quarta-feira, 31 de março de 2021

NO MAR

(com base no conto de V. Marshak


Por Francisco José dos Santos Braga
 

Um pintor vai com o seu filho de sete anos pela orla marítima. O pintor carrega um cavalete, e o garoto uma bolsa com a caixa de cores em tubos. O mar está calmo. Toda a orla está coberta de pedras e parece cinzenta. 
O pintor para e começa a trabalhar. 
E o garoto está dentro d'água e recolhe do fundo do mar pequenas pedras. Na água elas parecem muito lindas. Na palma de sua mão já há pedras brancas, amarelas, vermelhas, pretas, verdes. 
Em seguida, o garoto coloca suas pedras sobre um jornal e corre para banhar-se. Ele provavelmente está no mar pela primeira vez. Ele se banha por muito tempo, até que o pai o chama. Finalmente, ele volta para a praia e fala ao pai: 
Papai! tu viste que pedras eu ajuntei? grita ele para o pai. Elas estão perto de ti sobre o jornal. 
O garoto correndo aproxima-se do jornal e para. Ele olha para o jornal e não consegue acreditar no que está vendo. Sobre o jornal estão pedras cinzentas feias. 
Eu tinha pedras bonitas, mas essas não são aquelas... 
Não, são as pedras que tu ajuntaste, sim diz o pai. Apenas elas secaram e ficaram cinzentas. 
Por que? 
E então o pai lhe conta uma lenda:
Escuta, filhinho. Contam que há muito tempo aqui se erguiam montanhas altas. Certa vez uma montanha caiu e partiu-se em pedacinhos pequenos. Assim, dela nasceram essas pedrinhas no fundo do mar. O mar brincou com elas, acariciou-as e ei-las que ficaram tão lindas. Mas sem o mar, sem sua pátria, elas perdem a beleza, ficam cinzentas e desinteressantes. 
O menino vai novamente à água, recolhe pedras bonitas e vê como elas gradualmente perdem suas cores. 
E o artista, em sua tela, tenta transmitir a beleza das pedras cinzentas. 
 
♧                    ♧                    ♧ 
 
УЛЫБКА/SONRISA, Editorial Progreso, Moscú, 1971(?), 111 p.
                                                                         
 
 
O  texto aqui traduzido do russo por mim foi extraído de uma coletânea de piadas, anedotas e historietas, intitulada УЛЫБКА (SONRISA em espanhol), livro I, 2ª parte, p. 57-8 e enriquecido por outras versões existentes em manuais de língua russa, tais como RUS' A Comprehensive Course in Russian, by Sarah Smyth and Elena V. Crosbie, Cambridge University Press, 2002, p. 351, dentre outros. Abaixo transcrevo a versão final russa pela qual me responsabilizo e que utilizei neste post:
 
У МОРЯ
(по рассказу В. Маршака)
 
Художник с семилетним сыном идёт по берегу моря. Художник несёт мольберт, а мальчик - сумку с красками. Море спокойное. Весь берег покрыт камнями и кажется серым. 
Художник останавливается и начинает работать. А мальчик стоит в воде и собирает со дна моря маленькие камни. В воде они кажутся очень красивыми. На ладони у него лежат белые, жёлтые, красные, чёрные, зелёные камни. 
Потом мальчик кладёт камни на газету и идёт купаться. Он, наверно, первый раз на море. Он купается долго, пока отец не зовёт его. Наконец, возвращается на берег и говорит отцу: 
Папа, а ты видел, какие камни я собрал? кричит он отцу. Они лежат около тебя на газете! Мальчик подбегает к газете и останавливается. Он смотрит на газету, но не может поверить своим глазам: там лежат серые некрасивые камни. 
Это не те камни! У меня были красивые, а эти! Почему они стали серыми и некрасивыми? 
Нет, это камни, которые ты собрал, говорит отец. Только они высохли и стали серыми.
Почему?
И тогда отец рассказывает ему легенду: 
Говорят, что очень давно здесь стояли высокие горы. Однажды одна гора упала и и разбилась на мелкие кусочки. Так из неё родились эти маленькие камни на дне моря. Море играло с ними, ласкало их и вот они стали такими красивыми. Но без моря, без своей родины, они теряют красоту, становятся серыми, неинтересными. 
Мальчик снова идёт к воде, собирает красивые камни и смотрит, как они постепенно теряют свои краски. 
А художник в своей картине старается передать красоту серых камней.
 
(по рассказу В. Маршака, Progress Publishers, 2ª edição, Moscou, 1971: 59)

11 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Jorge Antunes (professor e maestro, atualmente compositor convidado pela Cité Internationale des Arts para compor uma ópera a ser dedicada à memória da Imperatriz Leopoldina) disse...

Oi, Braga:

Parabéns por mais esse texto, essa tradução.
Mas, esses russos, heim?
Você e eu já andamos pelo mundo e nunca mudamos de cor.
Eu, algumas vezes, pensei até mesmo em não voltar à pátria, mas sempre continuei colorido.
Abraço,
Jorge Antunes

Pe. Sílvio Firmo do Nascimento (professor, escritor e editor da Revista Saberes Interdisciplinares da UNIPTAN e membro da Academia de Letras de SJDR) disse...

Muito interessante.

Gilberto Mendonça Teles (autor de O terra a terra da linguagem e Hora Aberta-Poemas Reunidos e é membro da Academia Goiana de Letras) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Gilberto Mendonça Teles (autor de O terra a terra da linguagem e Hora Aberta-Poemas Reunidos e é membro da Academia Goiana de Letras) disse...

Estimado Francisco Braga,

Hoje me levantei às 4 d manhã, para terminar a revisão de um livro de ensaios e vi logo ao sua tradução de B. Marshak, que li (o texto em português),com a pequena história do menino e as pedras do mar. Coisa de encantar. Tocante. Abraço do Gilberto Mendonça Teles

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga.
Encantador ! Julguei que o menino fosse logo jogá-las novamente ao mar. Talvez tenha feito isto após constatar a veracidade daquilo que o pai lhe disse.
Obrigado por brindar seus leitores com esse texto.
Saudações.
Cupertino

Rafael Almir Marcial Tramm (presidente da União Cultural pela Amizade dos Povos, nova denominação da União Cultural Brasil-URSS de São Paulo) disse...

Prezado Sr. Braga:

Grato pelo envio.


Atenciosamente.
Rafael Almir Marcial Tramm
Presidente
União Cultural pela Amizade dos Povos
site: http://www.ucpadp.org.br
Rua Epitácio Pessoa, 122 - Cjs. 21/11
Telefone - 3258-3842
Whatsap - 998216214

Dr. Mário Pellegrini Cupello (escritor, pesquisador, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, e sócio correspondente do IHG e Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caríssimo amigo Braga

Esta interessante história – muito singela, das pedrinhas que o menino tirou do mar e que perderam suas cores – tem um fundo subjetivo que dá margem a algumas considerações.

Apenas atrevo-me a pensar, agora e de imediato, que esta história se assemelha um pouco com o caso de pessoas que, ao saírem de sua cidade ou de seu país (como no caso das pedrinhas tiradas do mar), aonde têm suas raízes familiares, culturais, de amizades e de respeitabilidade pessoal, indo para um local desconhecido, embora não percam a sua “cor” (personalidade) ou “brilho” (caráter), acabam saindo de sua zona de conforto ao não serem bem recebidos – por estrangeiros que são – como costuma acontecer em alguns países.

Em nossas viagens, algumas vezes passamos por esta desagradável experiência, pensando em retornar ao nosso país, como as pedrinhas que talvez quisessem voltar para o mar, onde se sentiriam felizes e coloridas.

Parabéns, amigo Braga, por mais esta tradução!

Agradecemos por suas constantes mensagens, que sempre lemos com muito gosto e atenção.

Os amigos Mario e Beth.

Cristina Shah (graduanda de Relações Internacionais da PUC-Rio, realizando monografia sobre as Uniões Culturais Brasil-URSS) disse...

Prezado Francisco Braga, boa tarde.

Muito obrigada pelo envio do link para o seu blog. São traduções extremamente interessantes.

Eu me chamo Cristina, sou graduanda de Relações Internacionais da PUC-Rio e estou realizando a minha monografia sobre as Uniões Culturais Brasil-URSS (não sei se conseguiu meu e-mail através deste fato). Por isso, venho entrando em contato com pessoas relacionadas a essa história de alguma forma.

Gostaria de perguntar qual foi seu contato com a União Cultural Brasil-URSS de São Paulo, visto que os dois textos traduzidos têm relação com um antigo professor da instituição.

Agradeço a atenção.


Atenciosamente,

Cristina Shah

Paulo Roberto Sousa Lima (escritor, gestor cultural e presidente reeleito do IHG de São João del-Rei para o triênio 2021-2023) disse...

Que bonita história e pensei que teria um outro fim. Me lembrou um Curso que fiz de Análise Transacional e na qual o instrutor nos contou uma história, que nunca soube se era verdade. Ele estava ministrando um curso em uma cidade litorânea da Califórnia e levantou-se cedo para caminhar antes de se preparar pra iniciar a aula e seu hotel ficava em uma pequena praia. A praia estava vazia de pessoas, mas cheia de estrelas do mar trazidas pela maré e que, com o sol se secariam e morreriam. Notou um homem, tipo pescador, caminhando bem na sua frente que escolhia uma estrela do mar e a jogava de volta ao mar. Ele seguiu sua caminhada e quando voltou e cruzou de novo com o homem fazendo a mesma atividade: escolhia uma estrela e a jogava de volta ao mar. Ao chegar mais perto do pescador, perguntou a ele por que ele estava fazendo aquilo, se o mar a devolveria à praia para secar e morrer na próxima maré. O moço virou pra ele e respondeu: "Pode ser, mas pra esta aqui, - e lhe mostrou uma pequena e bonita, - pode fazer a diferença de não morrer hoje." Ele foi pra sua aula e refletiu com os alunos sobre o relacionamento humano e as chances que damos à vida. No dia seguinte, lá estava ele e o pescador jogando estrelas do mar de volta ao mar: para aquelas faria diferença.
Abraços
Paulo Sousa Lima

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Quando lhe enviei um texto clássico de Haroldo de Campos sobre Maiakóvski que mantive por 50 anos (MAIAKÓVSKI EM PORTUGUÊS: ROTEIRO DE UMA TRADUÇÃO), informei-lhes que tal exemplar me fora ofertado por meu professor Ilo (natural de BH), que pertencia ao corpo docente da antiga União Cultural Brasil-URSS de São Paulo em 1971. Ilo estudara na União Soviética, provavelmente na MGU-Universidade Estatal de Moscou.Hoje vou utilizar novamente outro presente do mesmo professor, uma coletânea de piadas, anedotas e historietas, intitulada УЛЫБКА/SONRISA, Editorial Progreso, Moscú, 1971(?), 111 p., um manual de língua russa para iniciantes.
O texto que vou utilizar na tradução encontra-se nas páginas 57-8, levemente enriquecido por outras versões que localizei na Internet, responsabilizando-me inteiramente pela versão final que lhe apresento.

https://bragamusician.blogspot.com/2021/03/no-mar.html

Cordial abraço,
Francisco Braga