Por Francisco José dos Santos Braga
O que está alguém a fazer no espaço-tempo de um blog?
Muitas são as razões que levam uma pessoa a se expor diante dos usuários da Internet, fazendo obviamente que os blogs possuam também lógicas próprias. O que vem a seguir só se aplica a blogs em que haja um discurso sobre o Eu, ou seja, em que o escritor está a exercitar o pensar sobre si mesmo.
Acho que Michel Foucault é um dos autores fundamentais para a reflexão de uma escrita de si, que ele por primeiro chamou "l' écriture de soi" e cujos traços identificou na cultura greco-romana dos séculos I e II D.C. A noção de uma escrita de si está ligada ao exercício ("áskesis") constante de um pensar sobre si mesmo. O que a escrita de si proporciona é um falar sobre o Eu, possibilita a constituição do Eu. O Eu nasce do falar e da escrita. A essa escrita, que é uma forma de constituição do Eu, Foucault a chama de "ethopoiética", para utilizar um qualificativo presente em Plutarco.
Duas são as formas que a escrita de si mesmo assume na cultura greco-romana.
A primeira era constituída pelos "hypomnêmata", que consistiam em notas que se tomavam por escrito, cadernos pessoais contendo citações, fragmentos de obras ou pensamentos que serviam de "ajuda-memória" para o dia-a-dia.
A outra modalidade de escrita de si consistia na correspondência. Sob a forma de "hypomnêmata" enviados a outrem, ou ainda quando o missivista se correspondia com alguém para auxiliá-lo, esta carta, em ambas as situações, constituía, para o escritor, uma maneira de se treinar.
"Escrever é então 'se mostrar', se fazer ver, fazer aparecer seu próprio rosto junto do outro. E, por isso, é preciso compreender que a carta é, ao mesmo tempo, um olhar que dirige ao destinatário (pela missiva que ele recebe, sente-se olhado) e uma maneira de se dar a seu olhar pelo que a gente diz de si mesmo." (Minha tradução de Foucault, 2001: 1244) Ou seja, trata-se de fazer coincidir o olhar do outro com aquele (olhar) que se volve para si próprio.
Neste ponto é possível constatar a necessidade de se possuir um estilo retórico característico, acompanhado de certa capacidade de persuasão por parte do escritor do blog, quer nos relatos auto-biográficos, quer nas entrevistas imaginárias com interlocutores também imaginários.
Mas por que me reporto a Foucault para falar sobre blog? Porque o blog parece ser uma combinação dessas duas formas de escrita "ethopoiética" (sob a forma de "hypomnêmata" ou de correspondência), exclusivamente nos casos em que há um discurso sobre o Eu, tornando possível uma articulação de elementos da escrita para o outro e da escrita para si mesmo.
Muitas são as razões que levam uma pessoa a se expor diante dos usuários da Internet, fazendo obviamente que os blogs possuam também lógicas próprias. O que vem a seguir só se aplica a blogs em que haja um discurso sobre o Eu, ou seja, em que o escritor está a exercitar o pensar sobre si mesmo.
Acho que Michel Foucault é um dos autores fundamentais para a reflexão de uma escrita de si, que ele por primeiro chamou "l' écriture de soi" e cujos traços identificou na cultura greco-romana dos séculos I e II D.C. A noção de uma escrita de si está ligada ao exercício ("áskesis") constante de um pensar sobre si mesmo. O que a escrita de si proporciona é um falar sobre o Eu, possibilita a constituição do Eu. O Eu nasce do falar e da escrita. A essa escrita, que é uma forma de constituição do Eu, Foucault a chama de "ethopoiética", para utilizar um qualificativo presente em Plutarco.
Duas são as formas que a escrita de si mesmo assume na cultura greco-romana.
A primeira era constituída pelos "hypomnêmata", que consistiam em notas que se tomavam por escrito, cadernos pessoais contendo citações, fragmentos de obras ou pensamentos que serviam de "ajuda-memória" para o dia-a-dia.
A outra modalidade de escrita de si consistia na correspondência. Sob a forma de "hypomnêmata" enviados a outrem, ou ainda quando o missivista se correspondia com alguém para auxiliá-lo, esta carta, em ambas as situações, constituía, para o escritor, uma maneira de se treinar.
"Escrever é então 'se mostrar', se fazer ver, fazer aparecer seu próprio rosto junto do outro. E, por isso, é preciso compreender que a carta é, ao mesmo tempo, um olhar que dirige ao destinatário (pela missiva que ele recebe, sente-se olhado) e uma maneira de se dar a seu olhar pelo que a gente diz de si mesmo." (Minha tradução de Foucault, 2001: 1244) Ou seja, trata-se de fazer coincidir o olhar do outro com aquele (olhar) que se volve para si próprio.
Neste ponto é possível constatar a necessidade de se possuir um estilo retórico característico, acompanhado de certa capacidade de persuasão por parte do escritor do blog, quer nos relatos auto-biográficos, quer nas entrevistas imaginárias com interlocutores também imaginários.
Mas por que me reporto a Foucault para falar sobre blog? Porque o blog parece ser uma combinação dessas duas formas de escrita "ethopoiética" (sob a forma de "hypomnêmata" ou de correspondência), exclusivamente nos casos em que há um discurso sobre o Eu, tornando possível uma articulação de elementos da escrita para o outro e da escrita para si mesmo.
FOUCAULT, Michel (2001), "L' Écriture de Soi", Dits et Écrits, 1954-1988, Volume II (1976-1988), Paris: Gallimard, pp. 1234-1249.
