domingo, 9 de maio de 2021

À MINHA MÃE



Por Francisco José dos Santos Braga
 

 
MÃE, com apenas três letras, 
significado infinito. 
 
Minha mãe costumava ler para seus filhos, 
ainda crianças, alguma página imortal. 
Então, registro de imagem e som não havia. 
Durante os quase 70 anos que nos separam 
daquelas sessões de contação de histórias, 
quem a superasse ainda não encontrei. 
 
Nas suas leituras não havia afetação 
nem exagero na entonação da fala, 
mas colocação do pleno sentido, 
também com pausas no momento certo, 
sem atropelo, dando tempo a que nós, 
crianças desatentas imaginássemos 
as cenas, os atos, o desenvolvimento 
do enredo e, no fim, súbito desfecho. 
Era seu jeito muito pessoal de contar, 
que nos envolvia e nos transportava 
a um mundo de fantasia e encantamento. 
Pro maior deleite da audiência miúda, 
valia-se de emoções e sentimentos 
para fazer daquele instante efêmero 
de ideias em profusão um rio perene. 
Sem intermediários, 
com naturalidade, 
a boa comunicação 
se fazia presente, 
brotando de seu cór arfante e terno. 
Mantinha-me tão extasiado e suspenso 
e maravilhado que tudo daria para ter 
uma gravação que fosse 
daquelas falas diretas 
ao coração infantil.
 
São João del-Rei, 9 de maio de 2021.

31 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prefiro a prosa à poesia.
Mas hoje, subitamente, senti-me tentado a prestar em versos uma homenagem à minha querida mãe, que ouviu meu primeiro vagido e me trouxe a este mundo tão desigual e à novidade da vida.
Conto com a condescendência do leitor para com este meu arroubo poético nesta manhã do Dia das Mães de 2021 !
Meus cumprimentos a todas as Mamães neste seu Dia.

https://bragamusician.blogspot.com/2021/05/a-minha-mae.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Bruno disse...

Emocionante!
Parabéns pela linda homenagem!

Daniel Mendes (artista plástico, descendente do grande latinista Mendes de Aguiar, autor de Ausonia Carmina e de tradução em latim do Hino Nacional Brasileiro) disse...

Bonito, Francisco,
Que tempo bom esse quando a informação era passada dessa forma, boca a boca ou por meio de livros. As pessoas certamente eram mais tranquilas e mais inteligentes! Sem dúvida seu poema é melhor registro que uma foto ou um vídeo.
Muito bom domingo para você e sua família!

Marcelo Câmara disse...

Parabéns pelo registro, caro amigo Braga. Sem as mães, somos, não apenas órfãos, mas, também, menores e piores filhos de Deus, seres humanos, cidadãos. A minha mãe partiu há quarenta e dois anos. Porém, ela nunca se afastou de mim. A sua foto está na minha mesa de cabeceira; o seu espírito, o seu amor, na mente, no coração, em todos os meus gestos.
Abrs para você e Rute. Feliz e iluminado Domingo.

Gilberto Mendonça Teles (autor de O terra a terra da linguagem e Hora Aberta-Poemas Reunidos e é membro da Academia Goiana de Letras) disse...

Muito agradecido, meu caro Francisco Braga, por compartilhar comigo (e a seus leitores) a sua emoção na contação (gostei desta palavra) das suas reminiscências com a sua mãe, numa prosa poética (ou numa poesia em prosa) que me tocou e, sei, que tocará a quem a ler.
Você deu a seu texto um ritmo musical de quem conta devagarinho como a sua mãe falava. Gostei. Parabéns!
Gilberto

Frei Joel Postma o.f.m. (compositor sacro, autor de 5 hinários, cantatas, missas e peças avulsas) disse...

Olá, Francisco e Rute.
Parabéns para as mães de vocês!
Que maravilha Deus realiza mediante as mães!!
Toda honra e todo louvor é pouco para Deus e as mães !!! Paz e Bem!! f. Joel.

Cândida disse...

Parabéns! Lindo poema que retrata o amor, sabedoria e encanto daquela que lhe deu o maior dos dons - a vida e ainda o presenteou com o dom divino da poesia.
Cândida (Jornal de Luz)

Escritora Conceição Cruz disse...

Braga: mãe é pura Magia e tem o poder, realmente, como vc disse, de transformar o instante efêmero no rio perene! Grata por compartilhar as suas reflexões poéticas!

Mario Pellegrini Cupello disse...

Mario Pellegrini Cupello, Arquiteto, Escritor, Presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, na cidade de Valença RJ; Membro Correspondente do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei; disse:

Caro amigo Poeta Braga
Parabéns pela bela homenagem oportuna e poética que você – com muito sentimento e expressão de uma terna saudade – prestou à sua saudosa mãe que tivemos o privilégio de conhecer, em São João del-Rei.
Quantos de nós também não daríamos, como você mesmo disse: “para ter uma gravação que fosse daquelas falas diretas ao coração infantil” e que hoje, embora em nossa maturidade plena, essas “falas” ainda repercutem de forma singela em nossas mentes e corações.
Parabéns, amigo Poeta!
Aceite o abraço fraterno,
Dos amigos Mario e Beth.

Luzia Rachel disse...

Parabéns, querido Francisco! Nesses seus belos versos, revivi nossa saudosa Mãe e ela se fez novamente presente! Obrigada.

Carlos Fernando dos Santos Braga (administrador de empresas e gestor público) disse...

Francisco,
Você se supera sempre, intérmino. Muito sublime, nos alenta.
Lembrando Casemiro de Abreu: - Oh! Que saudades que tenho......
Seu irmão Fernando

Geraldo Ananias Pinheiro (cearense de Geraldo Ananias Pinheiro (escritor, autor de 6 livros, com destaque para seu último livro "Difícil Regresso") disse...

Parabéns, belo texto.

Amaro Luiz Alves (graduado em Administração pela UFMG e pós-graduado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública; autor do livro "Aves brasileiras: uma visão fotográfica") disse...

Felicito o velho amigo pela lucidez de sentimento.
Abraço
Amaro

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga
A gravação na alma é aquela que, resistindo à matéria, é perene.
Assim o amigo nos apresenta a voz da sua mãe que ouvimos também com o coração.
Parabéns.
Cupertino

Dr. Arnaldo de Souza Ribeiro (escritor, advogado, professor universitário e presidente da Academia Itaunense de Letras) disse...

"A mãe compreende até o que os filhos não dizem".

(Texto judaico)

Anderson Braga Horta (poeta, escritor, ex-presidente da ANE-Associação Nacional de Escritores e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal) disse...

Francisco,

meus cumprimentos a você,

pela bela homenagem.

Anderson

Eudóxia de Barros (insigne pianista, concertista e membro da Academia Brasileira de Música) disse...

Magnífico texto ! Parabéns !
Cordialmente,
Eudóxia.

Dr. Paulo Milagre (corretor de imóveis, escritor, membro e ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Caro Francisco,
Li o seu texto realmente magnífico. Ele nos faz retornar a um passado já distante, porém ainda vivo no coração da gente, porque aconteceram coisas que nos marcaram no passado, coisas que deixaram ali a sua assinatura.
Na época, a assinatura da mãe era o carinho, a atenção para com os filhos.
Já perdi a minha mãe há mais de 50 anos. Relembrando o passado, recordo-me de tudo de gostoso que acontecia em nossa casa.
Desejo que a Rute tenha um feliz Dia das Mães a seu lado.
Com meu fraterno abraço,
Paulo Milagre

Pedro Paulo Torga da Silva (participante e incentivador do Movimento dos Focolares no Brasil) disse...

Francisco, como é bom recordar nossas mães!
Com a minha, convivi muito pouco tempo. Foram apenas 11 anos, mas também guardo recordações muito gostosas. Ela sentada aos pés da minha cama rezando o terço e cochilando, depois de um dia de muito trabalho. Até hoje, quando recordo, lembro-me daquele clima de paz que me envolvia e assim adormecia.
Reencontrar-nos-emos um dia para sempre!
Abraços,
Pepê

Dimas do Carmo disse...

Lindo poema, grande saudade de Dona Celina.

Conceição Cruz (escritora e advogada, membro da Academia Divinopolitana de Letras e da Academia de Letras de Pará de Minas, autora de várias obras literárias, individuais e coletivas) disse...

Olá, Rute!
Está tudo bem com vcs aí?
Li o poema do Braga hj, postei msg nos comentários do blogue e não apareceu.
Parabenize-o aí por mim.
Pude até ouvir a mãe dele contando estórias...
Endosso o que disse! Realmente, Mãe tem o poder de transformar a efemeridade em rios perenes!
Forte abraço p/ vcs!

José Luiz Celeste disse...

Para minha mãe, Isolde Heinrich Celeste, que leu para mim antes de eu saber ler. In memoriam.
Extraordinário... Francisco Braga! Ao ler em seu blog sobre como sua mãe lia para vocês, e de quanto excelente era sua performance, pareceu saírem suas palavras de minha boca. Pois exatamente assim lia minha mãe para nós, Orieta e eu, sentados no chão, sobre o tapete. Ela numa poltrona. Nenhuma falha na leitura, nenhum tropeço, nenhum exagero. Suave, com leve modulação de voz na troca de personagens. Assim fui eu muito lido... entre 5 e 6 anos: A Menina do Narizinho Arrebitado, Viagem ao Céu, O Saci e Caçadas de Pedrinho.
Tão perfeito era seu jeito de ler, que eu não percebia a forma, ficava suspenso, arrebatado... e mergulhava nas estórias, minha imaginação incendiava-se.
Passados uns tempos, quando tinha 10 anos, surgiu um filme intitulado “O Saci”. Era baseado no livro homônimo de Monteiro Lobato. Ao entrar no cinema, grandes eram minhas esperanças:
-- Agora sim, vou ver direito tudo aquilo q ouvi contar na estória...
... inclusive querendo esclarecer pontos obscuros. Um deles: como se pegava um saci no redemoinho com uma peneira cruzada e outro, como se dava a gestação dos sacis, dentro da taquarapoca... por exemplo.
Mas, muito pelo contrário, ao sair do cinema, maiores eram minhas frustrações que minhas esperanças iniciais... as cenas, as imagens do filme, nem de longe, comparavam-se com o imaginário aceso em meu pensamento. Tinha na cabeça um monumento vivo, erguido ao ouvir “O Saci”, pela leitura incomparável de minha mãe. O mesmo se repetiu na série da TV Tupi, Sítio do Pica-Pau Amarelo. Mas daí por diante, fui me acostumando a relevar os defeitos do demiurgo...
Francisco, por certo vem daí o tecido de nossa amizade.
Abraços, José Luiz Celeste.

Unknown disse...

Querido Franz,
amei o seu poema!
Que lembrança mais bela e cheia de significado!
Com certeza, essas leituras produziram em você o gosto pelas letras, pela busca do conhecimento, já que feitas pela voz da mãe, ser tão amado pela criança.
Parabéns pela delicadeza e pelo gesto!
Beijo da sua irmã
Petete

Prof. José Luiz Celeste (ex-professor do Departamento de Informática e Métodos Quantitativos da EAESP-FGV e tradutor) disse...

Para minha mãe, Isolde Heinrich Celeste, que leu para mim antes de eu saber ler. In memoriam.

Extraordinário... Francisco Braga! Ao ler em seu blog sobre como sua mãe lia para vocês, e de quão excelente era sua performance, pareceu saírem suas palavras de minha boca. Pois exatamente assim lia minha mãe para nós, Orieta e eu, sentados no chão, sobre o tapete. Ela numa poltrona. Nenhuma falha na leitura, nenhum tropeço, nenhum exagero. Suave, com leve modulação de voz na troca de personagens. Assim fui eu muito lido... entre 5 e 6 anos: A Menina do Narizinho Arrebitado, Viagem ao Céu, O Saci e Caçadas de Pedrinho.

Tão perfeito era seu jeito de ler, que eu não percebia a forma, ficava suspenso, arrebatado... e mergulhava nas estórias, minha imaginação incendiava-se.

Passados uns tempos, quando tinha 10 anos, surgiu um filme intitulado “O Saci”. Era baseado no livro homônimo de Monteiro Lobato. Ao entrar no cinema, grandes eram minhas esperanças:

-- Agora sim, vou ver direito tudo aquilo q ouvi contar na estória...

... inclusive tendo em mente esclarecer pontos obscuros. Um deles: como se pegava um saci no redemoinho com uma peneira cruzada e outro, como se dava a gestação dos sacis, dentro da taquarapoca... por exemplo.

Mas, muito pelo contrário, ao sair do cinema, maiores eram minhas frustrações que minhas esperanças iniciais... as cenas, as imagens do filme, nem de longe, comparavam-se com o imaginário aceso em meu pensamento. Tinha na cabeça um monumento vivo, erguido ao ouvir “O Saci”, pela leitura incomparável de minha mãe. O mesmo se repetiu na série da TV Tupi, Sítio do Pica-Pau Amarelo. Mas daí por diante, fui me acostumando a relevar os defeitos do demiurgo...

Francisco, por certo vem daí o tecido de nossa amizade.

Abraços, José Luiz Celeste.

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador, ex-presidente do TRE/MG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

COMOVENTE E LINDA HOMENAGEM!!!

Dolores Olívia Ferraz de Oliveira (ex-professora universitária da UFSJ) disse...

Adorei. Parabéns. Abraços.

Dr. José Afrânio Vilela (desembargador, palestrante no Judiciário brasileiro, confrade e colaborador do Programa "IHG-SJDR Virtual" do Instituto Histórico e Geográfico de SJDR) disse...

Caro Francisco, bom dia!
Vc prefere a prosa à poesia. Contudo, a poesia bem lhe agradece por prestigiá-la, e com versos de sua, nossa mãe!
Parabéns!!

Maria Auxiliadora Muffato (poetisa são-joanense) disse...

Caro Francisco, quanta ternura contida em seus versos. Mostram ensinamentos de vida, vertidos do coração afável de sua mãe.
As mães costumam ser parecidas. Minha mãe rezava, cantava, recitava, contava histórias, gerava filhos e... nos ensinava a vida. Vida! Que para Mamãe foi tão breve, em seus jovens 39 anos de existência nesta terra.
Maria Auxiliadora Muffato

Anizabel Nunes Rodrigues de Lucas (flautista, professora de música e regente são-joanense) disse...

Que lindo!

Profa. Dra Gisele Cristina de Boucherville (Professora da Universidade Federal de Roraima - UFRR Insikiran - Gestão Territorial Indígena) disse...

Linda homenagem.

Abgar Campos Tirado (Maestro, pianista concertista, ex-diretor do Conservatório Estadual de Música "Padre José Maria Xavier" (1993-1999) e professor são-joanense de latim, inglês e português; membro da Academis de Letras de São João del-Rei e colaborador permanente do jornal da ASAP) disse...

Prezado Francisco: Parabéns pela terna mensagem poética dedicada a sua mãe, a querida, inesquecível e sempre saudosa dona Celina.
Abraços extensivos à Rute.
Abgar