A
Fundação Centro de Referência Musicológica José Maria Neves (FCEREM) recebeu do
pianista e professor da UFJF, André Pires, o acervo de partituras que pertenceu
a um dos mais importantes compositores são-joanenses, Presciliano Silva
(1854-1910).
Natural
de São João del-Rei, nascido de família humilde da Rua Santa Tereza, ao lado da
Igreja do Carmo, o compositor afro-descendente foi discípulo do célebre maestro
Martiniano Ribeiro Bastos. Silva teve que vencer todas as dificuldades até se
matricular muito jovem no Real Conservatório de Milão, onde estudou, compôs e
publicou obras durante quatro anos.
O
são-joanense presenciou na cidade milanesa todo o esplendor da ópera italiana,
convivendo com compositores e músicos célebres. De volta ao Brasil, fixou-se em
Campinas (SP), Cantagalo e Nova Friburgo (RJ), onde fundou e dirigiu escolas e
grupos musicais.
Como
compositor destacam-se suas peças de música sacra, como a Missa para Pequena Orquestra Opus 17, a
produção para piano, bem como a música destinada a bandas de música. Além deste
acervo a Fundação Cerem receberá do professor André o acervo de outro
compositor, o irmão de Presciliano, Firmino Silva. Ambos os acervos estavam em
poder do professor André, que pesquisou sua tese de doutoramento pela
Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO). A cerimônia de entrega do acervo
aconteceu no dia 10 de agosto, sexta-feira, às 14h, na sede do Cerem (Rua da
Cachaça, 24- Centro).
Em São
João del-Rei, Presciliano Silva é principalmente admirado por sua composição
para orquestra e coro, intitulada “O vos omnes”, executada durante a Solene
Ação Litúrgica, na Sexta-feira Santa. Outra composição muito conhecida de Presciliano Silva é o hino Crux Fidelis, para 2 coros a 4 vozes, normalmente cantado na Sexta-feira Santa, quando da Adoração da Cruz. No YouTube há dois vídeos apresentando Crux Fidelis:
https://youtu.be/frFzPj9gt7w (original)
https://youtu.be/j3RHdCH6BzE (trecho do arranjo para coral de trombones)
O
pianista André Pires resgatou e apresentou no YouTube uma fantasia de Presciliano
Silva para piano intitulada “O Sonho do Futuro” op. 8.
Sobre a
bolsa de estudos obtida por Presciliano Silva para cursar a Real Escola de
Milão: Gustavo Pena na primeira página do periódico O Pharol, de 12/10/1890
(reproduzido por [GUERRA, 1968: 72]), comentando uma apresentação do músico
são-joanense João da Matta no Teatro Novelli, de Juiz de Fora: “Há talvez 17
anos ouviu o escritor destas linhas este juízo a respeito do maestro mineiro
pronunciado pelo imortal autor do ‘Guarany’: ‘Que esplêndido talento tão
desaproveitado!... Se vocês querem, eu vou pedir ao Imperador que lhe conceda
uma pensão para ir seguir o curso no conservatório de Milão.’ ”
Observe
que, se Pena escreveu isso em 1890, referindo-se a 17 anos antes, o fato se deu
por volta de 1873. Não só com base no testemunho do jornalista Gustavo Pena,
mas também o que se comenta em São João del-Rei é que João da Matta teria
recusado a bolsa de estudos intermediada por Carlos Gomes para estudar na
Itália por causa de seu casamento recente.
Seja como
for, uns seis anos depois, outro são-joanense, desta vez Presciliano José da
Silva (18/02/1854, São João del-Rei-1910, ?), igualmente negro, discípulo de
Martiniano Ribeiro Bastos e músico talentoso, em todos esses aspectos
semelhante a João da Matta, é quem, após ter estudado humanidades no Colégio
Imperial no Rio de Janeiro, embarca em 19/04/1879 para a Itália, de posse de
uma bolsa de estudos obtida junto ao imperador D. Pedro II, e matricula-se na
Real Escola de Milão, onde se gradua.
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Compositor são-joanense Presciliano José da Silva - Crédito: historiador Silvério Parada |
Estando
no exterior, compôs, dentre outras obras, uma Solene Encomendação para a Ordem
Terceira do Carmo, assim como a Missa para Pequena Orquestra op. 17. (PIRES,
2011)
De volta
ao Brasil, desenvolveu atividades musicais em Cantagalo e Nova Friburgo-RJ e
Campinas-SP. Observe que bem depois é que a família real esteve em São João
del-Rei quando de sua passagem pela cidade para a inauguração da EFOM-Estrada
de Ferro Oeste de Minas em abril de 1881, portanto quando Presciliano Silva já
estava cursando a Real Escola de Milão.
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Crédito: Conservatório Pe. José Maria Xavier |
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Crédito: Aluízio José Viegas (foto de casamento) |
Certamente
improvável, se não impossível, o que se conta: Presciliano Silva teria tentado,
quando da vinda do Imperador D. Pedro II para a inauguração da Estrada de Ferro
Oeste de Minas em São João João del-Rei, entregar-lhe uma composição, o Hino ao
Imperador, porém foi impedido. A Princesa Isabel, que estaria observando a cena
da janela, ordenou que o chamassem, e pedido para que tocasse piano. Nesta
oportunidade, teria recebido indicação para que estudasse no Rio de Janeiro.
Entretanto, apesar de emprestar certo charme à sua biografia, esta história certamente não é verdadeira: a data da visita de Dom Pedro II é posterior à sua ida à Europa (PIRES, 2011).
Entretanto, apesar de emprestar certo charme à sua biografia, esta história certamente não é verdadeira: a data da visita de Dom Pedro II é posterior à sua ida à Europa (PIRES, 2011).
(Contribuições: Francisco
José dos Santos Braga - ASCOM UFSJ - André Pires)