segunda-feira, 17 de novembro de 2014

PEREGRINO DE ASSIS JUNTO AO TÚMULO DE SÃO FRANCISCO


Por Francisco José dos Santos Braga


 


Durante as mornas tardes de outono, o céu do ocidente tinge-se de laranja e reflete sobre as consumidas pedras de Assis uma indefinível gama de tonalidades. Nestes momentos é como se sobre todo o vale descesse um véu de silêncio enquanto o sol se deita lentamente sobre o perfil das colinas do Trasimeno ¹, até ser por elas engolido. Então o espetáculo torna-se emoção. As pedras abandonam o vermelho e adquirem tonalidades rosadas, violáceas e finalmente cinzentas. E depois, as trevas. Talvez, neste momento do dia, como em nenhum outro, percebemos o inevitável transcorrer do tempo. É o imperceptível que se torna perceptível, as cores vestem o traje do porvir. Nisso também Assis é espetáculo: a manifestação da natureza que se repete a cada dia sem nunca cair na rotina, sem nunca se tornar refrão, sem dissipar suas tonalidades. Suscita, ao invés, intuições, permite-nos fantasiar, levando-nos a imaginar cenas da Idade Média com damas, cavaleiros e gente do povo animando os becos e as praças da cidade (...) ²                    
Adriano Cioci
Assis, Itália
 I.   INTRODUÇÃO


Para uma visita completa à cidade de Assis é necessário permanecer pelo menos três dias ali. Uma estada mais longa permite não só visitar as atrações turísticas "intra muros", mas também as localidades fora dos muros, que devem ser vistas, bem como os velhos burgos medievais fortificados ao redor da cidade. Assim, o turista pode se aventurar a fazer breve excursão ao Monte Subásio, a montanha que encima Assis e cujas estradas agrícolas, marcadas e facilmente transitáveis, podem lhe dar uma ideia do ambiente, principalmente da flora existente em volta da cidade. Assim procedendo, o turista obrigatoriamente se interessará em conhecer a Rocca Maggiore (Fortaleza Maior) e a Rocca Minore (Fortaleza Menor).

A Rocca Maggiore destaca-se sobre a cidade. A atual estrutura é o que restou do edifício militar que o cardeal Egidio Albornoz mandou erigir na segunda metade dos anos trezentos, num período em que a Igreja, para melhorar a própria imagem de pujança militar, construía e restaurava fortalezas e pontos de vigia. O objetivo era desencorajar eventuais ataques inimigos colocando contra seu avanço importantes estruturas de defesa.

De lá, a visão é espetacular: sob seus pés, estende-se o centro histórico de Assis, depois o Vale Spoletano que se inicia a sul, onde faz limite com uma cadeia de montanhas. Na planície, nota-se o centro de Santa Maria degli Angeli, inconfundível pela grande cúpula que se destaca sobre o povoado. Do lado oposto, iniciam-se os Montes Martani separando pequenas aldeias. Mais embaixo se notam os grandes centros de Bastia Umbra (à direita), Ponte San Giovanni e a capital da província, Perúsia.


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A etimologia da palavra "peregrino" é a seguinte: vem de peregrinus em latim, ou de peragrare, no sentido de "andar pelos campos". Por sua vez, o latino "peregrinus" significava estrangeiro e quem vai ao estrangeiro. Em Roma se chamava peregrino a pessoas de condição livre (não eram escravos ou servi), mas que, por terem procedência estrangeira ou ascendência estrangeira, não desfrutavam da cidadania romana. De peregrinus procede o verbo peregrinari, cujo sentido é viajar ao estrangeiro, e peregrinatio, viagem ao estrangeiro. Esta última palavra adquiriu na época cristã o sentido de "viagem à Terra Santa", como o evidencia um livro da monja galega Egeria que narra sua peregrinatio à Palestina no século IV d.C., tida como a primeira peregrinação conhecida da história.  Peregrino, nessa acepção, era a pessoa que por devoção ou voto ia visitar um santuário, especialmente se levasse consigo um bordão e cabeção. É curioso ainda acrescentar que o termo "romeiro", em português, ou "romero", em castelhano, no princípio se aplicava a Romanos que viajavam à Palestina, palavra que mais tarde foi estendida aos que se deslocavam até Roma ou Santiago de Compostela.

Há também o uso da expressão "peregrino neste mundo". Às vezes, a Palavra de Deus nos é dirigida convocando-nos a sermos peregrinos e forasteiros neste mundo, como a exortação de I Pd 2:11, significando que este mundo não é nossa casa ou que não pertencemos a este mundo. Neste caso, a Igreja é constituída de um povo peregrino ou cristãos. Também existe a expressão "peregrino do Amor", usada para referir-se a São João Paulo II, que de fato espelha a passagem de Karol Wojtyła pelo papado, peregrino pelas nações que visitava.


II.  SÃO JOÃO PAULO II,  O PAPA PEREGRINO


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
POR OCASIÃO DA VISITA A ASSIS ³
Domingo, 5 de novembro de 1978

Inscrição comemorativa da visita de São João Paulo II ao túmulo de São Francisco na Basílica Inferior, em Assis: 
"A ricordo del Papa Giovanni Paolo II devoto pellegrino alla tomba di S. Francesco nei primordi del suo pontificato"       -        5 novembre 1978


"Eis-me em Assis neste dia que desejei consagrar de modo particular aos Santos Patronos desta terra: a Itália, terra à qual Deus me chamou para servir como sucessor de São Pedro. Uma vez que não nasci neste solo, sinto mais que nunca a necessidade dum "nascimento" espiritual nele. E por isso, neste domingo, venho como peregrino a Assis, aos pés do Santo "Poverello" Francisco, que escreveu com caracteres bem marcados o Evangelho de Cristo nos corações dos homens do seu tempo. Não podemos admirar-nos de que os seus concidadãos tenham querido ver nele o Patrono da Itália.

O Papa que, por motivo da sua missão, deve ter diante dos olhos toda a Igreja universal, esposa de Cristo nas várias partes do mundo, precisa especialmente, na sua sede de Roma, da ajuda do Santo Patrono da Itália, precisa da intercessão de São Francisco de Assis.

Por isso, chega hoje aqui.

Vem para visitar esta cidade, sempre testemunha da maravilhosa aventura divina, decorrida entre os séculos XII e XIII. Ela é testemunha daquela surpreendente santidade, vivida aqui como grande sopro do Espírito. Sopro de que participou São Francisco de Assis, a sua irmã espiritual Santa Clara e tantos outros Santos nascidos da sua espiritualidade evangélica. A mensagem franciscana estendeu-se ao longe, além das fronteiras da Itália, e bem depressa chegou também ao solo da Polônia, de que eu provenho. E lá continua sempre a atuar com frutos copiosos, como aliás nos outros países do mundo e nos outros continentes.

Dir-vos-ei que, como Arcebispo de Cracóvia, habitava perto duma antiquíssima igreja franciscana, e de vez em quando ia rezar, fazer a Via-Sacra e visitar a capela de Nossa Senhora das Dores. Momentos inesquecíveis para mim! Não se pode deixar de recordar aqui que exatamente deste magnífico tronco da espiritualidade franciscana brotou o beato Maximiliano Kolbe, patrono especial dos nossos difíceis tempos. Não posso deixar de recordar que, exatamente aqui em Assis, nesta Basílica, no ano de 1253, o Papa Inocêncio IV proclamou Santo o Bispo de Cracóvia, o Mártir Estanislau, agora Patrono da Polônia, de que eu até há pouco era indigno sucessor.

Por isso hoje, como Papa, ao entrar a primeira vez aqui, nas fontes desse grande sopro do Espírito, desse maravilhoso renascimento da Igreja e da cristandade no século XIII, derivado da figura de São Francisco de Assis, o meu coração abre-se para o nosso Patrono e brada:

"Tu, que tanto aproximaste Cristo da tua época, ajuda-nos a aproximar Cristo da nossa época, dos nossos tempos difíceis e críticos. Ajuda-nos! Estes tempos esperam Cristo com grandíssima ansiedade, embora de tal coisa não dêem conta muitas pessoas da nossa época. Aproximamo-nos do ano 2000 depois de Cristo. Não serão estes, tempos que nos preparem para um renascimento de Cristo, para um novo Advento? Nós, todos os dias, na oração eucarística exprimimos a nossa expectativa, dirigida a Ele só, nosso Redentor e Salvador, a Ele que é termo da história do homem e do mundo.

Ajuda-nos, São Francisco de Assis, ajuda-nos a aproximar Cristo da Igreja e do mundo de hoje.

Tu, que trouxeste no Teu coração os altos e baixos dos teus contemporâneos, ajuda-nos, com o coração vizinho ao coração do Redentor, a abraçar as alternativas dos homens da nossa época. Os difíceis problemas sociais, econômicos e políticos, os problemas da cultura e da civilização contemporânea, todos os sofrimentos do homem de hoje, as suas dúvidas, as suas negações, as suas debandadas, as suas tensões, os seus complexos e as suas inquietações... Ajuda-nos a traduzir tudo isto em simples e frutuosa linguagem do Evangelho. Ajuda-nos a reduzir tudo a categorias evangélicas, de maneira que possa ser Cristo 'Caminho, Verdade e Vida' para o homem nosso contemporâneo.

Isto te pede a Ti, filho santo da Igreja, filho da terra italiana, o Papa João Paulo II, filho da terra da Polônia. E espera que não lho recuses, que o ajudes. Sempre foste bom e sempre te apressaste a levar auxílio a todos os que a Ti se dirigiram".

Agradeço vivamente ao Eminentíssimo Cardeal Sílvio Oddi, Delegado Pontifício para a Basílica de São Francisco de Assis, e ao Excelentíssimo Bispo de Assis, D. Dino Tomassini, e a todos os Arcebispos e Bispos da Região pastoral umbra, como aos sacerdotes das várias Dioceses.

Uma saudação e um agradecimento especial aos Ministros-Gerais das quatro Famílias Franciscanas, à Comunidade da Basílica de São Francisco, a todos os Franciscanos, a todas as Famílias Religiosas — Religiosos e Religiosas —, que se inspiram na Regra, no estilo de vida de São Francisco de Assis.
Digo-vos aquilo que sinto no fundo do coração:

O Papa está-vos agradecido pela fidelidade à vossa vocação franciscana.
O Papa está-vos agradecido pela vossa diligência apostólica e missão evangélica.
O Papa agradece as vossas orações por ele e segundo as suas intenções.
O Papa assegura que se lembrará de vós na oração.
Servi o Senhor com alegria.
Sede servos do Seu povo com alegria, porque São Francisco quis-vos servos alegres da humanidade, capazes de acender por toda a parte a lâmpada da esperança, da confiança e do otimismo de que é fonte o Senhor mesmo. Seja-vos de exemplo, hoje e sempre, o vosso, o nosso comum Santo Patrono, São Francisco de Assis.
Túmulo de São Francisco de Assis na Basílica Inferior 
Apresento, em seguida, a minha cordialíssima e deferente saudação às Autoridades civis aqui presentes: 
ao Senhor Presidente da Câmara de Assis, aos Membros da Junta Comunal e do Conselho, às Autoridades civis da Região Umbra e da Província de Perúsia, aos Parlamentares da Região. Obrigado! Obrigado pelas presenças, obrigado por terem querido associar-se à oração comum junto do Túmulo de São Francisco!
Aos sentimentos da minha gratidão profunda uno os votos mais fervorosos de bem, de prosperidade e de progresso, para as suas pessoas e para toda a caríssima população da Úmbria.

De Assis ainda, deste lugar sagrado, tão querido a todos os Italianos, uma saudação comovida e uma bênção especial a toda a Itália, a todos os Italianos espiritualmente presentes a este nosso encontro de oração, a todo o povo italiano.

Um pensamento afetuoso e especial recordação desejo reservar para os emigrados italianos, para os italianos dispersos em todos os continentes do globo. Sei que nas suas casas, muitas vezes bem distantes de Assis e da Itália, há sempre uma recordação levada da Itália e ligada com Assis, uma imagem de São Francisco, e no coração uma devoção sincera e vivida ao "Poverello" de Assis. E em seguida uma saudação a todos os que se honram com o nome de "Francisco", encontrando no nosso Santo Patrono exemplo de vida, protetor celeste, guia espiritual e uma inspiração interior!

Para todos, presentes em Assis, uma especial oração do Papa!

E para todos, enviada de Assis, uma especial Bênção Apostólica!"


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III.  FREI URBANO PLENTZ REFLETINDO SOBRE A PEREGRINAÇÃO NESTE MUNDO

Frei Urbano Plentz (☆ Estrela-RS, em 03/03/1931 ✞ Roma, em 02/07/2000)

Para finalizar, em primeiro lugar, escolhi um belo texto que faz parte da cantata "O PEREGRINO DE ASSIS", com letra do poeta francês Léon Chancerel, tradução de frei Urbano Plentz o.f.m. e música de frei Joel Postma o.f.m., o qual é intitulado "A Morte de São Francisco", que transcrevo abaixo:

Em sua cabana, numa noite de outono,
São Francisco morreu cantando:
"A voz que clama ao Senhor!"
O Pobrezinho entregou sua alma.

Que a nossa irmã morte seja bem acolhida,
Como a gente acolhe o sono,
Depois de um dia bem ocupado! (refrão)

Seu corpo tem a calma dos mármores,
Sua face é um espelho de paz!
Ele se deita despido ao chão!
E ele nasce para a vida eterna!

Vieram centenas de cotovias,
Sentar-se à beira do telhado,
Para levar em cima das asas
O Santo Cantor ao Paraíso!

Com São Francisco aprendamos 
A bem viver e a bem morrer!
Para que possamos também
Cantar da mesma maneira,
Quando nossa hora tiver chegado! 


E, agora, embora último mas não menos importante, um texto de Frei Urbano Plentz, intitulado "Peregrino do Silêncio" , será aqui reproduzido, onde sintetiza brilhantemente o que foi dito ao longo deste post.

PEREGRINO DO SILÊNCIO

A pessoa humana, em seu íntimo, é um peregrino: sai do útero da mãe para entrar no ventre do mundo, e deste sai para o seio eterno do Pai. Só então entra na sua morada definitiva.

Enquanto vive no mundo, a condição normal da pessoa humana é a de "estrangeiro e peregrino sobre a terra" (Hebr. 11, 13). Depois do pecado o homem torna-se um exilado. Em cada homem Caim continua fugindo e procurando um ponto geográfico de fixação. É a tentativa de romper o cordão umbilical com o pecado e irmanar-se pacificamente com a mãe-terra.

Enquanto a pessoa não encontra esse ponto-de-repouso, continua fugindo. A condição humana, na cidade terrestre, é de peregrino e estrangeiro (I Pd. 2, 11). "Sabemos que todo o tempo que passamos no corpo, é um exílio longe do Senhor" (II Cor. 5, 6). Só depois que "for destruída esta tenda em que vivemos na terra, teremos no céu uma habitação eterna" (II Cor. 5, 1).

Por isso, vale dizer que o homem é o peregrino do absoluto (Leon Bloy). Ele vai do seu exílio terrestre à habitação celeste; a primeira é provisória e a outra definitiva.

Essa peregrinação do homem, com seus altos e baixos, suas quedas e soerguimentos, é uma constante história de amor. Deus acompanha os seus filhos nessa odisseia divina através do exílio humano.

A fraqueza humana, que frequentes vezes leva o peregrino ao cansaço da caminhada, aos momentos de pessimismos, às fossas e desânimos, é certamente a frustração mais desastrosa. No entanto, Deus caminha ao nosso lado, nos apóia e sustenta, nos anima e reconforta. Deus nunca abandona o seu caminheiro. As maiores maravilhas acontecem ao longo dessa peregrinação, rumo à pátria definitiva.

O pecado não é absoluto; só Deus é absoluto. Seu amor é a grande força que nos leva à vitória. O AMOR é a única força que nos dá sentido à vida do homem, à sua peregrinação pela Jerusalém terrestre e a sua realização plena até a Jerusalém Celeste.

À luz do AMOR de Deus, em nós, a nossa vida adquire um sentido novo e um sentido pleno. Então a peregrinação do homem torna-se um "HISTÓRIA DE AMOR".

Frei Urbano Plentz, o.f.m. - Membro da Academia Mineira de Letras



IV.  NOTAS EXPLICATIVAS


¹   O lago Trasimeno é um lago da Itália e localiza-se no centro do país na região da Úmbria (província de Perugia). Estende-se por uma área de cerca de 128 km², o que o torna o quarto maior lago da Itália. Na praia norte do lago foi travada a chamada Batalha do Lago Trasimeno em abril de 217 a.C., durante a 2ª Guerra Púnica, na qual os Cartagineses saíram vencedores sobre os Romanos.

²  CIOCI, Adriano: Guida illustrata di Assisi (con planta all'interiore), Schio, Italia: Edizioni Edelweiss, 2013, p. 3

³  Copyright 1978 - Libreria Editrice Vaticana
Cf. texto traduzido in http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/1978/documents/hf_jp-ii_spe_19781105_assisi_po.html

  "A Morte de São Francisco" (Cantique de la Bonne Mort) é uma das peças que compõem a cantata "O Peregrino de Assis" (Le Pélerin d' Assise), de Léon Chancerel, na tradução de frei Urbano Plentz adotada por frei Joel Postma. Essa peça coral, em lá menor, inicia-se com uma balada em ritmo binário composto, seguido por um binário simples em tempo de marcha, na partitura de frei Joel Postma. Recomendo-lhe assistir ao vídeo no YouTube: trata-se de um arranjo orquestral de Sérgio de Sabbato, em substituição ao acompanhamento original do piano. A apresentação neste formato se deu a 17 de outubro de 2008, no Teatro Nacional Cláudio Santoro em Brasília. A execução esteve a cargo da Orquestra de Cordas da Universidade de Brasília, sob a coordenação de Glêsse Collet, e o coral Cantus Firmus, da regente titular Isabella Sekeff, todos sob a regência do maestro Emílio de César.

Link: https://youtu.be/WRNvhXlfEcY

Abaixo ofereço o texto original de Léon Chancerel, em francês:

 CANTIQUE DE LA BONNE MORT

1- Dans sa cabane, un soir d’automne. Saint François mourut en chant.
Vox clamans ad dominum. Le petit pauvre a rendu l’âme.

Que notre sœur la morte soit bien accueillir, comme on accueille le sommeil après la journée bien remplie.

2- Vox clamans ad dominum, le petit pauvre a rendue l’âme.
Son corps a le calme du marbre, sa face est un miroir de paix.

Que notre sœur la mort soit saluée. Elle n’est dure qu’à ceux qui se débattent.

3- Son corps a la came des marbres, sa face est un miroir de paix.
Il se veut nu sur le sol nu pour naître à la Vie Éternelle.

Que notre sœur la mort soit remerciée. Elle nous ouvre la Porte d’or du verger séraphique.

4- Il se veut nu sur le sol nu pour naître à la Vie Éternelle.
Et voici que mille alouettes au bord du toit se sont posées.

Que notre sœur la mort soit bénie. Elle est l’aube au sein des ténèbres, l’été qui n’aura pas de fin.

5- Et voici que mille alouettes au bord du toit se sont posées.
Pour emporter dessus leurs ailes, l’âme chanteuse en Paradis.

Pour saint François, apprenons à bien vivre et à bien mourir,
afin que nous puissions de même lors que notre heure sera venue.

Cf. in http://mondieuetmontout.com/Leon-Chancerel-o.f.m-Chansons.htm

⁵  Cf. in motivandocomespiritualidade.blogspot.com/2010_06_01_archive.html