia, procurando narrar um pouco do que conheci da vida cultural, artística e social da nossa Cidade. Procuro descrevê-la em minúcia, na certeza de que muitos assuntos que relato são completamente desconhecidos da maioria da população paulista dos últimos 50 anos. Procurei ser sincero, pois tornei-me, na maioria das vezes, participante vivo dos acontecimentos.
São Paulo, setembro 1986"
"Vocação e Arte" por Armando Belardi, p. 171 |
V. NOTAS EXPLICATIVAS
a maioria dos exemplos de prelúdio, compostos à época do Côndor, tem características intimistas representadas por andamentos lentos ou moderados, orquestra reduzida e uma certa tendência para melodias em legato, desenvolvidas em frases longas que descrevem grandes arcos. Outro ponto em comum é o desejo de criar com essas peças orquestrais um ambiente adequado para o que se seguiria na cena dramática. [KIMBELL, 1991: 627] define esse termo e sua conotação como um “desejo de compor o décor em música; de evocar o ambiente no qual o drama estava sendo desenvolvido e que se tornou uma das tarefas mais estimulantes para os compositores”. Kimbell vê no ambientismo algo análogo ao que os escritores do Verismo procuravam criar também em suas produções: “um quadro vívido das cenas de suas histórias por meio da precisa descrição documental dos mais simples detalhes”.
nomeado como um dos representantes brasileiros para a Comissão Universal Colombiana de Chicago, foi aconselhado pelo governo brasileiro a retornar a Milão e aguardar uma comunicação oficial que nunca chegou. Resolveu embarcar para os Estados Unidos por conta própria e ali chegando foi praticamente ignorado pela Comissão Brasileira. Não conseguiu apresentar nenhuma obra de vulto, nem mesmo o Poema vocal-sinfônico Colombo, pois os recursos do governo brasileiro, embora instituídos por lei, nunca chegaram. Fica a dúvida se isso teria sido fruto de desorganização burocrática ou de boicote a um suposto simpatizante do Império.
⁴ Em carta datada de 12 julho de 1895, a Manoel José de Sousa Guimarães, Gomes desabafa: "No Rio, não me querem nem para porteiro do Conservatório [sic]".
⁵ Odaléa/Côndor foi a última ópera de Carlos Gomes. Coincidentemente, da mesma forma, a apresentação desta ópera foi o "canto do cisne" de Armando Belardi no cenário operístico paulista, no sentido de que essa expressão designa a derradeira e mais importante obra do Maestro. Nela transparece o seu raro talento, como se tivesse reunido, no último instante de sua vida, todos os seus dotes artísticos. Temos aqui um caso típico "di incontro dell'arte con la vita".
COELHO, L.M.: A Ópera Italiana Após 1870, São Paulo: Editora Perspectiva, 2002, 448 p.
COLI, Jorge: Cantos orientais, in Folha de S. Paulo, coluna Ponto de fuga, 11/12/2005
Link: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1112200502.htm 👈
MURICY, Andrade. “Condor, notas sobre a esthetica dessa ópera”. In Revista Brasileira de Música, vol. III, fasc. 2, p. 300-307. Rio de Janeiro, 1936.
NOGUEIRA, L.W.M.: Ópera Condor, Campinas: Notas Musicais (informativo eletrônico da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas), [s.d.]
Link: http://www.osmc.com.br/informativo/011/principal.html 👈 -
VIRMOND, M.C.L.: Condor de Antônio Carlos Gomes – uma análise de sua história e música. Bauru: Edusc, 2003.
_________________: Construindo a ópera Condor: o pensamento composicional de Antônio Carlos Gomes, 1º vol., 2007, 419 p.
VIRMOND, M.C.L., MARIN, R.M.T. & TOLEDO, E.: Destruindo o mito e construindo o homem: revendo Antônio Carlos Gomes, ICTUS (PPGMUS/UFBA), vol. 9, nº 1, 2008, p. 57-72.
VIRMOND, M.C.L., NOGUEIRA, L.W.M. & MARIN, R.M.T. “Exotismo e Orientalismo em Antônio Carlos Gomes”. Anais do XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – ANPPOM, p. 535-541. Brasília, 2006.
VIRMOND, M.C.L., NOGUEIRA, L.W.M. & TOLEDO, E.: "Sobre uma alternativa composicional de Antônio Carlos Gomes na ópera Condor", Goiânia: OPUS, v. 13, n. 1, p. 40-53, jun. 2007.
VOLPE, Maria Alice: Carlos Gomes: a persistência de um paradigma em época de crepúsculo, in Revista Brasiliana (ABM-Academia Brasileira de Música), nº 17, maio de 2004, p. 02-11
11 comentários:
Prezad@,
Odaléa/Condor estreou em 21 de fevereiro de 1891 no Scalla com um elenco de primeira categoria, mas foi recebida com frieza pelo público e pela crítica, apesar da regência de Leopoldo Mugnone. A crítica, sem uma análise aprofundada da partitura, estampou Gomes como um compositor tradicional demais. Ainda assim, a ópera teve dez récitas, contra 11 do Lohengrin e 23 da Cavalleria Rusticana; portanto, foi a segunda mais assistida no Scalla em 1891. Haveria ainda uma apresentação, em 27 de janeiro de 1893, no Carlo Felice de Gênova. Depois disso, a ópera nunca mais foi apresentada na Itália.
Foi apresentada apenas por uma temporada no Rio de Janeiro, mas sua imagem, tão ligada ao imperador D. Pedro II, deposto pouco tempo antes, também fez com que o público e a crítica cariocas o vissem como um profissional antiquado, analisando-o mais pela sua postura política (monarquista), e não pela sua música.
Nesta sua última ópera, Carlos Gomes revela-se um compositor criativo, renovador e com grande capacidade de trabalho, o que contrasta com o período imediatamente anterior em que produziu poucas obras e deixou várias inacabadas. Ao mesmo tempo, mostra estar em busca de um caminho novo, ao aproximar-se da música francesa, embora se ressinta de perda de espontaneidade no auto-desenvolvimento.
https://bragamusician.blogspot.com/2022/02/odaleacondor-1891-ultima-opera-de.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Caro professor Braga;
Importantes apontamentos de estudo sobre a que terá sido a última ópera da glória brasileira que foi Carlos Gomes. Igualmente oportuna a avaliação das circunstâncias desafortunadas que a envolveram, chegando ao ponto do desprestígio estético lançado pela efeméride do Modernismo de 22, talvez mais pela própria representatividade do gênio de Carlos Gomes para uma época que deveria ser ultrapassada. Aliás, muito bom o vídeo anexado.
Grato
Cupertino
Caro amigo Maestro Braga
Agradecemos pela gentileza de mais esta postagem interessante, desta feita exaltando o grande compositor Carlos Gomes, orgulho do povo brasileiro.
Abraços, dos amigos,
Mario e Beth.
O Braga, como sempre, nos oferece seu show. Parabéns, amigo!
Caro Maestro,
Quando penso em ópera, logo me vem à mente o imenso custo que é montar uma uma. Sendo que o "revenue" é limitado de diversas formas. Está atado a um local, a um edifício, a um palco, ao número de assentos, a um público que é uma pequena fração da população local, etc.
Admira que durante tanto tempo a temporada de óperas andou nas agendas do mundo todo...
Caro Maestro!
Cada postagem, um universo de conhecimentos relevantes nos chega por seu intermédio!
Um abraço!
Você escreve muito bem! Parabéns!
Belo trabalho de pesquisa sobre Carlos Gomes.
É louvável usar as letras para fazer justiça ao gênio da música, Carlos Gomes.
Caro confrade Francisco Braga,
Gratidão pela remessa do link.
Caro Francisco Braga,
Bom dia.
Estou maravilhada com a publicação do vosso blog sobre Leopoldo Miguez, sou a Ana Miguez, nascida em Minas Gerais mas criada em Portugal.
Tenho intesse se a vossa pesquisa chegou até as raízes que se encontram no vale do Jequitinhonha de Minas Gerais.
Cumprimentos,
Ana Miguez
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