Por Ioánis Aslanídis
General de Divisão
Comandante emérito da Escola Militar de Cadetes
Traduzido do grego por Francisco José dos Santos Braga
Traduzido do grego por Francisco José dos Santos Braga
Porventura quantos de nós sabemos o significado da célebre frase que Leônidas disse nas Termópilas em 480 a.C., quando Xerxes lhe exigiu a entrega de suas armas
(τα όπλα του)
?
Então, ele respondeu com a frase "Molón labé" (Μολών λαβέ). O fato de que não sabemos o real significado dessa frase transparece até mesmo através do pensamento dos tradutores dessa antiga frase, como "Venha tomá-las".
Sim! Vemos também nos filmes estrangeiros da Guerra das Termópilas, traduzirem a frase "Come and get them!".
Sim! Vemos também nos filmes estrangeiros da Guerra das Termópilas, traduzirem a frase "Come and get them!".
Entretanto, Leônidas, quando dizia essa frase ("Molón labé"), não queria dizer "Venha tomá-las!"
Em sua conferência, anos atrás, o excelente lente de filologia clássica e historiador Sr. Antónis Antonákos nos explicava e nos justificava à exaustão porque o lacedemônio Leônidas não disse o evidente "Venha tomá-las" (Ελθών λαβέ" pron. Elthón labé), e sim disse o "Μολών λαβέ". Sabemos que, na língua grega, para se enunciar o verbo "vir" ou "rumar" ou "ir", etc., existem dezenas de formas, cada uma das quais possui específica diferença semântica uma da outra e enuncia algo até mesmo um pouco diferente. Quando os antigos Gregos usavam o verbo "βλώσκω", – que tem no tempo aoristo 2 "ἔμολον" e particípio do aoristo "μολών", – queriam dizer: vir de vez em quando ou ir às vezes, porém, primeiro, encontrar as reservas psíquicas, isto é, a coragem da alma. Em suma: quando Leônidas respondeu à exigência de Xerxes com o "Molón labé", não queria dizer simplesmente "venha tomá-las", mas "Ache primeiro a coragem e depois venha tomá-las"; ou como diríamos simplesmente: "Se tiver coragem, venha tomá-las".
E nessa frase observamos a superior, riquíssima em significados e única língua grega, que possibilita que cada pensamento possa ser expresso com a palavra adequada.
Obviamente é conhecida a expressão que os angloamericanos usam, quando procuram achar a palavra adequada para algum conceito: "Os Gregos terão uma palavra sem dúvida para isso".
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Leônidas: "Se tiver coragem, venha tomá-las!" |
Finalmente, Leônidas com a frase "Molón labé", – e não com aquela "Elthón labé", – por um lado, animou os seus guerreiros e, por outro lado, enviou a mensagem a Xerxes para compreender qual Exército o esperava e com que moral.
Fonte: http://www.voicenews.gr/index.php/ethnika-themata/91078-molon-lave.html
AGRADECIMENTO
Agradeço ao Prof. Aléxandros Orfanídis, residente em Atenas, a sugestão de que eu traduzisse o presente texto para a língua portuguesa, lançando luz sobre um fato histórico marcante não só para a civilização grega, mas também para toda a civilização ocidental.
AGRADECIMENTO
Agradeço ao Prof. Aléxandros Orfanídis, residente em Atenas, a sugestão de que eu traduzisse o presente texto para a língua portuguesa, lançando luz sobre um fato histórico marcante não só para a civilização grega, mas também para toda a civilização ocidental.
7 comentários:
Este artigo traduzido por mim é mais um de uma série de artigos e ensaios que venho produzindo sobre a língua, cultura e tradição gregas, descrição de viagens à Grécia e assim por diante.
Foi escrito por um General de Divisão e comandante emérito da Escola Militar de Cadetes, sobre a real intenção de Leônidas, rei de Esparta no estreito de Termópilas, ao responder à exigência de Xerxes, comandante do exército persa, para entregar as armas. O rei persa teria feito tal exigência por ter observado de cima de uma elevação do terreno, sentado em um trono de ouro, a esmagadora superioridade do seu exército de alguns milhões de soldados contra apenas 300 guerreiros espartanos. Leônidas teria respondido com a frase: "Molón labé!" Ao invés de "Venha tomá-las!", o autor sugere outra tradução, corrigindo os tradutores que o precederam.
Aprecie a argumentação do autor, para chegar à sua conclusão.
Prezado confrade, boa tarde. Um texto realmente interessante e provocador. Vou relê-lo, pois vale a pena. Saudações para a Rute. Abraço do Fernando Teixeira
Prezado amigo Braga,
Parabéns pela tradução e é, sem dúvida, fabuloso texto cultural.
Desejo sucesso e ler seus textos é também aprender no dia a dia da vida.
Muito obrigado amigo,
Passos de Carvalho, presidente da ALL
Muito interessante esse significado.
Prezado amigo, FJSBraga,
Volta e meia você desafia-me, e leva-me para as portentosas aulas de história do nosso inesquecível professor, Domingos Horta.
Vamos voltar.
Vamos novamente sentar nas carteiras históricas de nosso Ginásio Santo Antônio, nesta minha inesquecível e amada cidade de São João Del Rey.
As brumas do tempo, talvez façam-me esquecer alguns detalhes. Perdoe-me.
Gostei muito dos argumentos apresentados pelo ilustre general grego, tradutor, muito meticuloso, pragmático e objetivo. Mudei, face aos argumentos apresentados, a minha tradução, para a expressão grega "Molón labé", ou seja Leônidas na verdade queria dizer a Xerxes, segundo este tradutor: "Se tiver coragem, venha tomá-las". Acredito.
As Termópilas, portões de fogo, na mitologia grega era uma das entradas cavernosas para o Hades. Um local mítico.
Uma eminente historiadora inglesa, em seu magnifico livro "Os portões de fogo", relata minuciosamente aquela portentosa batalha onde, na minha opinião, e já expressei isto mais de uma vez, foi decidida a história da civilização ocidental.
Você já imaginou se o persas tivessem vencido e destruído a civilização grega? Como seríamos hoje?
Nada da magnífica civilização greco-romana teria existido. Nada.
O que isto representaria nos dias de hoje? Onde realmente estaríamos? Não existiria o século de Péricles, não existiria Roma, não existiria o ocidente, só o Oriente, só a civilização dos persas.
Nada mais importante que o epitáfio aos 300 de Esparta, que teria sido escrito por Simônides de Ceos e que aqui repito:-
"Digam, aos espartanos, estranhos que passam, que aqui, obedientes às suas leis, jazemos",
ou em outra tradução de Maria Helena da Rocha Ferreira, in Hélade, 6a ed. Coimbra, FLUC, 1995, p.148:
"Estrangeiro, vai contar aos Lacedemônios que jazemos aqui, por obedecermos às suas normas".
Se os 300 de Esparta, sob o comando do rei Leônidas, não tivessem detido por 3 dias os milhões do exército de Xerxes, a história de nossa civilização seria outra.
Existem batalhas que escreveram a história da humanidade neste planeta; uma delas, com certeza, é a Batalha das Termópilas.
Abraços.
Obrigado por tirar minha dúvida excelente artigo!!
Em 2006, o filme “300”, baseado nos quadrinhos homônimos de Frank Miller e Lynn Varley, adaptados por Zack Snyder, divulgou entre o público moderno bra- sileiro a máxima “molon labe”, fala atribuída por Plutarco (Frases lacônicas 225d, 51.10) ao rei espartano Leônidas, que, diante da proposta de rendição trazida pelo emissário do rei persa, lhe teria dito: “Venham pegá-las [as armas]”.
A frase circula como inspiração entre novos adeptos do pensamento autoritário. Renasce por aí um filoespartanismo militarizante em versão século XXI. A tatuagem μολὼν λαβέ virou moda e pode ser vista em braços musculosos malhando em academias, circulando, conforme o historiador Gunter Axt (2018, p. 74), como “símbolo de heroísmo, obstinação, senso de missão, desprendimento, resistência e masculinidade. É um ícone do militarismo. É uma espécie de brado simbólico que resistiu se opondo à oração fúnebre do líder ateniense Péricles, de 430 a.C., que saudava a memória dos soldados abatidos na luta contra Esparta”.
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