(com base no conto de V. Marshak)
Por Francisco José dos Santos Braga
Um pintor vai com o seu filho de sete anos pela orla marítima. O pintor carrega um cavalete, e o garoto — uma bolsa com a caixa de cores em tubos. O mar está calmo. Toda a orla está coberta de pedras e parece cinzenta.
O pintor para e começa a trabalhar.
E o garoto está dentro d'água e recolhe do fundo do mar pequenas pedras. Na água elas parecem muito lindas. Na palma de sua mão já há pedras brancas, amarelas, vermelhas, pretas, verdes.
Em seguida, o garoto coloca suas pedras sobre um jornal e corre para banhar-se. Ele provavelmente está no mar pela primeira vez. Ele se banha por muito tempo, até que o pai o chama. Finalmente, ele volta para a praia e fala ao pai:
— Papai! tu viste que pedras eu ajuntei? — grita ele para o pai. — Elas estão perto de ti sobre o jornal.
O garoto correndo aproxima-se do jornal e para. Ele olha para o jornal e não consegue acreditar no que está vendo. Sobre o jornal estão pedras cinzentas feias.
— Eu tinha pedras bonitas, mas essas não são aquelas...
— Não, são as pedras que tu ajuntaste, sim — diz o pai. — Apenas elas secaram e ficaram cinzentas.
— Por que?
E então o pai lhe conta uma lenda:
— Escuta, filhinho. Contam que há muito tempo aqui se erguiam montanhas altas. Certa vez uma montanha caiu e partiu-se em pedacinhos pequenos. Assim, dela nasceram essas pedrinhas no fundo do mar. O mar brincou com elas, acariciou-as e ei-las que ficaram tão lindas. Mas sem o mar, sem sua pátria, elas perdem a beleza, ficam cinzentas e desinteressantes.
O menino vai novamente à água, recolhe pedras bonitas e vê como elas gradualmente perdem suas cores.
E o artista, em sua tela, tenta transmitir a beleza das pedras cinzentas.
♧ ♧ ♧
O texto aqui traduzido do russo por mim foi extraído de uma coletânea de piadas, anedotas e historietas, intitulada УЛЫБКА (SONRISA em espanhol), livro I, 2ª parte, p. 57-8 e enriquecido por outras versões existentes em manuais de língua russa, tais como RUS' A Comprehensive Course in Russian, by Sarah Smyth and Elena V. Crosbie, Cambridge University Press, 2002, p. 351, dentre outros. Abaixo transcrevo a versão final russa pela qual me responsabilizo e que utilizei neste post:
У МОРЯ
(по рассказу В. Маршака)
Художник с семилетним сыном идёт по берегу моря. Художник несёт мольберт, а мальчик - сумку с красками. Море спокойное. Весь берег покрыт камнями и кажется серым.
Художник останавливается и начинает работать. А мальчик стоит в воде и собирает со дна моря маленькие камни. В воде они кажутся очень красивыми. На ладони у него лежат белые, жёлтые, красные, чёрные, зелёные камни.
Потом мальчик кладёт камни на газету и идёт купаться. Он, наверно, первый раз на море. Он купается долго, пока отец не зовёт его. Наконец, возвращается на берег и говорит отцу:
— Папа, а ты видел, какие камни я собрал? — кричит он отцу. — Они лежат около тебя на газете!
Мальчик подбегает к газете и останавливается. Он смотрит на газету, но не может поверить своим глазам: там лежат серые некрасивые камни.
— Это не те камни! У меня были красивые, а эти! Почему они стали серыми и некрасивыми?
— Нет, это камни, которые ты собрал, — говорит отец. — Только они высохли и стали серыми.
— Почему?
И тогда отец рассказывает ему легенду:
— Говорят, что очень давно здесь стояли высокие горы. Однажды одна гора упала и и разбилась на мелкие кусочки. Так из неё родились эти маленькие камни на дне моря. Море играло с ними, ласкало их и вот они стали такими красивыми. Но без моря, без своей родины, они теряют красоту, становятся серыми, неинтересными.
Мальчик снова идёт к воде, собирает красивые камни и смотрит, как они постепенно теряют свои краски.
А художник в своей картине старается передать красоту серых камней.
(по рассказу В. Маршака, Progress Publishers, 2ª edição, Moscou, 1971: 59)
11 comentários:
Oi, Braga:
Parabéns por mais esse texto, essa tradução.
Mas, esses russos, heim?
Você e eu já andamos pelo mundo e nunca mudamos de cor.
Eu, algumas vezes, pensei até mesmo em não voltar à pátria, mas sempre continuei colorido.
Abraço,
Jorge Antunes
Muito interessante.
Estimado Francisco Braga,
Hoje me levantei às 4 d manhã, para terminar a revisão de um livro de ensaios e vi logo ao sua tradução de B. Marshak, que li (o texto em português),com a pequena história do menino e as pedras do mar. Coisa de encantar. Tocante. Abraço do Gilberto Mendonça Teles
Caro professor Braga.
Encantador ! Julguei que o menino fosse logo jogá-las novamente ao mar. Talvez tenha feito isto após constatar a veracidade daquilo que o pai lhe disse.
Obrigado por brindar seus leitores com esse texto.
Saudações.
Cupertino
Prezado Sr. Braga:
Grato pelo envio.
Atenciosamente.
Rafael Almir Marcial Tramm
Presidente
União Cultural pela Amizade dos Povos
site: http://www.ucpadp.org.br
Rua Epitácio Pessoa, 122 - Cjs. 21/11
Telefone - 3258-3842
Whatsap - 998216214
Caríssimo amigo Braga
Esta interessante história – muito singela, das pedrinhas que o menino tirou do mar e que perderam suas cores – tem um fundo subjetivo que dá margem a algumas considerações.
Apenas atrevo-me a pensar, agora e de imediato, que esta história se assemelha um pouco com o caso de pessoas que, ao saírem de sua cidade ou de seu país (como no caso das pedrinhas tiradas do mar), aonde têm suas raízes familiares, culturais, de amizades e de respeitabilidade pessoal, indo para um local desconhecido, embora não percam a sua “cor” (personalidade) ou “brilho” (caráter), acabam saindo de sua zona de conforto ao não serem bem recebidos – por estrangeiros que são – como costuma acontecer em alguns países.
Em nossas viagens, algumas vezes passamos por esta desagradável experiência, pensando em retornar ao nosso país, como as pedrinhas que talvez quisessem voltar para o mar, onde se sentiriam felizes e coloridas.
Parabéns, amigo Braga, por mais esta tradução!
Agradecemos por suas constantes mensagens, que sempre lemos com muito gosto e atenção.
Os amigos Mario e Beth.
Prezado Francisco Braga, boa tarde.
Muito obrigada pelo envio do link para o seu blog. São traduções extremamente interessantes.
Eu me chamo Cristina, sou graduanda de Relações Internacionais da PUC-Rio e estou realizando a minha monografia sobre as Uniões Culturais Brasil-URSS (não sei se conseguiu meu e-mail através deste fato). Por isso, venho entrando em contato com pessoas relacionadas a essa história de alguma forma.
Gostaria de perguntar qual foi seu contato com a União Cultural Brasil-URSS de São Paulo, visto que os dois textos traduzidos têm relação com um antigo professor da instituição.
Agradeço a atenção.
Atenciosamente,
Cristina Shah
Que bonita história e pensei que teria um outro fim. Me lembrou um Curso que fiz de Análise Transacional e na qual o instrutor nos contou uma história, que nunca soube se era verdade. Ele estava ministrando um curso em uma cidade litorânea da Califórnia e levantou-se cedo para caminhar antes de se preparar pra iniciar a aula e seu hotel ficava em uma pequena praia. A praia estava vazia de pessoas, mas cheia de estrelas do mar trazidas pela maré e que, com o sol se secariam e morreriam. Notou um homem, tipo pescador, caminhando bem na sua frente que escolhia uma estrela do mar e a jogava de volta ao mar. Ele seguiu sua caminhada e quando voltou e cruzou de novo com o homem fazendo a mesma atividade: escolhia uma estrela e a jogava de volta ao mar. Ao chegar mais perto do pescador, perguntou a ele por que ele estava fazendo aquilo, se o mar a devolveria à praia para secar e morrer na próxima maré. O moço virou pra ele e respondeu: "Pode ser, mas pra esta aqui, - e lhe mostrou uma pequena e bonita, - pode fazer a diferença de não morrer hoje." Ele foi pra sua aula e refletiu com os alunos sobre o relacionamento humano e as chances que damos à vida. No dia seguinte, lá estava ele e o pescador jogando estrelas do mar de volta ao mar: para aquelas faria diferença.
Abraços
Paulo Sousa Lima
Quando lhe enviei um texto clássico de Haroldo de Campos sobre Maiakóvski que mantive por 50 anos (MAIAKÓVSKI EM PORTUGUÊS: ROTEIRO DE UMA TRADUÇÃO), informei-lhes que tal exemplar me fora ofertado por meu professor Ilo (natural de BH), que pertencia ao corpo docente da antiga União Cultural Brasil-URSS de São Paulo em 1971. Ilo estudara na União Soviética, provavelmente na MGU-Universidade Estatal de Moscou.Hoje vou utilizar novamente outro presente do mesmo professor, uma coletânea de piadas, anedotas e historietas, intitulada УЛЫБКА/SONRISA, Editorial Progreso, Moscú, 1971(?), 111 p., um manual de língua russa para iniciantes.
O texto que vou utilizar na tradução encontra-se nas páginas 57-8, levemente enriquecido por outras versões que localizei na Internet, responsabilizando-me inteiramente pela versão final que lhe apresento.
https://bragamusician.blogspot.com/2021/03/no-mar.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
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