segunda-feira, 13 de novembro de 2017

11 de Novembro, DIA DA INDEPENDÊNCIA PARA OS POLONESES


Por Francisco José dos Santos Braga (tradutor)


QUANDO RAIOU A LIBERDADE: O 11 DE NOVEMBRO DE 1918  ¹


O 11 de Novembro foi celebrado pela Polônia no período entre as 2 Grandes Guerras como data cívica e feriado nacional. Depois da II Guerra Mundial, sob o regime comunista, o feriado foi rejeitado. Em conformidade com a doutrina (comunista), os governos puseram ênfase no impacto da Revolução Russa de 1917 como fator decisivo para a Polônia readquirir sua independência. Somente nos anos 70 do século passado começaram a aparecer as primeiras publicações históricas sérias a respeito de Józef Piłsudski e sua contribuição para o ressurgimento do estado polonês. No fim dos anos 80, o povo polonês opôs-se ao sistema comunista, depositando flores no Túmulo do Soldado Desconhecido na data de 11 de Novembro. Em 1989, o 11 de Novembro foi restabelecido como Dia da Independência.

O 11 de Novembro é um dia especial para os Poloneses, comemorado como Dia da Independência, significando o retorno ao mapa dos estados soberanos europeus depois de 123 anos de domínio estrangeiro. Naturalmente, retomar a independência não é um acontecimento que pode ser discutido em termos de uma data específica no calendário, mas antes na sequência de um processo longo e complexo. Essa data especial, contudo, marca uma série de acontecimentos importantes que dão ao dia um significado simbólico: o armistício de Compiègne é apontado como o fim de uma longa e sangrenta I Guerra Mundial. A maioria das tropas alemãs, posicionadas em Varsóvia desde 5 de agosto de 1915, depuseram suas armas; Józef Piłsudski, o arquiteto e líder das Legiões, o político mais estimado daquele tempo, mantém conversações sobre assumir o comando e recriar o estado polonês "a partir da sucata".

O Estado Polonês foi varrido do mapa europeu depois da 3ª Partição da Polônia em 1795. As Partições da Polônia (1772, 1793 e 1795) dividiram o Reino Polonês entre seus três vizinhos poderosos: Rússia, Áustria e Prússia. As oportunidades de readquirir independência surgiu apenas no fim da I Grande Guerra quando os três conquistadores foram derrotados. A primeira a entrar em colapso foi a Rússia, despreparada para levar em frente uma guerra prolongada. A abdicação do Imperador Nicolau II em fevereiro de 1917 e a tomada do poder pelos bolcheviques em novembro do mesmo ano conduziu à desintegração definitiva da máquina de guerra daquele país seguida pela assinatura do Tratado de Brest-Litovsk (março de 1918) com a Alemanha. Também o segundo conquistador, Áustria, acabou por ser incapaz de dar continuidade à guerra e, com derrotas sucessivas e cada vez mais severas, seus antigos países-satélites começaram a ficar independentes. Um terceiro vizinho, a Alemanha, lutou por mais tempo.

Quando a independência finalmente veio em 1918, era não só o resultado de circunstâncias externas, isto é, dissolução dos impérios russo, germânico e austríaco no fim da I Guerra Mundial. Um fator igualmente importante foi o movimento de independência tanto dentro do país dividido quanto no exterior. A figura política dominante nesse movimento tornou-se Józef Piłsudski. Em 6 de agosto de 1914, vários dias depois de eclodir a I Guerra Mundial, seus legionários partiram de Cracóvia e atravessaram a fronteira austro-russa. Piłsudski planejou incitar um levante no setor russo da Polônia. As raízes deste plano encontram-se nas tradições do Levante de Janeiro de 1863. Infelizmente, as realidades de 1914 eram diferentes e o plano foi um fracasso. Contudo, o esforço de Piłsudski não foi completamente em vão, uma vez que a companhia se tornou o cerne das Legiões (inicialmente aliadas com a Áustria), uma fundação das futuras Forças Armadas Polonesas.

Tendo em vista que os líderes poloneses daquela época estavam divididos sobre os meios a serem empregados para recuperar a independência, uma alternativa à estratégia de Piłsudski era uma orientação pró-Rússia e anti-Alemanha. O mais notável representante do direito político era Roman Dmowski que chefiava o movimento da Democracia Nacional que iniciou o estabelecimento de um Comitê Nacional (1914) com o objetivo de formar - numa aliança com a Rússia - um exército capaz de derrotar os Alemães. Contudo, devido ao ódio que os Poloneses sentiam pela Rússia, causado pelas repressões que se seguiram aos levantes de 1830, 1863 e 1905, falharam os planos de Dmowski. Ele e outros líderes da Democracia Nacional emigraram para a Rússia e então para Lausanne, onde em agosto de 1917 estabeleceram o Comitê Nacional Polonês.

Em breve, a organização mudou-se para Paris. O Comitê Nacional Polonês tinha as ambições de formar um governo provisório polonês, já que representava a Polônia para os Aliados, formava as Forças Armadas Polonesas na França sob o comando do General Józef Haller, oferecia assistência aos Poloneses residentes nos países ocidentais e contribuía para o progresso do caso polonês no Ocidente.

Desde o começo da I Grande Guerra, os três conquistadores da Polônia tentaram comprar dos Poloneses uma sanção para o seu caso. Em 7 e 8 de agosto  de 1914, os Alemães distribuíram brochuras com uma proclamação endereçada aos Poloneses, assegurando-lhes "amizade germânica" e convocando ação conjunta contra a Rússia. Em 9 de agosto, os Austríacos emitiram uma declaração idêntica. Em 14 de agosto, o comandante em chefe russo, Princípe Nicolau Nikolaevich publicou um manifesto prometendo unificação da Polônia sob o comando do imperador russo. Todas essas declarações eram basicamente dirigidas para um objetivo: recrutar soldados enquanto as ofertas políticas eram muito pouco claras, sendo antes promessas sem nenhum significado real. O caso polonês atraiu atenção internacional de novo em 1916 quando os Aliados começaram a obter vantagem sobre as Potências Centrais ².

Forçados pela situação, buscando atrair recrutas poloneses, os imperadores da Áustria e Alemanha proclamaram a formação de "um estado independente dos territórios poloneses recuperados do comando russo, com uma monarquia constitucional hereditária" em 5 de novembro de 1916. Contudo, o manifesto não fez referência específica sobre a questão das fronteiras, o exército polonês ou política externa, bem como não respondeu à questão: quem seria o rei? Em vez disso, vários dias mais tarde, foram convocados voluntários para servir num exército polonês.

Várias semanas mais tarde, em 22 de janeiro de 1917, o presidente norte-americano Thomas Woodrow Wilson reconheceu como real "o surgimento da Polônia unida, independente e soberana".

O direito da Polônia à independência foi também reconhecido depois da revolução de fevereiro na Rússia na proclamação pelo Soviete de Petrogrado de Deputados Trabalhadores e Soldados e pelo Governo Provisório. Em dezembro de 1916, as autoridades alemãs e austríacas estabeleceram um Conselho de Estado Provisório. Era esperado que cooperasse com as forças de ocupação no "desenvolvimento de instalações de administração do estado". Contudo, os conquistadores não se apressaram para a reconstrução de um estado polonês independente e para o estabelecimento de um exército polonês sob o cuidados de comandantes poloneses. Nessas circunstâncias, Piłsudski proibiu os legionários de prestar um juramento de lealdade durante o recrutamento ao assim chamado "Polnische Wehrmacht" ³. Por essa razão, ele e outros legionários foram internados numa prisão em Magdeburg em 22 de julho de 1917.

Neste ínterim, a fama e prestígio de Piłsudski tinha atingido o ápice. A lenda que cercava Piłsudski permitiu-lhe assumir o comando do governo mais tarde, em novembro de 1918, com o consentimento da maioria da sociedade polonesa. Outra tentativa de preencher o vácuo político pelas potências de ocupação foi o estabelecimento do Conselho da Regência em 15 de outubro de 1917, composto pelo Arcebispo de Varsóvia, Aleksander Kakowski; pelo príncipe Zdzisław Lubomirski; e pelo latifundiário Józef Ostrowski. Os Regentes mantinham seu escritório no Castelo Real de Varsóvia, onde estava hasteada uma bandeira polonesa. O Conselho visava à fundação da futuro governo polonês.

Um importante apoio para o renascido Estado Polonês foram os 14 Pontos de Woodrow Wilson, um programa de paz anunciado pelo presidente norte-americano diante de uma sessão conjunta do Congresso em 8 de janeiro de 1918. O programa foi dedicado à Polônia, propondo o estabelecimento de um Estado Polonês independente que incorporasse uma terra nativa polonesa habitada por população incontestavelmente polonesa, desfrutasse de um livre e seguro acesso ao mar, a integridade política e territorial que deveria ser garantida por um tratado internacional.

Desde o outono de 1918, avançou rapidamente o processo de decadência da administração dos estados de ocupação nos territórios poloneses. O Conselho da Regência estava formando um exército polonês e mantinha a Organização Militar Polonesa contando aproximadamente 20.000 homens. Os estados de ocupação estavam se preparando para a retirada. Em tais circunstâncias, começaram a surgir em várias localidades os primeiros centros do governo polonês, tais como a Comissão Polonesa de Liquidação sob a liderança do Coronel Bolesław Roja em Cracóvia (28 de outubro de 1918) com vista a assumir o comando da administração da Áustria; o Conselho Nacional de Cieszyn Duchy (19 de outubro); ou o Governo Provisório do Povo da República Polonesa em Dublin (7 de novembro), conduzido por Ignacy Daszyński como Primeiro Ministro. O governo expediu uma Proclamação, um documento muito revolucionário, contemplando reformas radicais, isto é, uma rotina diária de 8 horas de trabalho.

Em 10 de novembro, Piłsudski, o único homem daquela época capaz de assumir o comando do governo, retornou a Varsóvia por um trem especial. Ele estava retornando  da prisão de Magdeburg, onde tinha passado 16 meses. Na estação ferroviária recebeu as boas vindas do Regente Lubomirski e do Comandante da Organização Militar Polonesa, Adam Koc, porém quis primeiramente encontrar-se com os representantes dos partidos políticos para atualizar-se da situação. O retorno do Comandante animou Varsóvia; o "Correio de Varsóvia" publicou um suplemento especial; a casa onde Piłsudski se hospedou foi cercada pelas multidões entusiasmadas. No dia seguinte, a última guarnição alemã depôs armas e a capital se viu livre. Em 11 de novembro, o Conselho da Regência devolveu o poder militar a Piłsudski. Três dias mais tarde, o Conselho foi dissolvido e Piłsudski foi deixado com todas as prerrogativas. Em 16 de novembro, os estados aliados receberam uma mensagem assinada por Piłsudski: "Como Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Polonesas, eu desejo informar os governos e nações beligerantes e neutros sobre a existência de um Estado Polonês Independente incorporando todos os territórios da Polônia unida". O 11 de Novembro marcou um início de uma fase difícil de restabelecimento do estado a partir de três pedaços separados com suas características singulares.

Em janeiro de 1919, foram realizadas as eleições para o Parlamento Legislativo e em 10 de fevereiro, o Chefe do Estado, Józef Piłsudski, abriu a primeira sessão com as palavras: "O Parlamento Polonês será de novo o único soberano e governador em sua casa."

Fontehttp://www.webring.org/l/rd?ring=jozefpilsudskiri;id=1;url=http%3A%2F%2Fpolcon%2Etripod%2Ecom%2Findependence%2Ehtml



NOTAS  EXPLICATIVAS


¹   Esse material foi divulgado pela Agência de Informação Polonesa.

²  As Potências ou Impérios Centrais é uma designação atribuída à coligação formada pela Alemanha e Áustria-Hungria durante a I Guerra Mundial, à qual se juntariam o Império Otomano e a Bulgária. O nome está relacionado com a posição central ocupada pela Alemanha e Áustria-Hungria no continente europeu.

³  Forças Armadas Polonesas, em alemão.

5 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Apresento material interessantíssimo referente à história da Polônia, produzido pela Agência de Informação Polonesa, que traduzi para divulgação entre os usuários da Internet, brasileiros e de outros países.

Aproveito também a oportunidade para comunicar que o GOOGLE desenhou um doodle intitulado Świętując Dzień Niepodległości Polski 2017, para homenagear a data cívica de 11 de Novembro dos Poloneses, que pode ser acessado através do link
https://www.youtube.com/watch?v=--lcTLvZe4c

Prof. Henryk Siewierski (professor do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da UnB, ensaísta, escritor, poeta e tradutor) disse...

Dziękujemy i pozdrawiamy!

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor e membro da Academia Divinopolitana de Letras, onde é Presidente) disse...

Grato pelo envio, caro Braga. Fernando Teixeira

Prof. Cupertino Santos (professor de história aposentado de uma escola municipal em Campinas) disse...

Olá, professor Braga.
Obrigadíssimo pelo material que me levou a conhecer também um pouco sobre as lutas e a personalidade interessante do estadista José Pilsudski, a cuja trajetória está também ligado o 11 de novembro. Realmente, por exemplo, nada havia lido até agora sobre a curiosa e quase não referenciada guerra polaco-soviética de 1919-21. Aliás, teria sido este o inspirador do estilo verdadeiramente austero de Charles de Gaulle.
Forte abraço.

Samuel Belk (engenheiro civil e de Segurança do Trabalho; Mestre em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP; Diretor do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro; roteirista e diretor de shows de música judaica) disse...

Obrigado,

Samuel