domingo, 20 de janeiro de 2019

BIOBIBLIOGRAFIA DE KIKÍ DIMOULÁ


Por Francisco José dos Santos Braga
 

VASSILIKÍ "KIKÍ" DIMOULÁ* nasceu em Atenas em 1931, onde vive. Em 1949, ao fim de seus estudos secundários, ingressou no Banco da Grécia, onde trabalhou como funcionária por 25 anos. Em 1954, casou-se com o engenheiro civil e poeta Áthos Dimoulás (1921-1985), com quem teve dois filhos. Bem mais tarde, instada a redigir seu resumo biográfico, ela escreverá: 
Meus estudos superiores: os anos passados junto do poeta Áthos Dimoulás. Sem ele eu me teria contentado, estou certa, com uma preguiça sonhadora e ignorante, à qual ainda me inclino, sabiamente talvez. Eu lhe devo ter escapado a isso; mesmo que tenha sido só em parte, devo-lhe minha iniciação, incompleta sem dúvida, à poesia. 
  
Em 2002, foi eleita membro efetivo da Academia de Atenas. 

Ela comenta assim os cinquenta anos de vida literária: Eu me dediquei com abnegação ao meu papel de mãe, e foi com uma terna bravura que ouvi ser chamada de "avó". Agora eu fluo silenciosamente e sem ideias de perpetuação nessas novas derivações de meu sangue. Eu fluo, e quanto mais eu me aproximo do estuário, mais eu sonho que a poesia vai me jogar a bóia de um poema.

Publicou em 1952 sua primeira coletânea de poemas. Em 1964 ela recebeu uma menção honrosa do Grupo dos Doze pela coletânea "Nos Trilhos" (1963). Em 1972 foi agraciada com o II Prêmio Nacional de Poesia pela quinta coletânea "O Pouco do Mundo" (1971), que lhe vale seu primeiro reconhecimento oficial, granjeando com ela grande fama. Em 1989 recebeu o I Prêmio Nacional de Poesia pela coletânea "Adeus Nunca" (1988) e em 1995, o Prêmio da Fundação Kostas e Eléni Ouránis da Academia de Atenas pela coleção "A Adolescência de Lethe". Em 2001 foi-lhe conferida a Condecoração de Letras da Academia de Atenas, pelo conjunto da obra, e a Cruz de Ouro da Ordem de Honra, pelo Presidente da República, Konstantínos Stefanópoulos. Em 2009, ela recebeu o Prêmio Europeu de Literatura pelo conjunto da obra. A Association Capitale Européenne de Littératures concedeu-lhe em março de 2010 o Prêmio Europeu de Literatura no âmbito da V Reunião de Literatura Europeia. No mesmo ano, foi homenageada pelo conjunto da obra, com o Grand State Prize for Literature. Em 2015, foi premiada com o título de doutor honoris causa na Universidade Aristotélica de Salônica. Seus poemas foram traduzidos para o inglês, francês, espanhol, italiano, polonês, búlgaro, alemão e sueco. Merecem destaque os livros The Brazen Plagiarist (O plagiador de bronze), de 2012, uma coletânea de poemas seletos de Kikí Dimoulá, brilhantemente traduzidos para o inglês por Cecile Inglessis Margellos e Rika Lesser, e o livro, publicado em 2010, Πέρασα - Erlebt (edição bilíngue).

Livro de 2012
Livro de 2010





















Além das coletâneas poéticas já citadas, publicou ainda as seguintes mais conhecidas:
Poemas (1952), Erebus (1956), In absentia (1958), Meu último corpo (1981), Juntos de um Minuto (1998), Som da Partida (2001), Grama de Estufa (2005), Mudamo-nos para a porta ao lado (2007), Encontro (2007), Os questionários (2010), Tempo Público (2014) e Ponto e Vírgula (2016).

Obras em prosa: Conto esportivo (2004), Sem plano (2005) e Coleta de Pensamentos (2009), que reproduz o discurso da autora na Sociedade Arqueológica em Atenas.

Finalmente, há um DVD intitulado Encontros com Kikí Dimoulá (2010).

Apreciação sobre a poesia de Kikí Dimoulá

Segundo Kikí Dimoulá, a poesia "beneficia tanto quanto uma gota de um calmante num oceano de tristeza". No entanto, e apesar desta desproporção, ela insiste, com plena consciência, sabendo que, em qualquer caso, não temos muitas provisões para atravessar a vida selvagem do oceano. Para ela, a Poesia não constitui amor próprio à frente da necessidade ou um substituto da felicidade. É algo melhor: ato de insolência à frente do já realizado ou o inevitável de acontecer (...) Kikí Dimoulá descreve este Mal multiforme com audácia e com franqueza: o corpo para sempre submerso, num país sofrido, nos tempos revirados que vivemos. Seu tema principal é a descrição do desgaste que exacerba sentimentos e aguça a mente com vista a enfrentar esse absurdo. ¹
[Γιώργης Γιατρομανωλάκης]


Uma poesia de olhar privado e questionamento existencial, mas confessando paixões pessoais e negações pessoais, se abre ao universal e coletivo. A vaidade, a passagem do tempo, o desgaste, a memória e o esquecimento, a perda, os desejos não realizados e os que ocorreram em um passado distante são os temas que constantemente preocupam Kikí Dimoulá. E ainda, em uma ironia redentora, a nossa própria morte, a única certeza: 
"Que fadiga meu Deus, não aguento
dar de beber ao solo do céu,
Sou um cadáver ". (...) ²
[Χαράλαμπος Γιαννακόπουλος]


Com "Tempo Público", a 17ª coletânea de poesia, aprendemos a "ouvir" os sons da sombra de uma fotografia, de um sentimento. E são esses poemas mais pessoais do que nunca, mais introvertidos e com eloquente e ensurdecedora preocupação com o futuro desconhecido e com a rota da vida corruptível... E como sempre, Kikí Dimoulá, com a sua própria maneira poética, faz para nós mais leves as coisas pesadas, as coisas insuportáveis, também tudo o que magoa as pessoas... Mas ainda e principalmente aquelas (coisas) que a amedrontam.


NOTAS  EXPLICATIVAS


¹ Cfr. https://www.tovima.gr/2014/06/13/books-ideas/kiki-dimoyla-ftharto-swma-pasxoysa-xwra/

² Cfr.  https://charalamposgiannakopoulos.com/2014/07/21/κική-δημουλά-μεσίστια-η-λιακάδα-πατρί/

7 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Tenho o prazer de apresentar-lhe uma poetisa grega de grande renome internacional, mas ainda pouco divulgada no Brasil. Trata-se de KIKÍ DIMOULÁ (pronuncia-se Dimulá), ateniense, nascida em 1931. Teve a sorte de casar-se em 1954 com um poeta, Áthos Dimoulás (1921-1985), que ela considera o responsável por ter-lhe iniciado à Poesia.

Já está na estrada desde 1952 e tem conquistado os prêmios mais cobiçados pelos autores literários europeus, em reconhecimento pelo conjunto de seu trabalho e pelo destaque que ganhou alguma sua coletânea de poemas.

Sinto-me verdadeiramente recompensado pelo meu trabalho de tradução do original grego, se o leitor do Blog do Braga considerar que, através de seu olhar privado e questionamento existencial, minha homenageada tem conseguido abrir-se ao universal e coletivo, que é o sonho de qualquer escritor.

POEMAS SELETOS DE KIKÍ DIMOULÁ

https://bragamusician.blogspot.com/2019/01/poemas-seletos-de-kiki-dimoula.html


BIOBIBLIOGRAFIA DE KIKÍ DIMOULÁ

https://bragamusician.blogspot.com/2019/01/biobibliografia-de-kiki-dimoula.html


Cordial abraço,

Francisco Braga

Anderson Braga Horta (poeta, escritor, ex-presidente da ANE-Associação Nacional de Escritores e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal) disse...

Muito bem, meu caro Francisco!

Obrigado.

Anderson

João Carlos Ramos (poeta, escritor, membro e ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras e sócio correspondente da Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Lavrense de Letras) disse...

Recebido.
Um conjunto de pedras preciosas chega as minhas mãos.
Obrigado!

Salomea Gandelman (professora universitária, autora do livro "36 Compositores Brasileiros-obras para piano (1950-1988)) disse...

Muito obrigada! Um abraço

Paulo Guicheney ((premiado compositor goiano, professor de composição, orquestração e música contemporânea no Departamento de Música da UFG. Em 2007 recebeu o Prêmio FUNARTE da XVII Bienal de Música Brasileira Contemporânea do Rio de Janeiro.) disse...

Parabéns pela tradução, Braga. Trabalho belíssimo. Abraços do amigo, Guicheney.

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor, poeta e membro da Academia Divinopolitana de Letras, onde é Presidente) disse...

Grato pelo envio, amigo. Fernando Teixeira

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga.
Merecida a sua publicação dessa poetisa que se aprofunda nos paradoxos da existência ao longo do "Tempo Rei". Coloquei por curiosidade os poemas originais na "ferramenta" de tradução e não posso deixar de lhe dar os parabéns pelas sensíveis e inspiradoras versões.
Muitíssimo obrigado.