sábado, 8 de julho de 2017

À ESPERA DOS BÁRBAROS


Por Francisco José dos Santos Braga
Tradutor dos textos referenciados em prosa, do grego para o português, e autor das Notas Explicativas e comentários

KONSTANTINOS PÉTROU KAVÁFIS (1863-1933)



I.  TEXTO E TRADUÇÃO DE JOSÉ PAULO PAES PARA O POEMA "À ESPERA DOS BÁRBAROS"


À  ESPERA DOS BÁRBAROS

                    Konstantinos Kaváfis

O que esperamos na ágora reunidos?

      É que os bárbaros
¹ chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

      É que os bárbaros chegam hoje.
      Que leis hão de fazer os senadores?
      Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

      É que os bárbaros chegam hoje.
      O nosso imperador conta saudar
      o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
      um pergaminho no qual estão escritos
      muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

      É que os bárbaros chegam hoje,
      tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

      É que os bárbaros chegam hoje
      e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

      Porque é já noite, os bárbaros não vêm
      e gente recém-chegada das fronteiras
      diz que não há mais bárbaros.

                ______ 

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.




ΠΕΡΙΜΈΝΟΝΤΑΣ ΤΟΥΣ ΒΑΡΒΆΡΟΥΣ
                    του Κωνσταντίνου Καβάφη 

— Τι περιμένουμε στην αγορά συναθροισμένοι;

        Είναι οι βάρβαροι να φθάσουν σήμερα.

— Γιατί μέσα στην Σύγκλητο μια τέτοια απραξία;
  Τι κάθοντ’ οι Συγκλητικοί και δεν νομοθετούνε;

        Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα.
        Τι νόμους πια θα κάμουν οι Συγκλητικοί;
        Οι βάρβαροι σαν έλθουν θα νομοθετήσουν.


— Γιατί ο αυτοκράτωρ μας τόσο πρωί σηκώθη,
 και κάθεται στης πόλεως την πιο μεγάλη πύλη
 στον θρόνο επάνω, επίσημος, φορώντας την κορώνα;

        Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα.
        Κι ο αυτοκράτωρ περιμένει να δεχθεί
        τον αρχηγό τους. Μάλιστα ετοίμασε
        για να τον δώσει μια περγαμηνή. Εκεί
        τον έγραψε τίτλους πολλούς κι ονόματα.


— Γιατί οι δυο μας ύπατοι κ’ οι πραίτορες εβγήκαν
 σήμερα με τες κόκκινες, τες κεντημένες τόγες·
 γιατί βραχιόλια φόρεσαν με τόσους αμεθύστους,
 και δαχτυλίδια με λαμπρά, γυαλιστερά σμαράγδια·
 γιατί να πιάσουν σήμερα πολύτιμα μπαστούνια
 μ’ ασήμια και μαλάματα έκτακτα σκαλιγμένα;

        Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα·
        και τέτοια πράγματα θαμπώνουν τους βαρβάρους.

— Γιατί κ’ οι άξιοι ρήτορες δεν έρχονται σαν πάντα
 να βγάλουνε τους λόγους τους, να πούνε τα δικά τους;

        Γιατί οι βάρβαροι θα φθάσουν σήμερα·
        κι αυτοί βαρυούντ’ ευφράδειες και δημηγορίες.

— Γιατί ν’ αρχίσει μονομιάς αυτή η ανησυχία
 κ’ η σύγχυσις. (Τα πρόσωπα τι σοβαρά που εγίναν).
 Γιατί αδειάζουν γρήγορα οι δρόμοι κ’ η πλατέες,
 κι όλοι γυρνούν στα σπίτια τους πολύ συλλογισμένοι;

        Γιατί ενύχτωσε κ’ οι βάρβαροι δεν ήλθαν.
        Και μερικοί έφθασαν απ’ τα σύνορα,
        και είπανε πως βάρβαροι πια δεν υπάρχουν.

                               __

 Και τώρα τι θα γένουμε χωρίς βαρβάρους.
 Οι άνθρωποι αυτοί ήσαν μια κάποια λύσις.

Fonte: Konstantinos Kaváfis: Poemas [tradução direta do grego, seleção, estudo crítico e notas  de José Paulo Paes], Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira S/A, 2ª edição, 1982, pp. 106-7. ²

Às pp. 81 a 83 desse livro, Paes, no seu ensaio intitulado "Lembra, corpo: uma tentativa de descrição crítica da poesia de Konstantinos Kaváfis", tece alguns comentários sobre esse poema, que neste trabalho merecerá a nossa atenção, a saber:

"No grupo de poemas acerca do momento fatídico merecem consideração especial duas peças, "À espera dos bárbaros" e "Teódoto", se mais não fosse por ilustrarem de modo lapidar um ponto de importância na poesia histórica de Kaváfis: aquilo a que poderíamos chamar a sua componente exemplar ou moralizante. "À espera dos bárbaros" é o mais conhecido dos poemas kavafianos. Conquanto não se possa determinar com precisão o lugar e a época a que faz referência, é de imaginar, pelas indicações do texto, tratar-se de uma província do império romano, possivelmente uma província do império do Oriente — conforme sugeriu Tsirkas (apud Pontani, ob. cit., p. 229) com base na sugestão bizantina das jóias com que se paramentam os cônsules e pretores da sétima estrofe —, cujos mil anos de existência foram gastos a lutar contra os bárbaros que lhe rondavam constantemente as fronteiras. Aqui, o momento de desastre iminente não é vivido, como nos exemplos anteriores, por um indivíduo que enfrentasse sozinho o seu próprio destino, mas por uma coletividade inteira, como o deixa perceber a elocução na primeira pessoa do plural, esse "nós" subdividido em dois grupos: o dos perguntadores e o dos respondedores. Através da sucessão de suas perguntas e respostas, vai-se desenhando, aos nossos olhos, o espetáculo de uma cidade a viver um dia fora do comum. Dia em que os legisladores param de fazer leis, o povo de cuidar de suas ocupações, o imperador de despachar os negócios de Estado, para ficarem todos pacientemente à espera dos bárbaros prestes a chegar. Chegando, irão eles mudar radicalmente as coisas, abolir os órgãos de representação coletiva ["Que leis hão de fazer os senadores? / Os bárbaros que chegam as farão."] e acabar com a discussão dos assuntos públicos na ágora ou forum, já que "aborrecem arengas, eloquências"; são homens de ação, não de palavras, guerreiros habituados a obedecer cegamente às ordens de um chefe, em vez de por-se a discuti-las por amor dos interesses comunitários. O temor da população da cidade avulta nos recursos de exceção mobilizados para apaziguar os invasores, lisonjear-lhes os gostos, aliciar-lhes a boa vontade: a púrpura e as jóias especialmente usadas pelos cônsules e pretores para deslumbrá-los, o pergaminho a ser entregue pelo imperador ao chefe deles, conferindo-lhe "nomes e títulos" altissonantes. A "moralidade do poema — sempre de esperar-se numa poesia como a de Kaváfis, de caráter por assim dizer fabular, onde cada peça é uma pequena história ilustrativasurge-lhe implicitamente no fim, quando a expectativa estática se transforma em ação, embora de sinal negativo: todos voltam para casa preocupados porque os bárbaros não vêm mais, eles que "eram uma solução". Esta última palavra insinua que o momento da queda não estava prestes a acontecer, mas já tinha acontecido. A chegada dos bárbaros simplesmente viria justificar um estado de coisas de que eles seriam menos os responsáveis que os cúmplices. O fato de a cidade não esboçar um gesto de resistência ao invasor, de dispor-se a abrir-lhe as portas de par em par, mostra em que ponto de decadência estava o seu espírito cívico, que não trepida em sacrificar à barbárie os seus últimos foros de cultura: a arte da palavra, tida agora como produtora só de "arengas, eloquências". A sutil atmosfera de dissolução que pervaga "À espera dos bárbaros" filia-o desde logo ao decadentismo simbolista, com o seu gosto dos momentos crepusculares de fim de raça, de resignação ante o que se supõe seja inevitável.

Outras traduções em língua portuguesa para o mesmo poema são consideradas:
[SANTOS, 2006, 38-45], no artigo "Caváfis no Brasil", escreveu em 2006 sobre a tradução de Kaváfis por Jorge de Sena:
"(...) O público de língua portuguesa deve ao poeta, escritor e professor Jorge de Sena a primeira versão dos poemas do alexandrino. É o próprio poeta português que lembra o fato ao escrever um artigo para o Suplemento Literário de O Estado de São Paulo, em 28 de junho de 1962: 
"Apliquei-me à tradução para o português dos seus poemas, e guardo como das melhores recordações da minha vida literária o convívio e a correspondência com aquele velhinho infatigável e extravagante, o dr. Mavrogordato *, a quem fiquei devendo esclarecimentos, correções, verificações, e as fotografias inéditas de Cavafy que possuo. Feitas pelo texto de Mavrogordato, ignorante que sou de qualquer grego antigo ou moderno (para lá daquelas palavrinhas que o estudo da filosofia nos obriga a saber), as minhas traduções foram, com o auxílio dele, conferidas pelos originais, esses originais escritos numa língua viva para Cavafy, mas estranha mesmo para os gregos modernos, cuja crítica nunca abundou em reconhecer àquele vagabundo (que o era) de Alexandria, grandeza comparável à clamorosamente oferecida a 'modernos' como Seféris ou Palamás." 
Esta primeira tradução para o português, portanto, foi feita através do inglês e não do grego pelo poeta que aqui havia chegado em 1959, fugido da ditadura salazarista e que daqui também iria fugir, seis anos depois, por causa de outra ditadura, para os Estados Unidos. O desconhecimento da língua grega está explicitado no poema "Em Creta, com o Minotauro": "Também eu não sei grego, segundo as mais seguras informações." É sintomático que a poesia de um estrangeiro como Kaváfis chegue ao Brasil pelas mãos de um estrangeiro como Sena, constantemente atravessado pelo tema do exílio: "(...) Nem eu, nem o Minotauro,/ teremos nenhuma pátria". Kaváfis poderia, mesmo, assinar os versos de Sena e dizer "A pátria de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações nasci".
A princípio, Jorge de Sena publicou, em 9 de julho de 1953, no Suplemento Literário de O Comércio do Porto, um longo ensaio de apresentação seguido da tradução de cinco poemas; a 8 de setembro, mais sete poemas, entre eles "Deus abandona Antonio" e "Reis de Alexandria"; em 22 de dezembro, no mesmo jornal, "Não compreendeste", dentro de um ensaio que está no volume O poeta é um fingidor (Ática, Lisboa, 1961). Ao todo 13 poemas. Mais tarde, em 1969, iria publicar em livro (90 e mais quatro poemas, Constantino Cavafy) cerca de dois terços da obra canônica do poeta alexandrino e mais alguns dos "inéditos".
Seu artigo para o Suplemento Literário de O Estado de São Paulo contém a tradução de "À espera dos bárbaros" que assim chega ao Brasil no início da década de 60, um momento de conflito entre o fortalecimento dos laços com o capitalismo internacional e a força utópica de setores da esquerda. (...)"

*  Obs. A edição princeps dos Poemas de Kaváfis foi publicada em Alexandria em 1935 (154 poemas), dois anos após sua morte. Em 1947 houve a tradução francesa de Grivas; em 1952, a inglesa de Mavrogordato; em 1955, outra francesa de Yourcenar e Dimaras; em 1956, a alemã de Steiner; e respectivamente em 1956 e 1961, as italianas de Lavagine e Pontani. Em 1968, o prof. Giórgos Savídis, da Universidade de Tessalônica, publicou 75 poemas até então inéditos de Kaváfis. Finalmente, Edmund Keeley estudou bem a importância desses inéditos relativamente à obra "canônica" em "The 'New' Poems of Cavafy", in Modern Greek Writers, Princeton University Press, 1973, 2ª ed., pp. 123-143.




A edição brasileira do livro "Konstantinos Kaváfis, Haroldo de Campos: Poemas", que reúne 15 poemas de Konstantinos Kaváfis traduzidos por Haroldo de Campos, conta também com Trajano Vieira, especialista em literatura grega, que organiza o livro e assina o posfácio. A parceria com Trajano Vieira foi muito providencial porque sua coletânea, bilíngue, buscou manter a sonoridade original dos textos na escolha das palavras. Assim,
"sua poesia heterogênea, que une diferentes estratos linguísticos do grego, recebeu um não menos complexo método de abordagem. Traduções do francês, italiano, inglês, alemão e espanhol, além de duas traduções para o português (uma do poeta Jorge de Sena, a outra de José Paulo Paes) serviram de base para o trabalho de Haroldo, que, embora não tivesse domínio do grego moderno, contava com certo conhecimento do grego clássico. Sua meta foi absolutamente original: 'fingir' a sonoridade kavafiana na escolha das palavras, intentando aquele raro equilíbrio entre o coloquial e o erudito que constitui uma das marcas do poeta de 'À espera dos bárbaros'. É justamente o processo de tradução deste célebre poema que Haroldo descreve em 'Kaváfis: melopeia e logopeia', texto publicado originalmente em 1984 que também integra o volume. Haroldo explica o 'movimento pendular da transcriação' que o levou a uma alusão a Drummond ao final do poema "E nós, como vamos passar sem os bárbaros? / Essa gente não rimava conosco, mas já era uma solução" , onde o propósito de 'grecizar' o português se vincula a uma recontextualização de Kaváfis no panorama da tradição literária brasileira."

Fonte: https://obenedito.com.br/compreenderas-sentido-itacas/




II.  KAVÁFIS COMENTA SEU POEMA "À ESPERA DOS BÁRBAROS"


O próprio Kaváfis, autor do poema "À espera dos bárbaros", fez os seguintes comentários ao seu poema: 
"Admitindo que tomei como símbolo os bárbaros, é natural falar sobre cônsules e pretores. O imperador, os senadores e os oradores não são necessariamente coisas romanas."
"O poema pressupõe tal status social. Situação de poder - não possível de acontecer - não minha própria previsão. A minha ideia sobre futuro é muito otimista. Além disso, o poema não contradiz a minha ideia otimista; pode ser tomada como um episódio no curso em direção ao Bem. A sociedade chega a um nível de luxo, cultura e tédio (letargia), onde, desesperada pela situação na qual não encontra uma correção conciliatória com a sua vida normal, decide trazer uma mudança radical - sacrificar, mudar, retroceder, simplificar. (Essas coisas são os Bárbaros.) (Tal sociedade) toma a decisão e se alegra e faz os diversos preparativos (o imperador, o luxo dos cônsules e dos pretores) e toma as medidas preliminares (a interrupção da legislação dos senadores). Mas quando chega o tempo da aplicação (da lei), de repente fica evidente que preparou uma utopia (o crepúsculo, sem que cheguem os bárbaros) e, conforme os boatos, não previu tornarem o plano dela impossível (e gente recém-chegada das fronteiras dizendo que não há mais bárbaros). Apodera-se dela um grande desânimo (a volta para casa dos planejadores, a preocupação); e o poema não a representa como completamente desesperada devido ao fracasso da sua expectativa, mas mostravam impaciência com o que iria acontecer ("E agora o que será de nós?", "eram uma solução"). Eis os bárbaros também na vida privada, quando alguém frequentemente deseja não ter conhecimentos, ter uma crença simples, sem necessidades, e viver a vida de um João ninguém simples e iletrado, para quem as coisas têm uma frescura, a alegria e o interesse do insondável." 

Cf. in http://latistor.blogspot.com.br/2010/03/blog-post_16.html  Acesso em 04/07/2017.



III.  O POEMA DEBATIDO POR UMA EQUIPE INTERDISCIPLINAR DE INTELECTUAIS NA BBC



Em 25 de agosto de 2003, o programa da Rádio 4 da BBC dedicou uma transmissão inteira a um dos mais conhecidos poemas de Kaváfis, "À espera dos bárbaros", um texto que, conforme sustentaram muitos daqueles que tomaram parte no programa da BBC, abre diálogo entre o passado e o presente.

Um poema contemporâneo

"Estou certo de que o poema "À espera dos bárbaros" agradaria a Tony Blair, por exemplo, agora que, depois da guerra no Iraque, começou a centrar a sua atenção nos assuntos internos. É seguramente muito mais interessante para um político ocupar-se com a ameaça que constitui a rede Al Qaeda ou Saddam Hussein do que com as mudanças que precisam acontecer na forma como funcionam os hospitais do país", avaliou Tom Holland, expert em assuntos da história romana.

"Na edição grega dos seus poemas, o próprio Kaváfis tinha observado que a cidade à qual se referia o poema não era necessariamente Roma ou alguma outra cidade italiana", explicou o americano Edmund Keeley, especialista em grego moderno, o qual, junto com o seu colega Philip Sherrard, tinha traduzido no passado esse poema para o inglês. "Essa cidade pode dizer respeito a Bizâncio ou aonde quer que exista a ameaça dos bárbaros."

"Não é precisamente Roma, mas uma variante de Roma", acrescenta o poeta americano Robert Pinsky. "Aquelas referências no poema de Kaváfis aos cônsules e aos pretores dão uma sensação de decadência que não possui... pátria. Poderia essa cidade ser, e ao mesmo tempos não ser, Washington, Londres ou alguma outra localidade."

Os bárbaros

Mas a respeito de quais "bárbaros" fala o poema, que Kaváfis começou a escrever em 1898, e a respeito de quais "bárbaros" falamos hoje que o lemos?

Os leitores ingleses e americanos do alexandrino assinalam o significado que tem em inglês a palavra "bárbaro" - palavra que é usada para caracterizar alguém que não fala grego.

A questão, claro, fica: quem podem ser aqueles "bárbaros", os que não falam grego ou, de forma mais geral, "a nossa própria" língua? 

Matthew Paris, que tinha exercido outrora a função de Deputado dos Conservadores e agora é articulista das colunas do jornal The Times, disse à BBC, que, quando releu o poema de Kaváfis, veio-lhe imediatamente à mente a Al-Qaeda, os islamistas, uma gente que é ameaçada pelo horror do terrorismo.  Continuou: "Mas depois pensei: será que se trata de ficção? Existe de fato a Al-Qaeda, da forma como no-la apresentam os políticos? Revisitei o poema de Kaváfis que me fez perguntar-me se algum dia existiram os bárbaros, se algum dia estiveram realmente próximos."

Demonização

"A energia do poema de Kaváfis se acha em parte no fato de que te faz pensar que aquilo que acontece pode finalmente não acontecer na realidade", observa o poeta Robert Pinsky - com cujo ponto de vista concorda também um dos tradutores de Kaváfis para o inglês, Edmund Keeley, que considera que com o poema "À espera dos bárbaros" o poeta alexandrino toma a parte do simples cidadão, do simples homem na rua, que está totalmente impotente diante dos poderosos que exercem o poder.

O que importa de qualquer forma, - enfatiza Matthew Paris que continua a encontrar grandes analogias entre a gente que Kaváfis apresenta no seu poema e a nossa gente, do dia a dia, - é que o povo não tem absolutamente nenhuma ideia do que realmente acontece, uma vez mantido no escuro.

O articulista do The Times não exclui também soar o alarme do perigo relativo à necessidade de cada sociedade, cada época sentir "demonizar", criar e reter os seus próprios "bárbaros", como também a necessidade concêntrica dos políticos de verem tudo em branco e preto, de produzirem histórias, para terem sempre diante de si uma "força do mal".

Lembrem-se, diz Matthew Paris, a caça às bruxas na época do macarthismo, os "bárbaros" da época da Guerra Fria e remete a sua audiência ao poema de Edward Field, "À espera dos comunistas", que é uma clara paródia do poema de Kaváfis.

Difíceis questões  

"Não há nenhuma dúvida de quão 'traduzível' é Kaváfis", concorda o inglês neo-helenista, David Rix, e assinala quão profundamente entrou na nossa língua diária a expressão "À espera dos bárbaros", não só na Grécia, mas também no exterior.

O poeta Robert Pinsky não tem nenhuma dúvida da eficácia bem como do imenso alcance do discurso de Kaváfis, dizendo que as duas vozes que são ouvidas no poema criam os pré-requisitos para a execução de um diálogo entre o passado e o presente.

O poeta americano "lê" assim a política do governo Bush através do poema de Kaváfis, o qual considera um poema extremamente político. Diz que "é provável que o governo americano invente inimigos, invente armas e ameaças que não existem na realidade e que tenha tirado proveito de ameaças que existem para servir seus próprios objetivos".

Insiste o neo-helenista David Rix: "Kaváfis não parece oferecer respostas 'fáceis'. Porém, formula as questões certas - as indagações que os poetas de cada época precisam colocar", enfatiza.

Cf. in http://www.bbc.co.uk/greek/culture/030802_cavafy.shtml#top  Acesso em 04/07/2017.


IV.  ANÁLISE DO POEMA POR CHRÍSTOS MILIÓNIS 



Por outro lado,  o filólogo grego Chrístos Miliónis dá importante contribuição para a compreensão do poema de Kaváfis ao fazer a análise literária do poema "À espera dos bárbaros". Eis alguns trechos de seu trabalho na revista Filólogo nº 35 (1984): 
"Abstract: O poema que nos ocupará (À espera dos bárbaros) é dos mais conhecidos de Kaváfis. Principalmente os últimos versos são desesperadoramente conhecidos. Os problemas dele, tanto no que se refere à sua relação histórica quanto ao seu sentido, foram bastante discutidos. E quando não me bastassem esses, bastava, também acima de tudo, o autocomentário de Kaváfis, que foi anunciado na revista TA NEA, em data de 23/4/83, a fim de dar a versão hermenêutica do poeta, a mais autêntica - supõe-se. Tudo isso desencorajaria também a mais ousada tentativa para uma apresentação pública, se não estivesse bastante em evidência que cada poema resiste ao olhar do hermenêuta - olhar que em essência é parecido com o da Medusa: para se conquistar um poema  - e para acalmar-se, isto é, vá."

 Cf. in http://ejournals.lib.auth.gr/1107-5392/article/view/3179


Segue trechos da brilhante análise do poema por Chrístos Miliónis:
A primeira observação que teríamos a fazer é que todo o poema foi completado com a forma do "diálogo" - digamos provisoriamente assim. O diálogo é marcado com hífen, mas unicamente para a pessoa que indaga. A resposta é diferenciada com a mudança do ritmo: enquanto  as perguntas estão em versos jâmbicos, políticos , com 15 sílabas, as respostas seguem em 12 ou 13 sílabas, mais breves, que com a repetição estereótipa - porque os bárbaros chegarão hoje - dão um tom dramático. Assim o "diálogo" das pessoas converte-se num diálogo de ritmos. Também: Se têm algum sentido os números no poema, observamos que o número de versos da pergunta para a resposta cresce até a 4ª pergunta, que é formada de 6 versos, e dá a descrição mais ampla e detalhada da concentração política. Segue uma pausa com 2 versos na pergunta 5, mas também na resposta correspondente, onde o poema parece ficar parado por um momento, para seguir com a pergunta aumentada nº 6, com 4 versos que falam de uma súbita inquietude. A soma total dos versos por perguntas e respostas é 18 a 18, ou seja, o poema é dividido igualmente entre as pessoas e está equilibrado. Utilizei no início o termo "diálogo", convencional e provisoriamente. Na realidade, porém,  o diálogo limita-se ao linguajar das pessoas e dá a tensão proporcional ao poema. Sob outros aspectos, não existe um diálogo efetivo, mas temos uma série de questões e respostas que impelem a narrativa. A relação da poesia kavafiana com os antigos "atores mímicos" já foi constatada. (...)
Contudo, enquanto no poema "À espera dos bárbaros" os versos decisivos com a energia reativa se encontram no fim do poema, nos exemplos posteriores são transferidos para o seu centro e repartem assim o poema em duas partes que alinham a primeira nos fenômenos, e a segunda, na essência; na aparência e na essência, ou no parecer e no ser. A distância entre essas duas (partes) parece que é ainda um dos elementos que compõem a ironia kavafiana. Mas muito mais nos conduz, no poema "Reis Alexandrinos", à relação cidadãos-Estado. Além disso o período histórico, ao qual se reporta o poema, caracteriza-se pela corrosão dessas relações. A época que dados factuais caracterizam foi modelada em conformidade com a época da decadência romana. Trata-se de uma encenação histórica. Em outras palavras, o poema é pseudo-histórico, com principal característica a alienação política. E nos dois poemas que mencionamos, os "cidadãos" (súditos em verdade) perderam contato com seu Estado. Desapareceu a consciência da política responsável. O intervalo oco, a fenda vai ser coberta com o apelo a situações cuja principal característica possui o amoralismo político. No poema "Reis Alexandrinos", no sensualismo e na sensualidade que tomam lugar na superfície das coisas; no poema "À espera dos bárbaros", na espera de um fato crucial para o seu próprio Estado. E quando é abortada (a consciência da política responsável), caem (os cidadãos) em desânimo. Para ser franco, tenho a sensação de que, atrás dos dois versos finais do poema, espreita também uma outra decepção: não só porque se perdeu "uma solução" (que solução, aliás?), mas também porque com ela se frustrou o auge de um espetáculo que foi prefigurado. Porém, gostaria, finalizando, de enfatizar uma diferença básica entre os Alexandrinos e as pessoas que esperam os bárbaros. Os primeiros não só sobrevivem, mas também dominam finalmente no poema, precisamente graças a este sensualismo e sensualidade deles - e a sensação de humor que está latente na sua atitude. Enquanto no poema "À espera dos bárbaros", encontram-se sob o domínio de uma pobreza psíquica, uma miséria [...] "
MILIONIS, Chrístos: "Constantinos P. Kaváfis: À espera dos bárbaros", revista Filólogo, nº 35, 1984, pp. 19-24





V.  NOTAS  EXPLICATIVAS





¹  Sobre o termo "bárbaro", em nota nº 26, p. 66, Paes reporta-se a Filippo Maria Pontani, o qual lembra "que grego era a designação mais comum por que eram conhecidos entre os povos "bárbaros" — inclusive e sobretudo os romanos — os helenos. O mesmo autor acentua que a 'designação étnica' de helênico assumiu uma conotação especialmente cultural, de 'porte mais universal, exaltando, por conseguinte, o nacionalismo num plano de cultura e de civilização' e de onde resultou um 'nivelamento de povos e homens pelo senso comum da helenidade linguística e literária'."

Cf. PONTANI, Filippo Maria: Poesie. Milano: Arnoldo Mondadori Editori, 1961, pp. 235 e 241.


²   Paes abriu a sua "Nota Liminar" (pp. 9-11), confessando que estava muito longe de dominar o demótico e o grego antigo e creditando esta empresa de traduzir Kaváfis à orientação que seguiu, através da versão francesa de Marguerite Yourcenar e Constantin Dimaras, e da italiana, de Filipppo Maria Pontani, do corpus kavafiano.  Esclareceu, entretanto, que sua proposta de tradução se afastou da de Marguerite Yourcenar, que preferiu transpor Kaváfis em prosa para a língua francesa, "com prejuízo de valores formais como métrica, rima, estrofação, certas simetrias e jogos verbais, etc.", optando por,
"no caso, seguir o alvitre de Pontani, de respeitar o esquema rimático e estrófico do original; além disso, procurei me aproximar, na medida do possível, da métrica de Kaváfis, salvo em 'À espera dos bárbaros' e poucas instâncias mais, onde tive de recorrer a metros mais curtos. (...)" 

³   Abaixo, a versão de Jorge de Sena:

À ESPERA DOS BÁRBAROS
 
– O que esperamos nós em multidão no Forum?
Os Bárbaros, que chegam hoje.
– Dentro do Senado, porquê tanta inação?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis haviam de fazer agora os senadores?
Os Bárbaros, quando vierem, ditarão as leis.
– Porque é que o Imperador se levantou de manhã cedo?
E às portas da cidade está sentado,
no seu trono, com toda a pompa, de coroa na cabeça?
Porque os Bárbaros chegam hoje.
E o Imperador está à espera do seu Chefe
para recebê-lo. E até já preparou
um discurso de boas-vindas, em que pôs,
dirigidos a ele, toda a casta de títulos.
– E porque saíram os dois Cônsules, e os Pretores,
hoje, de toga vermelha, as suas togas bordadas?
E porque levaram braceletes, e tantas ametistas,
e os dedos cheios de anéis e de esmeraldas magníficas?
E porque levaram hoje os preciosos bastões,
com pegas de prata e as pontas de ouro em filigrana?
Porque os Bárbaros chegam hoje,
e coisas dessas maravilham os Bárbaros.
– E porque não vieram hoje aqui, como é costume, os oradores
para discursar, para dizer o que eles sabem dizer?
Porque os Bárbaros é hoje que aparecem,
e aborrecem-se com eloquências e retóricas.
– Porque, subitamente, começa um mal-estar,
e esta confusão? Como os rostos se tornaram sérios!
E porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,
e todos voltam para casa tão apreensivos?
Porque a noite caiu e os Bárbaros não vieram.
E umas pessoas que chegaram da fronteira
dizem que não há lá sinal de Bárbaros.
                              __

E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros?
Essa gente era uma espécie de solução.


Constantino Cavafy, trad. de Jorge de Sena.

  
⁴  Abaixo, a versão de Haroldo de Campos/Trajano Vieira:

À ESPERA DOS BÁRBAROS
 
– Que esperamos reunidos na ágora?

É que hoje os bárbaros chegam.

– Por que tanta abulia no Senado?
Por que assentam os Senadores? Por que não ditam normas?

Porque os bárbaros chegam hoje.
Que normas vão editar os Senadores?
Quando chegarem, os bárbaros ditarão as normas.


– Por que o Autocrátor levantou-se tão cedo
e está sentado frente à Porta Nobre da cidade
posto em seu trono, portanto insígnias e coroa?

Porque os bárbaros chegam hoje.
E o Autocrátor espera receber
o seu chefe. Mais do que isto, predispôs
para ele o dom de um pergaminho. Ali
fez inscrever profusos títulos e nomes sonoros.


– Por que nossos dois cônsules e os pretores saíram
esta manhã com togas rubras, com finos bordados de agulha?
Por que essas braçadeiras que portam, pesadas de ametistas,
e os anéis dactílicos lampejando reflexos de esmeralda?
Por que ostentam hoje os cetros preciosos,
esplêndido lavor de cinzel, amálgama de ouro e prata?

Porque os bárbaros chegam hoje,
e toda essa parafernália deslumbra os bárbaros.


– Por que nossos bravos tributos não acodem
como sempre, a blasonar seu verbo, a perorar seus temas?

Porque os bárbaros chegam hoje,
e eles desprezam a oratória e a logorreia.


– Por que de repente essa angústia,
esse atropelo? (Todos os rostos de súbito sérios!)
Por que rápidas se esvaziam ruas e praças
e os antes reunidos retornam atônitos às casas?

Porque a noite chegou e os bárbaros não vieram.
E pessoas recém-vindas da zona fronteiriça
murmuram que não há mais bárbaros.

                      __
  
E nós, como vamos passar sem os bárbaros?
Essa gente não rimava conosco, mas já era uma solução.


"Waiting for the Barbarians", by C. P. Cavafy. Translated by Edmund Keeley and Philip Sherrard. From the poetry anthology 'Staying Alive: Real Poems for Unreal Times', edited by Neil Astley. Published by Bloodaxe Books. Pages 339-340.


⁶  Sobre o verso político (politikós stíchos ou πολιτικός στίχος em grego) assim se manifesta Paes à p. 30 do seu livro de tradução de Kaváfis:
"(...) Algumas dessas raízes populares também estão presentes, por paradoxal que possa parecer, na arte aristocrática e refinada de Kaváfis. Quando mais não fosse, pelo seu uso do politikós stíchos, o 'verso político', reconhecido como o metro de eleição da poesia folclórica grega. Remontando, ao que parece, a Bizâncio, onde, já por volta do século XII, se firmara como o veículo da literatura popular ou low-brow, conforme diz dela pitorescamente Roderick Beaton (Cf. ob. cit., pp. 75-77), é um verso silábico-acentual de 15 pés, com um andamento binário predominantemente iâmbico, vale dizer: uma sílaba ou pé átono seguido de outro tônico. Mas o importante do verso político é a cesura fortemente marcada, que o biparte em dois hemistíquios, um de oito e outro de sete sílabas. A bipartição confere a cada segmento de verso certa autonomia, sem entretanto, desvinculá-los entre si, quer quanto à forma, quer quanto ao sentido: eles continuam correlacionados por paralelismo (repetição de palavras ou de ideias num e noutro hemistíquio) ou por complementaridade (o segundo hemistíquio completa o sentido do primeiro). Kaváfis utiliza com frequência um recurso de ordem gráfica para melhor destacar o ponto de cesura e a autonomia relativa dos hemistíquios: distancia um do outro por um espaço maior do que aquele que normalmente separa as palavras entre si. Com isso, uma fissura, uma fenda mediana passa a cortar verticalmente o bloco da estrofe, tal como se pode ver em 'Flores brancas e belas como tão bem convinha', onde ela adquire inclusive valor semântico. (...) A bipartição do 'verso político', tão típico da poesia popular, adquire singular pertinência neste poema cujo tom de sentimentalidade e cuja singeleza terra-a-terra fazem lembrar de perto as letras das canções populares, semelhança reforçada pela referência ao café onde os amantes costumavam se encontrar, o café ou bar que é o locus amœnus da boêmia tradicionalmente exaltada na música urbana:
Quando de noite foi         sobreveio um negócio,
era o seu ganha-pão      àquele café
aonde iam sempre juntos       um punhal no coração,
o sombrio café       aonde iam sempre juntos.
Atente-se, no último verso, para um símile de caráter hiperbólico, corrente em demótico, e que se tornou lugar-comum nas letras das canções gregas atuais, como, por exemplo, em Odós Aristotélous, de Spanós e Papadopoulos, onde se fala de uma 'lua verde' a lembrar um amor de outrora, lembrança ya na sou machairôni ti kardiá, ou seja, literalmente, 'a esfaquear-te o coração'. Mas o que sobressai mesmo, aqui, é o valor semântico da fissura visual entre os hemistíquios, espelhando iconicamente, ao longo de todo o poema, o tema iterativo da separação, a princípio virtual, por fim irremediável, entre os dois amantes. (...) 
 

VI.  BIBLIOGRAFIA  CONSULTADA




KAVAFY, Constantino: 90 e mais quatro poemas. [tradução, prefácio, comentários e notas do poeta Jorge de Sena]. Porto: Editorial Inova, 1969.

KAVÁFIS, Konstantinos: Poemas. [tradução, seleção, estudo crítico e notas  de José Paulo Paes], Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2ª edição, 1982.

KAVÁFIS, Konstantinos/CAMPOS, Haroldo de: Poemas. [tradução Haroldo de Campos, organização Trajano Vieira], São Paulo: Editora Cosac Naify, 1ª edição, 2012. 

SANTOS, Antonio Carlos:  CAVÁFIS NO BRASIL, Florianópolis: boletim de pesquisa NELIC-Núcleo de Estudos Literários e Culturais nº 6 da UFSC, nº 8/9, 2006, pp. 38-45.

12 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Prof. José Lourenço Parreira (capitão do Exército, professor de música, violinista, maestro e escritor) disse...

Caríssimo amigo, BRAGA, paz!

À ESPERA DOS BÁRBAROS é atualíssimo!
Causou-me profundo impacto: a Europa espera os bárbaros fantasiados de pobres migrantes e quando chegam querem impor suas leis aos países que os acolheram. Todos? Não, alguns? Quantos? Ninguém sabe!
Uma aluna esteve há alguns dias na Jordânia e fez ação humanitária num campo de refugiados..
Impossível descrever o que ela viu...
MAS NO BRASIL, estamos aguardando, inertes, a chegada, o retorno dos bárbaros petistas!
Meus Deus, o Poema que você me enviou é profético para o Brasil, paralítico na defesa do civismo, da civilização cristã!

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

É com prazer que apresento meu trabalho de recolta de importantes trabalhos de tradução para o poema "À ESPERA DOS BÁRBAROS" de Konstantinos KAVÁFIS (1863-1933), na língua portuguesa, e de textos de comentaristas e ensaístas na língua grega tratando do mesmo tema, traduzidos e comentados por mim.

Escreveu José Paulo Paes, um tradutor brasileiro do poema "À ESPERA DOS BÁRBAROS", no seu ensaio crítico: "O fato de a cidade não esboçar um gesto de resistência ao invasor, de dispor-se a abrir-lhe as portas de par em par, mostra em que ponto de decadência estava o seu espírito cívico, que não trepida em sacrificar à barbárie os seus últimos foros de cultura: a arte da palavra, tida agora como produtora só de 'arengas, eloquências'."

Teria o alexandrino Konstantinos P. KAVÁFIS previsto a situação a que chegamos em 2017, com crescentes levas de imigrantes forçando sua entrada na Europa e em outros países, naturalmente com o apoio da classe política, quando criou seu mais conhecido poema "À ESPERA DOS BÁRBAROS"? Ele insistia que sua visão era otimista quanto à questão e que não se tratava de uma profecia sua. Mas, apesar de seus comentários a respeito, feitos muito mais tarde, ele muito antes - 1898, para sermos exatos - escreveu seu poema em forma de um diálogo. Seu último verso - proclamando que os bárbaros, para os planejadores, representavam "uma solução" - é repetido hoje por muitos que defendem o fluxo migratório a que chegamos em 2017, não importa por quais razões.

Marcelo Câmara disse...

Amigo Braga, Kaváfis é um dos gênios, que li na juventude e na maturidade - ao lado de Varela, Bandeira, Quintana, Jairo José Xavier (o maior dos brasileiros vivos) e Samuel Beckett - que me formou como leitor da Arte Poética e criador bisexto e circunstancial. Vou ler o seu trabalho com o respeito e interesse de sempre. Parabéns. Abr Marcelo Câmara (Jornalista, escritor, editor e consultor cultural)

Dr. Mário Pellegrini Cupello (escritor, pesquisador, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, e sócio correspondente do IHG e Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caro amigo Braga

O assunto parece interessante, embora estranho: esperar os invasores bárbaros! ...
Vou ler o seu texto em seguida, com a atenção e o agradecimento de sempre.

O amigo Mario.

Eliane Habib Tiburski (pós-graduada em Finanças pela EAESP-FGV, com 20 anos de experiência como diretora no Citibank, Head Trader da mesa de Investidores Institucionais e Dívida Externa, premiada com o IFR Best Fixed Income Desk-2000) disse...

Muito legal, Francisco.

Jorge Antunes (compositor, introdutor da eletroacústica, expoente da música contemporânea, escritor e professor) disse...

Oi, Braga:

Parabéns pela tradução.
O original, em grego, tem rimas?

Prefiro interpretar o poema com outra metáfora:
em vez de pensar nos fluxos migratórios, prefiro pensar no imperialismo e nas multinacionais que invadem o país, e também na invasão da cultura alienígena.

João Carlos Ramos (poeta, escritor, ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras e sócio correspondente da Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Lavrense de Letras) disse...

Extraordinário!
Mais uma vez o grande mestre Braga brinda-nos em grego e português com estudo de alto nível.
Obrigado!

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor e membro da Academia Divinopolitana de Letras, onde é Presidente) disse...

Muito agradecido, caro Braga, pelo envio da matéria, fruto de seu labor intelectual digno de elogios. Recomendações a Rute. Fernando Teixeira

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (desembargador, escritor e membro da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Esse título vale para os que pregam a volta do PT...

Márcio Vicente da Silveira Santos (historiador, escritor e jornalista, sócio-fundador da Academia Sete-Lagoana de Letras, sócio efetivo da AMULMIG e sócio correspondente do IHG-DF desde 1995) disse...

Prezado Amigo Professor Braga:


Leitor assíduo de seu blog, deparo-me com seu belo e percuciente artigo/análise sobre o poema "À espera dos bárbaros", de Konstantinos Kaváfis.
Anos atrás, premiado por um amigo grego comerciante em Sete Lagoas (ele já retornou à Grécia), pude ler essa peça poética e sensibilizar-me com seus versos fortes, numa enigmática sinfonia de tambores de guerra, mantra de advertência, convocação de clérigo.
Talvez pela minha incipiente formação cultural, sem a necessária sensibilidade para diferenciar os discursos poéticos ou a universalidade do conhecimento para discernir os conceitos mais profundos do pensamento erudito, pareceu-me estar lendo algo parecido com "O Corvo", de Poe. Tocado, evidentemente, pelo ritmo do poema (e admitindo que minha análise estava "prejudicada" por nada entender do idioma e do "pensamento" do autor), não descobri (e nem fui alertado) de que se tratava de uma metáfora.
Seu trabalho (mais um, resultado de sua conhecida erudição) não só revela toda a extensão da obra, sublinhando seu conteúdo político e atemporal, mas, também, potencializando a força poética do poema. Tudo isso sob sua técnica primorosa e cativante de escrever, que enreda o leitor, informa, instrui - e encanta.
Um grande abraço do admirador de sempre

Márcio Vicente Silveira
De Sete Lagoas

Anderson Braga Horta (poeta, escritor, ex-presidente da ANE-Associação Nacional de Escritores e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal) disse...

Muito bom, meu caro.

Obrigado, e um abraço.

Anderson