Por Francisco José dos Santos Braga
I. INTRODUÇÃO
Conheci o legendário Roberto Szidon em junho de 1982, quando ele ministrou uma master-class no auditório do Departamento de Música da UnB, a convite de seu amigo Cláudio Santoro, em cuja residência aquele se hospedou em sua passagem pelo Brasil. Embora eu não fosse aluno da UnB na ocasião, inscrevi-me e fui aceito naquela atividade musical apoiada pelo Departamento de Música no seu anfiteatro.
Cada estudante apresentou a peça que tinha preparado, na expectativa de que Szidon lhe mostrasse a melhor forma de executá-la. Szidon não se fazia de rogado. Ouvia toda a peça com atenção e, em seguida, demonstrava, ele próprio ao piano, como tocar certas passagens mais complicadas da peça em questão, de acordo com a sua estética musical, ao mesmo tempo que aconselhava a evitar determinados erros técnicos cometidos comumente, mostrando pleno conhecimento da vida e obra do compositor, às vezes contando determinada anedota sobre ele. Ao final, pedia ao estudante para repetir a apresentação da peça, agregando agora as informações que tinha passado. Entre nós estudantes, foi geral a aprovação do método utilizado por Szidon naquela inesquecível master-class.
Ainda me lembro bem de dois fatos estranhos ocorridos durante aquela master-class. O primeiro é que certo tipo se inscrevera também para frequentar aquelas aulas, mas mantinha-se alheio ao que se passava ao seu redor, segurando um jornal aberto diante dos olhos, todo o tempo, fingindo ar desafiador e desinteressado, sentado ao fundo na fileira superior do anfiteatro. Sem entender aquela atitude grosseira daquela pessoa, perguntei a Szidon o que ela fazia ali e se ele não se incomodava. Sem pestanejar, respondeu-me: "Seus outros colegas me disseram que é um professor do Departamento de Música. Se quiser me tesar com essa atitude, não vai consegui-lo. Ele é muito pequeno para me incomodar. É um direito dele ficar lendo durante o nosso trabalho."
Outra observação que fiz foi que Szidon não era afeito a certos clichês comumente vinculados a pianistas virtuoses e estava pronto a desmitificá-los, um por um. Inicialmente, não era afetado como costumam ser muitos pianistas, que, no dia de suas apresentações, não fazem nenhum esforço com as mãos, temendo os possíveis efeitos sobre a execução. Ele, ao contrário, iniciava suas aulas empurrando um gigantesco piano de cauda, buscando a melhor posição no palco e dizia que isso absolutamente não o afetava, executando, a seguir, com a maior naturalidade, obras de alta virtuosidade, como os Estudos Transcendentais de Lizst ou o Carnaval op. 9 de Schumann.
Ali, à nossa frente, se apresentava o mais audacioso senão o mais convincente pianista daquela geração que não reduzia o ensino do piano a uma enfiada de enfadonhos estudos técnicos diários e se orgulhava tenazmente de provar o contrário com sua técnica prodigiosa, sem recorrer àqueles artifícios tão comuns aos demais pianistas. Maravilhado com a novidade que acabara de ouvir, telefonei a minha amiga gaúcha Estelita, que residira na mesma rua de Szidon (Rua da Praia) em Porto Alegre, para contar-lhe. Ela também ouviu meu relato entre descrente e surpresa com o que acabava de ouvir, pois, durante toda a sua infância, ela passava de manhã à frente da casa de Szidon e ele tenazmente enfrentava os exercícios técnicos e, mais tarde, quando de seu retorno pelo mesmo caminho, Szidon continuava com os mesmos exercícios da manhã. E, ainda mais, isso acontecia todos os dias. Ponderou que Szidon era "ÚNICO" e que provavelmente ele já tivesse superado a fase de estudos maçantes e alcançado um estágio onde esses estudos fossem desnecessários para quem já dominava perfeitamente todas as dificuldades técnicas que assombravam os pianistas comuns.
Lembrei-me do provérbio latino: "Per angusta ad augusta". Essas quatro palavras tinham inspirado, ao longo da história, especialmente estudantes, atletas e soldados. Uma tradução plausível seria "através das dificuldades chega-se a grandes coisas". Outras traduções alternativas são: "pelas provas se chega às honras", ou ainda, "pelo treino atinge-se o triunfo". Há ainda outro "motto" que quer dizer mais ou menos a mesma coisa: "Ad astra per asperam", ou seja, "às estrelas se chega via adversidade".
Lembrei-me também simultaneamente de minhas aulas de Latim no Curso Clássico: "Nulla dies sine linea", ou "Nenhum dia sem uma linha (ou traço)". Segundo Plínio, o Velho, tal lema deve ser atribuído ao pintor grego Apelles, que o considerava o maior pintor da Antiguidade. De acordo com o grande naturalista, Apelles não passava um dia sem exercitar-se na pintura. Muito do que dele sabemos chegou até nós através de Plínio, in Naturalis Historia, XXXV-XXXVI. Apelles de Kos (belíssima ilha do sul da Grécia, próxima à Turquia) foi contemporâneo de Alexandre, o Grande. Aos poucos, o lema de Apelles passou a ser mote para artistas em geral. ¹
II. VIDA E CARREIRA
Uma matéria curiosa intitulada "
Szidon interpreta desde os 4 anos"
² pode ser encontrada no jornal
O Estado de S. Paulo, datado de 1º de junho de 1968, anunciando então um recital para a Sociedade de Cultura Artística no dia 4, às 21 horas, no Teatro Municipal, constando do programa de Szidon as seguintes peças: Chopin: Balada op. 47, Barcarola op. 60, Scherzo op. 54 e Balada op. 23; Manuel de Falla: Fantasia; Villa-Lobos: New York Skyline; e Scriabin: Sonata op. 4 nº 30.
Em entrevista três dias antes do concerto, Szidon emitiu algumas opiniões: "
Acho que toco bem porque sempre soube evitar os bons professores", diz sorrindo o pianista, evitando a pergunta indiscreta sobre seus professores. Com 4 anos e meio, Szidon sentou-se ao piano de seu irmão, em Porto Alegre, e tocou uma valsa de Chopin cujo opus não se lembrava, com todas as notas certas e no andamento justo. Alegou não saber como tocou. "
Só lembro perfeitamente que me sentei ao piano e toquei. Não conhecia notas musicais, sinais, nada. Mas toquei lendo a partitura."
Tocou de uma maneira que a música só podia ser para ele uma coisa intuitiva. Szidon confidenciou que é claro que aprendeu teoria, mas a leitura de partituras foi sempre uma coisa inata, meio misteriosa. Ele olhava para uma partitura e tocava tudo certo, sem saber realmente como fazia. "Talvez — disse ele — eu ficasse ali perto do piano enquanto meu irmão estudava e fosse aprendendo tudo, quase que inconscientemente. A verdade é que quando comecei a tocar todo mundo ficou espantado e meu irmão deixou de estudar piano." Embora Szidon tocasse muito quando criança, considerava que só começou mesmo sua carreira três anos antes, conseguindo um êxito fulminante em todos os lugares onde se tem apresentado.
Apesar da resposta inicial de Szidon sobre sua formação pianística, com 11 anos foi aos Estados Unidos tocar para Claudio Arrau, mas ficou lá só três meses; voltando seis anos mais tarde, tomou lições com um assistente daquele e com o próprio Arrau. Atribuía o abandono das lições e a retomada de seus estudos individuais, quando eles quiseram mudar a sua técnica. Disse ainda ter tomado algumas aulas com Rubinstein em sua residência de verão, na Espanha.
Segundo Szidon, antes de ser pianista, chegou a pensar em ser médico. Cursou durante cinco anos a faculdade, mas nunca deixou a música, tocando para si mesmo ou dando alguns concertos em Porto Alegre. Depois de sua apresentação no Municipal, Szidon disse que iria gravar para a Deutsche Grammophon, de Hamburgo, em Munique, partindo para sua quarta excursão pela Europa, tocando na Alemanha, na Áustria, em Portugal e na Itália, no Festival de Spoleto. Em seguida cumpriria uma tournée de concertos marcados nos Estados Unidos e Canadá.
❀ ❀ ❀
Roberto Szidon nasceu em Porto Alegre, Brasil, em 21 de setembro de 1941. Deu seu primeiro concerto aos nove anos de idade em sua cidade natal. Ele então estudou composição com Karl Faust, e continuou seus estudos pianísticos nos Estados Unidos com Ilona Kabos e Claudio Arrau.
Nos anos 60, após completar 20 anos de idade, gravou seu primeiro disco com obras de Villa-Lobos e sua interpretação de peças como o Rudepoema foi considerada antológica, pelo que, em 1965, recebeu um prêmio no IV Centenário do Rio de Janeiro. Em 1967 foi para a Alemanha, onde participou de dezenas de gravações para o selo Deutsche Grammophon, a mais importante gravadora de música erudita do mundo.
Na música erudita são poucos os artistas brasileiros que alcançaram prestígio internacional. Szidon foi um deles. Tocou com mais de cinquenta orquestras renomadas, incluindo a Orchestre de la Suisse Romande, na Suíça; a Filarmônica de Londres, na Inglaterra; a Orquestra de Cleveland, nos Estados Unidos; e a Sinfônica de Viena, na Áustria. Em 1977 completou uma aclamada tournée pela África do Sul. Também foi solista na première do Concerto para Piano nº 4 de Camargo Guarnieri, em Porto Alegre, em 6 de setembro de 1972.
Em 1979, o cineasta gaúcho Antônio Jesus Pfeil dirigiu um curta-metragem sobre o pianista Roberto Szidon.
Como artista que gravava discos em profusão, Szidon ficou bem conhecido por sua gravação da integral de 10 Sonatas para Piano e a Fantasia em si menor, por Alexander Scriabin, bem como da integral das 19 Rapsódias Húngaras e da Rapsódia Espanhola, por Franz Liszt.
Gravou um premiado LP em 1965 do
Rudepoema de Villa-Lobos. Outras obras de Villa-Lobos na sua discografia foram
A Fiandeira,
Saudades das Selvas Brasileiras,
New York Skyline (a versão de 1957),
Carnaval das Crianças,
A lenda do Caboclo,
Suíte Floral op. 97 (revisão de 1949), e as 16
Cirandas e as 12
Cirandinhas.
Também gravou as obras de vários compositores brasileiros, sendo muito aclamada sua coletânea Cem Anos de Piano Brasileiro, onde interpreta obras de Chiquinha Gonzaga, Glauco Velásquez, Ernesto Nazareth, Francisco Mignone, Luiz Eça e outros.
Além disso, gravou 4
Scherzos e 4
Impromptus, por Frederico Chopin (Deutsch Grammophon LP 536 378), a
2ª Sonata de Sergei Rachmaninoff, a
6ª Sonata de Sergei Prokofiev e o
Concerto Para Piano de Gershwin em fá maior. Acompanhou o barítono Thomas Quasthoff em
Dichterliebe,
Liederkreis op. 39 e outros Lieder, por Robert Schumann.
Roberto Szidon faleceu em 21 de dezembro de 2011, em Düsseldorf, Alemanha, vítima de um ataque cardíaco, com a idade de 70 anos.
De agosto de 1970 até sua morte ele partilhou sua vida e obra com seu companheiro, o pianista e compositor Richard Metzler. ³
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Possuo um álbum-brinde da
CAEMI-Companhia Auxiliar de Empresas de Mineração, gravado pela Kuarup
Discos na produção musical de Mario de Aratanha, cuja referência não se encontra na Internet, mas que aprecio muito e
que constituiu um brinde de Natal em 1981, chamado "
Brasil, Piano
& Cordas", gravado na sala Cecília Meirelles no Rio de Janeiro, tendo por membros do trio os seguintes músicos: Roberto Szidon (piano),
Michel Bessler (violino) e Marcio Mallard (violoncelo). Também no interior desse álbum, há informações preciosas a respeito da vida e
carreira do pianista gaúcho que me permito reproduzir aqui porque não as
encontrei em outra parte.
"Nascido
em Porto Alegre, de pais húngaros, Roberto Szidon é hoje um dos
principais pianistas brasileiros e um dos grandes de sua geração. Aluno
de Natho Henn e Ilse Warncke, aperfeiçoou-se com Cláudio Arrau e Ilona
Kabos em Nova Iorque, e com Arthur Rubinstein na Espanha. Já foi solista
de mais de 50 orquestras, e tocou nos principais festivais e salas de
concerto dos cinco continentes."
Essa
gigantesca experiência já equivaleria a uma longa existência de
qualquer pianista virtuose. Imagine quantas conquistas com a idade de 40
anos apenas! Essas dão uma ideia do rico repertório de que já dispunha Szidon em 1981 e é um mérito indiscutível desse grande artista.
"Gravando
desde 1964, já lançou cerca de 40 LPs em mais de 20 países, para selos
como Angel, Relais, Deutsche Grammophon, WEA, Kuarup, Guilde du Disque,
Harmonia Mundi, Nonesuch, BASF e outros. Além do "Deutsche
Schallplattenpreis" de 1977, Szidon teve uma de suas principais
interpretações — a série completa das Sonatas de Bartok para violino e piano, com Jenny Abel — incluída pela revista alemã Fono Forum entre "as 33 melhores gravações do Século".
Entre
seus principais registros fonográficos estão as sonatas de Charles
Ives, Prokofieff, Rachmaninoff e Scriabin (deste último a única gravação
integral existente), os concertos de Gershwin e MacDowell (com a
Filarmônica de Londres), as séries completas das rapsódias de Liszt e
dos scherzi e impromptus de Chopin, e peças de Ravel, Brahms,
Tchaikowsky e Smetana. De brasileiros, gravou oito LPs de Villa-Lobos e
dois de Nazareth, outros dedicados a Marlos Nobre (obra completa para
piano solo), Almeida Prado ("Cartas Celestes"), Alberto Nepomuceno e
Radamés Gnattali, além de uma antologia de 100 anos de piano no Brasil."
Também aí se encontra a noção exata do que Szidon acreditava fosse a autêntica música brasileira, haja vista
que a preocupação de Roberto Szidon em pesquisar nossa música de forma global resultou na seleção das obras deste disco, afirmando que
"a
atitude em relação ao nacionalismo está mudando, e o que era um momento
considerado como a essência da alma brasileira, hoje já não é
suficiente para representar, por si só, nossa realidade em toda sua
complexidade."
E continua:
"Hoje se tem o distanciamento necessário para se concluir que a música
assim dita tipicamente brasileira já não pode ser vista como tendo
brotado apenas do nosso solo. Ela é resultado de um 'melting pot' das
mais variadas influências, e se um brasileiro compõe um 'capriccio' ou
um 'impromptu' não perde por isto sua cidadania musical."
Assim, "Serrana",
por Henrique Oswald, datada de 1927, é a única obra para trio, ao lado
de solos (10) e duos (4), que compõem o disco. Explica Szidon:
"Não se procurou aqui seguir
uma ordem cronológica, nem nenhuma corrente de desenvolvimento musical,
nem se tentou estabelecer representatividades. Escolhemos músicas
dignas de serem descobertas ou redescobertas. O critério foi
simplesmente o do bom gosto."
Os duos, como vimos, são 4:
Canto da Saudade para violino e piano, por Francisco Braga,
Sogno para violoncelo e piano, por Glauco Velasquez,
Scherzo para violoncelo e piano, por João Octaviano, e
Tarantella para violino e piano, por Barrozo Netto. Para piano solo são as seguintes peças:
Impromptu op. 3, por Araújo Vianna,
A Casinha Pequenina, por João Octaviano,
Capricho, por Fructuoso Vianna,
Valsa em Sol Maior e
Valse Élégante, por Francisco Mignone,
Murucututu, por José Siqueira,
Une Fleur, por Alberto Nepomuceno,
Vésper, por Ernesto Nazareth, e
Corrupio, por Francisco Braga. Finalmente, para violino solo, foi escolhida
Batuque, por Flausino Valle.

Acho que, nesta altura, cabe ainda a seguinte observação: na discografia de Szidon, dedicada à música brasileira, há álbuns dedicados a autores que vão de Radamés Gnattali (valsa "Vaidosa"
⁴) a Marlos Nobre e Almeida Prado ("Cartas Celestes"), demonstrando a versatilidade desse artista que transitava com enorme naturalidade pela música dita contemporânea.
III. MATÉRIA DE JORNAL E NA INTERNET SOBRE ROBERTO SZIDON
NOTÁVEL ESTRÉIA DE JOVEM PIANISTA
CALDEIRA FILHO
O terceiro concerto da série social da Orquestra Filarmônica de S. Paulo, dado a 18 do corrente no Teatro Municipal, foi dirigido pelo maestro Theodoro Fuchs e teve como solista o jovem pianista gaúcho Roberto Szidon.
Na interpretação do dificílimo Concerto nº 3 op. 30 em ré menor de Rachmaninoff impôs-se desde logo por exuberante virtuosidade, capaz de vencer os mais árduos problemas técnicos e de manipular a sonoridade tornando-a uma substância realmente artística e apta a refletir todos os matizes de cor e de expressão. Sua musicalidade é clarividente e, principalmente, muito inteligente. Valoriza em profundidade o lirismo de certos trechos do texto; de outros, atenua a grandiloquência, atribuindo-lhe — se não descobrindo nela — um conteúdo expressivo ao qual muitos intérpretes se mostram alheios. Digna de nota a variedade de gradações de intensidade com que enriquece a execução. E pela maturidade a que chegou tão cedo — anda pelo casa dos vinte — rivaliza com os melhores pianistas contemporâneos. Esquecendo a crítica e abandonando-se à emoção, é o ouvinte levado a considerá-lo algo realmente incomum, pois a execução é notável e surpreende enormemente pela transcendência da virtuosidade e profundeza do espírito interpretativo. A estreia de Roberto Szidon em S. Paulo constituiu uma das mais notáveis revelações que se têm presenciado.
O regente Theodoro Fuchs levou a OFSP a atuar de modo muito artístico no acompanhamento do Concerto e nos demais trechos do programa: a Abertura "Sonho de uma noite de verão" de Mendelssohn, bem valorizada no jogo das cores sonoras; a "Fantasia sobre um tema de Thomas Tallis" (séc. XVI), de Ralph Vaughan Williams (1872-1958), onde o autor conseguiu notável aproveitamento da orquestra de cordas para chegar a uma realização inegavelmente bela em si e como evocação; e o poema coreográfico "La Valse" de Ravel, cujo encantamento rítmico foi objeto de excelente versão. Esse concerto alcançou grande êxito pela excelência de todos os fatores concorrentes. (Grifo meu) ⁵
❀ ❀ ❀
No artigo de Aramis Millarch, intitulado "No campo de batalha", publicado em 24 de abril de 1987 no jornal Estado do Paraná, caderno Almanaque, seção Tablóide, p. 21, fomos informados que "o Goethe Institut não esqueceu do centenário de nascimento de Heitor Villa-Lobos: dia 29, no auditório da Reitoria, patrocina concerto do pianista Roberto Szidon e da violinista Jenny Abel (alemã de Husum). No programa, o "Rudepoema para Piano", obra que Villa-Lobos compôs entre 1921/26 (também conhecida como "Os Martírios dos Insetos") e a Terceira Sonata para violino e piano, de 1920." ⁶
O eminente pianista grego, Dino Mastroyiannis, um de seus mais devotados alunos e amigos, que ocupa uma posição de prestígio entre os pianistas contemporâneos de concerto clássico, destaca a master-class que teve com o grande pianista brasileiro entre todas as que frequentou para piano e música de câmara. Em sua página biográfica na Internet, registrou que "tem estudado e frequentado inúmeras master-classes para piano e música de câmara na Áustria (International Summer Academy of the 'Mozarteum' University Salzburg), na Alemanha (Hanover Music Academy), na Suíça (Sion Music Academy) e na Grécia com o internacionalmente famoso casal búlgaro Konstantin & Julia Ganevi e com Vassily Lobanov (discípulos de Heinrich Neuhaus),
e especialmente com um dos maiores pianistas do século XX, o brasileiro Roberto Szidon (discípulo de Claudio Arrau e Arthur Rubinstein)." ⁷
O mesmo pianista grego Dino Mastroyiannis respondeu a Bennett Melzak, no Facebook, após este último ter feito interessantes ponderações. Segundo Melzak, Szidon tinha sido um artista popular que tinha gravado por muitos anos com a DG-Deutsche Grammophon, cujas gravações não estavam disponíveis ou apenas disponíveis como downloads. Indagava então se haveria alguma possibilidade de a DG produzir uma edição completa em CD, como foi o caso de Argerich ou Richter. Era este o seu sonho.
Ao que Mastroyiannis lhe respondeu que podia garantir-lhe que Szidon era realmente ÚNICO, quer como pianista, quer como professor, ou ainda como pessoa com profundos e raros sentimentos de humanidade. As lições que tomou com Szidon e a profunda amizade que os ligava ficariam, durante toda a sua vida, como uma estrela sobre sua cabeça... Agradeceu a Melzak, finalmente, a grande ideia de contactar a DG por carta para verificar a possibilidade de uma edição completa em CD, a partir de gravações de Szidon para aquela gravadora. Tinha a expectativa de que algum dia veriam ambos nos catálogos da DG uma "Roberto Szidon - Complete DG Edition".
⁸
Mastroyiannis também gravou a histórica performance do Rudepoema de Villa-Lobos na sua cidade natal, Volos, Grécia, em 16/03/1993, quando Roberto Szidon se apresentou em inesquecível recital, que foi organizado pela histórica Associação "Amigos de Artes de Volos" e sua presidente, Sra. Ersi Saratsi. ⁹
O mesmo Dino Mastroyiannis realizou a façanha de gravar para a posteridade um momento extremamente raro em Kozani, Grécia, em agosto de 1992, representado pelo vídeo característico contendo extratos de um recital com o legendário pianista brasileiro Roberto Szidon acompanhando o famoso violinista norueguês Helge Slaatto. ¹⁰
❀ ❀ ❀
Há ainda um programa da rádio alemã Südwestrundfunk 2 dedicado a Roberto Szidon, por ocasião do seu 73º aniversário póstumo (gravado em 21 de setembro de 2014, às 15h 05min). Neste programa, Gaby Beinhorn entrevista a violinista Jenny Abel, que executou inúmeros concertos e gravações com Szidon. O programa é dedicado às memórias da violinista enquanto parceira de Szidon, mostrando a vitalidade dessa parceria através de gravação. Podemos aí também degustar o saudoso testemunho do próprio Szidon de que ele possuía ascendência húngara (seus pais eram húngaros), oferecendo sua magistral interpretação da Rapsódia Húngara nº 2 em seguida a essa revelação. ¹¹
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Quanto à correspondência que eu próprio mantive com Szidon, vou apresentar dois cartões postais que Szidon me enviou, onde se pode verificar seu enorme interesse pelo progresso dos meus estudos pianísticos.
No verso do cartão figurando uma Serenata (Ständchen), quadro célebre de Carl Spitzweg (1808-1885), evidenciando o gosto refinado de Szidon e a sua escolha cuidadosa de temas condizentes com o seu estado de espírito, ele me escreveu:
11 de julho de 1982
D-8019 Abersdorf Post Steinhöring
Amigo Francisco, finalmente cheguei ontem aqui depois de uma ausência de 78 dias na Suíça, Senegal, Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Fiquei feliz de ter carta sua e de saber que você entrou de rijo em repertório novo. Uma boa gravação da 6ª Barcarola (op. 70, de Gabriel Fauré) é a de Jean-Philippe Collard para EMI.
Abração do seu
Roberto
No
verso do cartão figurando o Museu Horta, que foi a residência do
arquiteto Victor Horta (1861-1947), em Bruxelas, Szidon me escreveu:
21 de janeiro de 1983
Caro amigo Francisco Braga,
Muito obrigado pelo lindo cartão de Brasília. Como vai o piano? O que está você estudando agora? Para este ano de 1983 eu lhe desejo saúde, satisfação, sucesso. Onde escutou você o disco CAEMI & KUARUP DISCOS que gravei?
Abração do Roberto


IV. A MÍDIA BRASILEIRA NOTICIA A MORTE DE ROBERTO SZIDON
Folha de São Paulo – Roberto Szidon deixa gravações referenciais de Villa-Lobos e Liszt ¹²
Morto de ataque cardíaco anteontem em Düsseldorf, pianista gaúcho deu o primeiro concerto aos nove anos
IRINEU FRANCO PERPÉTUO
Poucos pianistas brasileiros tiveram uma carreira fonográfica tão bem-sucedida quanto o gaúcho Roberto Szidon, morto anteontem em decorrência de um ataque cardíaco, aos 70 anos, na cidade alemã de Düsseldorf.
No tempo em que a indústria fonográfica era realmente relevante, nenhuma etiqueta tinha tanto prestígio no mundo erudito quanto o selo amarelo da Deutsche Grammophon.
Szidon gravou prolífica, embora não exclusivamente, para a firma alemã, e alguns de seus registros ainda hoje são referência.
Caso não apenas de autores brasileiros, como Villa-Lobos e Radamés Gnattali, mas também da integral das sonatas do russo Aleksandr Scriábin (1872-1915).
Ou do item que marca seu legado de forma decisiva: as 19 "Rapsódias Húngaras", de Franz Liszt (1811-1886), que nunca saíram de catálogo, relançadas em diversos formatos desde a aparição inicial, nos tempos do LP, em 1973.
Em Liszt, Szidon demonstra um pianismo expansivo, centrado no brilho sonoro e em proezas de elevado virtuosismo técnico. Não por acaso, sua gravação aparece sempre como uma das referências de excelência da obra, ao lado da do mítico György Cziffra (1921-1994).
ACOMPANHADOR
Para conhecer uma outra faceta, vale visitar seu talento de pianista acompanhador, em uma gravação amadurecida do ciclo de canções "Dichterliebe", de Schumann, com o barítono Thomas Quasthoff, para o selo RCA Victor.
Nascido em Porto Alegre, Szidon deu o primeiro concerto aos nove anos de idade, aprimorando-se em Nova York, na década de 1960, com a húngara Ilona Kabos (1893-1973) e o refinadíssimo pianista chileno Claudio Arrau (1903-1991), fixando-se na Alemanha em 1967.
Rompendo com a convenção de tocar tudo de cor estabelecida por Liszt no século 19, Szidon costumava se apresentar com uma partitura à sua frente, lendo até mesmo os itens de bis.
O Estado de S. Paulo - Morre Roberto Szidon ¹³
Pianista brasileiro radicado na Alemanha, autor de gravações antológicas, estava com 69 anos
JOÃO LUIZ SAMPAIO
23/12/2011 - Morreu na manhã de quarta-feira, em Dusseldorf, na Alemanha, o pianista brasileiro Roberto Szidon. Ele estava com 69 anos e foi vítima de um ataque cardíaco. Nascido em Porto Alegre, viveu boa parte de sua vida fora do País, primeiro nos EUA, onde estudou com Claudio Arrau, e, mais tarde, na Europa.
Szidon andava distante dos palcos nos últimos anos. Nas décadas de 70 e 80, no entanto, foi um dos mais célebres artistas brasileiros em atividade no exterior. Iniciou seus estudos no Rio Grande do Sul e fez seu primeiro recital aos 9 anos. Na hora de optar por uma carreira, resolveu estudar medicina. Mas, no quinto ano do curso, abriu mão da vida médica para voltar à música. Pouco depois, deixaria o País, para onde voltaria mais tarde apenas para apresentações em recitais e concertos com orquestras.
Ainda nos anos 60, pouco depois de completar 20 anos, gravou o primeiro disco com obras de Villa-Lobos — e desde então sua interpretação para peças como Rudepoema seriam tidas como antológicas. Mas seu interesse pelo repertório nacional não se limitava ao autor das Bachianas. Na discografia de Szidon há álbuns dedicados a autores que vão de Radamés Gnattali a Marlos Nobre, passando por Ernesto Nazareth e uma infinidade de outros nomes (Chiquinha Gonzaga, Glauco Velásquez e Francisco Mignone entre eles) reunidos na coletânea Cem Anos de Piano Brasileiro. "Fisicamente, é um jovem que aparenta 22 anos (tem 31), gordinho, tipo baby-face, de fala mansa e cordial, com pinta de estudante, de filhinho de mamãe. Mas quando se senta ao piano, a transformação que se opera – nele e no ouvinte – é quase sobrenatural", definiu o escritor Carlos Heitor Cony em um perfil do pianista publicado em 1975 na revista Manchete.
Para a Deutsche Grammophon, sua discografia também se abriu para o grande repertório. Gravou Scriabin, Schumann, Beethoven. Nos anos 70, a imprensa afirmava que o número de álbuns vendidos só o colocava atrás de Herbert Von Karajan e Dietrich Fischer-Dieskau. Na mesma época, um jornal alemão, após um de seus recitais, sugeriu que ele fosse a reencarnação de Liszt. "Pessoas ligadas ao espiritismo me diziam isso sempre", ele se divertia em uma entrevista à revista Manchete e, em seguida, definia o que, em sua opinião, caracterizava um grande intérprete. "Você é um bom pianista se apresenta características como um fraseado bonito ou uma técnica sólida. Mas será um excelente pianista se fizer o possível para ser honesto com relação ao compositor e sua partitura e, nesse processo, souber inserir um pouco daquilo que você é. Mas fundamental, não importa o que outros possam dizer, é aceitar que só há um critério para dizer se uma obra é bem ou mal interpretada: se o músico soube tomar como ponto de partida absoluto a proposta do compositor."
Boa parte da sua discografia não está mais disponível. Em sites de venda na internet, por exemplo, um LP em que interpreta Nazareth, parte de uma coleção dedicada à "música romântica para piano" no Brasil, chega a ser vendido por R$ 380. Da mesma forma, é difícil mesurar o que seu baú de inéditos pode esconder, em especial no que diz respeito a gravações feitas ao vivo com grupos como a Filarmônica de Londres, a Sinfônica de Viena ou a Orquestra de Cleveland, das quais era convidado regular.
Em uma entrevista de 1981, ele brincava que não gostava de se impor limites. "Um dia, quem sabe, vou até gravar um disco como cantor, por que não?", disse. "O problema será encontrar um pianista bom, porque, sem modéstia, devo dizer que acompanho muito bem cantores." Um de seus últimos registros comerciais foi feito no início dos anos 90, quando gravou o Dichterliebe e o Liederkreiss de Schumann ao lado do barítono Thomas Quasthoff. E ali mostrou que a brincadeira tinha mesmo um fundo de razão.
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José
Carlos Neves Lopes escreveu no seu blog "De Ópera e Concertos" em
24/05/2012: "Graças ao acervo do 'Estadão', desde hoje disponibilizado
on-line, fiquei sabendo da triste notícia da morte do pianista
brasileiro Roberto Szidon. Num artigo publicado em 22/12, João Luiz
Sampaio comentou a carreira desse grande pianista. Eu faço parte da
geração que assistiu ao desabrochar de sua carreira, nos finais dos anos
1960. Fã da Orquestra Filarmônica de São Paulo, cujas apresentações no
TUCA (PUC) aos sábados à tarde eu não perdia, tive a felicidade de ver a
sua apresentação do Concerto nº 3, opus 30, em ré menor, de
Rachmaninoff, em maio de 1967, sob a regência do maestro Theodoro Fuchs.
Foi meu primeiro contato com essa obra, que se tornou uma das minhas
favoritas." ¹⁴
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JORNAL DO COMÉRCIO - O pianista Roberto Szidon ¹⁵
PAULO LONTRA - Advogado
Nos idos de 1941, duas famílias foram morar em um recém-inaugurado prédio de apartamentos na Rua da Praia. Uma delas, uma família brasileira, católica, composta de cinco pessoas. A outra, húngara de origem judaica, formada por quatro pessoas. Edifício pequeno, apenas cinco andares, a convivência se tornava fácil pela proximidade. E foi assim que os filhos homens da família judia fizeram amizade com os da família católica. Os judeus eram os Szidon; os católicos, os Lontra. Os dois filhos menores das duas famílias nasceram no mesmo ano do prédio, 1941. Roberto em outubro e eu, em dezembro. Quando ainda crianças, brincávamos de tudo aquilo que era comum na época: bola de gude, pião, soldadinho de chumbo, etc... Quando fui para o Colégio Nossa Senhora das Dores, cujo prédio principal ficava na Rua da Praia, defronte ao nosso edifício, o Roberto ficou sabendo, decidiu ir também para o mesmo lugar, embora fosse (e ainda é) um colégio de orientação lassalista, católico. Não houve jeito de tirar a ideia da cabeça dele. Por amizade, insistiu e entrou no colégio.
Roberto foi sempre um aluno exemplar, um dos primeiros da classe, inclusive, para espanto de todos, primeiro lugar em religião, com direito a medalha e menção no Anuário do colégio! Seu irmão, João Pedro, fora destinado pelos pais a tentar a sorte no piano. Todas as manhãs, ainda nos nossos cinco anos, Roberto e eu brincávamos com soldadinhos e carrinhos de "galalite", enquanto o irmão batucava as teclas de um piano para o qual ele não tinha o menor pendor. O interessante é que o irmão ficava fazendo aqueles tediosos exercícios e, de vez em quando, o Roberto dizia "está errado" sem mesmo levantar a cabeça do brinquedo. Corrigia o irmão, sem jamais ter sentado num piano. O professor sentiu que perdia tempo com o aluno ao lado e que o prodígio estava sentado mais adiante. Falou com a mãe dos dois, dona Olga, e conseguiu convencê-la de que o pianista era o Roberto, e não o seu irmão. Roberto Szidon deu o seu primeiro recital no Theatro São Pedro, aos 8 anos e, a partir daí, não parou mais. Em atenção ao desejo familiar ingressou na Faculdade de Medicina da Ufrgs. Mas o piano era a sua paixão. Lá pelo quinto ano de Medicina, abandonou a carreira médica e se mandou para a Alemanha, contratado da Deutsche Grammophon. Eu o vi umas duas vezes, se muito, depois de sua partida para a Europa. Semana passada recebi a notícia de que Roberto Szidon, meu velho companheiro dos tempos de criança, faleceu na Alemanha, aos 70 anos de idade. Nada pode ser mais triste do que a morte de alguém que foi nosso amigo em tempos fáceis da infância. Éramos felizes e sabíamos.
V. NOTAS EXPLICATIVAS
¹ Também nós músicos
reconhecemos a validade do dito de Apelles, especialmente quando se
trata do treino persistente e dos exercícios técnicos diários, visando à
perfeição técnica no instrumento. Arthur Rubinstein (Łódź, Polônia, em
1887-Genebra, Suíça, em1982), mestre de Szidon, foi um dos maiores
pianistas do século XX e influenciou milhares de outros musicistas. Em
1932, depois de turnês e recitais extensivos, ficou desgostoso consigo
mesmo e retirou-se da atividade de concertista para se dedicar por
vários meses ao treino e estudo intensivos, reconhecendo que
negligenciara sua técnica nos seus verdes anos, confiando no seu talento
natural. Frequentemente é citado como tendo dito a respeito do treino: “If
I neglect practicing one day I notice; two days, my friends notice;
three days, and the public notices. It is the old principle ‘Practice
makes perfect’.” (Na Internet corre a seguinte tradução: Quando
estou um dia sem estudar, dou logo por isso; dois dias sem trabalhar e
os meus amigos apercebem-se do fato; três dias, e é o público que nota. É
o velho princípio "Fazer algo cada vez mais é o único caminho de
aprender a fazê-lo bem".)
² O ESTADO DE S. PAULO. L. M.: Szidon interpreta desde os 4 anos, 01/06/1968, Ano 89, nº 28.570, p. 7
³ Em minha tradução, são apreciadas diversas facetas da vida e da carreira do grande pianista. Fonte:
http://www.digplanet.com/wiki/Roberto_Szidon e https://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Szidon
⁴ No YouTube: valsa "Vaidosa" de Radamés Gnattali na interpretação de Roberto Szidon: https://youtu.be/KA8xlOVaH0A
⁵ O ESTADO DE S. PAULO. Caldeira Filho: Notável Estréia de Jovem Pianista, 20/5/1967, Ano 88, nº 28.250, p. 7
⁶ http://www.millarch.org/artigo/no-campo-de-batalha-237
⁷ http://dinomastroyiannis.com/alpha.htm
⁸ https://www.facebook.com/robertoszidon.competition
⁹ https://youtu.be/-JeTK3tgcXA
¹⁰ https://youtu.be/70bycP-eTg0
¹¹ http://clubinka.org/video/zlJEH7kdVco/
¹² FOLHA DE SÃO PAULO. Irineu Franco Perpétuo: Roberto Szidon deixa gravações referenciais de Villa-Lobos e Liszt, 23/12/2011
¹³ O ESTADO DE S. PAULO. João Luiz Sampaio: Morre Roberto Szidon, Ano 132, nº 43165, 23/12/2011, caderno 2, p. 39
¹⁴ http://deoperaeconcertos.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html
¹⁵ JORNAL DO COMÉRCIO. Paulo Lontra: O pianista Roberto Szidon, Porto Alegre, 26/12/2011, disponível in http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=82408