--> Por Francisco José dos Santos Braga
1º Capítulo: Minha aprovação para o CPM-Curso Preparatório ao Mestrado da FGV
"Querer vencer significa já ter percorrido metade do caminho."
Ignacy Jan Paderewski (compositor e pianista, diplomata, político e Primeiro Ministro polonês)
Início do ano de 1974, cidade de São Paulo.
Passo pela Secretaria Escolar da Fundação Getúlio Vargas, que fica no terceiro andar, e sou informado pela Secretária Escolar Midori Kuma (que se incumbe dos cursos de Graduação e de Pós-graduação) de que devo procurar meu nome numa relação de aprovados para o CPM-Curso Preparatório para o Mestrado, o qual será oferecido durante aquele primeiro semestre de 1974, visando propiciar, tanto aos estudantes de disciplinas afins à Administração de Empresas (Economia, Direito e Engenharia) quanto aos professores de Administração de Universidades brasileiras necessitando reciclagem, os conhecimentos indispensáveis ao acompanhamento do Curso de Mestrado em Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas.
Vou verificar a ocorrência do meu nome na lista e tenho um dos grandes prazeres de minha vida: lá está meu nome, que cresce desmesuradamente aos meus olhos, pois eu estou sem dúvida realizando uma proeza, eu que tinha obtido meu diploma em Letras pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, de São João del-Rei em final de 1971 e, em seguida, decidira tentar a vida na "cidade grande".
Peço à Secretária que faça constar em papel timbrado da FGV uma declaração, para que eu possa dar ciência a meu empregador sobre o meu desempenho. Acedendo a meu pedido, a Secretária lavra o seguinte ofício:
"3698/SE/CPG/73
Declaramos, para os devidos fins e a pedido do interessado, que o Sr. Francisco José dos Santos Braga foi classificado para o Curso Preparatório ao Mestrado em Administração de Empresas, neste 1º Trimestre de 1974, desta Escola.
Declaramos, outrossim, que o referido Curso terá início em 21.01.74.
São Paulo, 2 de janeiro de 1974
Midori Kuma
Secretária Escolar"
Como todo documento expedido pela FGV naquele ano, o referido ofício, que ainda conservo em meu poder, traz estampado um selo comemorativo que diz:
1954-1974
EAESP-FGV
20 ANOS PELA ADMINISTRAÇÃO
Então está decidido: vou pedir demissão do meu cargo de Técnico em Importação e Exportação da Medidores Schlumberger S/A, uma firma francesa localizada na Vila Leopoldina, próximo à Ponte dos Remédios, fabricante de hidrômetros residenciais mecânicos e medidores monofásicos de energia elétrica e que tinha iniciado suas operações no Brasil no ano de 1946 com o nome de Companhia Brasileira de Medidores, competindo no mercado com a General Electric que já estava no Brasil desde 1919. Sei que vou cometer uma loucura, tendo em vista que a Medidores, seis meses antes, me atraíra a seu quadro de funcionários mediante o pagamento do dobro do salário que eu vinha recebendo na Ciba-Geigy S/A, sediada no bairro do Brooklin.
O que fazer, se não me sinto integrado à economia de mercado, com a minha formação clássica pouco adaptada ao mundo contemporâneo? Não são suficientes os conhecimentos sobre comércio exterior adquiridos em cursinhos, ofertados por vários institutos, que fervilham em São Paulo? Na minha opinião, não. Preciso mesmo — penso definitivamente— é inserir-me na modernidade e não há melhor lugar que me obrigue a essa transição do que a Fundação Getúlio Vargas, uma escola de renome internacional que ensina a técnica norte-americana de administrar. ¹
"A FGV tem a fama de ser produtora de executivos", penso cá com os meus botões, refletindo o boato que corre sobre a eficiência do seu processo ensino-aprendizagem. "Deve ser porque encara a Administração não de forma empírica, como as demais escolas no País, mas cientificamente, de modo mais profissional, o que vem criando essa aura que ela exibe."
Decisão tomada, comunico ao diretor Jacques Panier que pretendo deixar a empresa que já me acolhia por seis meses, em seguida me dirijo ao Setor do Pessoal para tratar de minha demissão com sua chefe Suzanna Vasarhelyi, peço as minhas contas, desligo-me definitivamente da empresa.
O que tenho feito até então na "cidade grande"?
NOTA DO AUTOR
¹ Aqui talvez caiba uma observação curiosa que me ocorre para descrever o estranho estado em que me encontrava então. Recentemente, buscando matérias interessantes em blogs dedicados a estudos clássicos sobre a cultura greco-romana, localizei uma palavra em inglês que expressa bem meu estado de espírito naquela ocasião: "rogueclassicism", que é definido como "um estado ou condição anormal resultante da migração forçada de uma longa educação clássica para dentro de um mundo profundamente não-clássico". O vocábulo "rogue" é comumente usado para um animal desgarrado da manada, como na expressão "rogue elephant", que define o elefante que se desgarra da manada. Uma pessoa que sofre do mal do "rogueclassicism" é chamada de "rogueclassicist".
* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ e Fundação Oscar Araripe em Tiradentes-MG. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...
2 comentários:
OI BOM DIA,PARABÉNS PELA SUA HISTÓRIA DE VIDA,ENCONTREI VC POR ACASO E ME CHAMOU ATENÇAÕ POIS EU JA TRABALHEI NA Medidores Schlumberger S/A, uma firma francesa localizada na Vila Leopoldina, próximo à Ponte dos Remédios, fabricante de hidrômetros,NO PERIODO DE 1984,1985.
FIQUEI FELIZ.
FELICIDADES QUE JESUS OS ILUMINE!
Oi Francisco, boa noite
Foi legal. As partes 1 e 2 já as havia lido. Desconhecia, porém, as partes 3 e 4.
Lógico alguns detalhes da tua vida fiquei conhecendo aqui. Surpreso por nunca ter percebido tua obstinação pela lingua alemã, a qual tenho incrível vontade de aprender. E VOU.
Estou feliz em lembrar do Frediano. Quando eu comecei a dar aula na GV, por introdução do Jacob, o Frediano me deu incríveis orientações, algumas de morrer de rir, como aquela na minha primeira aula no início de 76: eu me deliciando em expor depreciação, um japonês FDP, me pergunta assim: Mestre.
E eu: Pois não.
O japonês FDP lascou: Como é que se deprecia um animal?
Eu me saí desta, mas depois levei a questão pro Frediano.
Relatado o fato, QUILICI falou: Não sei. Nunca contabilizei japonês. Manda este japonês às favas;animal é semovente.
Outro dia vou ler o restante dos teus artigos.
Uma nota importante: As ferramentas que eu mais usei na minha vida profissional foram (e são) aqueles livrinhos do IPD, sobre relação de CVL.
Francisco, acredito no teu relato do incêndio do Joelma, o ano foi de 1975. Eu tive a infelicidade de assistir ao filme dos bombeiros no original, isto é, cenas reais e completas, com os corpos batento no chão, iguais a bolas, isto quando eu trabalhei no Metrô, e tinhamos sistematicamente cursos preventivos de incêndio. Vi os do Joelma e do Andraus na São João, este sim em 74.
Meu caro Francisco, como foi bom recordar. Vamos programar a vinda tua e da Rute pro Sul.
Um abração,
Nilton
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