domingo, 15 de setembro de 2024

O RIO ANTIGO

Por STEFAN ZWEIG *
Transcrevemos, com a devida vênia da Editora Guanabara, Weissman, Koogan Ltd., parte do capítulo constante das OBRAS COMPLETAS DE STEFAN ZWEIG, tradução de Odilon Gallotti, tomo XIV de 1953, intitulado BRASIL, PAÍS DO FUTURO, pp. 146-9 e 153-7.
Stefan Zweig e sua esposa Lotte

 
Para compreendermos verdadeiramente uma cidade, uma obra de arte, uma pessoa, temos de conhecer o seu passado, a história de sua vida, a sua evolução. Por isso, em toda cidade que para mim é nova, dirijo-me em primeiro lugar aos alicerces sobre os quais ela se ergueu, a fim de compreender o seu presente por meio do seu passado. Nada mais natural do que no Rio procurar eu primeiramente o Morro do Castelo, a colina histórica, onde há quatrocentos anos, vencidos os franceses, os portugueses, após a vitória, lançaram a pedra fundamental da cidade. Mas a minha procura foi inútil. O morro histórico fora arrasado. Não é mais possível encontrar uma pedra, um torrão de pedra dele. O terreno há muito que está nivelado e ruas largas percorrem a esplanada. Fenômeno curioso! O Rio antigo desapareceu e o novo se acha sobre um solo inteiramente diferente daquele em que assentava a cidade dos séculos dezesseis e dezessete. Onde hoje estão as ruas asfaltadas, primitivamente só existiam pântanos e baixadas insalubres, inabitáveis, percorridas por pequenos cursos de água; os primeiros colonos fizeram suas moradas nos morros. Só pouco a pouco puderam os habitantes, com a terra dos morros, ir ganhando terreno aos pântanos e ao mar, secando o solo nos vales, atulhando ou canalizando os cursos de água e, ao mesmo tempo, aterrando pedaços da baía. Depois foram sendo arrasados os morros que dificultavam o trânsito. Assim a cidade em trezentos anos se alterou completamente, e tudo, ou quase tudo, o que era histórico foi vítima dessa sôfrega transformação. 
 
Mas com isso não houve grande perda, pois nos séculos dezesseis, dezessete e até boa parte do século dezoito a Bahia foi a capital do Brasil e o Rio era muito pobre, muito pequeno para construções artísticas e palácios luxuosos. Mesmo quando no começo do século dezenove a corte portuguesa fixou residência aqui, os hóspedes involuntários não encontraram abrigo condigno. Tudo o que é histórico data, pois, quando muito, do fim da época colonial, e uma casa de cento e cinquenta anos, ao contrário do que sucede na Bahia, aqui já goza de venerabilidade. São as poucas ruas próximas da Alfândega do Rio, que ainda não foram alteradas em sua genuinidade, as que melhor nos dão uma ideia dessa época colonial, de seu estilo e dos modos de então. Elas ainda são tipicamente portuguesas e, em sua despretensão e modéstia, dão uma impressão agradável. Seus prédios, de um ou dois pavimentos, outrora caiados de várias cores, não possuem outro ornato senão as belas grades de ferro batido das sacadas; esses prédios, que perderam a sua distinção de outrora, são agora exclusivamente ocupados por estabelecimentos comerciais. No primeiro pavimento há lojas, armazéns, nos quais podemos ver as mercadorias empilhadas. As mais das vezes sentimos o cheiro de tais ruas, antes de as vermos, pois essas ruas estreitas próximas do porto, as últimas que restam da época colonial e não sofreram transformação, tresandam a peixe, frutas e legumes. Não temos necessidade das excelentes descrições de Luiz Edmundo na sua obra "O Rio no tempo dos vice-reis" para fazermos ideia de como essas ruas estreitas deveriam ser horrivelmente empestadas e sufocantes numa época em que homens e gado ocupavam as ruas e ainda não se observavam as mais primitivas leis da higiene. Mesmo os poucos edifícios públicos dos tempos coloniais, os palácios e quartéis, foram construídos às pressas, economicamente, sem plano nem ambição, e representam, na melhor das hipóteses, cópias baratas dos edifícios portugueses. Só meia dúzia de velhos lamentam o desaparecimento do "Rio antigo", mas com isso, em verdade, não fazem mais do que inconscientemente lamentar a própria velhice. Na realidade, o Rio com tudo o que de si removeu, pouco ou nada perdeu. Dos tempos coloniais merecem conservar-se apenas algumas igrejas, sobretudo a Nossa Senhora da Glória do Outeiro, admiravelmente situada, e a de São Francisco, bem como o Aqueduto com suas graciosas curvas e, quando muito, como testemunho daquela época, uma ou outra dessas pequenas ruas. A igreja e o mosteiro de São Bento constituem um grande monumento e um testemunho imperecível do passado do Rio. 
 
Essa igreja de São Bento escapou à transformação dos séculos, entrincheirando-se corajosamente e isolando-se desde o primeiro dia, num outeiro; por isso foi conservado esse edifício, cuja construção foi iniciada em 1589 e que é no Rio o único monumento imponente do século dezesseis. E não esqueçamos que uma obra de arte do século dezesseis é para o Novo Mundo, o que são para nós, do Velho Mundo, o Partenon e as Pirâmides. Sozinha no seu outeiro, com sua vista ainda não encoberta pelos prédios altos situados junto dela, olhando livremente para todos os lados, constitui essa igreja uma maravilha de beleza e de tranquilidade nessa metrópole, que progride agitada e retumbante. Só nesse outeiro o tempo no Rio parou, só ali a sôfrega vontade de renovação nada conseguiu modificar. Ainda existe a velha e escabrosa ladeira que conduz ao alto do outeiro, a mesma que há trezentos anos subiam os peregrinos, e do mesmo terraço do qual outrora se viam atracar os galeões de Portugal e os pequenos veleiros, vêem-se hoje os grandes transatlânticos que lenta e majestosamente seguem o seu caminho. 
 
Vista por fora a igreja de São Bento, com o seu mosteiro contíguo, não tem uma aparência particularmente imponente nem especial; é um edifício austero e espaçoso, com pesadas torres redondas. O mosteiro com sua forma quadrangular, parece mais uma fortaleza, e, de fato, em tempos de guerra serviu como tal. Sem grande expectativa entramos no templo, cujas pesadas portas são artisticamente entalhadas. Mas, apenas chegados ao interior, ficamos deslumbrados. Há um instante ainda estávamos na intensa luz solar do Rio, agora é apenas uma penumbra cor de mel que nos envolve, uma claridade velada, amortecida como a de um nebuloso ocaso do sol. Não distinguimos forma e contornos; o espaço e as formas diluem-se nessa neblina luminosa. Só então percebemos que essa luz provém do ouro que doura todas as paredes. Mas não é uma cor berrante, retumbante, de metal dourado, e sim um brilho muito suave, um leve brilho que cobre as colunas e os painéis. Todas as linhas, todas as superfícies continuam-se suavemente e, misturadas com a luz do dia, que penetra pelas clarabóias, produzem esse brilho flutuante que, com tênue fumaça, percorre a ampla e espaçosa nave. 
 
Pouco a pouco os olhos se vão habituando e conseguem perceber pormenores. E então reconhecemos que aquilo que em nossas igrejas é feito de pedra, metal e mármore, as balaustradas entalhadas, os painéis, as decorações, aqui é feito de madeiras do país. Mas não podemos dizer se essa madeira é pintada ou revestida de uma camada muito fina de ouro, uma camada tão tênue e artisticamente aplicada que reproduz delicadamente toda curva e atenua de maneira admirável o encaracolado do estilo barroco. Apesar de a igreja de São Bento não ser comparável, em originalidade ou em magnificência, às grandes catedrais da Europa, os artistas que a fizeram conseguiram efetuar uma coisa sem par: conseguiram de maneira feliz e nova dominar a matéria, lograram uma harmonia perfeita nesse crepúsculo de ouro, que nunca mais esquecemos. E esse agradável comedimento reina também no mosteiro, em suas galerias largas, pavimentadas de lajes, nas pesadas portas pretas de madeira, na biblioteca bem proporcionada, no seu claustro. Percorremos essas galerias frescas protegidas por espessas paredes contra os sons e ruído, como se percorrêssemos outra época. Esquecemo-nos de que nos achamos num país meridional, ao sul do equador e sob outras estrelas. Poderíamos crer acharmo-nos num convento de beneditinos da Suíça ou da Alemanha, num desses antiquíssimos refúgios dos bibliófilos. Mas de repente nos achamos junto a uma janela e a vista magnificamente nos lembra em que lugar estamos: com seus arranha-céus e palácios, com suas ruas movimentadíssimas, estende-se em grande superfície o acúmulo de casas de uma metrópole moderna sob a sentinela de seus morros. Lá embaixo está a baía com seus navios e ilhas e cintila o mar tropical. Em toda parte no Rio, em todos os lugares, mesmo nos mais isolados e mais solitários, experimentamos essa incomparável duplicidade de cidade e paisagem, do que é transitório e do que é eterno. 
 
Esse mosteiro e o outro situado no morro de Santo Antônio, o Rio os conserva como monumentos do seu passado. É seu diploma de nobreza, que testemunha a idade e a distinção de sua civilização. Embora tudo o que é mesquinho e tudo o que é pobre da época colonial continua a desmoronar e desaparecer, embora a cidade em sua sofreguidão se transforme de ano para ano, perdurará esse áureo resplendor. (...) 
 
ALGUMAS COISAS QUE AMANHÃ TALVEZ HAJAM DESAPARECIDO 
 
Algumas das coisas singulares, que tornam o Rio tão colorido e pitoresco, já se acham ameaçadas de desaparecer. Sobretudo as favelas, as zonas pobres em plena cidade, será que ainda as veremos daqui a alguns anos? Os brasileiros não gostam de falar dessas favelas; no ponto de vista social e no ponto de vista higiênico, constituem elas um atraso, numa cidade muito limpa e que, por um serviço modelar de higiene, em alguns anos se libertou inteiramente da febre amarela, que outrora nela era endêmica. Mas as favelas apresentam um colorido especial no meio dessa figura caleidoscópica, e ao menos uma dessas estrelinhas do mosaico deveria ser conservada no quadro da cidade, porque elas representam um fragmento da natureza humana primitiva no meio da civilização. 
 
Essas favelas têm a sua história. A gente humilde que, em parte, vive com salários muito pequenos, não podia morar em casas de aluguel situadas dentro da cidade; vir diariamente dos arredores da cidade ao local do serviço e depois voltar para casa seriam duas viagens por dia, que acarretariam despesas de passagens. Por isso, procuraram eles, nos morros e nos rochedos situados dentro da cidade, para os quais não há ruas, um local e construíram uma casa, ou melhor, uma choça, sem perguntarem de quem era o terreno. Para a construção de um desses mocambos não há necessidade de arquiteto. Pegam-se alguns bambus e fincam-se no solo. Enchem-se os vãos entre os bambus com barro amassado. Soca-se o chão. Cobre-se o casebre com palha. E está ele pronto. Não precisa de janelas de vidro; algumas folhas de zinco apanhadas em qualquer lugar servem de janelas. Uma cortina feita de um saco velho cobre a entrada, que, quando muito, ainda é embelezada por pedaços de madeira, de caixões. E a choça é igual à que há centenas de anos seus avós construíram na aldeia brasileira ou africana. O mobiliário não é lá muito rico  uma mesa feita pelo próprio dono da casa, uma cama, alguns bancos  e, nas paredes se acham pregadas algumas figuras coloridas, tiradas de velhas revistas. Esses moradores também não têm algumas comodidades modernas. Assim é que a água tem que ser carregada da fonte que fica em baixo, na planície, por um caminho de degraus feitos no barro ou no rochedo; ininterruptamente se vêem mulheres e crianças carregando para cima do morro o precioso líquido em vasilhas sobre a cabeça, não em potes  esses custariam muito dinheiro  mas em latas de querosene. A iluminação elétrica não chega a esses casebres, à noite neles tremeluzem apenas pequenas lamparinas de querosene. E sempre o caminho íngreme subindo degraus, pedras e escadas, muitas vezes resvaladiço e raramente limpo, pois entre os casebres andam os bichos mais diversos, cabras e gatos famintos, cães arnosos e galinhas magras, e as águas servidas correm, sem cessar, pelas vielas. A cinco minutos de uma praia de luxo, de uma avenida, parece-nos estar numa aldeia da Polinésia ou da África. Vemos o máximo de primitividade, a maneira mais simples de habitar e de viver, uma maneira que na Europa ou nos Estados Unidos da América do Norte já quase não se acredita existir. Mas, coisa curiosa, o espetáculo nada tem de aflitivo, de repulsivo, de vergonhoso, pois esses moradores se sentem ali mil vezes mais felizes do que o nosso proletariado em suas casas de cômodos. Moram em casas próprias, podem ali fazer e deixar de fazer o que quiserem; à noite ouve-se que cantam e riem  ali eles são senhores de si. Se aparece o proprietário do terreno ou uma comissão que os obriga a se retirarem, para se abrir no local uma rua ou um bairro residencial moderno, eles calmamente se mudam para outro morro. Nada os impede de carregarem consigo os seus casebres. E, como esses casebres estão situados no alto dos morros, nos mais inacessíveis recantos, têm a mais bela vista que se pode imaginar, a mesma vista que têm as mais caras vilas de luxo, e é a mesma natureza luxuriante que ali orna seus lotezinhos com palmeiras, e generosamente lhes dá bananeiras, essa maravilhosa natureza do Rio, que não deixa a alma ser melancólica e infeliz, porque, incessantemente, afaga, com sua mão macia e tranquilizadora. Quantas vezes subi aqueles degraus escorregadios, de barro, para visitar essas zonas de gente humilde. Nunca vi por ali uma pessoa pouco afável ou uma pessoa triste. Com essas favelas desaparecerá uma parte interessante, um pedaço incomparável do Rio, e quase não posso imaginar os morros da Gávea e outros sem esses pobres casebres, colados na rocha, que com sua primitividade lembram quanto de supérfluo temos e exigimos. 
 
Também outra originalidade do Rio em breve será vítima da ambição civilizadora e talvez também da moral  como em muitas cidades da Europa, Hamburgo ou Marselha  as ruas de que não se fala, a zona do Mangue, a grande feira do amor, a yoshivara do Rio. Oxalá ainda à última hora aparecesse um pintor, a fim de retratar essas ruas, quando elas à noite brilham com luzes verdes, vermelhas, amarelas e brancas, e sombras fugitivas, constituindo um espetáculo oriental, misterioso pelos destinos acorrentados uns aos outros e semelhante ao qual não vi outro em toda minha vida. Nas janelas, ou melhor, nas portas se acham como animais exóticos por trás das grades, mil ou talvez mil e quinhentas mulheres, de todas as raças e todas as cores, de todas as idades e naturalidades, negras senegalesas ao lado de francesas, que já quase não podem encobrir com arrebiques as rugas produzidas pelos anos, caboclas franzinas e croatas obesas, e esperam os fregueses, que em incessante préstito espiam pelas janelas, a examinar a mercadoria. Por trás de cada uma dessas mulheres se vêem lâmpadas elétricas de cor, que iluminam com reflexos mágicos o aposento posterior, no qual se destaca da penumbra o leito, que é mais claro, um clair-obscur de Rembrandt, que torna quase mística essa atividade quotidiana e, além disso, assombrosamente barata. Mas o que é mais surpreendente, o que, ao mesmo tempo, brasileiro, nessa feira, é a calma, o sossego, a disciplina; ao passo que em ruas como essas, em Marselha, em Toulon, reina grande barulho, se ouvem risadas, gritos, chamados em voz alta e gramofones; ao passo que lá os fregueses bêbados, europeus, berram nas ruas, aqui, nas do Rio, reina calma e moderação. Sem se sentirem envergonhados, os homens passam diante daquelas portas, para às vezes desaparecerem ali, como um rápido raio de luz. E por cima de toda essa atividade calma e oculta está o firmamento com suas estrelas; mesmo esse recanto, que em outras cidades, de qualquer modo, consciente e envergonhado de seu comércio, se concentra nos bairros mais feios e mais decaídos, no Rio ainda tem beleza e se torna um triunfo de cor e de luzes variadas. 
 
Será que também os velhos bondes abertos irão desaparecer e ser substituídos por bondes modernos, fechados? Seria muito de lastimar, pois eles dão às ruas do Rio uma nota especial, clangorosa. Que espetáculo, do qual nunca nos cansamos, oferecem esses bondes abertos superlotados, em cujos estribos homens vão dependurados como pingentes! E à noite, quando eles trafegam e a luz do seu interior ilumina os semblantes pretos, escuros, ou claros, parece sempre que um ramalhete de várias cores vai passando! E como é agradável viajar nesses bondes! Nos dias mais quentes, mais sufocantes, compramos neles, por alguns tostões, a mais bela, a mais fraca brisa e, ao contrário do que acontece nos automóveis fechados, vamos vendo à direita e à esquerdas as casas comerciais, o movimento, a vida da cidade. Em nenhum outro veículo se pode ver melhor o Rio do que nesse meio de condução das classes modestas; graças a esses bondes e às minhas pernas, creio conhecer realmente hoje o Rio. E não tenho que me envergonhar dessa minha predileção, pois também D. Pedro II gostava tanto desses veículos antiquados, que reservou um para seus passeios democráticos. Que erro, se fizessem desaparecer esse romantismo um pouco barulhento e tremulante para terem o que todos os outros têm e, com isso, perderem algo que só o Rio possui: sua vivacidade colorida e despreocupada! 
 
* Stefan Zweig (Viena, 28 de novembro de 1881 – Petrópolis, 22 de fevereiro de 1942) foi um escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica. A partir da década de 1920 e até sua morte foi um dos escritores mais famosos e vendidos do mundo. Suicidou-se durante seu exílio no Brasil, deprimido com a expansão da barbárie nazista pela Europa, durante a Segunda Guerra Mundial.

5 comentários:

Francisco José dos Santos Braga disse...

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Prezad@,
Tenho o prazer de enviar-lhe trechos do livro BRASIL, PAÍS DO FUTURO, por STEFAN ZWEIG, publicado e lançado no início de agosto de 1941, portanto, há 83 anos atrás. Nessa época, o Brasil sofria a ditadura do Estado Novo. Para Getúlio Vargas e políticos que o apoiavam, que mantinham um flerte com o nazifascismo, Zweig, escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica, era visto como liberal e anti-nazista e a sua chegada ao nosso país era contraditória. O famoso livro de Zweig sobre o Brasil não elogia o governo brasileiro. Ele elogia, sim, o povo brasileiro, mostra que o Brasil é maravilhoso por causa de seu povo.
Alberto Dines entende que, "em contraste com o que se passava na Europa, dominada pelo ódio racial, o povo brasileiro conseguiu, na opinião de Zweig, harmonizar culturalmente e criar uma coisa nova. Ele viu que essa ideia precisava ser vendida ao mundo, que estava, naquele momento, sangrando, em uma guerra catastrófica. O mais irônico de tudo é que Stefan Zweig fez, sim, um negócio com o governo. Mas ele não vendeu o livro em troca de dinheiro ou de vantagens materiais; ele escreveu o livro para conseguir um visto de residência no Brasil. Porque ele era um refugiado, vivia na Inglaterra, e estava com medo de que os nazistas, depois de conquistarem a França, atravessariam o canal da Mancha e dominariam a Inglaterra. Escolheu o Brasil, onde ele já tinha estado, e pelo qual já havia se encantado." Seis meses depois, precisamente no dia 22 de fevereiro de 1942, vítima de uma crescente depressão com a tragédia europeia, comete o suicídio junto com sua esposa Lotte.

Link: https://bragamusician.blogspot.com/2024/09/o-rio-antigo.html 👈

Cordial abraço,
Francisco Braga

Anderson Braga Horta disse...

Meu caro Francisco Braga, fez muito bem você em destacar essas páginas maravilhosas, compreensivas, que nos trazem de volta um Rio de Janeiro colorido e vivo, palpitante de calor humano e da alegria de viver, infelizmente engolfado pelas doenças de um crescimento irregulr e descontrolado. E que escritor, esse Stefan Zweig. Cheio de simpatia pelo povo brasileiro e pela magnífica paisagem urbana que ele descreve com efusivo lirismo e, contudo, com a lúcida previsão de algumas decadências. Valeu!

Francisco José dos Santos Braga disse...

Fernando de Oliveira Teixeira (advogado, professor universitário e poeta, decano da Academia Divinopolitana de Letras) disse...
Um texto que evidencia sólida visão do universo feminino. Meu grande abraço para você e Rute.
BRASIL, PAÍS DO FUTURO é uma leitura que eu fiz muitos anos atrás. É um hino de admiração a um povo e um grito de esperança. Você me acordou o estímulo de nova leitura. Abraço para você e Rute.

Francisco José dos Santos Braga disse...

José Luiz Celeste (ex-professor da EAESP-Fundação Getúlio Vargas no Departamento de Métodos Quantitativos e colaborador dos vestibulares) disse...
Obrigado. Tenho vários livros do S. Zweig, q pertenceram a minha mãe e ao meu tio. P ex: os Construtores de Mundo... 1ª edição, encadernados, um deles com a lombada em couro. Vou ver se tenho esse.
Tudo bem com vcs??

Francisco José dos Santos Braga disse...

Danilo Gomes ((escritor, jornalista e cronista, membro das Academias Mineira de Letras, Marianense de Letras e Brasiliense de Letras) disse...
Mestre Braga, Stefan Zweig foi um grande escritor, todos sabemos. Li a biografia dele pelo saudoso Alberto Dines. Um dos melhores livros de Zweig que li foi "MARIA ANTONIETA", de cariz psicanalítico. Pena que Zweig não esperou a queda de Hitler, tão despótico quanto Stálin. Obrigado. Abraço do Danilo Gomes.