quarta-feira, 22 de março de 2017

O REAL SIGNIFICADO DA RESPOSTA DE LEÔNIDAS À EXIGÊNCIA DE XERXES


Por Ioánis Aslanídis
General de Divisão
Comandante emérito da Escola Militar de Cadetes 
Traduzido por Francisco José dos Santos Braga


Porventura quantos de nós sabemos o significado da célebre frase que Leônidas disse nas Termópilas em 480 a.C., quando Xerxes lhe exigiu a entrega de suas armas (τα όπλα του)

Então, ele respondeu com a frase "Molón labé" (Μολών λαβέ). O fato de que não sabemos o real significado dessa frase transparece até mesmo através do pensamento dos tradutores dessa antiga frase, como "Venha tomá-las". 

Sim! Vemos também nos filmes estrangeiros da Guerra das Termópilas, traduzirem a frase "Come and get them!".

Entretanto, Leônidas, quando dizia essa frase ("Molón labé"), não queria dizer "Venha tomá-las!"

Em sua conferência, anos atrás, o excelente lente de filologia clássica e historiador Sr. Antónis Antonákos nos explicava e nos justificava à exaustão porque o lacedemônio Leônidas não disse o evidente "Venha tomá-las" (Ελθών λαβέ" pron. Elthón labé), e sim disse o "Μολών λαβέ". Sabemos que, na língua grega, para se enunciar o verbo "vir" ou "rumar" ou "ir", etc., existem dezenas de formas, cada uma das quais possui específica diferença semântica uma da outra e enuncia algo até mesmo um pouco diferente. Quando os antigos Gregos usavam o verbo "βλώσκω", que tem no tempo aoristo 2 "ἔμολον" e particípio do aoristo "μολών", queriam dizer: vir de vez em quando  ou ir às vezes, porém, primeiro, encontrar as reservas psíquicas, isto é, a coragem da alma. Em suma: quando Leônidas respondeu à exigência de Xerxes com o "Molón labé", não queria dizer simplesmente "venha tomá-las", mas "Ache primeiro a coragem e depois venha tomá-las"; ou como diríamos simplesmente: "Se tiver coragem, venha tomá-las".

E nessa frase observamos a superior, riquíssima em significados e única língua grega, que possibilita que cada pensamento possa ser expresso com a palavra adequada.

Obviamente é conhecida a expressão que os angloamericanos usam, quando procuram achar a palavra adequada para algum conceito: "Os Gregos terão uma palavra sem dúvida para isso".

Leônidas: "Se tiver coragem, venha tomá-las!"

Finalmente, Leônidas com a frase "Molón labé", e não com aquela "Elthón labé", por um lado, animou os seus guerreiros e, por outro lado, enviou a mensagem a Xerxes para compreender qual Exército o esperava e com que moral.

Fonte: http://www.voicenews.gr/index.php/ethnika-themata/91078-molon-lave.html



AGRADECIMENTO


Agradeço ao Prof. Aléxandros Orfanídis, residente em Atenas, a sugestão de que eu traduzisse o presente texto para a língua portuguesa, lançando luz sobre um fato histórico marcante não só para a civilização grega, mas também para toda a civilização ocidental.

7 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Este artigo traduzido por mim é mais um de uma série de artigos e ensaios que venho produzindo sobre a língua, cultura e tradição gregas, descrição de viagens à Grécia e assim por diante.
Foi escrito por um General de Divisão e comandante emérito da Escola Militar de Cadetes, sobre a real intenção de Leônidas, rei de Esparta no estreito de Termópilas, ao responder à exigência de Xerxes, comandante do exército persa, para entregar as armas. O rei persa teria feito tal exigência por ter observado de cima de uma elevação do terreno, sentado em um trono de ouro, a esmagadora superioridade do seu exército de alguns milhões de soldados contra apenas 300 guerreiros espartanos. Leônidas teria respondido com a frase: "Molón labé!" Ao invés de "Venha tomá-las!", o autor sugere outra tradução, corrigindo os tradutores que o precederam.
Aprecie a argumentação do autor, para chegar à sua conclusão.

Prof. Fernando Teixeira (professor universitário, escritor e membro da Academia Divinopolitana de Letras, onde é Secretário Geral) disse...

Prezado confrade, boa tarde. Um texto realmente interessante e provocador. Vou relê-lo, pois vale a pena. Saudações para a Rute. Abraço do Fernando Teixeira

Anônimo disse...

Prezado amigo Braga,
Parabéns pela tradução e é, sem dúvida, fabuloso texto cultural.
Desejo sucesso e ler seus textos é também aprender no dia a dia da vida.
Muito obrigado amigo,
Passos de Carvalho, presidente da ALL

Stefânio Rodrigues Pires (vereador de São João del-Rei e mentor de meu Diploma de Honra ao Mérito a mim concedido pela Câmara Municipal são-joanense) disse...

Muito interessante esse significado.

Dr. Lúcio Flávio Baioneta (escritor, autor do livro "De banqueiro a carvoeiro", conferencista e proprietário da Análise Comercial Ltda) disse...

Prezado amigo, FJSBraga,
Volta e meia você desafia-me, e leva-me para as portentosas aulas de história do nosso inesquecível professor, Domingos Horta.
Vamos voltar.
Vamos novamente sentar nas carteiras históricas de nosso Ginásio Santo Antônio, nesta minha inesquecível e amada cidade de São João Del Rey.
As brumas do tempo, talvez façam-me esquecer alguns detalhes. Perdoe-me.

Gostei muito dos argumentos apresentados pelo ilustre general grego, tradutor, muito meticuloso, pragmático e objetivo. Mudei, face aos argumentos apresentados, a minha tradução, para a expressão grega "Molón labé", ou seja Leônidas na verdade queria dizer a Xerxes, segundo este tradutor: "Se tiver coragem, venha tomá-las". Acredito.

As Termópilas, portões de fogo, na mitologia grega era uma das entradas cavernosas para o Hades. Um local mítico.
Uma eminente historiadora inglesa, em seu magnifico livro "Os portões de fogo", relata minuciosamente aquela portentosa batalha onde, na minha opinião, e já expressei isto mais de uma vez, foi decidida a história da civilização ocidental.
Você já imaginou se o persas tivessem vencido e destruído a civilização grega? Como seríamos hoje?
Nada da magnífica civilização greco-romana teria existido. Nada.
O que isto representaria nos dias de hoje? Onde realmente estaríamos? Não existiria o século de Péricles, não existiria Roma, não existiria o ocidente, só o Oriente, só a civilização dos persas.

Nada mais importante que o epitáfio aos 300 de Esparta, que teria sido escrito por Simônides de Ceos e que aqui repito:-

"Digam, aos espartanos, estranhos que passam, que aqui, obedientes às suas leis, jazemos",

ou em outra tradução de Maria Helena da Rocha Ferreira, in Hélade, 6a ed. Coimbra, FLUC, 1995, p.148:

"Estrangeiro, vai contar aos Lacedemônios que jazemos aqui, por obedecermos às suas normas".

Se os 300 de Esparta, sob o comando do rei Leônidas, não tivessem detido por 3 dias os milhões do exército de Xerxes, a história de nossa civilização seria outra.

Existem batalhas que escreveram a história da humanidade neste planeta; uma delas, com certeza, é a Batalha das Termópilas.

Abraços.

L!nden disse...

Obrigado por tirar minha dúvida excelente artigo!!

Apresentação dos Organizadores no livro "ESTUDOS SOBRE ESPARTA" (Editora UFPel, 2019, 263 pp.) disse...

Em 2006, o filme “300”, baseado nos quadrinhos homônimos de Frank Miller e Lynn Varley, adaptados por Zack Snyder, divulgou entre o público moderno bra- sileiro a máxima “molon labe”, fala atribuída por Plutarco (Frases lacônicas 225d, 51.10) ao rei espartano Leônidas, que, diante da proposta de rendição trazida pelo emissário do rei persa, lhe teria dito: “Venham pegá-las [as armas]”.
A frase circula como inspiração entre novos adeptos do pensamento autoritário. Renasce por aí um filoespartanismo militarizante em versão século XXI. A tatuagem μολὼν λαβέ virou moda e pode ser vista em braços musculosos malhando em academias, circulando, conforme o historiador Gunter Axt (2018, p. 74), como “símbolo de heroísmo, obstinação, senso de missão, desprendimento, resistência e masculinidade. É um ícone do militarismo. É uma espécie de brado simbólico que resistiu se opondo à oração fúnebre do líder ateniense Péricles, de 430 a.C., que saudava a memória dos soldados abatidos na luta contra Esparta”.