Por Francisco José dos Santos Braga
Do 2º semestre de 2002 ao 2º semestre de 2008 inclusive, fiz o curso de graduação em Música, tendo obtido meu bacharelado no Departamento de Música da UnB, na área de concentração: Composição. Embora tenha sido aprovado também para o curso de graduação em Piano, por uma banca formada pelos Professores pianistas Nei Salgado e Alla Dadayan, após cursar as duas graduações simultaneamente durante 1 ano, cheguei à conclusão de que a Composição demandava dedicação exclusiva pelo grau de dificuldade crescente das disciplinas, especialmente no campo da eletroacústica, onde pretendia alcançar progressão e excelência, sendo obrigado a abandonar o Curso de Gradução em Piano após o 1º ano.
No último semestre do meu curso superior, concluí as disciplinas Música de Câmara-1 e 2, de 4 créditos cada, e Introdução à Flauta Doce 1, de 2 créditos, todas ministradas pelo Prof. Ebnezer Maurílio Nogueira da Silva, Doutor pela Florida State University-FSU, EUA, 1994, completando os 222 créditos necessários à conclusão do Curso Superior em Música, na área de concentração: Composição. Esse professor era excelente fagotista e flautista, tendo sido meu professor nas disciplinas de Evolução da Música-1 e 2, no 2º semestre de 2002 e 1º semestre de 2003 respectivamente. Através desta disciplina, atualmente chamada de História da Música, obtive uma ótima percepção da história da música ocidental, desde as origens até às diversas vertentes contemporâneas.
Sob a supervisão do Prof. Ebnezer, na disciplina Música de Câmara — atualmente conhecida como Prática de Conjunto —, foi realizada uma apresentação final de curso com a participação do fagotista Fábio Benites e minha ao piano. Os ensaios ocorriam com regularidade durante as aulas nos finais de tarde das quintas-feiras e assim ensaiamos as três peças de alguma complexidade, a saber: um concerto de Antonio Vivaldi, uma sonata de Benedetto Marcello e a Valsa Seresta de Hilda Reis, uma compositora brasileira. O recital era a condição para obtermos a conclusão da disciplina Música de Câmara com aproveitamento, de modo que fizemos uma apresentação pública do nosso Duo, numa sala da Livraria MusiMed, na SCRS 505 Bloco A loja 65, sediada na Av. W3 Sul, em Brasília, no dia 6 de dezembro de 2008, em evento conhecido como SARAU MUSICAL MUSIMED, previamente marcado e divulgado por mala direta pela Livraria MusiMed a seus clientes e correspondentes.
Infelizmente o recital não foi gravado. Resta-me apenas documentar o ocorrido através do Programa e de outros elementos que evidenciem essa minha participação.
Lembro-me que fomos, na plateia, surpreendidos pela presença ilustre de Frederico Máximo Vianna Barbeitas (?-06/03/2013), que tinha sido Secretário da Receita Federal-Adjunto durante minha passagem pela Receita Federal como Fiscal de Tributos Federais (1980-1983) ¹. Quando aposentado, Barbeitas se dedicava a programas radiofônicos de música erudita em Brasília, obtendo enorme sucesso entre os connaisseurs.
Sobre Barbeitas, o Jornal da Câmara, edição de 04/04/2001, Ano 3, nº 520, noticiou o seguinte:
Barbeitas estreia Sala de Música na Rádio Câmara FM
“O especialista em música erudita, Frederico Barbeitas, está à frente do programa Sala de Música que estreou, no último domingo, na Rádio Câmara FM. A programação é abrangente e inclui peças que vão desde o período medieval até as produções contemporâneas.
O Sala de Música irá ao ar todos os domingos das 19h às 21h. Os brasilienses que gostam de composições eruditas já conhecem bem o trabalho de Barbeitas. Dono de um acervo pessoal de três mil discos, ele produziu e apresentou um programa nos mesmos moldes, durante 10 anos, na Rádio Cultura FM. Frederico Barbeitas acredita que a transferência para a Rádio Câmara será uma forma de continuar atendendo a um público cada vez mais interessado em música erudita.
O programa de estreia na Rádio Câmara FM, no último dia 1º de abril, teve como destaque uma homenagem ao centenário de morte do compositor italiano Giuseppe Verdi.
No próximo domingo, serão apresentadas músicas de Johannes Bree, além de detalhes sobre a vida e a obra do mestre holandês. Em 2001, estão sendo comemorados os 200 anos de nascimento de Bree. (...)”
Sobre o programa do nosso recital, é importante tecer alguns comentários iniciais.
O Concerto em lá menor de Antonio Vivaldi (1680-1741) foi escrito para fagote solista acompanhado pelas cordas. Tal foi a predileção do compositor pelo referido instrumento de sopro, a ponto de chegar a compor para fagote solista 39 concertos. Certos arranjadores muito competentes costumam compor uma redução da orquestra para um instrumento de teclado acompanhador, por exemplo o piano, o cravo ou o órgão, mantendo a melodia do instrumento solista inalterada. Foi o que fez Karl Heinz Fuessl no caso do Concerto para fagote de Vivaldi, ao compor a redução do acompanhamento orquestral para piano.
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1º movimento: Allegro (ma molto moderato), 1ª pág.
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Quanto à Sonata em mi menor de Benedetto Marcello (1686-1739), é preciso observar que o instrumento solista originalmente pensado pelo compositor era o violoncelo, e não o fagote. Segundo o maestro Diogo Pacheco,
“enquanto o violoncelo é a base da harmonia nas cordas, o fagote cumpre as mesmas funções nos instrumentos de sopro. Os instrumentos fagote e violoncelo cumprem as mesmas funções nas obras sinfônicas. Por isso, em grande parte das obras e em grau, tocam em uníssono. Num quarteto de cordas, o violoncelo representa a base harmônica, o mesmo acontecendo com o fagote nos quartetos para sopros, que incluem, além do fagote, flauta, oboé e clarineta. Mas, apesar disso, e sobretudo na música de câmara, eles também podem contribuir com solos, devido à beleza de seus sons. (...)
A música de câmara requer uma grande competência do compositor devido à transparência dessas obras e deixam qualquer deslize transparente, o que não ocorre com a música sinfônica, onde a massa sonora empregada pelo compositor pode esconder alguns defeitos. Vários autores escreveram concertos para esses dois instrumentos graves. (...)”
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2º movimento: Allegro, 1ª pág.
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A Valsa Seresta para fagote e piano da compositora brasileira Hilda Reis (1919-2001) foi dedicada ao fagotista Noel Devos.
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Andamento: Tempo Rubato, 1ª pág.
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A minha peça "Lírica Espacial" foi composta numa disciplina chamada Composição V, no segundo semestre de 2004, sob a orientação do Prof. Conrado Silva de Marco (⭐︎1940, Montevidéu ✞ 2014, São Paulo), do Departamento de Música da UnB, e foi selecionada pela Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica para fazer parte de um kit comemorativo em homenagem aos 50 anos da música eletroacústica no Brasil, composto de 5 CDs e de um valioso encarte descritivo dos compositores e suas peças com 223 páginas, em três línguas.
Em suma, a audição de "Lírica Espacial" finalizou o Sarau, cujo programa era constituído de duas composições do barroco italiano e um exemplar do romantismo brasileiro, preparados dentro das disciplinas "Música de Câmara-1 e 2" ministradas pelo Prof. Ebenezer Maurílio Nogueira da Silva.
II. SUGESTÕES DE AUDIÇÃO DO PROGRAMA EM VÍDEOS E NOTAS SOBRE COMPOSITORES
1) ANTONIO VIVALDI: Concerto para fagote e cordas em lá menor RV 498
Movimentos:
1. Allegro (ma molto moderato)
2. Larghetto
3. Allegro
a) Fagote: Martin Gatt
Regente: Sir Neville Marriner of
Academy of St. Martin in the Fields
b) Fagote: Josep Borras
Regente: Alfredo Bernardini do
Conjunto L'Armonia e L'Inventione
O Concerto em lá menor, RV 498, tem um real ritornello de abertura, levando a um primeiro episódio de fagote com saltos amplos e uma estrutura baseada em sequências. O Larghetto central em fá maior tem uma ária lírica de fagote, ainda com um uso quase antifonal dos registros superiores e inferiores do instrumento solo. Para o último movimento, a tonalidade menor retorna devidamente a entrada do fagote solo marcada pela escrita sequencial.
Antonio Vivaldi nasceu em 1678, filho de um barbeiro que mais tarde serviu como violinista na grande Basílica de São Marcos. Vivaldi estudou para o sacerdócio e foi ordenado em 1703, conhecido em sua cidade natal como Il Prete Rosso (o padre vermelho, por causa de seus cabelos ruivos). Ao mesmo tempo, ganhou fama de violinista de habilidade fenomenal e foi nomeado mestre de violino no Ospedale della Pietà, que era um convento, orfanato e escola musical para moças de Veneza, que se tornou famoso no século XVIII pelo alto nível de educação musical que dava às suas internas e por ter sido um dos principais locais de trabalho de Vivaldi; a Pietà abrigava meninas órfãs ou abandonadas, que muitas vezes lá permaneciam por toda a vida, caso não casassem ou abraçassem a vida religiosa. A partir do século XVII foi instituída rigorosa educação musical em instrumento, composição e canto para as meninas talentosas, que eram chamadas de as Figlie di Choro; pelo menos duas se tornaram compositoras de algum prestígio: Anna Bon e Vincenta Da Ponte. As restantes eram as Figlie di Comun, realizando apenas tarefas domésticas.
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Ospedale della Pietà em Veneza
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As meninas da Pietà tinham uma grande variedade de instrumentos à sua disposição, além das cordas e instrumentos de teclado habituais da orquestra básica. Isso incluía o fagote, para o qual Vivaldi escreveu 39 concertos, dois dos quais aparentemente incompletos. É desconhecida a razão para tal número de concertos para um instrumento solo relativamente incomum.
[GROUT & PALISCA, 1994, 426] reproduz trecho de uma carta de Charles de Brosses, intitulada "L'Italie il y a cent ans ou Lettres écrites d'Italie à quelques amis en 1739 et 1740", sobre os concertos em Veneza, traduzido por Claude Palisca:
“Música inexcedível é aqui a dos asilos. Existem quatro, todos eles constituídos por moças bastardas ou órfãs ou cujos pais não têm possibilidade de as criar. Elas são, portanto, educadas à custa do erário público e treinadas exclusivamente para serem musicistas exímias. E em virtude disso, cantam como anjos e tocam violino, flauta, órgão, violoncelo, fagote. Em suma, não há instrumento, por maior que seja, que as assuste. Vivem enclausuradas como freiras. São elas as únicas executantes; em cada concerto tocam cerca de quarenta moças e juro-vos que nada é tão encantador como ver uma freira jovem e bonita, de hábito branco, com um raminho de flores de romã atrás da orelha, a dirigir a orquestra e a marcar o compasso com a maior graça e a maior precisão que possais imaginar. As suas vozes são adoráveis pelo timbre e pela leveza, pois aqui ninguém sabe o que seja a severidade nem as notas prolongadas como um fio, à moda francesa (...)
O asilo a que vou mais vezes é o da Pietà, pois é aí que os concertos são mais agradáveis. Este asilo é também o primeiro na perfeição das sinfonias. E que impecável execução! Só aí se ouve a primeira arcada, de que falsamente se vangloria a Ópera de Paris.”
Vivaldi também parece ter tido vários casos amorosos, um dos quais com uma de suas alunas, a contralto Anna Girò (ou Anna Giraud), e o compositor era suspeito de fazer algumas adaptações nas velhas óperas venezianas a fim de adequá-las aos recursos vocais da suposta amante. Essa atividade lhe teria causado alguns dissabores com outros músicos, como Benedetto Marcello, que teria escrito um panfleto intitulado Il teatro alla moda contra ele. O divertido panfleto, no qual Marcello deu vazão a suas opiniões a respeito do estado do drama musical na época, foi reeditado frequentemente e constitui um importante documento nos inícios da história da ópera.
Pouco antes do início da temporada de ópera em Ferrara - que, para Vivaldi, significava uma esperança de resolver suas dificuldades financeiras -, o compositor foi convocado pelo núncio apostólico para ser informado de que fora proibido de entrar na cidade pelo próprio arcebispo local, Tommaso Ruffo. O motivo alegado para tal proibição (catastrófica para Vivaldi, tendo em vista os compromissos financeiros já assumidos), foi o fato de Il Prete Rosso não oficiar missas, além de andar acompanhado por mulheres, tais como Anna Girò. Ademais, o arcebispo tinha aversão ao envolvimento de padres com espetáculos. Antonio Vivaldi teve mesmo que amargar um grande prejuízo econômico, afronta que o teria convencido a deixar definitivamente a Itália.
[GROUT & PALISCA, idem, 424, apud BURNEY, Charles: A General History of Music, 1935, 908] transcreve trecho sobre a exorbitância paga a cantores em Veneza:
“Em 1720 havia dez novas óperas nos diferentes teatros de Veneza, compostas por Buini, Orlandini, Vivaldi e Porta ². O autor da Notitia di Teatri di Venezia queixa-se dos enormes salários pagos nesse ano aos primeiros cantores, dizendo que se deu mais por uma única voz do que seria preciso gastar num espetáculo inteiro. Antes, diz ele, uma soma de 100 coroas era considerada um preço avultado para uma boa voz, e da primeira vez que atingiram a de 125 coroas, tal exorbitância tornou-se proverbial. Mas o que é isso, prossegue o mesmo autor, comparado com os salários atuais, que, geralmente, ultrapassam os 100 sequins e têm um tal efeito sobre o resto da companhia que as exigências de cada um aumentam constantemente na proporção da vaidade e da importância exagerada do primeiro cantor. As consequências, na verdade, são fatais quando os executantes se combinam, como tantas vezes acontece, para extorquirem ao empresário um contrato onde lhes sejam atribuídas determinadas somas, tornando a incerteza do sucesso dos espetáculos o pagamento mais do que precário.”
Sua última apresentação na Pietà ocorreu no dia 21 de março de 1740, por ocasião de uma homenagem a Frederico Cristiano, príncipe da Polônia.
Exonerando-se em seguida de suas funções na Pietà, viajou para Viena, onde parecia haver alguma possibilidade de prosseguir sua carreira na Corte Imperial, ou talvez com a ideia de viajar para a Corte em Dresden, onde seu aluno Pisendel estava trabalhando.
No entanto, sua permanência em Viena seria breve. Pouco depois da sua chegada a Viena, morre seu protetor, Carlos VI.
Esse trágico golpe de azar deixa o compositor sem qualquer fonte de rendimentos, obrigando-o a novamente vender seus manuscritos para sobreviver.
Vivaldi morreria no ano seguinte em relativa pobreza, no dia 28 de julho de 1741; teve um enterro modesto. Igualmente desafortunada, sua música viria a cair na obscuridade até os anos de 1900.
Suas partituras manuscritas foram redescobertas no final da década de 1920. A partir de 1950, suas composições passaram a ser bastante difundidas, graças às inúmeras gravações em disco.
João Marcos Coelho, no seu programa "O que há de novo" da RÁDIO CULTURA FM de São Paulo, avalia que, ao todo, suas obras chegam a 748 — total catalogado pelo pesquisador Peter Ryom há trinta anos (é de sua inicial que se compõe a classificação da obra do compositor, com as letras RV = Ryom-Verzeichnis).
Nem ao menos o seu maior sucesso em vida, a série de concertos “As Quatro Estações”, conseguiu manter-se na vida musical européia após sua morte. O inexplicável silêncio só rompeu-se nos anos 30 do século passado, quando o poeta norte-americano Ezra Pound promoveu uma série de concertos com música de Vivaldi entre 1933 e 1939 na cidade italiana de Rapallo. Não por acaso, Pound morreu em Veneza, a cidade natal do compositor pelo qual era fanático. A violinista Pina Carmirelli, que participou desses concertos, pesquisou quase 400 obras instrumentais na bibioteca de Turim; em seguida, dois compositores, Alfredo Casella e Gian Francesco Malipiero editaram sua obra religiosa, incluindo o Gloria hoje muito famoso, e suas óperas. Malipiero deu às partes de baixo contínuo das Quatro Estações, por exemplo, uma escrita romântica cheia de arpejos. Foi assim que esta obra foi gravada pela primeira vez, em 1950, pelo selo Cetra. De lá para cá, transformou-se seguramente na mais conhecida obra de música barroca no planeta.
As últimas oito décadas têm sido generosas com Vivaldi, transformando-o num dos compositores mais populares no mundo inteiro.
2) BENEDETTO MARCELLO: Sonata nº 2 em mi menor, Op. 1 para fagote e piano. Originalmente: para violoncelo e baixo contínuo.
Movimentos:
1. Adagio
2. Allegro
3. Largo
4. Allegretto
Benedetto Marcello (Veneza, 31 de julho de 1686 — Bréscia, 24 de julho de 1739) foi um compositor, escritor, advogado e magistrado italiano.
É um compositor que realmente com estas seis sonatas do Op. 1 demostrou que de uma maneira singela se pode conseguir uma formosa melodia!
Sonata nº 1 em fá maior
Sonata nº 3 em lá menor
Sonata nº 4 em sol menor
Sonata nº 5 em dó maior
Sonata nº 6 em sol maior
a) Violoncelista Claudio Casadei
Cravista Francesco Tasini
b)
Fagote: Ahmad El Hennawi
Piano: David Hales
d) Só o acompanhamento na guitarra (violão): Guitarrista: Francesco Tesei
e) Fagote, piano, com swing "jazzístico" de bateria no CD intitulado Com licença!... de Hary Schweizer
Piano: Elza Kazuko Gushikem
Fagote: Hary Schweizer
Bateria: Paulo Marques
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CD de Hary Schweitzer: Com licença!....
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3) HILDA REIS: Valsa Seresta (dedicada ao fagotista Noel Devos)
Movimento: Tempo Rubato
Fagote: Ebnezer Da Silva
Piano: Elza Kazuko Gushikem
Link:
https://www.youtube.com/watch?v=pxJ_RulnzaE (gravação ao vivo no auditório da Casa Thomas Jefferson, na Asa Sul em Brasília, no dia 06/10/2017, fazendo parte de um evento comemorativo chamado
UM FAGOTE DE 70 ANOS..., dedicado ao fagotista Hary Schweizer. Vários fagotistas estiveram presentes ao concerto e seus instrumentos foram expostos em mostruário adrede preparado para o evento.
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UM FAGOTE DE 70 ANOS..., um evento comemorativo dedicado ao fagotista Hary Schweizer
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III. CURIOSIDADES SOBRE O FAGOTE
“... o fagote fascina por sua sonoridade e formato. Há algo misterioso acerca do fagote, não só para o ouvinte, mas também para o executante. Para cada verdadeiro músico, o instrumento faz parte de sua própria pessoa, também para o fagotista. Mesmo assim, os fagotistas, após uma vida a tocar este instrumento, tem que admitir que seu instrumento tem segredos que nunca lhe foram revelados...
...em todo fagote está escondido algo de insondável, secreto. Na alma deste maravilhoso instrumento ninguém, nem mesmo os grandes solistas, consegue penetrar bem fundo. No seu timbre e caráter o fagote tem qualquer coisa mais de impenetrável, mesmo para quem o constrói.
Aparentemente assim tem de ser. Provavelmente é bom que seja assim.”
WILL JANSEN apud "Portal do Fagote" por Hary Schweizer
A invenção do fagote data do século XVI. Foi um padre italiano, Afrânio Dégli Albonesi, quem teve a idéia de juntar duas bombardas (o baixo do oboé, na época), formando um novo instrumento, ao qual deu o nome de fagote. Assim, o fagote é na realidade o baixo do oboé e o seu histórico, antes do séc. XVI, é o mesmo desse instrumento. Desde suas primeiras aparições na arte ocidental, que datam dos séculos XII e XV, o oboé passou por grandes transformações. Neste período ele se alonga e toma o nome de bombarda. Mais tarde será um baixo desta bombarda que, dobrado em dois, dará ao fagote a sua forma primitiva. Paralelamente à bombarda, apareceu no século XV um outro instrumento de palheta dupla chamado cromorne, que de sua forma característica se origina talvez o oboé d'amore. (...) O primeiro fabricante de fagote foi Basilius, mas quem deu a sua forma definitiva foi o alemão Sigismund Scheltzer, no começo do séc. XVII, chamando-o "dulcine fagotto" ("dulcine", porque este instrumento se caracterizava pela emissão de sons doces). Michel Praetorius nos assinala a existência de uma família inteira de fagotes, que se estendia sobre cinco oitavas.
O fagote que no início só comportava quatro chaves, passou por aperfeiçoamento (...) E o seu mecanismo se desenvolveu até chegar a possuir vinte e duas chaves. E é quando começa a ser empregado nas bandas militares, nas Gardes Françaises, nos Uhlaus do Marechal de Saxe e nas bandas russas sob o reinado de Pedro, o Grande. (...) À medida que a técnica do fagote foi se aperfeiçoando, foram-lhe confiando obras mais ou menos importantes. Um dos concertos de Johann Christian Bach foi escrito para fagote. Vivaldi escreveu mais de vinte que foram editados ultimamente sob a orientação de Malipiero. Em todas as suas composições Mozart o empregou de uma maneira genial. Nas suas sinfonias e música de câmara explorou todos os recursos do fagote, para o qual escreveu dois concertos (destes o mais conhecido e tocado é o em si bemol). (...)
O fagote atual é feito inteiramente de madeira, com um mecanismo metálico composto de 22 chaves. Um dos pontos característicos do instrumento é sua palheta dupla, semelhante à do oboé e a do corne inglês. Enquanto a clarineta possui uma embocadura feita de uma só palheta, a do fagote é composta de duas lâminas de madeira fina. As duas partes, flexíveis, batem uma contra a outra, sob a ação do jogo de ar. O som que daí resulta é amplificado ao passar pelo tubo do instrumento. O comprimento total do tubo é de aproximadamente dois metros e cinqüenta centímetros. Como já dissemos antes, é um baixo de bombarda dobrado em dois (com a curva em U); uma das extremidades de um desses tubos é recurvada (em forma de S) para permitir uma maior comodidade ao instrumentista. Nas gravuras dos séc. XVI, XVII e XVIII podemos ver músicos tocando bombarda e cromorne com embocadura de trombone. Mas no fundo dessa embocadura se encontra uma palheta fixada sobre o tubo, de modo que ao soprá-la vigorosamente a palheta vibra como se fosse soprada diretamente pelos lábios. O fagote não é um instrumento transpositor. Ele é afinado em dó. Sua extensão é considerável e vai do si bemol abaixo do dó grave do violoncelo até o fá, três oitavas acima.
Link: http://www.haryschweizer.com.br/Textos/DEVOS_1_origem.htm
[Extraído de Origem e Evolução Técnica do Fagote (cap. 1 do curso de extensão universitária ministrado na UFRJ, agosto/setembro de 1966 por Noel Devos)]
IV. NOTAS EXPLICATIVAS
¹ Frederico Barbeitas deixou importante estudo sobre a relação entre a administração tributária e o contribuinte brasileiro, intitulado "Assistência-Informação-Educação Tributária no Brasil (1970/1988)", em co-autoria com Renato Antônio Alvarenga Vieira Machado, 148 p. O PDF está disponível na Internet.
² Giuseppe Maria Buini (Bolonha, 1680-Alexandria, Itália, 1739)
Giuseppe Maria Orlandini (Florença, 1676- Florença, 1770)
Giovanni Porta (Veneza, 1677-Munique, Alemanha, 1755)
V. AGRADECIMENTO
Agradeço carinhosamente à minha esposa Rute Pardini suas fotos bem como a sua edição e formatação para fins deste post.
VI. BIBLIOGRAFIA
BRAGA, Francisco J. Santos: LÍRICA ESPACIAL, DE 2004 [4' 43''], por Francisco dos Santos Braga, postado em 22/09/2017
DEVOS, Noel: Origem e Evolução Técnica do Fagote (cap. 1 do curso de extensão universitária ministrado na UFRJ, agosto/setembro de 1966 por Noel Devos)
GROUT, Donald J. & PALISCA, Claude V.: HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL, Lisboa: Gradiva Publicações Ltda, 1994, 1ª edição, 759 p.
SCHWEIZER, Hary: Portal do Fagote: o site de Hary Schweizer.
12 comentários:
Prezad@,
Sob a supervisão do Prof. Ebnezer Da Silva, na disciplina Música de Câmara – atualmente conhecida como Prática de Conjunto –, foi realizada uma apresentação final de curso de graduação em Música com a participação do fagotista Fábio Benites e minha ao piano.
O recital era a condição para obtermos a conclusão da disciplina Música de Câmara com aproveitamento, de modo que fizemos uma apresentação pública do nosso Duo, numa sala da Livraria MusiMed, na SCRS 505 Bloco A loja 65, sediada na Av. W3 Sul, em Brasília, no dia 6 de dezembro de 2008, em evento conhecido como SARAU MUSICAL MUSIMED, previamente marcado e divulgado por mala direta pela Livraria MusiMed a seus clientes e correspondentes.
Infelizmente o recital não foi gravado. Resta-me apenas documentar o ocorrido através do Programa e de outros elementos que evidenciem essa minha participação.
https://bragamusician.blogspot.com/2021/07/concerto-final-de-meu-bacharelado-em.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Bom dia, Braga!
Grata por compartilhar!
Fiquei com uma curiosidade para um "dedo de prosa" depois.
Abraço p Rute e p vc.
Obrigado pela notícia. Abraço do Gilberto Mendonça Teles
Um dó não ter sido gravado. Mas, bom registro.
ABRAÇÃO
Mario Pellegrini Cupello, Arquiteto, Escritor, Pres. do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, Membro Efetivo da Academia Valenciana de Letras e Membro Correspondente de várias instituições fluminenses e mineiras, disse:
Caro amigo Maestro Braga
Embora com uma defasagem de 13 anos (já que ainda não desfrutávamos do privilégio de sua amizade, à época), quando da conclusão de seu “Bacharelado em Música” em 2008, mesmo assim queremos felicitá-lo por mais esta importante conquista em sua brilhante carreira musical, que só agora tomamos conhecimento. Parabéns!
Aceite o abraço fraterno, meu de Beth.
O amigo Mario Cupello.
Parabéns, Francisco Braga, por sua apresentação musical, que deve ter sido muito linda.
Abraço fraterno,
Raquel Naveira
Está na hora de voltar mos a fazer um recital, Francisco. Bora combinar assim que passar essa pandemia. e aí gravamos.
Abs a todos!
Celso
Caro professor Braga
Parabéns pela destacada graduação e pelo texto interessante e as notas relativas ao seu tema. Também, uma vez mais, pela sua já conhecida "Lírica Espacial" (2017).
Cumprimentos
Cupertino
Parabéns!
Pe. Sílvio
Parabéns!!!! Tão bonito ouvir as pessoas que têm dom musical!
Muito obrigada por ter me enviado.
Abs
Elza
Bravo!!!
Olá Francisco!
Certamente foi um sucesso. Parabéns!
Um abraço,
Roseane.
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