Por Francisco José dos Santos Braga
1) Artigo publicado na Revista Polonicus - Revista de reflexão Brasil-Polônia, Ano I, nº 2, jul/dez 2010, Curitiba, p. 140-150, disponível na Internet como volume nº 2 no endereço eletrônico http://www.polonicus.com.br/site/edicoes.php 2) O poema "W błysku zapałki" (Ao clarão do fósforo) foi publicado na revista Poesia Sempre nº 35, Ano 17/2010, Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, p. 89
Józef Baran |
Józef Baran, de origem humilde, nasceu em Borzęcin, pequeno vilarejo com cerca de oito mil habitantes no interior da Polônia, em 17 de janeiro de 1947. (Eis a razão por que neste 17 de janeiro escolhi homenagear o grande poeta polonês.) A sua região natal é conhecida por ser berço de grande parte dos escritores polacos de renome da segunda metade do século XX, tais como o dramaturgo Sławomir Mrożek e o prosador e poeta Tadeusz Nowak.
O epigrafado trabalhou como mineiro até conseguir entrar na Universidade de Cracóvia (UJ-Uniwersytet Jagielloński). Formou-se em Filologia Polonesa. É professor e redator de vários jornais e revistas, autor de muitas reportagens, entrevistas e artigos, entre outros, nos semanários Wieści e Sycyna, mais tarde nos jornais Gazeta Krakowska e Dziennik Polski, nos anos 90, nos quais foi o responsável por questões e temas culturais.
Józef Baran debutou em 1969 com poemas esparsos. Em 1974, teve seu primeiro volume de poesias ("Nossas mais sinceras conversas") publicado pela Editora Literária. É autor de 25 volumes, que incluem poemas reunidos e selecionados, bem como ensaios, tendo recebido diversos prêmios, incluindo Andrzej Bursa (1975) e Stanisław Piętak (1977), Kraków Voivoda (1992), Orkan (2003). É importante destacar ainda que sua obra venceu prêmios em diversos países. São exemplos: a Menção de Honra do PEN Club, de Los Angeles, e o Prêmio da Kościelski Family Foundation, de Genebra.
Seus poemas disseminam-se em inúmeras antologias, tanto polonesas quanto em outras línguas, e são postos em música por inúmeros grupos musicais poloneses, tais como Stare Dobre Małżeństwo (Velho Bom Casamento) e Grupa pod Budą , ou por vários intérpretes, tais como Elżbieta Adamiak, Mirosław Czyżykiewicz, Krzysztof Myszkowski, Beata Rybotycka, Ola Maurer e Hanna Banaszak, entre outros.
O Departamento de Teoria e Literaturas da UnB (TEL/UnB) convidou a comunidade acadêmica para um encontro com o poeta polonês Józef Baran, que aconteceu em 2 de setembro de 2009. A Professora de Língua Polonesa, Małgorzata Siewierska, do Departamento de Letras da UnB, convidou-me para assistir ao referido encontro e pediu-me para levar comigo algumas traduções de poemas de Józef Baran (vide abaixo). No encontro realizado em uma sala do Instituto Central de Ciências (ICC), o escritor falou sobre sua obra, sua trajetória e seu processo criativo, além de responder às perguntas dos participantes. Participou como tradutor e comentarista da obra do poeta polonês o Prof. Dr. Henryk Siewierski, ele próprio autor de uma "História da Literatura Polonesa", publicado pela Editora da UnB em 2000.
"Se for possível comparar Józef com algum dos poetas brasileiros, poderia dizer que seria o equivalente a Vinicius de Moraes", disse Prof. Henryk. "Além de ambos serem renomados em seus países, a comparação entre os poetas se justifica por dois motivos: primeiro quanto ao carisma dos dois e segundo porque, assim como Vinicius, as poesias de Baran são adaptadas por grandes músicos de seu país em parcerias de muito sucesso."
Sobre seu processo criativo, Baran acredita muito na empatia e na simplicidade. “A grande maioria dos poetas contemporâneos escreve para outros poetas, para professores ou críticos. Além dos especializados, eles não têm um publico relevante”, afirma.
Não acreditando em discursos herméticos, o poeta polonês busca alcançar o maior número possível de leitores. Através de sua poesia, ele é conhecido por abordar questões complexas da vida com muita simplicidade.
A influência dos anos passados no interior — foi mineiro, antes de se dedicar à literatura — e a vida rural são marcas da obra de Baran. Porém sua poesia não pode ser confundida com uma expressão de arte ingênua. Sua obra é caracterizada por tratar de temas do cotidiano humano com simplicidade, mas ao mesmo tempo com extrema sofisticação. Solidão e solidariedade, o contraste entre impressões do mundo contemporâneo e as recordações da vida no campo compõem o imaginário do poeta polonês.
Os motivos que levaram o escritor a visitar o Brasil foram o convite dos amigos e a Jornada Literária de Passo Fundo. Após a passagem por Brasília, ele fez uma visita ao sul do País, onde entrou em contato com as colônias polonesas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Além da UnB, o DELAC-Departamento de Estudos de Linguagem, Arte e Comunicação da UNIJUÍ, com apoio da Reitoria e da etnia polonesa, promoveu à noite do dia 4 de setembro de 2009 uma palestra do renomado poeta polonês. O encontro teve como tema “Poesia e Empatia” e foi desenvolvido pelo poeta polonês a partir das 20h, no Salão de Atos da UNIJUÍ. A palestra contou com a tradução simultânea da acadêmica polonesa do Curso de Letras, Agata Jankowska, da Universidade Marii Curie-Skłodowskiej, de Lublin, Polônia, e que se encontrava na UNIJUÍ realizando intercâmbio.
O escritor foi também convidado da 13a. Jornada de Literatura de Passo Fundo, para participar do painel "A leitura literária e as novas hipertextualidades", no dia 27 de agosto de 2009, durante o 8º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural.
Abaixo transcrevo minha tradução para quatro poemas selecionados da obra de Józef Baran e inéditos em língua portuguesa, para conhecimento do seu grande público lusofônico:
O epigrafado trabalhou como mineiro até conseguir entrar na Universidade de Cracóvia (UJ-Uniwersytet Jagielloński). Formou-se em Filologia Polonesa. É professor e redator de vários jornais e revistas, autor de muitas reportagens, entrevistas e artigos, entre outros, nos semanários Wieści e Sycyna, mais tarde nos jornais Gazeta Krakowska e Dziennik Polski, nos anos 90, nos quais foi o responsável por questões e temas culturais.
Józef Baran debutou em 1969 com poemas esparsos. Em 1974, teve seu primeiro volume de poesias ("Nossas mais sinceras conversas") publicado pela Editora Literária. É autor de 25 volumes, que incluem poemas reunidos e selecionados, bem como ensaios, tendo recebido diversos prêmios, incluindo Andrzej Bursa (1975) e Stanisław Piętak (1977), Kraków Voivoda (1992), Orkan (2003). É importante destacar ainda que sua obra venceu prêmios em diversos países. São exemplos: a Menção de Honra do PEN Club, de Los Angeles, e o Prêmio da Kościelski Family Foundation, de Genebra.
Seus poemas disseminam-se em inúmeras antologias, tanto polonesas quanto em outras línguas, e são postos em música por inúmeros grupos musicais poloneses, tais como Stare Dobre Małżeństwo (Velho Bom Casamento) e Grupa pod Budą , ou por vários intérpretes, tais como Elżbieta Adamiak, Mirosław Czyżykiewicz, Krzysztof Myszkowski, Beata Rybotycka, Ola Maurer e Hanna Banaszak, entre outros.
O Departamento de Teoria e Literaturas da UnB (TEL/UnB) convidou a comunidade acadêmica para um encontro com o poeta polonês Józef Baran, que aconteceu em 2 de setembro de 2009. A Professora de Língua Polonesa, Małgorzata Siewierska, do Departamento de Letras da UnB, convidou-me para assistir ao referido encontro e pediu-me para levar comigo algumas traduções de poemas de Józef Baran (vide abaixo). No encontro realizado em uma sala do Instituto Central de Ciências (ICC), o escritor falou sobre sua obra, sua trajetória e seu processo criativo, além de responder às perguntas dos participantes. Participou como tradutor e comentarista da obra do poeta polonês o Prof. Dr. Henryk Siewierski, ele próprio autor de uma "História da Literatura Polonesa", publicado pela Editora da UnB em 2000.
"Se for possível comparar Józef com algum dos poetas brasileiros, poderia dizer que seria o equivalente a Vinicius de Moraes", disse Prof. Henryk. "Além de ambos serem renomados em seus países, a comparação entre os poetas se justifica por dois motivos: primeiro quanto ao carisma dos dois e segundo porque, assim como Vinicius, as poesias de Baran são adaptadas por grandes músicos de seu país em parcerias de muito sucesso."
Sobre seu processo criativo, Baran acredita muito na empatia e na simplicidade. “A grande maioria dos poetas contemporâneos escreve para outros poetas, para professores ou críticos. Além dos especializados, eles não têm um publico relevante”, afirma.
Não acreditando em discursos herméticos, o poeta polonês busca alcançar o maior número possível de leitores. Através de sua poesia, ele é conhecido por abordar questões complexas da vida com muita simplicidade.
A influência dos anos passados no interior — foi mineiro, antes de se dedicar à literatura — e a vida rural são marcas da obra de Baran. Porém sua poesia não pode ser confundida com uma expressão de arte ingênua. Sua obra é caracterizada por tratar de temas do cotidiano humano com simplicidade, mas ao mesmo tempo com extrema sofisticação. Solidão e solidariedade, o contraste entre impressões do mundo contemporâneo e as recordações da vida no campo compõem o imaginário do poeta polonês.
Os motivos que levaram o escritor a visitar o Brasil foram o convite dos amigos e a Jornada Literária de Passo Fundo. Após a passagem por Brasília, ele fez uma visita ao sul do País, onde entrou em contato com as colônias polonesas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Além da UnB, o DELAC-Departamento de Estudos de Linguagem, Arte e Comunicação da UNIJUÍ, com apoio da Reitoria e da etnia polonesa, promoveu à noite do dia 4 de setembro de 2009 uma palestra do renomado poeta polonês. O encontro teve como tema “Poesia e Empatia” e foi desenvolvido pelo poeta polonês a partir das 20h, no Salão de Atos da UNIJUÍ. A palestra contou com a tradução simultânea da acadêmica polonesa do Curso de Letras, Agata Jankowska, da Universidade Marii Curie-Skłodowskiej, de Lublin, Polônia, e que se encontrava na UNIJUÍ realizando intercâmbio.
O escritor foi também convidado da 13a. Jornada de Literatura de Passo Fundo, para participar do painel "A leitura literária e as novas hipertextualidades", no dia 27 de agosto de 2009, durante o 8º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural.
Abaixo transcrevo minha tradução para quatro poemas selecionados da obra de Józef Baran e inéditos em língua portuguesa, para conhecimento do seu grande público lusofônico:
AO CLARÃO DO FÓSFORO
Józef Baran
no instante
que fricciono o fósforo
contra as trevas do quarto
ao mesmo tempo talvez
em algumas casas, cabeças e conversas,
eu me incendeie com uma labareda torta
talvez me tenha compreendido
justo meu implacável inimigo,
e seja amigo quem me achou culpado
talvez neste piscar de olhos
pela janela aberta
com pétala de macieira
eu tenha caído no quarto do primeiro amor
ou saído para longe do olhar materno
e desde o começo
rolo pela estrada afora
ou talvez
ninguém em todo o mundo
não tenha pensado em mim neste segundo:
eis porque me senti tão só
como se de repente tivesse tropeçado nas trevas vazias
W błysku zapałki
może w tej chwili
gdy pocieram zapałką
o ciemność pokoju
równocześnie
w paru domach głowach czy rozmowach
krzywym płomykiem się zapalam
może zrozumiał mnie właśnie
mój nieprzejednany wróg
a przyjaciel znalazł we mnie winę
może w tym okamgnieniu
przez otwarte okno
z płatkiem jabłoni
wpadłem do pierwszej dziewczyny
lub z oczu matki wypadłem
i od początku
gościńcem się toczę
a może
nikt na całej planecie
o mnie w tej sekundzie nie pomyślał
i dlatego poczułem się taki samotny
jakby nagle potknął się o pustą ciemność
A TERRA
Józef Baran
está desamparada
como Joãozinho e Maria
no imenso bosque escuro
há muito tempo atrás
saiu de casa
e perdeu o caminho
faz tempo
que perdeu todos os documentos
tanto a certidão de nascimento
quanto a carteira de identidade
agora nem mesmo sabe
como se chama
indecisa
segue girando
ao redor de seu eixo
e não sabe
para que lado
dirigir-se
Ziemia
jest bezradna
jak Jaś i Małgosia
w ogromnym ciemnym lesie
bardzo dawno temu
wyszła z domu
i zabłądziła
bardzo dawno temu
wszystkie dokumenty pogubiła:
i metrykę urodzenia
i dowód osobisty
teraz nie wie nawet
jak się nazywa
kręci się
i kręci niezdecydowanie
dookoła swej osi
i nie wie
w którą stronę
się udać
CONTO SOBRE GATOS
Józef Baran
não são as paredes
são os gatos que têm ouvidos
quadrúpedes agentes
a serviço de Deus
exilados à terra
p'ra espionar Adão
ao roçar suave
dos seus meigos dorsos
entram furtivamente na graça
de nossas choupanas
nada dizem —
bisbilhotam:
os cochichos mais ocultos
não passam despercebidos à felina atenção
por toda parte há gatos: sobre nossos joelhos
atrás da nossa orelha embaixo de nossas pernas
quando os expulsamos bisbilhotam
atrás da porta do saguão
à noite os gatos se metem sob nossas camas
acendem as lanternas vermelhas dos seus olhos
e no seu brilho
anotando tudo diligentemente vão
(as notas escondem de manhã no esconderijo)
e depois no juízo final ficamos surpresos
de que o Senhor Deus saiba tudo sobre nós
Bajka o kotach
to nie ściany
to koty mają uszy
czworonożni agenci
Pana Boga
zesłani na ziemię
aby szpiegować Adama
przymilnym ocieraniem
grzbietów
wkradają się w łaski
naszych chałup
nic nie mówią
podsłuchują
najskrytsze szepty
nie ujdą kociej uwadze
wszędzie ich pełno na kolanach
za uchem pod nogami
gdy je wyrzucamy podsłuchują
za drzwiami sieni
w nocy koty włażą pod łóżka
zapalają czerwone latarnie oczu
i w ich blasku
wszystko skrzętnie spisują
(notesiki chowają rano do mysiej dziury)
a potem na sądzie ostatecznym dziwimy się
skąd Pan Bóg o nas wszystko wie
ELOGIO DO ESQUECIMENTO
Józef Baran
louvada sê
fresta na memória
irmãzinha providencial
que nos ias aliviando a caminho
tanto se estava derramando
assim pouco restou
se não fosses tu
teríamos desmoronado há muito tempo
sob o peso
fazes com que cada carga
de novo se faça leve
o que escaldava até empolar
não aquece nem esfria
abrimos os braços
e vamos em frente
— morreu o dia
viva o dia —
gritamos
através de ti flui
um rio que rasga
como um cão nos lambe as feridas
arrebata rostos e conversas
traz em troca
outros novos
Pochwała zapominania
bądź pochwalona
dziuro w pamięci
siostrzyczko opatrznościowa
która ulżyłaś nam w drodze
tyle się wysypało
tak mało zostało
gdyby nie ty
upadlibyśmy dawno
pod ciężarem
ty sprawiasz że co ciężkie
staje się znów lekkie
co parzyło do bąbli
nie grzeje ni ziębi
otwieramy ramiona
i idziemy dalej
- umarł dzień
niech żyje dzień -
wołamy
przez ciebie płynie
rwąca rzeka
jak pies nam liże rany
zabiera twarze i rozmowy
przynosi w zamian nowe
Agradecimento
Gostaria de agradecer ao jornalista Bernardo Rebello da SECOM-Secretaria de Comunicação da UnB pela cessão de suas anotações sobre o referido encontro na UnB para a redação deste ensaio.
* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ e Fundação Oscar Araripe em Tiradentes-MG. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...
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