Autor: Monge Moisés Aghiorítes ²
Tradutor: Francisco José dos Santos Braga
Monge Moisés Aghiorítes |
Em uma época de crise, censura e crítica ³, quedas, decadências, impactos e descontos ⁴, vertigem, alucinação, luta e cinza ⁵, padece o nosso inigualável idioma, a rica língua nacional. Com ela podes dizer e expressar as coisas mais difíceis, as mais frívolas, as mais elevadas. Como diz o poeta Odysseus Elytes, a língua grega é a mais antiga e... a mais rica do mundo.
Em grego podes expressar os mais sutis, os mais completos sentidos da teologia, da filosofia, da poesia. Podes traduzir ideias, reflexões, pensamentos, conceitos, todos grandes, nobres, sagrados e belos. A língua grega exprime habilmente o gosto, o desgosto, o desejo do artesão, do artista, do herói, do santo. Contém a nobreza e a baixeza, a pompa e a modéstia, o bom gosto. A alegre tristeza ⁶, a sobriedade, a doçura e a redenção. Não é orgulho pecaminoso o amor de nossa língua, da nossa pátria, dorida e traída. Foi a língua também traída por contínuos termos estrangeiros, que infelizmente são dedicados às crianças. A água, o pão, o céu e o mar são nomeados da mesma forma, há três mil anos. Assim também os nomeava Homero. A língua porta sentido, história, tradição e encanto.
É muito importante que possas expressar com tua língua todos os teus pensamentos.
Infelizmente, os Gregos Modernos ⁷ não leem e, por isso, a sua linguagem é muito pobre. Os nossos jovens padecem de terrível pobreza vocabular. Até mesmo os conhecedores ignoram a luta com a língua. A perfeita expressão precisa do conhecimento profundo da língua, discernimento, separação do joio entre o trigo, estudo, correta seleção. Palavreado pomposo, ostentatório, prolixo, imponente não toca o coração. Nos meus sessenta anos escrevi e disse muitas coisas. Não aprendi outra língua. Não aprendi datilografia nem computador. Queria escrever na minha língua, soletrar, copiar, tocar a tinta. Não posso dizer que não gosto de falar e escrever. Já escrevi milhares de milhares de páginas. Amo muito a minha língua grega. E, sobretudo, o grego politônico ⁸.
O amor à língua é sagrado. Creio no poder da língua. Ela pode influenciar, opinar, comentar, admoestar positiva e proveitosamente. Enquanto eu ainda viver, não pararei de falar e de escrever. Enquanto tiver o juízo. Ela é o meu trabalho. Sou diarista da palavra. Por favor, não falsifiqueis a minha língua, não a adultereis, nem a olvideis. Com a língua não comunicamos simplesmente para nos entendermos, mas unimos nossas almas. Alegro-me de falar e escrever. Desculpai-me. Peço que leiais para mim e me escrevais. A língua é sinal da cruz, precioso amuleto, bálsamo e bênção.
Três grandes teólogos religiosos do século XX, o sérvio São Justino Popović, o romeno Dumitru Stăniloae e o russo-americano Georges Florovsky eram autênticos amigos dos Gregos e bons conhecedores da língua grega. O primeiro enviava os seus discípulos à Grécia para aprenderem o grego, a fim de progredirem na teologia. O terceiro dizia que os Padres gregos, com o seu pensamento, ofereciam riqueza espiritual a todo o orbe. É pena, meus queridos, que não apreciemos a riqueza do mais belo e mais abrangente idioma grego, dos antigos filósofos, dos Padres gregos, do Evangelho...
Três grandes teólogos religiosos do século XX, o sérvio São Justino Popović, o romeno Dumitru Stăniloae e o russo-americano Georges Florovsky eram autênticos amigos dos Gregos e bons conhecedores da língua grega. O primeiro enviava os seus discípulos à Grécia para aprenderem o grego, a fim de progredirem na teologia. O terceiro dizia que os Padres gregos, com o seu pensamento, ofereciam riqueza espiritual a todo o orbe. É pena, meus queridos, que não apreciemos a riqueza do mais belo e mais abrangente idioma grego, dos antigos filósofos, dos Padres gregos, do Evangelho...
Fonte: http://agioritikesmnimes.blogspot.gr/2012/09/1856.html?spref=tw
NOTAS DO TRADUTOR FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA
¹ O autor tem tanto carinho pela sua língua (γλώσσα) que a personifica, tratando-a como uma pessoa querida com quem mantém estreita convivência. Assim, emprega o vocábulo "Ελληνίδα" (substantivo pátrio feminino), como aposto, ao invés do usual adjetivo "ελληνική".
² Essa palavra — Αγιορείτης — significa que se trata de monge do Monte Athos.
³ Em grego, a primeira palavra é κρίση, da qual derivam as duas seguintes: επίκριση e κατάκριση.
² Essa palavra — Αγιορείτης — significa que se trata de monge do Monte Athos.
³ Em grego, a primeira palavra é κρίση, da qual derivam as duas seguintes: επίκριση e κατάκριση.
⁴ Em grego, a primeira palavra é πτώση, da qual derivam as três seguintes: κατάπτωση, επίπτωση e έκπτωση.
⁵ Essas quatro palavras têm a mesma terminação, em -άλη. Assim, temos ζάλη, παραζάλη, πάλη e αιθάλη.
⁷ Os que falam o grego moderno ou vεοελληνiká.
⁸ A escrita politônica utiliza inúmeros sinais diacríticos (acentos agudo, grave e circunflexo; espíritos doce e rude; e sinais de pontuação)
AGRADECIMENTO
O tradutor e gerente do Blog do Braga vem manifestar sua gratidão ao amigo livreiro, Sr. Osvaldo Lemos, por lhe ter encaminhado este texto em grego para tradução e posterior publicação.
AGRADECIMENTO
O tradutor e gerente do Blog do Braga vem manifestar sua gratidão ao amigo livreiro, Sr. Osvaldo Lemos, por lhe ter encaminhado este texto em grego para tradução e posterior publicação.
21 comentários:
Sensacional esta tradução. Faz-nos, efetivamente, refletir sobre a importância do idioma, pois, é a maior forma de interação entre os homens e da cultura.
É como o autor bem expressa:"a língua porta sentido, história, tradição e encanto"; " ela pode influenciar, opinar,comentar, admoestar positiva e proveitosamente".
Beleza, Francisco Braga, por nos legar mais esta reflexão, com a sua preciosa tradução deste texto da língua grega.
Blogger Sônia Hallak disse...
Sensacional esta tradução. Faz-nos, efetivamente, refletir sobre a importância do idioma, pois, é a maior forma de interação entre os homens e da cultura.
É como o autor bem expressa:"a língua porta sentido, história, tradição e encanto"; " ela pode influenciar, opinar,comentar, admoestar positiva e proveitosamente".
Beleza, Francisco Braga, por nos legar mais esta reflexão, com a sua preciosa tradução deste texto da língua grega.
23 de junho de 2014 19:53
Muito bom. Leitura agradável e proveitosa para reflexões. Não pude evitar o sentimento de um paralelo com a nossa língua. Obrigado, prezado Braga, por mais esta valiosa contribuição cultural. Abraço cordial, UP.
MUITO BOM, INCLUSIVE PELA COMPETENTE TRADUÇÃO.
SERÁ QUE ELES TÊM, NA GRÉCIA, UM "ESTADISTA" HONORIS CAUSA QUE MALTRATA A LÍNGUA DELES?
ABS.
ROGÉRIO
Belo texto. Parabéns pela tradução.
Um abraço amigo.
Geraldo Ananias
Magnífico, prezado confrade Francisco Braga.
Seu trabalho engrandece nossa Academia, colocando-se como um solene cântico à língua de Camões, enaltecida por Bilac.
Abraços,
Pe. Saulo
Prezado Braga,
Achei interessantíssimo, aliás, riquíssimo, o texto que me mandou sobre a língua grega. Tenho certeza de que nossos colegas ex-salesianos da “comunidade” Redex lerão avidamente a matéria. No próximo Boletim Redex, (o 759), veicularei o texto da matéria.
Geraldo Pena.
Obrigado pelo texto: é lindo, é sutil e o lamento de um tempo em que a pressa e a comunicação descuidada estão acima do cuidado com as palavras. Outro assunto: Na próxima reunião da Academia de Letras, as 10 e 30 da manhã do próximo domingo dia 29 de junho vou lançar um pequeno livro denominado Política e Ética. Convido-o para o lançamento. Abraços. Mauricio.
Gostei muito do texto, não tenho nada a acrescentar. Parabéns pelo seu interesse e pela tradução.
Atenciosamente.
Padre Hélio
Prezado Braga: parabéns pelo texto enviado. A sua atualidade e as considerações nele contidas nos remetem às barbaridades que se cometem contra a nossa própria língua.
Valeu, amigo
Valter de Araujo
Prezado amigo Braga, pelo visto “cá e lá, mas fadas há”. Hoje temos a doença crônica dos estrangeirismos, a linguagem cifrada dos computadores e o voluntário desapego do vernáculo pelos mais novos. Seria bom – e este artigo nos provoca isto – refletir sobre o tema. Um abraço. Recomendações à Rute. Volto depois ao assunto. Fernando Teixeira
O texto é belíssimo. Mas como o amigo pode sugestões: a língua mais antiga do planeta é o sânscrito, não o grego. A Índia é um excelente referencial para se estudar a origem do sânscrito, mãe de todas as línguas. O Gita, a sublime canção dos hindus, na verdade a Bíblia deles, ditada por Khrisna ao discípulo Arjuna é rica nesse sagrado idioma. Três mil antes do nosso amado Cristo esse iluminado veio à Terra. Sugiro acessar Yogananda.self.org e saborear notícias desse guru Mestre da Luz Divina e quando possível comprar e ler Autobiografia de um Yogue do mesmo Paramahansa Yogananda. Depois mande para mim sua abalizada apreciação. Viva a Índia! Viva a Grécia!
Amigo Francisco Braga,
como lhe disse, em encontro rápido meses atrás, minha técnica de comunicação ainda é a do telefone e da esferográfica. Suas notícias e seus artigos são-me comunicados por Maria Helena, minha mulher.
Dou-me conta deles, aprecio-os e agradeço-lhe.
Pediria que me mandasse seu telefone e novamente seu endereço.
Assim poderei entrar em contato com você, nas frequentes idas minhas a São João del-Rei.
Quanto ao grego não sou um expert. Mas no pouco que sei, e com os livros de que disponho,
acho que você interpretou bem. O artigo é excelente para nossa situação atual.
Abraço,
Tiago
obrigado amigo
por mais este texto enriquecedor.
Tenho amado, com dificuldade, o nosso português, no esplendor e na sua sepultura moderna.
Paciência, é o que nos resta.
forte abraço
edu
Caro primo,
Parabéns pela tradução e pelo tipo de cultura (rara) que demonstra. Grande abraço. Antônio
Muito preciso caro Braga. Obrigada. Maria Ilídia
Prezado Braga,
Lindo artigo e uma bela tradução.
Concordo que o amor à língua é sagrado. Talvez daí vem a expressão “língua mãe”.
Parabéns pelo artigo e um abraço,
Elza
Meu prezado amigo, FJSBraga, quero mais uma vez parabenizar lhe pelo excelente trabalho.
Aproveitando o seu conhecimento do grego gostaria de lhe perguntar:-
Ha muito tempo li um livro, Portões de Fogo, que descrevia de forma extraordinária a epopeia vivida pelos 300 de Esparta comandados pelo seu rei Leônidas.
Lembro me de algumas passagens significativas, sendo que uma delas é a tradução de Termópilas:- Portões de Fogo.
Dizia o autor que à época do episódio, junto ao local escolhido por Leônidas para deter, por algum tempo, o exercito persa havia emanações vulcânicas e daí o nome de Termópilas.
Esta correto?
Outro fato citado pelo autor seria uma inscrição deixada naquele local:-
Viajante que por aqui passa, lembre se que demos as nossas vidas para que você pudesse viver a sua em liberdade.
Você poderia me traduzir esta frase para o grego?
Um grande abraço do seu amigo de sempre, Lucio Flavio.
Oi Braga;
Li, e acho muito verdadeiro esse depoimento, certamente de quem lamenta o ir-se-embora do que amamos na nossa cultura e história de vida. Eu também tenho esses sentimentos por muita coisa que vejo ir-se pelo ralo.
Entretanto, dizem os físicos modernos, que a informação é indestrutível, como a matéria ou a energia. Não sei como eles provam isso. Dizem eles que, se alguém reunisse todas as informações hoje existentes numa maleta e a lançasse num buraco negro, nem mesmo assim as informações ali contidas seriam destruídas. Oxalá (Inch Allah) estejam certos.
O Monge do Monte Athos, lá nas alturas daquele despenhadeiro, poderia ser informado disso, quem sabe fique mais despreocupado. Não acredito, muito embora. Meu professor de Grego, dizia que os cristãos de língua grega julgavam-se superiores porque portavam uma cultura mais sólida e antiga. Isso com respeito ao cisma de Miguel Celulário (precursor do celular?).
Abraços mil.
Celeste
Meu amigo, infelizmente a linguagem está sendo tão banalizada, que escutamos coisas que doem os ouvidos. Com bacharelado em filosofia, amo os pensadores gregos, principalmente Aristóteles, com textos de antes de Cristo. Parece que foram escritos hoje.
Eduardo Lanna
Primeiramente, devo agradecer as excelentes pesquisas que me tem enviado, e que sempre leio com interesse, especialmente quando abordam temas ligados a S. João del-Rei e à Grécia Antiga, sua língua, literatura e cultura. Estudei um pouco de romaico quando de meu curso de Teologia (1950-1953): entre os pedreiros que trabalhavam na construção de um novo prédio, havia dois gregos analfabetos – em grego e em português (de grego só sabiam o alfabeto e escrever o próprio nome). Como eles moravam na área da construção, todas as noites eu ia lá para alfabetizá-los, em romaico e em português; e eles me ensinavam um pouco de romaico: meia hora cada. Claro que saí perdendo, pois eu dedicava mais tempo a eles; mas valeu para eu ter ao menos uma ideia das mudanças. Depois, consegui um livrinho de conversação (romaico-italiano).
Um forte abraço do amigo
Gruen
Postar um comentário