quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

2010 - ANO CHOPIN > > > Parte 14 > > > Oriano de Almeida: uma vida dedicada a Chopin (1ª Parte)


Por Francisco José dos Santos Braga

Oriano no auge de sua carreira



O Blog do Braga encerrou as homenagens que vinha prestando, durante todo o ano de 2010, ao bicentenário do nascimento de Fryderyk Franciszek Chopin com uma matéria em duas partes vazada de orgulho com o talento nacional na pessoa do pianista, compositor e escritor Oriano de Almeida. 

I. INTRODUÇÃO
 
Comemorou-se em todo o mundo o Ano Chopin 2010, pois aquele ano marcava os 200 anos do nascimento do compositor polonês com uma extensa programação em diferentes áreas artísticas.
Nas 13 primeiras matérias postadas, sob a forma de ensaio, entrevista ou divulgação de concertos e recitais relacionados com o Ano Chopin 2010, de alguma forma foi apresentada a figura de Chopin vinculada à sua terra natal, a Polônia.

Nesta última matéria em duas partes, Chopin fala diretamente ao coração brasileiro através de um de seus intérpretes maiores: Oriano de Almeida — "o Chopin brasileiro", de acordo com jornais cariocas, ou "o embaixador de Chopin no Brasil", título que lhe foi conferido pelo Instituto Chopin de Varsóvia, em 1972, ou ainda, "personalidade cultural", como o cultuou a União Brasileira de Escritores e, finalmente, "glória da música do Brasil", como o consagraram por unanimidade os membros da Academia Brasileira de Letras.

A Chopin o pianista Oriano de Almeida (✰ Belém, 15/07/1921 ✞ Natal, 11/05/2004) dedicou praticamente todos os anos de sua vida fecunda e longeva. Ou seja, nesta última matéria em duas partes que o Blog do Braga traz a público, será apreciada, através de seus breves traços biográficos, a disposição de Oriano de levar a cabo a delegação que, por assim dizer, recebeu do próprio gênio polonês: a de tornar sua vida e obra conhecidas no Brasil. Como Oriano se desincumbiu dessa missão é o que veremos nessa última postagem relativa ao Ano Chopin 2010.

O que se lerá abaixo não se trata de pesquisa documental do autor deste Blog em fontes primárias. Esse trabalho de base foi conduzido pelo historiador e pesquisador Claudio Galvão que editou a biografia de Oriano, resultado de um contato intenso com o biografado, enriquecida com entrevistas com amigos e familiares, busca nos arquivos da Rádio MEC, recortes de jornais de época e álbuns fotográficos pertencentes a Oriano.

O Céu Era o Limite — uma Biografia de Oriano de Almeida”, por Claudio Galvão, publicada em 2010 pela EDUFRN-Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em 342 páginas, é a obra resultante desse trabalho meticuloso e exaustivo, descrevendo as muitas facetas de Oriano: pianista, compositor, escritor, professor e educador. Pode-se dizer que o livro de Galvão, como preceitua a moderna “historiologia”, vai muito além de um registro biográfico ou uma enumeração de fatos, contemplando, concomitantemente às experiências vividas por Oriano, os costumes, os valores da sociedade da época e a ocorrência dos fatos históricos simultâneos (nacionais e internacionais), em tal conjunção que a obra possui a característica de algo vivo e contínuo.

No espaço deste Blog apenas se condensou o conteúdo do referido livro no único intuito de “marcar na memória coletiva a trajetória de um artista que dedicou o melhor de sua vida à arte (musical) e o maior de seu afeto à terra que o adotou”, parodiando o seu biógrafo. Decerto que Galvão se referia à cidade de Natal quando assim se expressou; entretanto podemos alargar um pouco mais o horizonte e sugerir que essa “terra que o adotou” pode ser entendida como o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife ou qualquer outra cidade brasileira que tenha acolhido Oriano em suas turnês ou excursões artísticas, ou ainda qualquer país que entusiasticamente o tenha aplaudido, aqui incluídos apenas os mais notáveis: Polônia, França, Itália, Estados Unidos, Suíça, Espanha, Uruguai e Argentina.

O autor do Blog do Braga não pode deixar de revelar quão importante na sua formação musical foi Oriano com suas interpretações magistrais da obra chopiniana, inicialmente quando este participou do programa “O Céu É o Limite”, apresentado por Aurélio Campos e transmitido pela TV Tupi e Rádio Tupi de São Paulo, de 25 de julho a 28 de novembro de 1959, toda sexta-feira à noite, respondendo ao vivo a qualquer pergunta sobre a vida e obra de Frédéric Chopin. Em seguida, Oriano apresentava na Rádio MEC o seu “Ciclo Chopin”, todas as segundas-feiras, às 20h30min, durante o ano de 1960 e parte de 1961, como intérprete, redator e apresentador da vida e obra do gênio polonês. Finalmente, tê-lo visto, desde outubro a 8 de dezembro de 1962, no programa televisivo “O Céu é o Limite”, apresentado por J. Silvestre, às 20h25min das quintas-feiras, transmitido pela TV Tupi-Rio — isso já foi uma glória. Nenhum artista foi mais “midiático” do que Oriano, fazendo uso de todo o aparato tecnológico à sua disposição, desde as gravações fonográficas (em 78 rpm, LP de 33rpm, fitas magnéticas, mini-cassete e CD) até o rádio, a imagem televisiva, a imprensa escrita e os livros.

Oriano foi grande e muito mais do que a gente pode imaginar. Retratar isso neste trabalho é um preito de gratidão à sua memória, por ter conseguido, nos idos de 1960, empolgar um menininho de São João del-Rei que se comprazia em aprender com os maiores, escutando as suas execuções magistrais da obra de Chopin transmitidas pela Rádio MEC e TV Tupi. Bons tempos, aqueles!

O autor deste Blog confessa que muitas palavras ainda lhe vêm à mente, mas apenas para ficar com as mais oportunas, toma de Moura Lima sua expressão lapidar para esse "homem de alma de bronze", como o foi Oriano de Almeida: "De tudo isto, só fica na alma a saudade, e o nosso preito de gratidão a esses homens de alma de bronze, que nos deixaram o exemplo da dignidade e da honradez, pois todos partiram para o Oriente Eterno, deixando-nos órfão entre a decadência moral do nosso tempo."¹

II. BELÉM: nascimento e infância

Descendente de uma linhagem portuguesa radicada em Pernambuco, por parte de pai, e de emigrante francês radicada em Belém, por parte de mãe, Orianne (tal era seu nome de batismo) nasceu em Belém a 15 de julho de 1921, o segundo filho do casal Raymundo Corrêa de Almeida e Oneglia.

Além de Orianne, o casal teve Orígenes, Ossiam e Ossi.

Muito jovem, seu pai, Raymundo de Almeida, engajara-se numa companhia de teatro e viajara pelo Brasil, indo até o Rio de Janeiro e, em seguida, ao Norte do país, onde encontrou Oneglia, formada em Farmácia e pianista. Os pais desta eram o francês Alfred Peret, farmacêutico e apaixonado pela flora medicinal da Amazônia, e a cantora lírica Laura Tabanelli, integrante de uma das inúmeras companhias italianas que visitaram Belém dos tempos da riqueza da borracha. Oneglia herdara da mãe o gosto pela música e muito cedo o menino Orianne manifestou aptidão para o piano, tal como via fazer a mãe-professora.

Notando o progresso do menino ao piano, Raymundo e Oneglia decidiram contratar um professor particular de música. Coube à Prof. Luizinha e, depois, a Helena Mindelo ensinar-lhe técnica pianística através dos métodos de Félix le Couppey, Czerny e Hanon.

III. NATAL: o encontro com Waldemar de Almeida

Em meados de 1930 Orianne é levado até Natal para ser batizado, pois lá residia um primo de seu pai, Waldemar de Almeida, seu prometido padrinho e que recentemente tinha chegado de Berlim e Paris, onde frequentara cursos de piano. Entusiasmado com o desempenho do menino ao piano, decidiu adotá-lo como aprendiz no seu “Curso Waldemar de Almeida”, famosa escola de piano natalense inaugurada um ano atrás com o objetivo de levar jovens concertistas a se apresentarem em concorridas audições de piano solo e de outros instrumentos com acompanhamento de piano.

Em 11 de fevereiro de 1931, Raymundo faleceu em Belém, vítima de afecção estomacal. Oneglia combinou com Waldemar que Orianne continuaria mais algum tempo em Natal. Uma das providências imediatas do padrinho Waldemar foi procurar uma escola para que Orianne concluísse o curso primário, sendo escolhido o Colégio Pedro II.

No mesmo ano de 1931, apresentou-se nas referidas audições e, em setembro, acompanhou a cantora Margherita Rinata em sua passagem por Natal.

Por ocasião da 6ª audição, o cronista Danilo, no jornal A República, na edição de 28 de marco de 1931, informou que “o maestro-mignon Orianne de Almeida teve, ainda mais uma vez, as merecidas aclamações da plateia pela técnica e esmero com que tocou Chopin.” (cf. [GALVÃO, 2010, 53])

Em fins de 1932, o Diretor do Departamento de Educação, professor Severino Bezerra de Melo, designou uma comissão composta por Waldemar de Almeida e Luís da Câmara Cascudo para redigir os estatutos de uma nova escola de música, atendendo a intenção do Interventor Federal Bertino Dutra da Silva, do que resultou a criação do Instituto de Música do Rio Grande do Norte através do Decreto nº 425 de 31/01/1933. Orianne logo efetuou sua matrícula no curso de piano do recém-criado Instituto de Música. O seu professor de piano, bem como de Teoria e Solfejo, era seu próprio primo; Luís da Câmara Cascudo assumiu a cadeira de História da Música. A 16 de março do mesmo ano, Waldemar de Almeida assumiu a direção do Instituto de Música.

Ainda digna de nota foi a visita ao Instituto, em 24 de julho de 1933, do Interventor Federal Sérgio Marinho, acompanhado pelo seu Diretor do Departamento de Educação, professor Severino Bezerra de Melo; na ocasião foi indicado Orianne para interpretar a 7ª Valsa de Chopin.

No fim do ano, Orianne obteve êxito concluindo seu curso primário, despedindo-se do Colégio Pedro II e matriculando-se no Atheneu Norte-rio-grandense para o curso ginasial. A crescente dificuldade dos estudos de piano no Instituto e no Curso Waldemar de Almeida, somados aos compromissos com o curso ginasial do Atheneu então ocupavam boa parte do espaço livre de Orianne e pouco tempo sobrava para as antigas brincadeiras.

O ano de 1934 se iniciou com acontecimentos ricos em repercussões para o “maestro-mignon”. No dia 14 de janeiro, realizou-se no Theatro Carlos Gomes um recital dos alunos do Curso Waldemar de Almeida, homenageando o Dia do Professor, com a presença do interventor Mário Câmara, bispo D. Marcolino Dantas e outras autoridades. Orianne encerrou a apresentação com o “São Francisco de Paula caminhando sobre as ondas”, de Franz Liszt. Na plateia estava um grande admirador do movimento musical natalense, Waldemar de Oliveira, médico pernambucano dedicado à música e ao teatro. Entusiasmado com a atuação dos pequenos artistas natalenses, ao retornar ao Recife publicou no Diário de Pernambuco, em 28 de janeiro de 1934, convidando, entre outros, Orianne a apresentar-se ao público recifense. A partir desse convite, muitos entendimentos foram feitos até à apresentação do menino em Recife.

Finalmente, em 19 de março de 1934, ele executou o seguinte programa no salão completamente lotado do Clube Internacional em recital patrocinado por Waldemar de Oliveira, Aguinaldo Lins, Hecliano Pires e Godofredo Freire, este presidente do Centro Rio-Grandense do Recife com um cachê no valor de um conto e cem mil réis:
I
Bach-Tausig: Tocata e fuga em ré menor
Bach-Busoni: Chaconne
II
Chopin: Estudo Op. 10 nº 4
Chopin: Estudo Op. 10 nº 12
Debussy: Jardim sob a chuva
Albeniz: Sevilha
Moszkowski: Scherzo-Valsa
III
Liszt: Sonho de Amor
Liszt: Rapsódia Húngara nº 6
Liszt: São Francisco de Paula caminhando sobre as ondas
Como extras, ainda se ouviram a Valsa nº 14 de Chopin e Polichinelo de Villa-Lobos.
Com os aplausos, o reconhecimento público e a felicidade estampada nos rostos dos patrocinadores, veio-lhe também a sensação de estar dando os primeiros passos rumo à definitiva profissionalização.

Em 1934, ainda ocorreram dois fatos marcantes na vida de Orianne. No dia 15 de maio, Manoel Augusto, professor renomado em Recife, apresentou-se no Theatro Carlos Gomes. Em seguida, passou pela cidade o famoso pianista paulista, João de Souza Lima (São Paulo, 21/03/1898-São Paulo, 28/11/1982) - "o Príncipe dos pianistas brasileiros", no dizer de Guiomar Novaes -, vindo de um concerto em Manaus. Hospedou-se na casa de Waldemar de Almeida, de quem era velho amigo e companheiro de estudos em Paris. O menino teve com Souza Lima uma aula especial de como interpretar a Sonata Appassionata de Beethoven.

Em 1935 não foram registrados fatos importantes na vida de Orianne. Sua rotina de estudos musicais continuava no Instituto de Música, bem como sua frequência ao curso ginasial do Atheneu Norte-rio-grandense.

Mesmo em férias, as atividades do Instituto de Música não paravam. Considerando importante o desenvolvimento intelectual de seus alunos, Waldemar iniciou a apresentação de uma série de palestras sobre assuntos musicais, tendo designado Orianne para ministrar a primeira, sob o título de “Frederico Francisco Chopin”. Mal sabia o menino que estava inaugurando naquele 26 de janeiro de 1936 uma espécie de rotina para seu futuro: falar e viver a sua incontida admiração pelo ídolo em cuja obra musical mais tarde se especializaria.

Ainda em 1936, dois fatos foram relevantes para a vida do jovem concertista. Em 2 de abril, Natal viu e ouviu Orianne pela primeira vez, em uma audição individual, no palco do Theatro Carlos Gomes. Importante ressaltar que toda a segunda parte do programa foi dedicada à obra pianística do compositor polonês:
I
Beethoven: Sonata Op. 14, nº 1
Bach-Tausig: Tocata e Fuga em ré menor
II
Chopin: Prelúdio Op. 28 nº 12 (A Cavalgada)
Chopin: Valsa Brilhante
Chopin: Scherzo Op. 31 nº 2
Chopin: Estudo Op. 10 nº 8
Chopin: Estudo Op. 25 nº 11
III
Waldemar de Almeida: Paisagens de Leque (Valsa Nobre, Borboletas, Passeio às Rocas e Desfile de Quintal)
F. Mignone: Microbinho
Villa-Lobos: Polichinelo
Ricardo Castro: Valsa-Capricho
Franz Liszt: Rapsódia Húngara nº 12

A crítica especializada de A República foi unânime em reconhecer em Orianne a mais destacada revelação artística de Natal.

Em agosto, na 17ª audição do Curso Waldemar de Almeida, Orianne encerrou o evento com a “Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro”, de Gottschalk.

Ainda em agosto, no dia 31, o Instituto de Música diplomou sua primeira turma na presença do Governador do Estado, Monsenhor João da Matta Paiva, o qual entregou os diplomas, tendo discursado na ocasião Túlio Tavares, em nome dos concluintes da turma de Teoria e Solfejo, e Orianne, representando os concluintes do curso geral de piano. O paraninfo foi o maestro Waldemar de Almeida. Orianne participou do programa em três das quatro partes: da Fuga em sol maior de Bach para 3 pianos, no 3º piano; do Concerto em si bemol de Beethoven para 2 pianos, no 2º piano; e no Concerto em fá menor de Chopin no 1º piano acompanhado por Túlio Tavares no 2º piano.

Sobre as várias atividades extra-classe do Atheneu, constava a sua Academia de Letras, nos moldes da Academia Brasileira de Letras, com patronos de cadeiras e outras formalidades. À sua entrada, Orianne escolheu o maestro Carlos Gomes como seu patrono. As reuniões eram sempre realizadas nos domingos à tarde e as atividades “acadêmicas” encaradas com muita seriedade. No segundo número de “O Atheneu”, órgão da Academia de Letras do velho colégio, se encontra o artigo de Orianne intitulado “A Tetralogia de Richard Wagner”.

As atividades musicais de Orianne no ano de 1936 se encerraram com um recital em 26 de dezembro no Club Ipiranga, na cidade de Mossoró. O êxito obtido foi imenso. A comissão organizadora do concerto ficou satisfeita, enquanto o pianista embolsava o cachê nada desprezível de setecentos mil réis.

Ao movimentado 1936 seguiu-se um calmo 1937, com pouca novidade para a carreira de Orianne de Almeida. Um evento musical importante constituiu a vinda a Natal de Guiomar Novaes, considerada a grande dama da música brasileira e uma das maiores, senão a maior pianista do mundo.

No final daquele ano, Orianne concluiu o curso ginasial do Atheneu. Agora podia pensar no seu futuro curso de Medicina e, como Natal não dispunha de uma faculdade médica, teria que se transferir para outra cidade, quiçá o Rio de Janeiro que mais o atraía.

Para se despedir em grande estilo da cidade que o acolhera 8 anos atrás e o vira obter os primeiros êxitos musicais, Orianne decidiu que seria através do seu piano. Assim, foi organizado o seu segundo e último concerto ao público natalense, que teve lugar no Theatro Carlos Gomes, na noite de 21 de janeiro de 1938. Ao mesmo tempo se despedia de Natal um jovem professor de piano, pois Orianne era contratado por famílias natalenses para ministrar aulas particulares de piano. Entre muitos alunos, a Cláudio Galvão declinou Orianne os nomes de Leda Alves de Melo, Moacir Maia, Sylvia Ramalho e Ziva Blatmann.

Do programa constavam as seguintes peças:
I
Mozart: Sonata em lá maior
Franz Liszt: Sonho de Amor
Franz Liszt: São Francisco de Paula caminhando sobre as ondas
II
Waldemar de Almeida: Paisagens de Leque
Debussy: Golliwog’ s Cakewalk
Ravel: Minueto (extraído da Sonatina)
Moszkowski: Scherzo-Valsa
Villa-Lobos: Bailado Infernal
III
Chopin: Prelúdio nº 10
Chopin: Estudo
Chopin: Noturno
Chopin: Fantasia Op. 49, em fá menor
Observe-se que essa última parte foi toda dedicada ao gênio polonês.
Como extra, Orianne ainda executou a “Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro”, de Gottschalk.

Após a despedida, porém, Orianne foi-se deixando ficar… Pouco tempo depois, Orianne recebeu um convite da Escola Normal de Música da Bahia, dirigida por Pedro Jatobá, para inaugurar, com um recital, um grande piano de cauda inteira, recentemente adquirido. Uma semana antes fora inaugurado o seu salão de concertos. O resultado foi: sucesso total, passeios por Salvador e cachê no bolso.

De volta a Natal, esperava-o convite de Aldo e Danilo Parisot, ex-colegas do Instituto de Música e atualmente atuando na Orquestra da Rádio Clube de Pernambuco, daí resultando um recital onde tocou, pela primeira vez, para… apenas um microfone.

1939 foi um ano de muitas atividades para Orianne. Como seus recitais começassem a surtir a pretendida repercussão, Orianne pensou na possibilidade de uma turnê por cidades do Norte. A primeira parada foi em Fortaleza. No Teatro José de Alencar deu um recital em 27 de janeiro. A segunda parada foi em Belém, onde reviu sua mãe Oneglia, sua avó Laura Tabanelli, os irmãos, todos adolescentes, e Oswaldo, seu mais novo irmão por parte de mãe, pois esta havia se casado novamente com Odilon Gabriel, em 1935. A terceira parada foi em Manaus. Em 18 de março tocou no Teatro Amazonas em homenagem à Academia Amazonense de Letras. Pela primeira vez, Orianne incluiu no seu concerto o Lied nº 1 de sua autoria. Começava, ali, oficialmente, a sua atividade de compositor. Em Manaus ainda, teve a oportunidade de conhecer o compositor Claudio Santoro (Manaus, 23/11/1919-Brasília, 27/03/1989). De volta a Belém, apresentou-se sob os auspícios da Instrução Artística do Brasil, no Teatro da Paz, em 18 de abril. No dia 29 do mesmo mês chegou a Natal com um cachê estimulante e animador, além de muito maior experiência. Aos poucos, fixava-se em seu íntimo a sensação, crescente a cada recital, de que a música não era apenas uma atividade passageira, um divertimento que o faria relaxar das atividades de futuro médico, mas um compromisso como única direção de sua vida.

Finalmente comprometido com a música, Orianne tomou um trem em 26 de outubro com destino a João Pessoa, onde deveria realizar um recital. Sem encontrar um patrocinador na capital paraibana, seguiu para Recife e, dali, tomou um navio para o Rio de Janeiro. Foi recepcionado pelo Dr. Clóvis de Almeida, irmão de seu padrinho, em sua residência, enquanto se preparava para a etapa seguinte. Um de seus objetivos era dar recitais em São Paulo e para lá acabou se dirigindo, portando uma carta de apresentação de seu padrinho para o Interventor Federal daquele Estado, Ademar de Barros, que fora seu colega de quarto, durante a permanência de ambos em Berlim.

IV. RIO DE JANEIRO: o encontro com Magdalena Tagliaferro

1940 foi um dos anos mais importantes na vida musical de Orianne e de dúvidas sobre o abandono do plano de cursar uma faculdade de medicina. Logo ao desembarcar em São Paulo, num passeio de ônibus pela cidade, um cartaz lhe chamou a atenção: Magdalena Tagliaferro se apresenta às 20 horas no Teatro Municipal. Pensou cá com seus botões: Vou finalmente ver e ouvir a “fada do piano”.

“Não foi sem emoção que viu entrar no palco, ao apagar das luzes da plateia e sob o foco dos refletores, a figura marcante da pianista, vestido prateado, decote à la grega e cabelos cor de cenoura.”  (cf. [GALVÃO, idem, 89]) Ao lado de Orianne, assistia também ao recital o compositor mineiro Fructuoso Vianna que, “de vez em quando, emitia uma opinião crítica e chamava a atenção para um ou outro deslize da pianista, perceptível apenas para ouvidos muito apurados.”  (cf. [GALVÃO, ibidem, 90])

No dia seguinte, era preciso agir em busca dos seus objetivos. Orianne dirigiu-se, portanto, à Diretoria Municipal de Cultura, cujo diretor era Francisco Patti e que ficava num dos andares superiores do edifício Martinelli e cujo diretor era Francisco Patti. Embora este tenha sido amável, prometendo-lhe esforços para proporcionar-lhe um recital em São Paulo, pediu que retornasse após alguns dias. Esses dias se transformaram em semanas que se passaram sem uma solução. "Cansado de tanto ‘volte na próxima semana’, Orianne, que fizera amizade com o renomado pianista Adolfo Tabacow, recebeu dele a sugestão de procurar diretamente a esposa do Interventor Federal de São Paulo, Leonor de Barros”, que imediatamente telefonou para a Diretoria Municipal de Cultura recomendando o recital de Orianne. Quem não gostou nada do telefonema da Primeira Dama foi Francisco Patti que manifestou seu desgosto quando Orianne retornou à Diretoria. Disse peremptoriamente:
– Agora é que o senhor não toca!...

Sentindo que o mar não estava para peixe, decidiu retornar o mais breve possível para o Rio de Janeiro. No trem, o jornal lhe trouxe duas ótimas notícias: primeiro, Aldo Parisot, seu amigo e contemporâneo do Instituto de Música, estava na capital carioca para estudar violoncelo com Iberê Gomes Grosso. Segundo, a grande Magdalena Tagliaferro anunciava um curso de interpretação pianística.

Decidido a inscrever-se como pretendente a aluno do “I Curso de Interpretação e Alta Virtuosidade”, dirigiu-se ao prédio da Escola Nacional de Música. Ficou agendada uma reunião onde a mestra entrevistaria os candidatos a seu curso.

Aquela primeira aula seria pública, razão por que teve ampla cobertura da imprensa, o que fez lotar o Salão Leopoldo Miguez, o grande auditório da Escola Nacional de Música, por professores, artistas e críticos musicais. Essa reunião contou com a presença do diretor da Escola de Música, Maestro Sá Pereira, o que deu um ar formal ao evento. Como a primeira masterclass seria dedicada ao Concerto Italiano de Bach e como essa peça não fizesse parte do repertório de Orianne, Tagliaferro abriu uma exceção, admitindo que ele interpretasse a Sonata em lá maior K. 331, de Mozart. Ele foi o último a ser chamado, decerto porque era o único a tocar uma peça diferente. Soltou as mãos com a segurança de quem era o dono da festa. Ao terminar a sonata, ouviram-se “as primeiras palmas cariocas, ruidosas e estimulantes, decididamente marcantes. Outras mais ainda viriam e o jovem candidato sentiu que as coisas, a partir daquele momento, começavam a mudar em sua vida.”  (cf. [GALVÃO, ibidem, 93])

Ficamos sabendo a seguir que “todos os alunos tocavam apenas uma vez no curso. Orianne tocou mais duas vezes. Ao ser escalado para tocar o 2º Scherzo, de Chopin, subiu ao palco e entregou a partitura à professora, redimindo-se da gafe da primeira aula. Na última aula do curso, novamente esteve no palco, tocando as Valsas Nobres e Sentimentais, de Ravel.” Aqui já transparece uma predileção da mestra por seu discípulo querido, fato que fica totalmente evidenciado no livro “Magdalena, dona Magdalena” da autoria deste.

Graças ao destaque que obtivera durante o curso de Tagliaferro, ficara conhecido do mundo artístico carioca. A 28 de setembro participou de uma homenagem à cantora Violeta Coelho Neto de Freitas, realizada no auditório do Fluminense Futebol Clube, quando executou Sevilha, de Albeniz e o Scherzo em si bemol menor, de Chopin.

No dia 21 do mês seguinte, a convite da pianista Georgette Mayo Remy, foi a vez de Orianne apresentar-se em recital na Rádio MEC, sob o patrocínio da Casa do Estudante do Brasil. O agrado foi tanto que Orianne ainda se apresentou ali, nos finais de 1940.

Nem tudo eram flores, entretanto. Tendo que prestar o serviço militar, Orianne foi incluído no Tiro de Guerra, tendo que assistir a aulas noturnas duas vezes por semana versando sobre assuntos militares, ministradas no prédio da ACM-Associação Cristã de Moços, e participar de acampamentos e marchas. Orianne até desfilou no Sete de Setembro, marchando compenetrado pela Avenida Atlântica.

1941 foi o ano do abandono definitivo da ideia de frequentar um curso de Medicina. A experiência do contato com a vida artística carioca levou Orianne a uma nova direção, da qual não iria mais se afastar e que foi seguida com muito prazer e profissionalismo, acima de tudo. Percebera especialmente que, se quisesse aprimorar-se na técnica pianística, o caminho seria Magdalena Tagliaferro. Portanto, não hesitou em bater à porta do apartamento da mestra para tentar nova vaga no seu curso particular, a iniciar-se brevemente. A mestra recebeu-o afetuosamente. Ele explicou-lhe que os recursos de que dispunha (cachês recebidos pelas apresentações e mesadas remetidas pelo padrinho Waldemar de Almeida) mal davam para sua manutenção no Rio e era muito difícil pagar um curso tão concorrido, frequentado por pessoas da alta sociedade, muitas delas buscando mais valorizar o próprio currículo do que aprender seriamente. Qual não foi sua surpresa quando a mestra, numa reação de enorme generosidade, o dispensou de qualquer pagamento:
– Os mais ricos pagam, enquanto os menos ricos aprendem.

A partir desse instante, tornou-se aluno especial de Magdalena Tagliaferro. Para facilitar os contatos com seu aluno, entretanto, a mestra impôs uma condição: que ele se mudasse para um local mais perto de seu apartamento, que estava localizado na esquina da Rua Siqueira Campos com a Avenida Atlântica, em Copacabana.
Mais do que depressa, ele conseguiu alugar um apartamento na Rua Domingos Ferreira, igualmente perto de Georgete Pereira, a assistente do curso.

Logo, foi anunciado o “II Curso de Interpretação e Alta Virtuosidade” em que novos alunos tinham a possibilidade de evoluir através da “escola” Magdalena Tagliaferro. Orianne, desta vez, teve sua matrícula garantida e participação destacada no curso: tocou o 1º Scherzo, de Chopin e a Sonatina, de Ravel.

Teve ainda nova experiência quando a mestra decidiu ministrar o seu curso em São Paulo, promovido pelo jornal A Gazeta. O curso se realizou no auditório da Rádio Gazeta. “Convidado pela professora, Orianne deslocou-se novamente para a pauliceia onde, dispondo da facilidade de hospedar-se na casa do primo Raymundo de Almeida, irmão de seu padrinho Waldemar, aproveitaria mais esta oportunidade que lhe era oferecida.” (p. 98) Tocou três vezes, diferentemente dos outros alunos que se apresentaram uma única vez: a Sonata em sol menor, de Schumann, o Scherzo nº 1, de Chopin e Clair de Lune, de Debussy. Ficamos ainda sabendo que “a 12 de novembro, verificou-se a solene conclusão do curso, no auditório lotado da Rádio Gazeta. Para surpresa do jovem pianista, uma comissão julgadora considerou-o como o aluno mais destacado, conferindo-lhe um diploma e premiando-o com uma turnê por cidades do Estado de São Paulo. E mais: um concerto no Teatro Municipal!” Tais expectativas se concretizariam somente em 1943.

As atividades do ano de 1942 inciaram-se com uma pequena turnê, promovida pela Instrução Artística do Brasil, com a participação de Orianne em recitais, tanto como solista quanto juntamente com a cantora Celina Sampaio, com início em 24 de março no Teatro Municipal de Campinas. Seguiu-se Caçapava, no dia 14 de abril, nos salões do Clube Recreativo Literário.

Ainda em abril, Orianne foi obrigado a se deslocar ao Rio para mais um “Curso de Interpretação e Alta Virtuosidade”, ministrado por Tagliaferro. No encerramento, a pianista ministrou conferência sobre o tema “Evolução das formas musicais”. Disse um jornal da época que Tagliaferro foi vibrantemente aplaudida após sua fala e principalmente após a interpretação dada por Orianne ao Concerto Op. 54 de Schumann, acompanhado pelo segundo piano de Neusa Miranda do Pinho.

Em edição de 8 de julho, o jornal natalense A República, trouxe uma notícia curiosa: Orianne adotara o nome artístico de Oriano. “Na França Orianne é nome de mulher”, justificou Íris Bianchi, uma colega também aluna de Magdalena Tagliaferro.

Os meses de julho e agosto foram dedicados ao estudo e aperfeiçoamento pianístico em mais um curso de Tagliaferro na Escola Nacional de Música do Rio. Na última aula pública, em 4 de setembro, a professora pronunciou palestra sobre a obra de Bach, ilustrada com a execução do Prelúdio em mi bemol menor e da Abertura da 23ª Cantata. Após os aplausos, a professora escolheu Oriano para interpretar a Sonata Op. 10 nº 2, de Beethoven, e dois estudos de Chopin.

No mês de setembro, houve a inauguração de uma sala de concertos, no Rio. O Colégio Bennett convidou Tagliaferro para inaugurar o seu piano. No dia 25 do mesmo mês foi a vez de o auditório do Colégio Bennett receber Oriano.

Cabe ainda ressaltar que Oriano gravou para a transmissão pela Rádio Roquete Pinto, do Rio de Janeiro, duas peças do compositor amozonense Cláudio Santoro, que estreou: Peças para piano (1 – Lento; 2 – Lento; 3 – Vivo Grotesco) e Pequena Toccata.

Em 9 de dezembro ocorreu ainda uma apresentação de Oriano em 1942, desta vez no auditório da ABI-Associação Brasileira de Imprensa, numa promoção da Pró-Música.

Encerrando 1942, em 16 de dezembro, Oriano e alguns colegas do curso participaram de um evento em que Tagliaferro fez a palestra “A Música na defesa do Brasil”. Após a conferência, apresentaram-se os alunos Heitor Alimonda, Iara Gomes Grosso, Julinha Wagner Cohen, o pianista Mário de Azevedo (como participação especial) e Oriano.

1943 se iniciou com a perspectiva de finalmente ocorrer a série de recitais que Oriano deveria realizar como prêmio a seu destaque no curso ministrado por Tagliaferro, em fins de 1941, no auditório da Rádio Gazeta em São Paulo.

O primeiro compromisso da turnê pelas cidades do Estado de São Paulo foi em Piracicaba, numa promoção da Cultura Artística, no dia 16 de abril.

A próxima etapa, a mais importante, era a apresentação no Teatro Municipal de São Paulo, que ocorreu em 6 de maio. Ele estava bem consciente de que “não era aquela a primeira vez que enfrentaria um público exigente e refinado, mas a atenção, visando ao apuro técnico no desempenho, tinha que ser redobrada. O seu êxito naquele momento poderia significar mais portas abertas para o futuro e a afirmação de seu prestígio”. (p. 102)

Abaixo transcrevo o programa que Oriano apresentou no Teatro Municipal de São Paulo:
I
Bach-Tausig: Tocata e Fuga em ré menor
Schumann: Sonata Op. 22, em sol menor
II
Waldemar de Almeida: Acalanto da Bela Infanta, Realejo
F. Mignone: Valsa Elegante
Villa-Lobos: Polichinelo
Debussy: Bruyères, Minstrels
Ravel: Sonatina
III
Chopin: Estudo Op. 10 nº 4, 3º Impromptu e Scherzo Op. 20 em si menor

Após o recital na capital paulista, Oriano voltou ao Rio de Janeiro a convite do Colégio Bennett para outro recital no seu elegante auditório numa sexta-feira, 13 de agosto.

O restante do mês de setembro e outubro foram dedicados à continuidade da turnê pelas cidades do interior paulista: iniciando-se por Jáu, estendeu-se por Bauru, Marília, São Carlos, Araraquara, Rio Preto e Pirajuí.

Ainda em 1943, através de Cláudio Santoro, que ficara conhecendo em Manaus em março de 1939, foi convidado a participar, como intérprete, do movimento “Música Nova” encabeçado por Hans-Joachim Koellreutter. Era um grupo de jovens compositores brasileiros em torno de uma nova estética musical e que tinham como fonte de divulgação do movimento uma revista intitulada “Música Viva”, que circulou a partir de 1940, e um programa radiofônico com o mesmo título, transmitido pela Rádio MEC até 1952.

O primeiro semestre de 1944 não trouxe nada de novo na carreira pianística de Oriano: nenhuma audição, apenas estudos, exercícios e preparação para dois compromissos de muita responsabilidade: um concerto com a Orquestra Sinfônica Brasileira e uma apresentação na Série Oficial de Concertos realizados pela Escola Nacional de Música. O primeiro ocorreu no dia 27 de agosto no Cinema Rex e consistiu no Concerto em lá menor, de Schumann, sob a regência de José Siqueira (Conceição, PB, 24/06/1907-Rio de Janeiro, 22/04/1985). A reação do público foi das mais entusiasmadas. O pianista teve de voltar ao palco diversas vezes e finalmente retribuiu as gentilezas com o Clair de Lune, de Debussy.

No dia 15 de setembro, foi a vez do recital na Escola Nacional de Música, “provocando nos críticos uma reação um pouco diferente das anteriores. (…) Os principais críticos musicais do Rio de Janeiro (…) foram unânimes em destacar o desempenho técnico do artista, enfatizando as suas qualidades de virtuose. Já quanto à interpretação, todos indicaram algumas falhas.” (cf. [GALVÃO, ibidem, 105])

Para Oriano, havia um consolo: tendo sido incluído na Série Oficial de Concertos da Escola de Música da Universidade do Brasil, tinha sido colocado em uma posição de muito destaque e considerado pela Instituição como um grande nome da música brasileira, o que o tornava alvo de maiores exigências e cobranças.

V. NORTE E NORDESTE: turnê com o violinista Henryk Szeryng

No final daquele ano (1944), aconteceu algo inusitado: recebeu um convite para realizar uma turnê em companhia do violinista polonês Henryk Szeryng pelo Norte e Nordeste do País, tocando para militares brasileiros e norte-americanos nas bases de operação de guerra da região. O projeto foi articulado numa reunião com autoridades norte-americanas, representantes do U.S.O. ² Club do Brasil, no Rio de Janeiro.

Partiriam os dois musicistas, em avião militar, da base militar de Santa Cruz, no Rio. Tudo começaria no Estado da Bahia, com um recital na Base de Ipiranga com a apresentação do duo no Concerto para violino de Mendelssohn, com o acompanhamento do piano em substituição à orquestra. Assim fizeram. Depois de mais três recitais em Salvador, onde os dois musicistas passaram o Natal, seguiram para a Base Aérea do Recife. Foram três os recitais nessa cidade. Dali voaram diretamente para Belém. O avião militar norte-americano pousou na Base Aérea de Parnamirim às 22h do dia 31 de dezembro. A ordem foi que não poderiam se ausentar da Base para comemorarem o Réveillon no Aero Club.

O ano de 1945 se iniciou com Oriano acompanhando Szeryng numa audição para o pessoal da marinha norte-americana. No dia 2 de janeiro, mais três concertos: um no Hospital do Exército Norte-americano, às 14h; outro, na capela da Base Aérea, às 17h e o último, às 21h30min, na sede do U.S.O. Club, que se localizava no prédio do antigo cinema Polytheama. Terminada a missão, Szeryng retornou para o Rio e Oriano pôde gozar umas curtas férias em Natal.

Mas já no dia 22 de janeiro apresentou-se no Theatro Carlos Gomes. Além disso, no dia 25 recebeu a homenagem de amigos e autoridades sob a forma de um jantar no Clube Hípico natalense. No dia 2 de fevereiro, atendeu a um convite do professor Severino Bezerra de Melo, Diretor do Departamento de Educação do Estado, apresentando-se no Theatro Carlos Gomes para os estudantes dos grupos escolares da cidade e seus familiares. Nesse mesmo dia, o U.S.O. Beach Club, de Petrópolis, e o U.S.O. Town Club, de Ribeira, comemoraram seu 4º aniversário com outro recital seu. Outro concerto de Oriano em Natal foi realizado em 13 de março no Aero Club e foi dedicado a seus sócios. Finalmente, em 19 de março ainda apresentou um programa especial da Rádio Educadora de Natal.

Era hora de voltar ao Rio, pois tinha o compromisso de participar, durante o mês de maio, do programa radiofônico “Ondas Musicais”, detentor de grande audiência entre o público erudito carioca, sendo transmitido para todo o Brasil pelas rádios Nacional, Tamoio, Jornal do Brasil, Cruzeiro do Sul, Globo, Mayrink Veiga e Guanabara. Da programação constava sempre a apresentação ao vivo de um artista brasileiro. Oriano, no seu primeiro recital de 15 de maio, só tocou peças de Debussy. O segundo foi ao ar no dia 22, inteiramente dedicado a Chopin. O terceiro, no dia 29, teve obras de Bach, Mendelssohn e Schumann. Finalmente, no programa transmitido em 5 de junho, Oriano tocou peças de Beethoven, Scriabin, Frutuoso Viana, Francisco Mignone, Waldemar de Almeida e Mignone.

VI. NATAL: tocando Chopin num caminhão-palco
 
Oriano tocando no caminhão-palco: ao fundo, Instituto Padre João Maria em Natal, 6 de abril de 1946 - Crédito: Cláudio Galvão, p. 128 do seu livro.

 


Em 1946, Sylvio Piza Pedroza (12/03/1918-19/08/1998) assumiu o cargo de prefeito de Natal, tendo sido nomeado para tal pelo Interventor Ubaldo Bezerra de Melo. Em 20 de março de 1946, Oriano voltou a Natal para um concerto no Theatro Carlos Gomes, em 27 de março, apenas com peças de Chopin. Vinha decidido a implementar o seguinte plano para o qual previa grande resultado: naquele ano fazia enorme sucesso o filme “À Noite Sonhamos”, baseado na vida de Chopin ³, com um grande número de peças do compositor polonês que logo tiveram aceitação popular. Pois bem. Na recepção oferecida pelo Prefeito por ocasião do aniversário de sua esposa Clotilde e na qual estavam presentes Luís da Câmara Cascudo, Waldemar de Almeida e muitos outros amigos, Oriano, depois de tocar para os convidados, conseguiu convencer todos de que aquela Administração municipal se destacaria se implementasse o seu plano: levar a música para aqueles que, por motivos especiais, não tinham condições de acesso a salões de concerto. Ali mesmo foram programadas para todo o dia 6 de abril audições de Oriano tocando Chopin em locais como o Hospital Miguel Couto (repleto de internos, muitos em cadeiras de rodas), o Educandário Oswaldo Cruz (que abrigava filhos de hansenianos), o Instituto Padre João Maria e o Abrigo Juvino Barreto (dedicados a crianças carentes). Na ausência de auditórios e de um bom piano nos locais escolhidos, encontrou-se uma solução original: um caminhão da Prefeitura levaria em sua carroceria um piano de meia cauda pertencente ao Instituto de Música sob um toldo de lona.

Concluída a missão, ficou a certeza de uma semente plantada. “O prefeito e o pianista deram uma lição de como se deve divulgar a cultura musical, levando-a ao público, ao invés de ficar comodamente esperando que o público a procure. Não se pode procurar aquilo de que não se gosta e não se gosta do que não se conhece. Em arte, antes de gostar deve vir o conhecer.”  (cf. [GALVÃO, ibidem, 115])

Em 27 de abril, mais um recital no recente Clube dos Oficiais da Base Naval de Natal. Dez dias depois, foi prestada homenagem muito especial a Oriano, no Theatro Carlos Gomes, pelo Departamento Cultural do Teatro do Estudante. Em sessão solene presidida pelo Prefeito, contou com a presença de autoridades, estudantes de diversas escolas, professores e grande público. Um estudante foi escolhido para uma palestra sobre a vida de Chopin. Em seguida, um acadêmico ofereceu um retrato do intérprete de Chopin, em nome do Teatro do Estudante. O homenageado agradeceu a todos e tocou. No dia 8 de maio, dia do 1º aniversário da vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial, o ponto alto foi uma solenidade na Rádio Educadora de Natal, em que Oriano tocou a Polonaise Militar, de Chopin e a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Gottschalk. No dia 11 de maio, Oriano apresentou-se no Aero Clube e no dia 14, deu um recital para militares da Base Aérea de Parnamirim, realizado no edifício da Cruz Vermelha. Em 16 de maio, apresentou um recital nos estúdios da Rádio Poti, patrocinado pela firma M. Martins & Cia., na programação da Semana Essenfelder.

Seguindo para Belém, no dia 30 tocou no Teatro da Paz, no Instituto Carlos Gomes e na Base Aérea de Val de Cãs. Em 3 de junho, os alunos do Conservatório Carlos Gomes ofereceram a Oriano uma audição e, no dia seguinte, deu mais um recital Chopin no Teatro da Paz.

De volta a Natal, em 11 de julho voltou a tocar no Aero Clube. Em agosto, deu audições no estúdio da Rádio Poti.

VII. PARIS: o encontro com Marguerite Long

Foi então que lhe chegou às mãos um telegrama de Magdalena Tagliaferro, exigindo a presença urgente de Oriano no Rio. Aí chegou no dia 28. Sua mestra o esperava com uma convocação: Oriano deveria preparar-se durante um mês para ir a Paris disputar o concurso Marguerite Long-Jacques Thibaud, que havia sido interrompido durante a ocupação nazista. “O ponto principal era que o candidato deveria apresentar-se exibindo a técnica da escola Magdalena Tagliaferro e demonstrar, em nível internacional, as vantagens de sua forma peculiar de interpretar.”  (cf. [GALVÃO, ibidem, 113]) No dia da partida, a professora ainda lhe dava conselhos e orientações e, principalmente, cheia de ciúme magisterial, o advertia para o perigo que Madame Long representava para ele, recomendando-lhe precaver-se contra as investidas dela para fazê-lo seu aluno.

Enfim, Oriano ia conhecer Paris, a cidade tão sonhada e tão presente em cada peça que tocava. Inscrito no “Concurso Marguerite Long-Jacques Thibaud”, chegou a sua vez de se apresentar. Frente ao júri reunido na Salle Gaveau, Oriano tocou o Estudo Op. 25 nº 1, de Chopin. No dia seguinte, houve a publicação dos nomes selecionados e o nome de Oriano não estava entre os aprovados.

Ao invés de ficar derrotado com o resultado desfavorável, não se deixou desfalecer: estudou com maior rigor ainda Harmonia e Composição com Georges Dandelot. Alugou um piano e praticava diariamente. Movido pela saudade da terra natal, compôs o “prelúdio potiguar” nº 14 intitulado Xarias e Canguleiros, no qual evoca a antiga rivalidade entre os moradores dos bairros natalenses da Ribeira e Cidade Alta, com descrição do som das pedradas que entre si trocavam.

Na passagem de ano 1946-47, aproveitava ao máximo tudo o que de cultura a Cidade Luz lhe podia oferecer: charme, locais históricos, grandes concertos e um mundo de atrações.

O ano de 1947 lhe rendeu inicialmente enorme surpresa: canditara-se para um concerto na Salle Chopin-Pleyel, apresentando o seu currículo. Seu nome foi incluído para se apresentar às 21h do dia 15 de abril de 1947. Do ingresso do recital constou, após o seu nome, “1º Prêmio Magda Tagliaferro (Brasil 1942)”. Tocou o seguinte programa para os franceses:
I
Bach-Liszt: Fantasia e Fuga em sol menor
II
Chopin: Fantasia
Chopin: Estudo
Chopin: Scherzo
III
Waldemar de Almeida: Prelúdio sobre um tema brasileiro
Fructuoso Vianna: Dança de Negros
Francisco Mignone: Lenda Sertaneja
Villa-Lobos: Lenda do Caboclo (em primeira audição)
Villa-Lobos: Impressões Seresteiras
Villa-Lobos: Festa no Sertão
IV
Ravel: Sonatina
Ravel: Toccata (du Tombeau de Couperin)
V
Liszt: São Francisco de Paula caminhando sobre as ondas

“A aceitação da crítica parisiense foi das melhores; estava, assim, vencida mais uma etapa importante de sua vida artística.” (cf. [GALVÃO, ibidem, 115])

Para se imaginar a importância de Oriano se apresentar na seletiva Salle Chopin-Pleyel, basta dizer que na mesma programação se apresentou o famoso pianista Alexander Brailowsky (Kiev, 1896-New York, 1976), dois dias depois.

Em Paris, Oriano percorreu ainda os lugares por onde andara Chopin, seu ídolo, desde o Boulevard Poissonière 27, primeiro endereço naquela cidade, até o último, Place Vendôme 12, onde falecera em 1849.

Como permaneceu em Paris até o fim da primavera de 1947, manteve contato com a Associazione Artistica Internazionale de Roma, de que resultou um convite para ele tocar na Itália. Seu recital ocorreu em Roma, às 18h de 9 de junho, no Salone dell’ Associazione Artistica Internazionale.

Infelizmente para nós, seus admiradores, com relação às atividades realizadas por Oriano no ano de 1948, o seu biógrafo escreve: "A coleção de recortes do artista não registra nenhuma referência." (cf. [GALVÃO, ibidem, 116, nota 61])

VIII. VARSÓVIA: representando o Brasil no IV Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin

Passemos então ao ano de 1949, o qual marcou o centenário da morte do gênio polonês Frédéric Chopin, ocorrida em 17 de outubro de 1849. Grandes comemorações estavam sendo previstas em toda a Europa, especialmente na Polônia. Entre elas destacava-se o Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin a se realizar em Varsóvia, com participação dos melhores pianistas de todo o mundo. No Brasil, o “Concurso Chopin”, que ocorreria em maio, destinava-se a selecionar o representante oficial do Brasil naquele grande evento.

Um dos grandes momentos da vida artística de Oriano estava para acontecer. Como intérprete dedicado e estudante apaixonado da obra do mestre polonês, soube antever a possibilidade de viver mais um grande momento de evolução e aperfeiçoamento artístico. Decidido a inscrever-se para o “Concurso Chopin”, resolveu fazer uma retirada estratégica para Natal para ali associar as férias a prolongados estudos prevendo o peso da responsabilidade que iria assumir.

Antes, porém, precisava ganhar algum dinheiro para a provável viagem.
Por isso, a convite da firma M. Martins & Cia. e para festejar o seu jubileu de prata, apresentou-se em 24 de fevereiro em recital no Theatro Carlos Gomes.
Uma série de recitais foi agendada em capitais do Norte-Nordeste. O primeiro compromisso foi em Fortaleza, onde se realizou um recital no Teatro José de Alencar, no dia 22 de março, sob o patrocínio da Sociedade Pró-Arte. Depois, deslocou-se a São Luís, onde se apresentou nos dias 25 e 29 de março em recital no Teatro Artur Azevedo, em promoção da União Maranhense de Estudantes. Voltando a Fortaleza, apresentou-se em recital no dia 30. O seu último compromisso dessa “maratona” ocorreu em Salvador, com um recital Chopin em 11 de abril, no auditório da Secretaria de Educação, promovido pela Superintendência de Educação Musical, sendo o Secretário de Educação o conhecido pedagogo Anísio Teixeira e seu assessor o compositor potiguar Oswaldo de Souza.

Oriano estava com 27 anos quando foi incentivado por amigos e pela mestra Magdalena Tagliaferro a inscrever-se no “Concurso Chopin” a realizar-se no Rio de Janeiro, em maio de 1949. O regulamento do concurso previa que, ainda na etapa das provas eliminatórias, os candidatos poderiam escolher, de um elenco previamente selecionado da obra chopiniana, aquelas com que tivessem maior familiaridade. Assim, de acordo com o regulamento, Oriano escolheu a Balada Op. 23, em sol menor e o Scherzo Op. 20 nº 1, em si menor; o Noturno Op. 15 nº 1; as Mazurcas Op. 33 nº 1 e nº 4; os Estudos Op. 10 nº 4 e Op. 10 nº 12; e, finalmente, a Grande Polonaise Op. 53, em lá bemol maior. As referidas provas elimitórias foram realizadas no auditório do Ministério da Educação e, realizadas as apresentações preliminares, foram classificados para a prova final os seguintes pianistas: Carmen de Vitis Adnet, Glória Maria Fonseca da Costa, Vera Cruz Pientznauer e Oriano de Almeida.

A prova final seria no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, no domingo, dia 8 de maio, diante do júri presidido por Magdalena Tagliaferro e formado pelos seguintes nomes: pianistas Guiomar Novaes Pinto, Felícia Blumenthal, Alcina Navarro e Antonieta Rudge, maestro José Siqueira e desembargador Duque Estrada, este último na condição de presidente da Sociedade de Cultura Artística.

As peças de confronto nessa prova final eram um dos dois concertos do compositor polonês, sob a regência do maestro Henrique Spedini. Oriano escolheu o Concerto nº 2 Op. 21, em fá menor. Ao término de sua prova, Oriano foi chamado onze vezes ao palco, sem ter torcida organizada.

Às 2h da manhã da segunda-feira, dia 9 de maio, Tagliaferro, na qualidade de Presidente da Comissão, anunciou o nome de Oriano de Almeida como vencedor do certame e o de Carmen de Vitis Adnet, para o segundo lugar.

No dia 12 de maio, Oriano e Carmen, na qualidade de representantes do Brasil no IV Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin a se realizar em Varsóvia, receberam das mãos do ministro polonês Wojciech Wrzosek, durante concorrido coquetel na sede da Legação da Polônia, os prêmios a que faziam jus. Na ocasião, a pedido do ministro, Oriano tocou o Scherzo Op. 31 nº 2, em si bemol menor, de Chopin.

Diante da expectativa de partir apenas em fins de setembro para Varsóvia, chegou Oriano a Natal no dia 28 de maio para receber as homenagens merecidas. Em Belém, seu Recital Chopin promovido pela Sociedade Artística Internacional realizou-se no Teatro da Paz em 5 de julho. Outro recital incluindo outros autores se verificou no mesmo teatro no dia 9. De volta a Natal, o vencedor do Concurso Chopin deu o seu concerto de despedida em 27 de julho, no Theatro Carlos Gomes, promovido pela Sociedade de Cultura Musical. Dois dias depois já estava tocando na Bahia, em 29 de julho e 1º de agosto, bem como apresentando conferência na Secretaria de Educação, onde fez uma análise interpretativa da Sonata Appassionata, de Beethoven. Regressou a Natal em 13 de agosto, reiniciando sua concentração e fazendo treinamento exaustivo visando à grande prova a que haveria de se submeter em Varsóvia.

Voltando ao Rio, ainda apresentou recital de despedida, na qualidade de representante do Brasil no IV Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin a se realizar em Varsóvia. O seu Recital Chopin aconteceu no Teatro Municipal, em 1º de setembro e fazia parte da Temporada Oficial de 1949, sob o patrocínio da firma N. Viggiani.

“Oriano chegou à Polônia governada pelo regime comunista. Varsóvia estava ainda repleta de ruínas da Guerra recém-terminada e possuía apenas dois hotéis: o Europa, de boa qualidade, onde ficaram os membros da comissão julgadora, e outro – o Polônia –, um pouco razoável, onde se hospedaram os candidatos.

Começava, afinal, o grande concurso. Tomaram parte sessenta e cinco candidatos originários de treze países. Cada um deles seria submetido a três provas: a eliminatória, a semifinal e a final. A vice-presidente do júri composto de vinte e três membros, não era outra senão Magdalena Tagliaferro… As provas foram realizadas na Sala Roma, pois o enorme Teatro Narodowy (Nacional) ainda estava em ruínas. Iniciaram-se a 15 de setembro e foram concluídas a 15 de outubro.

Durante a realização do concurso foi intenso o programa social oferecido aos participantes, principalmente as visitas aos locais ligados à vida de Chopin. Oriano pôde conhecer Żelazowa-Wola, a cidade onde nasceu o compositor, Brochów e sua igreja onde se batizou e Szafarnia, a cidade onde passava as férias quando ainda estudante.

Encerradas as provas, os treze primeiros prêmios foram – curiosamente –, atribuídos apenas a candidatos da raça eslava: sete poloneses e seis russos. O primeiro lugar foi dividido por Bela Davidovich, de nacionalidade russa e Halina Czerny Stefańska, polonesa, bisneta do famoso compositor e pedagogo musical Carl Czerny. Todos os candidatos franceses, tchecos, italianos, austríacos, ingleses, alemães e húngaros foram desclassificados. Oriano e Carmen Vitis Adnet ficaram entre os grandes finalistas. Do continente americano, classificaram-se apenas os dois brasileiros e Carlos Rivero, representante do México. Foram conferidos cinco diplomas de distinção a apenas cinco concorrentes: Oriano e Carmen, Carlos Rivero, Ludmila Sosina (Rússia) e Imre Szendrei (Hungria).
"O concurso havia terminado auspiciosamente para o Brasil, pois teve dois concorrentes premiados com diplomas de distinção”, comenta [GALVÃO, ibidem, 122-3].  

Como prêmio, além do respectivo diploma, Oriano recebeu a quantia de 50 mil złotys. Após o célebre Concurso Internacional, ele deixou-se ficar na Europa até julho de 1950, aproveitando para fazer uma viagem a Paris e outras cidades europeias. Durante sua permanência em Paris, a convite do British Council de Londres, esteve nessa cidade por uma semana, a fim de conhecer a vida musical da cidade. Assim como sempre fazia, Oriano visitou os lugares por onde Chopin passara na capital inglesa, numa peregrinação emocional. Antes de voltar a Paris, visitou Oxford.

IX. PARIS: o reencontro com Íris Bianchi

Em Paris, reencontrou uma pianista brasileira que conhecia desde os tempos do curso de Magdalena Tagliaferro no Rio e em São Paulo: Íris Bianchi, que estava em Paris aperfeiçoando-se com Marguerite Long e Ives Nat. “O destino parecia aproximar os jovens artistas proporcionando um reencontro num ambiente favorável ao despertar de emoções e estímulos à sensibilidade”, comenta Galvão. (cf. [GALVÃO, ibidem, 146]) Oriano residia no Hotel Mont Blanc e, a pedido de Íris, mudou-se para o Hotel Lauriston, situado na Rua Lauriston nº 51, onde residiam Íris e uma amiga Zeíla. Na ocasião, ele compôs “La Rue Lauriston”, fixando o local e o momento que vivia; do mesmo período são “Aquele realejo de Pigalle”, “Montparnasse Adieu”, “Quando as nuvens eram nossas” e “Valsa de Paris”.

Oriano descobrira na Rua Lauriston a residência do casal polonês Woydatt, que mantinha o “Foyer Polonais”, uma organização para refugiados de Guerra, que recebia hóspedes e funcionava como se fosse um consulado informal. Oriano frequentava o local e era sempre bem recebido pelas suas ligações com a Polônia e Chopin. Jantava lá quase sempre, saboreando os deliciosos pratos poloneses servidos aos frequentadores. Em breve, Íris e Zeíla tornaram-se, também, assíduas habituées do local.

O grupo homogêneo constituído pelos casais René Cavé e Zeíla São João, Íris e Oriano viajaram em seguida à Itália, tendo estado em Milão, Veneza, Bolonha, Florença, Assis, Roma, Nápoles, Ilha de Capri, Pompeia, Perúgia, Monte Cassino, etc. Completando seu giro turístico, Oriano visitou ainda a Espanha e Portugal, retornando de Lisboa ao Rio de Janeiro, no mês de julho de 1950.

X. Turnês pelo Brasil e Paraguai

Foi na Bahia o primeiro compromisso de Oriano nesta nova fase da vida, tendo realizado em 7 de novembro concerto no Teatro do Instituto Normal, promovido pela Secretaria de Educação. Retornando ao Rio, apresentou em 9 do mesmo mês recital no Teatro Municipal, tocando autores variados. Para encerrar o ano em grande estilo, apresentou um recital, no auditório da Sociedade Artística Internacional em 7 de dezembro.

Registre-se ainda no ano de 1950 a transferência definitiva de Waldemar de Almeida para o Recife, insatisfeito e sentindo-se desprestigiado; ele, que desde 1929 dirigia o ensino sistemático de piano em Natal através de seu Instituto de Música, deixava então essa instituição que passaria daqui para frente a ser sustentado pela boa vontade de algumas de suas ex-alunas.

O ano de 1951 foi muito movimentado para Oriano e se iniciou logo com novos compromissos: primeiro, com um recital em Belo Horizonte, no Teatro Francisco Nunes no dia 21 de janeiro, inaugurando a temporada de concertos da Cultura Artística daquela cidade. Em 9 de março já estava em Natal, abrindo a temporada de 1951 da Sociedade de Cultura Musical, no Theatro Carlos Gomes. Seguiram-se recitais em João Pessoa (12/3), Fortaleza (29/3) e São Luís (3/4). Retornando a Natal, apresentou um recital Chopin no auditório da Rádio Poti (6/4). O que os jornais chamaram de “Grandioso Recital de Despedida do Pianista Oriano de Almeida” teve lugar no Theatro Carlos Gomes, em 9 de maio.

Voltando ao Rio e atendendo a um convite do Rotary Club de Aracaju, tocou no IHG de Sergipe (4/6) e fundou a SCAS-Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, cuja direção ficou a cargo de amigos sergipanos. Em 5/6, proferiu palestra para a juventude e em 6/6 tocou um recital Chopin.

Em seguida, Oriano deslocou-se até Salvador onde, em 14/6, na Secretaria de Educação, apresentou, na primeira parte, um recital enriquecido por uma palestra e análise interpretativa da Sonata Appassionata, de Beethoven; na segunda parte, desenvolveu o tema da obra dos compositores em face do seu ambiente, ilustrando cada parte com a execução de suas peças.

Continuando sua excursão artística pelo País, ainda tocou em Petrópolis (fins de setembro). Em seguida, apresentou recital em Teresópolis (20/10).

As atividades artísticas no ano de 1952 iniciaram-se com um recital em Lavras (16/2) e em Caxambu, no Hotel Glória. Seguiu para Belo Horizonte, onde tocou no Teatro Francisco Nunes (1/3). Em seguida, foi a vez de Ouro Fino e Pouso Alegre.

Continuando sua excursão artística rumo ao interior paulista, tocou em Piracicaba (11/3), em Marília (15/3), em Garças (20/3) e em Bauru (25/3).

Nesta altura, recebeu dois convites: um da Embaixada do Brasil na Argentina, para um concerto oficial, acompanhado de orquestra, no Teatro Colón de Buenos Aires, e outro do Instituto Paraguai-Brasil para uma audição em Assunção. Tendo-os aceito, em meados de maio já estava em Montevidéu, onde se casou com Íris Bianchi, desquitada de um casamento anterior. Em Assunção, Oriano apresentou um recital (18/6), no Teatro Municipal. Viajando, em seguida, a Buenos Aires para se preparar para o concerto oficial promovido pela Embaixada brasileira, aconteceu o inesperado: Eva Perón veio a falecer. Pela comoção nacional que se seguiu, foram adiados todos os concertos oficiais do Teatro Colón.

Voltando ao Rio, o casal Bianchi-Oriano foi morar na Rua Anita Garibaldi, em Copacabana, onde ele residia, quando solteiro.
Em 19/8, convidado pela Prefeitura de Pouso Alegre, Oriano voltou a tocar nessa cidade. Em 8/11, a convite da SCAS, voltou a tocar no auditório do IHG de Sergipe. Voltando ao Rio, tocou um recital no Salão Nobre do Automóvel Club do Brasil (10/12). E para encerrar o ano ainda tocou no auditório da Sociedade Artística Internacional em Belém (30/12).

1953 foi, também, um ano de muitas excursões artísticas para Oriano. Nos dias 1º e 2 de janeiro já dava recitais em Macapá sob o patrocínio da Sociedade de Cultura Artística. Em Manaus se apresentou no Teatro Amazonas em 15 e 22 de janeiro. De volta a Macapá, tocou nas festas comemorativas do 1º aniversário do Conservatório Amapaense de Música (31/1).

Seguiu-se uma turnê por cidades do interior paulista. O recital de Marília ocorreu em 14 de março; em seguida, vieram recitais em Araçatuba (21/3), Garça (31/3), Rio Preto (4/4), Araraquara (9/4), Jaú (10/4) e Bauru (11/4).

Na cidade de São Paulo, ainda ofereceu dois recitais no auditório da Sociedade de Cultura Artística (18 e 19 de agosto).

Por essa ocasião, Oriano foi contactado por Helena Magalhães Castro, presidente da Instrução Artística do Brasil, convidando-o para uma turnê nos Estados Unidos. Durante o mês de setembro efetivou-se o convênio entre a Instrução Artística do Brasil e a National Music League de New York. Por esse programa Oriano seria o primeiro brasileiro a se apresentar nos Estados Unidos em março do ano seguinte. Do lado norte-americano, a soprano Shirlee Emmons já excursionava pelo Brasil, iniciando o programa.

Enquanto isso, Oriano apresentou-se no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, como recitalista do 307º sarau organizado pela Cultura Artística (27/10).

Em seguida, seguiu para o interior paulista para mais uma excursão artística. Iniciando por Santos, em recital promovido pelo Centro de Expansão Cultural (28/10), apresentou-se ainda em Jaboticabal (8/11), Mogi-Mirim (23/11) e Amparo (25/11).

XI. Duo Pianístico Íris Bianchi-Oriano de Almeida

1954 superou o ano anterior em emoções e número de compromissos. Em 8 de março, o “Duo Íris Bianchi-Oriano de Almeida” nascia oficialmente, em um concerto no Teatro José de Alencar, em Fortaleza, patrocinado pela Sociedade Pró-Arte. Em Belém, em 20 de março repetiram o programa no Teatro da Paz, com o patrocínio do Jóquei Club do Pará. Nessa primeira audição, foi apresentado o seguinte programa:
I
Bach: Jesus, alegria dos homens
Brahms: Variações sobre um tema de Haydn
II
Chopin-Lizst: Canto polonês
Schumann: Andante com variações
III
Homer Simons: The lobster quadrille
Fritz Kreisler: Capricho vienense
Shostakovitch: Polka
Katchaturian: Dança do sabre

XII. Turnê pelos Estados Unidos

Agora, rumo aos Estados Unidos. A esperar o casal no grande aeroporto de New York, lá estava o violoncelista Aldo Parisot, conterrâneo de Oriano, que tomara conhecimento de sua chegada para uma turnê através do “New York Times”. Aldo conduziu-os até o Great Northern Hotel, localizado na Rua 57 West, bem perto do Carnegie Hall.

A entidade promotora do evento, a National Music League de New York, cuidou de todos os detalhes da turnê. A primeira cidade visitada foi Cheltenham, perto de Philadelphia, no Estado da Pensilvânia. Oriano foi apresentado pela Cheltenham Community Concert Series e, em 28/3, realizou o primeiro recital daquela turnê, no auditório da Cheltenham High School. A segunda parada foi Emmaus (29/3), onde tocou na Emmaus High School. No dia seguinte, tocou no Century Club da cidade de Scranton.

Em 1º de abril, a convite do embaixador do Brasil nos Estados Unidos e do Conselho da O.E.A., Oriano apresentou um recital no Hall of the Americas, da Pan American Union.

No dia 4 de abril, foi a vez de New Bedford, perto de Boston, no Estado de Massachussets. O recital foi realizado no New Bedford High School Auditorium, em benefício do fundo escolar de The Portuguese Educational Society.

Dois dias depois tocou no Morning Music Club em Nyack, Estado de New York.

O primeiro contato de Oriano com o Estado do Tennessee se deu na cidade de Kingsport, tocando no auditório da Tennessee Eastman Recreation Club (9/4). A seguir, em 12 de abril se apresentou no Memphis State College Auditorium na cidade de Memphis.

No dia seguinte, o seu recital ocorreu no auditório do Memorial Building, na cidade de Clarksville, no Tennessee, promovido pela Clarksville Concert Association.

No Tilghman Auditorium, na cidade de Paucah, no Kentucky, Oriano apresentou recital no dia 15.

Em 22 de abril foi a vez de Chesterton, em Maryland ouvir Oriano, que se apresentou no William Smith Hall, repetindo a audição no dia seguinte.

A próxima escala foi na cidade de Madison, em Wisconsin, onde tocou no Temple Beth El Auditorium, no dia 25 de abril.

A turnê foi concluída em 27 de abril com um concerto na cidade de Duluth, em Minnesota, apresentado no College of St. Scholastica.

O ponto alto da excursão foi a apresentação em New York. Ali, Oriano atuou como solista do Concerto nº 2 para piano e orquestra, de Chopin, acompanhado pela Orquestra Sinfônica da NBC-National Broadcasting Company, num programa em transmissão ao vivo para cerca de quinhentos mil espectadores.

XIII. Turnês pelo Brasil

De volta ao Brasil no início de maio, Oriano já se apresentava no Teatro Amazonas de Manaus com dois recitais: em 20/5 e em 30/5. Em Belém, também se apresentou em dois recitais: em 10/6 e em 18/6. Em 21/6, foi a vez do casal Íris-Oriano apresentar-se em duo em recital no Teatro Artur Azevedo, em São Luís. Em Natal, o duo se apresentou no Theatro Carlos Gomes, em comemoração ao cinquentenário desse estabelecimento. Na ocasião, foi interpretada a peça “The Gazelle”, dedicada ao duo pela autora Gisella Augusta Zuckermann (1887-1981), residente em Miami.

A convite do Rotary Club, apresentou-se em Mossoró (3/8) e Campina Grande (12/8). E em ambas as cidades, fundou, com o apoio local de pessoas influentes, Sociedades Pró-Música.

Galvão relata na página 160: “Regressando a Natal, Oriano trazia a ideia da criação de uma instituição – União das Sociedades Artísticas do Nordeste – que congregaria as sociedades já existentes e as que fossem sendo criadas, numa atividade de coordenação que só benefícios traria à arte musical da região. Tal entidade não chegou, entretanto, a se materializar.”

O casal retorna a Campina Grande, desta vez para um concerto de Íris Bianchi (9/9). Em Natal, Oriano apresentou um Recital Chopin no Theatro Carlos Gomes (24/9).

XIV. NATAL: Curso Oriano de Almeida

Desde 1950, ano da partida de Waldemar de Almeida para o Recife, Natal ressentia-se da falta de um professor de piano de alto nível. Oriano inicialmente aceitou dar simples instruções e orientações sem compromisso a algumas alunas.

Animado com o progresso de suas alunas e pressionado por amigos, foi transformando aquelas reuniões informais em aulas. O projeto tomou tal vulto que Oriano foi obrigado a transferir essas aulas para o salão Alberto Maranhão do Theatro Carlos Gomes, onde havia um belo piano de cauda pertencente à Sociedade de Cultura Musical. Em 19 de outubro já se realizava a I Aula de Interpretação Musical nos moldes do curso de Magdalena Tagliaferro, o primeiro de cinco eventos. Essa primeira aula contou com a participação de duas alunas apenas. “Foi tão grande a repercussão do evento que os pianistas da cidade já começavam a se articular para promoverem outras oportunidades como aquela. Estava lançado o embrião do ‘Curso Oriano de Almeida’”, registra [GALVÃOibidem, 162].

Ainda, em 26 de outubro, Oriano tocou para os oficiais da marinha no Clube dos Oficiais da Base Naval de Natal. Em seguida, o casal foi até o Recife para rever o padrinho e mestre Waldemar de Almeida que continuava a manter o “Curso Waldemar de Almeida” na Rua Aragão, com muitos alunos. Na ocasião, Waldemar preparava a jovem Elyanna Caldas para participar do “V Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin” na Polônia.

Em 1955, algumas experiências vieram enriquecer o duo e Oriano individualmente. Assim em março de 1955, o Duo Íris Bianchi-Oriano de Almeida foi convidado a tocar uma série de concertos promovida pela Rádio MEC do Rio de Janeiro que, com grande repercussão, era levada ao ar uma vez por semana e durante um mês. As transmissões começaram no dia 4 de abril, sempre às 21h.

Também o ano de 1955 marcou a primeira experiência de Oriano no campo da gravação fonográfica. Com o pseudônimo de Iraperi, gravou para a etiqueta “Repertório” dois discos em 78 rpm.

Ainda em março (30/3), Oriano deu um recital em São José dos Campos. Em 30/4, apresentou-se em um recital no Colégio Estadual de Sergipe, em Aracaju. Em seguida, tocou no Teatro Deodoro, de Maceió (2/5).

Enquanto isso, em Natal ainda repercutia o êxito da aula de interpretação pianística. Antes da segunda aula, Oriano apresentou um recital no Theatro Carlos Gomes, sob o patrocínio da Casa da Música (17/5). Dois dias depois, no mesmo local referido anteriormente, verificou-se a II Aula do Curso de Interpretação e Técnica Pianística (19/5), agora com a participação de quatro alunas.

Voltando ao Rio, tocou no Hotel Bela Vista de Volta Redonda (24/5) e, em seguida, no Automóvel Club do Brasil no Rio de Janeiro (28/5). Em seguida, dá um Recital Chopin, em vesperal realizada no dia 7/6, no Jóquei Club do Brasil no Rio de Janeiro.
No dia 11 de junho, tocou o Concerto nº 2, em fá menor, de Chopin, no Teatro Municipal, sob a regência de Eleazar de Carvalho. Essa experiência teve enorme repercussão no meio artístico.

No 10º aniversário do programa “Festivais G.E.”, comemorado em 22 de junho e transmitido pela Rádio Nacional, Oriano executou as “Variações Sinfônicas”, de César Franck, acompanhado pela orquestra daquela emissora, sob a regência do maestro Leo Perachi.

Promovido pela Secretaria de Educação e Cultura e patrocinado pela Primeira Dama, esposa do governador Miguel Couto Filho, foi realizado um recital de Oriano no Teatro Municipal de Niterói, no dia 9 de agosto, em benefício de obras assistenciais.
Em 15 de agosto, em Piracicaba, deu um recital em comemoração ao “Dia de Piracicaba”.

Em 25 de novembro se apresentou no Theatro Carlos Gomes, em Natal. No dia 28 de novembro oferece a suas 9 alunas a “III Aula de Interpretação Musical” do Curso Oriano de Almeida. Surpresa: na plateia a presença de um ouvinte ilustre, a de seu padrinho Waldemar de Almeida que viera de Recife especialmente para o evento, sabedor de que sua sobrinha Marluze Romano iria tocar o seu “Realejo”, da suite “Paisagens de Leque”. Aplaudiu entusiasticamente e parecia feliz pela continuação do movimento artístico que iniciara em 1929 em Natal.

A primeira atividade do ano de 1956 foi um recital do Duo Pianístico Íris Bianchi-Oriano de Almeida, promovido pela Associação de Cultura Artística, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 12 de abril.

Os primeiros meses do ano tinham sido de muito trabalho para Oriano. A Rádio MEC, cujo diretor artístico era René Cavé, planejara a realização de um concurso que tinha como objetivo divulgar o trabalho dos novos instrumentistas brasileiros. Convidado para organizar o concurso, Oriano dedicou muitas horas a essa atividade.

Do júri tomaram parte personalidades do maior prestígio e competência no cenário musical brasileiro, com destaque para os nomes de Souza Lima, Leo Perachi, Cristina Maristani, Ondina Ribeiro Dantas, Sílvio Vieira e Heitor Alimonda.

O vencedor da categoria piano receberia uma bolsa de um ano em Paris, o primeiro lugar de canto passaria um ano em Roma e o violinista ou violoncelista vencedor ganharia um ano de estágio na Alemanha. As bolsas eram concedidas pelas respectivas Embaixadas de seus países. O pianista vencedor foi Arthur Moreira Lima; Walderez Ramos foi a cantora vencedora (que abdicou de sua bolsa, concedendo ao segundo lugar, Alexandre Trick, os benefícios do prêmio); e, finalmente, o violoncelista norte-rio-grandense Ítalo Babini ganhou a bolsa para a Alemanha.

Concluídas essas atividades do concurso, Oriano retornou a Natal para mais um período de aulas do Curso Oriano de Almeida e a apresentação da “IV Aula de Interpretação Musical”, que se realizou em 4 de junho, com a participação de 9 alunas. Permanecendo em Natal, ministrou a “V Aula de Interpretação Musical” de seu curso, num intervalo de 14 dias, com a participação de 7 alunas.

Voltando ao Rio, a partir de 20 de julho, Oriano ministrou o “Curso de Interpretação Pianística”, promovido pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio de Janeiro, constando de 20 aulas.

1957 iniciou-se com o boato de que Oriano iria tocar no Town Hall de New York.

O próprio Oriano tomou todas as providências para essa apresentação e as taxas referentes ao agendamento do Town Hall já tinham sido pagas. Faltava apenas a passagem aérea para os Estados Unidos.

Foi quando em março recebeu um convite de Magdalena Tagliaferro para coordenar no Rio de Janeiro o “Concurso Tagliaferro”, que deveria escolher três bolsistas brasileiros para, com o patrocínio do Ministério da Educação e Cultura, frequentarem o curso que a própria Magdalena iria ministrar em Paris. Como paga pelo seu trabalho na coordenação do concurso, Oriano recebera do MEC a promessa da concessão de uma passagem aérea para os Estados Unidos. Assim poderia cumprir o compromisso já agendado no Town Hall. Depois de quatro meses de trabalho, o concurso foi realizado com êxito e os vencedores (Elyanna Caldas, por Pernambuco, Gilberto Tinetti, por São Paulo, e Nara de Oliveira, pelo Rio Grande do Norte) viajaram para Paris. Só que na hora de o MEC cumprir a promessa feita, alegou falta de verba; não adiantou nem mesmo a interferência de Camargo Guarnieri, então assessor do Ministro da Educação. Assim, Oriano acabou perdendo a oportunidade de se apresentar no Town Hall de New York.

Em 18 de junho se apresentou em um concerto em Natal, no qual toda a plateia se trajava a rigor, como ocorria nos grandes centros do sul do País.

Em 25 de agosto, a Mocidade Artística de São Paulo contratou Oriano para uma série de recitais didáticos intitulada “Ciclo de Interpretação de Obras de Chopin”, em 5 partes que seriam apresentadas em cinco domingos consecutivos, às 10h, no Teatro Municipal de São Paulo.

Tendo recebido o carinhoso convite de participar do curso de Magdalena Tagliaferro em São Paulo, Oriano esteve presente à 5ª aula pública, que teve na 2ª parte a apresentação da professora e do ex-aluno, interpretando duas obras clássicas do repertório para dois pianos: o Andante e Variações em si bemol maior, de Schumann, e o Scherzo Op. 87, de Saint-Saëns.

De 17 de setembro a 18 de outubro, ministrou 10 aulas do “Curso de Interpretação Chopiniana”, sob os auspícios da Academia de Música Lorenzo Fernandez do Rio de Janeiro.

Ainda 22 de outubro estava em Santos apresentando, no auditório da Rádio Clube de Santos, um recital promovido pela Sociedade Cultura Artística.

O Ciclo de Interpretação Musical, em 5 aulas públicas (de 12 a 16 de novembro) que fez parte do “Curso Oriano de Almeida”, buscando novos horizontes para sua expansão, foi ministrado no Teatro Santa Isabel, sob o patrocínio da Diretoria de Documentação e Cultura de Recife. Dele participaram 8 alunas.
(Continua na próxima Parte 15 de 2010-Ano Chopin)


NOTAS DO AUTOR DO BLOG


¹ Jorge Lima de Moura (com o nome literário de Moura Lima): Veredão - Contos Regionais e Folclóricos, com prefácio de Eduardo Campos, Ed. Cometa, Gurupi, TO, 1999, 1ª edição, p. 140. Com esse livro de contos obteve o autor o Prêmio Malba Tahan de Literatura/2000 do Concurso Brasil 500 anos, da Academia Carioca de Letras e da União Brasileira de Escritores-RJ.

²  U.S.O. são as iniciais de United Service Organization.

³ A song to remember, produzido pela Columbia Pictures em janeiro de 1945, foi dirigido por Charles Vidor e estrelado por Cornel Wilde (Chopin) e Merle Oberon (George Sand). Teve indicações para seis Oscars, inclusive o de melhor ator.

Fatos curiosos sobre o relacionamento com Marguerite Long são relatados por Tagliaferro em "Quase tudo... Memórias de Magdalena Tagliaferro". Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1979.


Imagens:
1. Oriano no auge de sua carreira 
2. Oriano tocando no caminhão-palco: ao fundo, Instituto Padre João Maria em Natal, 6 de abril de 1946 - Crédito: Cláudio Galvão, p. 128 do seu livro.
3. Oriano de Almeida em recital no antigo Theatro Carlos Gomes, hoje Teatro Alberto Maranhão, em Natal


* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ e Fundação Oscar Araripe em Tiradentes-MG. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...

20 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro Braga,

Sem querer descobri o seu blog onde aparece uma materia sobre meu tio Oriane (o) de Almeida.

Gostaria de esclarecer que nossas origens são portuguesa e italiana e não portuguesa e francesa como consta na referida materia.

Um grande abraço,

Raymundo ALMEIDA

Michelle Ren disse...

Importante principalmente por causa da sua interação com as mensagens nesta conversa.

Álvaro Henrique disse...

Parabéns, Braga!
Abraços,
Álvaro Henrique

Ofélia Torres disse...

Braga, bom dia,

Parabéns pelo artigo sobre ORIANO DE ALMEIDA .Gostaria de fazer uma referência sobre NELSON FREIRE sobre o concerto que realizou em S.S.Del Rey pelo aniversário de 67 anos..Você poderia me ajudar? Abs, Ofelia

Marcelo Câmara disse...



10:18 (34 minutos atrás)

para mim

Prezado Braga,
Recebi mensagens de Oriano pouco antes do seu falecimento. Minha família - Luís da Câmara Cascudo e José Augusto da Câmara Torres, meu pai (membro da Academia Valenciana de Letras) - foram seus amigos próximos. Recebi autobiografia de Oriano, com dedicatória dele. Ele partiu, creio, sem ler meus dois ensaios sobre Chopin, que você conhece. Não me lembro se cheguei a enviar para ele os dois textos. Vou ler o seu trabalho, certamente, ótimo, como tudo que você produz, com sabedoria e paixão. Abraço do amigo Marcelo.

Lúcio Flávio Baioneta disse...

Carissimo amigo Francisco Braga, parabens mais uma vez pelo seu brilhantismo.
Abs do Lucio Flavio.

João Carlos Taveira disse...

Prezado Francisco Braga,

Ótimo seu artigo sobre Oriano de Almeida, o grande pianista brasileiro morto em 2004. Sabe, amigo, Oriano publicou um livro sobre Debussy, em 1997, e só agora pude ler a biografia do autor de Prélude à l'après-midi d'un faune. Encantado com o livro, escrevi um artigo comentando. Parabéns e obrigado pelo envio. João Carlos Taveira

Prof. José Maurício de Carvalho disse...

Parabéns Francisco. Acompanho com interesse seu esforço. Um abraço do José Mauricio

Fernando Teixeira disse...

Prezado Francisco Braga,
Sua presença nas artes, seja da música, seja da literatura, é digna de encômios. Parabéns,
caro Francisco.
Fernando Teixeira

Edson Zampronha disse...

Prezado Francisco,
Prezado Braga,
Parabéns por esta publicação. Vou consultar seu texto.
Estou seguro de que será de grande interesse.

Um abraço,
Edson.
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***** www.zampronha.com
***** www.myspace.com/zampronha

Edson Zampronha disse...
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Esaú Reis disse...

Que maravilha, Braga. Ja li este teu artigo, excelente como sempre. Saudades, meu prezado amigo. Como estás?

Por aqui me enfiei numa ralação como nunca imaginei pra minha vida. Estou montando um instituto de música. Por enquanto, nessa fase de estruturação, tá bem difícil, mas em breve vamos inaugurar gloriosamente (assim espero).
Não deixe de me contactar, quando aparecer por aqui, viu?
Grande abraço,
Esaú.

Maria do Carmo Neves disse...

Prezado Francisco,
São leituras muito interessantes e me trazem muita alegria.
Abraços,
Carminha

Mário Pellegrini Cupello disse...

Prezado amigo Francisco,

Não por acaso o Portal Concertino hospedou este excelente trabalho de pesquisa de sua autoria!
Começamos a ler a 1ª parte e já percebemos a importância de Oriano de Almeida, que dedicou sua vida à música de Chopin.

Parabéns por sua permanente e incansável preocupação em exaltar o nome de personalidades, como a de Oriano, em um País que parece ter memória curta.
Abraços, Mário.

Sérgio da Costa e Silva disse...

Francisco Braga:

Parabéns! Sérgio da Costa e Silva- Música no Museu.

Denis Molitsas disse...

Prezado Francisco,
Lendo seu belíssimo texto sobre Oriano de Almeida me veio uma dúvida.
Iris Bianchi faleceu em 2011.
Você saberia me dizer a data de nascimento dessa pianista?
Obrigado por sua atenção.
Abraços,
Denis Molitsas

Unknown disse...

Tive a satisfação de conviver com Oriano durante três anos pois trabalhava no hotel onde ele morou nos seus últimos anos de vida..... além de gênio, tinha um coração enorme.... lembro me de Cláudio Galvão...esse sim sempre estava lá cuidava muito bem dele é também se não me falhe a memória ía uma senhora de nome Luíza....

Unknown disse...

Parabéns pelo artigo sempre bom lembrar pessoas que contribuíram de forma honesta e genial nesse país....

Unknown disse...

Prezado Braga

Em primeiro lugar parabéns pelo artigo. Maravilhoso e divina toda a cronologia da vida deste brilhante pianista brasileiro tão pouco difundido em nossa sociedade brasileira. Gostaria de deixar aqui meu sincero agradecimento pois meu Bisavô Orlando era irmão da pianista Íris Bianchi e estou tentando encontrar algum dado sobre ela para verificar se ela deixou descendentes. Minha família toda é música em função das origens italianos do nonno que tocava violino e migrou ao Brasil em 1897. Se por acaso tiver alguma informação sobre a Iris agradeço de coração. Abs fraternos Miriam Lara Netto

Elyanna Caldas disse...

Iris Bianchi comemoraria, se viva fosse, cem anos no dia 28/07/2020.Amanhã portanto. Uma homenagem póstuma lhe será prestada às15 hs no Facebook pela pianista Elyanna Caldas