quinta-feira, 12 de junho de 2025

RECUPERE SEU LATIM > > PARTE 22: OVÍDIO: DEUCALIÃO E PIRRA

Tradução literal do latim, introdução, comentários e bibliografia sugerida por Francisco José dos Santos Braga 
 
Heritage Images/Colaborador/Getty Images


I. INTRODUÇÃO
 
O dilúvio, segundo a mitologia grega 
 
A tradição do dilúvio, castigando a perversidade dos humanos, foi popularizada pela narração bíblica (capítulos 6 a 9 do Gênesis). Aí fala da decisão de Deus em retornar a Terra para seu estado aquoso de caos pré-criação para, em seguida, refazê-lo em uma reversão da criação. 
As lendas orientais têm o mesmo conteúdo quase nos mesmos termos, acompanhado das mesmas circunstâncias, como nos ensina o poema caldeu conhecido sob o nome de epopeia de Gilgamesh: o herói aí recolhe sua narração da boca de seu ancestral, que tinha escapado sozinho da morte no barco construído por ele, a conselho do deus Ea. 
Segundo a cosmogonia grega, o titã da segunda geração, chamado Prometeu, criou os homens  apenas machos  a partir do barro, presenteou-os com as artes, as ciências e a astronomia, chegando ao ponto de roubar para eles o fogo dos deuses e entregá-lo à raça humana. 
Segundo Ovídio no poema Metamorfoses, "enquanto os outros animais caminhavam em quatro patas, com o rosto voltado para o chão, o ser humano foi criado para manter a cabeça erguida, observando o céu majestoso e as estrelas brilhantes lá em cima. E a terra sofria nova mudança, dada a desconhecida forma da humanidade." Até então, a raça humana era constituída só por homens. 
Segundo Hesíodo, a vingança divina a Prometeu por ter dado o fogo dos deuses aos homens veio em forma de mulher. Por inveja dos seus feitos a favor da humanidade, Zeus, sentindo antipatia pela humanidade e para vingar-se de Prometeu, criou a primeira mulher, Pandora, e a enviou aos homens, advertindo-os de que, em troca do fogo, estava dando aos homens um mal que iria seduzi-los e que acolheriam com alegria, sem saber que estavam abraçando sua própria destruição. 
Zeus (ou Júpiter) quis destruir a humanidade por causa de sua degeneração e da negligência religiosa dos mortais, que não se dedicavam mais à reverência divina. Enviou pois um dilúvio universal, enquanto pedia a colaboração a seu irmão, Poseidon (ou Netuno), deus dos mares. As águas dos rios e dos mares inundaram toda a terra engolindo rebanhos, casas, homens e animais. 
O titã Prometeu profetizou a ocorrência do dilúvio, tendo advertido seu filho Deucalião, o mais justo dos homens e a sua sobrinha Pirra, a mais virtuosa das mulheres. Instruiu o casal a construir um barquinho, que, durante nove dias e nove noites, flutuou sobre as águas do dilúvio e acabou por encalhar no Monte Parnaso. Dessa forma, o casal se tornou os solitários sobreviventes da mitológica inundação e o casal ancestral da humanidade. 
Deucalião e Pirra tiveram vários filhos: o primeiro Heleno, que foi o ancestral epônimo dos gregos, chamados de helenos, e foi o pai de Doro e Éolo e o avô de Aqueu e Íon, respectivamente os ancestrais epônimos dos dóricos, eólios, aqueus e jônios  as quatro tribos em que os helenos dividiam a si próprios.
 
 
II. DEUCALIÃO E PIRRA (Metamorfoses de Ovídio, livro I, cap. VII e VIII,  versos 313-415) 

VII. Deucalião e Pirra: o mundo após o dilúvio
 
A Fócida, terra fértil enquanto houve terra, separa os Aônios ¹ dos campos do Eta ²; porém, naquele tempo, tornou-se parte do oceano e leito vasto de águas precipitadas. Aí, um elevado monte demanda os astros com seus cumes duplos. Com o nome de Parnaso ³, e os picos ultrapassam as nuvens. Foi aí que Deucalião (pois a água cobrira tudo) aportou com sua companheira de leito (sua esposa), transportado num barquinho. Eles adoram as Ninfas Corícias , os numes do monte e a fatídica Thêmis que então proferia oráculos. Nenhum homem foi melhor nem mais amante da justiça do que ele; nem houve alguma mais temente dos Deuses do que ela. 
Quando Júpiter vê estagnar o orbe em pântanos líquidos e apenas sobreviver um de tantos milhares, e apenas uma de tantas milhares, ambos inocentes, ambos adoradores da divindade, dispersou as nuvens e, removidos os nimbos pelo Aquilão , mostrou tanto as terras ao céu, quanto o éter às terras. E não continua a ira do mar; e, tendo deposto o dardo tricúspide, o governante do pélago apazigua as águas. E, chama Tritão que aparece acima do profundo azul-marinho, tendo coberto os ombros com o múrice coevo, e manda soprar na concha sonante e, dado o sinal, revogar imediatamente ondas e rios. Por ele é retomada a trombeta oca e retorcida, que cresce a partir do fundo para o lado; trombeta que, no momento em que absorveu sopros no meio do mar, enche com seus sons as praias subjacentes a um e outro ponto extremo do curso de Febo. Nesta ocasião, também, logo que ela tocou os lábios gotejantes do Deus de barba molhada, soprada, ressoou as retiradas ordenadas e foi ouvida por todas as águas da terra e do oceano, e refreou-as todas. Os rios baixam, vêem-se colinas surgir. Já o mar tem praia; o leito contêm os rios cheios. Surge o solo; os lugares crescem com as ondas decrescentes; as florestas ostentam, após longo tempo, os cumes desnudos e têm na fronde o limo deixado. O orbe estava reconstituído. Quando Deucalião o viu deserto, e profundo silêncio dominar as terras despovoadas, assim disse a Pirra com os olhos marejados de lágrimas: "Ó irmã, ó cônjuge, ó mulher, única sobrevivente que a raça comum juntou a mim, e a origem de prima por parte de pai, depois o casamento e agora os mesmos perigos unem. Nós dois somos a multidão das terras que o ocaso e o nascente vêem; as outras, o oceano as possui. Também ainda agora a segurança da nossa vida não é bastante certa: as nuvens ainda aterrorizam meu espírito. Se, sem mim, fosses livrada do perigo pelos fados, como estaria agora o teu espírito, ó pobre mulher? Sozinha, como poderias suportar o temor? Afligir-te-ias com quem te consola? Pois eu, crê-me, se o mar também agora te tivesse tragado, seguir-te-ia, ó esposa, e também o mar me teria. Oh! oxalá eu pudesse repovoar o mundo com as artes paternas e infundir vida à terra refeita! Agora a espécie mortal resta em nós dois. Assim pareceu bem aos deuses superiores: e permaneceremos os exemplares da humanidade." 
 
VIII. Repovoamento do mundo
 
Tinha dito. Choravam. Resolveram implorar o nume celeste e consultar os oráculos sagrados. Sem demora, eles se aproximam, juntos, das ondas cefísias ¹ que, embora ainda lodacentas, já corriam nos seus leitos conhecidos. Daí, tendo aspergido água lustral nas vestes e na cabeça, dirigem os passos para o templo da deusa, cujas sagradas cumeeiras estavam pardas de feio musgo; e os altares estavam sem fogo. Logo que tocaram os degraus do templo, um e outro deitaram-se de bruços no chão e deram beijos, receosos, na gélida pedra. 
E assim disseram: "Se pelas preces justas os Numes se deixam abrandar, se a ira dos deuses se dobra, diz-nos, ó Thêmis, com qual virtude se pode reparar o dano da nossa espécie? e dirija teu poder, ó brandíssima, às coisas submersas". A deusa ficou comovida e deu este oráculo: "Afastai-vos do templo, cobri a cabeça e desatai as vestes cingidas; e, depois, atirai para trás os ossos de vossa grande mãe". ¹¹ Por muito tempo eles ficaram aterrorizados; e Pirra quebra o silêncio primeiro com a voz; e recusa-se a obedecer às ordens da deusa: pede que lhe perdoe, com fala medrosa; e teme, ao atirar os ossos, ofender as almas maternas. 
Enquanto isso, repassam entre si as palavras obscuras do oráculo dado nos sombrios esconderijos e entre si (as) solucionam. Depois, Prométide ¹² acalma Epimétida com palavras plácidas e diz: "Ou a nossa sagacidade é falaz, ou os oráculos são pios e não exigem nada abominável. A terra é a grande mãe; julgo que as pedras, no seio da terra, foram chamadas de ossos; somos ordenados a jogá-las para trás de nós". Embora a Titânide ficasse abalada com essa adivinhação do esposo, a esperança, entretanto, estava hesitante, tanto que, ambos desconfiam dos oráculos celestes. Porém, fará mal tentar tal coisa? Descem, velam a cabeça e desatam as túnicas e arremessam as pedras ordenadas para trás, enquanto andam. As pedras (quem acreditaria nisso, se a antiguidade não estivesse por testemunha?) começaram a perder sua dureza e abrandar seu rigor pouco a pouco. E as coisas amolecidas começam a tomar forma. Depois, quando amadureceram, coube-lhes uma natureza mais branda, de tal modo que se pôde ver certa forma humana não bastante clara mas como um esboço do mármore, algo não bastante acabado e muito parecido a estátuas toscas. Entretanto, uma parte delas, que foi úmida e terrestre, transformou-se, para uso do corpo, em algum líquido. Aquilo que era sólido e não pode ser flexionado, transformou-se em ossos; aquilo que fora veia, ainda há pouco, permaneceu com este mesmo nome. E em curto espaço, pela vontade dos deuses superiores, as pedras lançadas pelas mãos do homem criaram a figura de homens e do arremesso feminil foi refeita a mulher. Por isso, somos uma raça resistente e experiente de todos os trabalhos ¹³. E damos testemunha de que origem proviemos.
 
III. TEXTO LATINO: DEUCALION ET PYRRHA

Separat Aonios Oetaeis Phocis ab arvis,
terra ferax, dum terra fuit, sed tempore in illo
pars maris et latus subitarum campus aquarum.
Mons ibi verticibus petit arduus astra duobus,
nomine Parnasos, superantque cacumina nubes.
Hic ubi Deucalion (nam cetera texerat aequor)
cum consorte tori parva rate vectus adhaesit,
Corycidas nymphas et numina montis adorant
fatidicamque Themin, quae tunc oracla tenebat:
non illo melior quisquam nec amantior aequi
vir fuit aut illa metuentior ulla deorum.
Iuppiter ut liquidis stagnare paludibus orbem
et superesse virum de tot modo milibus unum,
et superesse vidit de tot modo milibus unam,
innocuos ambo, cultores numinis ambo,
nubila disiecit nimbisque aquilone remotis
et caelo terras ostendit et aethera terris.
Nec maris ira manet, positoque tricuspide telo
mulcet aquas rector pelagi supraque profundum
exstantem atque umeros innato murice tectum
caeruleum Tritona vocat conchaeque sonanti
inspirare iubet fluctusque et flumina signo
iam revocare dato. Cava bucina sumitur illi,
tortilis in latum quae turbine crescit ab imo,
bucina, quae medio concepit ubi aera ponto,
litora voce replet sub utroque iacentia Phoebo;
Tum quoque, ut ora dei madida rorantia barba
contigit et cecinit iussos inflata receptus,
omnibus audita est telluris et aequoris undis,
et quibus est undis audita, coercuit omnes.
Iam mare litus habet, plenos capit alveus amnes,
flumina subsidunt collesque exire videntur;
surgit humus, crescunt sola decrescentibus undis,
postque diem longam nudata cacumina silvae
ostendunt limumque tenent in fronde relictum.
Redditus orbis erat; quem postquam vidit inanem
et desolatas agere alta silentia terras,
Deucalion lacrimis ita Pyrrham adfatur obortis:
‘o soror, o coniunx, o femina sola superstes,
quam commune mihi genus et patruelis origo,
deinde torus iunxit, nunc ipsa pericula iungunt,
terrarum, quascumque vident occasus et ortus,
nos duo turba sumus; possedit cetera pontus.
Haec quoque adhuc vitae non est fiducia nostrae
certa satis; terrent etiamnum nubila mentem.
Quis tibi, si sine me fatis erepta fuisses,
nunc animus, miseranda, foret? quo sola timorem
ferre modo posses? quo consolante doleres?
Namque ego (crede mihi), si te quoque pontus
[haberet,
te sequerer, coniunx, et me quoque pontus haberet.
o utinam possim populos reparare paternis
artibus atque animas formatae infundere terrae!
Nunc genus in nobis restat mortale duobus.
Sic visum superis: hominumque exempla manemus.’

Dixerat, et flebant: placuit caeleste precari
numen et auxilium per sacras quaerere sortes.
Nulla mora est: adeunt pariter Cephesidas undas,
ut nondum liquidas, sic iam vada nota secantes.
Inde ubi libatos inroravere liquores
vestibus et capiti, flectunt vestigia sanctae
ad delubra deae, quorum fastigia turpi
pallebant musco stabantque sine ignibus arae.
Ut templi tetigere gradus, procumbit uterque
pronus humi gelidoque pavens dedit oscula saxo
atque ita: ‘si precibus’ dixerunt ‘numina iustis
victa remollescunt, si flectitur ira deorum,
dic, Themi, qua generis damnum reparabile nostri
arte sit, et mersis fer opem, mitissima, rebus!’
Mota dea est sortemque dedit: ‘Discedite templo
et velate caput cinctasque resolvite vestes
ossaque post tergum magnae iactate parentis!’
Obstupuere diu: rumpitque silentia voce
Pyrrha prior iussisque deae parere recusat,
detque sibi veniam pavido rogat ore pavetque
laedere iactatis maternas ossibus umbras.
Interea repetunt caecis obscura latebris
verba datae sortis secum inter seque volutant.
Inde Promethides placidis Epimethida dictis
mulcet et ‘aut fallax’ ait ‘est sollertia nobis,
aut pia sunt nullumque nefas oracula suadent!
Magna parens terra est: lapides in corpore terrae
ossa reor dici; iacere hos post terga iubemur.’
Coniugis augurio quamquam Titania mota est,
spes tamen in dubio est: adeo caelestibus ambo
diffidunt monitis; sed quid temptare nocebit?
Descendunt: velantque caput tunicasque recingunt
et iussos lapides sua post vestigia mittunt.
Saxa (quis hoc credat, nisi sit pro teste vetustas?)
ponere duritiem coepere suumque rigorem
mollirique mora mollitaque ducere formam
Mox ubi creverunt naturaque mitior illis
contigit, ut quaedam, sic non manifesta videri
forma potest hominis, sed uti de marmore coepto
non exacta satis rudibusque simillima signis,
quae tamen ex illis aliquo pars umida suco
et terrena fuit, versa est in corporis usum;
quod solidum est flectique nequit, mutatur in ossa
quae modo vena fuit, sub eodem nomine mansit,
inque brevi spatio superorum numine saxa
missa viri manibus faciem traxere virorum
et de femineo reparata est femina iactu.
Inde genus durum sumus experiensque laborum
et documenta damus qua simus origine nati.

 
VI. NOTAS EXPLICATIVAS
 
 
¹ Habitantes da Beócia, unidade regional da Grécia Central, situada a oeste de Atenas. Na antiguidade, a Beócia tinha significativa importância política devido à sua posição na costa norte do Golfo de Corinto, à força estratégica de suas fronteiras e à facilidade de comunicação dentro de sua extensa área. Por outro lado, a falta de bons portos dificultava seu desenvolvimento marítimo. Na antiguidade, sua principal cidade era Tebas, que chegou a exercer uma breve hegemonia sobre as demais cidades. Atualmente, sua capital é Livadiá.
 
² Trata-se do monte Eta, localizado no sul da Grécia Central, na fronteira entre a Thessália e a Beócia. Na mitologia grega o Eta é celebrado principalmente como palco da morte do herói Héracles.

³ Monte situado na Fócida, perto de Delfos, e consagrado a Apolo e às musas.
 
Caverna sagrada no monte Parnaso.
 
Deusa da justiça, por excelência. Filha de Urano e Gaia, portanto tia de Zeus, ao lado de quem tem assento no Olimpo. De acordo com a tradição, teria sido ela quem ensinou a Apolo como fazer profecias.

Vento do Norte.
 
Na mitologia grega, Poseidon, com seu tridente, governava os mares e era responsável pelas tempestades, tormentas e maremotos que ocorriam no mar. Na mitologia romana, ele é chamado de Netuno.
 
Tritão, na mitologia grega, é um deus marinho, filho de Poseidon e Anfitrite, geralmente representado com cabeça e tronco humano e cauda de peixe.

Febo é apelido de Apolo, deus do sol e, no caso, a própria personificação do Sol. Aqui também Ovídio se refere a dois pontos no curso de Febo, ou seja, ao oriente e ao poente, ou a leste e a oeste.

¹ Cefiso, rio da Grécia setentrional, que atravessa a Dória, a Fócida e a Beócia, e que vai se lançar no Golfo Eubóico. Na mitologia grega, esse rio e a ninfa Liríope são os pais de Narciso. (cf. [BRANDÃO, 1988, 174 e ss.]) O autor informa que "Liríope foi vítima da insaciável energia sexual de Cefiso, em cujas margens tranquilas ninfa alguma poderia passear incólume. Um dia, foi a vez de Liríope." Dessa união, nasceu Narciso.

¹¹ Terminado o dilúvio, Zeus (ou Júpiter) favoreceu o casal, concedendo-lhe o oráculo da deusa Thêmis para a satisfação de um desejo. Deucalião pediu que renovasse a humanidade. Foi-lhes ordenado, então, que atirassem para trás os ossos de sua mãe. Pirra se horrorizou diante dessa impiedade: “Não podemos profanar os restos de nossos pais”. Mas Deucalião lembrou-lhe que os deuses falam por metáforas e interpretou os ossos como sendo pedras, "os ossos" da Terra, que é a mãe comum de todos. Os dois apanharam pedras e começaram a atirá-las para trás, sobre os ombros: das que Deucalião atirou nasceram homens, das que Pirra atirou nasceram mulheres. Eles fizeram como recomendado, e as pedras amoleceram e se transformaram em corpos humanos; os outros animais foram criados espontaneamente da terra.

¹² Na mitologia grega, Deucalião é filho de Prometeu e sua mulher Pirra é filha de Epimeteu. Prometeu e Epimeteu são irmãos titãs, filhos do titã Jápeto (Iapĕtus) e Clímene. Logo, Deucalião (Prométide) e Pirra (Epimétida) são primos e sua relação é consanguínea. (cf. [BRANDÃO, 1991, 328-9]) Dizia a lenda, que, a conselho de Prometeu, os dois primos foram encerrados num barquinho e foram deixados pelas águas no cume do Parnaso (versão adotada por Ovídio).
Após o dilúvio o casal sobrevivente se estabeleceu na Thessália, onde ele e seus descendentes reinaram.

¹³ Aqui Ovídio sugere que a nova humanidade é moldada para o trabalho, sugerindo que somos sólidos e duros por descendermos das pedras de Deucalião e Pirra.
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
 
BRAGA, F. J. S.: RECUPERE O SEU LATIM > > PARTE 16, matéria publicada em 28/07/2023 pelo Blog do Braga.

_______________: RECUPERE O SEU LATIM > > PARTE 20, matéria publicada em 06/11/2024 pelo Blog do Braga.
 
BRANDÃO, J. S.: MITOLOGIA GREGA, vol. II, 2ª edição, Petrópolis: Vozes, 1988,  321 p.

_______________: DICIONÁRIO MÍTICO-ETIMOLÓGICO DA MITOLOGIA GREGA, vol. 2 J-Z, 2ª edição, Petrópolis: Vozes, 1991, 559 p.

VIVAS, C.M.R.: “DIZEM QUE ÉS UM MODELO DE BOA ESPOSA”¹: modelos de feminilidade romana no Exílio e na Mediação (séculos I a.C.- I d.C.) 
Link: https://bragamusician.blogspot.com/2024/11/dizem-que-es-um-modelo-de-boa-esposa.html
 
WIKIPEDIA: verbete DEUCALIÃO

5 comentários:

Francisco José dos Santos Braga disse...

Prezad@,
Envio-lhe minha tradução para trecho do livro I de METAMORFOSES, de Públio OVÍDIO Naso, que trata da temática mitológica do dilúvio, segunda a mitologia grega. O seu poema narrativo é composto em versos hexâmetros datílicos ou heróicos (por ser o metro característico da epopeia), constituídos por seis pés datílicos ou espondeus.
O mito grego de Pirra e Deucalião é particularmente famoso por conter a referência a um dilúvio semelhante às narrações como as de Gilgamesh e Noé. No seu cerne conta-nos que Zeus (ou Júpiter), cansado dos constantes erros da humanidade, decidiu destruir tudo o que existia por meio de uma enorme cheia, poupando exclusivamente o casal constituído por Deucalião e Pirra em virtude da sua devoção religiosa (pietas). Depois dessa destruição, da qual foram salvos e obedecendo ao oráculo da deusa Thêmis, os seres humanos tornaram a nascer de pedras lançadas pelo casal - as atiradas por Deucalião criaram novos homens, enquanto que as atiradas por Pirra geraram novas mulheres, enquanto os animais foram (magicamente?) recriados da própria terra. Aqui temos uma metamorfose, em que pedras duras e rígidas começaram a perder sua dureza e a abrandar seu rigor para, pouco a pouco, tomarem uma forma humana.
Dada a origem dessa nova geração de seres humanos a partir da natureza dura e rígida da matéria prima da pedra, Ovídio justifica a nossa firmeza e dedicação ao trabalho, por sermos filhos das pedras de Deucalião e Pirra, esse casal recriador da espécie humana.

Link: https://bragamusician.blogspot.com/2025/06/recupere-seu-latim-parte-22-ovidio.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Francisco José dos Santos Braga disse...

Heitor Garcia de Carvalho (pós-doutorado em Políticas de Ensino Superior na Faculdade de Psciologia e Ciências da Informação na Universidade do Porto, Portugal (2008)) disse...
Precioso!

Francisco José dos Santos Braga disse...

Paulo Roberto de Almeida (escritor e gerente do Blog Diplomatizzando) disse...
Muito grato, seu trabalho é verdadeiramente primoroso, e altamente gratificante no plano intelectual.

Francisco José dos Santos Braga disse...

Geraldo Reis (poeta, membro da Academia Marianense de Letras e gerente do Blog O Ser Sensível) disse...
Obrigado, Braga. Um ótimo fim de semana. Forte abraço poético.

Francisco José dos Santos Braga disse...

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...
Caro professor Braga

Mais uma cativante aula de latinismo ! E não apenas ! Notável as diferenças entre as versões do Dilúvio "Universal", mais carregada de simbologia e poesia em suas cores gregas antigas do que aquela que herdamos em nossas raízes judaico-cristãs.
Saudações !
Cupertino