domingo, 31 de outubro de 2021

RUTE PARDINI - UM PASSEIO PELO BARROCO (Ária REJOICE GREATLY do oratório MESSIAS de Haendel)


Por Francisco José dos Santos Braga


É minha intenção, com este trabalho e com base no vídeo da ária Rejoice Greatly do oratório Messias de Haendel, interpretada pela soprano coloratura Rute Pardini e acompanhada ao piano (uma redução da orquestra, para a qual foi originalmente composta) por Vânia Marise, examinar o gênero musical dramático conhecido por Oratório, a ária acima mencionada e  a nomenclatura usualmente empregada pelos amantes e críticos musicais de óperas.


 

O compositor alemão Georg Friedrich Haendel (1680-1759) foi o maior e mais bem sucedido autor de óperas e oratórios na Inglaterra no século XVIII. 

MESSIAS (HWV 56) 
 
Este oratório utilizou texto em inglês, compilado pelo libretista Charles Jennens com base na chamada Bíblia do Rei Jaime (King James Bible). Incrivelmente, Haendel completou seu oratório de 260 páginas em exatamente 24 dias durante o verão de 1742. A estreia do oratório Messias foi no dia 13 de abril de 1742, para celebrar a Páscoa. Para o Messias, Haendel usou a mesma técnica compositiva utilizada em outros oratórios, a saber uma estrutura musical baseada em coro e canto solista, acompanhados pela orquestra. 
Costuma-se dizer que o oratório Messias está dividido em 3 partes de acordo com a sua temática: 
1) Parte I começa com a profecia do Messias e a profecia de seu nascimento por meio de uma virgem. Esse nascimento é posto em palavras por Isaías, seguido pela anunciação aos pastores como a única cena de um Evangelho, e reflexões sobre os feitos do Messias. 
2) Parte II cobre a Paixão, morte, ressurreição, ascensão, e a posterior difusão do Evangelho. 
3) Parte III concentra-se no ensinamento da ressurreição dos mortos feito pelo apóstolo Paulo e a glorificação de Cristo no céu. 
A popular Parte I do Messias, da qual faz parte a ária "Rejoice Greatly" (nº 18), é normalmente executada durante o Advento em concerto. Quando isso ocorre, costuma-se concluir a apresentação com o "Aleluia", que integra a Parte II como finale
 
Ária Rejoice Greatly (de Messias Parte I nº 18) 
 
Esta ária permite que a soprano expresse grande alegria na abertura, sempre que reitera o termo "Exulta de alegria" (Rejoice Greatly). Composta em tonalidade maior (Si bemol), no compasso 4/4, o acompanhamento rápido deixa espaço para a voz se exibir através de coloraturas. ¹ À medida que a ária avança, a voz fica cada vez mais decorada. Haendel agrega coloraturas alongadas no termo "Rejoice" para colocar ênfase adicional nos sentimentos de alegria e felicidade. 
A seção central em tonalidade menor (ré) toma um caminho muito diferente da seção inicial. Agora num andamento mais vagaroso, a atmosfera melancólica e meditativa vai de braço dado com o canto sobre "Paz" (Peace). 
A excitação da abertura é retomada da capo (D.C.), com novas variações do tema ouvido, da solista primeiro e depois copiado pela orquestra. A ária finaliza-se com um interlúdio orquestral.
 
"Rejoice Greatly" pode ser classificada também como uma aria di bravura (geralmente composta para uma protagonista nas óperas), cuja principal característica é o emprego do allegro como andamento e ser uma peça como uma oportunidade para o(a) cantor(a) exibir a agilidade, extensão ou técnica de performance vocal. Outra característica da aria di bravura é que o compositor destina normalmente a sua performance a um soprano heróico em ópera séria ou dramática. 
 
Pode-se classificar também "Rejoice Greatly" como aria da capo, por se apresentar numa forma ternária (ABA'), o que significa que consiste de 3 seções. A aria da capo é uma forma vocal usada principalmente no período barroco. 
As características da aria da capo são as seguintes:
A primeira seção A é uma entidade musical completa, terminando na tônica, e poderia em princípio ser cantada sozinha. 
A segunda seção B contrasta com a primeira seção na tonalidade, textura, estado de espírito e, às vezes, andamento. 
A terceira seção A' geralmente não era escrita pelo compositor, que, antes, simplesmente especificava a ideia de repetição da 1ª seção ou de abertura. Durante essa última seção (A'), esperava-se que o cantor ou a cantora improvisassem variações e ornamentos, para evitar que fosse uma mera repetição da 1ª seção. A capacidade de improvisar variações e ornamentos era uma técnica que se aprendia e esperada de todos os cantores solistas. ²
O declínio  da utilização dessa técnica na época clássica, imediatamente seguinte à barroca, deve-se ao fato de que a aria da capo em última análise adquiriu reputação de uma forma musicalmente enfadonha e o foco mudou da virtuosidade do intérprete para a beleza da música. A partir de então, os cantores deveriam interpretar o que estava escrito, com os ornamentos especificados pelo compositor e não escolhidos pelo cantor. 
Em meados do século XX, houve um movimento de performance autêntica de restauração da improvisação para a execução de arias da capo, embora a prática, para se tornar universal, tenha que ser difundida entre os artistas da performance autêntica. Em razão disso, a partitura incluiria apenas as seções A e B, com um Da Capo (D.C.) ao final, sinalizando que o cantor deveria retornar à seção A e improvisar. 
Ocasionalmente o compositor de uma aria da capo preferia conceber e anotar a seção A com os ornamentos, mas isso é raro.  
 
Letra de "Rejoice Greatly"
 
1) Abertura 
Rejoice 
Rejoice 
Rejoice greatly 
Rejoice o daughter of Zion 
O daughter of Zion, Rejoice 
Rejoice 
Rejoice 
O daughter of Zion, rejoice greatly 
Shout! O daughter of Jerusalem 
Behold, thy king cometh unto thee 
Behold thy king cometh unto thee, cometh unto thee 
 
2) Seção intermediária 
He is the righteous saviour 
And he shall speak peace unto the heathen 
He shall speak peace 
He shall speak peace 
Peace, He shall speak peace unto the heathen 
He is the righteous saviour 
And He shall speak, He shall speak peace Peace. 
He shall speak peace, unto the heathen 
 
3) Repetição da Abertura com variações e coloraturas 
Rejoice, rejoice, rejoice greatly 
Rejoice greatly. O daughter of Zion 
Shout! O daughter of Jerusalem 
Behold thy King cometh unto thee 
Rejoice 
Rejoice 
And shout, shout, shout, shout 
Rejoice greatly 
Rejoice greatly o daughter of Zion 
Shout! O daughter of Jerusalem 
Behold thy king cometh unto thee 
Behold thy King cometh unto thee 
 
 
 
Minha tradução livre para "Rejoice Greatly": 
Exulta de alegria, ó filha de Sião, 
Solta gritos de júbilo, ó filha de Jerusalém!
Eis que vem a ti o teu rei!
 
Ele é o Salvador justo 
E dirá "paz" ao bárbaro.
 
(Zacarias IX, 9-10)
 
 
II. NOTAS EXPLICATIVAS



¹  Deve-se ainda salientar que foi aproximadamente em 1745 que "Rejoice Greatly" (originalmente uma ária bucólica em compasso 12/8) foi recomposta em compasso comum de 4/4. É dessa sua recomposição que vou tratar aqui. 
 
²  Na escola italiana de composição de fins do século XVII e começo do XVIII, a forma aria da capo gradualmente passou a ser associada com o ritornello, um episódio instrumental recorrente intercalado com os elementos da ária, e eventualmente oferecia, nas primeiras óperas, a oportunidade para dança ou entradas de personagens. Essa versão da forma ária com ritornelli tornou-se uma característica dominante da ópera europeia ao longo do século XVIII. Alguns autores chegam até a admitir que essa foi a origem das formas instrumentais do concerto e da forma sonata.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

RUTE PARDINI interpreta cena final do IV Ato da ópera LA TRAVIATA de Giuseppe Verdi


Por Francisco José dos Santos Braga


É minha intenção, com este trabalho e com base no vídeo da última cena do IV Ato de La Traviata, apresentar uma nova possibilidade artística de representá-la com maior expressividade e seguir mais de perto a obra original de Alexandre Dumas Filho, A Dama das Camélias, sem abdicar das belezas das alterações introduzidas pelo libretista da ópera de Giuseppe Verdi.

 

Violetta e Alfredo em La Traviata

 

 

I. INTRODUÇÃO

O libreto da ópera La Traviata de Giuseppe Verdi foi baseado no romance A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, sobre o qual trabalhou o libretista Francesco Maria Piave (1810-1876). Muitos libretistas trabalham sobre novelas e romances de reconhecido sucesso junto ao público e, reelaborando-os, aproveitando seus trechos mais importantes e convertendo-os num grande poema, transformam-nos em libretos extremamente apreciados e de elevado valor literário. Foi o caso do libretista Piave. La Traviata estreou a 6 de março de 1853 no Teatro La Fenice, em Veneza. 
 
"Addio, del passato" é a comovente e trágica ária do IV Ato de La Traviata, na qual Violetta reflete sobre a vida e o amor. Aqui será vista a última cena do IV Ato, mas de forma bastante resumida. Violetta está sendo consumida pela tuberculose e o médico, embora já não tenha esperanças para ela, hesita em dizer-lhe a verdade. Suas mais caras esperanças estão perdidas, sem amigos e inteiramente só, com exceção de Annina, sua secretária, que a acompanha nos momentos derradeiros. Esta pede à patroa, com alegria forçada, que tenha coragem. 
Violetta diz que ouviu sons de festa nas ruas, enquanto Annina lembra-lhe que é carnaval. 
Violetta pede-lhe que saia com o pouco dinheiro que lhe resta, autorizando-a a gastar metade consigo e a outra metade com mendigos, pedindo-lhe ainda que vá certificar-se se não chegou alguma correspondência. De posse da carta que o velho Germont, pai de seu amado Alfredo, lhe escreveu, percebe que as notícias são alvissareiras, significando que ela finalmente pode ter fé em um futuro feliz, o que pode ser interpretado como a alusão ao consentimento dele com o casamento dela com Alfredo, superando o seu preconceito inicial.
 

II. NOVA ÓTICA DO PRESENTE VÍDEO

 

Rute Pardini, no papel de Violetta, acompanhada por Vânia Marise ao piano (portanto, em redução da orquestra, para a qual foi originalmente composto por Verdi), em seu concerto em 10/07/2008, no Teatro da Anatel em Brasília, teve uma inovadora iniciativa teatral, ao pinçar trechos da cena final do IV Ato de La Traviata, para encerramento de sua apresentação, que cobriu peças do Barroco, do Romantismo, do Modernismo e do pós-Modernismo mundial, que já foram disponibilizadas em outros vídeos no YouTube. 
Introduziu alguma alteração nos materiais que utilizou para obter maior força de expressão. Por exemplo, levou ao palco uma roseira, da qual retirou uma rosa murcha identificada com a aparência envelhecida de Violetta, em vez de olhar-se no espelho, como sugeria o libreto. 
A apresentação de Rute Pardini se inicia com a leitura da carta de Germont.
Assim descreve o libretista Piave: 
Trae dal seno una lettera.
"Teneste la promessa... la disfida 
Ebbe luogo! il barone fu ferito, 
Però migliora Alfredo 
È in stranio suolo; il vostro sacrifizio 
Io stesso gli ho svelato; 
Egli a voi tornerà pel suo perdono; 
Io pur verrò. Curatevi... meritate 
Un avvenir migliore. - 
Giorgio Germont". 
desolata 
È tardi! 
Si alza 
Attendo, attendo né a me giungon mai! . . . 
Si guarda allo specchio 
Oh, come son mutata! 
Ma il dottore a sperar pure m'esorta! 
Ah, con tal morbo ogni speranza è morta. 
Addio, del passato bei sogni ridenti, 
Le rose del volto già son pallenti; 
L'amore d'Alfredo pur esso mi manca, 
Conforto, sostegno dell'anima 
stanca 
Ah, della traviata sorridi al desio; 
A lei, deh, perdona; tu accoglila, o Dio, 
Or tutto finì. 
 
Cabe aqui recordar que no início da ópera a voz da protagonista tinha características diferentes: seu timbre era brilhante e alegre, com belos ornamentos. A alegre jovem, tão segura de suas atitudes e desprendida do amor e do julgamento da sociedade, que se apresentava como "Sempre Libera" (Sempre livre), agora se mostra fragilizada. Principalmente, na última cena da ópera, a voz da cantora ganha uma nova expressão de angústia, dando margem ao aparecimento de uma Violetta introspectiva com a voz quase sufocada. 
Na minha tradução livre, vejamos essa cena da leitura da carta: 
Violetta lê na carta que tira de seu regaço: 
"Você cumpriu a promessa... o desafio (ao duelo) 
Aconteceu! o barão foi ferido, 
Mas Alfredo melhora; 
Está em terra estrangeira; seu sacrifício 
Eu mesmo revelei a ele; 
Ele retornará a você pelo seu perdão; 
Eu também irei. Se cuida ... você merece 
Um futuro melhor." 
Ass. Giorgio Germont 
 
Mas Violetta suspira e desolada exclama
"É tarde!" 
Ela se levanta e continua: 
"Eu espero, espero e eles nunca vêm a mim!..." 
Ela se olha no espelho
"Oh! como estou mudada! 
Mas o médico me incentiva a ter esperança! 
Ah! com esta doença está morta toda esperança. 
Adeus, sonhos felizes do passado, 
As cores do rosto já murcharam; 
Me faz falta o amor de Alfredo também, 
Conforto, apoio da alma 
cansada 
Ah, dos sorrisos ao desejo da transviada; 
Concedei a ela (alma) o perdão; 
Acolhei-a, ó Deus! 
Agora tudo está acabado! 
 
De súbito, o pensamento da própria morte provoca em Violetta um angustioso protesto contra seu destino. Aterroriza-a a visão do que a espera: uma sepultura sem cruz e sem flores. Por que morrer quando o universo conspira a favor dela? Subitamente retorna Annina, portando a notícia de que uma surpresa maravilhosa está para acontecer. Violetta fica sabendo que Alfredo, seu amado, está chegando. Um minuto depois os dois estão nos braços um do outro na cama, cantando um dueto. Mas como o Amor é ideal de acordo com o manual do romântico, isto é, não se realiza neste mundo, Violetta ainda canta como num último ímpeto de vida. Com um grito final de êxtase, Violetta cai para trás, morta, enquanto Alfredo ainda a abraça e os outros que vão chegando expressam sua profunda dor pelo seu trespasse. 
 
De acordo com a visão romântica, o Amor do casal só se realizará num outro mundo, já que neste mundo o Amor é inatingível. Por isso, só com a morte da heroína é possível a concretização do Amor. Numa outra dimensão, talvez... Por isso, especialmente na ópera romântica é muito comum a morte da heroína nas suas diversas modalidades. 
 
Rute Pardini, numa atitude criativa de grande efeito, tomou trechos vistos neste enredo comentado e imaginou uma adaptação do IV Ato de La Traviata, para concluir o seu recital no ano de 2008, quando se fez acompanhar por Vânia Marise ao piano, isto é, sem acompanhamento orquestral. Ela tomou a última fala de Violetta e adaptou-a para um contexto diferente, como se ela falasse consigo mesma após a leitura da carta: 
 
È strano! 
Cessarono gli spasimi del dolore. 
In me rinasce m'agita insolito vigore! 
Ah! ma io ritorno a vivere! 
Oh gioia! 
 
Minha tradução livre: 
É estranho! 
Cessaram os espasmos de dor. 
Em mim renasce me agita insólito vigor! 
Ah! mas eu retorno à vida! 
Ó alegria!
 
Link do vídeo da cantora Rute Pardini na última cena do IV Ato da ópera La Traviata de Giuseppe Verdi:

Na última cena do espetáculo, pela primeira vez, Violetta aparece desnuda de sua máscara de cortesã, ela se reconhece "a transviada", e finalmente é por toda a plateia vista como uma mulher com sentimentos nobres: aquela que amou e, principalmente, sofreu pelas convenções sociais. 
Na sua montagem da última cena, Rute Pardini dispensou o inesperado e surpreendente momento de reconciliação entre o velho Germont e Violetta. Também, entendeu que eram dispensáveis as últimas palavras de Violetta a Alfredo, aconselhando-o a encontrar um novo amor numa jovem pudica, virgem. A sua decisão se aproxima mais da obra original de Alexandre Dumas Filho, A Dama das Camélias, em que não existe nenhuma reconciliação entre Margarida (Violetta, na ópera) e o pai de seu amado, Armando (Germont, na ópera), no caso do célebre romance de 1848. 
Conforme foi dito anteriormente, como não haveria no palco nem Alfredo (que na ópera acompanhou Violetta até sua morte), nem Germont, muito menos uma reconciliação plausível, Rute Pardini entendeu mais conveniente mostrar um elemento introspectivo da protagonista, valorizando suas últimas energias e atitudes em face da sensação da proximidade da morte. Parece que Giuseppe Verdi e Francesco Maria Piave alteraram o desfecho da obra original e até a sua intencionalidade, direcionando a maneira como ela foi percebida pela Europa do século XIX. 
 
 
Voo para a Liberdade


 
Violetta tem um breve espasmo de consciência e suas forças reaparecem, em seu leito de morte. Ela vivencia o que se chama "melhora da morte". Rute Pardini julgou que devia tirar proveito desse "renascer" e concebeu, com as asas da imaginação, um adeus ao mundo de Violetta como um voo para a Liberdade. Para a cantora Pardini, o ato de precipitar-se sobre a plateia desvairadamente significaria conseguir um feedback mais natural pelo contato direto (com a plateia) do que poderia captar, de uma forma estática, estando parada no palco. Também é possível interpretar que o ato de ir ao encontro da plateia tem um apelo de comunicação, representa um desejo de a protagonista Violetta desnudar-se (de despojar-se de sua máscara), fazendo aproveitamento pleno desta última oportunidade que possibilitou uma valorização da cena de despedida da vida.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

FELIZ RÚSSIA, um lema para exemplo!


Por Francisco José dos Santos Braga 
 
Desejamos FELIZ RÚSSIA (С днём России): 12 de junho

No dia 12 de junho, os Russos celebram um dos principais feriados o Dia da Rússia, que representa a continuidade histórica de gerações, tradições, patriotismo, trabalho criativo, paz e harmonia na sociedade. 
Esta festa pretende unir todos os cidadãos russos que se dedicam sinceramente à sua Pátria, que valorizam de forma sagrada a história do seu país, do seu povo! Este dia obriga cada um deles, com seu trabalho e talento, a se envolver com o renascimento do poder e da prosperidade de seu Estado, levando à reflexão de que o presente e o futuro da Grande Rússia dependem de cada um deles, de seu trabalho, iniciativa e responsabilidade cívica. 
No Dia da Rússia, são formulados os mais sinceros votos de felicidade, boa saúde, prosperidade e sucesso em seu negócio e que a paz, a harmonia e a confiança no futuro acompanhem cada um dos cidadãos russos.  
 
♧               ♧               ♧ 
 
Para comemoração desse importante dia, tomarei um dos mais sugestivos poemas inspirados na Rússia, "Sobre a Pátria, só sobre a Pátria" do poeta daguestanês Rasúl Gamzátov (08/09/1923-03/11/2003). Veja inicialmente a beleza desses simples versos patrióticos na minha tradução: 
 
SOBRE A PÁTRIA, SÓ SOBRE A PÁTRIA 
 
Por Rasul Gamzatov 
 
Sobre o que versa esta canção das chorosas bétulas, 
Melodia cheia de luz e lágrimas? 
Sobre a Pátria, só sobre a Pátria. 
De que têm saudade as hibernantes aves 
Que migram para o limítrofe granito frio? 
Da Pátria, somente da Pátria. 
 
Nos momentos tristes, na época de adversidade 
Quem nos acariciará, quem nos salvará? 
A Pátria, somente a Pátria. 
E a quem devemos aquecer no frio intenso 
E nos dias difíceis, de quem devemos nos apiedar? 
Da Pátria, da doce Pátria. 
 
Quando partimos para um voo interestelar, 
Sobre o que nossos corações terrestres estão cantando? 
Sobre a Pátria, só sobre a Pátria. 
Vivemos em nome do bem e do amor, 
E são nossas melhores canções, tuas e minhas, 
Sobre a Pátria, só sobre a Pátria... 
 
Sob o sol ardente e na nevasca esvoaçante 
Volvo meus pensamentos e minhas preces 
Para a Pátria, só para a Pátria. 
 
Para comemoração desse importante dia, esse poema foi musicado por Georgy Sviridov (1915-1998). Desfrute do belo trabalho de edição do seguinte vídeo com a declamação do poema, tendo ao fundo a peça musical composta pelo saudoso músico russo para grande orquestra e soprano solista. 
 
Para o leitor interessado na língua russa, segue o texto do poema original declamado no vídeo: 
 
О Родине, только о Родине 
 
Расул Гамзатов 
 
О чём эта песня плакучих берёз, 
Мелодия, полная света и слёз? 
О Родине, только о Родине. 
О чём за холодным гранитом границ 
Тоска улетающих на зиму птиц? 
О Родине, только о Родине. 
 
В минуты печали, в годину невзгод 
Кто нас приголубит и кто нас спасёт? 
Родина, только лишь Родина. 
Кого в лютый холод нам надо согреть 
И в трудные дни мы должны пожалеть? 
Родину, милую Родину. 
 
Когда мы уходим в межзвёздный полёт, 
О чём наше сердце земное поёт? 
О Родине, только о Родине. 
Живём мы во имя добра и любви, 
И лучшие песни твои и мои
О Родине, только о Родине… 
 
Под солнцем палящим и в снежной пыли 
И думы мои, и молитвы мои
О Родине, только о Родине. 
 
 
II. ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O POETA RASÚL GAMZÁTOV 
 
 
 
RASÚL GAMZÁTOV, nascido na aldeia de Tsada no nordeste do Cáucaso em 1923, é o Poeta Nacional do Daguestão. A poesia era um dom de família: seu pai, Gamzat Tsadasa, foi um conhecido bardo, herdeiro da antiga tradição menestrel ainda florescente nas montanhas. Muitas poesias de Gamzatov estão escritas em Avar, língua majoritária embora não única no Daguestão. Foi educado em Moscou e começou sua carreira traduzindo os clássicos russos para a sua língua nativa Avar. 
Inúmeros poemas dele também se tornaram canções. 
Foi premiado várias vezes. Só serão citadas as premiações mais importantes com que foi agraciado: o prêmio estatal Stalin em 1952, o prêmio Lenin em 1963 e laureado com o Prêmio Internacional Botev em 1981. 
Mais de trinta livros de poemas de Rasúl Gamzátov foram traduzidos para a língua russa (destacando-se a tradutora N. Grebneva) e outras línguas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

JOSÉ MARIA ÁLVARES DA SILVA CAMPOS


Por Francisco José dos Santos Braga 

 
Dedico esta página aos Acadêmicos da ADL-Academia Divinopolitana de Letras, que neste ano comemora seu 60º aniversário, em especial ao Pe. José Raimundo Bechelaine, que, em reunião ordinária da ADL no dia 09/10/2021, relembrou triste episódio de morte acidental de sete quintanistas do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei, em intervenção muito pertinente à substanciosa palestra de Dr. Célio Tavares sobre a vida e obra de José Maria Álvares da Silva Campos, personalidade notável que inspira a presente crônica. 

Foto de José Maria Álvares da Silva Campos - Crédito: Arquivo da ADL por intermédio do Acadêmico
Arnaldo Mesquita Santos Júnior
 
No começo do corrente ano, fiz uma postagem sobre Dona Sinhá Neves ¹ , em crônica de Gentil Palhares intitulada "Dona Sinhá Neves, uma vida para exemplo!" em homenagem à respeitável matrona são-joanense, mãe de doze filhos, dentre os quais se destaca o saudoso presidente Tancredo de Almeida Neves.  Meu comentário de nº 3 naquela postagem permito-me transcrever aqui: 
"Em 27 de novembro de 1936, quintanistas do Ginásio Santo Antônio faziam uma excursão à Usina de Carandaí quando uma ponte caiu, resultando em muitas mortes e feridos. 
[CINTRA, 1967, 227] ²  descreveu o trágico acontecimento da seguinte forma: "Os bacharelandos do Ginásio Santo Antônio de S. João del-Rei, acompanhados pelo Pe. Frei Norberto Beaufort, realizavam um passeio à usina hidroelétrica do Rio Carandaí. Postaram-se numa ponte, nas proximidades da usina, pedindo ao citado franciscano que batesse uma fotografia. Após a execução da fotografia, a ponte desabou, perecendo no Rio Carandaí os jovens seguintes: Gastão de Almeida Neves, Humberto Álvares da Silva Campos, Geraldo Castanheira de Carvalho, João de Oliveira Resende, José Darci dos Reis Meireles, José Rivadávia Estêves Guedes e Raimundo Moreira Guimarães."

No referido comentário ainda fiz o seguinte acréscimo à efeméride do historiador são-joanense:

Consta ainda, agora na tradição oral são-joanense, que, após a foto, todos os alunos saltaram sobre a ponte pênsil, o que ocasionou a forte distensão dos cabos ou tirantes que, não suportando o empuxo, romperam-se. Praticamente, todos se feriram no acidente: uns, devido à queda violenta sobre pedras, sete, em razão da fatalidade da morte súbita devido à violência da queda ou afogamento." 
Esta é reconhecidamente uma página triste, não só do Ginásio Santo Antônio, mas de São João del-Rei, pois esse trágico acontecimento, em que sete ginasianos perderam a vida, entre eles, Gastão de Almeida Neves, filho de Dona Sinhá Neves, marcou não apenas o coração dos familiares dos rapazes ceifados na flor da idade, mas também foi uma comoção atroz para toda a população são-joanense. 
 
Neste momento, entretanto, vou tratar do desaparecimento de Humberto Álvares da Silva Campos, filho de uma personalidade ilustre de Divinópolis: José Maria Álvares da Silva Campos, o farmacêutico formado pela Escola de Farmácia em Ouro Preto, proprietário da antiga Farmácia Campos situada na Rua Goiás, kardecista convicto, cofundador da ADL-Academia Divinopolitana de Letras, tendo inaugurado a Cadeira nº 3, para a qual escolheu como patrono Machado de Assis, e autor do livro "Evocação", segundo Dr. Célio Tavares, obra fundamental do "grande e insigne poeta" que honra a poesia brasileira. 
 
Anteriormente, o poeta José Maria Campos tinha sido louvado também com muita propriedade por Augusto Ambrosio Fidelis, por ocasião do 57º aniversário da ADL, em feliz referência a sua veia poética escorreita e inigualável, nos seguintes termos ³
Empossado na Cadeira nº 3, José Maria Álvares da Silva Campos, além dos seus afazeres como farmacêutico, legou ao município belíssima obra, particularmente no que tange à poesia, como no soneto de sua autoria: 
SAUDADE
Quando um dia seguires o teu caminho, 
Guia os teus passos com serenidade; 
Não penses nunca que ficou sozinho, 
Quem ficou sob o amparo da saudade. 
 
Esse sentir não nasce da verdade, 
E sim do grande afeto, do carinho 
E na sua azulada claridade 
O distante se torna tão pertinho. 
 
Há de ser venturoso todo aquele 
Que conseguir deixar um pouco dele 
Após o instante da separação. 
 
A vida é assim. Mas seja como for 
Há glória no destino quando o amor 
Permanece no nosso coração.
 
Bem, agora vamos à lenda. Como dizia o geógrafo, historiador e cofundador do IHG de São João del-Rei, Geraldo Guimarães, em entrevista à TV Del Rei , “a lenda é mais fácil de ser divulgada do que a própria história, porque a lenda é mais romântica, mais bonita, mais interessante, mais fácil de ser guardada”, diferentemente do fato histórico que se nutre de fontes históricas constituídas por elementos feitos pelo homem e cujos vestígios ele deixou no passado. 
 
Pois bem. Conforme tinha dito no início, compareci ao elogio acadêmico que Dr. Célio Tavares fez ao poeta José Maria Álvares da Silva Campos e ali ouvi atentamente o aparte de Pe. J. R. Bechelaine. De fato, o franciscano holandês Norberto Beaufort fotografou o último instante de vida de seus sete alunos e teria ficado completamente traumatizado com o desfecho fatal para os rapazes, razão por que teria afixado numa parede, como lembrança dos rapazes, aquele último registro fotográfico deles ainda vivos. E sob este anotou: 
"Esta é apenas uma fotografia na parede. 
Mas como dói!" 
Sabe-se que Drummond de Andrade, no seu poema "Confidência do Itabirano", termina da mesma forma seu conhecido poema: 
"Itabira é apenas uma fotografia na parede. 
Mas como dói!" 
É fato historicamente comprovado que Drummond tenha plagiado o gesto e o escrito de frei Norberto? Em segundo lugar, plagiou a partir do que viu, ou ouviu dizer de terceiro que viu? Ou tudo não passa de mera coincidência que se tornou lenda para adormecer crianças? 

 

II. NOTAS  EXPLICATIVAS

 

¹  PALHARES, Gentil: Dona Sinhá Neves, uma vida para exemplo!, in Blog de São João del-Rei, postado em 11/01/2021
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/01/dona-sinha-neves-uma-vida-para-exemplo.html
 
² Na data de hoje, os são-joanenses comemoramos o 103º aniversário do saudoso professor Sebastião de Oliveira Cintra (15/10/1918-19/08/2003), autor de "Efemérides de São João del-Rei" e de "Galeria das Personalidades Notáveis de S. João del-Rei", data coincidente com a homenagem que prestamos ao Dia do Professor e, por extensão, ao historiador Cintra por ter sido professor com registro.

 
⁴  Link: https://www.youtube.com/watch?v=_XiB9Sadglw (de 03:44 a 03:50) 
 

III. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA  

 

CINTRA, Sebastião de Oliveira: Efemérides de São João del-Rei, 2º volume, Juiz de Fora: Ofic. Gráf. da Sociedade Propagadora Esdeva (edição do autor), 1967, 288 páginas

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

DISCURSO DE SAUDAÇÃO PELO MEU INGRESSO NA ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO JOÃO DEL-REI



Por Dr. Euclides Garcia de Lima Filho (nosso amado Dr."Tidinho")

Dr. Euclides Garcia de Lima Filho discursa no dia da posse de Francisco José dos Santos Braga na Cadeira nº 28 da Academia de Letras de São João del-Rei, cujo patrono é Dr. Antônio de Andrade Reis

 

Confrades preclaros,
Marina de Andrade Reis querida, 
 
Tendo faltado a três reuniões desta Academia por motivo de ordem profissional, fui surpreendido hoje, meu querido Francisco, com a posse do nosso Confrade. E, ao ouvi-lo, eu fui tomado por uma profunda emoção: a sua fala, o seu discurso de posse me transportou para os saudosos tempos do nosso querido Colégio Santo Antônio, que, naquela ocasião, quando nós lá estudávamos na década de 40, lá moravam e trabalhavam em São João del-Rei mais de 20 frades, todos holandeses, só um brasileiro, o saudoso Frei Orlando. E foi lá, Francisco, que nós aprendemos os pilares fundamentais da cultura, da fé e do civismo. 
Então, ao ouvi-lo, eu fiquei profundamente emocionado e tomado por uma saudade incomensurável. Saudade daqueles tempos onde a gente realmente amava as coisas geradas pelo espírito. Ora Deus! Quem poderia imaginar que o Colégio Santo Antônio provavelmente um dos melhores colégios do Brasil poderia, dirigido por frades holandeses, (você se lembra e outros ex-alunos do Santo Antônio se lembram disso), nós, para começarmos as nossas lides escolares, éramos chamados pelo apito de Frei Eugeniano, e todos caminhávamos, qual rebanho obediente e tranquilo, para o início das aulas no colégio. Você se lembra: padres holandeses... Nós, antes de entrarmos para a aula, éramos obrigados a escutar o Hino Nacional, executado por uma banda dos próprios alunos, bastante desafinada, tanto que tinha o apelido de “Furiosa”, lembra-se disso? A Furiosa tocava o Hino Nacional e um aluno era escolhido para hastear a Bandeira Nacional. Qual é o colégio hoje, qual é a escola hoje que ensina que aquele pedaço de pano verde e amarelo contém uma das mais belas histórias do universo? Aquele verde devia ser tingido de vermelho pelo sangue dos nossos heróis, aquela bandeira que nós aplaudíamos de pé inspirados pelos frades holandeses. Hoje, quando a gente ouve o Hino Nacional, os jovens de hoje nem sequer se levantam (...)
 
(Dirigindo-se à mãe deste neoacadêmico): 
Dona Celina dos Santos Braga, 
Agora que eu vi a senhora aí, me emocionei mais ainda. Eu frequentava a sua casa até como pediatra, como médico. Como eu pude ajudá-los nos momentos de alegria, nos momentos de tristeza!
 
Então nós estávamos, Francisco, no Colégio Santo Antônio e, antes de entrar para as aulas, repito, hasteávamos a Bandeira Nacional, inspirados por padres holandeses. Depois, já dentro da aula rezávamos uma prece, invocando o Divino Espírito Santo que iluminasse a nossa inteligência e o nosso espírito. Qual escola faz isso hoje em dia? Qual escola ensina amar a Deus sobre todas as coisas e a sua Pátria, como fora outra casa de seus pais? Meu Deus, a sua fala me deixou profundamente emocionado e me trouxe uma saudade incomensurável, saudade daqueles tempos em que violência não existia. Nós saíamos pelas ruas bucólicas de São João del-Rei. À noite fazíamos serenatas tranquilas, sem o risco de um assalto ou de uma agressão. Hoje não se pode mais fazer isso. Nos nossos encontros, as famílias não estavam limitadas em seu convívio pela televisão, pela novela e até mesmo pela Internet. Eu me lembro que nós andávamos assim às cinco horas da tarde e depois saíamos caminhando pelas ruas da cidade e encontrávamos, à porta da casa dos nossos amigos, cadeiras esperando por aquelas visitas. E ali discutíamos problemas bons e maus, trocando confidências. As famílias se falavam, as famílias se amavam. As famílias trocavam confidências. E hoje? Quantas vezes nós visitamos alguém que esteja sofrendo alguma turbulência em sua vida? Nós não temos tempo, a televisão não deixa. A ânsia de ganhar dinheiro não permite. E as coisas do espírito estão então esquecidas. 
 
Amor, meu Deus! Eu sou pediatra e médico de adolescente: dependendo do caso que eu examino, eu quase sou levado às lágrimas. Porque no meu consultório aparecem jovens, desprezados pelos seus próprios pais. (...) E aí vêm a violência, os assassinatos, os roubos e os assaltos, pessoas que roubam as mínimas coisas para satisfazerem o seu vício. 
 
Vício perdão! É um erro grave falar vício. A sua doença. A dependência química não é um vício, é um erro que se comete. Um alcoólatra não é alcoólatra, é um doente alcoólico. Porque um alcoólatra, pela etimologia da própria palavra, é aquele que idolatra o álcool; por isso, é alcoólatra. Mentira! Ele não idolatra, ele abomina o álcool, ele sente que o álcool destruiu a sua vida, destruiu o seu lar, tornou-o um desempregado, mas ele não consegue largar a escravidão daquela doença. Como chamar um dependente químico de alcoólatra, se ele abomina (e não idolatra) aquilo que está destruindo a sua vida? Isso é o que nós estamos vivendo hoje. 
 
Francisco, 
Eu o tenho como verdadeiro irmão. Sempre tive. Não sabia da sua posse, não sabia nem do seu ingresso na nossa Academia. Tive que faltar a três reuniões, por motivo de ordem profissional. Fui tomado de total surpresa e vou para casa hoje emocionado. Lamento e lamento muito que a nossa Academia não esteja com todas as cadeiras lotadas pelos nossos companheiros, nossos confrades. Onde estão eles? Gente, como é difícil fazer o voluntariado hoje! Como é difícil encontrar alguém que queira pertencer a uma Irmandade religiosa, a um partido político sólido e decente! Como é difícil encontrar alguém que queira ser voluntário numa Academia de Letras! Onde estão os nossos Acadêmicos? Acadêmicos deveriam estar aqui para, de pé, aplaudir esse conterrâneo ilustre, querido, dedicado, que nunca se esqueceu da sua São João del-Rei, da nossa São João del-Rei. 
 
Encerrando esse improviso talvez eu tenha me alongado até mais do que podia eu quero dizer o seguinte: 
 
Meu caro Presidente, 
Acho que nós devemos marcar uma outra reunião para oficializar a posse deste grande conterrâneo (...) onde receber o diploma, porque você, meu caro Francisco, merece muito mais do que você está recebendo hoje. Você passa a ser, a partir de agora, um símbolo de inspiração para que novos são-joanenses bons sigam seu exemplo. 
 
Querido Francisco, 
Eu não poderia ficar calado diante deste seu brilhante trabalho. Serei muito rápido porque a plateia é extremamente culta e saberá absorver aquilo que eu gostaria de dizer por mais tempo. A medicina sofre hoje um triste clima de desagregação, de mercantilização, de mediocridade. A medicina está sofrendo graves problemas. Esse trabalho tem que ser difundido através de todas as áreas médicas do Brasil porque você enaltece aquelas pessoas que exercitaram a medicina de acordo com os postulados do maior médico da história da medicina brasileira, que se chamava Miguel Couto, professor da Faculdade de Medicina, onde eu estudei, na Praia Vermelha do Rio de Janeiro, onde também estudaram Dr. Diomedes Garcia de Lima e Dr. Antônio de Andrade Reis. Miguel Couto escreveu um livro que se chama "Os Aforismos de Miguel Couto". Vou citar apenas um aforismo para que a gente tenha ideia do valor do seu trabalho. Ele nos dizia nos seus Aforismos: "Ao médico compete curar poucas vezes, aliviar muitas vezes, mas consolar sempre". Nós médicos estaremos consolando? Portanto, hoje esta plêiade de médicos que foram apresentados, à guisa de apresentação do Dr. Antônio de Andrade Reis, como médico da Santa Casa da Misericórdia, em nome da família Andrade Reis permita-me Marina , em nome da Santa Casa, eu quero cumprimentá-lo, agradecer e dizer que este trabalho merece repito ser difundido nesta hora em que nós precisamos resgatar a nobreza e a beleza da medicina. 
 
Miguel Couto dizia ainda: "A medicina tem duas facetas: uma é a Arte médica, a outra é a Ciência médica. A Arte só Deus dá; a Ciência o homem adquire." Por isso, nós temos em Dr. Antônio de Andrade Reis o grande exemplo dos aforismos de Miguel Couto. Obrigado!
 
(Discurso pronunciado em 28/10/2012 por Dr. Euclides Garcia de Lima Filho, saudando o ingresso do neoacadêmico Francisco José dos Santos Braga para ocupar a Cadeira nº 28, patroneada por Dr. Antônio de Andrade Reis, na Academia de Letras de São João del-Rei) 
 
Obs.: A parte final  do discurso pode ser vista no encerramento do vídeo no YouTube:  

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

RELEMBRANDO SPUTNIK 1 e 2 (1957)



Por Francisco José dos Santos Braga

 

I. UM POUCO DE HISTÓRIA 

A Guerra Fria foi um conflito político-ideológico travado entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS) entre 1947 e 1991. Esse cenário, de acordo com muitos historiadores, foi disparado por meio do discurso do presidente norte-americano Harry Truman, quando solicitou verba para conter o avanço do comunismo na Europa, em 1947. A corrida espacial foi, então, uma das formas em que essa disputa tecnológica se manifestou. Assim, ambos os países realizaram intenso investimento para incentivar o desenvolvimento da pesquisa científica e passaram a explorar uma nova janela do progresso humano: o espaço. A disputa que marcou a Guerra Fria entre os dois países se manifestou, além do espaço, também na diplomacia, na economia, na indústria armamentista, no esporte e na tecnologia em geral. 
 
II. PROGRAMA SPUTNIK SOVIÉTICO
 
Há 64 anos atrás, o Programa Sputnik soviético foi inaugurado com o lançamento do primeiro satélite artificial conhecido por Sputnik 1 em 4 de outubro de 1957 e, daí a um mês com a segunda missão do Programa, lançada ao espaço a partir do Cosmódromo de Baikonur em 3 de novembro de 1957 pela URSS. Sputnik 1, a primeira espaçonave orbital do mundo, orbitou em volta da terra durante 3 meses.  Seu efeito imediato foi dar início à corrida espacial.
 
Réplica do Sputnik 1 exibida no Cosmonautics Space Museum Moscow

Sputnik 1 em órbita, o primeiro da Era Espacial

[BORGES, 2013, 18] registra a sequência ainda mais emocionante do fato pioneiro dos soviéticos: 
Um mês depois do lançamento do Sputnik 1, os soviéticos enviaram ao espaço o Sputnik 2, em 4 de novembro de 1957. Foi lançado pelo foguete R-7 (R-7 - SS-6 SAPWOOD) da família Zemiorka, como o Sputnik 1, com algumas alterações. Media quatro metros de altura e dois metros de diâmetro, além de possuir vários compartimentos para transmissores de rádio, sistema de telemetria, unidade programada, sistema de controle da cabine e ainda uma cabine separada, onde viajou a cadela Laika. Foi a primeira vez que um ser vivo foi para o espaço. O Sputnik 2 caiu em solo terrestre em abril de 1958, ficando 162 dias em órbita. As conquistas do Stupnik 2 estão associadas às medidas da radiação solar (emissão de raios ultra violeta e raio-x). Os russos haviam conseguido enviar um ser vivo ao espaço e, com alguns tropeços, conseguiram trazer esse ser vivo de volta à Terra.
 
 
Relembrando Laika, cadela espacial e herói soviético

 
Com a agitação que se seguiu, os acontecimentos foram levando àquilo que os historiadores agora reconhecem como um divisor de águas na História - o início da Era Espacial. Ao longo dessas últimas 6 décadas, na dramática arena do voo espacial muita água correu: além da Rússia, que colocou o primeiro humano no espaço em abril de 1961 numa disputa atroz com os Estados Unidos, a China também não demorou a se juntar ao clube de voo espacial humano com seu Programa Shenzhou. 
Iniciado em 1956, pouco tempo depois da fundação da República Popular da China, o programa espacial chinês vem-se destacando nos últimos anos por seus grandes investimentos e realizações, a despeito da crise econômica mundial. Durante a cordial relação entre China e União Soviética, durante os anos 1950, a União Soviética se engajou num programa de transferência de tecnologia à China, no âmbito do qual foram treinados estudantes chineses para construírem um protótipo de foguete. Com o rompimento de relações entre China e União Soviética, em 1960, a URSS retirou seu apoio e a transferência de tecnologia, mas a comunidade científica chinesa prosseguiu de maneira independente e lançou seu primeiro foguete, em fins daquele ano. A China continua firme com seu programa espacial e a Agência chinesa noticiou que quer construir uma meganave espacial com quase 1 km de comprimento, considerando tal plano como "principal equipamento aeroespacial estratégico para o uso futuro dos recursos espaciais, a exploração dos mistérios do universo e a vida longa em órbita". 
 
[BORGES, 2013, 16-17] continua com seu abalizado conhecimento: 
O Sputnik 1 era uma esfera de cerca de 58,5 cm e pesava 83,6 kg, um pouco maior que uma bola de basquete e emitia um sinal intermitente: beep - beep - beep. Seu sinal podia ser sintonizado por qualquer radioamador nas frequências entre 20.005 e 40.002 MHz. Foi lançado em 4 de outubro de 1957 pelo foguete R-7 (Foguete 7 / 8K71) da família Zemiorka, cuja massa bruta era de 272.830 kg, com uma carga útil de 5.370 kg. Possuía 33,50 m de altura e 2,95 m de diâmetro, alcançando 8.000 Km/h e voando a altitudes que variavam entre 230 e 950 km. Quando estava em órbita, o foguete soltou-se do satélite, sendo que este orbitou em volta da terra por três meses antes de cair, colaborando durante esse tempo com a identificação das camadas da alta atmosfera terrestre e com o reconhecimento de pequenos meteoritos. A decisão de mandar um satélite estava relacionada ao desejo de dominação do Espaço orbital. Logicamente, o objetivo era enviar armas passíveis de serem acionadas do Espaço em tempo infinitamente menor do que aquelas enviadas da Terra para qualquer território inimigo. Para enviar o satélite, a questão estava em começar a fazer os testes no Espaço. O Sputnik não era uma arma nuclear, mas poderia vir a ser e os planos eram para que se tornasse. Foi por pressão da mídia que os russos se adiantaram na empreitada, com medo de que os EUA ganhassem o primeiro lugar no domínio simbólico do Espaço. A grande vantagem do Sputnik para a União Soviética foi a declaração universal que era de fato possível colocar um objeto humano no Espaço Sideral e eles haviam sido os donos do feito.

 
III. REPERCUSSÃO NOS EUA 
 
O feito realizado pelos soviéticos tiveram um forte impacto na opinião pública norte-americana. O presidente americano Dwight Eisenhower começou a ser pressionado pelo fato dos EUA estarem atrás dos soviéticos na corrida espacial. Assim, como forma de impulsionar a pesquisa científica americana na exploração do espaço, decidiu-se criar a agência NASA. A NASA foi criada em julho de 1958 e tinha como objetivo coordenar o projeto de exploração espacial dos americanos. A resposta americana não se deu apenas com a criação da agência porque, antes dela, em janeiro de 1958, foi lançado o Explorer 1, o primeiro satélite artificial dos norte-americanos, lançado em 31 de janeiro de 1958. Esse satélite norte-americano conseguiu comprovar a existência de cinturões de radioatividade ao redor da Terra. Além disso, outros sensores instalados no satélite foram importantes para a obtenção de novas informações sobre o espaço. Considera-se que o Explorer 1 obteve resultados científicos mais expressivos do que os dos Sputniks lançados pelos soviéticos. 
 
FILME: SPUTNIK MANIA 
 
O cineasta David Hoffman compartilhou em 2008 partes de seu documentário longa-metragem "Sputnik Mania" *, onde mostra como a União Soviética lançou o Sputnik, deslanchando a corrida espacial e armamentista e elevando a educação científica e matemática ao redor do mundo: 
Há cinquenta anos atrás (1957-2008) na antiga União Soviética, uma equipe de engenheiros transportava em segredo um grande objeto para uma área isolada no interior. Com este objeto, eles esperavam atrair a atenção de todas as pessoas por serem os primeiros a conquistar o espaço sideral. O foguete era enorme. E preso em seu nariz estava uma bola de prata com dois rádios dentro. 
Em 4 de outubro de 1957, eles lançaram seu foguete. 
Um dos cientistas russos escreveu na época: "Nós estamos prestes a criar um novo planeta que nós chamaremos de Sputnik. Nos tempos antigos, exploradores como Vasco da Gama e Colombo tiveram a sorte de descobrir o globo terrestre. Agora nós temos a sorte de descobrir o espaço. E isto é para aqueles — no futuro — invejarem a nossa alegria." 
Vocês estão assistindo a trechos de "Sputnik", meu quinto filme de longa metragem, que está quase finalizado. 
Este conta a história do Sputnik, e a história do que aconteceu na America como resultado. Por vários dias após o lançamento, o Sputnik foi uma curiosidade maravilhosa. Uma lua feita pelo homem, visível aos cidadãos comuns, inspirou admiração e orgulho de que os humanos tinham finalmente lançado um objeto no espaço. 
Mas em apenas três dias, um dia que foi chamado de Segunda-Feira Vermelha, a mídia e os políticos nos contaram — e nós acreditamos, — que o Sputnik era a prova de que nosso inimigo havia nos derrotado na ciência e tecnologia, e que eles poderiam então nos atacar com bombas de hidrogênio, utilizando seu foguete Sputnik com um míssil balístico intercontinental. 
Foi então o caos.  
O Sputnik tornou-se rapidamente um dos três grandes choques a atingir a América — historiadores apontam — assim como Pearl Harbor e 11 de Setembro, ele fez perceber a desvantagem americana em mísseis. 
Explodiu a corrida armamentista. 
Iniciou-se a corrida espacial. 
Em um ano, o Congresso financiou aumentos em armamentos, e nós fomos de 1.200 armas nucleares para 20.000. E a reação ao Sputnik foi muito maior que apenas o aumento do armamento. 
Por exemplo, alguns aqui devem lembrar daquele dia em junho de 1958, a "Simulação Nacional de Defesa Civil", onde dezenas de milhões de pessoas em 78 cidades refugiaram-se no subsolo. 
Ou a pesquisa do Gallup que mostrou que 7 em cada 10 americanos acreditavam que uma guerra nuclear iria acontecer, e que no mínimo 50% da nossa população seria aniquilada. 
Mas o Sputnik provocou também maravilhosas mudanças. 
Por exemplo, alguns nesta sala foram para a escola com bolsa de estudos devido ao Sputnik. O apoio à engenharia, matemática e ciências — educação de maneira geral — explodiu. 
E Vint Cerf aponta que o Sputnik levou diretamente à ARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada), à Internet, e obviamente, à NASA. 
O meu documentário mostra como uma sociedade livre pode ser pisoteada por aqueles que sabem como usar a mídia. 
Mas isto também demonstra como podemos transformar o que parece inicialmente ser uma situação ruim, em algo que foi muito bom para a América. 
"Sputnik" (o filme) será lançado em breve. 
Encerrando, eu gostaria de um momento para agradecer a um dos meus investidores: um TEDster há muito tempo, Jay Walker. 
E gostaria de agradecer a todos vocês. (Aplausos) 
* Trailer do filme Sputnik Mania - estrelando Kiev Schreiber, Peter Thomas. Direção: David Hoffman. Data do release teatral: 14/03/2008 
 
 
IV. BIBLIOGRAFIA
 
 
BORGES, Fabiane Morais: "Na busca da cultura espacial", tese de doutorado dentro do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica - Núcleo de Estudos e Pesquisas da Subjetividade, PUC-São Paulo, 2013, 180 p.
 
DICK, Steven J.: Remembering the Space Age (Ed.), 2008, 482 p.  

terça-feira, 5 de outubro de 2021

MINHA PALESTRA SOBRE FERNAND JOUTEUX: UM DOS MUITOS MÚSICOS ESQUECIDOS NA HISTÓRIA DA MÚSICA EM SÃO JOÃO DEL-REI>>>Parte 1


Por Francisco José dos Santos Braga


Ilmo. Sr. Presidente do IHG-SJDR, Sr. Paulo Roberto Sousa Lima, 
Vice-presidente Artur Cláudio da Costa Moreira, 
Confrades Bruno Nascimento Campos e Alex Lombello Amaral, envolvidos com o Projeto da 5ª récita da ópera O Sertão de Fernand Jouteux em SJDR, em nome de quem cumprimento todos os meus confrades de IHG ,
Amigos e amigas, 
 
Tive o prazer de ser mais uma vez convocado pelo nosso presidente Paulo Roberto Sousa Lima para discorrer nesta manhã sobre Fernand Jouteux, um dentre muitos músicos esquecidos na história da música em São João del-Rei. Tarefa difícil, mas não impossível para quem puder escrever vários tomos sobre o tema, se não quiser ser leviano ou ingênuo no enfrentamento da questão. Daí resulta que, numa palestra de 40 minutos, somente os nomes mais em evidência poderão ser mencionados lamentavelmente, já que não cabe aqui citá-los apenas, mas discorrer um pouco sobre a sua importância no âmbito da historiografia musical, havendo inevitavelmente muitas omissões da minha parte. 
 
No Correio da Manhã, Ano LX, nº 20740, de O4/11/1960, José do Carmo Barbosa, proprietário da Farmácia "Ouro Preto", secretário do C.A.C.-Centro Artístico e Cultural, locutor e diretor da ZYI-7 Rádio São João del-Rei, além de secretário geral e professor do Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier, publicou um artigo intitulado "Uma cidade vive há 2 séculos mergulhada nas ondas musicais", referindo-se à cidade de São João del-Rei. Este artigo encontra-se reproduzido e comentado no Blog de São João del-Rei, com a ressalva de que o seu título hoje teria o transcurso atualizado para 3  em vez de 2 séculos (1717-2021) ¹
 
Nesse artigo, ele constata que as crianças são-joanenses nascem ouvindo os sinos e a melodia que emana dos campanários dos seus templos coloniais, para explicar os pendores musicais do povo de São João del-Rei, a "Cidade da Música". No seu aprendizado um pouco sistemático da música, encontram-se disponíveis à criança são-joanense: 
1) o Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier 
2) as "furiosas" bandas civis com seu repertório variado 
3) as orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos com seu repertório sacro 
4) a Sociedade de Concertos Sinfônicos ("Sinfônica") com seu repertório profano. 
 
Modernamente, já não se estabelece uma distinção tão rígida entre música erudita e música popular, então presente nos anos 60. Os próprios cursos de Música das Universidades já oferecem currículo para as duas modalidades, dependendo da opção do interessado em cursar licenciatura em Música na graduação. Até a pós-graduação em Música já conta com ambas as vertentes da música: popular e erudita. 
 
Por isso, especialmente dois dos fundadores de Escolas de Samba, nos anos cinquenta a oitenta do século XX, merecem aqui ser lembrados pois fizeram do carnaval são-joanense o 3º melhor carnaval do Brasil, só atrás do Rio e de Olinda. São essas as suas escolas de samba: "Qualquer Nome Serve" (1957-1986) do Jota Dângelo e "Depois eu Digo" de João da Cruz Magalhães, Ginego. Contribuíram também para esta posição ocupada por São João del-Rei no ranking nacional: Falem de Mim, Unidos do Largo da Cruz, Irmãos Metralhas, Bate Paus e Rancho Custa Mais Vai, entre outras agremiações carnavalescas são-joanenses. 
 
A lista dos grandes músicos produzidos por São João del-Rei é extensa, especialmente no ramo da música sacra. O primeiro lugar cabe ao padre José Maria Xavier, autor de famosas e discutíveis partituras da "Semana Santa", que anualmente atrai centenas de turistas. Entretanto, poucos sabem que ele produziu muita música profana e até de salão. 
 
[VIEGAS, 1987, 53-65] comenta o seguinte a respeito da música profana de Xavier: 
“[...] O ter utilizado melodia de Rossini, adaptando-a para um texto religioso, porém empregando harmonização e instrumentação próprias, era fato comum na Corte do Rio de Janeiro, onde os compositores como Pedro Teixeira de Seixas, Fortunato Mazziotti, e outros, sofreram a influência da música operística em voga, principalmente de Rossini, a ponto de enxertar em suas obras para igreja reminiscências de óperas em voga. (...) Empregando o mesmo artifício, o Pe. José Maria Xavier escreve algumas obras das quais cito: Missa do Cerco de Corinto, solos ao pregador, e hinos para as novenas, usando melodias das óperas Moisés e Semiramide, todas de Rossini. Do gênero profano, o Padre José Maria Xavier compôs valsas, minuetos, aberturas, e fez arranjos orquestrais de diversas aberturas de óperas como: Recreio dos Clérigos, de Herold, Les Bacchantes ², de Generali; árias, duetos e coros de óperas, e escreve fantasias para o instrumento muito em voga na época, o oficleide. Para banda de música, escreveu algumas marchas processionais, destacando-se a que compôs para a procissão de Nossa Senhora da Boa Morte, que se realiza em 14 de agosto. (...)”  
Música profana do Pe. José Maria Xavier normalmente citada por seus biógrafos: Minueto em ré, 1852; Ofertório para cordas, 1875; Valsa, 1868, Minueto, 1865, Les Bacchantes de Pietro Generali, em orquestração de J.M. Xavier.  
 
Conforme [NEVES, 1984, 5], o início do povoamento do lugar, que em 1713 passou a chamar-se vila de São João d’EI-Rey, começou a partir de 1701, quando o bandeirante Tomé Portes del-Rei radicou-se na região, com a incumbência de cobrar taxa pela travessia do Rio das Mortes, no local conhecido como Porto Real da Passagem. A descoberta de ouro nos morros circunvizinhos atraiu grande afluência de pessoas, de todas as castas e profissões, que se agruparam em dois núcleos: Arraial Velho do Rio das Mortes ³, no local conhecido como Santo Antônio da Ponta do Morro, e o Arraial Novo do Rio das Mortes, onde ficava o Porto Real da Passagem. Em pouco tempo, no Arraial Novo foi erigida a primeira capela, dedicada a Nossa Senhora do Pilar, e, também, o primeiro quartel, uma casa da câmara e uma cadeia. 
 
É curioso constatar o seguinte fato: 
Essa nova situação levou, em 1717, o Governador D. Pedro de Almeida e Portugal, o conde de Assumar, a uma visita de inspeção na Vila de São João d'El-Rey, criada em 08/12/1713. E é por essa ocasião que se tem a primeira referência de atividade musical. O pesquisador [GUERRA, 1968, 15] apresenta o relato de Samuel Soares de Almeida, sobre as comemorações acerca do dia dessa visita: 
Na entrada da Villa se achava construído por ordem deste Senado da Camara um excellente pavilhão, ornado com riqueza e decência possível, aonde se achava o Ouvidor presidente do Senado e mais vereadores para pegarem nas varas do pallio, debaixo do qual foi conduzido o governador Conde de Assumar, precedido dos homens bons, nobreza e povo desta Villa, e seguido das companhias das Ordenanças, que marchavam ao som de uma muzica organisada pelo mestre Antonio do Carmo à igreja Matriz aonde o rev. vigário da vara Manoel Cabral Camello, entoou o hymno Te Deum, que foi seguido por todo o clero e muzica [...]” 
 
O mestre Antonio do Carmo também aparece no “Livro de Accordão da Camara Municipal de São João d’EI-Rey”, de 1727 a 1736, no dia 12-6-1728 registrado sob o título Mestre de Muzica: 
Accordarão estes que fosse chamado Antonio do Carmo para que desse o que se lhe havia de dar pela muzica para a festa que se hade fazer a 24 de Junho e por ocasião de acção de graças, e com efeitto veio logo a este Senado e se lhe prometeu quarenta oitavas de ouro de que daria Muzica boa com dois coros[GUERRA, idem,16]
 
A partir daí, as referências são constantes, inclusive nos livros das irmandades, confrarias e ordens terceiras, nos quais se encontram registrados os “ajustes” para as músicas das celebrações religiosas. Fato relevante foram as exéquias reais de D. João V, realizadas na Matriz do Pilar, no dia 28 de dezembro de 1750, quando a parte musical contou com “quatro coros” acompanhados com instrumentos, colocados em diferentes partes da igreja [NEVES, 1997, 15]
 
São João del-Rei conta com duas orquestras centenárias, ainda em plena atividade. 
A "Lira Sanjoanense", fundada em 1776 pelo mestre José Joaquim de Miranda, é a mais antiga orquestra sacra são-joanense e inclusive das Américas. Presume-se que seja remanescente dos coros de igreja de 1728. A orquestra e coro "Lira Sanjoanense" é responsável por abrilhantar principalmente as festividades da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, da Boa Morte, de São Miguel e Almas, de São Gonçalo Garcia, da Arquiconfraria de Nossa Senhora das Mercês, além de responder pela Novena Solene de São Sebastião de responsabilidade da Irmandade do SS. Sacramento na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar. Desde 2015, vem ocupando o cargo de diretor regente da Orquestra Lira Sanjoanense o Prof. Dr. Modesto Flávio Chagas Fonseca. 
A Orquestra Ribeiro Bastos, por sua vez, se originou bem mais tarde. Foi fundada em 1840 pelo mestre Francisco José das Chagas. Substituindo o Mestre Chagas na direção da corporação, em 1859, Ribeiro Bastos (1834-1912) organizou o acervo e ampliou-o sobremaneira. A Ribeiro Bastos é responsável por abrilhantar principalmente as festividades de responsabilidade da Irmandade do Santíssimo Sacramento (especialmente da Semana Santa), da Irmandade do Senhor dos Passos (especialmente da Festa de Passos), da Ordem Terceira do Carmo e da Ordem Terceira Franciscana. O seu atual nome é uma homenagem ao maestro Martiniano Ribeiro Bastos que a regeu durante mais de meio século. Em 1912, quando ele morreu, o grupo adotou o seu nome: de Orquestra "do" Ribeiro Bastos até então, tornou-se Orquestra Ribeiro Bastos. Atualmente, o seu diretor é Rodrigo Sampaio. A parte musical das imponentes comemorações da "Semana Santa" em São João del Rei, estão sob a sua responsabilidade, numa tradição, assim, de um século e meio. 
Pelo vultoso acervo, pode-se afirmar que o Maestro Ribeiro Bastos passou grande parte de sua vida copiando música e encadernando partes, tendo sido esse capricho o responsável pela preservação de muitas obras e manuscritos únicos que hoje se constituem em fontes importantes para a historiografia musical brasileira. Juntamente com o material sacro, Ribeiro Bastos possuiu importante biblioteca de partituras de óperas, a maioria em edições princeps para canto e piano, óperas reduzidas para quarteto de cordas, música de câmera e música de salão (valsas, polcas, mazurcas, etc.) e aberturas de óperas para grande e pequena orquestra. Fundou e dirigiu o "Club Musical Ribeiro Bastos" , um conjunto de câmara e coral para acompanhamento de solistas. 
 
Quanto ao acesso aos arquivos citados, [VIEGAS, 1998, 110-130] esclarece que depende da autorização de seus proprietários. Por exemplo, o Museu da Música da Arquidiocese de Mariana, para o qual ele e o Prof. Paulo Castagna prestaram serviço, está hoje sediado no andar térreo da residência arquiepiscopal. Duas funcionárias catalogam o material e orientam os pesquisadores. Para pesquisas, é necessária licença e autorização especial, já que está sendo evitado o uso de cópia xerox para reprodução de documentos originais. A Coleção Curt Lange, do Museu da Inconfidência, resguardada na Casa do Pilar, em Ouro Preto, não estava aberta à pesquisa até há bem pouco tempo atrás. Segundo a direção do Museu, a coleção (adquirida em 1982) estava sendo catalogada e microfilmada, estando já publicados dois dos três volumes previstos do seu catálogo temático. Hoje, no entanto, já é possível consultar os documentos musicais dessa coleção e iniciar sua pesquisa no âmbito musicológico. A consulta ao acervo da Orquestra Lira Sanjoanense depende da autorização da Direção da entidade e da disponibilidade do responsável pelo arquivo. (...) A consulta ao acervo da Orquestra Ribeiro Bastos depende da autorização da Direção da entidade para pesquisas. 
 
MUSICÓLOGOS SÃO-JOANENSES 
 
Antes de abordar seus nomes, convém frisar o conceito que faço da Musicologia. Para mim, ela é a ciência que cobre todo o estudo da música, exceto aquele direcionado à proficiência em performance ou em composição — embora mesmo um estudo como este tenha que recorrer à Musicologia para esclarecer alguns de seus problemas. Para simplificar, pode-se tentar restringir o alcance da Musicologia a termos mais compreensíveis, começando pela classificação quádrupla da Música com base no fim para o qual está sendo estudada: Performance, Composição, Pedagogia e Pesquisa. Para facilitar a compreensão, é em algum lugar nesta última divisão — no caso, a Pesquisa — que incide a Musicologia. Quando um músico é capaz de orientar os estudos musicais de outros pesquisadores, conhecendo bastante a história da Música, os estilos de cada época, dominando as escolas a que pertencem os compositores estudados, tendo uma visão crítica sobre o produto final assim obtido, tal pessoa pode ser chamada de musicólogo. Outra definição para Musicologia pode ser: ciência que se dedica às questões teóricas e ao conhecimento alcançado por várias áreas correlatas à música. Dito isto e apenas para sugerir uma baliza para nosso estudo, considero Mário de Andrade o fundador da Musicologia brasileira. Em continuação, vou tratar de dois musicólogos nascidos em São João del-Rei, com os quais tive a honra de conviver: 
 
1) Aluízio José Viegas (São João del-Rei, 1941-Nova Lima, 2015) era um pesquisador apaixonado pelo conhecimento, lia sistematicamente e apreciava uma discussão crítica. Embora não tenha cursado a universidade de forma regular, nem possuísse formação docente para a educação superior, colaborou na orientação de centenas de teses e dissertações na área da Música sem ocupar a cátedra em nenhuma universidade brasileira. Seu notório saber era reconhecido por todos os catedráticos em Musicologia e considerado por todos um dos nomes mais importantes na pesquisa sobre a música sacra mineira. Tornou-se nacionalmente conhecido por mérito próprio, através de um estudo bem direcionado da música sacra do Brasil Colônia e Império. Filho caçula de 12 filhos de uma família morou na rua Santo Antônio, nas proximidades das sedes da Lira Sanjoanense e da Orquestra Ribeiro Bastos. Em 1960, portanto aos 19 anos de idade, recebeu convite do maestro Dr. Pedro de Souza para tomar parte do corpo de instrumentistas da Orquestra Ribeiro Bastos, como violoncelista, flautista e contrabaixista. Igualmente, na mesma época, se firmou como o maior copista (na época de penas de aço e tinta; só bem mais tarde aconteceria o advento da fotocópia) de partituras do arquivo da Lira Sanjoanense. É provável que date desta época uma informação que [VIEGAS, 2003, 294] fornece a respeito de uma estratégia imaginada para ouvir atentamente o que constava do acervo da Lira Sanjoanense e decidir sobre o que copiar ou não: 
Visando a seleção do material que deveria receber novas cópias, eu e Geraldo Barbosa de Souza organizamos uma estratégia peculiar: aos domingos, um pequeno grupo composto de dois violinos, violoncelo, flauta, clarineta, e quatro cantores (SATB) reunia-se na sede da Lira Sanjoanense e, usando as partes antigas, fazíamos a leitura de algumas obras, para então selecionar as que melhor soassem. A partir disso, montávamos a partitura e extraíamos novas partes. Isso também aguçou, nesse grupo, uma maneira de identificar até mesmo a autoria e a época da composição, quando se tratava de autor anônimo. O grupo não chegou a estabelecer a autoria de tais obras, mas apenas levantou algumas hipóteses. 

Essa atividade de copista foi fundamental para que em 1963 ficasse responsável pelo arquivo de partituras da Lira, que incluía não só músicos são-joanenses, mas também Emerico Lobo de Mesquita, Jerônimo de Souza Lobo, Padre João de Deus Castro Lobo, Manoel Dias de Oliveira, Antônio dos Santos Cunha, tido como de naturalidade portuguesa que viveu na Vila de São João del-Rei entre 1800 e 1822, dentre outros. A vida inteira de Aluízio foi dedicada à música, já que, além de instrumentista, se distinguiu como pesquisador, musicólogo, maestro, diretor, mesmo quando exercia outros ofícios, tais como farmacêutico, servidor público municipal e funcionário da FUNREI-Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei. Quando aposentado, aceitou colaborar com o Monsenhor José Raimundo de Paiva na condução de diversas incumbências junto à Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar. 
Em sua atividade como musicólogo, integrou a equipe da pesquisa O ciclo do ouro: o tempo e a música no barroco católico (PUC-RJ), como membro da Comissão de Análise de Documentos (CAD) e como editor da série Música Sacra Mineira - Séculos XVIII e XIX (hoje também conhecida como Coleção Música Sacra Mineira), participando, juntamente com Francisco Curt Lange (1903-1997), na elaboração da primeira listagem de obras da Coleção Curt Lange recolhida ao Museu da Inconfidência/Casa do Pilar, em Ouro Preto (MG) em 1982. 
Desde 1963 colaborou com diversos pesquisadores, principalmente Cleofe Person de Mattos, Pe. Jaime Cavalcanti Diniz, Adhemar Nóbrega, Olivier Toni, Antônio Alexandre Bispo, Adhemar Campos Filho, Ernani Aguiar e Paulo Castagna. Participou de vários projetos da Fundação Nacional de Artes, do Museu da Música de Mariana (especialmente o projeto Acervo da Música Brasileira) e da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais (especialmente o projeto Patrimônio Arquivístico-Musical Mineiro), na publicação de obras de compositores brasileiros dos séculos XVIII e XIX. 
Além da Orquestra Lira Sanjoanense, dirigiu a Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei e atuou como pesquisador da Cúria Diocesana e do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei. 
Embora tenha escrito relativamente pouco, Aluízio publicou várias partituras e produziu trabalhos científicos, entre artigos e capítulos de livros (alguns disponíveis online), tendo deixado grande número de partituras e textos manuscritos, principalmente no arquivo da Orquestra Lira Sanjoanense.  
Sua linguagem coloquial é impressionante diante de plateias de especialistas em Música, mesmo porque demonstra não precisar de impressionar ninguém.  
[VIEGAS, 2003, 288-290] cita muitos parceiros de fora (os quais ele chama "Musicólogos em São João del-Rei", todos mencionados no item 5) e ele próprio trata dos principais contatos feitos, mencionando explicitamente todas as obras raras obtidas por eles dos arquivos da Lira Sanjoanense e da Ribeiro Bastos, quase todas desconhecidas do meio musical, bem como, em contrapartida, a transmissão de experiência deles com o manuseio de arquivos e o acesso a verbas do Conselho Federal de Cultura, por exemplo, para reforma nas sedes das 2 corporações musicais são-joanenses e para preservação e restauração de obras musicais de seus acervos: 
a) Antes da década de 60 do século XX: Curt Lange
a) Nas décadas de 60 e 70:
Cleofe Person de Mattos e Prof. Adhemar Nóbrega (Quinta-feira Santa de 1963) nas pesquisas dela sobre o Padre José Maurício Nunes Garcia; Pe. Jaime Cavalcanti Diniz; Mercedes Reis Pequeno; Luiz Ellmerich, George Olivier Toni e seus alunos da ECA/USP; Antônio Alexandre Bispo (antes de ir especializar-se na Alemanha) 
b) Nas décadas seguintes
Heitor Combat, Maria da Conceição Rezende, Régis Duprat, Maria Augusta Callado, Ernani Aguiar e Paulo Castagna 
 
[VIEGAS, 2003, ibidem, ibidem] distingue quatro dos demais "musicólogos em São João del-Rei", porque aqueles trazem ou trouxeram algum proveito real a nossas corporações musicais e a seus acervos. Foram (ou são) eles Francisco Curt Lange, Cleofe Person de Mattos, Maestro Ernani Aguiar e Prof. Dr. Paulo Augusto Castagna. 
Quando da estada em São João del-Rei do eminente musicólogo e professor alemão Dr. Francisco Curt Lange, na década de 50, eu assisti à pequena palestra que ele pronunciou no salão da Paróquia do Pilar, com demonstracões sonoras em fita magnética de concertos que ele realizara com as obras "restauradas". Lembro-me perfeitamente de sua presença na sede da Orquestra Lira Sanjoanense com o maestro Dr. Pedro de Souza e dos ensaios que ele assistiu, tanto na Lira Sanjoanense como na Ribeiro Bastos, quando houve até uma polêmica entre Curt Lange e Pedro de Souza sobre os andamentos musicais.” 
Em 1982 fui solicitado a assessorar o Professor Francisco Curt Lange, quando da aquisição, pelo Governo Brasileiro, através do então SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e ArtÍstico Nacional), do acervo de música brasileira colecionado por ele através de suas pesquisas realizadas desde a década de 40. Minha função, nessa assessoria, foi a de elaborar uma primeira listagem dos manuscritos que o Brasil estava adquirindo, já que Curt Lange não tinha realizado nenhuma catalogação. Até então, apenas algumas das músicas de Lobo de Mesquita, Francisco Gomes da Rocha, Marcos Coelho Neto e Inácio Parreira Neves haviam sido divulgadas, através de edições e concertos. (...) 
Quando o Museu da Inconfidência contratou especialistas para a catalogação do Acervo Curt Lange, várias vezes fui solicitado a ajudá-los. Depois da realização desse trabalho com Curt Lange, deparei-me com uma responsabilidade que nunca imaginei que teria: vários convites para participar de encontros, simpósios, seminários, sempre instado a escrever sobre o que já havia pesquisado.”  
A partir do mencionado encontro com Cleofe acompanhada do Prof. Adhemar Nóbrega na Quinta-feira Santa de 1963, fui um constante colaborador de Cleofe em suas pesquisas sobre o Padre José Maurício e mantivemos uma grande amizade até o fim da vida dessa grande musicóloga, a quem o Brasil muito deve pelo resgate da obra mauriciana, em suas pesquisas, textos, edições e, principalmente, na revitalização de suas obras. 
Cleofe retornou inúmeras vezes a Sab Joao del-Rei e eu sempre a ajudava. Notou que eu já demonstrava um gosto peia pesquisa e que começava a elaborar paftiruras de obras dos compositores mineiros, incentivando-me e orientando- me na metodologia de montagem de partiruras, e explicando, ainda, os critérios que a musicologia exigia para esse tipo de trabalho. Para ela elaborei as partituras do Alleluia a 5 vozes para Sábado d'Alleluia, o coro Domine, Tu mihi lavas pedes? e um Credo em Si bemol. O Alleluia era do meu acervo pessoal e em cópia de Bento das Mercês. O Domine, Tu mihi era do acervo da Orquestra Lira Sanjoanense e o Credo do acervo da Ribeiro Bastos. 
Cleofe incentivou-me a fazer levantamentos de arquivos, a localizar dados históricos de liwos manuscritos, instruindo-me como copiá-los ipsis literis e depois transcrevê-los, atualizando a grafia e eliminando abreviaturas para a melhor compreensão do texto. Durante muitos anos, mesmo após a publicação do Catálago temático das obras do padre José Maurício Nunes Garcia, nos correspondemos e nos falamos a respeito de trabalhos musicais. Cleofe fez com que eu participasse em diversos eventos ligados à pesquisa e levou a Sao João del-Rei várias personalidades para conhecer o ambiente musical, no qual ela fez muitas amizades (...) 
Esse convívio com Cleofe, aliado à amizade com Geraldo Barbosa de Souza, motivou-me não só a restaurar obras que jaziam no esquecimento, retornando-as ao repertório usual da Lira Sanjoanense, como a recopiar o material em uso, constituído em sua maioria por cópias antigas e autógrafas. A preocupação em preservar os manuscritos levou-me a ser um copista incessante de música e, a cada cópia, fui adquirindo agilidade e rapidez, procurando fazer cópias bem legíveis, ainda utilizando penas de aço e tinta.
Outros pesquisadores tiveram maior evidência, salientando-se o maestro e compositor Ernani Aguiar, que estabeleceu com o meio musical da cidade de Sao Joao del-Rei um grande vínculo de amizade e de apoio, pois sempre realizou doações de instrumentos e acessórios, divulgando, através de restaurações em trabalhos conjuntos comigo, várias obras musicais de autores antes esquecidos. (...)
O interesse pela musicologia teve um incremento expressivo na década de 1990: a pedido do amigo maestro Ernani Aguiar, fiz levantamento da partitura de várias obras que ele posteriormente apresentou em concerto, destacando-se a Missa e Credo em Dó Maior de Joaquim de Paula Souza, as Matinas do Espírito Santo e as Matinas do Natal de João de Deus de Castro Lobo, a Letania de B.M. Virginis de Lobo de Mesquita e várias outras obras de menor porte. 
Com Ernani Aguiar e uma pequena equipe - Carlos Eduardo Fecher e Alex Assis Milagre - realizamos pesquisas em Piranga, Mercês do Pomba e Rio Pomba, as quais resultaram, na primeira cidade, em um volumoso trabalho realizado na Sociedade Musical Santa Cecília, com a separação do material de música sacra do material de banda de música, que estava totalmente misturado. 
“Mais recentemente, Paulo Castagna também estabeleceu contato com a Lira Sanjoanense, do qual se originou a gravação em CD dos Três grandes duetos concertantes de Gabriel Fernandes da Trindade, cujo manuscrito é propriedade da Lira Sanjoanense. Pude auxiliar e prestar informações sobre vários aspectos a todos os que me procuraram para informações sobre a música em São João del-Rei ou para a realização de pesquisas musicais e históricas, sendo bastante extensa a relação de seus nomes.
Sobre o musicólogo Paulo Castagna, cabe ainda acrescentar um fato ocorrido após o falecimento do musicólogo Aluízio José Viegas em 2015, que se encontra no verbete "Fernand Jouteux" da Wikipedia
A Coleção Francesa de Fernand Jouteux foi acumulada por familiares na França (especialmente pela família Baudichon, em Chinon), reunida pelo musicólogo francês Jean-Michel Vaccaro (1938-1998), doada à Fundação Centro de Referência Musicológica José Maria Neves (F-CEREM) em 2018 pela pesquisadora brasileira Carolina Magalhães (por intermediação do músico e pesquisador Carlos Sandroni) e organizada e inventariada em 2019 no Laboratório de Arquivologia e Edição Musical do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP) por Paulo Castagna. O Inventário da Coleção Fernand Jouteux, que inclui partituras e conjuntos de partes (impressos e manuscritos), cartas, recortes de jornais e revistas, caricaturas e documentos pessoais, encontra-se disponível online. 
Aluízio ainda foi convidado pelo Prof. Dr. Paulo Castagna para participar do I Colóquio Brasileiro de Arquivologia e Edição Musical, de encontros, de simpósios, de seminários e de muitas outras oportunidades, com a finalidade de apresentar seus conhecimentos sobre a música são-joanense. Como nesta seção foi exposto o reconhecimento do musicólogo Aluízio José Viegas em relação a algumas personalidades da área da Musicologia, acho indispensável finalizá-la com o reconhecimento do expert são-joanense como porta-voz de algumas instituições musicais locais que foram beneficiadas com reformas e melhoramentos, por exemplo, na sede da Lira Sanjoanense, sem precisar a época em que isso se deu. Em suas próprias palavras: 
Com a criacão da Fundação Roberto Marinho e, pela influência de um de seus diretores, Dr. José Carlos Barbosa de Oliveira (filho do grande pesquisador Dr. Tarquínio de Oliveira), houve um apoio mais objetivo às atividades musicais de Sao Joao del-Rei. Graças a esse apoio, a Lira Sanjoanense teve sua sede ampliada e totalmente restaurada, sob o patrocínio da Fundação Roberto Marinho, da Xerox do Brasil e do Banco do Brasil, criando-se um espaço próprio para o acervo musical, agora livre de infiltrações. 
Aluízio José Viegas, Comendador portando a Medalha Comenda da Liberdade e Cidadania (1ª edição/2011) concedida pelo Conselho da Medalha por minha indicação, quando ali exercia o cargo de Secretário

 
 
O autor e Aluízio José Viegas, durante a Semana Santa de 2015

 2) José Maria Neves (São João del-Rei, 20/08/1943-Rio de Janeiro, 27/11/2002) foi um grande catedrático são-joanense, que se dedicou à música a vida inteira, exercendo, ao lado da carreira docente universitária, outras atividades sempre ligadas à música. 
O Blog de São João del-Rei publicou uma palestra de José Maria Neves , em que ele relembra seus estudos de música, quando de seu regresso de forma definitiva ao Rio. Inicialmente, em 1964, na Escola Nacional de Música, durante apenas um ano e meio; em seguida, de 1965 a 1969, no Seminário de Música Pro-Arte, onde estuda Teoria e Solfejo com Esther Scliar e Harmonia, Contraponto, Fuga e Composição com Guerra-Peixe. 
Seus estudos continuam na França, de 1969 a 1971, como bolsista do governo francês: primeiro realizou cursos de aperfeiçoamento em composição, regência, regência coral e música eletroacústica, este último no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris sob a orientação de Pierre Scheffer (autor do famoso Tratado dos objetos musicais) e, depois, no seu mestrado em Musicologia, orientado por Jacques Chailley (conhecido autor do Compêndio de Musicologia) e Luiz Heitor Correa de Azevedo. Dessa orientação conjunta resultou uma obra posteriormente publicada em forma resumida pela Ricordi do Brasil: Villa-Lobos, o Choro e os Choros
De volta ao Brasil, fez concurso para Professor Assistente na UNI-RIO em 1973, foi aprovado e desenvolveu intensa atividade pedagógica. De 1974 a 1976, obteve segunda bolsa francesa, desta vez sob a orientação do Maestro Stéphane Caillat, que fazia um trabalho extraordinário de repertório coral sinfônico no Instituto Católico de Paris. Segundo sua biógrafa Salomea Gandelman , sua "tese, traduzida e adaptada à forma de livro, foi editada pela Ricordi em 1981, com o título Música Contemporânea Brasileira". 
Quando de sua volta ao Brasil, em 1976, ocorreu o que chamou de "novo mergulho na Orquestra Ribeiro Bastos", considerando essa volta definitiva. Em 1977, dividiu a regência da Semana Santa com o Maestro Emílio Viegas, a quem vai suceder no mesmo ano, e fez uma primeira turnê com o grupo da Ribeiro Bastos ao Rio. José Maria passa a dividir, com sua irmã Stella Neves Valle, esta atividade com todas as festas, novenas, procissões de Semana Santa, de maneira quase ininterrupta até 2002. Gandelman relata que em 1987, quando fez concurso para Professor Titular, apresentou uma tese intitulada A Orquestra Ribeiro Bastos e a vida musical em S. João del-Rei.
Ainda em 1977, ano em que José Maria assume a regência da Orquestra Ribeiro Bastos, ele se junta à equipe permanente organizadora dos CLAMC-Cursos Latino-Americanos de Música Contemporânea, dos quais se torna presidente entre 1978, por ocasião do 7º Curso, e 1989, quando se realiza o 15º e último, em Mendes, Estado do Rio. 
Em 1997, a FUNARTE publica um alentado estudo de José Maria, o Catálogo de Obras MÚSICA SACRA MINEIRA, fruto de revisão sistemática e acréscimo de informações a extensas e ricas pesquisas desenvolvidas e documentadas a partir dos anos 70. No Catálogo foram incluídas 77 partituras de 22 compositores. Simultaneamente à sua publicação, foi lançada uma caixa contendo um estudo introdutório a respeito do projeto “música sacra mineira” e 12 das 77 partituras, as 12 apresentadas em outra edição. (grifo nosso) 
 
José Maria Neves, musicólogo que ocupou a Cadeiranº 12 da 
Academia Brasileira de Música patroneada por José Maria Xavier, tendo sido seu presidente entre 2001 e 2002, até seu falecimento; presidente da ANPPOM
-Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Gradução em Música por duas gestões, de 1995 a 1999

 
Na ANPPOM-Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, por duas gestões (de 1995 a 1999), exerceu a presidência; na ABM-Academia Brasileira de Música, ocupou a cadeira nº 12, cujo patrono era exatamente seu conterrâneo Pe. José Maria Xavier, e a presidência entre 2001 e 2002. Faleceu em 2711/2002, deixando sua irmã Stella Neves Valle como maestrina da Orquestra Ribeiro Bastos. 
Alguns meses antes de seu falecimento, em 07/05/2002, José Maria proferiu palestra para a ABM, na Série Tranjetórias, cujo trecho inicial reproduzo: 
O fio da minha meada começa em São João del-Rei, foi lá que eu nasci, e minha vida girou em torno de três instituições que para mim são importantíssimas. Em primeiríssimo lugar, a Orquestra Ribeiro Bastos que há três gerações vem sendo dirigida por pessoas da minha família. Meu pai foi o penúltimo diretor antes que, em 1977, eu mesmo assumisse a chefia da casa. Então, na verdade, a minha vida gira em torno da Ribeiro Bastos. (...) na verdade eu pude aprofundar de maneira mais sistemática aquilo que na Orquestra Ribeiro Bastos era totalmente assistemático. Não estou dizendo, de maneira alguma, que há um progresso ou que há um passo a mais. Não há este tipo de diferença. Apenas, existem diferenças de metodologia. Mas, continuo achando que a grande escola de música do país ainda é a Banda de Música, ainda é o grupo de música popular, ainda é o lugar onde as pessoas vivenciam esta prática musical que nós, na Academia, depois depuramos, organizamos, damos títulos, classificamos, mas que, na verdade, o bom está lá fora.
Nesta sua última palestra referiu-se a seu pai, Maestro Telêmaco Victor Neves (São João del-Rei 12/04/1898-24/06/1950), como tendo assumido em 1940 a direção e a regência da Ribeiro Bastos até seu falecimento em 24/06/1950.  
 
 

II. NOTAS  EXPLICATIVAS

 

¹  Artigo postado no Blog de São João del-Rei em 11/12/2014. Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2014/12/uma-cidade-vive-ha-2-seculos-mergulhada.html
 
²  As Bacantes ou As Mênades: tragédia de Eurípedes postumamente apresentada, obra que imortalizou o dramaturgo grego .
 
³  O Arraial Velho do Rio das Mortes foi elevado a Vila de São José d’El-Rey, em 1718. Em 1860, foi elevada à categoria de cidade, com a mesma denominação de São José d'El-Rey que só foi modificada para Tiradentes pelo Decreto nº 3, de 06/12/1889, no governo Cesário Alvim, portanto 21 dias após a proclamação da República.
 
⁴  Em 19/03/2019 postei no Blog de São João del-Rei pesquisa realizada nos arquivos do escritório são-joanense do IPHAN, onde ainda há algumas edições do jornal Gazeta Mineira tratando dessa corporação musical são-joanense, que floresceu no segundo meado do século XIX até a morte de seu dirigente em 1912.
 
A palestra de Aluízio José Viegas no I Simpósio Latino-Americano de Musicologia, em Curitiba, em janeiro de 1997, está publicada no Blog de São João del-Rei, intitulada "Arquivos Musicais Mineiros", postada em 03/05/2019. Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2019/05/arquivos-musicais-mineiros.html
 
Palestra de José Maria Neves na "Série Trajetórias" da ABM-Academia Brasileira de Música, postada em 07/12/2017 Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2017/12/jose-maria-neves-na-serie-trajetorias.html  

Maiores informações são fornecidas pela Profª Salomea Gandelman in Homenagem a José Maria Neves - Sessão de abertura da ANPPOM (18 de agosto de 2003). Na sua palestra na sessão de abertura da ANPPOM-Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, podem ser colhidas informações mais detalhadas sobre José Maria Neves.
Cf. in http://www.anppom.com.br/revista/index.php/opus/article/view/83/0  
 
[VIEGAS, 2003, 292-3] alega ter o maestro Adhemar Campos Filho celebrado anteriormente com a FUNARTE, em 1977 e 1978, por intermédio da Lira Ceciliana (Prados), um projeto para edição de partituras em papel vegetal pentagramado, de música sacra mineira dos séculos XVIII e XIX, do qual participaram Adhemar, ele próprio e Geraldo Barbosa de Souza. Reconhece que os critérios do trabalho não obedeceram ao rigor científico, tendo sido os mesmos que anteriormente foram estabelecidos pela direção da FUNARTE. De qualquer forma, esse trabalho pioneiro resultou a edição de um Catálogo de Música Sacra Mineira, por José Maria Neves, também impresso pela FUNARTE, vinte anos mais tarde, do qual alega ter participado "fornecendo todos os dados históricos sobre os autores e sobre o material que originou as partituras", lamentando contudo não ter recebido por essa pesquisa o devido crédito, pois o autor os usou como se tivesse realizado sozinho todo o trabalho.

III. BIBLIOGRAFIA  

 

BARBOSA, Elmer Corrêa (org.): O ciclo do ouro: o tempo e a música do barroco católico, com assessoria no trabalho de campo de Adhemar Campos Filho e Aluízio José Viegas e catalogação das músicas do séc. XVIII por Cleofe Person de Mattos, Rio de Janeiro: PUC, FUNARTE, XEROX, 1978, 454 p. 

CASTAGNA, Paulo (coord.): Projeto Acervo da Música Brasileira / Restauração e Difusão de Partituras (AMB), que resultou na publicação de uma série de 9 volumes de partituras e de CDs com música sacra brasileira dos séculos XVIII e XIX. (Atualmente sob os cuidados da Santa Rosa Bureau Cultural)  

CINTRA, S.O.: EFEMÉRIDES DE SÃO JOÃO DEL-REI, 2 vol., 2ª edição, 1982, 622 p. 

GUERRA, Antônio Manoel de Souza: Pequena História de Teatro, Circo, Música e Variedades em São João del-Rei - 1717 a 1967, Juiz de Fora: Sociedade Propagadora Esdeva-Lar Católico, 1968, 327 p.  

HIBBERD, Lloyd: “Musicology reconsidered” Acta Musicologica, publicado no JSTOR, vol. 31, no. 1, International Musicological Society, 1959, pp. 25–31. Link: https://www.jstor.org/stable/931812  

LACERDA, Marco Aurélio Araújo Lacerda: Orquestra Sinfônica da Polícia Militar de Minas Gerais: um resgate histórico, revista O Alferes, Belo Horizonte, 64 (24): 29-47, jan./jun. 2010  

LANGE, Francisco Curt: Archivo de Música Religiosa de la "Capitania Geral das Minas Gerais" (Siglo XVIII), Brasil: Hallazgo, Restauración y Prólogo, Francisco Curt Lange. (Mendoza: Universidad Nacional de Cuyo, 1951). Obs. A partir dessa publicação, surgiram outras séries editoriais dedicadas ao patrimônio histórico-musical brasileiro.  

MARIZ, Vasco: Saudade de José Maria Neves, publicado no Blog de São João del-Rei, em 19/03/2018 

MEDAGLIA, Júlio: 25 anos sem Curt Lange: Como um Indiana Jones das Alterosas, musicólogo alemão ajudou o Brasil a lembrar sua história musical, publicado na Revista Concerto, Ano XXVII, nº 286, setembro de 2021, p. 6  

NEVES, José Maria. A Orquestra Ribeiro Bastos e a vida musical em São João del-Rei. Rio de Janeiro: O Globo, 1984. 

__________ Música Sacra Mineira (Catálogo de obras). Rio de Janeiro:Funarte, 1997. 

–––––––––– José Maria Neves na "Série Trajetórias" da ABM-Academia Brasileira de Música, palestra publicada no Blog de São João del-Rei, em 07/12/2017 
 
OLIVEIRA, Merania: UNESCO declara acervo do Museu da Música de Mariana Patrimônio da Humanidade. Belo Horizonte: Território Notícias, em 27 de setembro de 2015

VIEGAS, Aluízio José: Arquivos Musicais Mineiros, I Simpósio Latino-Americano de Musicologia, Curitiba, 10/12 jan 1997. Anais. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 1998, p. 110-130 in Blog de São João del-Rei. 

–––––––––– Música em São João del-Rei - de 1717 a 1900, artigo publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, nº V, 1987, p. 53-65. 

–––––––––– O Arquivo Musical da Orquestra Lira Sanjoanense de São João del-Rei (MG): Perspectivas Metodológicas da Arquivologia e da Edição Musical no Brasil, Anais do I Colóquio Brasileiro de Arquivologia e Edição Musical, em Mariana, 18 a 20 de julho de 2003, Belo Horizonte: Gráfica e Editora O Lutador, p. 283-300 

–––––––––– A música mineira do século XIX. III Seminário sobre a cultura mineira - século XIX, Belo Horizonte, 17 a 21 nov. 1980. [Atas]. Belo Horizonte: Conselho Estadual de Cultura, 1982, p. 53-71. 

–––––––––– A Linguagem dos Sinos de São João del-Rei, transcrição de uma palestra proferida pelo autor em 1990 na Escola de Farmácia da UFOP, mas nunca publicado, que foi utilizado num Dossiê descritivo do IPHAN intitulado O Toque dos Sinos em Minas Gerais, tendo como referência S. João del-Rei, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. (Brasília: IPHAN, 2009, 110 p.)  

VIEGAS, A.J., CAMPOS Fº, Adhemar e SOUZA, Geraldo Barbosa: Coleção Música Sacra Mineira (Rio de Janeiro: FUNARTE, 1974-5), contendo 77 obras avulsas