Por Francisco José dos Santos Braga
I. INTRODUÇÃO
Penso que os recentes acontecimentos políticos e econômicos envolvendo a Grécia têm injustamente afastado turistas desse país que representa o berço de nossa Civilização Ocidental. Além disso, numa atitude impatriótica, as "mídias" impressa e eletrônica têm feito uma publicidade negativa sobre os protestos ocorridos em Atenas, o que tem servido apenas para afastar os já perplexos viajantes, bombardeados por notícias assustadoras, levando-os a buscar outro destino para suas férias. Essa repercussão é lamentável para um país como a Grécia que depende do turismo e que precisa restaurar a sua economia.
Este meu artigo pretende contrapor-se a essa onda negativista e mostrar uma feição ainda pouco conhecida da Grécia a meus leitores.
Não é muito fácil transmitir em palavras o encanto da chegada do Outono na Europa. Cada vez mais brasileiros estão descobrindo a beleza de poder vivenciar essa estação em que as folhas já avermelhadas caem no chão, as primeiras chuvas não se fazem mais esperar e o tempo se prepara para gestar, durante longos meses, a nova Natureza. Após a Primavera e o Verão esfuziantes em que a terra é fértil, com muita movimentação de pessoas e pouca roupa, nos surpreendem o Outono, acompanhado de chuvas torrenciais, e, em seguida, o Inverno interminável, em que a terra como que se engravida, em meio a muita neve e maior recolhimento por parte da população.
Os Gregos buscaram uma explicação para o devir da Natureza e sabiamente explicaram esse ciclo universal através do mito de Perséfone, jovem filha de Deméter, deusa das colheitas. Segundo a lenda, certo dia, Perséfone colhia flores quando foi raptada pelo deus dos mundos ínferos, Hades. Sua mãe, inconformada com a perda da filha, ficou tão triste que sua tristeza murchou as flores e secou as frutas das árvores. Naquele mesmo instante, no dia do Equinócio de Outono, Hades se unia a Perséfone no submundo. O rei dos deuses, Zeus, interveio, pedindo a Hermes que solucionasse a situação. Este último, considerado deus da comunicação, conseguiu que Hades permitisse que Perséfone ficasse metade do tempo com sua mãe e a outra metade no submundo. Assim, surgiram as estações do ano. A terra é fértil na primavera e no verão, quando Perséfone acompanha sua mãe; enquanto ela permanece em companhia de Hades, a terra nada produz, mas se engravida, numa alusão a própria Perséfone.
A partir de então, o início do Outono coincide com o Ano Novo "pagão", época de descanso da colheita e de comemoração por tudo o que foi colhido e caçado.
Aqui veremos um pouco do folclore, da tradição e da história do povo grego relacionado com o mês de setembro. Os textos que ofereço ao leitor na próxima seção foram traduzidos da língua grega por mim, onde se poderá constatar todo o esplendor da estação que antecede e prepara o Inverno rigoroso nos países do Hemisfério Norte.
Inicialmente proponho a leitura da minha tradução para um poema de Elias Katsúlis, com arranjo musical de Pantelís Thalassinós, intitulado "Um doce e antigo setembrinho". Além disso, em nota de rodapé sugiro a audição da música e do poema original.
Inicialmente proponho a leitura da minha tradução para um poema de Elias Katsúlis, com arranjo musical de Pantelís Thalassinós, intitulado "Um doce e antigo setembrinho". Além disso, em nota de rodapé sugiro a audição da música e do poema original.
Em seguida, vêm minhas traduções do verbete Σεπτέμβριος na Wikipedia (em grego), e, finalmente, do texto intitulado "O 1º de setembro, Índictos - A Igreja reza pelo meio ambiente" do site Roseta Books (em grego).
II. SETEMBRO NA GRÉCIA
Um doce e antigo setembrinho ¹
Música: Pantelís Thalassinós
Versos: Elias Katsúlis
Um setembrinho faz desatar a chorar
quem à escola levaram para aprender o beabá:
quer brincar ainda com as estrelas do céu
antes que cheguem chuvas e nuvens à mente;
escolarzinho do primário, lhe roubam a canção,
lhe roubam a canção...
Um doce setembro pinga o seu mel,
o rapazinho direito vindima a sua videira,
em Spata pisa cachos de uva, em Koropí ², noiva,
faz tremerem as meninas diante de suas pálpebras,
sopra o vento leste, a brisa da mocidade,
sopra o vento leste...
Um antigo setembro, amigo inseparável,
com o passar dos anos torna-se irreconhecível;
o vermelho faz rachaduras nas maçãs de Rodiá,
flores amarelas caem no jardim do coração;
a noite cresce, estende redes na luz,
a noite cresce...
Setembro é o nono mês do ano, segundo o calendário gregoriano, e o primeiro mês do Outono. Possui trinta dias. Era o sétimo mês do calendário romano, daí o seu nome. O povo costuma dizer: "Desde março o Verão e desde agosto o Inverno". As condições meteorológicas que costumam predominar neste mês não nos deixam acreditar nisso. Porque, apesar de supor-se que com a chegada de setembro inicia-se o Outono, cada ano parece que, até mesmo em toda a duração do mês, o verão resiste bem. Contudo, o tempo aos poucos começa a mudar e nos prepara para o Inverno vindouro. No décimo dia de setembro, aliás, tem início o Outono, embora, oficialmente, a chegada do sol no ponto equatorial da sua trajetória se dê apenas no dia 22 desse mês.
Setembro é também o mês do retorno dos alunos às escolas para um novo ano escolar. Desde o início do século IV D.C., setembro foi consagrado como o início não só do ano eclesiástico, mas também do ano civil, visto que o 1º de setembro coincidia com o início da "índiktos" (sic). Ainda hoje a Igreja Oriental continua a festejar o 1º de setembro como "início da índiktos".
Como nos informa Marina Detoráki:
"(...) A palavra índiktos significa inicialmente o estabelecimento do montante anual que os cidadãos romanos deviam desembolsar como tributo. Por associação, tomou o significado do ano civil, e, quando os impostos regulavam com base num período de mais anos, era chamado índiktos o conjunto desses anos... Acabou assim por significar um ciclo regulamentado de 15 anos, continuamente repetido (como a semana ou o mês), que foi usado para a cronologia de ações e fatos... que finalmente foi consolidado como o mais popular sistema de cronologia para os bizantinos, e o 1º de setembro como o início do seu ano." ³
Folclore
III. NOTAS DO AUTOR
Essa canção faz parte de uma coleção de doze canções, intitulada "O pequeno canto festivo", em que cada uma das canções se refere a um dos meses do ano. Os títulos das canções são característicos: o tempo de janeiro, fevereiro das veias, março Marte falou, um abril sensível, maio tem segredos, o sexto mês bom, julho devastador, é agosto, um doce e antigo setembrinho, outubro: bandeira nas sacadas, novembro mês de viagem, louvor a dezembro. Um dia, ainda escreverei um artigo sobre esses conceitos arraigados na mentalidade grega.
Por isso, aliás, em determinadas regiões da Grécia o dia 31 de agosto é chamado de
κλειδοχρονιά, uma vez que o ano velho é fechado à chave, enquanto o 1º de setembro é chamado de αρχιχρονιά (ano que se inicia). Mas setembro tem, além disso, outras denominações na Grécia, como "Stavriátis" ou "Stavrítis" por causa da grande festa da Ereção do Santo Lenho ⁴
no dia 14 de setembro. Assim nos narra Geórgios N. Aikaterinídis:
"O dia dessa festa em muitos locais constitui uma parada temporal nos trabalhos locais agrícolas e pastoris e é acolhido como o início ou o fim para as correspondentes convenções. Mas parada também constituía antigamente para os marinheiros, os quais então interrompiam as viagens longínquas com veleiros, como aconselhava o provérbio: "No dia da Cruz, cruze e amarre." Nos templos gregos é distribuído neste dia o manjericão, costume eclesiástico que provém da tradição, segundo a qual no lugar onde se achava o Santo Lenho tinha brotado essa planta aromática, que por essa razão é chamada também de flor-da-cruz... Com o manjericão da igreja e com a santidade do dia prepara-se o fermento novo para todo o ano."
Particularmente, porém, setembro é conhecido com a denominação "Mês da vindima" ou "Vindimador". Assim escreve, de modo especialmente expressivo, Ekateríni Poliméru-Kamiláki:
"A expressão proverbial "verão, vindima, guerra" traduz a universal e febril coparticipação da comunidade. A participação de todos os habitantes do povoado põe em evidência a vindima como trabalho agradável, que muitas vezes tomava o caráter de celebração... O transporte das uvas ao lagar ("pisa" das uvas até obter o mosto, tanque de fermentar o mosto, armazenamento em barris, etc.) é feito com animais, na cabeça ou através de meios mecânicos, agora até mesmo na "pisa" das uvas. A "pisa" difere de região para região quanto à forma e à capacidade (tonelagem). Num local é construído um reservatório em forma de paralelepípedo com inclinação do pavimento para o lado donde escorre o mosto, noutro local há uma grande cuba de madeira ou de malha portátil, que se localiza sob a "pisa" em cima do reservatório construído, através da qual escorre o mosto. A "pisa" das uvas" é feita pelos pisadores. O mosto é transportado e armazenado frequentemente em barris enormes, que foram lavados com plantas particularmente aromáticas (lentisco, mirto, loureiro, etc.) e foram desinfetados com enxofre e foram resinados. Ali dentro o mosto fica "cozendo", fermenta-se e vira vinho."
Assim escreve Kostas Krystállis (1868-1894) na "Canção da Vindima": "Minha videira de folhas largas/ e bem podada,/ amarre uvas vermelhas,/ para eu entrar na vindima,/ para fazer vinho imortal,/ pleno de aroma."
A vindima das videiras e a criação do vinho são, além disso, um processo antiquíssimo que remonta ao período da revolução agrária antes de 7.000 anos aproximadamente. Os antigos Gregos se ocuparam com a fabricação do vinho pelo menos a partir de 1700 A.C. A correspondente mitologia sobre o vinho e a sua ligação com o deus Dioniso são especialmente ricas. Porque o vinho era visto desde sempre não só como componente básico da nutrição, mas também da religião, uma vez que os antigos Gregos acreditavam que o sangue da uva era o sangue do deus Dioniso e que, bebendo vinho, comungavam o sangue do deus.
O culto de Dioniso deparava com bastantes dificuldades. Inicialmente, claro, uma certa desconfiança diante do vinho, como está estampado em muitos mitos correspondentes. Tomem, por exemplo, um mito ático que liga a constelação da Virgem ao vinho. De acordo com esse mito, a constelação da Virgem representa Erígone, filha de Ícaro, o qual primeiro acolheu Dioniso na Ática e de quem aprendeu a arte de produzir o vinho. No lugar onde aconteceu aquele encontro brotou a primeira videira e, desde então, a região foi chamada Dioniso.
Quando Ícaro ofereceu esta nova bebida aos simples pastores da região, esses se embriagaram com muito vinho que beberam e pensaram que Ícaro fosse envenená-los. Por isso, caíram sobre ele e o fizeram em pedaços. Somente quando saíram da embriaguez, compreenderam o seu erro e o sepultaram embaixo de um enorme pinheiro cujo tronco pingava, desde então, resina. A esse pinheiro Erígone foi levada pela fiel cadela de Ícaro que, com seu choro, fez saber que o pai dela estava sepultado ali. Então, com o seu cinto aquela se enforcou também no mesmo pinheiro. Zeus decidiu transformar os personagens do mito em constelações, colocando Ícaro na constelação de Boötes (Pastor), Erígone na constelação da Virgem e a cadela fiel na constelação do Grande Cão.
A vindima das videiras e a criação do vinho são, além disso, um processo antiquíssimo que remonta ao período da revolução agrária antes de 7.000 anos aproximadamente. Os antigos Gregos se ocuparam com a fabricação do vinho pelo menos a partir de 1700 A.C. A correspondente mitologia sobre o vinho e a sua ligação com o deus Dioniso são especialmente ricas. Porque o vinho era visto desde sempre não só como componente básico da nutrição, mas também da religião, uma vez que os antigos Gregos acreditavam que o sangue da uva era o sangue do deus Dioniso e que, bebendo vinho, comungavam o sangue do deus.
O culto de Dioniso deparava com bastantes dificuldades. Inicialmente, claro, uma certa desconfiança diante do vinho, como está estampado em muitos mitos correspondentes. Tomem, por exemplo, um mito ático que liga a constelação da Virgem ao vinho. De acordo com esse mito, a constelação da Virgem representa Erígone, filha de Ícaro, o qual primeiro acolheu Dioniso na Ática e de quem aprendeu a arte de produzir o vinho. No lugar onde aconteceu aquele encontro brotou a primeira videira e, desde então, a região foi chamada Dioniso.
Quando Ícaro ofereceu esta nova bebida aos simples pastores da região, esses se embriagaram com muito vinho que beberam e pensaram que Ícaro fosse envenená-los. Por isso, caíram sobre ele e o fizeram em pedaços. Somente quando saíram da embriaguez, compreenderam o seu erro e o sepultaram embaixo de um enorme pinheiro cujo tronco pingava, desde então, resina. A esse pinheiro Erígone foi levada pela fiel cadela de Ícaro que, com seu choro, fez saber que o pai dela estava sepultado ali. Então, com o seu cinto aquela se enforcou também no mesmo pinheiro. Zeus decidiu transformar os personagens do mito em constelações, colocando Ícaro na constelação de Boötes (Pastor), Erígone na constelação da Virgem e a cadela fiel na constelação do Grande Cão.
Fonte: na Wikipedia pesquisei http://el.wikipedia.org/wiki/Σεπτέμβριος e adicionalmente no site
http://antikleidi.com/2013/09/01/september/ III. NOTAS DO AUTOR
¹ Sugiro que o leitor ouça esta música, disponível no YouTube, no seguinte endereço eletrônico:
Na voz de outros cantores gregos há muitos vídeos disponíveis, a saber: por exemplo, na voz de Christos Karyótis: http://www.youtube.com/watch?v=6UIG7IK7JLI, etc.
Essa canção faz parte de uma coleção de doze canções, intitulada "O pequeno canto festivo", em que cada uma das canções se refere a um dos meses do ano. Os títulos das canções são característicos: o tempo de janeiro, fevereiro das veias, março Marte falou, um abril sensível, maio tem segredos, o sexto mês bom, julho devastador, é agosto, um doce e antigo setembrinho, outubro: bandeira nas sacadas, novembro mês de viagem, louvor a dezembro. Um dia, ainda escreverei um artigo sobre esses conceitos arraigados na mentalidade grega.
² A distância, em linha reta, de Spata a Koropí é de apenas 8 km. As trilhas dessa região são muito conhecidas pelos ciclistas de todo o mundo.
³ A palavra índictos (fem.) é de origem latina (indictĭo), helenizada, e significa decreto ou edito que era expedido pelos imperadores romanos, com a finalidade de determinarem o montante dos tributos sobre a produção da terra, que os súditos deviam pagar a Roma para o sustento do exército. Esse decreto vigia por quinze anos e isso, porque a cada quinze anos eram exonerados os antigos soldados e eram alistados os novos. Observe-se que o montante dos impostos correspondentes era definido pelo novo poder do exército para o próximo quinzênio. Com o passar do tempo, a palavra índictos (que para simplificar chamarei de índicto) parou de significar apenas decreto, mas queria dizer também o espaço de quinze anos. Assim, começou-se a medir o tempo em quinzênios (primeiro quinzênio, segundo quinzênio, etc.).
O imperador Constantino foi o primeiro a definir a índicto como medida oficial do tempo, em 312 ou 313 D.C., que começava em 1º de setembro, época em que tinha terminado a colheita dos frutos da terra. Essa medida do tempo foi apelidada com o nome de Constantino.
A Igreja adotou esse sistema de medida do tempo e media os anos com a índicto. Assim, o ano eclesiástico começava em 1º de setembro com a Liturgia Divina Patriarcal e Santa Súplica, para que Deus abençoasse o novo ano.
O imperador Justiniano I de Bizâncio, em 537, introduziu a medida por índictos nos documentos estatais e nas decisões jurídicas. Diziam assim: 1º ano de tal índicto, 2º ano de certa índicto, etc.
Com o tempo foram definidas duas espécies de índictos: a antiga romana que começava em 1º de setembro e que Bizâncio seguia, e a papal, que começava em 25 de dezembro e, mais tarde, em 1º de janeiro.
No Ocidente, aos poucos, prevaleceu como início do ano novo o 1º de janeiro, enquanto no Oriente tinha permanecido o 1º de setembro. Essa é a razão por que o 1º de setembro permaneceu até hoje o início do ano eclesiástico, após a consagração do 1º de janeiro como início do ano civil. Observe-se que a Igreja Ortodoxa Grega estabeleceu esse dia para ser lida nos templos a passagem do Evangelho de Lucas que narra a primeira homilia de Cristo na sinagoga de Nazaré (Lc. 4, 16-18).
As índictos são medidas a partir do nascimento de Cristo. Como, porém, a cronologia a partir do nascimento de Cristo vem depois de três anos, para encontrarmos, por exemplo, a índicto de 2013, adicionamos 3 (anos) e dividimos por 15. Assim, 2013 + 3 = 2016 ÷ 15 = 134, e o resto de 6 (anos) significa que nos encontramos no 6º ano da 134ª índicto.
Fonte: http://rosetabooks.wordpress.com/2010/09/01/η-1η-σεπτεμβρίου-ο-ίνδικτος-η-εκκλησία/
³ A palavra índictos (fem.) é de origem latina (indictĭo), helenizada, e significa decreto ou edito que era expedido pelos imperadores romanos, com a finalidade de determinarem o montante dos tributos sobre a produção da terra, que os súditos deviam pagar a Roma para o sustento do exército. Esse decreto vigia por quinze anos e isso, porque a cada quinze anos eram exonerados os antigos soldados e eram alistados os novos. Observe-se que o montante dos impostos correspondentes era definido pelo novo poder do exército para o próximo quinzênio. Com o passar do tempo, a palavra índictos (que para simplificar chamarei de índicto) parou de significar apenas decreto, mas queria dizer também o espaço de quinze anos. Assim, começou-se a medir o tempo em quinzênios (primeiro quinzênio, segundo quinzênio, etc.).
O imperador Constantino foi o primeiro a definir a índicto como medida oficial do tempo, em 312 ou 313 D.C., que começava em 1º de setembro, época em que tinha terminado a colheita dos frutos da terra. Essa medida do tempo foi apelidada com o nome de Constantino.
A Igreja adotou esse sistema de medida do tempo e media os anos com a índicto. Assim, o ano eclesiástico começava em 1º de setembro com a Liturgia Divina Patriarcal e Santa Súplica, para que Deus abençoasse o novo ano.
O imperador Justiniano I de Bizâncio, em 537, introduziu a medida por índictos nos documentos estatais e nas decisões jurídicas. Diziam assim: 1º ano de tal índicto, 2º ano de certa índicto, etc.
Com o tempo foram definidas duas espécies de índictos: a antiga romana que começava em 1º de setembro e que Bizâncio seguia, e a papal, que começava em 25 de dezembro e, mais tarde, em 1º de janeiro.
No Ocidente, aos poucos, prevaleceu como início do ano novo o 1º de janeiro, enquanto no Oriente tinha permanecido o 1º de setembro. Essa é a razão por que o 1º de setembro permaneceu até hoje o início do ano eclesiástico, após a consagração do 1º de janeiro como início do ano civil. Observe-se que a Igreja Ortodoxa Grega estabeleceu esse dia para ser lida nos templos a passagem do Evangelho de Lucas que narra a primeira homilia de Cristo na sinagoga de Nazaré (Lc. 4, 16-18).
As índictos são medidas a partir do nascimento de Cristo. Como, porém, a cronologia a partir do nascimento de Cristo vem depois de três anos, para encontrarmos, por exemplo, a índicto de 2013, adicionamos 3 (anos) e dividimos por 15. Assim, 2013 + 3 = 2016 ÷ 15 = 134, e o resto de 6 (anos) significa que nos encontramos no 6º ano da 134ª índicto.
Fonte: http://rosetabooks.wordpress.com/2010/09/01/η-1η-σεπτεμβρίου-ο-ίνδικτος-η-εκκλησία/
⁴ Sobre esse assunto tenho duas observações a fazer.
A primeira é que a imperatriz Santa Helena, mãe de Constantino, o primeiro imperador cristão de Roma, ao escavar o lugar onde Jesus fora sepultado em Jerusalém, teria encontrado em 3 de maio de 326 D.C. a cruz na qual Jesus morrera. Esse fato resultou que, no calendário litúrgico da Igreja, fosse comemorada, a partir de então, a "Invenção" da Santa Cruz (em latim, "inventio" significando "descoberta"). O local da descoberta da Santa Cruz foi considerado sagrado e sobre ele foi iniciada a construção da igreja do Santo Sepulcro. Nove anos mais tarde, no dia 14 de setembro de 335 D.C. ocorreu a consagração da Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém, ocasião em que a Santa Cruz foi exposta publicamente. A Igreja passou a ter duas datas comemorativas da Santa Cruz: 3 de maio e 14 de setembro. Quando da reforma litúrgica, especialmente após o Concílio Vaticano II, as duas festas foram unificadas em uma única comemoração, prevalecendo a data de 14 de setembro, com o nome de "Exaltação da Santa Cruz". O folclorista são-joanense Prof. Ulisses Passarelli, num e-mail a mim endereçado, escreveu: "Tradicionalmente a festa de maio para o Brasil sempre foi a mais forte e propensa a manifestações espontâneas da cultura popular. Ocorre que, com o Concílio Vaticano I (1870), a diretriz da romanização dos ritos religiosos começou a podar os aspectos folclóricos das festas. O 3 de maio principiou a fracassar, substituído pelo 14 de setembro, uma festa muito mais litúrgica, que, se já existia, não gozava de nenhuma popularidade. Mas a partir dos primeiros anos do século XX ganhou tal força que chegou praticamente a suprimir a festa popular da Invenção da Santa Cruz, que caiu num ocaso crescente. Onde ainda sobrevive é de forma apagada, tocada apenas pelos mais velhos, numa obstinada devoção."
Em segundo lugar, cabe ainda aqui assinalar que CYMBALISTA (2006) relata fato curioso a respeito de relíquias e índios tupinambás, verbis:
"Sobretudo essa propriedade das relíquias — de transportar o que é sagrado — deve ter tido um grande apelo entre os Tupis e outras tribos, cuja cultura baseava-se em um regime de migrações constantes. O capuchinho Claude D'Abbeville relata a dificuldade dos índios Tupinambás em compreender o significado da consagração do território e da consolidação de assentamentos permanentes, ao mesmo tempo em que ficavam fascinados com a ereção de uma cruz na aldeia maranhense de Juniparã e resistentes a abandonar as transferências no local das aldeias:
A primeira é que a imperatriz Santa Helena, mãe de Constantino, o primeiro imperador cristão de Roma, ao escavar o lugar onde Jesus fora sepultado em Jerusalém, teria encontrado em 3 de maio de 326 D.C. a cruz na qual Jesus morrera. Esse fato resultou que, no calendário litúrgico da Igreja, fosse comemorada, a partir de então, a "Invenção" da Santa Cruz (em latim, "inventio" significando "descoberta"). O local da descoberta da Santa Cruz foi considerado sagrado e sobre ele foi iniciada a construção da igreja do Santo Sepulcro. Nove anos mais tarde, no dia 14 de setembro de 335 D.C. ocorreu a consagração da Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém, ocasião em que a Santa Cruz foi exposta publicamente. A Igreja passou a ter duas datas comemorativas da Santa Cruz: 3 de maio e 14 de setembro. Quando da reforma litúrgica, especialmente após o Concílio Vaticano II, as duas festas foram unificadas em uma única comemoração, prevalecendo a data de 14 de setembro, com o nome de "Exaltação da Santa Cruz". O folclorista são-joanense Prof. Ulisses Passarelli, num e-mail a mim endereçado, escreveu: "Tradicionalmente a festa de maio para o Brasil sempre foi a mais forte e propensa a manifestações espontâneas da cultura popular. Ocorre que, com o Concílio Vaticano I (1870), a diretriz da romanização dos ritos religiosos começou a podar os aspectos folclóricos das festas. O 3 de maio principiou a fracassar, substituído pelo 14 de setembro, uma festa muito mais litúrgica, que, se já existia, não gozava de nenhuma popularidade. Mas a partir dos primeiros anos do século XX ganhou tal força que chegou praticamente a suprimir a festa popular da Invenção da Santa Cruz, que caiu num ocaso crescente. Onde ainda sobrevive é de forma apagada, tocada apenas pelos mais velhos, numa obstinada devoção."
Em segundo lugar, cabe ainda aqui assinalar que CYMBALISTA (2006) relata fato curioso a respeito de relíquias e índios tupinambás, verbis:
"Sobretudo essa propriedade das relíquias — de transportar o que é sagrado — deve ter tido um grande apelo entre os Tupis e outras tribos, cuja cultura baseava-se em um regime de migrações constantes. O capuchinho Claude D'Abbeville relata a dificuldade dos índios Tupinambás em compreender o significado da consagração do território e da consolidação de assentamentos permanentes, ao mesmo tempo em que ficavam fascinados com a ereção de uma cruz na aldeia maranhense de Juniparã e resistentes a abandonar as transferências no local das aldeias:
"Nessa ocasião [de levantamento da cruz], disse Jupiaçu [o chefe] que o único pesar que ele e os seus sentiam era o de terem de abandonar Juniparã e irem residir por cinco ou seis luas num lugar longe daí um quarto ou meia légua (porque costumavam mudar de lugar e de casa de cinco em cinco, ou de seis em seis anos) lamentando todos o deixar a cruz agora erguida. 'Contudo (ele dizia) prometo que, quando sairmos daqui, levaremos a cruz para onde formos no firme propósito de fixarmos residência, e não andarmos como até aqui.' Nós lhes respondemos que não tirassem a Cruz, e que era melhor aí deixá-la como eterna lembrança, e, para consolá-los, que bem podiam fazer outra, que seria benzida pelo padre que com eles viesse morar, e depois levantada, como praticaram com esta." (ABBEVILLE, 2002 [1614], p. 130)
Cf. CYMBALISTA, Renato: Relíquias sagradas e a construção do território cristão na Idade Moderna, Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, vol. 14 nº 2 São Paulo jul./dez. 2006
(disponível in http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142006000200002)
(disponível in http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142006000200002)