Tradução do grego, comentários e bibliografia por Francisco José dos Santos Braga
Horizonte Perdido (1933), traduzido para o grego por Natássa Varsáki, Atenas: Ed. Jâmblico, 2001 |
No livro de James Hilton, "Horizonte Perdido", que foi escrito em 1933, é apresentada uma comunidade ideal de pessoas localizada em um vale idílico isolado no Tibete.
Este romance em particular foi transformado em filme duas vezes, primeiro em 1937 e depois em 1973, com a atriz Olivia Hussey, conhecida por seu papel na premiada série de Franco Zeffirelli, Jesus de Nazaré, interpretando a Virgem Maria. ¹
Enquanto os companheiros permanecem no mosteiro ², eles descobrem as belezas do lugar e visitam a pitoresca aldeia do Vale da Lua Azul, como eles o chamam, impressionados com a encantadora paisagem natural que o envolve. O modo de vida das pessoas causa um impacto emocional em Conway, que, tendo experimentado os horrores da Primeira Guerra Mundial em sua juventude, deseja passar o resto de seus dias na paz e tranquilidade do mosteiro. Isso, no entanto, não se aplica a seu jovem colega e amigo, Mallinson ³, que insiste desde o início em que deixem o mosteiro e voltem o mais rápido possível para seus entes queridos que os aguardam ansiosamente.
Depois de algumas semanas, é combinado o encontro de Conway com o homem no topo da hierarquia em Shangri-La ⁴, o Grande Lama. O ex-monge capuchinho, padre Perrault, conta a ele a história de sua chegada ao mosteiro, bem como o modo de vida dos monges e dos habitantes do vale. Em seguida, revela a ele que, graças ao estudo duradouro de exercícios místicos de ioga e uma erva medicinal que cresce exclusivamente na área, eles conseguiram desacelerar o fluxo do tempo e alcançar uma longevidade extraordinária de séculos, com juventude e vigor perpétuos. ⁵
Os habitantes de Shangri-La, sob a supervisão e governo do grande Lama, a quem atribuíram poderes divinos, estão completamente isolados do mundo exterior e não têm permissão de deixar a segurança de seu vale. Mesmo no caso de que alguém ousasse uma tentativa de fuga, o mais provável seria que não sobrevivesse, pois além da periculosidade da área, que é isolada e inacessível, os sinais do desgaste do tempo seriam imediatamente visíveis em seu frágil corpo mortal.
Depois de várias reuniões, Perrault encontra coragem para pedir um grande favor a Conway. Acreditando que o mundo exterior em algum momento será inevitavelmente destruído devido a sucessivas guerras e sofrimento humano, ele implora a ele, quando ele próprio falecer, que continue sua visão de fazer de Shangri-La o berço remanescente da cultura e do espírito humanos.
Conway, terrivelmente perturbado, decide compartilhar essas revelações extremamente importantes com seu amigo Mallinson. Mas este último, depois de tudo o que lhe é contado, se exaspera, dizendo o seguinte:
“Quantas coisas você realmente sabe sobre este lugar além das que lhe disseram? Você viu alguns velhos, nada mais. Fora isso, no entanto, tudo o que podemos dizer com certeza é que tem instalações muito boas e parece ser administrado por pessoas instruídas. Como e por que foi fundado, porém, não fazemos ideia e por que querem nos manter aqui, se é que querem, também é um mistério. Tudo isso, porém, não é desculpa para acreditar no primeiro conto de fadas que você ouviu! Afinal, você é uma pessoa em crise. Você hesitaria em acreditar em tudo o que eles diriam, mesmo em um mosteiro inglês. Portanto, não consigo entender por que você se tornou tão crédulo, simplesmente por estar no Tibete!”
“Observação muito inteligente, Mallinson. A verdade é que, quando somos forçados a acreditar em algo sem evidências tangíveis, tendemos para aquilo que mais nos atrai”.
Considerando a escolha da localização onde as cidades acima serão construídas (ou seja, em algum lugar no meio do nada), pode-se perguntar não apenas se alguém será capaz de sair de tal lugar, mas também por quais meios. Se considerarmos o esforço de Mallinson, que, para deixar o mosteiro, desafiou os perigos da viagem e, como resultado, não sobreviveu, parece um empreendimento condenado antecipadamente.
Além disso, o cultivo de um clima de medo dos últimos anos, via fenômenos naturais extremos, o novo surto de pandemias e todo tipo de “inimigos invisíveis”, bem como a restrição da livre circulação de pessoas, nos fazem perceber com mais facilidade que a escolha do slogan usado durante a pandemia “Fique em casa, fique seguro” não aconteceu por acaso. Portanto, é importante que qualquer nova avaliação de risco seja tratada com cautela e ceticismo.
“Será que as cidades "inteligentes" serão um lugar de felicidade, como Shangri-La, ou simplesmente uma prisão tecnocrática distópica da qual não haverá saída de emergência?”
A PRISÃO
Pelo poeta cipriota Cóstas Móntis ⁶
“Ao escapar da China devastada pela guerra, o avião de um grupo de europeus é sequestrado, sofre uma pane num dos motores e cai no Himalaia, donde são resgatados e levados para o misterioso Vale da Lua Azul, Shangri-La. Escondido do resto do mundo, Shangri-La é um refúgio de paz e tranquilidade para o diplomata cansado do mundo, Richard Conway. Seu ambicioso irmão, George, vê isso como uma prisão da qual ele deve escapar, mesmo que isso signifique arriscar sua vida e destruir a antiga cultura de Shangri-La.”
7 comentários:
Prezad@,
Tenho o prazer de lhe enviar uma resenha crítica por NEKTARÍA TCHOLÁKOU para o romance do inglês JAMES HILTON, intitulado HORIZONTE PERDIDO, lançado como um fenômeno em 1933. A autora utilizou uma tradução para o grego de 2001, embora tenha tido traduções bem anteriores a esta na Grécia.
Na sua resenha, a autora questiona se as "cidades inteligentes" são um benefício planejado para a população residente ou se seriam a sua prisão. A própria localização de onde essas cidades (por exemplo, Neom e Telosa) estão sendo construídas já são uma indicação de que seus planejadores pretendem controlar sua população. Parece concordar com um dos personagens do romance, George Conway (ou Mallinson), que desde o início insiste em que devam abandonar Shangri-La que nem fugir de uma prisão, mesmo que isso signifique arriscar sua vida, e destruir Shangri-La, "o berço remanescente da cultura e do espírito humanos."
Link: https://bragamusician.blogspot.com/2023/07/shangri-la-um-paraiso-terrestre-ou-uma.html 👈
Cordial abraço,
Francisco Braga
Caro Francisco Braga,
Há muito tempo escrevi sobre Shangrilá.
Espero que goste.
Abraço grande,
Raquel Naveira
Olá, Francisco e Rute. Obrigado pelo seu artigo sobre Shangri-LA, paraíso ou prisão? Nesse meio tempo tivemos aqui visita de dois frades, que vieram matar saudades do tempo que viveram aqui no Brasil. Foi bom que gostaram!. Grande abraço do irmão f. Joel.
Assisti ao belo filme
Abs
Caramba, muito citado e pouco lido o romance merece divulgação. Mas a literatura tem dessas coisas, a vida tem dessas coisas.
Um abraço acadêmico de GR.
Caro professor Braga
Interessante debate. Noto porém um tanto forçada a adoção desses parâmetros de comparação feita pela autora. Descabida e paranóica a crítica feita aos chamados "lockdowns" feitas durante a Pandemia.
Grato pela oportunidade da leitura. Saudações,
Cupertino
Meu caro Confrade Francisco Braga, agradeço-lhe a remessa do link.
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